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Ensino em Re-Vista

versão On-line ISSN 1983-1730

Ensino em Re-Vista vol.30  Uberlândia  2023  Epub 01-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/er-v30a2023-7 

Resenhas

Existe fórmula mágica para aprender?

Existe fórmula mágica para el aprender?

Luciana Lima de Albuquerque da Veiga1 
http://orcid.org/0000-0002-7190-2445

Mauricio Abreu Pinto Peixoto2 
http://orcid.org/0000-0002-2604-279X

César Silva Xavier3 
http://orcid.org/0000-0002-9954-6614

1Doutora em Educação em Ciências e Saúde. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: lucianalimaveiga@gmail.com.

2Doutor em Medicina. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: geac.ufrj@gmail.com.

3Doutor em Educação em Ciências e Saúde. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: cesar.xavier@ifes.edu.br.


RESUMO

Preocupações com a dificuldade de aprendizagem dos estudantes em todo mundo tem gerado diversas pesquisas na área educacional. Além disto, na última década há uma crescente divulgação de métodos que tem a pretensão de ajudar os alunos a serem aprendizes mais eficientes. Esta resenha discorre sobre as contribuições, possiblidades e limitações do “método do poder da aprendizagem - MPA”, que é apresentado no livro “Ensinando os alunos a se ensinarem: O método do poder da aprendizagem”, de Guy Claxton. O método trata-se do relato de sua experiência como educador em diferentes partes do mundo, e demonstra respostas positivas frente aos desafios que foram propostos aos estudantes que participaram das atividades. Vale ressaltar que como qualquer metodologia educativa, o professor deve avaliar a sua realidade e fazer as adaptações necessárias para seu uso, ou ainda, concluir a impossibilidade de aplicação em sua sala de aula.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem; Estratégia de ensino; Aprendiz; Método poder da aprendizagem

RESUMEN

La preocupación por las dificultades de aprendizaje de los estudiantes de todo el mundo ha generado varias investigaciones en el área educativa. Además, en la última década ha habido una creciente difusión de métodos destinados a ayudar a los estudiantes a convertirse en aprendices más eficientes. Esta revisión analiza las contribuciones, posibilidades y limitaciones del “El poder del método de aprendizaje - MPA”, que se presenta en el libro “Enseñar a los estudiantes a enseñarse a sí mismos: El poder del método de aprendizaje”, de Guy Claxton. El método consiste en relatar su experiencia como educador en diferentes partes del mundo, y demuestra respuestas positivas a los desafíos que se propusieron a los estudiantes que participaron en las actividades. Es de destacar que como toda metodología educativa, el docente debe valorar su realidad y hacer las adaptaciones necesarias para su uso, o incluso concluir la imposibilidad de aplicarla en su aula.

PALABRAS CLAVE: Aprendiendo; Estrategia de enseñanza; Aprendiz; Método de poder de aprendizaje

ABSTRACT

Concerns about students’ learning difficulties worldwide have generated great research in the educational field. In the last decade, there has been growing dissemination of methods seeking to help students become more efficient learners. Given this context, this review discusses the contributions, possibilities, and limitations of the “power learning method,” which is presented in the book “The Learning Power Approach: Teaching Learners To Teach Themselves” by Guy Claxton. The method is an account of his experience as an educator in different parts of the world and demonstrates positive responses to the challenges proposed to the students who participated in the activities. It is worth pointing out that, as with any educational method, the teacher must evaluate their reality and make the necessary adaptations for its use or even conclude that it is impossible to apply it in their classroom.

KEYWORDS: Learning; Teaching strategy; Learner; Power of Learning Method

Resenha

A motivação dos estudantes é amplamente discutida na psicologia educacional, destacando-se a necessidade de promover o seu engajamento nas atividades escolares, o que está relacionado com o quanto este estudante está comprometido com a realização e participação ativa dos seus estudos, o que pode envolver desde aspectos comportamentais, emocionais, cognitivos e agente. Portanto, parte do pressuposto que o aprendiz tem um papel importante no seu processo de aprendizagem.

É evidente que o interesse dos estudantes é um elemento fundamental para o seu processo de aprendizagem, mas deve-se ficar atento com esta responsabilização, designando à eles, a exclusividade do sucesso ou fracasso escolar, esquecendo-se das outras variáveis que estão atreladas a este indicador.

Uma das variáveis que deve ser levada em consideração é o fato da maioria dos estudantes não possuírem as ferramentas cognitivas necessárias para desenvolver o aprendizado, em especial os processos de pensamento, mais precisamente aqueles que são responsáveis pela reflexibilidade do indivíduo.

