Satisfação Caro/a Leitor/a!

Iniciamos o ano de 2022 ainda fazendo coro ao centenário de vida de Paulo Freire, e, por isso, também o homenageamos como patrono da Educação Brasileira, além de retomá-lo, nesse Dossiê, como autor potente - nacional e internacionalmente - capaz de gerar mais e mais diálogos em defesa do debate democrático para uma educação autêntica e que sempre seja capaz de promover a dignidade humana.

O ano de 2021 tornou-se, por isso, um marco histórico que nos apresentou centenas (se não milhares) de edições de revistas, coletâneas, dossiês, livros, outros, que mostraram a relevância do pensamento freireano no século XXI. Todas as manifestações, sejam quais fossem os diálogos apresentados, homenagearam não só a memória de Freire, mas o que ele nos inspira com sua vigorosa militância pela democracia e pela justiça social.

Esse Dossiê também materializa uma homenagem à Paulo Freire, pois é transversalmente mediado pelo seu conceito de colaboração, ou seja, sustenta-se sua importância, o qual precisa se fazer presente no percurso integrado, não só da educação, mas também na própria condução da produção do conhecimento. Assim, como o próprio Freire expressou, entendemos que:

[...] o sujeito pensante não pode pensar sozinho; não pode pensar sem a coparticipação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto. Não há um “penso”, mas um “pensamos” que estabelece o “penso”, e não o contrário (^{FREIRE, 2013}, p. 87).

Esse é o foco central desse dossiê, cujo tema - A experiência da pesquisa colaborativa em rede - mostra o como a pesquisa pode, e deve ser, mais focada nos “entrelaçamentos”, e expressar a potencialidade de autoria, sempre entremeada pela cooperação. Os artigos apresentados no dossiê mostram a ação da pesquisa como práxis e destaca aquilo que era para Freire o mais relevante: a coparticipação dos sujeitos no ato de pensar, portanto, na produção do conhecimento, como caminho emancipador.

Nesse sentido, apesar dos vários enfoques sustentados pelos/as autores/as dos artigos, dá-se centralidade à proposta de ^{Freire (2013}, p. 47), ao assumir que “a teoria e a prática são algo indicotomizável, a reflexão sobre a ação ressalta a teoria, sem a qual a ação (ou a prática) não é verdadeira”. A incidência terminativa do pensamento de Freire atravessa os/as pesquisadores/as que se filiam a Redecentro - Rede de pesquisadores sobre professores(as) da Região Centro-Oeste/Brasil, e sustenta uma ação crítica que não se dá naturalmente - e que se alinha, acreditamos, à nossa necessidade de gerar uma visão mais crítico-reflexiva, no que se refere a pesquisa e a produção do conhecimento a partir e por meio da construção coletiva.

A melhor maneira de homenagear Freire é mostrar a atualidade de sua obra na centralidade da experiência da pesquisa colaborativa em rede. Essa partilha solidária estendemos aos/às nossos/as leitores/as para gerar a esperança na co-criação de outras percepções de mundo. Assim, é com imensa alegria que apresentamos o nosso dossiê, que mostra o como pesquisadores/as filiam-se na Redecentro¹, desenvolvem e articulam coletivamente conhecimentos sobre temáticas relacionadas ao(a) professor(a) e ao trabalho docente, a partir de uma posição crítica e reflexiva. Nos termos de Paulo Freire, busca-se manter o cuidado com a qualidade teórica e epistemológica das pesquisas, via trabalho coletivo e cooperativo, além da clara explicitação político-ideológica contra hegemônica.

A rede, ao longo de mais de 15 anos, tem tornado possível o envolvimento de estudantes de pós-graduação, de iniciação científica, professores/as das redes de ensino, professores/as da educação superior, resultando, para além da pesquisa e da produção de conhecimento, na consolidação de um movimento formativo, o que valida a troca e a partilha de experiências colaborativas, o que também suscitou o tema desse dossiê que está organizado em torno de dois eixos: o primeiro é intitulado: “Investigação colaborativa e Redes de pesquisa”, em que você encontrará a brilhante entrevista cedida pela professora Maria Isabel da Cunha, oportunidade em que nos traz os diálogos sobre a Pesquisa Colaborativa e em Rede: “o desafio de construir uma caminhada coletiva”. A entrevista é sucedida por quatro trabalhos, que revelaram discussões que caracterizam a complexidade da “Pesquisa Colaborativa em rede”, voltada tanto à produção de conhecimento científico, portanto, para a academia, quanto à participação dos envolvidos - pesquisadores/as e pesquisados/as - de forma significativa.

O segundo eixo, intitulado: “Pesquisa colaborativa x Formação de professores(as)” contém 8 trabalhos que expressam diferentes significados, experiências, processos e dinâmicas de pesquisa, processos facilitadores de aprendizagens, espaços de diálogos e negociações, função social da pesquisa científica, política, educativa e, de modo especial, colaborativa, colocando em destaque o papel intrínseco de co-pesquisadores/as, processos orientadores de novas metodologias, todas as abordagens a partir de um paradigma crítico do conhecimento. Lembremos mais uma vez Freire:

[...] educar e educar -se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isso sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais - em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais (^{FREIRE, 2013}, p. 25).

Na tarefa de fazer um pouco mais, aproveitamos para agradecer à equipe gestora e de edição da Ensino em Re-Vista, que gentil e respeitosamente, por meio de um trabalho de parceria mútua, nos oportunizou a publicação desse dossiê.

Convidamos você, caro(a) leitor(a), à apreciação dos textos que o compõe, de modo a utilizá-los em suas pesquisas e a divulgá-los por entre seus pares, com a finalidade de fortalecer a pesquisa colaborativa em rede, ajudando, em última instância, a ressignificar os processos de construção do conhecimento e do desenvolvimento profissional docente para a emancipação humana.