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Ensino em Re-Vista

versão On-line ISSN 1983-1730

Ensino em Re-Vista vol.26 no.2 Uberlândia maio/ago 2019  Epub 31-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/er-v26n2a2019-12 

Artigos de Demanda Contínua

A relação dos professores com a biblioteca escolar: um estudo de caso

The relationship between teachers and the school library: a case study

Márcia Cicci Romero1 

Adriana Pastorello Buim Arena2 

1 Mestre em Educação. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: marciacromero@yahoo.com.br

2 Pós-Doutorado em Educação. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, Brasil. E-mail: dricapastorello@gmail.com


Resumo

Este artigo é resultado de uma pesquisa concluída em 2011 na cidade de Uberlândia MG e tem como objetivo mostrar como os professores relacionavam-se com a biblioteca da escola para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Já os objetivos específicos compreendiam em identificar como os professores utilizavam esse espaço; analisar a frequência que levavam seus alunos a esse espaço escolar e verificar quais eram as regras que a escola impunha ao seu uso. A metodologia escolhida foi o estudo de caso do tipo etnográfico na abordagem qualitativa. Utilizou-se também da observação e da entrevista. Como resultado, apesar de os professores terem se preocupado com o uso da biblioteca, concluímos que não houve essa interação entre os docentes e a bibliotecária. As idas à biblioteca funcionavam apenas como local para mostra de filmes e a leitura era vista como castigo.

Palavras-chave: Biblioteca - escolar; Leitura; Livros

Abstract

This paper is a summary of a research conducted in 2011 in the city of Uberlândia and aimed to show how teachers related to the school library for the development of reading and writing. The specific objectives were to identify how teachers used this space; to analyze the frequency that their students took and to verify what were the rules that the school imposed to its use. The methodology chosen was the case study of the ethnographic type in the qualitative approach, also used observation and interview. As a result, although teachers were concerned about the use of the library, we concluded that there was no such interaction between the teachers and the librarian. The trips to the library functioned only as a film show and reading was seen as punishment.

Keywords: Library - school; Reading; Books

Introdução

A biblioteca escolar é um lugar que, com a ação conjunta entre professor e bibliotecário, pode se tornar um espaço agradável de aprendizagem para os alunos. Entretanto, em muitas escolas que observamos não percebemos essa ação, fato que nos levou a pensar um estudo sobre a biblioteca escolar e sua utilização tanto pelos alunos, como professores.

A biblioteca é importante para alunos e professores, seja para ler algo interessante, para estudar ou fazer pesquisas. Na escola, ela pode ser utilizada de diversas formas, por exemplo, para ministrar aulas, pois propicia um ambiente de aprendizagem com ampla pesquisa e consulta dos livros. Entretanto, quando há uma biblioteca na escola funcionando, na maioria das vezes seu uso, fica restrito a poucos. Desta forma, acontece o mau uso da biblioteca, pois parece haver medo por parte da direção da escola que a biblioteca possa ser roubada ou algo similar.

Ao analisar as possibilidades de mudança dentro da escola surge a questão: até que ponto os professores de uma instituição escolar de uma rede pública de Uberlândia propõem trabalhos que estimulem os alunos a fazerem o uso da biblioteca? Esse artigo é um recorte de uma pesquisa realizada no ano de 2011 na cidade de Uberlândia e tem o objetivo de descrever e analisar como era a relação dos professores com a biblioteca da escola.

De acordo com os dados da pesquisa, o que se percebeu é que no contexto da referida escola qualquer pessoa pode se tornar um bibliotecário, entretanto, para que uma pessoa ocupe este cargo tem que ser levado em conta se ela possui todos os conhecimentos necessários para desempenhar essa tarefa. A escola procura meios eficientes para compreender e entender melhor as causas de grandes dificuldades dos alunos com a leitura e a escrita, mas chegam sempre em soluções que falham e que estão fora do alcance de intervenção que a biblioteca escolar pode realizar. Por outro lado, algumas atividades como a famosa “Hora do Conto” quando ministrada demonstra ser uma grande aliada ao combate da dificuldade dos alunos na aprendizagem.

A biblioteca escolar

Segundo o Dicionário do livro (FARIA; PERICÃO, 1999, p. 65), biblioteca é "qualquer coleção organizada de livros e de publicações em série e impressos ou de quaisquer documentos gráficos ou audiovisuais disponíveis para empréstimo, consulta ou estudo, criada com determinados fins de utilidade pública ou privada".

Nesse sentido, as bibliotecas não podem ser concebidas apenas como um espaço em que os livros se encontram organizados. Devem ser entendidas como um instrumento do processo educativo imprescindível ao contexto escolar, já que são locais em que a criança e o adolescente encontram subsídios do mundo que os cerca. Ao fornecer uma gama de conhecimento em várias áreas de saberes, proporciona-lhes o amadurecimento intelectual e psicológico.

A relação do indivíduo com o livro implica a possibilidade de ele se inteirar de realidades distintas que despertam conflitos e dúvidas que instiguem a sua descoberta como leitor. Dessa maneira, a biblioteca se consolida como um espaço responsável em propiciar ao aluno o alicerce para a leitura.

