SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22La escrita de la Historia de la Educación en los manuales de enseñanza: indicios de la biblioteca de formación en el Curso de Pedagogía de la UEL de 1962 hasta 1998Las cubiertas de la Síntese periodica pedagogica: huellas de la historia de la magistéria primaria fluminense (1968-1979) índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Compartir


Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.22  Uberlândia  2023  Epub 07-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/che-v22-2023-214 

Artigos

Nestor Lima e a instituição do Dia do Professor no Brasil

Nestor Lima y la institución del Día del Maestro en Brasil

Olívia Morais de Medeiros Neta1 
http://orcid.org/0000-0002-4217-2914; lattes: 7542482401254815

Lígia Silva Pessoa2 
http://orcid.org/0000-0003-0879-6253; lattes: 3985385154512825

1Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. olivianeta@gmail.com

2Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Brasil). ligiapessoa@gmail.com


Resumo

Neste artigo, busca-se analisar as contribuições do intelectual potiguar Nestor Lima para a instituição do Dia do Professor no Brasil. Este intelectual foi Diretor do Departamento de Educação do Estado do Rio Grande do Norte entre 1924 e 1929. A partir do livro Um século de ensino primário que registrou a organização para celebração do centenário da lei imperial 15 de outubro 1827, e também por meio dos impressos presentes na Hemeroteca Digital, na interface com o método indiciário de Ginzburg (1990) e o entendimento de Sirinelli (2003) sobre intelectuais e sociabilidades, desenvolvemos o presente estudo. Nos jornais investigados, constam notícias sobre a iniciativa da comemoração do Dia do Professor ano de 1923 na data de 15 de outubro. Constatamos que Nestor Lima se reconhece como sujeito responsável pela indicação da data à celebração do Dia do Professor mediante a mobilização de sua rede de sociabilidades com intelectuais de outros estados.

Palavras-chave: Dia do professor; Intelectuais; Celebração

Resumen

En este artículo, buscamos analizar las contribuciones del intelectual potiguar Nestor Lima para la institución del Día del Maestro en Brasil. Este intelectual fue Director del Departamento de Educación del Estado de Rio Grande do Norte entre 1924 y 1929. Con base en el libro Um século de ensino primário que registró la organización para la celebración del centenario de la ley imperial 15 de octubre de 1827, y también a través de los materiales impresos presentes en la Hemeroteca Digital, en la interfaz con el método indicativo de Ginzburg (1990) y la comprensión de Sirinelli (2003) sobre intelectuales y sociabilidades, desarrollamos el presente estudio. En los periódicos investigados, hay noticias sobre la iniciativa de la conmemoración del Día del Maestro en 1923, el 15 de octubre. Encontramos que Nestor Lima se reconoce como el sujeto responsable por la indicación de la fecha para la celebración del Día del Maestro a través de la movilización de su red de sociabilidades con intelectuales de otros estados.

Palabras clave: Día del maestro; Intelectuales; Celebracion

Abstract

In this article, we seek to analyze the contributions of the Potiguar intellectual Nestor Lima for the institution of Teacher's Day in Brazil. This intellectual was Director of the Department of Education of the State of Rio Grande do Norte between 1924 and 1929. Based on the book Um século de ensino primário that registered the organization for the celebration of the centenary of the imperial law October 15th, 1827, and also through the printed materials present in the Hemeroteca Digital, in the interface with the indicative method of Ginzburg (1990) and the understanding of Sirinelli (2003) about intellectuals and sociabilities, we developed the present study. In the investigated newspapers, there are news about the initiative of the commemoration of the Teacher's Day in 1923 on October 15. We found that Nestor Lima recognizes himself as the subject responsible for the indication of the date to the celebration of Teacher's Day through the mobilization of his network of sociabilities with intellectuals from other states.

Keywords: Teacher's Day; Intellectuals; Celebration

Introdução

Investigar as ações de Nestor Lima (1887-1957) que indiciam sua participação na instituição do Dia do Professor é o objetivo deste trabalho. O intelectual norte-rio-grandense dedicou longos anos de sua vida à ocupação de cargos públicos de âmbito educacional. Durante sua atuação nesses cargos, ele pensou e reorganizou a instrução pública potiguar. Nestor Lima acreditava e defendia a ideia de que a educação de qualidade depende estritamente da qualidade dos professores. Podemos inferir, portanto, que essa seria uma das razões por sua busca em homenagear esses profissionais a nível nacional.

As fontes utilizadas neste trabalho foram o livro Um século de ensino primário escrito pelo próprio Nestor Lima, obra que registra a evolução do ensino primário do império a república a partir do estabelecimento da Lei imperial de 15 de outubro de 1827, apresenta também a organização para celebração do centenário desta Lei. Além disso, este livro traz indícios da mobilização de Nestor Lima para criação do Dia do Professor; essa fonte desencadeou a questão que orienta esse estudo: que ações indiciam a participação de Nestor Lima na instituição do Dia do Professor?

Os periódicos presentes no acervo da Hemeroteca Digital1 nos possibilitam acessar jornais nos quais outros sujeitos fizeram referência a data instituída e ao intelectual. Para tratarmos as fontes trouxemos autores que discutem o uso das fontes impressas e das fontes digitalizadas na História da Educação. Sendo assim, destacamos o entendimento de Ragazzini (2001, p. 2) que compreende fonte como um testemunho “ler e indicar os signos e os vestígios como sinais.”

Zicman (1985) nos orientou a partir de suas considerações sobre a metodologia para uso de fontes impressas. Referente ao uso das ferramentas digitais na pesquisa histórica, contribuíram para o estudo Brasil e Nascimento (2020). Destacamos que a justificativa do recorte temporal 1920 a 1929 considerou a década de comemoração do centenário (1927), a influência do cargo exercido por Nestor Lima nesse período, Diretor do Departamento de Educação do Rio Grande do Norte (1924-1929), e em razão do filtro do portal da Hemeroteca Digital, que organiza os períodos em intervalos de dez anos.

Os procedimentos metodológicos do estudo foram pautados na perspectiva do paradigma indiciário pensado por Ginzburg (1989). Ao aplicar esse procedimento o pesquisador deve estar atento aos indícios, aos elementos secundários, aos pormenores, que garantem o rigor científico centrado no detalhe, considerado muitas vezes, imperceptível.

Para compreensão da figura de Nestor Lima enquanto intelectual que se desenvolve em suas diversas atuações, foi necessário estudarmos o conceito de intelectuais pensado por Sirinelli (2003). Além disso, se tratando especificamente de estudos que trazem as atuações de Nestor Lima como enfoque, e contribuem com a compreensão da trajetória do intelectual2, nos fundamentamos em Menezes (2017); Ramos (2009); Amorim (2010); Azevedo (2020).

Paula Perin Vicentini se dedica a estudar a história da profissão docente no Brasil, e pesquisou sobre a história do Dia do Professor, de modo que o estudo resultou em dois importantes artigos produzidos em 2003 Celebração e Visibilidade: o Dia do Professor e as diferentes imagens da profissão docente no Brasil (1933-1963); e em 2004 Prestígio e Pobreza: o Dia do Professor na História da Profissão Docente (1945-64).

O presente trabalho se estrutura em quatro seções. Na primeira são apresentados os procedimentos metodológicos. A segunda seção trata das iniciativas para o Dia do Professor. A terceira seção explana a trajetória de Nestor Lima e suas contribuições para a comemoração discutida. As considerações finais fazem as ponderações acerca dos resultados deste estudo sobre iniciativas de Nestor Lima na criação de uma data de âmbito nacional significativa para os profissionais da área, nos permitindo contribuir com historiografia sobre o intelectual potiguar e sobre a história do Dia do Professor no Brasil.

Caminhos da pesquisa

Para analisar os dados coletados para esse estudo foi necessário utilizar um método que contribuísse com o desenvolvimento de uma percepção apurada do historiador em relação aos fragmentos presentes em cada documento. Nesse sentido, o Paradigma do Indiciário de Ginzburg (1989) entende que as raízes desse método de investigação acompanham o homem desde suas caçadas: “por trás desse paradigma indiciário ou divinatório, entrevê-se o gesto talvez mais antigo da história intelectual do gênero humano: o caçador agachado na lama, que escuta as pistas da presa” (GINZBURG, 1989, p. 154).

