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Reflexão e Ação

versão On-line ISSN 1982-9949

Rev. Reflex vol.30 no.3 Santa Cruz do Sul set./dez 2022  Epub 13-Jun-2023

https://doi.org/10.17058/rea.v30i3.18216 

Apresentação

Apresentação: experiências educacionais e pedagógicas latino-americanas

1Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC - Santa Cruz do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil.

2Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC - Santa Cruz do Sul - Rio Grande do Sul - Brasil


“O lugar da vida boa não está num lá fora desconhecido e longínquo, mas começa no aqui que se abre para novas possibilidades”. (STRECK, 2006, p.283)

O educador e pesquisador Danilo R. Streck, em artigo publicado na Revista Brasileira de Educação (Anped), em 2006, chamava a atenção para o fato de estarmos procurando uma saída do labirinto latino-americano, metáfora para nossa constituição cultural, social, econômica, política e educacional, quando as novas possibilidades se abrem a partir de nossas próprias experiências. Como dizia Paulo Freire: “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar” (1997, p.79).

Essa edição visa apresentar experiências educacionais e pedagógicas situadas, vivenciadas, sentidas e problematizadas em/sobre “nossa América”, especialmente, no dossiê organizado pelas professoras Marcela Gómez Sollano, da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam) e Lia Pinheiro Barbosa, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), ambas, pesquisadoras do Programa Alternativas Pedagógicas y Prospectivas Educativa en América Latina (APPeAL). Mas, também apresenta um conjunto de artigos que analisaram experiências educacionais e pedagógicas que acontecem em território brasileiro e que, em alguma medida, movem-se para a sua latinoamericanidade, demonstrando o “caminho caminhado” em diferentes contextos.

O primeiro artigo desta seção é de autoria de Thaiane da Silva D'Avila e Ricardo Gonçalves Severo, ambos vinculados à Universidade Federal do Rio Grande. Em “Política de Ensino Médio em Tempo Integral: um estudo de caso”, a autora e o autor analisam a política de Ensino Médio em Tempo Integral em uma escola estadual do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, consideram tanto o contexto em que a política é produzida quanto aquele em que é traduzida e interpretada pelos atores da comunidade escolar.

“Implicações da exposição de alunos do Ensino Fundamental I às telas digitais na pandemia de COVID-19 durante o ensino remoto” tem autoria de Larissa Gabrielle Ramos Navarro e Abigail Malavasi, pesquisadoras na Universidade Metropolitana de Santos. Como é notório, o ano de 2020 ficou marcado pela pandemia do COVID-19, e as medidas emergências sanitárias. No entanto, o ensino e a aprendizagem também precisaram se reinventar. Por meio de um estudo bibliográfico, as autoras apresentam reflexões sobre as implicações do tempo de exposição às telas digitais, especialmente, por estudantes do Ensino Fundamental I. Destacam, a partir disso, alguns malefícios tais como: alterações no sono, estresse, alterações comportamentais. Diante disso, as autoras entendem que há uma necessidade de as instituições de ensino refletirem sobre como conduzir o ensino remoto.

O artigo seguinte é de autoria de Jamerson Almeida Silva, Universidade Federal de Pernambuco e tem como título “Modernização neoliberal e ampliação da jornada escolar em Pernambuco, Nordeste do Brasil”. No texto, o leitor e a leitora tomam conhecimento sobre a análise das determinações da Lei 13.415/2017 (Reforma do Ensino Médio), os fundamentos que embasam o novo Currículo de Pernambuco e as medidas voltadas à flexibilização curricular. O estudo se apoiou em documentos oficiais e na revisão bibliográfica da literatura especializada e de teses e dissertações sobre o foco temático. Segundo o autor, a reforma curricular expressa mais uma etapa da modernização conservadora neoliberal, baseado no paradigma das aprendizagens flexíveis.

Pamela Suelli da Motta Esteves, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é autora do artigo intitulado “Indisciplinas, conflitos e violências: uma compreensão do clima escolar”. Conforme a autora apresenta, trata-se de “um convite à compreensão da instituição escolar a partir da desnaturalização de sua universalidade e eternidade”. Assim, propõe-se a problematizar os conceitos de indisciplina, conflito e violência no cotidiano de escolar. Além disso, a advertir quanto a importância de compreender o conflito como um aspecto pedagógico positivo para construção de um clima escolar democrático. O texto está fundamentado em uma pesquisa qualitativa realizada com estudantes do Ensino Médio, docentes e gestores de uma escola pública de São Gonçalo, no Rio de Janeiro.

O quinto artigo se chama “O Estado do Conhecimento acerca das práticas pedagógicas que constituem a socioeducação” e é se autoria de Renata Quinhones Pereira, Eliane Aparecida Galvão dos Santos e Juliane Marschall Morgenstern, todas vinculadas à Universidade Franciscana. Tratase de estudo em que se verifica o que os Programas de Pós-Graduação brasileiros produziram sobre as práticas pedagógicas dos profissionais que atuam com a socioeducação entre os anos de 2015 e 2019. A produção analisada é composta por uma tese de doutorado e seis dissertações de mestrado, totalizando sete documentos acadêmicos. Como resultado, as autoras indicam que os aspectos que constituem a socioeducação têm sido pouco explorados pela comunidade acadêmica. Além disso, os trabalhos sinalizam para a necessidade de formação prévia e continuada para os profissionais que atuam na área, a fim de oportunizar um espaço de (re)construção de saberes e fazeres pedagógicos.