O estudo da biblioteca torna-se, assim, importante como uma forma de se colocar em discussão, não só a perspectiva de espaço para as ações de leitura, mas, principalmente, pela sua função de formar leitores. É importante lembrar que a biblioteca surgiu com a invenção dos livros, por isso, requer um estudo que a identifique numa perspectiva diferente da do discurso tradicional.

Num cenário de tantas inovações, na medida em que se diversificam os suportes de informação, deve-se repensar a biblioteca escolar de acordo com a evolução da sociedade, não se distanciando da sua principal função: um espaço de aprendizagem mediante o estímulo à leitura.

A biblioteca escolar pode desempenhar diversos papéis, dentre alguns, Batista (2009, p. 23-24) destaca:

É possível perceber quantos papéis e responsabilidade a biblioteca escolar exerce: apoiar o processo de ensino-aprendizagem; promover a interação entre os indivíduos, a fim de que haja sociabilização dos estudantes; ser um espaço onde os estudantes aprendam a conviver com as diferenças; um local que promova a cidadania e o entendimento do respeito ao espaço público e ao patrimônio; incentivar o gosto pela leitura; propiciar o contato com diversos suportes de informação. Ela constitui, também, um estoque de informações para que os alunos aprendam de forma contínua e compreendam sua organização e funcionamento, são mais alguns papéis que a biblioteca da escola desempenha.

Não se pode negar que a biblioteca escolar tem certo status quo, no contexto escolar, quando em funcionamento. Mas como qualquer outro projeto, é preciso haver planejamento, porque, sem ele, é impossível levar em contento alguma ação, ainda mais quando o assunto é um espaço de pesquisa para os alunos em uma escola, então, o fazer plural faz-se necessário para que atenda ao seu objetivo primário como um espaço que estimule a interação aluno/livro. Segundo Santos (2011, p.08),

O novo conceito de biblioteca associado ao aparecimento das Bibliotecas Escolares propõe espaços coloridos, dinâmicos, interactivos, apelativos e entendidos como centros de recursos multimédia de livre acesso, destinados á consulta e produção de documentos em diferentes suportes. A biblioteca passa a ser um espaço vivo e um meio de estimular, fomentar e promover não apenas a leitura, mas igualmente as capacidades e competências interpretativas do leitor.

A biblioteca escolar dispõe de recursos fundamentais para a vivência na sociedade. É nela, que os alunos podem compartilhar saberes, construírem juntos conhecimento e ter o gosto pela leitura, o que tem como consequência um melhor aprendizado para eles.

De acordo com a concepção dos autores citados, a biblioteca escolar é um local fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem e formação do aluno, e se ela não for direcionada para este fim, perde-se toda a sua função. Essa falta de prioridade, na maioria das bibliotecas escolares, pode contribuir para o surgimento de um novo tipo de analfabeto: o funcional. Para Foucambert (1997, p.12) “atinge uma parcela crescente (10 a 15%) da população total, a qual por falta de utilização real da escrita, depois do período escolar, acaba perdendo em poucos anos a capacidade de fazer até mesmo uma simples correspondência entre o oral e o escrito”. Nesse mesmo contexto, pode-se citar ainda Guedes (2008, p.13) que afirma:

O analfabetismo funcional é a incapacidade de entender aquilo que se lê. A leitura é um processo contínuo de crescimento, onde o leitor a princípio entende as palavras, signos lingüísticos, e após adquirir uma estrutura cognitiva, por meio de estudos e leituras, é capaz de contextualizar diferentes realidades.

O perfil do profissional da biblioteca escolar vai além de suas tarefas tradicionais a de emprestar livros e organizar estantes, pois a escola é um local que estimula a criatividade e possibilita ao aluno se constituir pesquisador e leitor. Nesse cenário, faz-se necessária a presença de um bibliotecário que atue na intervenção das práticas de leitura com um acesso direto à informação. Somente com esse tipo de ações é que se pode modificar esse local em um campo fértil que dê suporte ao aluno em suas pesquisas escolares. As meras práticas de reprodução, tão comuns no ambiente escolar, ocorrem, justamente, por haver essa lacuna nesse espaço.

O uso inadequado da internet, como o copiar e colar, ferramentas usadas na realização de trabalhos escolares, não contribuiu significativamente para melhorar a situação dos alunos no contexto dessa pesquisa. Infelizmente isso, muitas vezes, acontece na própria instituição pública que se encontra informatizada, mas desprovida de profissionais que orientem e deem suporte para o desenvolvimento de uma pesquisa que incentive a leitura visando à formação de um pesquisador crítico e não de um mero reprodutor do que lê.

Não se pode deixar de negar que uma sociedade alienada, seja por conta de escolas que não incentivam a leitura, seja pela ausência do uso da biblioteca escolar de forma mais lúdica, que busque despertar a leitura prazerosa é também responsável pelo agravamento desse novo perfil de analfabetos. Tal realidade é amparada pelo estudo de Guedes (2008, p. 13): “assim, a biblioteca infanto - juvenil e a biblioteca escolar têm como função social subsidiar as demandas informacionais das crianças e adolescentes, auxiliar em suas atividades escolares e instigar o interesse pela leitura”.