Em consonância com a proposta metodológica de Carlos Ginzburg, o historiador deve “examinar os pormenores mais negligenciáveis” e/ou descobrir “indícios imperceptíveis para a maioria” (GINZBURG, 1989, p. 145). Para compreensão dos indícios precisamos entender as fontes históricas como uma produção humana que permite uma compreensão do passado. Portanto, é necessário para a qualidade do trabalho do historiador que esse profissional defina quais questionamentos serão feitos à fonte e qual o método utilizado para elaboração das respostas. Nessa mesma perspectiva sobre fontes afirma Ragazzini (2001, p. 14): “São vestígios, testemunhos que respondem - como podem e por um número limitado de fatos - às perguntas que lhes são apresentadas”, para compreender fonte precisa ser analisada, historicizada, tendo em vista que ela não fala por si só.

Segundo Ragazzini (2001, p. 20) “As fontes provenientes das práticas escolares não representam as únicas possibilidades para os estudos histórico-educativos, portanto não são autossuficientes, ainda que sejam importantes e significativas”. As fontes estudadas neste trabalho, por exemplo, não são oriundas do ambiente escolar, no entanto, os documentos utilizados nos possibilitam a compreensão de elementos imprescindíveis à construção da história da educação.

Partimos, portanto, do livro que trouxe os primeiros elementos para construção desse estudo, Um século de ensino primário de autoria de Nestor Lima, publicado em 1927 no centenário da primeira lei de instrução pública. Nos debruçamos especificamente sobre o material presente nos anexos, selecionado pelo intelectual para legitimar sua mobilização para comemoração do centenário da lei 15 de outubro de 1927 e a sugestão da data de comemoração do Dia do Professor. Neste livro identificamos que o intelectual potiguar se comunicou no ano do centenário com diretores de ensino de outros estados; esses indícios nos orientaram sobre a possibilidade da existência de documentos que tratassem da continuidade desses contatos ou da menção dessas comunicações ou ideias de Nestor Lima em jornais de origem dos estados desses sujeitos. Sendo este livro a representação das memórias e arquivos pessoais do Nestor Lima, por tal nos faz na esteira de Xavier e Robert (2021) nos questionar sobre: o que guarda e o que nos diz?

Destacamos as principais falas dos intelectuais mencionados nos anexos, assim como elementos cruciais (ano da notícia, nome do diretor de ensino, estado pertencente) para construir uma relação entre esses elementos e os demais encontrados nos jornais do acervo da Hemeroteca Digital. Sobre esse repositório digital contribui Azevedo et al (2019) “Diante do acervo que apresenta, da tecnologia empregada e da facilidade dos mecanismos de consulta e busca textual nos periódicos, a Hemeroteca Digital se destacapela sua relevância enquanto repositório de fontes para a História da Educação” (Azevedo, 2019, p. 53). Além desse entendimento, o trabalho de Azevedo traz outras orientações de como deve ser feita a busca na plataforma.

Para pesquisa no acervo da Hemeroteca Digital, na página inicial de busca, foi definido um filtro, “por período", que considera intervalos de 10 anos. A justificativa da escolha foi por esse filtro ser mais abrangente do que os demais (“por local” e “por periódico"). O recorte temporal é o primeiro requisito ao se fazer uma busca mais abrangente no portal. Então decidimos retomar as justificativas deste recorte, ainda não mencionamos que os trabalhos elaborados sobre o “Dia do Professor” mapeiam fontes a partir do ano 1933 no qual se atribui a iniciativa de se comemorar a data em homenagem ao professor primário à Associação dos Professores Católicos do Distrito Federal, apesar da data ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, somente em 14 de outubro de 1963. (PESSOA, 2020).

No entanto, como este artigo busca esclarecer quais ações indiciam a iniciativa de Nestor Lima na criação da data, a investigação foi realizada com outra demarcação temporal, não a partir de 1933 como o publicado, e sim, entre os anos 1920 a 1929, já que é a década de comemoração do centenário da lei, sendo também o período de maior atividade do intelectual em destaque na esfera da educação, foi entre esses anos que ele se mobilizou perseverantemente na criação do Dia do Professor.

Ainda na página de busca é necessário elencar uma palavra-chave, então optamos pelas expressões “Dia do mestre” e “Dia do Professor”. Com o intuito de pensar a escolha da palavra-chave para o filtro de busca, a percepção dos autores Brasil e Nascimento (2020) sobre um possível problema de pesquisa:

O encontro de um termo de interesse pode vir a fragmentar a relação com o documento histórico, pois a busca automática subtrai a compreensão acerca do contexto de aparição da própria palavra. [...] Além disso, a lógica da pesquisa parece inverter-se, pois já deveríamos saber, em certo sentido, aquilo que desejaríamos encontrar. Ou seja, a própria escolha do termo de interesse ou das ‘palavras-chave’ implica a existência de um conhecimento ou interpretação prévia daquilo que é possível de ser encontrado no(s) documento(s) (BRASIL; NASCIMENTO, 2020, p. 203).

De fato, as informações adicionadas ao filtro de busca foram estudadas e sistematizadas previamente para serem delineadas. Compreendemos que o site da Hemeroteca Digital realiza um levantamento de ocorrências que seria humanamente impossível de ser realizado por um historiador pressupondo o número de todas as páginas dos jornais que podem possuir a palavra-chave - no caso de nossa busca 4.978.116 (quatro milhões, novecentos e setenta oito mil, cento e dezesseis). No entanto, concordamos com as ponderações realizadas pelos autores sobre o cuidado que se deve ter com esse tipo de ferramenta digital para que não haja fragmentação do conteúdo em estudo.

Os recursos disponíveis na Hemeroteca Digital colaboram com o trabalho do pesquisador no que se refere ao acesso às fontes. Após descrita a palavra-chave, o sítio encaminhará a busca para uma página composta por uma lista de jornais que possuem ocorrências sobre o termo pesquisado. Ao selecionar um jornal da lista, é possível analisar só a notícia (explorar somente os termos em destaques e seguir para próxima ocorrência) ou/e folhear o jornal completo. Contudo, precisamos estar atentos, pois as ocorrências que temos acesso correspondem à quantidade de vezes que a ferramenta de Reconhecimento Ótico de Caracteres (Optical Character Recognition - OCR) identificou a palavra-chave, então, é possível que essa tecnologia não detecte o termo em uma notícia relevante para o estudo. Nesse sentido, o trabalho minucioso do historiador é indispensável.

Nessa pesquisa, foram utilizadas as duas opções, analisar de forma imediata a notícia destacada pelo termo chave e folhear o jornal, dependendo da relevância da notícia para o presente estudo. A sondagem de outras páginas do jornal ocorreu brevemente com intuito de verificar possíveis elementos complementares à notícia principal destacada pelo recurso do site. (PESSOA, 2020).

Para Brasil e Nascimento (2020, p. 199) “Muitas pesquisas atuais na área de história têm utilizado recursos digitais sem que o pesquisador empenhe-se em realizar um debate aprofundado sobre as especificidades teórico-metodológicas de sua utilização”. A falta de entendimento sobre o uso das ferramentas digitais na pesquisa histórica pode influenciar na qualidade do estudo, quando se compreende que ao mudar a materialidade da fonte, mudamos também nosso modo de lidarmos com ela. Precisamos aprender a analisar aspectos de uma cópia digitalizada de uma fonte e sua rematerialização.

Um dos destaques do estudo Zicman (1985) nos apresenta as principais vantagens de utilizar fontes impressas na pesquisa histórica: periodicidade, disposição espacial da informação e censura instantânea. Além disso, o autor nos orienta sobre o que não fazer ao tratar uma fonte impressa, de modo que não a coloque como fonte auxiliar. Desse modo, levando em consideração o pressuposto de Zicman (1985, p. 90) sobre as notícias e os veículos de imprensa “notícias não é uma mera repetição de ocorrências e registro, mas antes uma causa direta dos acontecimentos, em que denotam atitudes próprias de cada veículo, cada jornal organiza as informações segundo seu filtro.”

Nesse sentido, ao investigar as ocorrências sobre o Dia do Professor pudemos perceber quais os jornais que primeiro publicaram sobre a causa, os que mais publicaram e o que foi publicado. Portanto, destacamos o detalhamento de nossa coleta: foram verificadas 565 ocorrências, distribuídas em 74 jornais; a maior parte destes periódicos, 26 unidades, conteve apenas 1 ocorrência em cada jornal, 11 jornais tiveram 20 ou mais ocorrências e apenas 1 jornal registrou o número de 9 ocorrências.

