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Ensino em Re-Vista

versión On-line ISSN 1983-1730

Ensino em Re-Vista vol.28  Uberlândia  2021  Epub 29-Jun-2023

https://doi.org/10.14393/er-v28a2021-0 

Dossiê 1 - Formação do professor para o atendimento em ambiente hospitalar

Apresentação

Jucélia Linhares Granemann de Medeiros1 

Yara Fonseca de Oliveira e Silva1 

1Organizadoras


A formação do professor é uma preocupação permanente de pesquisadores da área da Educação, não apenas por ser de interesse da sociedade contemporânea - que reivindica um profissional com formação sólida para acompanhar a complexidade deste momento histórico, que impõe inúmeros desafios -, mas também por ser uma discussão que contribui para a garantia da qualidade do ensino e da aprendizagem.

Tais exigências tornam-se ainda mais prementes quando se trata da Educação Especial e seus atendimentos, perpassando todos os diferentes níveis e modalidades educativas. Por isso, o destaque deste dossiê é para o atendimento educacional em ambiente hospitalar ou domiciliar, uma nova área de estudo que já apresenta um expressivo número de trabalhos voltados para a educação de estudantes em estado de doença.

O atendimento educacional à pessoa com necessidades educacionais especiais é um direito garantido tanto pela Constituição Federal de 1988 quanto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, e, nesse sentido, os artigos reunidos neste dossiê buscam, por meio da reflexão, mostrar a importância de se garantir a continuidade da educação escolar simultaneamente à assistência à saúde.

Quanto à formação do professor para atuar no atendimento pedagógico hospitalar ou domiciliar, o desejável é que associe teoria e prática e, principalmente, que esteja em consonância com as necessidades da escola e de seus discentes, e também com o que determinam as secretarias de Educação municipal e estadual e/ou órgãos responsáveis, tal como o Ministério da Educação. O que não se pode perder de vista é que a assistência aos estudantes adoecidos deve ser individualizada e adequada às dificuldades, trajetórias e desenvolvimento de cada um deles.

Os 12 artigos e a entrevista apresentados neste dossiê da Ensino em Re-Vista, periódico científico do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), discutem ideias e ações que inspiram os profissionais da educação a aprofundarem e ampliarem suas leituras e experiências relativas à assistência a estudantes adoecidos que se encontram internados em hospitais ou acamados em suas residências. Em todas as produções, tanto as internacionais como as nacionais dos diversos estados brasileiros encontram-se as mesmas marcas: o desejo de contribuir para o cumprimento do direito à assistência pedagógica hospitalar e a resistência e oposição aos interesses daqueles que estão à frente da implementação de uma política neoliberal que busca diminuir esse direito.

O artigo “Desafios para a prática docente no ambiente hospitalar: Formação inicial em contexto”, de Milene Bartolomei Silva, Ordália Alves Almeida e Aline Santa Cruz, discorre sobre o atendimento pedagógico no Hospital Universitário de Campo Grande/MS. O estudo contribui para a ampliação das reflexões sobre a atividade educacional em uma classe hospitalar, mediante a análise do papel, das práticas pedagógicas e dos desafios que o professor tem de enfrentar para desenvolver seu trabalho.

O artigo “As práticas educativas e o pedagogo hospitalar”, de Araci Asinelli-Luz, Tatiane Delurdes de Lima-Berton e Michelle Popenga Geraim Monteiro, aborda a atuação de professores em ambiente hospitalar e tem como base a pesquisa qualitativa. As autoras concluem que as práticas educativas podem favorecer a inclusão social e a melhoria clínica de crianças e adolescentes, permitindo-lhes a retomada dos estudos que foram interrompidos pela doença.