Por essa razão, torna-se indispensável repensar o espaço da biblioteca para cumprir a sua tarefa primordial a de proporcionar um novo espaço de democratização e incentivo à leitura de forma que estimule a curiosidade e o interesse do educando em aprender a manusear adequadamente as fontes de informação.

O espaço físico, estrutura e acervo

Para se montar um acervo de uma biblioteca, não se pode desconsiderar seu objetivo final que é a formação de leitores e pesquisadores ainda em período escolar. Para isso é importante uma diversidade de obras literárias e de material de pesquisa, disponibilizados em espaço adequado.

Nesse sentido, a funcionabilidade de uma biblioteca escolar tem tudo a ver com seu acervo. Não são todos os livros que a biblioteca recebe que farão parte dele. Por isso é importante uma participação ativa e prudente do corpo docente que conhece as suas próprias necessidades e propósitos para o atendimento do educando.

Segundo Amato e Garcia (1989, p.21) a biblioteca escolar deve ser constituída de:

  • Livros de referência (dicionários, enciclopédias, anuários, atlas, almanaques, guias da cidade, guias turísticos, bibliografias, coletâneas de leis);

  • Livros didáticos e paradidáticos;

  • Livros técnicos e científicos (relacionados ao currículo escolar);

  • Livros de cultura geral;

  • Livros de formação pedagógica;

  • Livros recreativos de ficção, de cunho literário;

  • Biografias;

  • Periódicos (revistas, jornais);

  • Folhetos;

  • Audiovisuais (cartazes, diafilmes, discos, filmes, transparências, videoteipes, globos, fantoches, etc);

A cooperação dos alunos, da comunidade, das editoras é válida para atender as necessidades da biblioteca.

O acervo da biblioteca escolar, que pode ser utilizado com a supervisão do professor, além de servir de suporte para o que foi dado na sala de aula, atua também para despertar a vontade do aluno de conhecer novos materiais. Uma estratégia para viabilizar esses objetivos é a inclusão do acervo em algum dos projetos da escola. Se o aluno for estimulado poderá procurar por livre e espontânea vontade informações para as dúvidas que o inquietam, e será na biblioteca o local ideal para atender seus anseios.

O espaço físico na escola para pesquisas é indispensável. Se o aluno não possui estímulo da família para a leitura, é necessário que o empenho da escola seja ainda maior para proporcionar um ambiente em que o aluno tenha prazer em ler. Aos pais caberia a tarefa de informar aos professores o progresso de seus filhos, fora do ambiente escolar, na maneira como utilizam a leitura e a escrita.

Ainda hoje, há bibliotecas que colocam vários cartazes com restrições ao seu uso, às vezes, desnecessárias ou com excessos. Essa ação também é um fator para que evitem o local.

Alguém já disse: "Uma escola sem biblioteca é como um restaurante sem cozinha". Concordo. A biblioteca escolar é o centro do fazer educativo. Se há uma biblioteca com um espaço físico determinado, que ele esteja sempre aberto, que seja agradável, acolhedor, conquistador, sem cão de guarda, sem cartazes proibitivos: por que não avisos mais simpáticos? menos autoritários? feitos pelos próprios freqüentadores da biblioteca? (GARCIA, 1989, p. 56).

Não só a biblioteca como também a sala de aula podem abrigar figuras, materiais que atuem no processo de ensino e que atraem, visualmente, o aluno, tornando o local determinante para o conhecimento.

A biblioteca não ocupa na escola um espaço privilegiado como o da secretaria. Para que seja um espaço que acolha o aluno com pesquisas, leituras, ela tem que estar em um lugar onde todos possam encontrá-la facilmente, que possa acolher a todos, sem discriminação. Segundo Macedo (2005, p. 308),

A biblioteca deve estar localizada no ponto central. Para ela devem convergir caminhos e olhares e, a partir dela, deve ser possível alcançar os horizontes e a vida do seu entorno. É preciso haver integração do exterior com o interior e, ao mesmo tempo, de dentro para fora. Ela deve ser um espaço de acolhimento e de inclusão social em todos os sentidos.

É indiscutível que a biblioteca sofre influências do meio, uma vez que ela é resultante da cultura, e, paradoxalmente age sobre ela, de modo que traz consigo sua história e suas práticas e valores. Assim, tudo o que há nesse local - livros, cartazes, figuras se torna parte da memória e cultura do aluno. O espaço físico da biblioteca deve ser tratado com atenção, e, por fazer parte do universo da aprendizagem e, indiretamente, interferir na linguagem, ela é importante para o desenvolvimento da leitura e da escrita, não podendo desse modo, ser tratada com descaso.

Sem dúvida nenhuma, a biblioteca deve ser o ponto de referência dentro da instituição escolar, todos devem conhecer sua localização e funcionamento.

As bibliotecas que contêm livros catalogados por assuntos e/ou por autores, com mesas e cadeiras para os alunos realizarem suas pesquisas atendem melhor as necessidades deles. Ela torna-se um ambiente confortável e descontraído. A imagem de ser um local frequentado por “alunos - problema” se desfaz, quando o professor passa a utilizar esse espaço, como uma alternativa a mais para uma prática educacional mais dinâmica e interativa.

