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Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências

versão impressa ISSN 1415-2150versão On-line ISSN 1983-2117

Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. vol.22  Belo Horizonte  2020  Epub 19-Mar-2020

https://doi.org/10.1590/21172020210104 

Artigos

CAMINHOS EDUCATIVOS PARA UM MELHOR CONVÍVIO ENTRE HUMANOS E ONÇAS

CAMINOS EDUCATIVOS PARA UM CONVIVIO MEJOR ENTRE HUMANOS Y JAGUARES

EDUCATIONAL PATHS FOR HUMANS AND JAGUARS TO LIVE IN TOGETHER

LAKSHMI JULIANE VALLIM HOFSTATTERI  *
http://orcid.org/0000-0002-6913-3499

HAYDÉE TORRES DE OLIVEIRAII  **
http://orcid.org/0000-0003-3616-6099

IInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Catu, BA- Brasil.

IIUniversidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP- Brasil.


RESUMO:

Esta pesquisa ocorreu na Caatinga baiana, imbricada a um curso de Educação Ambiental para professoras/es, objetivando melhor compreender os conflitos entre humanos e onças (Panthera onca e Puma concolor), e propor caminhos educativos para superá-los. Os dados foram coletados por questionários, entrevistas com caçadores, causos de onças e grupo focal. Evidenciou-se que o sentimento humano predominante em relação às onças é o medo, e que existem diferentes motivações para a sua caça. Entretanto, a difícil vida na Caatinga contribui para que elas sejam vistas pela comunidade como competidoras pelos recursos naturais. Indicamos uma educação sensibilizadora e contextualizada à realidade local, que busque soluções conjuntas para os conflitos.

Palavras-chave: Caatinga; Conflitos entre humanos e onças; Educação Ambiental

RESUMEN:

Esta investigación ocurrió en el bioma Caatinga (estado de Bahia - Brasil) insertada en un curso formativo en Educación Ambiental para profesoras y profesores, con el objetivo de mejor comprender los conflictos humanos con las onzas (Panthera onca e Puma concolor, respectivamente) y proponer caminos educativos para superarlos. Se recolectaron los datos por medio de cuestionario, entrevistas con cazadores, cuentos de jaguares y pumas, y grupo focal. Se evidenció que el sentimiento humano predominante en relación con las onzas es el miedo y que existen diferentes motivaciones para su caza. Sin embargo, la difícil vida en el bioma Caatinga contribuye a que sean vistos por la comunidad como competidores de recursos naturales. Indicamos una educación sensibilizadora y contextualizada a la realidad local que busque soluciones conjuntas a los conflictos.

Palabras clave: Bioma Caatinga; Conflictos entre humanos y onzas; Educación Ambiental

ABSTRACT:

This research was carried out in the Caatinga biome (State of Bahia-Brazil) inserted in a training course in Environmental Education for teachers, aiming to better understand the conflicts between humans and jaguars (Panthera onca e Puma concolor), besides to discuss educational paths to overcome them. The data were obtained by questionnaire; interviews with hunters; jaguar´s histories and focus group. It has been shown that the predominant human feeling about jaguars is fear and that there are different motivations for their hunting. However, the difficult life in the Caatinga biome contributes to their being seen by the community as a competitor of natural resources. We indicate a sensitizing and contextualized education applied to local reality that seeks collective solutions to the conflicts.

Keywords: Caatinga Biome; human-jaguar conflicts; Environmental education

INTRODUÇÃO

A relação entre os humanos e onças possui longa data, envolvendo sentimentos como fascínio, medo e poder. Nas américas, os povos primitivos as cultuavam como divindades. No Brasil, as pinturas rupestres indicam sua presença entre os primeiros habitantes. Porém, atualmente, temos um cenário preocupante pois nosso maior felino, a onça-pintada (Panthera onca), está ameaçado de extinção, e a onça-parda (Puma concolor) vem sofrendo forte declínio populacional.

Ambas as espécies correm risco de desaparecer em todos os biomas brasileiros devido a inúmeros fatores: perda de habitat, com a conversão das áreas para a agricultura e pecuária; fragmentação de habitats; e o desaparecimento de suas presas naturais. Além disso, suas baixas taxas de reposição natural e a caça em retaliação à predação de criação animal são fatores importantes na compreensão deste declínio (ASTETE et al., 2007).