Para organização das notícias pertinentes a este artigo, elaboramos uma tabela em Excel Microsoft com os dados do nome do jornal, data da publicação, título da matéria, número da ocorrência da Hemeroteca Digital, e o link da ocorrência e, na sequência, realizamos as transcrições das notícias.

Os jornais com registro de ocorrências selecionadas para pesquisa foram: Jornal do Brasil (RJ), Correio Paulistano (SP), O Dia (PR) Correio da Manhã (RJ), O jornal (RJ), O Paiz (RJ ), A noite (RJ), O Brasil (RJ), O imparcial (RJ), Diário Nacional: Democracia em marcha (SP), Diário da Manhã: Órgão do Partido Construtor (ES ), O Estado do Paraná (PR), A província (PE), A Federação: Órgão do Partido Republicano (RS ), Diário de Tarde (PR) e O Estado (SC).

Os jornais com os maiores números de ocorrência foram, respectivamente, O jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, com o total de 24 ocorrências; o jornal O paiz, também do Rio de Janeiro, com 11 ocorrências; e Correio Paulistano, de São Paulo, com cinco ocorrências; os outros jornais todos tiveram entre quatro e/ou uma notícia. Os três jornais citados concentram o maior número de notícias no ano de 1924. De modo geral, os anos que aparecem com mais frequência são respectivamente: 1924 com 34 ocorrências, 1925 com 13 ocorrências, 1928 e 1929 com sete ocorrências, 1923 e 1927 com três ocorrências e 1926 com duas ocorrências.

A partir dos 16 jornais que tiveram notícias selecionadas, levando em consideração, a relevância dessas para a pesquisa, traçamos a seguinte categorização: Dia do Professor e Liga de Professores; Dia do Professor e Organização do Projeto de lei; Veto ao projeto; Comemoração do Dia do Professor; Nestor Lima e o Dia do Professor.

Selecionadas para compor a investigação 61 notícias. Dessas, 57 foram filtradas com o uso do termo “Dia do Professor”, já as outras 4 foram pesquisadas pelo termo “Dia do mestre”. Bem como, 7 dos 17 jornais divulgaram estas notícias são do estado do Rio de Janeiro, três de São Paulo, três do Paraná, já Pernambuco, Espírito Santo, Santa Catarina, e Rio Grande do Sul foram representados por apenas um jornal cada. Os jornais que citam Nestor Lima, foram os jornais O Estado do Paraná: jornal da manhã (1 ocorrência) e Diário da tarde (3 ocorrência) ambos do Paraná, e o Jornal do Brasil do Rio de Janeiro (1 ocorrência), as notícias apresentam a iniciativa de Nestor na sugestão do 15 de outubro na escolha do Dia do Professor.

Iniciativas para instituição do Dia do Professor (1923-1929)

No decorrer das análises das notícias, notamos que a Liga de Professores ocupava um espaço recorrente em alguns jornais. Sobre a Liga de Professores aponta Silva (2020) que as primeiras informações sobre essa organização surgem nos jornais em princípios do ano de 1918, em notícias de jornais como O Imparcial, A Noite e A Razão. O objetivo de criar a Liga de Professores era fortalecer a classe e melhorar o ensino público.

Por volta de 1932 já se discutia a fusão da Liga de Professores e Associação de Professores Primários. As notícias encontradas sobre a relação da Liga de Professores com a instituição do Dia do Professor, divulgavam as discussões e decisões semanais dessa organização. Entre estas notícias sobre as reuniões da Liga, constatamos a primeira menção ao “Dia do Professor” presente no Jornal do Brasil.

Effectuou-se quinta-feira última a reunião semanal desta associação que compareceram todos os membros da directoria [...] o professor Souza Gomes referiu-se ao abatimento nas passagens da Estrada de Ferro e propôs ainda a instituição do ‘Dia do Professor’ o da ‘casa do professor’, ideas profundamente sympathicas, de amparo à classe (JORNAL DO BRASIL, 1923, p. 06).

A mesma ata da reunião foi publicada na terceira página do jornal Correio do Amanhã em 28 de agosto de 1908. Além de outra notícia publicada no mesmo jornal O Imparcial dia 11 de agosto de 1923 com as mesmas informações sobre a pauta da Liga de professores e a menção à proposta do Dia dos Professores.

Portanto, a ideia da comemoração do Dia do Professor foi pensada e circulada, por volta de dez anos antes da primeira comemoração em 1933. Segundo Vicentini (2003, p. 18),

Em 1933, a Associação dos Professores Católicos do Distrito Federal (APC-DF) festejou o Dia do Primeiro Mestre com uma missa e uma sessão cívica realizada no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, tendo como referência a data da “primeira lei sobre o ensino primário no Brasil”, marcada pela aliança entre o Estado e a Igreja no país, pois em 15 de outubro de 1827.

No ano seguinte, em 1924, constatamos mais uma notícia que menciona o Dia do Professor, no já referido Jornal do Brasil, que aponta a iniciativa de oficialização da data por Souza Gomes e a sugestão da data escolhida por Luiz Palmeira.

A seguir o professor Alvaro de Souza Gomes propõe que se trate do projecto já apresentado ao conselho, considerando a Liga como utilidade pública e lembrando mais uma vez, que se cogite a decretação do Dia do Professor. Falla a respeito o professor Luiz Palmeira alvitrando que seja escolhido o dia 15 de Outubro por ser o primeiro decreto imperial sobre o ensino primário do Brasil. (JORNAL DO BRASIL, 1924, p. 12).

Nota-se que o projeto de âmbito municipal já havia sido elaborado e até mesmo apresentado em 1924 no Rio de Janeiro. Essa publicação foi realizada no dia 12 de agosto, pelo periódico Jornal do Brasil e em 15 de agosto pelo O jornal. Além disso notamos que a sugestão da data de comemoração é dia 15 de outubro, logo inferimos que Nestor Lima não foi o único a escolher e sugerir essa data.

Dando seguimento as notícias encontradas, O paiz também publicou no dia 31 de novembro de 1924: “Foram approvadas, a redação final do projecto n. 77 do corrente anno, instituindo ‘O Dia do Professor’.” Este mesmo jornal também publicou a primeira discussão (dia 09 de novembro) e a segunda discussão deste projeto. Ainda sobre o projeto, no dia 30 de outubro do mesmo ano, 1924, O correio Paulistano dá uma notícia sobre a discussão no Rio de Janeiro:

RIO, 29 (A) Em sua sessão de hoje, o Conselho Municipal approyou a redaccão final do projecto creando o "Dia do Professor", que será commemorado a 15 de outubro de cada anno, sendo feriado para o magistério municipal o havendo distribuição de premios em dinheiro aos professores, cujos trabalhos didaticos ou methodologicos tenham sido classificados tres primeiros logares (CORREIO PAULISTANO, 1924, p.1).

O projeto mencionado foi publicado no Jornal do Brasil no dia 02 de novembro de 1924 o Projeto n. 77 que institui o Dia do Professor e dá outras providências, no entanto, o texto final foi apresentado dia 22 de setembro por Dario Pinto.

Conselho Municipal resolve:

art. 1°- Fica instituido, no Discrito federal, “O da professor”, que será commemorado a 15 de Outubro de cada anno, feriado para todo magisterio publico municipal.

§ 1° - Nesse dia serão realizadas festividades escolares de acordo com a alta significação que devem ter.

§ 2° - Nesse dia havera sessão solemne em estabelecimento escolar previamente designado pelo Director Geral de Instrução Publicada Municipal, podendo os professores apresentar trabalhos seus, cientificos ou literarios, exclusivamente didacticos, sendo . então, constituida commissão julgadora que na sessão sollenne do anno seguinte, apresentará seu parecer, sujeito a impregnação de quem julgar prejudicado.

§ 3°- Pela Directoria Geral de Instrução Publica Municipal serão concedidos premios para auxilio da publicação , com o assentimento do respectivo autor, dos trabalhos classificados em 1° logar 2° e 3°. [...]

art 2° - Revogam-se as disposições em contrario. (JORNAL DO BRASIL, 1924, p. 12).