Eu, professor, leio junto com o meu aluno e não por ele ou para ele. E é nesta busca de solução da enorme tarefa de educar que eu me faço aprendiz também. Aqui pode ser o meu espaço da "formação permanente" do professor, para que eu seja, cada vez mais, um profissional competente (competência e salário, binômio de muitas lutas...). (GARCIA, 1989, p. 60).

O educador deve perceber que mais que discutir o que foi lido é preciso descobrir e explorar o que se quer ler. Para efetivar essa possibilidade, há uma gama de materiais disponíveis, mas que não são familiares aos alunos, entre eles, fantoches, flanelógrafo, quadro de pregas, álbum seriado, teatro de sombras. Cabe ao educador utilizá-los como um recurso didático a mais visando diversificar as possibilidades de aprendizagem. Para atrair a atenção do aluno e/ou até mesmo para que ele familiarize com esses instrumentos, o local ideal para que esses objetos estejam expostos é, indubitavelmente, a biblioteca.

O estudo de caso

Alguns autores partem de conceitos básicos para a realização de suas pesquisas, como o que é pesquisa, o que é necessário para realizá-la, atentando sempre para a realidade. Segundo André (1986, p.1) “para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele”.

Segundo André (2005), muitos campos do conhecimento utilizam estudos de caso tendo cada área uma variação e determinações diferentes, como a antropologia, administração, medicina, entre outros. Na área educacional, os estudos de caso manifestaram-se nas décadas de 60 e 70 com o intuito de descrever uma unidade, seja ela qual for. Nesses estudos de caso, agregavam-se também os modelos pré-experimentais que teriam então, o objetivo de conhecer a unidade a ser estudada para adquirir dados para alguns estudos mais adiante.

Segundo André (2005 p. 24-25),

A etnografia é uma perspectiva de pesquisa tradicionalmente usada pelos antropólogos para estudar a cultura de um grupo social. Etimologicamente etnografia significa “descrição cultural”. Para os antropólogos, o termo tem dois sentidos (1) um conjunto de técnicas para coletar dados sobre os valores, os hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um grupo social; e (2) um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas.

Na área da etnografia como na educação, existem diferenças de ponto de vista. Nesse sentido, a etnografia não é estudada no seu sentido puro, ela sofre um ajustamento à educação para que os estudos do tipo etnográfico ocorram. O pesquisador então tem que enxergar de forma anacrônica, ou seja, tem que obter um estranhamento do que está sendo estudado para que não os interprete de acordo com o modo em que vive, pelo contrário, tem de alcançar o entendimento de como seu objeto de estudo vive, sente, age, seus costumes e afins. Ele tem que se colocar numa perspectiva onde o que lhe parece familiar se torne estranho e vice-versa, possibilitando então, que avalie e reflita sobre a situação. Desse modo, ele terá uma observação participante, na qual se relaciona com o que está pesquisando, alterando-a e ao mesmo tempo sendo alterado.

Segundo André (2005), o estudo de caso possibilita que exista profundidade e uma vasta visão de uma unidade que é complexa, constituída de muitas raízes; é capaz de retratar o cotidiano sem que haja danos em sua complexidade e andamento. Uma das vantagens é que o pesquisador pode descobrir fatos novos e inclui-los à sua problemática. O importante, é que o pesquisador deixe bem claro quais são seus fundamentos, os analise e interprete para que não seja uma pesquisa que já foi realizada, que a resposta seja óbvia e nem que o resultado caía no senso comum.

De acordo com André (2005), o estudo de caso na abordagem qualitativa para ser desenvolvido, necessita de ter “tolerância à ambiguidade”, já que por se tratar de uma abordagem qualitativa tende a não chegar numa resposta 100% confiável. Seu trabalho precisa de flexibilidade para que suas decisões sejam feitas no momento certo. Somente com a ida em campo é que o pesquisador pode fazer uma análise melhor detalhada sobre o local, os indivíduos, quais serão os instrumentos precisos para a coleta de dados e quanto tempo gastará para observá-los. É a flexibilidade no estudo de caso do tipo etnográfico que propõe aos que gostam de um desafio e não tem medo do incerto, a oportunidade para inovar. Porém, em caso contrário, pode desestimular o pesquisador por medo da insegurança.

São as entrevistas o caminho mais adequado para o pesquisador chegar mais perto do que significa classificar, organizar e representar para seu objeto de estudo. Por meio de tais características, entende-se que a permanência no campo do objeto a ser investigado e a coleta de dados são fatores que caracterizam a pesquisa etnográfica. Assim como na entrevista e na observação, o pesquisador também tem que fazer um recorte de como estudará os documentos que podem ser úteis na pesquisa para relacionar as informações obtidas, e considerar o aparecimento de dados novos que podem contribuir no caso.

Nesse estudo, foram entrevistadas cinco professoras regentes respectivamente dos 1º, 2º, 3º, 4º e 5º anos, na tentativa de identificar como a biblioteca poderia ser útil no aprendizado, tanto das professoras como dos alunos. Optou-se pela entrevista por reconhecer seu potencial em trabalhos já desenvolvidos por outros pesquisadores que analisaram a importância do relato verbal no desenvolvimento de pesquisas que envolvam dificuldades de aprendizagem, sejam elas durante a infância ou mesmo no ensino superior.

