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Cadernos de História da Educação

versão On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.22  Uberlândia  2023  Epub 07-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/che-v22-2023-213 

Artigos

A escrita da História da Educação nos manuais de ensino: indícios da biblioteca de formação no Curso de Pedagogia da UEL de 1962 a 19981

La escrita de la Historia de la Educación en los manuales de enseñanza: indicios de la biblioteca de formación en el Curso de Pedagogía de la UEL de 1962 hasta 1998

Marta Regina Gimenez Favaro1 
http://orcid.org/0000-0001-7147-0729; lattes: 8428054595727741

1Universidade Estadual de Londrina (Brasil). mrgfavaro@gmail.com


Resumo

Esse texto apresenta o que foi referência na biblioteca de formação da disciplina História da Educação (HE) no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina, no período de 1963 a 1998. A metodologia utilizada foi a pesquisa documental, tendo como fonte 47 programas da disciplina, assim distribuídos: 16 programas de 1963 a 1970; 24 de 1972 a 1991; e 7 de 1992 a 1998. O texto estrutura-se recenseando o material utilizado no ensino da HE e, neste, a localização dos manuais mais recorrentes. No caso específico da UEL, a biblioteca de formação consistiu em categoria presente em todos os programas consultados. A composição do ensino de HE apropriou-se da formatação de conteúdo e da periodização dos manuais indicados como recorrentes, confirmando a rede que se estabeleceu entre formação acadêmica do professor, sua biblioteca de formação, os manuais disponíveis, a inserção nos círculos acadêmicos e as relações institucionais.

Palavras-chave: História da Educação; Ensino de HE; Manuais

Resumen

Este texto presenta lo que fue referencia en la biblioteca de formación de la asignatura Historia de Educación (HE) en el Curso de Pedagogía de la Universidade Estadual de Londrina, en el período de 1963 hasta 1998. La metodología utilizada fue la búsqueda documental, teniendo como fuente 47 programas de la asignatura, así distribuidos: 16 programas de 1963 hasta 1970; 24 de 1972 hasta 1991; y 7 de 1992 hasta 1998. El texto está basado en la recensión del material utilizado en la enseñanza de la HE y, en este, la localización de los manuales más recurrentes. En el caso específico de la UEL, la biblioteca de formación consistió en la categoría presente en todos los programas consultados. La composición de la enseñanza de HE se apropió del formateo de contenidos y de la periodización de los manuales señalados como recurrentes, confirmando la red que se estableció entre la formación académica del profesor, su biblioteca de formación, los manuales disponibles, la inserción en los círculos académicos y las relaciones institucionales.

Palabras clave: Historia de la Educción; Enseñanza de HE; Manuales

Abstract

This text presents what was referenced in the training library of the History of Education (HofE) course in the undergraduate Pedagogy degree at the State University of Londrina (UEL), from 1963 to 1998. The applied methodology was documental research, with 47 course outlines as sources, distributed as: 16 outlines from 1963 to 1970; 24 outlines from 1972 to 1991, and 7 outlines from 1992 to 1998. The text is structured by listing the textbooks that were used in the teaching of HofE, and by pointing out the most recurrent ones. At State University of Londrina, specifically, the training library consisted of a category present in all the consulted outlines. The HofE teaching composition appropriated the content formatting and the textbook periodization indicated as recurrent, reassuring the network established amid teachers’ academic education, their training library, the available textbooks, the insertion in the academic circles, and the institutional relations.

Keywords: History of Education; Teaching in HofE; Textbooks

Introdução

Pensar o ensino de história da educação na história disciplinar implica inevitavelmente a discussão sobre a biblioteca de formação disponível e, nesta, o papel assumido pelos manuais2. Historicamente, os manuais foram elaborados como um trabalho de síntese dos acontecimentos educacionais, de seleção de textos pertinentes ao estudo das temáticas e também do exercício de consulta e indicação de outras fontes documentais que permitiriam compreender o percurso do pensamento educacional/pedagógico e/ou a organização social e educacional de diferentes civilizações em diferentes tempos e espaços. Os manuais tinham por função o atendimento a uma demanda específica: a formação dos professores; num primeiro momento os da Escola Normal e, posteriormente, também os que passaram a frequentar os cursos de Pedagogia após a sua criação, em 1939. Os indícios mostram que esses manuais se constituíram como base da biblioteca de formação de professores e estudantes, sendo possível afirmar que, durante boa parte da organização do trabalho de formação na disciplina de História da Educação, tenham formatado o conteúdo trabalhado em sala.

Este texto buscou apresentar o que foi referência na biblioteca de formação da disciplina História da Educação no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina3, Paraná, de 1963 a 1998. A pesquisa com os resultados aqui demonstrados usou como metodologia a pesquisa documental, sendo fonte prioritária a análise de 47 programas da disciplina, com a seguinte periodização: 16 programas de 1963 a 1970; 24 de 1972 a 1991; e 7 de 1992 a 1998. O texto se estruturou buscando recensear o material utilizado como referência no ensino da HE e, neste, a localização dos manuais mais recorrentes.

Biblioteca de formação a recorrência dos manuais

No caso específico da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a listagem de referências bibliográficas ou biblioteca de formação consiste em uma categoria presente em praticamente todos os programas localizados e consultados relativos ao período de 1963 a 1998; ainda que seja possível notar variação da listagem, bem como número e tipo de indicações ao longo desse período. Com base nessas informações, foi elaborado um quadro síntese das principais recorrências, identificando autor, obra e o ano em que foram referenciadas. Em seguida, a listagem foi desagregada, considerando-se dois grandes blocos de conteúdo: a) os relacionados à História da Educação Geral; e b) os associados à História da Educação Brasileira.

Uma análise geral permite perceber que; no que diz respeito às áreas de conhecimento, o referencial bibliográfico foi bastante variado, constando textos de História Geral, Sociologia, Filosofia (tanto textos sobre a História da Filosofia quanto textos dos autores da filosofia que foram selecionados nos conteúdos), História do Brasil, Legislação Educacional, História da Educação e da Pedagogia, Políticas Educacionais e Didática. Também apareceram indicações de artigos publicados em periódicos científicos. Completando essa listagem, foi observado o uso de referências em três línguas estrangeiras: inglês, espanhol e francês. Alguns dos textos não constam da Biblioteca da UEL, indício de que poderiam integrar a biblioteca particular dos professores. A trama/urdidura pedagógica construída pelos professores foi organizada considerando livros (de formação geral/conhecimentos gerais; resultados de pesquisas com temas particulares ou específicos e manuais de História da Educação e História da Pedagogia), periódicos acadêmicos e de circulação geral como jornais e textos mimeografados, por exemplo.

Alguns autores estiveram presentes nas referências dos programas nas quatro décadas - 1960, 1970, 1980 e 1990; outros, em três. Identifica-se a implicação das publicações dos textos disponíveis na composição da disciplina. Como descrição dessa experiência, e considerando a materialidade e a textualidade, 4 textos foram selecionados e comentados, levando-se em conta a grande recorrência nos programas, por serem exemplo do trabalho com os conteúdos da História da Educação Geral e da História da Educação Brasileira. Essa opção foi feita para possibilitar uma aproximação de análise entre o que foi proposto para o livro em termos de abordagem de conteúdo e temporalidade e a configuração da disciplina como expressão dessa representação.