Apesar de todas discussões e retificações do projeto, no mesmo ano, o periódico Correio Paulistano (1924, p. 1) noticiou a decisão do veto ao projeto n. 77 de instituição do Dia do Professor: “No expediente, foram lidos os seguintes papéis: officio do sr. prefeito, remmettendo as razões do veto, que opoz a resolução legislativa municipal que institui o Dia do Professor [...]” e no ano seguinte (1925, p. 1) o mesmo jornal trouxe “Favorável ao veto n.45, de 1924, do Prefeito, à resolução do Conselho Municipal que institui o ‘Dia do Professor’.”

Além deste, o jornal O paiz, em diferentes datas do ano 1925 publicou primeiramente, na mesma data a segunda notícia sobre o veto do correio paulistano (03/07/1925) “Foram lidos e assignados os seguintes pareceres: E, favorável ao veto do prefeito a resolução do Conselho Municipal, que propunha a instituição o Dia do Professor.” (O Paiz, 1925, p. 2). Seis dias depois, O paiz, publica outra notícia sobre o veto “Passando-se a ordem do dia, e não havendo número para votações, foram encerradas as discussões dos vetos do prefeito as resoluções do Conselho Municipal, instituindo o ‘Dia do professor’ [...]” (O Paiz, 1925, p. 2).

O Jornal do Brasil trouxe para a publicação a Ata do Conselho Municipal, na qual foi possível constatar os motivos elencados pelo Sr. Prefeito do Distrito Federal (Rio de Janeiro) para ter vetado o Projeto n. 77. Lido por Dario Pinto que ficou surpreso com seu projeto vetado:

Não posso sanccionar a lei que institui, no Districto Federal, “O Dia do Professor”, a despeito de referir-se ella a uma classe de serviços municipaes, dos que mais já se recommendaram a minha consideração e aos quase tenho tido opportunidade de fazer com satisfação perfeitamente correspondente aos seus altos méritos, as referencias que os meus sentimentos de justiça tem dictado. Sem quebra do devido respeito pelas leis que os têm instituido, não se deve deixar de recordar, os Srs. Senadores que entre nós, de tempos a esta parte, já vae ultrapassando os limites razoaveis o numero de feriados officiaes e daquelles dias em que, por motivos varios, não funccionam a maior parte dos serviços publicos. Essa circumstancia teria de ser uma das que se enumerasse para provar que os interesses do Districto Federal não foram bem acautelados por essa lei. (JORNAL DO BRASIL, 1924, p. 12).

O Sr. Dario Pinto questiona "Qual prejuízo que adviria a nossa população se, durante um dia, as nossas escolas deixassem de trabalhar, como tributo de homenagem aos seus dedicados servidores?" (JORNAL DO BRASIL, 1924, p. 12). O prefeito se preocupou com a quantidade de feriados que haviam sido instituídos, faltou ponderar a importância de homenagear os professores por meio da instituição desse dia.

As comemorações locais do Dia do Professor foram registradas em notícias de alguns jornais. O Jornal do Brasil publicado em 17 de Agosto 1924 noticiou “A diretoria do Gymnasio Pio Americano, instituindo, na data de Nossa Senhora da Glória, em seu estabelecimento, o Dia do Professor, promoveu com o concurso dos alumnos diversas homenagens ao seu corpo docente” (JORNAL DO BRASIL, 1924, p. 12).

Já no ano de 1928, em São Paulo, o Dia do Professor fez parte da Semana de Educação que contava com desfile desportivo, dia da saúde dia da criança e o Dia do Professor ou dia do mestre, “na ‘Semana de Educação’ é o dia de hoje consagrado ao mestre”. (CORREIO PAULISTANO, 1928, p. 4). O Diário Nacional publicou que a data foi comemorada dia 10 de outubro da seguinte forma “serão feitas, ao meio-dia, as crianças de todos os grupos escolares da capital, palestras pelos professores das escolas normaes” (DIÁRIO NACIONAL, 1928, p.2).

Por fim, constatamos que as principais notícias sobre a comemoração e instituição do Dia do Professor se concentram em jornais do Rio de Janeiro, principalmente o Jornal do Brasil e em São Paulo com o Correio Paulistano, no entanto há notícias de outros estados brasileiros sobre a comemoração da data.

Um jornal de Santa Catarina, O Estado (SC), publicou no dia 5 de novembro que “Em comemoração ao Dia do Professor a Liga do Magistério Catarinense, levou effeito, no salão de conferências da Escola Normal uma sessão solene” (O Estado SC, 1925, p. 1). O Paraná também homenageou os professores nessa década. Notícia aponta que a Liga do Magistério Primário tinha estima pela comemoração, vejamos: “Preside a Liga do Magistério Primário, que tem como um dos florões de sua existência a iniciativa da comemoração do ‘Dia do Professor’.” (O ESTADO DO PARANÁ, 1926, p. 06).

Há uma menção a uma comemoração na cidade de Camaragibe-Alagoas no jornal O Brasil, a notícia se refere à comemoração do Dia do Professor pensada para dia 15 de novembro “Por iniciativa das sras professoras do Grupo Escolar Ambrosio Lyra foi instituído o Dia do Professor. [...] escolhendo o dia 15 de novembro, que recorda uma grande realização histórica dos brasileiros” (BRASIL, 1925, p. 06). Sabemos que se comemora no dia 15 de novembro, no Brasil, a Proclamação da República.

Nestor Lima e o 15 de outubro: indícios da sugestão e mobilização de um intelectual potiguar

Discorrer sobre Nestor Lima e suas de atuações, antecede o seguinte questionamento, por que estudar esse sujeito? Qual a importância desse sujeito para a historiografia da educação norte-rio-grandense e, por extensão, brasileira? Sirinelli (2003, p. 235) determina, para “quem estuda a ação dos intelectuais, surge obrigatoriamente o problema de seu papel e de seu ‘poder’ problema que, de uma forma prosaica, pode ser assim resumido: teriam esses intelectuais, em uma determinada data, influído no acontecimento?” Qual a influência teria Nestor Lima na criação do Dia do Professor?

Ao conceituar os intelectuais o autor traz duas definições Sirinelli (2003, p. 242) “uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e mediadores culturais, e a outra mais estreita, baseada na noção de engajamento [...] na vida da cidade como ator”. Nesse sentido, a trajetória do intelectual apresentado é marcada por seu engajamento, por ocupação de diversos cargos públicos e por seu prestígio social e suas redes de sociabilidade que define Sirinelli (2003, p. 38):

Relações estruturadas em rede que falam de lugares mais ou menos formais de aprendizagem e de troca, de laços que se atam, de contatos e articulações fundamentais [...] a noção de rede remete ao microcosmo particular de um grupo, no qual se estabelece vínculos afetivos e se produz uma sensibilidade que se constitui marca desse grupo.

Nestor Lima ocupou diferentes posições políticas e administrativas de relevância no cenário da educação potiguar, atuando verdadeiramente como um intelectual engajado que cria e media a cultura, intervém no debate e ações da política.

Fonte: Álbum de Fotografia do Departamento de Educação (1927)

Figura 1: Fotografia de Nestor dos Santos Lima 

Nestor dos Santos Lima era filho de Galdino Apolônio dos Santos Lima e Ana Souto Lima. Nasceu no dia 1º de agosto de 1887 em Assu, cidade situada na região oeste do estado do Rio Grande do Norte. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Recife em 1909. No mesmo ano de sua formação, atuou inicialmente como advogado, logo mais prestou concurso e foi aprovado para o cargo de professor na Escola Normal de Natal.

Ministrou nessa instituição as disciplinas de Pedagogia, Pedologia e Psicologia Infantil. Em 1911, ele assumiu a diretoria da instituição, permanecendo no cargo até o ano de 1923, enquanto também ocupava o cargo de Diretor do Grupo Escolar Modelo Augusto Severo. Contribuiu para a fundação da Associação de Professores e estabeleceu uma relação direta entre as ações da Escola Normal com as desta instituição. Segundo Azevedo (2020, p. 77) “[...] evidencia-se que Nestor Lima ocupou também a posição de vice-presidente de honra da Associação enquanto desempenhou o cargo de Diretor da Escola Normal de Natal”.