Este livro lançado em 2019, contendo 200 páginas, é uma iniciativa do autor para divulgar parte da sua experiência como cientista cognitivo, especialista em expansibilidade da inteligência, pesquisador da área de educação e de seus trabalhos como consultor educativo em diferentes contextos.

A obra está dividida em 11 capítulos, no primeiro capítulo, Claxton conta sua experiência como aprendiz ao se deparar em sua vida acadêmica com professores que não ficavam supervisionando suas atividades, o que ele nomeia como uma espécie de “negligência benigna”. Dessa forma, ele discorre sobre a necessidade que teve de se tornar o único responsável pela sua aprendizagem. Isso despertou em Claxton um interesse especial em pensar como poderia aprender melhor, exercitando assim, o que ele relata em toda a sua obra como “os músculos da aprendizagem”.

Justamente nesse ponto, a respeito de pensar sobre sua aprendizagem é que Claxton (p. 17) problematiza a situação atual da maioria das escolas. O autor denuncia que a escola não investe numa formação que desenvolva o pensamento dos seus alunos, e acabam por formar, mesmo que involuntariamente, “jovens apáticos, passivos, extrinsecamente motivados, dependentes, dogmáticos, tímidos, frágeis e crédulos”.

Para Claxton, estas escolas, avaliadas pelo desempenho dos seus alunos, se veem obrigadas a valorizar apenas as notas. Em contrapartida ele enfatiza a necessidade de investir num tipo de formação, que seja capaz de desenvolver: a curiosidade; a proatividade em relação ao interesse em apender; a mobilização da motivação intrínseca, ou seja, ir além de estudar para ganhar conceitos e notas, mas buscar a satisfação em desenvolver o aprendizado por algo que o desafie; a mente independente, que busque aprender, que seja participativa do processo de aprendizagem; a criticidade e o ceticismo, que devem ter como objetivo, a não confiança em tudo que lhe é apresentado, principalmente aquilo que não pareça confiável.

Realmente Claxton levanta questões recorrentes e problemáticas que enfrentamos a muito tempo em nossas escolas, além de elencar características essenciais para a formação de alunos que estejam aptos a atender as demandas desta sociedade. Mas em relação a sua tese baseada na sua experiência enquanto aluno, em que a falta de orientação de seu professor, o levou a buscar alternativas para melhorar a sua aprendizagem, não parece ser uma solução dialógica e capaz de ser eficiente para boa parte dos estudantes brasileiros.

Um ponto muito acentuado é o conceito de aprendizagem, ele reserva o capítulo 2, o qual é iniciado com a definição de três temas que têm uma relação similar: conhecimento, aprendizagem e poder da aprendizagem. Conhecimento é aquilo que o aprendiz sabe ou sabe fazer, enquanto a aprendizagem é uma mudança daquilo que ele sabe ou no modo como se faz alguma coisa. O poder da aprendizagem é descrito como a mudança na maneira como o indivíduo aprende. Nesse sentido, fica claro que para entender o poder da aprendizagem e consequentemente o MPA é necessário compreender bem o que é aprendizagem. Para isto, ele cita ao longo da obra várias referências sobre este conceito:

  • A aprendizagem compõe-se de um conjunto de habilidades sofisticadas (p. 83) as quais devem estar bem orquestradas entre si (p. 165), podendo ser treinadas e aprendidas por meio de exercícios (p. 83), para que cada uma dessas capacidades e atitudes de aprendizagem fiquem mais fortes (p.165). Vale lembrar que a aprendizagem não depende apenas da questão de habilidade, mas também de disposição (p. 43).

  • A aprendizagem não é apenas uma simples capacidade de crença, mas algo que envolve paixão e sentimento. [...] ela é cheia de sentimento. Portanto existe uma série de vocabulários que podem expressar os sentimentos envolvidos na aprendizagem: frustrado, surpreso, determinado, satisfeito, intrigado, bloqueado, fascinado, confuso, espantado, absorto, decepcionado, chocado, orgulhoso etc. (p. 44). A aprendizagem sempre envolve surpresas, decepções e frustrações (p. 45).

  • Junto a esses sentimentos, a aprendizagem também promove alegria, pois é uma das formas de felicidade mais prontamente que existem (p. 78).

  • Aprendizagem é um estado confuso e incerto (p. 125).

  • Aprendizagem não deve ser confundida com resultados de educação, ou seja, não significa “obter notas melhores”. Aprendizagem é processo (p. 155).