Antes de ter entrevistado os sujeitos dessa pesquisa, foi preciso tempo de convívio na escola para tentar compreender quais as razões que levaram a escola a dar tanto descrédito para a biblioteca e o que a motivava a agir dessa maneira, compreender a realidade em que a escola e seus sujeitos vivem para entender os motivos que os levaram a serem como são. É necessário conhecer o que pensam professores, alunos e gestores para melhor compreendê-los nas suas escolhas.

Esse conhecimento está embasado em dois níveis: no conhecimento do contexto socioeconômico-cultural-geográfico, que abrange o estudo de comunidades muito importantes quando se trata de bibliotecas públicas; o segundo nível corresponde ao conhecimento da instituição que mantém a biblioteca e ao levantamento minucioso de dados da própria biblioteca, quando se trata de uma reorganização. (PINTO et al, 2000, p. 26).

Essa aquisição de conhecimento passa por dois aspectos importantes, o quantitativo e o qualitativo. O primeiro possibilita obter dados das exigências básicas dos usuários e contribui para resolver algum problema relacionado à biblioteca da escola. O segundo tem sua atenção voltada às causas das reações dos que a usam como espaço de informação e esclarecimento dos problemas informacionais. Nesse sentido, a subjetividade da experiência e do comportamento humano se sobrepõe às observações quantitativas.

Diante de tais argumentos, fica nítida que as dependências da biblioteca de uma escola, além de sua estética, organização e acervo devem ganhar status quo de lugar que traz consigo lembranças e referências de lugar.

Um dos elementos - chave na configuração da cultura escolar de uma determinada instituição educativa, juntamente com a distribuição e os usos do tempo, os discursos e as tecnologias da conversação e comunicação nela utilizados, é a distribuição e os usos do espaço, ou seja, a dupla configuração deste último como lugar e como território. (...) a instituição escolar ocupa um espaço que se torna, por isso, lugar. Um lugar específico, com características determinadas, aonde se vai, onde se permanece umas certas horas de certos dias, e de onde se vem. Ao mesmo tempo, essa ocupação de espaço e sua conversão em lugar escolar leva consigo sua vivência como território por aqueles que com ele se relacionam. Desse modo é que surge, a partir de uma noção objetiva - a de espaço - lugar - uma noção subjetiva, uma vivência individual ou grupal, a de espaço - território. (VIÑAO, 2005, p. 17)

Desse modo, a biblioteca torna-se um espaço específico de estudo, já que se torna um lugar, território, configurado com características voltadas para dar suporte aos alunos que a procuram para realizar suas atividades escolares, ou seja, acaba por influenciar nas dependências da escola, um lugar de referência.

Levando-se em consideração que foi dito por Viñao (2005), o ambiente de uma instituição de ensino deve ser concebido como um organismo vivo que propicie novas formas de conhecimento da realidade social e cultural em que está inserido.

Diante de tal contexto, a coleta de dados iniciou-se a partir da realização de entrevistas com as professoras da escola, e também observação de como a biblioteca de uma escola pública estadual da região central de Uberlândia funcionava para alunos e professores do ensino fundamental I.

Entrevistas

Devido ao espaço concedido a essa publicação, optou-se por não fazer a descrição do espaço físico da biblioteca, mas sim a descrição e análise dos dados coletados durante as entrevistas.

Quanto ao conteúdo da entrevista, a primeira questão perguntava se elas tinham o costume de levar seus alunos para a biblioteca. Quatro delas falaram que sim e apenas uma disse o contrário afirmando que a bibliotecária assumia essa função. Durante as observações, foi possível identificar aquelas que, pelo menos, conduziam a turma à biblioteca para terem uma aula alternativa. Em razão disso, tornava-se imprescindível que a escola como um lugar de formação, interação, detenha recursos diferentes para que forme um aluno crítico, pensante e profissionais preparados para tal função. Nesse sentido, a biblioteca escolar aparece como um espaço que possibilita a formação desse aluno. Segundo Borges, (2012, p.74, 75),

(...) a biblioteca é onde os livros, revistas, jornais, computadores, filmes, devem estar expostos de maneira acessível ao manuseio dos alunos, de forma que frequentem regularmente o respectivo espaço sozinhos ou acompanhados pelos professores, por lazer, interesse próprio ou com trabalhos, em forma de pesquisas.

A segunda questão perguntava as professoras se elas já tinham desenvolvido algum trabalho com seus alunos na biblioteca. Três professoras responderam que sim, que orientavam pesquisas na biblioteca e propunham concursos literários, por exemplo, um deles era o “projetinho” do Caderno Viajante, conforme a fala da professora, nessa atividade cabia ao aluno escolher o livro para levar para casa, e a partir dele, escrevia a sua história com base na leitura ou apenas comentava, com suas palavras, a parte de que mais gostou.