A atuação de Nestor Lima em cargos públicos não se restringiu à Escola Normal. Em 1924, o professor, historiador e advogado foi nomeado como o primeiro Diretor do Departamento de Educação do Estado do Rio Grande do Norte exercendo a função até o ano de 1929. Foi Secretário Geral do Estado em 1930; presidiu o Conselho Penitenciário de 1933 a 1959; exerceu a função de Procurador Geral do Estado em 1943. Além disso, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte em 1910 como sócio efetivo, passando em 1927 a ser presidente da instituição até o ano de sua morte, em 1959. Assim, “constatamos que Nestor Lima, ao ingressar no IHGRN intensifica a construção de laços com outros intelectuais pertencentes a elite cultural potiguar formada por professores por prática e formação, advogados, médicos, escritores e políticos”. (AZEVEDO, 2020, p. 85).

Nestor Lima publicou em revistas e jornais do estado como A República, revista do IHGRN e Pedagogium, tratando de questões pertinentes às suas atuações e propostas voltadas à educação. Sobre as menções ao seu nome na revista Pedagogium afirma Azevedo (2020, p. 70) “As diversas menções a Nestor Lima na Revista Pedagogium revelam não apenas o reconhecimento do seu papel e de sua atuação na educação potiguar, mas as relações construídas por ele com outros intelectuais”.

O intelectual possui mais de 48 publicações, artigos de jornais e revistas, conferências, entrevistas, relatórios e publicações oficiais, sobre questões do âmbito educacional. Ele representou o estado do Rio Grande do Norte em alguns eventos educacionais por todo o país. As viagens pedagógicas de Nestor Lima, nacionais e internacionais, influenciaram significativamente a qualidade das propostas educacionais e considerações trazidas em suas publicações. Sobre as viagens realizadas por Nestor Lima, Azevedo (2020, p. 154) aponta:

Consoante com o objetivo de suas viagens, o intelectual se propôs a sugerir melhorias para o ensino potiguar. Assim, ressaltamos o seu interesse, em cada local visitado, por conhecer os programas e os métodos de ensino, por conhecer os livros adotados, inclusive chegando a comprá-los.

Nestor Lima por meio das viagens pedagógicas, suas aproximações com tendências reformistas, sua dedicação ao campo educacional e por ter condições materiais em razão dos cargos ocupados, reorganizou e reformou o ensino do Rio Grande do Norte.

A atuação de Nestor Lima refletiu na reforma do Ensino Primário no Rio Grande do Norte, onde é possível perceber sua contribuição à educação, a partir de seu ideal de modernidade que possibilitou a revelação de uma face do processo educacional até então desconhecida. (AMORIM, 2012, p. 07).

Em sua participação efetiva na organização do ensino primário do Rio Grande do Norte, Nestor Lima projetava a educação como meio de formação da identidade nacional, introduzindo, portanto, o estado em um mundo civilizado e moderno, dentro dos ideais republicanos. A tentativa de se instituir uma data ou comemorar um centenário de uma lei, é um exemplo de reforço dessa identidade nacional, que para Nestor Lima deveria ser criada levando em consideração a valorização da educação, e consequentemente, dos professores.

Antonio Brasilio Menezes (2017) pioneiro na pesquisa sobre este intelectual, aponta "Reformador do ensino primário no Rio Grande do Norte na década de vinte, corresponsável pela instituição do Dia do Professor, a existência de um Nestor Lima educador, além de historiador e jurista" (MENEZES, 2017, p. 5, grifo nosso). Ou seja, para este historiador, Nestor Lima teve um papel fundamental na criação desta data, porém esse papel não é reconhecido e nem difundido.

Além disso, Amorim (2010) afirma em sua dissertação “Nestor Lima trata de uma questão de abrangência nacional ao sugerir a data de 15 de outubro para a comemoração do Dia do Professor. Este texto foi apresentado no VIII Congresso Brasileiro de Geografia, que aconteceu na cidade de Vitória/ES, em 1926.” (AMORIM, 2010, p. 26).

Para explorar o que foi afirmado por esses estudiosos, nos anexos do livro Um século de ensino primário Nestor Lima concedeu duas entrevistas ao jornal A República em 1 de fevereiro de 1927 e outra ao Jornal do commercio (PB) em 21 de janeiro de 1927 na qual Nestor Lima cita Raul Gomes3 autor do plano de desalfabetização e seu parceiro em prol da instituição da data.

Durante as entrevistas, o intelectual potiguar trouxe o relato sobre o projeto “plano de desalphabetização” realizado e as opiniões dos responsáveis pelo ensino dos estados. De início na entrevista do Nestor Lima ao Jornal A República ele comenta sobre a comemoração do centenário e comunica a decisão importante que tomou com o intelectual do Paraná Raul Gomes:

alvitrou-me a creação de um Dia do Professor, idea que pretendia levar a effeito no Paraná e solicitar dos responsáveis pelo ensino em outros Estados do Brasil fosse ali também effectuada. Respondi-lhe concordando com a idea, lembrando, porém, a conveniência de designar-se lhe dia 15 de outubro do corrente anno, afim de celebrar-se concomitantemente o centenário da lei acima referida. Nesse sentido, enviei-lhe um artiguete que elle fez publicar nos jornaes de' Coritiba. «A Republican transcreveu a 16 de seternbro de 1926. Foi a mais franca e enthusiastica acquiescencia daquelle illustre pedagogo dos meus alvitrese, a 15 de outubro fundo, elle os lançou nos jornaes da sua capital, num bem laçando artigo (LIMA, 1927, p. 194).

E como parte do que ficou acordado entre os dois, ele se dirigiu aos diretores de ensino: Agnello Bittencourt - Amazonas, Mosenhor João Milanez - Paraíba, Dr. Adalberto Marroquim- Alagoas, Dr. Helvécio de Andrade - Sergipe, Genaro Guimaraes -Pernambuco, drs. Pedro Voss - São Paulo, Renato Jardim - Rio de Janeiro (Distrito Federal) e Anysio Teixeira - Bahia; conseguindo de todos estes diretores, segundo o próprio Nestor Lima, aplausos e apoio a ideia em apreço.

Tem sido recebida com geral assentimento e muito enthusiasmo a propaganda relativa a commemoração festiva do 1° centenario da lei de 15 de outubro de 1827 e a instituição do «Dia do Professor consoante a iniciativa que tive a honra de lembrar, em artigo publicado nesta folha a 16 de Setembro de 1926, e em circular de 17 do mesmo mez e anno, dirigida aos meus illustres collegas dos diversos Estados da União, principalmente na zona do norte do Paiz. As respostas aquella solicitação foram sobremodo animadoras e honrosas, cumprindo-me divulgal-as para melhor conhecimento dos interessados especialmente da nobre classe do professorado conterrâneo. (LIMA, 1927, p. 203).

Ainda nos anexos do livro estão presentes as mensagens dos representantes de cada estado sobre o pedido de colaboração do Nestor Lima em relação a celebração. O Diretor de Instrução Pública do Amazonas expõe seu apoio:

É justo que o serventuario do magisterio tenha o seu dia, como homenagem a sua obra realizadora de patriotismo e humanidade. Solidario com os alvitres de v. exc., sirvo-me do ensejo para significar a exc. os meus protestos de estima e apreço. (LIMA, 1927, p. 203).

O diretor geral da Instrução Pública do Estado da Paraíba, Monsenhor João Baptista Milanez se expressou da seguinte forma:

Dou-me pressa em comunicar-vos que louvo e apoio a vossa idea relativamente a festa centenaria do ensino primario em nosso paiz e á instituição official do Dia do Professor>. Sempre pensei que o professorado primário, factor notavel e importantissima na educacao moral, civica e social da nossa gente, deve merecer uma consideração mais distincta e carinhosa. Fica assim claramente manifesta a minha opinião, de que podereis fazer uso para vosso governo. (LIMA, 1927, p. 204).

O Diretor de Instrução de São Paulo, Pedro Voss, conferiu prestígio à iniciativa por meio de diálogo com Nestor Lima, presencialmente, como o intelectual potiguar descreve na entrevista ao Jornal a República:

Aproveitando a minha recente viagem ao sul, tratei pessoalmente do assumpto com os directores geraes, drs. Pedro Voss, de São Paulo, Renato Jardim, do Districto Federal, - Anysio Teixeira, da Bahia, e Genaro Guimaraes, de Pernambuco, obtendo em todos esses entendimentos o mais completo successo. (LIMA, 1927, p. 194).