Pesquisas em diferentes países, como em Portugal, na Estônia e países sul-africanos, descrevem conflitos entre humanos e animais predadores, por exemplo: hienas (Hyaena hiena); felinos (Acinonyx jubatus, Panthera pardus, Panthera leo) e o canídeo (Lycaon pictus) (DALERUM et al., 2008). Já o lobo é um dos animais predadores mais temidos e relacionados a sentimentos ruins (KELLERT, 1985; ÁLVARES; PEREIRA; PETRUCCI-FONSECA, 2000; RANDVEER, 2006).

As onças, enquanto predadoras do topo da cadeia alimentar, são espécies-chaves para a manutenção do ecossistema e da biodiversidade, devido ao controle que exercem na teia alimentar (DALERUM et al., 2008). Mas, apesar de sua importância ecológica, da beleza e do fascínio que exercem, existem muitos entraves para a sua conservação, em função dos conflitos com os humanos. Muitos trabalhos de biologia da conservação indicam a Educação Ambiental como instrumento para obtenção de uma melhor aceitação e conservação dos predadores, porém, limitam-se a apontar que, quanto mais anos de estudos e informações, melhores são as atitudes humanas em relação a eles (KELLERT, 1985; ÁLVARES; PEREIRA; PETRUCCI-FONSECA, 2000; CONFORTI; AZEVEDO, 2003; ZIMMERMANN; WALPOLE; LEADER-WILLIIAMS, 2005; RANDEVEER, 2006; SANTOS; JÁCOMO; SILVEIRA, 2008).

Em relação ao campo da Educação Ambiental, observa-se seu crescimento enquanto área de produção de conhecimentos, tanto em âmbito nacional quanto internacional, que impactam a forma de entender, praticar e, consequentemente, fazer pesquisa. No Brasil, conforme demonstram Farias, Borges e Carvalho (2017), é relevante o aumento de cursos de pós-graduação nos quais se desenvolvem pesquisas sobre Educação Ambiental, bem como as conferências nacionais, relevantes para área, o que leva a uma ampliação do arcabouço teórico e das respectivas técnicas de pesquisas. Observa-se, atualmente, que, diante de uma diversidade de paradigmas, precisa existir a preocupação em assegurar a coerência entre objetivos, métodos e procedimentos de pesquisas (PAYNE, 2016; HART et al., 2018; THIEMANN; CARVALHO; OLIVEIRA, 2018).

Devido à importância da onça do ponto de vista ecológico, da inspiração que promove em seres humanos e, também, pelo princípio ético de que todos os seres vivos têm direito à existência, o presente estudo teve por objetivo compreender esses conflitos humanos para que fossem pensados possíveis caminhos educativos, buscando o aumento da aceitação e da tolerância humana para com elas. Consideramos, para tal, a geração de pensamento crítico e emancipatório do educador Paulo Freire (2003), e procuramos desenvolver uma Educação Ambiental que pudesse vir a “contribuir para uma mudança de valores e atitudes, formando um sujeito ecológico, capaz de identificar e problematizar as questões socioambientais, e agir sobre elas” (CARVALHO, 2008, p. 156-157).

O manuscrito se estrutura na descrição dos procedimentos metodológicos; apresentação e discussão dos resultados; formulação de propostas educativas para o trabalho com essa temática; e algumas considerações finais que apontam limites e possibilidades de estudos futuros.

1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.1 LOCALIZAÇÃO

A escolha da área a ser trabalhada se deu, inicialmente, pelo levantamento de locais com ocorrência de presença de onças, no estado da Bahia. Entre esses locais estava a Área de Proteção Ambiental (APA) Dunas e Veredas do Baixo-Médio São Francisco, na Caatinga baiana. Após o contato com o gestor ambiental dessa APA, ele indicou que a Secretaria Municipal de Educação, no município de Barra, poderia ser receptiva ao tema desse trabalho. A Secretaria, ao aceitar a parceria, propôs que fosse realizado na Escola Municipal Espírito Santo, uma escola de ensino fundamental, localizada na zona rural, comunidade de Brejo dos Olhos D’Água.

O município de Barra, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, possui cerca de 49 mil habitantes, dos quais 54,5 % vivem na zona rural. A região possui algumas zonas úmidas em meio ao semiárido, que são os brejos, onde vivem cerca de 16 mil pessoas, incluindo a comunidade escolhida. Lá se praticam culturas de subsistência e criação de animais (SOUSA SOBRINHO, 2006).