  • Aprendizagem para a vida das pessoas (casa, trabalho e vida social) envolve atitudes básicas como: curiosidade, ousadia, determinação e colaboração (p. 62). Além disso, a maior parte da aprendizagem que vale a pena para esse mundo real demanda “tempo, esforço, tentativa e erro” (p. 49).

  • É possível melhorar a aprendizagem, estimulando uma cultura em sala de aula que se baseie na ideia de que é possível aprender a aprender. Promover o diálogo sobre as questões de aprendizagem é um instrumento benéfico para os alunos (p. 75).

No capítulo 3, o autor discorre sobre o objetivo do Método o Poder da Aprendizagem:

O objetivo do Método do Poder da Aprendizagem (MPA) é desenvolver todos os alunos de modo a serem aprendizes confiantes e capazes - prontos, dispostos e hábeis a escolher, criar, pesquisar, buscar, resolver e avaliar a aprendizagem por si mesmo, sozinhos e acompanhados, dentro e fora da escola (CLAXTON, 2019, p. 41).

Segundo o autor, o método se propõe a preparar os alunos para os desafios e incertezas da vida futura. Para a escola, o MPA serve como um “trampolim” para aprendizagem, pois pretende ajustar todas as ferramentas disponíveis na “caixa de ferramentas” da aprendizagem, e deixar de focar apenas nas duas que são mais usuais na maioria das escolas: memorizar e repetir (p. 29-30). A “caixa de ferramentas” da aprendizagem apresenta ainda: a observação, a leitura, a crítica, a experimentação, a imaginação, o raciocínio, a imitação, a discussão, as reflexões e a prática.

O capítulo 4 descreve como começar a usar o MPA e sobre alguns ganhos rápidos que este pode proporcionar. No capítulo 5 demonstra por que o poder da aprendizagem é importante, e cita 10 bons motivos para exercitar os “músculos da aprendizagem”. No capítulo 6, novamente percorre sobre a aprendizagem, mas agora por meio do “poder da aprendizagem”. O capítulo 7 aborda a ação do poder da aprendizagem (PA), trazendo algumas ilustrações da sua utilização em sala de aula.

No capítulo 8 são apresentados os princípios de criação da sala de aula MPA. Os relatos de algumas evidências do MPA são encontradas no capítulo 9, e neste capítulo, o autor deixa algumas pistas de como seria este método, pois na verdade não há uma definição clara em toda a obra. Através dos casos de sucesso do MPA, ele cita atividades desenvolvidas nas escolas parceiras, depoimento de alunos e professores, com isto, entende-se que o MPA é um ensino preocupado com o pensamento dos alunos. E uma vez que os alunos dominam as ferramentas cognitivas de aprendizado, eles colocam em prática durante as atividades dirigidas na sala de aula pelo professor. A preocupação central do MPA é o desenvolvimento do pensamento, e o conteúdo específico das disciplinas, será consequência do desenvolvimento deste. Para finalizar, no capítulo 10 estão as distinções e concepções erradas, enquanto no capítulo 11, o autor relata sobre a importância de integrar a cultura a aprendizagem dos estudantes.

É uma leitura fluída e compacta que traz de forma didática temas discutidos na atualidade como: hábitos da mente de Art Costa e Bena Kallick, o desenvolvimento da mentalidade de crescimento (conhecido no Brasil como “mindset” de crescimento) de Carol Dweck, pensamento visível de David Perkins e Ron Ritchhart, desafio da aprendizagem (“buraco da aprendizagem”) de James Nottingham, dimensões da aprendizagem de Robert Marzano, centelhas de gênios de Robert e Michèle Root-Bernstein, e ainda, autorregulação, pensamento crítico, pensamento criativo, metacognição entre outros. O que torna o livro um catálogo de referências de estudiosos da aprendizagem contemporânea.

Mas vale ressaltar que não se trata de um livro acadêmico ou que possa ser tomado como um modelo exclusivo a ser praticado pelo professor. Deve ser encarado como uma obra baseada em um relato de experiência, e que cada professor ou aprendiz que deseje fazer uso do método apresentado por Claxton, deve levar em consideração a realidade que o cerca, fazendo as adaptações necessárias. Pois afinal de contas, a aprendizagem é processo, e cada um vai desempenhar o seu, por isto, aprender a aprender é possível, mas reconhecendo-se como autor da aprendizagem, e para isto, métodos e dicas de aprendizagem são úteis como parâmetros e boas práticas, mas não como fórmulas mágicas.

Referências

CLAXTON, Guy. Ensinando os alunos a se ensinarem: O método do poder da aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019. [ Links ]

Recebido: 01 de Setembro de 2021; Aceito: 01 de Agosto de 2022

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