A formatação e a composição conceitual e temporal da disciplina se deu na relação de diferentes dimensões: a tradição que acompanha a disciplina desde a sua inserção nos currículos dos cursos de formação de professores - final do século XIX, no contexto europeu e norte-americano, e início do século XX no Brasil -; a disponibilidade e a adequação dos textos publicados para o trabalho com a disciplina; a formação do professor e a característica dos círculos acadêmicos frequentados por esses professores. Nessas dimensões, procurou-se dar maior visibilidade e explorar a relação entre publicações disponíveis e o ajustamento da disciplina. O que se pretendeu foi demonstrar, pelos indícios documentais coletados, que o ensino da História da Educação foi moldado pelos conteúdos disponíveis nos manuais circulantes à época.

Como contribuição para esta análise, destacamos o resultado de uma pesquisa desenvolvida por Henry Suzallo (1875-1933), professor do Teachers College da Universidade de Columbia, publicado em 1908 e citada por Lorenz (2009), na qual Suzallo traça um perfil da natureza dos estudos históricos de educação na primeira década de 1900 em instituições norte-americanas. O resultado dessa pesquisa mostra-se relevante por expressar uma representação da disciplina História da Educação, mesmo que em outro território, em um período que antecedeu a configuração formal da HE como disciplina no Brasil, o que permite considerar como hipótese certa implicação daquela configuração e o que foi proposto como organização para a disciplina aqui no Brasil, sobretudo pelos efeitos da tradução de livros de autores dos EUA e o impacto que a experiência norte-americana passa a ter na formação de dirigentes e professores brasileiros e na orientação das políticas locais. Suzallo classificou as disciplinas que propunham um estudo histórico em seis categorias:

  1. Disciplinas gerais ou introdutórias de educação, normalmente relacionadas a história européia desde a Antiguidade até o mundo moderno.

  2. Disciplinas que apresentavam as teorias de eminentes reformadores educacionais.

  3. Disciplinas avançadas que abrangiam todos ou algum dos tópicos da disciplina introdutória.

  4. Disciplinas sobre a história da educação americana, normalmente programadas como suplementares às matérias da história européia.

  5. Disciplinas mais avançadas que promoviam a consulta de fontes primárias e originais para investigar a história da educação.

  6. A discussão incidental da história da educação em disciplinas primordialmente não-históricas. (SUZALLO, 1908, p.36 citado por LORENZ, 2009, p.142-143)

A classificação proposta por Suzallo, da realidade de oferta dos conteúdos históricos de educação nos Estados Unidos na primeira década do século XX, caracteriza um tipo disciplinar muito próximo daquele que foi desenvolvido no Brasil, a partir da segunda década do século XX, nos espaços das escolas normais e, posteriormente, nos cursos de Pedagogia. Em pelo menos três dessas categorias a identificação é bastante próxima, ainda que guardadas as devidas proporções de contexto. A primeira delas refere-se à proposição de disciplinas introdutórias que trabalhavam a História da Educação europeia na longa duração, da Antiguidade à Modernidade. Trata-se de um tipo de narrativa identificada também na UEL. Essa condição expressa o objetivo proposto para a disciplina, o de formação dos professores, a partir do acesso aos conhecimentos gerais sobre a história das diferentes sociedades, de sua organização, dos princípios orientadores e das produções teóricas sobre formação humana/pedagogia. O segundo aspecto remete ao trabalho com as teorias de pensadores/reformadores escolares. Abordagem que, de modo consistente, aproxima-se da chamada história das ideias pedagógicas, bastante referenciada na experiência do ensino de História da Educação. Aspecto semelhante também foi o trabalho, como no exemplo norte-americano, com disciplinas sobre a História da Educação americana, normalmente programadas como suplementares às matérias da história europeia, condição predominante nas disciplinas de História da Educação nos cursos de formação de professores no Brasil até a década de 1970, ou seja, tratou-se de narrativas que promoveram uma apresentação do contexto educacional geral para, ao final, inserir elementos da realidade educacional nacional.

Os manuais de História da Educação4 parecem ter reproduzido esse quadro, ou, talvez, poder-se-ia dizer que dialogaram com os modelos estrangeiros, nomeadamente o dos EUA, para legitimar e consolidar esse modelo narrativo localmente5. A partir da década de 1970, as instituições passaram a organizar espaços específicos para o tratamento dos conteúdos de História da Educação Geral e História da Educação Brasileira, preservando, contudo, o emprego de instrumentos de ensino pautados nos modelos indicados.

Um último comentário de caráter geral diz respeito a um movimento complementar, realizado nesta investigação, voltado para cruzar o normativo com indícios do uso dos livros por parte de professores e estudantes. Neste sentido, foi feito um levantamento no acervo da Biblioteca da UEL. A coleta documental foi realizada em 2013, por ocasião da pesquisa vinculada ao doutoramento, acompanhando, de certo modo, a sistematização dos dados dos programas da disciplina HE. Foram considerados os registros de bibliografia de 1963 a 1998. Como foi possível verificar na análise documental, muitos dos livros referenciados pelos professores não constavam do acervo da referida biblioteca, o que indicia o uso da biblioteca pessoal dos professores.

Os manuais de História da Educação Geral na experiência da UEL

Considerando esses apontamentos gerais a respeito da biblioteca de formação da UEL, no Quadro 1, abaixo, são apresentadas as referências bibliográficas de maior recorrência nos programas que trataram dos conteúdos de História da Educação Geral.

Quadro 1 Recorrências bibliográficas de História da Educação Geral, décadas de 1960 a 1990 

Autor / Obra Anos de recorrência da referência nos programas HE geral / décadas de 1960 a 1990
Paul Monroe História da Educação 64 65 66 67 70 71 72 73 82 84 85 86
87
88 89 90
Paul Monroe A Text Book of History of Education 64 65 67 70
Lorenzo Luzuriaga História da Educação e da Pedagogia 64 65 66 67 70 71 72 84 85 87 88 89 90
92
95
René Hubert História da Pedagogia 64 65 66 67 70 71 72 73 75
74
76 84 85 87 89
Henri-Irenée Marrou História da Educação na Antiguidade 65 66 67 69 71 72 76 89 90
Aníbal Ponce Educação e Luta de Classes 69 86 88 89 90
92
95
Theobaldo Miranda Santos Noções de História da Educação 71 72
Maria da Glória Rosa História da Educação Através dos Textos 72 73 74
75
76 82 84 85 86
87
88 89 90
92
Francisco Larroyo História Geral da Pedagogia 66 71 72 73 74
75
76 82 84 85 86
87
88 89 90
Frederick Eby História da Educação Moderna 65 66 67 70 71 72 73 74 76 84 85 86 89 92
95
Edwards Burns História da Civilização Ocidental 65 70 71 72 74 75 76 82 84 86
87
90
Werner Jaeger Paidéia 65 66 67 69 73 76 82 84 85 87 89 92
Mário Alighiero Manacorda História da Educação 69 92
95

Fonte: Programas da disciplina História da Educação/UEL que tratavam dos conteúdos da História da Educação Geral de 1962 a 1998.

