Chegamos ao fim de mais um ano e oferecemos a nossos leitores um Número Especial da Ensino em Re-Vista. Neste volume, temos quatorze produções de pesquisadores de várias instituições nacionais e internacionais e de distintas áreas do conhecimento. Investigações que apresentam propostas de formação de professores, assim como de processos de ensino e aprendizagem na educação básica.

Os três primeiros artigos são de pesquisadores internacionais e discutem aspectos relevantes e pertinentes à Educação para os dias atuais. O primeiro deles, intitulado Cinco tipos de narraciones históricas interculturales en el currículum, de Sebastián Plá da Universidad Nacional Autónoma de México, apresenta um ensaio pedagógico teórico sobre a relação entre narração histórica no currículo do ensino obrigatório e ensino intercultural de história. São apresentadas cinco tipologias que enquadram as narrativas históricas e sua relação com a interculturalidade mais comum na educação latino-americana e uma reflexão sobre a relação entre narração, interculturalidade e justiça curricular para o ensino de história na América Latina.

O segundo artigo, do autor colombiano Hugo Edilberto Florido Mosquera, intitulado Educación para la diversidad y el reconocimiento de las capacidades y dotación de oportunidades en la escuela: Una necesidad fundante de la educación para todos, discute abordagens educacionais baseadas no direito de reconhecimento pleno da diversidade do ser humano nas formas de fazer, sentir, ser e ser no mundo e tem como objetivo mostrar que entre educação para a diversidade e sua relação com as capacidades humanas e as oportunidades que a escola deve oferecer para a conquista da aprendizagem ao longo da vida, em todas as comunidades.

Os pesquisadores espanhóis Juan García-Rubio e Roberto Sanz Ponce contribuem com este Número Especial da Ensino em Re-Vista com o texto intitulado La necesidad de un currículum prescrito que garantice el derecho a la educación. Nele, os autores abordam a importância do currículo prescrito como salvaguarda da qualidade educacional e do direito à educação. Direito reconhecido em inúmeros tratados nacionais e internacionais, de importância para o indivíduo e para a sociedade, com realidade de realização diferente nos diversos países. Os autores propõem a inclusão de um currículo básico em qualquer currículo prescrito como uma ferramenta útil para garantir o direito à educação para todos os alunos.

O quarto artigo intitulado As concepções de linguagem e a formação de professores do ensino bilingue em Moçambique, de Dagoberto Buim Arena e Lourenço Alfredo Covane, autores brasileiro e moçambicano, respectivamente, aborda a proposta de reformulação dos planos curriculares de formação de professores primários em Moçambique, no que diz respeito às concepções da linguagem. As conclusões do estudo apontam que foram construídos, desde a Independência Nacional do país até a data de hoje, vários modelos de formação de professores primários nos quais há predominância de uma abordagem fônica no ato de apropriação da linguagem, tanto na disciplina de português quanto na disciplina da língua materna.

Os autores brasileiros Alessandra Dutra, Givan José Ferreira dos Santos e Nilson Douglas Castilho, com o artigo Matriz de Referência de Competências e Habilidades para o trabalho com leitura no ensino fundamental II, relatam e analisam a aplicação de uma proposta de matriz de referência de competências e habilidades em leitura como suporte pedagógico para auxiliar professores de Língua Portuguesa, desse ciclo de escolaridade, a diagnosticar em seus alunos habilidades leitoras relevantes que precisam ser desenvolvidas, a fim de tornar os estudantes leitores mais proficientes. Pelas análises realizadas, os autores afirmam que, por evidências empíricas, há contribuição da proposta para o diagnóstico e aprimoramento da competência leitora estudantil.

No sexto artigo, intitulado Formação de professores alfabetizadores pelo Programa Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa: reflexões sobre avaliação realizada por municípios, Leonete Luzia Schmidt e Jacqueline de Souza apresentam uma discussão sobre como os municípios avaliaram a implementação e realização da formação continuada de professores no PNAIC. As autoras concluem que os resultados mostraram que os municípios assinaram o Pacto e designaram coordenação local e orientadores de estudos, que consideraram que a formação fora exitosa. No entanto, não foi constatado movimento por parte dos municípios no sentido de fazer com que a proposta de alfabetização trabalhada fosse transformada em política pública de alfabetização nos municípios.

No artigo Conhecer trajetórias de estudantes negros(as) do ensino médio para transformar histórias de vida, Natalino Neves da Silva e Helenilce Aparecida da Costa Bernardo apresentam uma pesquisa realizada no ensino médio, parte do projeto Núcleo de Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora (UBUNTU/NUPEAAs) da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG), com a participação de treze estudantes em uma escola pública. O problema proposto consistiu em entender como jovens estudantes negros(as) lidam com o processo de construção identitário étnico-racial. Os resultados apontam que tal constituição se manifesta em meio à vivência de uma trajetória marcada pelo racismo, preconceito e discriminação racial, o que implica a necessidade de se investir em práticas educativas voltadas para a promoção da igualdade étnico-racial.

As autoras Cinthia Maria Felicio e Jullyana Pimenta Borges Gonçalves nos brindam com o artigo Concepções da equipe escolar sobre as necessidades formativas e laborais dos alunos da inclusão onde discutem formação, práticas educativas e visão da equipe responsável sobre futura inserção de alunos do Ensino Médio com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) no mundo do trabalho. Os resultados indicam a necessidade de formação docente continuada, voltada à educação inclusiva; melhoria quanto a realização de adequações para favorecer ao aluno com NEE; articulação entre professores de apoio e professores regentes com vistas a relevância da mediação da aprendizagem, essenciais para que o aluno com NEE consiga futura inserção no mundo do trabalho.