1.2 GRUPO PARTICIPANTE E COLETA DE DADOS

A pesquisa se deu por meio de um curso de formação em Educação Ambiental, para um grupo constituído por 25 pessoas, sendo: 19 professoras/es3 da região, com formação nas áreas de Letras, Pedagogia e História; um Técnico em Meio Ambiente; e seis integrantes da comunidade que se interessaram pela temática. A turma foi convidada, durante todo o curso, a construir o conhecimento, de forma participativa. Houve quatro encontros, entre setembro de 2012 e março de 2013, com uma média de 20 participantes em cada um, totalizando 40 horas. Além dessa turma de formação, foram entrevistados sete caçadores pela turma participante da pesquisa. Em cada etapa metodológica estará indicado o número exato de sujeitos envolvidos, uma vez que houve flutuação, tanto no número de participantes de cada encontro, como das pessoas que se propuseram a realizar as atividades propostas.

1.3 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

A coleta de dados4 esteve completamente entrelaçada ao processo formativo, e se insere na abordagem da pesquisa qualitativa. Oliveira (2007, p. 37) descreve a pesquisa qualitativa “como um processo de reflexão e análise da realidade, através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de seu estudo, em seu contexto histórico e/ou segundo a sua estruturação”.

Consideramos também a perspectiva de Sampiere, Fernández e Lucio (2013, p. 34), que postulam que a pesquisa qualitativa “se fundamenta em uma perspectiva interpretativa, centrada no entendimento do significado das ações de seres vivos”, envolvendo emoções, experiências, significados e outros aspectos subjetivos. O processo da indagação é mais flexível e a pesquisa pode ir se moldando conforme algumas respostas vão sendo postas.

Nossa análise dos dados percorreu o viés interpretativo, no qual os dados não existem de forma independente. Eles são produzidos pelos sujeitos e pesquisadora nos momentos de seus encontros, o que é fundamental para realizar interpretações em que os sujeitos se identifiquem (BANKS, 2009). Utilizamos a hermenêutica no ato de interpretar o subjetivo durante o processo conhecedor e de revelar o que está implícito no explícito (HERMANN, 2002). Segundo Carvalho e Grün (2005), o entendimento de significados através da hermenêutica ocorre pela dialogicidade e interpretação, que conduz a produção de sentidos.

Carvalho (2008, p. 34) descreve que o fazer educativo, dentro da perspectiva hermenêutica, “aciona ênfases e constrói, dentro de sua autonomia relativa, uma via compreensiva do meio ambiente como campo complexo das relações entre natureza e sociedade”. Além disso, Gadamer (2012) considera que a hermenêutica contribui para um melhor entendimento e elucidação do preconceito e da pré-compreensão que constituem nossos pensamentos. Autores que trabalham os conflitos entre humanos e predadores de topo, em uma perspectiva conservacionista, também consideram a compreensão e a percepção das pessoas como elemento essencial (MARCHINI; MACDONALD, 2012).

Dessa maneira, utilizamos a análise de conteúdo e a hermenêutica na análise dos resultados, valorizando a descrição e procurando um caminho de interpretação conjunta, de maneira a produzir dados e interpretações significativas aos sujeitos, em um processo de construção e reconstrução de compreensões sociais, a partir das manifestações discursivas dos sujeitos da pesquisa (MORAES; GALIAZZI, 2011).

Como essa pesquisa utilizou diferentes etapas metodológicas, evidenciou-se que, em alguns momentos, os dados foram convergentes em confirmar determinado aspecto. Mas as diferentes técnicas também nos permitiram explorar perspectivas diferenciadas, que se complementaram durante a análise e interpretação dos resultados. No quadro 1, observa-se a síntese das etapas metodológicas utilizadas, seu momento de ocorrência e os respectivos números de participantes envolvidos.

Fonte: elaborado pelas autoras

Quadro 1 Síntesedas etapas metodológicas 

1.4 DESCRIÇÃO DAS ETAPAS METODOLÓGICAS

1.4.1 QUESTIONÁRIO

O questionário é uma das formas mais comuns de coleta de dados. As informações obtidas por meio de questionário permitem observar características dos sujeitos envolvidos e a natureza do problema pesquisado (RICHARDSON, 2007).

No presente trabalho, um questionário foi aplicado no primeiro encontro, com o grupo participante, e foi respondido, voluntariamente, por 14 integrantes. Dentre o total das dez questões, quatro tratavam sobre a onça5 e estão descritas na apresentação dos resultados. Essa etapa metodológica serviu para um levantamento inicial de posicionamentos, entendimentos e percepções individuais.