Já o sexto e último artigo desta seção é de autoria de Elidiane Martins de Brito da Silva, Universidade Federal de Mato Grosso e de Léia Teixeira Lacerda, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Em “Memórias de velhos(as) chiquitanos(as): identidade de gênero e brincadeiras de infância”, as autoras apresentam reflexões sobre a função social do brincar na construção da identidade de gênero, a partir das memórias de velhos(as) Chiquitanos, evidenciando como se constituíam em um contexto histórico marcado pelos conhecimentos tradicionais desse grupo social. Na cultura chiquitana as relações de gênero se processam de maneira singular ao conceber o homem e a mulher em sua cosmologia. Meninos e meninas brincavam juntos e faziam seus brinquedos com os materiais disponíveis na natureza.

Assim, nessa última edição de 2022, o leitor e a leitora terão acesso aos quinze (15) artigos científicos, entre aqueles selecionados para o dossiê e outros para a seção “Artigos de Fluxo”, a uma (1) resenha e a primeira parte de uma (1) entrevista com Dra. Adriana Puiggrós, importante pedagoga, historiadora, política e pesquisadora sobre a educação na América Latina. As organizadoras do dossiê, realizaram uma longa e densa conversa com essa estudiosa argentina, tendo como eixo central as “Alternativas pedagógicas: entre a história e a prospectiva da educação latino-americana”. Como elas chamam a nossa atenção, com Adriana Puiggrós podemos descobrir, de Simón Rodríguez a Paulo Freire, “as diferentes lutas que nossos povos têm travado pela sua emancipação. A dimensão alternativa não é alheia a este processo histórico, político e pedagógico que nos configura como região”. A segunda parte dessa bela entrevista poderá ser conferida no v.31, n.1 (2023) da Reflexão e Ação.

Além disso, essa edição é um convite a conhecer parte da trajetória do Programa APPeAL e a sua busca por “alternativas pedagógicas” que, desde os princípios de 1980, na Facultad de Filosofía y Letras da Universidad Autónoma de México (UNAM) vem realizando pesquisas focadas nas experiências que se forjam no contexto latino-americano. Para tanto, o Programa tem reunido pesquisadores e pesquisadoras para identificar, problematizar, sistematizar e historicizar distintas experiencias e propostas que se apresentam como “alternativas” frente às experiências e perspectivas pedagógicas tradicionais, como aquelas que identificamos na educação bancária a nas políticas educacionais orientadas pela hegemonia do Estado moderno. Foi nesta mesma época que o Programa APPeAL também se constituiu na Universidad de Buenos Aires (UBA), atuando em rede de solidariedade e reciprocidade científica. A cada década, eventos e interesses, o Programa foi reconfigurando-se como grupo de pesquisadores e de pesquisadoras, bem como foi se dedicando à construção de novas categorias analíticas, tais como: “sujeito pedagógico” e “conhecimento socialmente produtivo”. Ou seja, APPeAL foi “refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar” (FREIRE, 1997, p.79), assumindo os desafios do século XX e XXI, ampliando as suas articulações com Instituições de Ensino Superior e Programas de Pósgraduações, especialmente, no Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia.

Desejamos excelentes leituras em 2023! E, a conquista de sonhos em suas caminhadas.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. [ Links ]

Streck, Danilo R. A educação popular e a (re)construção do público: há fogo sob as brasas?.Revista Brasileira de Educação [online]. 2006, v. 11, n. 32 [Acessado 10 Dezembro 2022], pp. 272-284. Disponível em: Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-24782006000200006 . Epub 04 Set 2006. ISSN 1809-449X. https://doi.org/10.1590/S1413-24782006000200006 [ Links ]

Cheron Zanini Moretti Doutorada no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos/UNISINOS; foi bolsista CNPq durante toda a realização do curso (2010-2014) onde compõe o grupo de pesquisa: Mediações Pedagógicas e Cidadania. É Mestra em Educação (2008) e licenciada em História (2005), nessa mesma universidade. Realizou estágio de doutoramento no exterior na Facultad de Filosofia y Letras, da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) com bolsa do programa CAPES/PDSE (2012). Recentemente, concluiu pós-doutoramento em educação com bolsa CNPq/PDJ. Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade de Santa Cruz do Sul/UNISC, na linha de pesquisa: Educação, Trabalho e Emancipação, e também no Departamento de Ciências, Humanidades e Educação. Coordena o grupo de pesquisa Educação Popular, Metodologias Participativas e Estudos Decoloniais (CNPq) e o Observatório da Educação do Campo do Vale do Rio Pardo (ObservaEduCampoVRP). Tem se preocupado em pesquisar temas relacionados à América Latina, como: Educação Popular, Alternativas e ideias pedagógicas, (Des)Colonialidade do Conhecimento e Insurgência como princípio educativo, tendo como referência a pesquisa ação participativa nos processos metodológicos. Editora-Chefe da Revista Reflexão e Ação (A4).

Camilo Darsie Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em Educação, na Linha de Pesquisa Educação, Cultura e Produção de Sujeitos, da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC. Coordenador do Internato de Saúde Coletiva e Professor no curso de Medicina. Líder do Grupo de Pesquisa sobre Políticas Públicas, Inclusão e Produção de Sujeitos (PPIPS) e Editor-gerente da Revista Reflexão e Ação, do PPGEdu, na mesma instituição. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com Doutorado Sanduíche na Universidade de Minnesota (EUA), concluiu Pós-doutorado em Saúde Coletiva na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desenvolve pesquisas nas áreas de Educação, Saúde e Geografia

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