Em relação à História da Educação Geral, os textos mais recorrentes nos programas foram: Paul Monroe, História da Educação; Lorenzo Luzuriaga, História da Educação e da Pedagogia; René Hubert, História da Pedagogia; Frederick Eby, História da Educação Moderna; Francisco Larroyo, História Geral da Pedagogia; e Maria da Gloria Rosa, História da Educação Através dos Textos. Essas obras têm textualidade e materialidade recorrentes na definição de manuais, conforme aqui trabalhado. Seguem-se publicações como a de Edwards Burns, História da Civilização Ocidental, que aborda conhecimentos da história geral, e a de Werner Jaeger, Paidéia, texto que aprofunda e detalha a experiência de formação humana, organização social e cultural na Antiguidade grega.

As primeiras referências de organização dos conteúdos da disciplina História da Educação compunham a proposta já na larga escala, ou seja, numa perspectiva cronológica de longa duração, da Antiguidade à Contemporaneidade, tratando diferentes dimensões do fenômeno educacional: teorias pedagógicas, autores e suas reflexões sobre a formação humana, métodos, organização escolar, níveis e modalidades, currículo. A proposta consistia em informar aos estudantes da disciplina o patrimônio cultural geral que envolveu a profissão. Essa característica consolidou-se, com pequenos ajustes, como tradição na composição dos conteúdos tidos como necessários para a formação dos futuros professores. Em relação à organização da História da Educação Geral, dois manuais se destacam: História da Educação, de Paul Monroe6, e História da Educação e da Pedagogia, de Lorenzo Luzuriaga7.

O texto A Brief Course in the History of Education, publicado nos Estados Unidos em 1907, foi traduzido para o português, no Brasil, pela primeira vez, em 1939, assumindo como título História da Educação. A versão brasileira do texto de Monroe contou com 19 edições entre os anos de 1939 e 1987, alcançando uma tiragem de aproximadamente 90 mil exemplares8. O livro História da Educação faz parte da Coleção Atualidades Pedagógicas, publicada pela Companhia Editora Nacional9. Pode-se considerar que o texto de Monroe compôs, de forma efetiva, o trabalho com o ensino de História da Educação nos cursos normais e de Pedagogia, implicando na formatação dos conteúdos e recorte temporal, como atestam os indícios referentes à organização dos conteúdos. O texto elaborado por Monroe foi expressão de uma experiência de pesquisa orientada pelo e para o ensino da História da Educação. Segundo o próprio autor, o livro foi elaborado para atender “as necessidades do Ensino Normal e de certas escolas que não dispõem do tempo suficiente para dar esta matéria num texto mais extenso” (MONROE, 1976, Prefácio). Esse texto corresponde a um trabalho de síntese de uma produção anterior e mais extensa do autor, o livro A Text Book in the History of Education, publicado inicialmente em 1905. Segundo Monroe (1976, Prefácio), “o grande problema no estudo da História da Educação está na coordenação do suficiente material histórico, a fim de dar corpo ao assunto em estudo e indicar a afinidade entre a história ou a vida social e a educação”, sem perder, na síntese, o exercício de análise e compreensão histórica.

O procedimento utilizado por Monroe para compor o livro foi o de valorizar uma visada panorâmica da História da Educação, como afirmam Gondra e Silva (2011, p. 709), em que a “organização da narrativa foi ancorada num ordenamento cronológico [...] e no enfoque enciclopédico”. Nesta perspectiva, operou uma seleção de acontecimentos que, na sua percepção, expressariam o “momento histórico”, de organização dos espaços de transmissão da cultura letrada e das reflexões e ‘soluções’ que aquela sociedade (contingenciada pela organização cultural, política, econômica e pelas relações de poder constituídas) alcançou. Esta operação poderia tornar-se referência para a compreensão “dos fatos educacionais” no tempo, condição indispensável aos professores em formação. Parece, então, que a seleção proposta por Monroe considerou os acontecimentos mais “expressivos” e aqueles em que se pôde acessar o maior número de referências para pesquisa, textos, documentos, imagens, ou seja, as chamadas “fontes originais”. A preocupação com o acesso às fontes pretendia fazer com que, por meio delas, fosse conferida maior credibilidade da análise e da narrativa.

Quanto à materialidade, foi observado que o livro traduzido10 era composto pela seguinte organização: 387 páginas, 14 quatorze capítulos, 14 imagens ou ilustrações. O autor Paul Monroe foi apresentado na orelha do livro. Nas informações editoriais, também constava que a tradução foi realizada do original inglês A Brief Course in the History of Education, publicado por The Macmillan Company, New York, 1949. Na edição de 1976, utilizada como referência para esta análise, o tradutor foi Idel Beker, na ocasião professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Mackenzie na seção de Letras e Pedagogia. Além dos 14 capítulos, a obra apresentava, ao final, quadros cronológicos desde a educação grega até o século XIX (MONROE, 1976, p. VII-XX). Todo capítulo era encerrado com um sumário, indicando os “principais” temas abordados. Nesta edição de 1976, diferente da primeira, não foram apresentadas referências bibliográficas ao final dos capítulos. O livro também tinha por notas de rodapé de página.

O texto consistiu em um exercício de escrita histórica que mesclou a História da Educação Geral com a narrativa de uma História da Educação local. A partir de uma organização cronológica, apresentou diferentes experiências relacionadas à formação humana, objetivos educacionais, organização curricular, métodos, práticas pedagógicas, os espaços de transmissão da cultura letrada e suas características em diferentes tempos e territórios. Essa história foi narrada a partir da análise dos contextos social e cultural, dos discursos políticos e das teorias pedagógicas fincadas na Filosofia, na Psicologia ou na Sociologia.

Prescrições? Modelos? Não é possível afirmar que tivesse sido essa a intenção de Monroe, ao mesmo tempo que não é possível negar que tenha usado uma seleção de exemplos que “expressassem” o continuum educacional “das sociedades”. Mais do que isso, parece ter selecionado um conjunto de experiências de alguns territórios, sendo privilegiadas a da Inglaterra, talvez em função do processo de colonização, a da Alemanha e o seu território, e a da América, mais precisamente a experiência dos Estados Unidos.

É possível afirmar que a forma de organizar e selecionar os acontecimentos educacionais, bem como o recorte histórico aplicado por Monroe em seu livro, implicaram no formato assumido pela disciplina História da Educação em muitas instituições de formação de professores, inclusive no Brasil, o que pode ser sustentado pela ampla divulgação de seu texto no âmbito da Coleção Atualidades Pedagógicas, da Companhia Editora Nacional (CEN). Os indícios registrados nos programas dão a ver uma composição muito próxima do manual do professor do Teachers College, da Universidade de Columbia, resguardados o exercício de ajustes e as complementações propostas pelos professores a partir da realidade de sua instituição. A formatação dos conteúdos, considerando a escola como resultado de um tipo de sociedade, a ordenação temporal de longa duração, tomando os períodos históricos definidos pela historiografia tradicional, e o destaque a movimentos e teorias que versaram sobre a educação e a organização escolar foram critérios presentes na maioria dos manuais de História da Educação elaborados no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Pode-se dizer que, de certo modo, o modelo de história oriundo da Faculdade de Educação da Universidade de Columbia orientou a modelagem e a organização da disciplina História da Educação, bem como o modo de ser ensinada. Mesmo considerando esses traços comuns, os autores daqueles manuais imprimiram traços particulares à forma de tratamento dos conteúdos e à análise do acontecimento educacional. Traços que expressaram seu entendimento sobre o papel da História da Educação na formação de professores, sobre quais conteúdos seriam mais adequados e, principalmente, o papel da pesquisa nesse processo.