1.4.2 ENTREVISTA

A entrevista, utilizada nessa pesquisa, segue a perspectiva apresentada por Szymanski (2011, p. 13) que a entende enquanto um processo reflexivo e dialógico onde se negociam compreensões e aceita-se que podem acontecer “estratégias de ocultamento que entram em ação quando o entrevistado esconde informações que supostamente acha que podem ser ameaçadoras ou desqualificadoras para si ou para seu grupo”. Consideramos, também, a perspectiva de análise de conteúdo, a partir da hermenêutica, que auxilia pesquisadores/as a superarem intuições ou impressões precipitadas, possibilitando a análise de significados invisíveis à primeira vista (SZYMANSKI; ALMEIDA; PRANDINI, 2011).

A partir dessas perspectivas, o grupo participante foi a campo pesquisar e entrevistar moradores locais sobre hábitos de caça. O registro se realizou de forma escrita, no ato na entrevista, pelo próprio grupo participante. Esses dados são considerados de difícil obtenção, pois estão associados a uma prática ilegal no país. No entanto, consideramos que, as(os) professoras/es, por fazerem parte da comunidade, teriam maior facilidade de acesso aos informantes.

Como a prática formativa foi um elemento que acompanhou toda a pesquisa, a proposta de o grupo participante ir a campo cumpriu também o objetivo didático de que se familiarizassem com o ato de pesquisar, ao mesmo tempo que proporcionasse a percepção de algumas questões culturais, através da vivência pela experimentação. Um dos riscos possíveis, ao adotarmos esse procedimento, é a perda da padronização na coleta dos dados, apesar de todos os cuidados na preparação prévia para a realização dessa etapa. Porém, mesmo diante desses limites, os ganhos educacionais e os dados gerados foram fatores que justificaram tal escolha. Para tanto, o roteiro de entrevista foi elaborado coletivamente, com questões levantadas pela primeira autora e outras que o grupo participante gostaria de conhecer, relacionadas aos hábitos da onça. Essa realização conjunta permitiu a apropriação das questões pelas/os participantes.

Para que houvesse um tempo hábil para a coleta dos dados, o roteiro foi elaborado no terceiro encontro, em novembro de 2012, e as entrevistas foram devolvidas e discutidas, em grupo, no último encontro formativo, em março de 2013. Orientamos que, ao realizar as entrevistas, procurassem se apresentar, falar sobre a pesquisa, e que não julgassem as pessoas, já que o objetivo era simplesmente conhecer os hábitos. Outra orientação foi em relação ao direito das pessoas de não responderem ou interromperem a entrevista. Foi, também, solicitado o não direcionamento das respostas pelo enviesamento das perguntas ou pela entonação de voz.

1.4.3 COLETA DE CAUSOS DE ONÇA

Segundo o Dicionário Aurélio, causo significa: conto, história, caso (HOLANDA, 1986). Polo (2010) define o causo como uma narrativa oral curta, muito próxima do conto realista, que tem origem em experiências e crenças ancestrais que combinam elementos do concreto, conectados à realidade, para dar credibilidade ao fato, ao mesmo tempo em que projetam o imaginário. O causo difere de outras narrativas, ao situar a experiência humana em um tempo e espaço.

Nessa pesquisa, utilizamos os causos para desvelar aspectos do modo de vida caatingueiro em relação ao tema pesquisado. Assim, essas narrativas cumpriram a função de entender o imaginário e a cultura local através da sua análise de conteúdo. Essa terceira etapa metodológica consistiu na coleta de causos de onças, tanto junto ao grupo participante da pesquisa, com histórias de onças que emergiram durante o transcorrer de todo o curso e, no momento das entrevistas, com os caçadores, onde as pessoas, em campo, perguntaram a eles se conheciam algum causo, e o registraram. Todos os caçadores entrevistados narraram alguma história.

1.4.4 GRUPOS FOCAIS

Por fim, no último encontro, utilizamos os grupos focais para aprofundar algumas questões que se delinearam durante o decorrer da pesquisa, com um entendimento desse momento enquanto formativo (DI TULIO et al., 2019).

O grupo focal se distingue de outras formas de entrevista por promover o debate de temas com objetivos específicos, permitindo a reflexão coletiva de ideias, significados e conhecimentos, a partir da variedade de pontos de vista de uma questão (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002). Assim, são falas que promovem insights e se influenciam no conjunto interatuante do grupo. O grupo focal deve contar com uma pessoa mediadora, que busca potencializar a comunicação e consolidar a interação social do grupo (GASKELL, 2003), e que intervenha diante de concentração de fala ou mudança de foco.