Também compõem os anexos do livro os registros sobre a opinião dos responsáveis pela instrução pública de Santa Catarina e Minas Gerais que dirigiram seus escritos a Raul Gomes sobre o esforço deste na mobilização. Nestor Lima reforçou com comentários os efeitos da articulação que tem como objetivo de aprovar a comemoração da data em todo o país. O intelectual paranaense conseguiu, que os senadores Dr. Affonso Camargo e Dr. Carlos Cavalcanti, apresentassem a Alta Câmara o projeto que seu primeiro artigo pretendia legitimar:

Art. 1° É considerado feriado nacional o dia 15 de outubro de 1927, em commemoração a data em que foi decretada a primeira lei de ensino primário no Brasil independente. (LIMA, 1927, p. 198).

Nestor Lima traçou comentários sobre o projeto e expôs os pontos essenciais da comemoração a ser realizada no Paraná. Para exemplificar o que poderia ser adequado a cada região, no entanto houvesse uma harmonia. Além disso, Nestor Lima cita a determinação para criação da Associação de Professores, no caso, o Rio Grande do Norte já possuía. Retomando a organização da comemoração Nestor Lima acrescenta a importância do apoio da categoria:

Devemos, entretanto, convir que nao pode nem deve ficar so nisso a comemmoraçao que se vem projectando, e a cada interessado compete ir assentando ideas relativamente ao- dia 15- de outubro. Entre nos. o Departamento de Educaçao que tenho a honra de dirigir, tomara a seu cargo a celebração da data magna da lei de 15 de outubro de 1827, consoante o programma que esta sendo estudado convenientemente. Para isso, contara com a collaboraçao de todo o professorado primario official ou particular que nao lhe resguarde seus estimulos e seu apoio a festividade commemorativa e a celebração do Dia do Professor. Deve porém, haver uma certa harmonia de vistas entre os promotores da commemoraçao. de modo a ter ella um cunho de uniformidade. salvo é claro, pequenos detalhes ou circumstancias peculiares a cada meio social. (LIMA, 1927, p. 199).

A programação da comemoração do centenário do Rio Grande do Norte foi elaborada pelo Diretor do Departamento de Educação, Nestor Lima. O intelectual pensou a comemoração com um cunho padronizado, ou seja, as escolas da capital e do interior do estado deveriam seguir o que foi encaminhado pelo diretor com total apoio do presidente de Estado e seu amigo pessoal, José Augusto. Amorim (2017, p. 88) caracteriza a relação entre os dois intelectuais como “um misto de amizade e parceria profissional expresso nas páginas dos jornais, revistas e documentos oficiais produzidos no período”.

E desse modo a celebração deu início no dia 12 de outubro com a festa do dia das crianças, dia 13 e 14 houve as festas cívico-literárias e conferências com intelectuais Dr. Adauto da Câmara e Ivo Cavalcante. E no dia 15 de outubro, no Dia do Professor, houve uma missa campal; sessão solene de consagração ao magistério primário, no Palácio da Presidência do Estado, com destaque dado a oração do Presidente do Estado e canto do hino encomendado para a solenidade do centenário; e à noite a grande festa de comemoração, no Teatro Carlos Gomes, com cânticos, declamação e discurso de encerramento realizado por Nestor Lima.

Todo o empenho do intelectual potiguar para comemorar o centenário em 1927, com o Dia do Professor programado, foi registrado no livro Um Século de Ensino Primário. Sobre a elaboração dessa obra analisa Azevedo (2019, p. 8) “a obra permite a observação de alguns aspectos pertinentes. O livro traz o brasão do estado, conferindo à obra a pretensão de um documento de caráter oficial.” Além disso, Carlos et al (2018) falam sobre a elaboração tanto do livro, quanto do Álbum de Fotografias com imagens da celebração do centenário:

Qual foi o objetivo do Rio Grande do Norte em celebrar o centenário da Lei de 15 de Outubro de 1827, uma vez que a obra citada acima foi produzida por encomenda do próprio Estado? Pode-se concluir que houve sim, uma certa intencionalidade, por parte do Estado do RN, em produzir tanto a obra ‘Um Século de Ensino Primário’ quanto o ‘Álbum de Fotografias do Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte: Escola Normal de 1927’. (CARLOS; PESSOA; MEDEIROS NETA, 2018, p. 8).

Circularam, em 1926, os jornais que primeiramente mencionaram o nome de Nestor Lima como responsável pela sugestão do 15 de outubro como Dia do Professor. O jornal Diário da Tarde (PR) publicou dia 24 de fevereiro de 1926 a notícia com o artigo Um século de ensino primário produzido por Nestor Lima para ser “publicado especialmente no Paraná, por uma deferência com o nosso collaborador professor Raul Gomes com quem aquella illustrada autoridade mantém as mais estreitas relações de cortezia” (O ESTADO DO PARANÁ:JORNAL DA MANHÃ, 1926, p. 02). A notícia intitulada Um século de ensino primário apresenta Nestor Lima e sua iniciativa concernente a sugestão da data para comemorar o Dia do Professor no Brasil. Conforme a publicação:

O autor das palavras que se vão ler e o dr. Nestor Lima, Director do Departamento do Ensino do Rio Grande do Norte, poeta, jornalista e publicista de alto renome no norte do paiz. S. S. applaudindo a idéia da instituição do Dia do Professor suggeriu a data 15 de outubro, como a mais apropriada áquelle fim. E a razão é que o dia de hoje recorda sancção da primeira lei de ensino do Brasil independente. (O ESTADO DO PARANÁ: JORNAL DA MANHÃO, 1926, p. 02).

O mesmo artigo produzido para o jornal O Estado do Paraná: Jornal da Manhã que tem como título o mesmo de seu livro Um século de ensino primário está presente nas páginas 3 a 6 deste livro já citado, produzido por Nestor Lima. Trata-se de uma análise sobre a conquista da Lei de 15 de outubro no período imperial, posteriormente, é trazido o que foi apontado na Lei referente à valorização dos professores, seguido de uma critica a falta de avanços relacionados a essa problemática, o autor atribui esse descaso a “Acto Addiccional de 12 de agosto de 1834” que federaliza as províncias e designa a iniciativa e encargos para tratar essas questões. Nestor Lima acreditava que se o poder central tivesse assumido a responsabilidade de gerir o ensino, os encaminhamentos teriam sido outros. Ele ressalta:

O que tudo quer dizer que, ha cem annos já havia uma noção, mais ou menos segura, do valor da profissão ensinante, que merecia a consagração legal e especiaes prerrogativas, que hoje, um seculo após, ainda nao existem em alguns departamentos da União Brasileira, não obstante os avanços que se teem realizado nesse particular. (O ESTADO DO PARANÁ: JORNAL DA MANHÃ, 1926, p. 02).

Dando seguimento às notícias encontradas no site da Hemeroteca Digital, no mesmo ano da notícia anterior (1926), no Jornal do Brasil (RJ), Nestor Lima é lembrado mais uma vez pela sugestão. Leoncio Correia, intelectual paranaense, alternava sua residência entre Rio de Janeiro e Paraná, foi professor de escolas importantes do Rio de Janeiro, Diretor de Instrução Pública, ocupou cargos políticos, foi jornalista e escritor. A dissertação de Amélia Siegel Corrêa, do ano 2006, intitulada Imprensa e Política no Paraná: Prosopografia dos redatores e pensamento republicano no final do século XIX possui um de seus capítulos dedicados a esclarecimentos sobre a trajetória desse sujeito. Em sua escrita sobre o Dia do Professor no Brasil refere-se dessa maneira ao intelectual potiguar:

E ‘Dia do Professor’ deve ser consoante a bella sugestão do Director do Ensino do Rio Grande do Norte, quinze de Ouctubro. Porque 15 de Outubro? Porque essa é a data da primeira lei sobre o ensino primário, sancionada no Brasil Independente. [...]. (JORNAL DO BRASIL, 1926, p. 10).

Mais adiante, o autor do texto acrescenta sua opinião acerca da atuação do Rio de Janeiro na mobilização da comemoração da data, elogiando a participação dos estados que se movimentaram com esse propósito, incluso entre os três está o Rio Grande do Norte:

Todo o professorado tem jus a essa homenagem. E ella deve ter cunho nacional. É a Patria agradecendo os seus bemfeitores. Assim o compreheenderam superiormente três Estados: o Paraná, Santa Catharina e o Rio Grande do Norte. Três Gracias consagrando a hostia da luz na hora tranquila e serena da gloria espiritual. Ah! se o Rio de Janeiro, terra *eracissima, reconhesso piedosamente em seu seio a somente abençoada que estes três Estados semeiam… Se assim o fizesse dentro em pouco, todo o Brasil vibraria de emoção ao jubilo, revereciando a nobre e alta profissão. (JORNAL DO BRASIL, 1926, p. 10).