Assim, no mesmo movimento, é importante citar também o livro de Lorenzo Luzuriaga, História da Educação e da Pedagogia, que, a exemplo do texto de Monroe, alcançou grande circulação nas instituições de formação de professores no Brasil, compondo também a Coleção Atualidades Pedagógicas e sendo citado recorrentemente nos programas da disciplina. A obra de Lorenzo Luzuriaga contou com sua primeira edição no Brasil em 1955, sendo reimpressa em 1963, 1967, 1969, 1971, 1972, 1973, 1975, 1976, 1977, 1978, 1979, 1980, 1982, 1983, 1984, 1985, 1987. Foi publicada, em 1951, em Buenos Aires, pela Editora Losada, com o título Historia de la Educación y de la Pedagogía. No Brasil, foi traduzida por Luiz Damasco Penna e J. B. Damasco Penna. Foi organizada em 20 capítulos, que trataram da Educação e da Pedagogia. Segundo o próprio autor,

Na exposição intentamos também estabelecer a mais íntima conexão entre realidade educacional e idéias pedagógicas, pois ambas não são que partes de um todo indivisível: a própria educação. Antepusemos educação a Pedagogia, não por crer aquela mais valiosa, mas porque assim se tornaria mais claro o estudo de ambas. Por ora, fica sem resolver se o ideal da educação surge da realidade educacional ou se, antes, esta precede daquela. (LUZURIAGA, 1969, Introdução)

Luzuriaga propôs o tratamento de dois campos na História da Educação. Por um lado, a organização escolar, visualizada nas organizações social e cultural pelas instituições e pelos dispositivos criados para a formação humana; por outro, a elaboração das ideias pedagógicas, ou seja, as teorias que sistematizam as concepções sobre a formação humana em suas diversas dimensões. Para Luzuriaga (1969, Introdução), “os ideais não são algo de vago e flutuante, distanciado da realidade, mas precisos e concretos como a própria realidade”. Essa configuração constitui-se em uma regularidade importante nos manuais em circulação nas primeiras décadas do século XX, recomendados pelos professores da UEL. O autor expressou que seu livro assumiu um objetivo essencialmente didático, não sendo um trabalho “erudito de investigação”. Trabalho, segundo ele, de reunião de conhecimentos que permitiram uma visão de conjunto da educação e da pedagogia, um serviço prestado por um pedagogo endereçado a outros pedagogos e professores11. O fato de ter sido definido como texto didático não retirou do manual, condição reforçada pelo autor na Introdução, a exigência de demonstração das fontes a partir das quais o texto foi composto, bem como a indicação em notas de rodapé de outros textos para o aprofundamento das leituras. Entende-se que essa disposição do autor indica preocupação com um nível de pesquisa que deveria ser suporte tanto para a produção daquele texto quanto para a formação dos leitores do seu texto. Warde (1998) analisou a presença de Luzuriaga no Brasil e as características do seu trabalho comparativamente às intenções indicadas pelo autor. Segundo ela,

Nos textos da Argentina, que se fizeram circular entre nós, oferta o duplo itinerário da História da Educação e da Pedagogia. Na primeira vertente, o objeto é o processo de constituição das redes e sistemas de ensino; na segunda, à falta da seiva prático-empírica da qual se nutriu enquanto esteve na Espanha, acabou por reduzir a Pedagogia às idéias e seus ‘portadores’, como esquematicamente se apresenta no livro História da Educação e da Pedagogia no qual revezam-se capítulos sobre os sistemas de ensino em diversos lugares e tempos e capítulos sobre pedagogia e seus representantes.

Nesse formato, a História da Educação e da Pedagogia ofertadas por Luzuriaga perdem os seus significados originais. Nesse modo enrijecido, pouco se distinguem dos esquemas adotados por outros autores publicados na mesma série Atualidades Pedagógicas. Luzuriaga serviu como outros, como ancoragem para os cursos de História da Educação Geral e para uma linhagem de trabalhos sobre o processo de construção dos nossos sistemas de ensino. Sintomaticamente, não serviu de apoio para a construção de projetos de pesquisa em torno da História da Pedagogia, entendida como práticas pedagógicas, como organização do trabalho escolar, tal como emerge em seus escritos da Espanha. Quando muito houve, registram-se ensaios em torno de idéias pedagógicas e seus autores. (WARDE, 1998, p. 80-81, grifos nossos)

A avaliação de Warde incide sobre a condição de síntese do texto e da ausência de tratamento das questões relativas às práticas pedagógicas que, mais uma vez, obscurece dimensões da experiência educativa. Essa condição parece ser resultado, como disse Monroe (1976), por um lado, da dificuldade, e por outro, da necessidade de reunião do maior número possível de informações, de fontes. Ou seja, séries documentais que possibilitassem a investigação mais precisa e abrangente de dimensões que considerassem as práticas educativas e que escapassem à biografia e escritos dos autores de época.

Como aponta a documentação, os textos panorâmicos, de fato, circularam e parecem ter funcionado como bússola para o trabalho em sala, como aparece no depoimento de Zenite Teresinha Ribas César, professora de História da Educação na UEL de 1964, quando iniciou seu trabalho na disciplina, até meados da década de 1990. Ela relatou a dificuldade de acesso à bibliografia para uso em sala de aula, indicando a inexistência de uma produção nacional, e o consequente consumo de manuais traduzidos.

A gente procurava estar em contato com as universidades maiores. Sempre em contato com as universidades maiores para saber o que estava acontecendo. Na Federal do Rio de Janeiro, a gente teve bastante contato com a professora, não sei se você sabe de nome, Nair Almeri (?). Ela foi uma professora muito importante na Federal do Rio de Janeiro. Tínhamos contato com eles e também do sul. Do Rio Grande do Sul. E a gente procura então o que estava saindo, a bibliografia que estava saindo. Naquela época, a bibliografia era muito pobre, [...] era coisa do exterior que vinha. Aqui do Brasil era praticamente nada. Era muito pobre mesmo. (CÉSAR, 2012, p. 3)

A professora Zenite fez menção à primeira fase de organização da disciplina nas décadas de 1960 e 1970. Nesse movimento, indicou também que o recurso que usava era o contato com seus antigos professores, além da participação em eventos nacionais. A professora Zenite formou-se em Pedagogia pela USP, em março de 1964, tendo sido aluna, por exemplo, de Fernando de Azevedo e de Roque Spencer Maciel de Barros, autores que compuseram seus programas ao lado dos manuais já indicados. Segundo a professora, era necessário sempre um trabalho de composição de textos que apresentassem os conhecimentos gerais sobre a história e outros de síntese dos acontecimentos educacionais.

A vez da História da Educação Brasileira e seu suporte bibliográfico

Em relação à bibliografia que tratou da História da Educação Brasileira, foram identificados textos/autores com maior recorrência nas décadas de 1960 e 1970 e outros nas de 1980 e 1990. Verificou-se, no período de 1980 e 1990, um número ampliado de referências, o que indica também a ampliação da produção na historiografia da educação brasileira e a diversificação na abordagem teórica dos textos disponíveis. Nesse conjunto, a exceção corresponde à obra de Fernando de Azevedo, A Cultura Brasileira, que aparece citada nas décadas de 1970, 1980 e 199012. Sendo assim, Fernando de Azevedo foi um autor que apareceu na programação da disciplina em todo o percurso considerado pela pesquisa.