O artigo As interações docentes na partilha de saberes ‘tardifianos’, de Cristianni Antunes e Rosane Moreira Silva, discute os Saberes Experienciais de três professores da área das Ciências Naturais à luz de estudos de Tardif (2014). Os resultados mostraram que há trocas de experiências entre os agentes educativos que se caracterizam como uma formação in loco embora não creditada como em cursos de pós-graduação. Como proposição tem-se a possibilidade de se realizar mini jornadas científicas nas escolas sem ônus para o docente a fim de realizar discussões coletivas que podem contribuir no e para o desenvolvimento profissional, além de propagar a residência pedagógica entre os professores considerados novatos.

No décimo artigo, intitulado Podcast como recurso de aprendizagem: um elo entre as mídias digitais, a aprendizagem significativa e o educar pela pesquisa, Márcia Jussara Hepp Rehfeldt e Maurício Severo da Silva fazem uma interface entre a criação de episódios de podcast de autoria discente e as ideias de Demo (2011) sobre educar na pesquisa e na teoria de aprendizagem significativa de Ausubel (2003). A análise dos dados, realizada com o auxílio do software NVIVO, teve como principais resultados: a) a proposta de uma prática pedagógica proposta que se qualifica como sendo uma nova opção dentre as metodologias ativas disponíveis; b) a proposta de um modelo reflexivo que contribui para a elaboração de outras práticas pedagógicas que utilizem mídias digitais com base nos pressupostos teóricos da aprendizagem significativa e do educar pela pesquisa.

No artigo intitulado As dimensões da criatividade no contexto da resolução de problemas matemáticos, os autores Célia Barros Nunes, Manoel dos Santos Costa e Marianne Santos Talher analisam as dimensões da criatividade matemática aflorada em alunos do 5^o ano de escolaridade, quando envolvidos em tarefas sobre o conceito de área, centradas na resolução de problemas. Pela análise e interpretação dos dados, os autores mostram que o trabalho desenvolvido com os alunos em torno da criatividade proporcionou variadas experiências, ricas e desafiantes, como a oportunidade de novas aprendizagens matemáticas, boa interação, socialização e discussão das estratégias utilizadas por eles, apoiadas em suas intuições e conhecimentos. Outra cosntatação é que as dimensões da criatividade foram afloradas, quando estavam a pensar de modos diferentes e de produzirem um bom número de resoluções sobre o problema.

O artigo seguinte intitulado de O uso de mapas conceituais na identificação de obstáculos à aprendizagem de um tema que gera conflito entre ciência e crença: a origem da vida, de Núbia Costa Nascimento, Rosiléia Oliveira de Almeida e Fábio Luís Alves Pena, traz uma discussão sobre os principais obstáculos no aprendizado de um tema que gera conflito entre ciência e religião: a origem da vida. Os participantes, alunos do 3º ano do Ensino Médio, elaboraram mapas conceituais que foram analisados qualitativamente. Nas análises, foram identificados seis obstáculos: 1. diferença entre conhecimento científico e religioso; 2. divulgação de informações científicas equivocadas em meios de comunicação; 3. confusões sobre o significado de teoria e lei; 4. conhecimentos equivocados; 5. rejeição das teorias científicas por razões religiosas; e, 6. postura cientificista de professores durante as aulas. Os autores concluem que o conhecimento científico pode contribuir para o pensar crítico dos estudantes, mas é essencial respeitar a diversidade sociocultural, como também seus contextos de aplicação, para se construir uma sociedade cada vez mais igualitária e justa.

O décimo terceiro artigo, de Rita de Cássia Petrenas, intitulado Artefatos culturais e a abordagem sobre gênero e sexualidade: a revista Nova Escola, apresenta uma análise de artigos sobre a temática sexualidade e gênero presentes na revista Nova Escola, no período de 2000 a 2017. A pesquisa identificou um considerável número de artigos que abordam assuntos variados que podem enriquecer o aprendizado e a prática docente, bem como as experiências construídas no cotidiano das escolas. Na análise construída, a autora indica ser possível identificar limites da linguagem simplificada utilizada pelos textos da revista, a presença de textos com caráter prescritivo, a valorização de modismos e inovações pedagógicos, e a aposta exagerada no empenho dos docentes para conseguirem a solução para os problemas pedagógicos, culturais e sociais que abrangem a prática educativa.

No último artigo, Deficiência Visual e Educação Matemática: estudo dos artigos publicados nos anais dos Encontros Nacionais de Educação Matemática, os autores Vanessa de Paula Cintra e José Augusto Cambraia Beirigo apresentam um estudo das pesquisas que envolvem a deficiência visual, publicadas em todos os anais dos Encontros Nacionais de Educação Matemática, considerado um dos principais eventos da comunidade de Educação Matemática do Brasil. Dos 38 trabalhos encontrados observou-se que nas sete primeiras edições do evento o assunto não foi abordado e, só a partir de 2004 surgiram os primeiros trabalhos na perspectiva investigada no texto e, ainda, em 70% das pesquisas, o objetivo geral foi desenvolver metodologias para o ensino da Matemática para alunos com deficiência visual.

Os leitores e leitoras deste número da Ensino em Re-Vista podem perceber a intensidade e distinção dos debates de inúmeras pesquisas nacionais e internacionais e as diversas possibilidades investigativas ainda existentes.

Agradecemos as contribuições de todos os autores e pareceristas que contribuíram para a publicação deste Número Especial da Ensino em Re-Vista de 2019.