As professoras que utilizavam a biblioteca escolar argumentavam que o objetivo era propiciar uma interdisciplinaridade, entre os livros lido e os filmes exibidos e os demais conteúdos - ciências, história, geografia - tudo atrelado às disciplinas curriculares. Porém ficou claro que as aulas da biblioteca não eram aproveitadas para esse fim, apenas mudavam a forma e o ambiente, apesar de haver ali materiais suficientes para que a conexão das disciplinas ocorresse. Para Faria (apud DANIELLI, 2011, p.3),

(...) acreditamos que a escola pode contribuir grandemente motivando e disponibilizando materiais de leitura de qualidade e acesso a diferentes gêneros textuais. Não podemos desperdiçar o tempo que o aluno passa na escola, uma vez que o mundo da leitura deve ser apresentado contextualizado em um ambiente cultural que possa interessá-lo, ainda porque é na infância que os brasileiros lêem mais.

Conforme o que foi dito acima, a biblioteca escolar é de suma importância para aqueles que desejam obter informações, aprender, pesquisar e produzir conhecimento; além de esse ambiente, pelo fato de os alunos serem os autores de suas ações, propiciar mais autonomia estimulando a autoestima deles. Os professores que possuem essa visão estão proporcionando aos seus alunos, por meio de diferentes materiais ler e escrever, que são o resultado dessa frequência à biblioteca. Nesse sentido, a leitura é uma atividade que, indubitavelmente, proporciona ao leitor alegria, satisfação e a produção de sentidos.

A terceira questão se referia sobre qual material da biblioteca o professor mais gostava de trabalhar com seus alunos. Duas professoras falaram que gostavam de trabalhar com livros e fantoches, outras, com livros de literatura e gibis e apenas uma respondeu que ainda não tivera a oportunidade de usá-los nesse espaço, não obstante, em outras escolas, já havia trabalhado com cantinho da leitura, vídeo, contação de história, entre outros.

Durante as aulas observadas, pôde-se constatar que a professora bibliotecária fazia uso de filmes, como o propósito de descontrair as crianças. Neves ressalta (2009, p.254):

As atividades de produção de audiovisuais levam os alunos a uma visão mais crítica dos meios de comunicação social, ao vivenciarem os papéis de diretor, roteirista, repórter e ao compararem os formatos de informação da televisão e dos materiais bibliográficos. Além disso, criar um espaço de discussão sobre a mídia também ajuda a desenvolver a capacidade de avaliação e seleção de programas e leituras.

As observações comprovaram que a escola, como um todo, encontrava-se realmente distanciada do contexto social em que os alunos estão inseridos. Os filmes projetados eram conhecidos pelas crianças, fato que não tornava essa atividade em particular atrativa para os alunos. Essa falha não é verificada apenas, na didática da bibliotecária, as professoras, em geral, perderam essa rica oportunidade de dar à prática de ensino o que se espera dela - desenvolver o cidadão crítico e reflexivo -, utilizando - se dos recursos disponibilizados na instituição de ensino.

A questão número quatro, tinha como objetivo saber se existiam materiais de leitura na sala de aula, em uma biblioteca de classe. Quatro professoras responderam que sim, na sala havia cantinho da leitura, varal com diversos tipos de textos e apenas uma falou que não, e esclareceu que o material disponibilizado para montar o cantinho da leitura era selecionado na biblioteca e levados para a sala de aula.

Os recursos didáticos que o profissional docente faz uso, seja a biblioteca de classe ou cantinho da leitura, seja a biblioteca escolar devem estar direcionados ao objetivo de ensinar a ler, escrever, criticar, no estímulo de práticas que possibilitem ter certas ações que intercedam entre os leitores e o texto, desse modo, há um intercâmbio dos alunos nas atividades que visam formar leitores.

A biblioteca escolar é um instrumento de desenvolvimento do currículo por permitir o fomento da leitura e a formação de uma atividade científica, constitui-se um elemento que forma o indivíduo para a aprendizagem permanente, estimula a criatividade, a comunicação, facilita a recreação, apoia os docentes em sua capacitação e lhes oferece a informação necessária para a tomada de decisões em aula. (FARIA apud DANIELI, 2011, p.3).

Como uma instituição que visa formar cidadãos, é atribuída à escola a função de cuidar do ambiente da biblioteca escolar como um espaço em que os alunos produzam conhecimento que implica uma formação cultural e, consequentemente, com a habilidade de pensar por si mesmo, sejam críticos, conscientes de seus direitos e deveres perante a sociedade.

A quinta questão perguntava as professoras se havia um trabalho delas junto com a bibliotecária quando as crianças iam à biblioteca e, se a resposta fosse positiva, ele deveria descrever a atividade. As que responderam sim relataram que a bibliotecária os deixava a par da atividade a ser trabalhada com os alunos para que, a professora da sala dêsse continuidade a ela. Entre as ações em conjunto, destacou-se o projeto com o livro “Casas de mãe” de Vera Dias. Nele as crianças exploravam o gênero textual, depoimento e, em artes, o auto - retrato, a conclusão do projeto foi a escrita de um livro. Nessa questão, apenas duas responderam que não ocorria uma interação com a bibliotecária.