Além de Fernando de Azevedo, apareceram citados com recorrência considerável os autores Roque Spencer Maciel de Barros, com o texto Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1960); Luis Alves de Mattos, Primórdios da Educação no Brasil (1958); Jorge Nagle, Educação e Sociedade na Primeira República (1974); Otaíza Romanelli, História da Educação no Brasil (1978); Maria Luísa Santos Ribeiro, História da Educação Brasileira (1987)13.

Para análise do referencial que tratou dos conteúdos de História da Educação Brasileira, adotou-se um procedimento ligeiramente distinto do bloco anterior. Optou-se por fazer um exercício de caracterização geral de dois textos, sem detalhamento analítico do percurso teórico do autor. A tentativa consistiu em mapear as referências temporais e abordagens presentes nos textos de maior recorrência que, por serem base do trabalho em sala, deram a “cara” ou as “caras” da História da Educação Brasileira na instituição, no período considerado pela pesquisa.

Quadro 2 Recorrências bibliográficas de História da Educação Brasileira nas décadas de 1960 a 1990 

Autor / Obra Anos de recorrência da referência nos programas HE brasileira/décadas de 1960 a 1990
Lourenço Filho Tendências da Educação Brasileira 65 66 67 69 70
Fernando de Azevedo A Cultura Brasileira 70 71 73 82 85 86 88 89 92 93 94
Anísio Teixeira Educação no Brasil 82 86 89
Primitivo Moacyr Instrução e o Império 66 70
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos Reformas de Ensino 66 67 70
Antonio Tobias História da Educação Brasileira 73 86 89
Luis Alves Mattos Primórdios da Educação no Brasil 65 66 67 70 71
Roque Spencer Maciel de Barros Diretrizes e Bases da Educação no Brasil 64 65 66 82 85 86 88 89
Leonel Franca O Método Pedagógico dos Jesuítas 66 70
Jorge Nagle Educação e Sociedade na Primeira República 82 86 89 92 93 94
Mirian Warde Educação e Estrutura Social 86 89
Moacir Gadotti Educação e Poder 86 89
Bárbara Freitag Escola, Estado e Sociedade 86 89 92 93 94 95
Florestan Fernandes A Universidade Brasileira, Reforma ou Revolução 86 89
Otaíza Romanelli História da Educação no Brasil 82 86 89 92 93 94 95
Maria Luiza Santos Ribeiro História da Educação Brasileira 82 86 89 92 93 94 95
Paulo Ghiraldelli História da Educação 92 93 94 95

Fonte: Programas da disciplina História da Educação que tratavam dos conteúdos da História da Educação Brasileira de 1962 a 1998.

Segundo Nunes (1996, p. 68), “[...] os livros [são] os principais mediadores do ato pedagógico, instrumentos materiais e simbólicos que guardam múltiplos significados e permitem uma leitura diversificada”. Entende-se que essa mediação é antecedida por outra, tão importante quanto para o ato pedagógico: a do professor. Antes de ser adotado como instrumento material e simbólico, os livros são selecionados a partir de circunstâncias, contingências ou condições específicas: referências do processo de formação acadêmica, clareza dos objetivos da disciplina e do curso, acesso às publicações disponibilizadas, participação nos círculos acadêmicos, bem como orientações e controles institucionais e eventuais demandas dos alunos.

O princípio de mediação proporcionado pelos textos didáticos foi visualizado na programação da disciplina História da Educação no que diz respeito especificamente aos conteúdos de História da Educação Brasileira, principalmente no que tange à leitura diversificada. O quadro apresentado indica dois momentos bastante delimitados em relação aos textos de maior recorrência: os textos que marcam as décadas de 1960 e 1970 e outros que aparecem a partir do início da década de 1980, com exceção dos textos Diretrizes e Bases da Educação no Brasil, de Roque Spencer Maciel de Barros, citado nas décadas 1960 e 1980, e A Cultura Brasileira, de Fernando de Azevedo, referenciado nas décadas de 1970, 1980 e 1990.

Foi observado um exercício de composição dos conteúdos, oferecendo aos estudantes um referencial bastante diversificado para o estudo de cada um dos períodos definidos tradicionalmente pela História da Educação Brasileira. Isso pode ser compreendido como expressão do movimento, por parte do professor, para definir a forma mais adequada de tratamento dos conteúdos, a partir do que tinha disponível. A composição dos conteúdos da disciplina, registrados nos programas até 197614, permitiu verificar a indicação de leituras obrigatórias que seriam discutidas em sala, para além daquelas que constavam no referencial bibliográfico. Essas indicações autorizaram e justificaram a afirmação de diversidade de mediadores e forma de abordagem dos conteúdos no desenvolvimento da História da Educação Brasileira.

Alguns exemplos puderam ser extraídos dos referidos programas. Em 1969, foram solicitados como leitura obrigatória os seguintes textos: A Escola nem Risonha nem Franca, de Lauro de Oliveira Lima; Grandezas e Misérias do Ensino Brasileiro, de Maria José Werebe; e Educação Não é Privilégio, de Anísio Teixeira. Constava, ainda, a indicação de um trabalho de pesquisa que tinha por objetivo a investigação sobre a “Evolução Histórica da Educação no Paraná”. Em 1970, foi exigida a leitura do texto de Anísio Teixeira, Educação Não é Privilégio, e o de Geraldo Bastos Silva, A Educação Secundária. Além das leituras indicadas como obrigatórias, foram apresentadas, vinculadas aos períodos da educação brasileira que seriam trabalhados, leituras ocasionais, por exemplo: ao conteúdo “Visão impressionista do período atual”, o livro de Werebe, Grandezas e Misérias do Ensino Brasileiro; ao período colonial, o livro de Mattos, Primórdios da Educação no Brasil, o de Leonel Franca, O Método Pedagógico dos Jesuítas, e o de Laerte Ramos de Carvalho, As Reformas Pombalinas da Instrução Pública. Também foi solicitada a leitura do Boletim n. 160 da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Para sustentar o ensino relativo aos períodos imperial e republicano, acrescentaram-se dois textos de Primitivo Moacyr, Instrução e Império e Instrução e República, e o de Lourenço Filho, A Pedagogia de Rui Barbosa. No que se refere ao estudo da chamada Era Vargas, recomendou-se trabalho com o livro de Lourenço Filho, Introdução ao Estudo da Escola Nova. Ao conteúdo “Volta ao regime democrático” foi associado o texto de Roque Spencer Maciel de Barros, Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No tratamento de “Período Atual” (1970), foi requisitada a leitura dos textos das “Conferências Nacionais de Educação I, II, III, IV e V”, e para o tratamento da Educação Paranaense, a leitura dos “Relatórios da Secretaria de Educação e Cultura do Paraná”.

No programa de 1971, ao lado dos textos ocasionais já citados no programa de 1970, também foi proposta a análise das ações do então Ministro da Educação, Jarbas Passarinho, por meio da leitura de artigos coletados de revistas que apresentaram o tema. Em 1973, foram indicadas como leituras básicas os textos de Antonio Tobias, História da Educação Brasileira, e Fernando de Azevedo, A Cultura Brasileira. O que se apresentou na composição proposta nos programas foi um movimento de refinamento das discussões de cada período com a indicação de leituras que trataram os temas de maneira especializada e numa configuração diversa da dos manuais.