O artigo “Atendimento escolar no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão: entre avanços e limites na formação inicial do pedagogo”, de Maria Socorro Lucena Lima, Francy Sousa Rabelo e Marilize de Morais Silva, busca compreender os avanços e os limites do atendimento educativo hospitalar por meio do projeto “Estudar, uma ação saudável”. Trata-se de uma pesquisa de campo realizada com alunas de Pedagogia da UFMA e que constatou a participação efetiva das crianças nas atividades promovidas pelo projeto e a ausência de discussões sobre a educação em espaços não escolares no currículo do curso de formação do pedagogo.

O artigo “A história da educação no Hospital Pequeno Príncipe e a formação contínua dos professores”, de Ana Carolina Venâncio, Itamara Peters e Mariana Saad Weinhardt Costa, descreve os aspectos históricos da educação de crianças e adolescentes hospitalizados. A pesquisa toma como base os estudos desenvolvidos durante a elaboração e implementação do projeto político-pedagógico do Setor de Educação e Cultura do referido hospital, localizado na cidade de Curitiba. A análise centra-se no modo como o direito ao atendimento educativo hospitalar vem sendo organizado e os desafios para a formação do docente que atua nessa área.

O artigo “Atendimento Educacional em Ambiente Hospitalar: Visão do estudante com paralisia cerebral sobre seus direitos e formação”, de Jucélia Linhares Granemann de Medeiros e Yara Fonseca de Oliveira e Silva, refere-se a uma pesquisa realizada no ano de 2020. As autoras investigaram a compreensão de cinco estudantes com paralisia cerebral acerca de seus direitos e atendimentos recebidos, como também abordaram a formação dos professores que atuam no serviço de apoio especializado, mais especificamente, no atendimento educacional em ambiente hospitalar.

O artigo “Educação especial: Formação de professores em matemática no contexto das classes hospitalares em Goiás”, de Ricardo Antônio Gonçalves Teixeira, Ivone Garcia Barbosa e Uyara Soares Cavalcanti Teixeira, analisa o contexto das classes hospitalares em Goiás e o processo de formação de professores de matemática que atuam no Núcleo de Atendimento Educacional Hospitalar de Goiás (NAEH), em Goiânia. A formação de professores de classe hospitalar que ensinam a disciplina foi construída de forma coletiva e orientada em conformidade com as demandas levantadas em campo. A avaliação dos participantes revela importantes contribuições para o trabalho pedagógico, além de reflexões sobre a qualidade da atuação docente nesse espaço de inclusão.

O artigo “Práticas docente e o uso da tecnologia na Classe Hospitalar Semear”, de Emerson Marinho Pedrosa, Paulo Adriano Schwingel e Cristiane Rose de Lima Pedrosa, traz o resultado de pesquisa realizada na Classe Hospitalar Semear, implantada pela Secretaria Estadual de Educação na cidade Recife. Os autores constataram que o uso de tecnologias como mediação pedagógica adequada a essa modalidade de ensino possibilita a construção do conhecimento de forma lúdica, prazerosa, divertida, associada às dinâmicas de socialização indispensáveis a esse ambiente.

O artigo “Planejamento educacional individualizado na Classe Hospitalar: apontamentos de professores em um curso de formação reflexiva colaborativa”, de Adriana Garcia Gonçalves e Aline Ferreira Rodrigues Pacco, analisa estudos de caso que se debruçaram sobre o tema e os Planejamentos Educacionais Individualizados (PEIs). A pesquisa foi desenvolvida em uma diretoria de ensino da rede pública do município de São Carlos/SP, em um curso de formação continuada colaborativa que contou com encontros presenciais, oportunidade em que foram disponibilizadas unidades didáticas na plataforma online do Google Classroom. As autoras constataram que o PEI constitui uma ação favorável tanto para o aluno como para o professor, pois evidencia as principais necessidades e potencialidades do aluno, algo que é imprescindível quando ele se encontra hospitalizado.

O artigo “Doenças Crônicas Não Transmissíveis, Absenteísmo Escolar e Boas Práticas em Pedagogia Hospitalar”, de Léa Chuster Albertoni, parte do princípio de que as doenças crônicas e as de longa duração constituem vertentes preocupantes na vida de uma parcela bastante significativa de crianças e adolescentes. A autora destaca a importância da formação docente como elemento essencial para o redimensionamento das ações pedagógicas e educacionais, na busca de melhores condições de vida para os alunos que vivenciam situações de enfermidade crônica.

O artigo Morte e Classe Hospitalar: possibilidades para uma formação compreensiva do ser hospitalizado via hermenêutica-fenomenológica”, de Hiran Pinel, Herberth Gomes Ferreira e Rodrigo Bravin, descreve a morte como possibilidade do ser-no-mundo da classe hospitalar e as implicações para a formação de educadores que atuam nesse espaço. Conforme os autores, ao educador cabe reconhecer a morte como uma possibilidade existencial desse educando e desenvolver práticas que colaborem para que ele amplie suas possibilidades de ser e consiga transcender o ambiente do hospital.

O artigo internacional “Diseño de una estrategia didáctica centrada en potenciar el pensamiento computacional de jóvenes con enfermedades raras de la Asociación INèDITHOS”, de Francisca Negre Benassar, Sebastià Verger Gelabert e Marc Salas Colom, tem como foco as necessidades educacionais no campo da matemática das pessoas afetadas por doenças raras. O estudo parte da necessidade de desenvolver nos jovens as habilidades digitais mostradas pela equipe de voluntários, em um espaço de treinamento virtual projetado para o uso dos recursos que compõem a estratégia didática.

O outro artigo internacional “Hacia la profesionalización de la pedagogía hospitalaria”, de María Cruz Molina Garuz, visa a contribuir para o avanço da profissionalização da educação em hospitais, segundo o conceito da pedagogia hospitalar, cujo campo de atuação é concebido como parte de um sistema inclusivo de qualidade. Foram analisados os conceitos de profissionalidade e de desenvolvimento profissional, e definido o perfil de competências para o exercício dessa modalidade educacional, mediante a delimitação de funções e competências.

Este dossiê é encerrado com a entrevista da professora Dra. Ediclea Mascarenhas Fernandes, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que a concedeu à Dra. Edna Maria de Jesus, professora da Associação Pestalozzi, da Seduce - GO. Intitulada, “Diálogos sobre a pedagogia hospitalar”, nela a professora Ediclea discorre sobre as trajetórias políticas e sua contribuição para o processo de consolidação da inclusão de alunos com deficiências e/ou necessidades especiais no ensino regular. Também enfatiza a importância dos serviços e/ou atendimentos de apoio/complementares para os processos de aprendizagem e desenvolvimento desses educandos devidamente matriculados em escolas regulares ou instituições especializadas de ensino.

A entrevista e os artigos publicados neste dossiê foram produzidos no decorrer de 2020, ano marcado pela pandemia do Covid-19, que tem sujeitado a população a dores, sofrimentos, perdas, lutos e angústias. Apesar de a pandemia ter acarretado mudanças significativas no âmbito da educação escolar, os autores dos artigos, profissionais da educação, estudiosos e pesquisadores, não esmoreceram e continuaram a discutir e a manter o diálogo sobre a formação do professor e, em específico, a formação para o atendimento hospitalar. O que os move, e a outros pesquisadores dessa área em específico, é a busca pelo direito à Educação de qualidade para todos, assegurada pela legislação, e pelo atendimento pedagógico hospitalar ou domiciliar de estudantes adoecidos. Só o cumprimento desses direitos será capaz de garantir uma vida digna a educadores e educandos, e, por extensão, à sociedade brasileira.

Agradecemos as contribuições de todos os autores e pareceristas que contribuíram para a publicação deste dossiê da Ensino em Re-Vista.

Jucélia Linhares Granemann de Medeiros
Yara Fonseca de Oliveira e Silva
Organizadoras

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