Nos 1º e 2º anos, a principal preocupação da escola encontrava-se na formação de leitores, por isso a leitura é trabalhada intensamente. Assim, podemos analisar que o espaço mais apropriado para tal prática, era a biblioteca, pois a mesma atuaria como uma facilitadora da ação do professor regente. Professores e bibliotecários, ao desenvolver um plano de aula em parceria, podem atuar como agentes positivos na formação de leitores. Para isso, devem-se inteirar da preferência, quando possível, do aluno. Desse modo, na medida em que essa ação entre na rotina escolar, os próprios alunos, cada vez mais, buscarão diferentes tipos de livros. É importante também que a biblioteca os empreste livros para a leitura em casa, nessa perspectiva, o contato com o livro de forma mais assídua constrói o hábito da leitura.

Para que as práticas de leitura sejam sempre favoráveis e significativas aos alunos, é importante uma aliança entre os professores e bibliotecários, pois aqueles possuem o objetivo de ensinar a ler e a escrever e estes, o de dar significado ao ambiente ideal (a biblioteca) para que tal ato aconteça.

A sexta questão perguntava para a professora qual a diferença entre biblioteca escolar e laboratório de informática. Duas responderam que, no laboratório de informática, ministram as aulas planejadas para a sala de aula, e, na biblioteca, era uma oportunidade a mais para os alunos terem um contato com leituras diversas, para essas professoras, tanto o laboratório como a biblioteca ajudavam na aprendizagem. Para a docente que respondeu que não há diferença de um espaço para outro, pode-se inferir que o uso positivo de ambos os ambientes está sob a dependência da habilidade e criatividade do professor, se souber explorá-los bem, haverá uma complementação entre eles. Essa visão é a ideal para que o uso desses espaços contribua de forma positiva no ensino/aprendizagem.

Agregando a essa informação dada por essa professora, outra destacou que a diferença encontra-se no acesso, porque ir ao laboratório de informática é mais fácil que à biblioteca escolar. No contexto dessa pesquisa evidenciou-se que a realidade do ambiente dos recursos tecnológicos já está inserida e contextualizada no cotidiano da maioria dos alunos, enquanto que o contato direto com livros não faz parte da vivência deles.

Houve uma professora que afirmou que é o ambiente da biblioteca escolar que favorece o contato direto com o mundo da leitura e da escrita, pois os diferentes sentidos humanos são ativados para abstrair conceitos e conhecimentos, ou seja, é o lugar em que a imaginação aflora justamente por mergulharem em universos que coexistem com o nosso. Esse professor em especial, pela sua fala, compreende que é na biblioteca escolar, que o aluno agrega mais valores a leitura.

A informação de outra professora contribuiu para perceber que o agente educacional consciente de sua responsabilidade na tarefa de formar cidadãos críticos e reflexivos é capaz de explorar os recursos tecnológicos uma possibilidade de concretizar essa tarefa. Para ela, é o laboratório de informática que propicia um contato virtual/manual ampliando esse universo da leitura e da escrita, porém, não possibilita o contato indivíduo para indivíduo, muito importante na socialização que é uma das funções da escola, acrescentou. Assim, para essas docentes, fica implícito que os recursos da tecnologia, apesar de positivos, afastam o aluno do contato com a fantasia que é tão importante nessa fase da vida.

Não é somente com os livros que podemos ter um aumento significativo no intelecto humano. A escola que possui um laboratório de informática e faz uso dele com uma determinada finalidade, potencializa os resultados do objetivo proposto, levando-se em consideração a multiplicidade de fontes de pesquisa dos recursos da internet. E, além disso, pode fazer com que haja uma melhoria em certas habilidades, como a da escrita e a da leitura, aproximando-se assim do intuito pedagógico que se faz mais importante que a utilização de estratégias e técnicas. Para Zanela (2007, p.18),

O computador nos coloca em rede, em tempo real, sem hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, favorecendo a conectividade, consultas, contatos, interatividade. Agora, além da escola, também o espaço domiciliar, o social e o de trabalho tornaram-se educativos. No ciberespaço encontramos novas maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo e, para a educação, essa maneira diferente de se relacionar pode ser a mola propulsora para obter resultados, inovar e orientar criticamente os jovens.

Durante o período das observações, não houve contato algum das professoras com o laboratório de informática, pois, esse local estava em reforma, por isso fica difícil fazer uma análise das ações que possivelmente o professor teria nesse ambiente.

O professor deve ter consciência de que não importa o instrumento utilizado para ensinar e sim que disponha de qualidades que insinuam a aprendizagem. Isso se refere ao professor que se limita a ser um mero transmissor de conhecimentos, tirando do aluno a qualidade de indivíduo pensante. Nesse sentido, o computador cumpre a função de transmitir conhecimentos, e, ainda melhor, cria espaços diversos para que os alunos aprendam e se desenvolvam intelectualmente.

Assim, ao utilizar o computador como uma ferramenta de trabalho, deve-se ter em mente os resultados que se deseja alcançar para não desperdiçar a oportunidade de ter uma prática inovadora, que busque desenvolver na criança o senso crítico tão importante para separar as informações que serão úteis na produção de conhecimento das que não o são. Dessa forma, o aluno poderá ter uma ação transformada em seu universo particular.