A partir de 1976, não foi possível analisar outras recorrências além daquelas indicadas no referencial bibliográfico15. A partir desse período, houve maior referência ao trabalho com manuais. A configuração do tempo em períodos bastante definidos, considerando principalmente a ordenação política, foi uma das condições mais presentes. Mesmo com a ordenação temporal, ou recorte temporal tradicional, a forma de organizar e tratar os conteúdos internamente ao recorte foi variada. Como recurso para análise dessa situação, foram selecionados dois textos que trabalharam a apresentação dos conteúdos de História da Educação Brasileira para um exercício de identificação da seleção, do tratamento dos conteúdos e do arco temporal proposto. Esses textos foram selecionados por sua recorrência nos programas analisados.

A primeira seleção consiste no texto de Fernando de Azevedo, A Cultura Brasileira, referenciado nas décadas de 1970 a 1990. A segunda foi o livro de Otaíza Romanelli, referenciado nas décadas de 1980 e 1990. Dois textos com narrativas diversas, mas com algumas proximidades, como o tratamento do tema pelo viés da Sociologia e da Cultura, e que, pelos indícios históricos, foram recorrentes na organização do trabalho em História da Educação Brasileira. Outro aspecto a se destacar é a presença do texto de Fernando de Azevedo na construção do texto de Otaíza Romanelli, bem como a de outros autores do chamado movimento renovador. Esses dois textos talvez não possam ser caracterizados como manuais, na sua definição estrita, principalmente por não terem sido concebidos para a finalidade do ensino. Mas os registros informam seu insistente uso como recurso didático pedagógico em sala de aula.

A historiografia da educação brasileira é abundante em trabalhos que analisaram a produção intelectual de Fernando de Azevedo16, e suas ações como administrador, sociólogo, educador e uma das figuras de destaque no cenário do movimento renovador. Não é intenção, neste trabalho, a análise pormenorizada de sua obra, pois o que se buscou foi verificar o tratamento dado ao conteúdo da História da Educação Brasileira para que fosse possível identificar os contornos assumidos e reproduzidos tradicionalmente no seu ensino17.

A Cultura Brasileira, de Fernando de Azevedo, foi editada pela primeira vez em 1943, tendo sido um texto elaborado por encomenda que serviria de Introdução ao Recenseamento de 1940. No entanto, mostrou-se de grande importância e de aceitação e circulação rápidas. Segundo Fernando de Azevedo, em sua apresentação,

A elaboração dessa obra coincidiu com um duplo movimento que, havia mais de dez anos, se vinha desenvolvendo quer num sentido de renovação quer para avivar o esforço por uma tomada de consciência nacional, e de que a ‘Brasiliana’, - coleção de estudos brasileiros, que fundamos em 1931, foi uma de suas primeiras e mais significativas expressões no plano cultural. Nessa atmosfera de inquietação e de pesquisas que eu ajudaria a criar e em que o pensamento se orientava, não raramente, para as tentativas de interpretação da civilização brasileira, planejou-se e redigiu-se essa obra com a mesma preocupação de objetividade, o mesmo anseio de descoberta e a mesma sinceridade radical que começavam a predominar em trabalhos dessa natureza. [...] ‘A Cultura Brasileira’, trazer, não traz documentos inéditos, de origem direta, nem o autor se havia proposto a vasculhar arquivos, para exumar do esquecimento velhas peças documentárias. Mas, se nova não se pode considerá-la sob esse aspecto, é um trabalho original, quer pela concepção e unidade de plano, quer na sua construção que se ergueu sobre a base sólida de dados e informações, colhidas na mais larga investigação de fontes primárias e da literatura histórica, como em toda a espécie de monografias e trabalho de detalhes, quer ainda na apresentação, coordenação e explicação dos fatos, examinados à luz de observações pessoais e de leituras longamente meditadas. Mas, considerando com Renan que a ‘verdade é um diálogo no qual a conclusão se desprende dos pontos de vista opostos’, todos eles foram confrontados e analisados, depois da recusa preliminar, mas refletida, de toda e qualquer informação de origem suspeita ou parcial, imputável a interesses e paixões ou a perspectivas deformadas por concepções ideológicas. (AZEVEDO, 1955, p. 26-27)

Segundo o próprio autor, o livro foi elaborado considerando o mais atento rigor de pesquisa, de seleção e tratamento dos conhecimentos sobre a cultura brasileira e a organização dos espaços para sua transmissão, tanto que foi por longa data tomado como fonte primária para o estudo da História da Educação Brasileira; pode-se dizer fruto de um rigoroso “Estado da Arte” sobre a temática, que trouxe como contribuição original a proposta de organização dos conteúdos; além de original, teórica e ideologicamente orientada pelos ideais ‘Renovadores’ dos quais Fernando de Azevedo foi protagonista. Segundo Carvalho (2010, p. 347), “tratava-se de conceber e institucionalizar - pedagógica, política e juridicamente - um sistema nacional de educação que exprimisse o programa de ‘organização nacional pela organização da cultura’ que se gestara no movimento”. A categoria que percorre o texto A Cultura Brasileira foi, de acordo com Carvalho, a da unificação, e serviu de referência e fonte de pesquisa no ensino da História da Educação Brasileira e também na elaboração de manuais.

A estrutura proposta para a discussão partiu de reflexões mais gerais sobre a constituição cultural do Brasil, organizadas na primeira parte do livro, intitulada “Os Fatores da Cultura”, subdividida em temas como: O País e a Raça; O Trabalho Humano; As Formações Urbanas; A Evolução Social e Política; e Psicologia do Povo Brasileiro. Decorrente desse esforço interpretativo, o autor apresentou um panorama amplo das diversas modalidades de cultura: Instituições e Crenças Religiosas; A Vida Intelectual; As Profissões Liberais; A Vida Literária, a Cultura Científica e a Cultura Artística. Na terceira parte, foi esboçada a representação do autor para a História da Educação Brasileira. O capítulo foi organizado a partir dos seguintes temas: O Sentido da Educação Colonial; As Origens das Instituições Escolares; A Descentralização e a Dualidade de Sistemas; A Renovação e a Unificação do Sistema Educativo; O Ensino Geral e os Ensinos Especiais.