No ano seguinte, em 1927, o professor paranaense Raul Gomes escreve no jornal Diário da Tarde (PR), um artigo no qual descreve as articulações dele e do intelectual norte-rio-grandense, para a adesão das autoridades em relação à comemoração do Dia do Professor.

Enquanto isso, apenas meia dúzia de sonhadores eu aqui no Sul, e o Dr. Nestor de Lima, Director do Ensino no Rio Grande do Norte, nos lembramos de solemnizar a primeira centuria [...] Desde de 1925, que eu e o dr. Nestor Lima vimos tratando do assumpto. E que conseguimos: Vagas adhesões, promessas muito incolores, e nenhum desses enthusiasmos dynamizantes, que fazem ideias se alastrarem, desbordem pelos espaços, enlaçando a almas para objectivos communs. O bem dessa idéia é que ella caiu no cerebro de espiritos teimosos, tenazes e que jamais recuaram de revezes (DIÁRIO DA TARDE, 1927, p. 02).

A partir dessa notícia é possível constatar que a relação estabelecida pelos dois intelectuais em prol da criação da data, iniciou em média dois anos antes da comemoração do centenário, no entanto, não sabemos ao certo como essa relação foi construída, além da informação de que Dr. Sebastião Viana os apresentou. No entanto, inferimos que essas relações de Nestor Lima com sujeitos paranaenses podem ter iniciado em participações de eventos nacionais, tendo em vista que há registro, por exemplo, de participação do intelectual, em 1912, no II Congresso Brasileiro de Instrução Primária e Secundária. Ao final da notícia, Raul Gomes renova o apelo às autoridades sobre a homenagem por meio do Dia do Professor.

Em outro artigo publicado no mesmo jornal três meses após, o parceiro de Nestor Lima na missão para pensar a referida homenagem, escreve outro artigo também intitulado Um século de ensino primário, ele inicia convidando os professores para uma reunião com o objetivo de discutir a homenagem, logo após ele relata como travou relação com Nestor Lima, explicando que Sebastião Vianna os apresentou e a partir disso, foi possível tanto Raul Gomes divulgar suas ideias no norte do país, como Nestor Lima na região sul. Mais adiante, ele comenta:

O illustre Director do Ensino da terra potyguara achou interessantes minhas idéas, escreveu uma carta ao nosso conterrâneo criticando o meu projeto de desalphabetização, com as mais lisonjeiras referências á minha humilde pessoa. Entre outras observações, elle fez uma acerca do Dia do Professor, cuja instituição o meu plano preconizava. E lembrou que o dia escolhido, fosse o 15 de outubro, por recordar a data da promulgação da primeira lei de ensino em nossa terra. Aceitei a sugestão. O Dr. Nestor Lima escreveu um artigo especial para a nossa imprensa, recordando aos brasileiros o dever de festejarem a passagem do primeiro centenário da lei que creou a escola primaria nacional [...] E iniciam a evangelização do norte, para o lindo commettinentto. Notícias recentes de lá, contam as que o illustre pedagogista obteve o apoio dos seus collegas de todos os Estados septentrionales. (DIÁRIO DA TARDE, 1927, p. 02).

Além disso, Raul Gomes comenta que faltava só a adesão do Sul, Paraná e Santa Catarina, em relação ao Paraná, ele se colocou à disposição para despertar o interesse do magistério sobre a iniciativa. Por último, entre as notícias encontradas na Hemeroteca Digital, teve-se acesso à publicação do Dr. Sebastião do Paraná no Jornal Diário da tarde a data da publicação é dia 15 de outubro de 1927, data em que no estado do Rio Grande do Norte se comemorou, dentro da programação da celebração do centenário da Lei de 15 de outubro, o Dia do Professor.

O autor do texto publicado no jornal fala sobre a criação da lei, a importância do professor e da instituição da data, apresenta o projeto de lei já citado neste trabalho que sugeria a legitimação da comemoração do Dia do Professor. Durante o texto, ao se referir ao papel sublime dos professores, Dr. Sebastião usa como referência as palavras de Nestor Lima "Ninguém, diz Nestor Lima, poderá negar ao obscuro ‘mestre escola’ o papel pioneiro da civilização brasileira, nos surtos do desenvolvimento a que acendemos entre as nações sul americanas" (DIÁRIO DA TARDE, 1927, p.2).

Essas palavras de Nestor Lima compõem os anexos de seu livro, de fato, essa notícia não diz respeito ao protagonismo de Nestor Lima na sugestão do 15 de outubro como Dia do Professor, mas sim a referência em um texto que trata do assunto e o coloca em um jornal fora do lugar de origem do intelectual potiguar.

Considerações finais

Nestor Lima trouxe no anexo de seu livro Um Século de Ensino Primário uma seleção de notícias que o coloca como um dos personagens centrais na iniciativa de instituir o Dia do Professor no Brasil e como agente da indicação do dia 15 de outubro para essa celebração. Por meio de sua rede de sociabilidades desenvolvida em razão do cargo de ocupação, Diretor do Departamento de Educação do Rio Grande do Norte, foi possível o intelectual potiguar contactar representantes de ensino e ter o apoio necessário para mobilizar a discussão em torno da comemoração do centenário da lei de primeiras letras e da instituição do Dia do Professor.

Nestor Lima narrou e apresentou relatos de representantes de ensino de distintos estados do Brasil sobre o apoio à comemoração do centenário e comemoração do Dia do Professor. Ele foi aos estados da Paraíba, Rio de Janeiro, Sergipe, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Amazonas e São Paulo falar sobre a importância de comemorar o dia 15 de outubro. O intelectual potiguar difundiu o valor desse dia em todos os lugares por onde passou.

O intelectual potiguar firmou acordo com o professor e jornalista de ensino Raul Gomes, autor do “Plano de desalphabetização” que se tornou projeto de lei, e inicialmente trazia em um dos seus artigos, o dia 21 de abril para o Dia do Professor, no entanto este concordou em publicar o artigo Um século de ensino primário de Nestor Lima em um jornal paranaense no qual defendia o 15 de outubro para comemoração, mediante a mobilização por parte de Nestor Lima para que os representantes de ensino de outros estados conferissem adesão a homenagem.

Constatamos que além de Raul Gomes que foi parceiro de Nestor Lima na mobilização da comemoração ter reconhecido sua sugestão, outro intelectual paranaense, Dr. Sebastião Viana no jornal O Estado (PR) faz esse reconhecimento, além disso o nome do intelectual norteriograndense aparece publicado em um jornal de grande visibilidade nacional, Jornal do Brasil (RJ), em uma notícia escrita por Leôncio Correia. Nesta notícia, Nestor Lima também é reconhecido por ter proposto a data de instituição do Dia do Professor.

Desse modo, pelas análises, conclui-se que Nestor Lima foi apontado como o personagem, entre aqueles que tiveram a iniciativa de comemorar o Dia do Professor, que foi reconhecido em outros estados pela sua sugestão durante o período vivenciado por eles.

Para além disso, por meio da pesquisa na Hemeroteca pudemos observar mais que as iniciativas para se instituir essa data, e sim uma verdadeira luta daqueles que se sensibilizaram com a causa. De 1923 a 1925 encontramos diversas notícias sobre discussão e veto ao Projeto n. 77 que pretendia instituir o Dia do Professor. Ademais, constatamos que diversos estados comemoravam a data ao seu modo, sem uma data padrão, geralmente em grupos escolares dentro da denominada “Semana de educação” que destinava um dia ao professor/mestre.

O estudo realizado insere Nestor Lima, intelectual potiguar, mais uma vez em discussão de âmbito nacional. E com isso, a historiografia sobre esse intelectual se amplia, possibilitando novas perspectivas de estudo sobre esse sujeito, e consequentemente, sobre a pesquisa no campo da História da Educação.