A sétima questão perguntava para as professoras, se elas achavam que tanto o laboratório de informática e a biblioteca escolar poderiam se unir e por qual motivo. Das cinco professoras entrevistadas, quatro responderam que sim, porque ambos os ambientes têm objetivos de incentivar a leitura e preparar para o futuro na realidade social, tanto que esses espaços já se encontram em um mesmo local. Em sua maioria, as bibliotecas dispõem de computadores como fonte de pesquisa, ou até mesmo para facilitar a localização do que se procura. E acrescentaram que, quanto mais a criança tem contato com a leitura, mais ela aprende, o fato de não ter acesso à informática, coloca esse público a margem da sociedade, criando um cenário de exclusão digital.

Outra alegou que a união laboratório/biblioteca só teria significado se houvesse preparação prévia no sentido de conscientizar os alunos de sua importância. Ainda houve uma professora que comentou o fato de esse espaço estar dependente da faixa etária, e justificou que os dois complementam a busca por informações, ou seja, o que não for encontrado nos livros pode ser localizado na internet.

Uma professora argumentou que, ao haver a união desses recursos, agregava-se uma visão melhor e maior das diferentes possibilidades que uma biblioteca e um laboratório podem oferecer. Apenas uma acredita que cada espaço possui finalidades diferentes, portanto, a junção de ambos anularia a qualidade da atividade proposta.

Caso o computador seja utilizado para o desenvolvimento de alguma atividade sem um devido significado, seu uso pode ser avaliado em seu aspecto negativo, por exemplo, apenas como o suplente do quadro de giz. A utilização do computador na escola é estabelecida na prática pelo professor. Desse modo, há uma importante mudança de atitude a ser feita, pois o uso do computador acarreta transformações, ao deixar a escola mais próxima dos progressos que a sociedade faz, porém essa utilização deve ter regras e finalidades pedagógicas.

Dessa forma, Borges (2008, p.151) afirma que:

A capacitação de professores para o uso da informática na educação, especificamente o computador como ferramenta pedagógica, é muito importante, visto que durante sua formação acadêmica os professores não tiveram, em sua graduação, disciplinas que refletissem sobre o uso dos recursos informáticos na sala de aula. O primeiro objetivo de um programa de formação deve ser o domínio técnico, pedagógico e crítico da tecnologia, possibilitando aos educadores a condição de uma leitura crítica dos recursos tecnológicos.

Borges (2008, p. 151) ainda ressalta:

É fundamental que os gestores também passem por um processo de formação, sensibilização e conscientização da importância da tecnologia no processo educacional. Se o gestor não incentiva o uso, o professor não a utilizará. É essencial que o gestor dê testemunho vivo e a partir do projeto político-pedagógico.

Outra questão importante na utilização de computadores na escola, é a realidade do aluno estar inserida nesses espaços formativos, sejam eles por meio de softwares ou outros instrumentos tecnológicos ou informáticos que se ajustem ao seu cotidiano, para que assim as atividades a serem trabalhadas com essas ferramentas estejam imbuídas de significado para o aluno.

Conclusão

Esse estudo propiciou adentrar no mundo da biblioteca e reconhecer que esse espaço se faz importante dentro de uma escola, e como as práticas do profissional que ali estiver, se forem imbuídas de significado podem fazer com que haja produção de conhecimento por parte dos alunos.

Percebe-se que a professora bibliotecária não estava preparada para dinamizar o espaço com o intuito de utilizar os materiais que dispunha para ensinar. Ela não fazia um planejamento prévio e parecia decidir o que fazer com os alunos, quando eles já se encontravam na biblioteca. Em suas práticas, era recorrente o nervosismo por não conseguir o silêncio das crianças, quando utilizava-se de filmes como conteúdo do dia, assim sempre ameaçava intimidando-as para que prestassem atenção. Ela dizia que quem não se calasse iria ter que ler um livro, ou seja, nessa fala da professora, parecia que ela reservava o ato da leitura, como castigo. Muitos alunos demonstravam interesse pelos materiais disponíveis na biblioteca, no entanto, a professora nunca os deixava mexer no acervo.

A biblioteca escolar em questão possuía materiais que propiciavam diferentes formas de ensinar, porém nunca foram utilizados. Não houve integração entre o professor regente e a professora da biblioteca. Ter práticas alternativas para ensinar é um desafio. No entanto, a biblioteca escolar é um ambiente que pode oferecer os instrumentos necessários para que o aprendizado ocorra de forma diferente.

A biblioteca escolar é um espaço em que o aprendizado pode ser feito com diferentes materiais. Cabe ao profissional da biblioteca ter consciência de seu trabalho e tentar fazer uso desse ambiente da melhor forma possível, com finalidade, objetivos, intuito definidos para que assim os alunos possam aprender e eles mesmos questionarem o motivo do por que das coisas, indagarem e assim compreenderem melhor o mundo, ao refletir, questionar, ler, escrever, tendo ações imbuídas de significado; tudo isso como consequência da frequência a biblioteca e das ações do profissional preparado para utilizá-la.

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Recebido: 01 de Julho de 2018; Aceito: 01 de Abril de 2019

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