Ao analisar as implicações do texto de Fernando de Azevedo na configuração da historiografia da Educação Brasileira, Carvalho destacou dimensões que passaram a servir de modelo na leitura e na produção de conhecimento relativos à História da Educação Brasileira. Segundo ela,

É assim que a História da Educação é instituída como história da organização dos sistemas de ensino por políticas educacionais emanadas do Estado. Assim é, também, que o estudo das instituições escolares é configurado como procedimento que recorta, no continuum do processo de institucionalização dos sistemas educacionais, um momento e um modo institucional em que tal processo se concretiza. Desses recortes, decorre a seleção da legislação como fonte privilegiada na investigação. Com esses procedimentos a narrativa de Azevedo estrutura um campo bipartido por estruturas temporais paralelas e apenas pontualmente conectáveis, nas quais constrói dois domínios apartados de investigação: o da história das ideias e projetos pedagógicos e o da história da organização dos sistemas de ensino. O campo se estrutura tendo como eixo a história dos sistemas educacionais instituídos e das políticas que jurídica e pedagogicamente os instituíram. Produzindo-o, a obra de Azevedo se constitui como um modo de narrar que se propõe como regra de narração para outros textos, prescrevendo não somente as regras de configuração do objeto pelo seu enquadramento em uma das séries referidas como também o modo de relacioná-las no espaço narrativo das explicações sobre o seu descompasso. Falando do lugar de produção das políticas que pedagógica e juridicamente instituem o sistema de ensino - o Estado -, a voz do narrador de A Cultura Brasileira pode ser ouvida, ainda hoje, nas seleções de períodos e de temas de estudo, nos padrões descritivos e explicativos e nas periodizações que configuram o objeto da investigação e o modo de narrá-lo. (CARVALHO, 2010, p. 343)

A modelagem analítica proposta por Azevedo implicou a configuração temática e temporal, bem como de referência de fonte de manuais elaborados para o ensino de História da Educação. Influenciou, também, o ensino de História da Educação, mesmo não tendo sido elaborado para esse espaço, o da sala de aula, ao apresentar um modelo interpretativo com categorias bastante definidas - no caso, o sistema de ensino e suas modalidades -, permitindo que o ‘usuário’ percorresse quase quatro séculos de história do ensino brasileiro numa perspectiva cronológica, amparado pela análise sociológica e cultural.

O outro texto destacado foi publicado 35 anos depois, em 1978. Trata-se do livro de Otaíza de Oliveira Romanelli, História da Educação no Brasil, resultante da tese de doutoramento realizada por Romanelli em Paris, na Sorbonne. Segundo a autora, a investigação originou-se de uma antiga preocupação em analisar os fatores que implicaram na organização educacional e “respondem pela maioria de seus problemas” (ROMANELLI, 1991, p. 13). A autora elegeu algumas categorias ou dimensões que orientaram a avaliação da organização educacional e suas condições, sendo analisada a partir da relação estabelecida entre cultura, economia e sistema político. Segundo a autora, o trabalho pretendeu

Estabelecer que a evolução do sistema educacional, a expansão do ensino e os rumos que esta tomou só podem ser compreendidos a partir da realidade concreta criada pela nossa herança cultural, evolução econômica e estruturação do poder político. Cada fase da história do ensino brasileiro vai refletir a interligação desses fatores: a herança cultural, atuando sobre os valores procurados na escola pela demanda social de educação, e o poder político, refletindo o jogo antagônico de forças conservadoras e modernizadoras, com o predomínio das primeiras, acabaram por orientar a expansão do ensino e por controlar a organização do sistema educacional de forma bastante defasada em relação às novas e crescentes necessidades do desenvolvimento econômico, este cada vez mais carente de recursos humanos. (ROMANELLI, 1978, p. 19)

O texto foi organizado em seis capítulos. Foi opção, aqui, transcrever os títulos dos capítulos, pois eles permitem visualizar o percurso histórico pretendido pela autora bem como o destaque dado para algumas dimensões. O Capítulo 1, intitulado “abordagem teórica”, foi o espaço utilizado por Romanelli para discutir as dimensões que implicam, segundo sua compreensão, a organização escolar: por exemplo: a cultura, a relação educação e desenvolvimento, a demanda escolar, a estrutura de poder e a organização de ensino. Segundo a autora, só seria possível compreender a evolução do sistema de ensino na análise da rede estabelecida entre “herança cultural, evolução econômica e poder político”. A estruturação do sistema de ensino e sua regulamentação seria mediado pelos interesses e representações dessas esferas.

O Capítulo 2, “Fatores atuantes na evolução do sistema educacional brasileiro”, apresentou as características da organização educacional no período anterior a 1930, da Colônia à fase republicana. A autora tratou mais de trezentos anos de história da educação em pouco mais de 14 páginas. Como foi possível observar, predominaram, na elaboração, dos textos citações e referências de A Cultura Brasileira, de Fernando de Azevedo. É importante mencionar que o texto de Azevedo se fez presente como referência em todos os capítulos, não só no primeiro. Seguindo o procedimento de análise indicado, a autora explorou a relação demanda escolar/demanda social e econômica e estrutura de poder.

No Capítulo 3, “Educação e o Desenvolvimento Brasileiro Após 1930”, Romanelli trabalhou com a relação dos dispositivos político e econômico e as implicações no desenvolvimento, pensado também na relação da expansão da demanda social versus expansão do sistema de ensino. O capítulo ficou organizado com os seguintes itens: a Revolução de 30 e o desenvolvimento brasileiro; o processo de industrialização e as exigências educacionais; a relação demanda social pela educação e a expansão do ensino; deficiências quantitativas e estruturais para a expansão do ensino.

No quarto capítulo, a autora desdobrou a análise para a relação entre ensino e contexto sociopolítico após 1930. Nesse capítulo, trabalhou as reformas educacionais e os movimentos teórico-ideológicos das décadas de 1930 a 1960: Movimento Renovador; Manifesto dos Pioneiros; Reforma Francisco Campos; Reforma Gustavo Capanema; Lei 4024/61; e as implicações desses acontecimentos na organização dos níveis e das modalidades do ensino. No Capítulo 5, trabalhou as organizações social e econômica e do ensino pós 1964, as reformas, os acordos e os modelos instituídos. O Capítulo 6 foi o de conclusão, no qual ela retomou o sentido da modernização e sua relação com a educação. O texto foi construído a partir de rigoroso exercício de análise com apresentação de tabelas, dados do IBGE relativos ao sistema escolar e citações de fontes documentais.

O livro de Otaíza Romanelli encontra-se na 40ª edição, publicada em 2014, segundo informações colhidas no sítio da Editora Vozes, responsável pela publicação do livro desde a 1ª edição, o que indicia uma circulação expressiva de um texto datado de 1978, não revisto ou ampliado, considerando que sua autora faleceu nesse mesmo ano18, referenciado como bibliografia básica na maioria dos trabalhos que trataram do ensino de História da Educação, e sendo referenciado nos programas da disciplina, como observado nos documentos consultados. Mesmo não tendo sido escrito para servir ao ensino, foi assumido como uma referência importante no espaço de sala de aula, conformando, assim, a programação da disciplina.

Ainda algumas palavras

Considerados os indícios analisados, verificou-se que a organização da biblioteca de formação proposta para as disciplinas de História da Educação Geral e Brasileira foi, em um primeiro momento, de 1964 até a década de 1980, organizada quase que exclusivamente sob orientação da professora Zenite César. Essa condição implicou na configuração das disciplinas a partir da apropriação das leituras que realizou durante seu curso de graduação na USP, dos autores que pertenciam ao círculo intelectual dos renovadores e católicos, que tiveram uma produção significativa, circulando nos espaços de formação de professores, da produção e proposição da organização da disciplina História da Educação por parte de professores vinculados às instituições de referência à época, e que, de certo modo, continuaram sendo, como USP, PUC-SP, UFRJ, UFRGS e UFPR.

Ao lado dos livros, recorreu-se a uma produção difundida em periódicos e resultado de encontros científicos. Não pareceu haver uma preocupação extremada na seleção de textos vinculados a uma única orientação teórica. Autores de tendências díspares foram trabalhados no mesmo contexto de sala, o que poderia ser justificado pela importância histórica do texto, pelas informações e pelos dados que apresentavam, e talvez por serem textos de época. Em hipótese, essas características suplantaram a divergência de abordagem.

Tanto a História da Educação Geral quanto a História da Educação Brasileira utilizaram como referência os textos denominados manuais, sendo que se percebeu maior continuidade no uso desses textos na disciplina História da Educação Geral, inclusive dos manuais produzidos na primeira metade do século XX, mesmo com a presença de novos estudos no campo.

Na História da Educação Brasileira, o uso dos textos de síntese foi mantido, mas com maior diversificação na comparação entre as décadas estudadas, tanto que, no Quadro 2, foi possível verificar essa marca divisória na recorrência dos textos entre as décadas de 1960/1970, 1980 e 1990, com exceção, como já informado, do texto A Cultura Brasileira, de Fernando de Azevedo.

A composição do ensino de HE apropriou-se da formatação de conteúdo e periodização dos manuais indicados como recorrentes, confirmando a rede que se estabeleceu entre formação acadêmica do professor, sua biblioteca de formação, os manuais disponíveis, a inserção nos círculos acadêmicos e as relações institucionais. Essa trama configurou historicamente a disciplina História da Educação no Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina.

Referências

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1Texto que comunica os resultados alcançados no âmbito do Projeto de Pesquisa n.11355 - A Escrita da História da Educação nos Manuais de Ensino: um estudo sobre a Universidade Estadual de Londrina de 1962 a 1998, registrado na PROPPG/UEL.

2O termo ‘manual’ foi utilizado como designativo de texto didático/pedagógico elaborado tendo por objetivo atender às demandas do ensino, caracteriza-se pela intencionalidade de uso, adequação pedagógica e apresentação sistematizada dos conteúdos. Nos manuais de História da Educação identifica-se costumeiramente a reunião de conhecimentos sobre a história da educação ou da pedagogia, abarcando um amplo arco temporal. Apresentação sistemática dos conteúdos com narrativas, muitas vezes, numa perspectiva cronológico/linear. Foram elaborados com orientação político-econômica, ou das ideias pedagógicas, ou das instituições educativas e escolares, ou dos tratados pedagógicos e dos pensadores tomados como referência. Em alguns manuais encontraram-se associadas algumas dessas abordagens. Segundo Hamilton, “os manuais refletem manifestatamente (sic) as preocupações pedagógicas. O que significa que um manual não é simplesmente um livro utilizado na escola. É, de preferência, um livro que foi conscientemente concebido e organizado para servir aos objetivos de instrução” (HAMILTON, citado por Choppin, 2009 p.65).

3A Universidade Estadual de Londrina foi criada em 1970 e reconhecida em 1971. A UEL nasce pela reunião de cinco faculdades isoladas: Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Londrina, criada 1954; Faculdade Estadual de Direito de Londrina, 1956; Faculdade Estadual de Odontologia de Londrina, 1962; Faculdade de Medicina de Londrina, 1965; Faculdade de Ciências Econômicas e Contábeis de Londrina, 1966.Foi na Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina, que o curso de licenciatura em Pedagogia foi criado em 1960, com início das atividades em 1962, no curso os conteúdos de História da Educação já estiveram previstos desde o início de suas atividades.

4Exemplos de manuais com essa configuração são os de Afrânio Peixoto (1933) e o de Theobaldo Miranda Santos (1945).

5Referências que discutem o tema: GONDRA (2011); GONDRA; SILVA (2011); GONDRA; SILY (2012, 2013).

6Paul Monroe (1869-1947), professor norte-americano nascido em Madison, Indiana. Graduou-se pelo Franklin College e pela Universidade de Chicago. Orientou suas pesquisas a partir dos métodos sociológicos e históricos. Foi nomeado docente de História em 1897 numa escola profissional de educadores, o Teachers College da Universidade de Columbia. Assumiu, em 1902, a Cátedra de História da Educação (cf. ROBALLO, 2011; SOOMA SILVA; FAVARO, 2014).

7A respeito deste autor e de sua produção, conferir: Warde (1998); Mendez (2014); e Menezes (2014).

8Tiragem do livro História da Educação de Paul Monroe por edição: 4.150 (1939); 4.025 (1946); 4.050(1952); 5.075 (1953); 5.011 (1956); 7.940 (1958); 4.026 (1968); 3.010 (1969); 4.084 (1970); 8.934 (1972); 4.049 (1976); 4.086 (1977); 5.068 (1978); 10.000 (1979); 3.916 (1983); 3.214 (1984); 3.156 (1985); 3.167 (1987) (TOLEDO, 2001 citada por ROBALLO, 2012, p. 151).

9A Nacional foi fundada em 1925, organizada a partir do fundo da Editora Monteiro Lobato e Cia, que pediu falência nesse mesmo ano. Em 1974, a Companhia Editora Nacional (CEN) passa a ser administrada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), em função da morte de Octalles Marcondes Ferreira (1973), um de seus sócios, sendo adquirida, em 1980, pelo Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas (IBEP), ainda proprietário.

10A tradução utilizada como base para a análise foi a de 1976. Essa tradução seguiu a formatação da terceira edição, feita por Idel Becker e Terezinha G. Garcia. A primeira e a segunda edições, de 1939 e de 1946, respectivamente, seguiram a tradução de Nelson Cunha de Azevedo. Sobre a especificidade desses dois trabalhos de tradução, conferir Sooma Silva e Favaro (2014).

11Exemplos de trabalhos elaborados por pedagogos para formar pedagogos e professores: Larroyo (1974); Ribeiro (1992).

12Outro de seus textos, A Educação entre Dois Mundos (1958), foi citado na década de 1960.

13Optamos por referenciar apenas as obras com maior referência, pois, pela extensão da bibliografia pesquisada, seria impossível referenciar aqui uma a uma. Para conferir todas as referências, sugerimos entrar em contato com a autora deste trabalho.

14De 1963 a 1975, os programas apresentavam registros mais extensos e livres, de acordo com a disponibilidade e as intenções do professor, respeitada uma estrutura mínima. A partir de 1976, o processo de registro foi informatizado, estabelecendo um padrão para a composição dos conteúdos, a saber: ementa, conteúdos e referências bibliográficas básicas.

15A partir de 1976 a estrutura dos programas sofreu uma alteração e padronização em função da instalação do Sistema de Registro acadêmico.

16Alguns trabalhos que versam sobre o autor e sua produção intelectual: Carvalho (1986, 1988, 1989, 2010); Rocha (2008); Toledo (1995); e Xavier (1998).

17Para mais informações a respeito do autor, conferir o verbete ‘Fernando de Azevedo’, do Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001. Disponível em: https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/biografias/fernando_de_azevedo.

18Otaíza de Oliveira Romanelli trabalhou durante uma fase de sua vida em Curitiba. Alguns registros consultados informaram que ela teria se formado em Pedagogia pela UFPR (não se conseguiu dados de comprovação dessa informação), percorreu como professora os vários níveis de escolaridade até sua fixação como professora universitária na UFMG. Otaíza Romanelli faleceu em 1978, ano da publicação de sua tese de doutorado intitulada História da Educação no Brasil.

Recebido: 06 de Dezembro de 2022; Aceito: 11 de Fevereiro de 2023

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