Referências

AMORIM, Sara Raphaela Machado de. Do mestre aos discípulos: o legado educacional de Nestor dos Santos Lima (1910-1930). 2010. 128 f. Dissertação - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010. [ Links ]

AMORIM, Sara Raphaela Machado de. Nestor dos Santos Lima, Educador Norte-rio-grandense (1910-1930). Anais do VIII Salão de Iniciação Científica. I Encontro de Pesquisa e Pós Graduação. 15,16,17 de outubro de 2012. [ Links ]

AZEVEDO, Laís Paula de Medeiros Campos. As viagens pedagógicas de Nestor dos Santos Lima e a educação no Rio Grande do Norte na Primeira. Natal, 2020. 190 f.: il. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação. [ Links ]

AZEVEDO, Laís Paula de Medeiros Campos; MEDEIROS NETA, Olívia Morais de. O centenário da instrução pública no Rio Grande do Norte na perspectiva de Nestor Lima: uma análise da obra Um século de ensino primário. Research, Society and Development, v. 7, n. 10, p. 01-19, e8710392, 2018. DOI: https://doi.org/10.17648/rsd-v7i10.392Links ]

AZEVEDO, Laís Paula de Medeiros Campos; PESSOA, Lígia Silva; MEDEIROS NETA, Olivia Morais de. A Hemeroteca Digital Brasileira: Fontes e Possibilidades para a Pesquisa em História da Educação. Revista Cenas Educacionais, v. 2, n. especial, p. 39-55, out. 2019. [ Links ]

BRASIL, Eric; NASCIMENTO, Leonardo Fernandes. História digital: reflexões a partir da Hemeroteca Digital Brasileira: fontes e possibilidades para a pesquisa em hbistória da Educação. Estud. hist. (Rio J.) vol.33 no.69 Rio de Janeiro Jan./Apr. 2020 Epub Mar 06, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/s2178-14942020000100011Links ]

BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Manda crear escolas de primeiras letras em todas as cidades, villas e logares mais populosos do Império. Rio de Janeiro, 1827 [ Links ]

CARLOS, Nara Lidiana Silva Dias; PESSOA, Lígia Silva; MEDEIROS NETA, Olivia Morais de. Centenário da Lei de 15 de outubro de 1827: um lugar de memória. Research, Society and Development, v.7, n.10, p.1-20, e1710415, 2018. DOI: https://doi.org/10.17648/rsd-v7i10.415Links ]

CORREIO PAULISTANO. São Paulo. 03 de Setembro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972_07&pesq=%22dia %20do%20professor%22&pasta=ano%20192&pagfis=209. Acesso em: 10 ago. 2022. [ Links ]

CORREIO PAULISTANO. São Paulo. 10 de Outubro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972 _07&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192&pagfis=209. Acesso em: 15 maio. 2022. [ Links ]

CORREIO PAULISTANO. São Paulo. 16 de Novembro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972 _07&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192&pagfis=209. Acesso em: 05 maio. 2022. [ Links ]

CORREIO PAULISTANO. São Paulo. 30 de Outubro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=090972 _07&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192&pagfis=209. Acesso em: 11 jul. 2022. [ Links ]

DIÁRIO NACIONAL: A DEMOCRACIA EM MARCHA. São Paulo. 05 de Outubro de 1928. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/ DocReader.aspx?bib=213829&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 10 jul. 2022. [ Links ]

GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. Tradução: Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. [ Links ]

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro. 02 de Novembro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_ 04&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 18 jul. 2022. [ Links ]

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro. 11 de Agosto de 1923. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_ 04&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 16 jul. 2022. [ Links ]

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro. 17 de Agosto de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_04&pesq= %22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 04 jul. 2022. [ Links ]

JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro. 22 de Setembro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital: http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=030015_ 04&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 11 jul. 2022. [ Links ]

LIMA, Nestor. Um século de ensino primário. Natal: Typ. d' “A República”, 1927. [ Links ]

MENEZES, Antônio Basílio Novaes Thomaz de. A biblioteca e o discurso pedagógico higienista. Revista Iberoamericana de Educación, v.75, 2017. p.147-164. DOI: https://doi.org/10.35362/rie7501251Links ]

MENEZES, Antônio Basílio Novaes Thomaz. Concepção e significado de “Um Século De Ensino Primário” Holos, Ano 35, v.5, e8905, 2019 Disponível em: http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/8905/pdf. Acesso em: 11 jul. 2022. [ Links ]

O BRASIL. Rio de Janeiro. 15 de Outubro de 1925. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=028002&pesq= %22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 11 jul. 2022. [ Links ]

O ESTADO DO PARANÁ: JORNAL DA MANHÃ. Paraná. 09 de Setembro de 1926. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=830372&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192&pagfis=270. Acesso em: 20 de Julho de 2020. [ Links ]

O ESTADO. Santa Catarina. 5 de Novembro de 1925. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=098027_02& pesq =%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%. Acesso em: 11 jul. 2022. [ Links ]

O PAIZ. Rio de Janeiro. 03 de Julho de 1925. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital.http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=178691_05&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 15 jul. 2022. [ Links ]

O PAIZ. Rio de Janeiro. 09 de Julho de 1925. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=178691_05&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 15 jul. 2022. [ Links ]

O PAIZ. Rio de Janeiro. 31 de Dezembro de 1924. Disponível em Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=178691_ 05&pesq=%22dia%20do%20professor%22&pasta=ano%20192. Acesso em: 15 jul. 2022. [ Links ]

PESSOA, Ligia Silva. Nestor Lima e a Instituição do Dia do Professor no Brasil. 2020. 47 f. TCC (Graduação) - Curso de Pedagogia, Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2020. [ Links ]

RAGAZZINI, Dario. Para quem é o que testemunham as fontes da história da educação? Educ. rev. [online]. 2001. DOI: https://doi.org/10.1590/0104-4060.231Links ]

RIO GRANDE DO NORTE. Departamento de Educação do Estado. Álbum de Fotografias do Departamento de Educação (1927). [ Links ]

SILVA, Marcelo Gomes da. “Se unidos estivermos, certo enceremos”: A experiência organizativa da Liga de Professores do Rio de Janeiro (1919- 1937). HISTEDBR On-line. v. 20 1-23 e020033, 2020. DOI: https://doi.org/10.20396/rho.v20i0.8655676Links ]

XAVIER, Libânia Nacif; ROBERT, Mychelle Nelly Maia. Arquivos pessoais de professores: o que guardam e o que nos dizem? Cadernos de História da Educação, v.20, e045, 2021. DOI: https://doi.org/10.14393/che-v20-2021-45Links ]

ZICMAN, Renée Barata. História através da imprensa: algumas considerações metodológicas. Projeto História, v.4, p. 89-102, 1985. [ Links ]

1A Hemeroteca é um portal de periódicos nacionais que, via internet, pode ser amplamente acessado de qualquer lugar do mundo. Seu acervo de periódicos conta com jornais, revistas, anuários, boletins e publicações seriadas. Esse espaço é vinculado à Biblioteca Nacional Digital pertencente à Fundação de Biblioteca Nacional. Conserva documentos e democratiza o acesso aos documentos, contribuindo com o trabalho do historiador. Acesso via link: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/

2Principais trabalhos mapeados sobre Nestor Lima: o livro de Antônio Basílio Novaes Thomaz de Menezes intitulado Nestor dos Santos Lima e a Modernidade Educacional publicado em 2009; a tese de Sara Raphaela Machado Amorim, de 2017, com título Viagem como missão: intercâmbio pedagógico do educador Nestor dos Santos Lima (1913-1923) e sua dissertação de mestrado de 2010 Do Mestre aos Discípulos: o legado Educacional de Nestor dos Santos Lima (1910-1930); a dissertação de 2009 de Jane Karoline Carvalho de Aguiar Ramos Nestor Lima e a Modernização conservadora na Gestão Educacional do Rio Grande do Norte entre 1924-1928 e mais recentemente, em 2020, a dissertação de Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo As Viagens Pedagógicas de Nestor dos Santos Lima e a Educação no Rio Grande do Norte na Primeira República.

3Raul Gomes (1989-1975) foi um intelectual paraense, professor e jornalista que lutou pelas questões educacionais do Paraná. Além de outras atuações e trajetórias que podem ser encontradas na dissertação de Vanessa Goes Denardi intitulada Entre Teses: Uma Travessia pelas representações do Professor Raul Rodrigues Gomes sobre a Escola Nova (Paraná, décadas de 1920 e 1930).

Recebido: 06 de Dezembro de 2022; Aceito: 05 de Fevereiro de 2023

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons