Introdução
A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a principal porta de entrada aos usuários e também o centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Os serviços ofertados são todos gratuitos, uma vez que as unidades integram o Sistema Único de Saúde (SUS). Geralmente, os usuários frequentam unidades que estejam dentro do seu território de moradia, estudo ou trabalho. Na UBS são oferecidas consultas médicas e odontológicas, encaminhamento para especialidades, curativos, retirada de medicamentos, coleta de exames laboratoriais e vacinação.
Nos últimos anos têm se observado uma diminuição na adesão da imunização em pacientes adultos diante dos percalços rotineiros, como: horários divergentes (unidade e usuário) e falha de informação sobre o serviço ofertado aos usuários, além da somatização dos mitos e crenças que estão sendo criados nas mídias sociais e na cultura popular.
Com o intuito de aumentar a adesão dos pacientes e ofertar informações sobre o tema abordado, foi adotada como estratégia a implementação de ações educativas na sala de espera. A estratégia foi constituída visando atuar sobre o entendimento dos usuários, sendo realizada por meio de orientações com um jogo de perguntas e respostas, folders e cartazes explicativos sobre a importância da vacinação.
Assim, este relato técnico tem como objetivo responder a seguinte questão norteadora: “Qual a contribuição da educação em saúde na sala de espera para a adesão de pacientes à vacinação em uma UBS? ”. Desta forma, esse estudo está estruturado em quatro sessões, além desta breve introdução. A primeira sessão apresenta a revisão teórica- empírica do estudo, logo após, na segunda sessão será apresentado o método-empírico, seguido da sessão do levantamento e análise dos resultados, sendo finalizado com a quarta sessão, na qual será apontada as considerações finais dos autores.
Referencial Teorico
O SUS é constituído por níveis de complexidade, divididos em: Atenção Primária à Saúde (APS), Atenção Secundária e Terciária. A APS emprega como método: orientar, responder e suprir as necessidades da população por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF), priorizando ações de promoção, proteção e recuperação à saúde, de maneira integral e continuada. (GIOVANELLA et al., 2009; OLIVEIRA; PEREIRA, 2013).
No âmbito da UBS, ocorre o Programa Nacional de Imunizações (PNI), que contribui para a redução da morbidade e mortalidade por doenças transmissíveis. O PNI demostra ao longo dos anos um aumento na complexidade, uma vez que, em pouco tempo, introduziu-se diferentes vacinas no calendário de rotina e além disso, a cobertura vacinal do Brasil apresenta um desempenho comparável ao de países desenvolvidos (LIMA; PINTO, 2017; SATO, 2015; SILVA JUNIOR, 2013).
E mesmo com o País apresentando boas coberturas vacinais, os inquéritos apontam desigualdade entre os municípios, devido as diversas crises que influenciaram e ainda hoje influenciam na compreensão e aceitabilidade em relação a sua aplicação. Muitas variáveis estabelecem a população a terem opiniões diferentes, de caráter negativo, sobre a importância da vacinação, sendo essas questões demográficas, socioeconômicas, religiosas, científicas, políticas, falta de confiança devido experiências passadas e até mesmo por medo de agulha e de sentir dor (CHAVES; ROSS, 2014; DOMINGUES; TEIXEIRA, 2013; MIZUTA et al., 2019).
Visto a necessidade de contemplar as ações de promoção, proteção e recuperação à saúde, estratégias e ferramentas são utilizadas diariamente nos serviços de saúde, afim de desenvolver um atendimento humanizado e integral. Dentre as estratégias estão incluídas as atividades sobre Educação em Saúde, cujo é entendida como uma alternativa para transformação e empoderamento dos indivíduos sobre sua saúde. É importante ressaltar, que para desenvolver ações educativas em saúde é de extrema importância considerar o conhecimento popular e o contexto em qual estão inseridos (CHAVES; ROSS, 2014; MALLMANN et al., 2015).
Nesta circunstância, a sala de espera constitui-se em uma valiosa estratégia para efetivação de ações educativas, pois é um espaço amplo e de acesso a uma grande quantidade de usuários simultaneamente. As intervenções podem ser estruturadas a partir de diálogos entre acadêmicos, profissionais de saúde e usuários, sendo possível abordar diversos temas, desde necessidades locais ou até mesmo assuntos de importância nacional ou mundial, com o objetivo de promover estímulo ao autocuidado e aproximação entre comunidade e os serviços de saúde.(CALIXTO et al., 2018; ZAMBENEDETTI, 2012).
Metodologia
O referido trabalho foi realizado em uma UBS localizada na região Oeste de São Paulo pertencente a Coordenadoria Centro e a Supervisão Técnica de Saúde Santa Cecília. É uma unidade municipal, tendo como modelo misto de atuação (UBS Tradicional e Estratégia Saúde da Família - ESF). Vale ressaltar, que no mesmo prédio, estão instalados programas do nível primário e secundário, sendo eles: Programa Acompanhantes de Idosos (PAI), Equipe Multidisciplinar de Atenção Domiciliar (EMAD) e Consultório na Rua. Além dos programas citados acima, também estão inseridos outros serviços de nível secundário, compondo-se por: Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e Unidade de Referência à Saúde do Idoso (URSI).
Trata-se de estudo qualitativo, com atividades desenvolvidas pelos graduandos de Fisioterapia de uma universidade privada da grande São Paulo, que realizavam estágio em Saúde Coletiva na UBS referida, o grupo era composto por 8 alunos e um preceptor. No período de desenvolvimento da Sala de Espera, foram realizadas orientações em saúde por meio de um jogo de perguntas e repostas, folders e cartazes explicativos sobre a importância da vacinação.
As orientações foram realizadas durante quatro dias não consecutivos, através de abordagens coletivas ou individuais com duração média de cinco minutos cada. Já o tempo total de atuação do grupo foi de cinco horas diárias. A presente metodologia foi realizada no período de abril a maio de 2019.
Para o levantamento do número de usuários participantes da sala de espera, foi desenvolvido em uma folha sulfite A4 um quadro com numerações de 0 a 100 e para cada usuário orientado um número era assinalado. O Cartão Nacional de Saúde (CNS) também foi utilizado para coleta de alguns dados, sendo eles: data de nascimento e sexo. Já para a verificação da adesão à vacinação, cada usuário era diretamente direcionado para sala de vacina e portando um cartão que continha a seguinte questão: Quais vacinas foram aplicadas? O cartão foi entregue ao final de cada orientação. Todos os pacientes foram acompanhados por um aluno e a questão do cartão preenchida pela equipe da enfermagem, ao final da imunização o cartão era entregue para o aluno acompanhante do paciente. Para melhor visualização, foi desenvolvido um fluxograma de atividades, com auxílio do software Bizagi (Figura 1).
Resultados
Diante a proposta de intervenção 201 usuários foram orientados, sendo 65% mulheres (n=131) e 35% homens (n=70). A média de idade foi de 59 anos e mediana de 63 anos. A menor idade foi de 19 anos e a maior 94 anos. No gráfico 1, podemos analisar os resultados quanto ao número de orientados por dia e o número de pacientes vacinados após as orientações de educação em saúde, ao total 64 pessoas foram vacinadas.
Em relação as vacinas, foram aplicadas 80 doses e as que mais se repetiram foram: Dupla Adulto (Difteria e Tétano - Dt), Febre Amarela, Hepatite B, Influenza e Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba e Rubéola - SCR). Os dados estão dispostos no gráfico 2.
Conclusão
É importante salientar que anteriormente à condução do trabalho, ainda não havia sido realizada ações educativas em saúde quanto à importância da vacinação por meio da sala de espera. Desta forma, não foi possível mensurar em números resultados comparativos.
Contudo, podemos observar que o trabalho apresentou resultados positivos, tanto para participação dos usuários nas atividades propostas quanto para a adesão de 32% dos orientados a realizarem à imunização, demonstrando sua efetividade e viabilidade de implantação.
No presente estudo também foi possível reforçar o trabalho multiprofissional, no caso entre Fisioterapia e Enfermagem, além de salientar a importância da atuação da Fisioterapia com ações que promovam prevenção, promoção e educação à saúde na Atenção Primária.
Diante da comprovada contribuição do presente estudo para a literatura e a prática diária, considera-se relevante a realização de estudos complementares, visando - além de obtenção de parâmetros comparativos - delimitar a faixa etária em que a rejeição se observa maior, com intuito de se produzir ferramentas mais eficazes para o público alvo, derivando para uma otimização de recursos e aumento de adesão à vacinação.