As questões trabalhadas nesse momento se caracterizaram por aproximar a utilização dos recursos naturais na Caatinga à tolerância e aceitação da onça, ou não. As pessoas participantes foram separadas em dois grupos. Ambos ocorreram no último encontro, com duração aproximada de 3 horas, em diferentes momentos, um pela manhã e o outro pela tarde. O primeiro foi formado por 10 pessoas que já haviam tido contato direto com a onça, pessoalmente ou através de algum familiar próximo que compartilhasse a mesma casa, pois consideramos que essa pessoa transmitiria essa vivência com bastante detalhes. O segundo grupo foi composto por 10 pessoas que não tiveram esse contato direto, e mais um integrante que teve contato direto, porém não pôde participar do primeiro grupo, por incompatibilidade de horário, totalizando 11 participantes.

Já sabíamos, através de levantamento prévio, que era uma distribuição equitativa e essa nos pareceu uma questão importante para ser analisada em grupos diferentes, pois pretendíamos investigar se o contato direto influenciava na forma como as pessoas se posicionam em relação ao tema. Ambos atenderam a indicação literária de não ultrapassar 12 integrantes e proporcionaram um clima amigável ao diálogo (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002; BARBOUR, 2009).

Para auxiliar na coleta de dados, solicitamos às pessoas que respondessem a um roteiro de questões, elaborado para o grupo focal, antes de seu início, o que gerou um registro de todas as respostas por escrito. Gaskell (2003) descreve que o roteiro deve ser planejado para suprir os objetivos da pesquisa e criar um referencial lógico e confortável para a discussão, além de funcionar como um esquema preliminar na análise das transcrições.

Os dois grupos focais realizados nesta pesquisa foram gravados em áudio e transcritos integralmente e, as respostas dadas individualmente, através do roteiro, foram tabuladas. Todos os dados foram analisados em seus conteúdos de forma comparativa, tanto entre os distintos grupos, quanto em relação às mudanças individuais de pensamento, frente à interinfluência no processo grupal.

2 RESULTADOS

2.1 QUESTIONÁRIO:

O questionário permitiu um primeiro levantamento, sobre assuntos que viriam a ser trabalhados em outros encontros junto ao grupo participante da formação, e foi respondido por 14 pessoas. Nele, indagamos sobre: “a) a percepção da onça na região; b) sobre seus malefícios e benefícios; c) se tiveram contato direto ou indireto com as onças; d) quão familiares são as histórias de onça em suas vidas”.

Percebe-se, no conjunto das respostas sobre a percepção da onça, o predomínio do medo, como exemplificado em “é um perigo para as pessoas da comunidade”. Ao mesmo tempo, existe um reconhecimento das causas antrópicas no conflito entre humanos e onças: “a presença das onças na comunidade é por causa da falta de alimento, o que faz com que esse animal migre para próximo dos criatórios. Através das queimadas, muitos dos animais perdem seu habitat”.

Entre os benefícios citados, duas pessoas indicaram a beleza do animal, como se exemplifica: “Eu especificamente não conheço os benefícios [...], apenas acho que a sua presença embeleza a natureza e com isso enriquece a floresta e o equilíbrio da cadeia alimentar”. Essa foi uma das poucas respostas em que houve a consideração pela dimensão estética. Oito pessoas destacaram, entre os benefícios, o equilíbrio ecológico ou o entendimento de que a natureza está interligada, e que seus diferentes elementos têm funções. Como já havíamos conversado brevemente sobre a função dos animais topo de cadeia, isso certamente influenciou as respostas. E, sobre os malefícios, estão os ataques à criação animal e ameaça à vida humana, como exposto: “Quanto aos malefícios, em época de seca, ela costuma comer os animais dos criadores de cabra, ovelhas e até mesmo cavalo”. Pela resposta, detecta-se o período em que a onça se aproxima da comunidade - o período da seca.

No questionamento sobre a presença da onça na comunidade, apenas três respostas foram negativas em relação a não ter visto onça ou de não conhecer alguma pessoa na comunidade que já havia visto.6 Todas as outras pessoas já viram ou conheciam alguém na região que já tinha visto a onça, incluindo a onça-pintada e preta (Panthera onca) ou a onça-parda (Puma concolor). Entre os respondentes que relatam os encontros, destacamos o seguinte: “Sim, tive a oportunidade de ver uma onça suçuarana na comunidade de Brejo da Vara”. Este exemplo de resposta foi interessante, porque a pessoa valorizou o fato de ter visto a onça. Além disso, praticamente todas as pessoas conheciam algum causo de onça.

Os resultados obtidos no questionário inicial foram fundamentais para compreendermos o quão presente são as onças no cotidiano da comunidade, e ter um entendimento primário de como percebem e se relacionam com o animal. Esses resultados colaboraram para pautar as demais formas utilizadas na coleta de dados.

2.2 ENTREVISTA COM CAÇADORES

Os dados apresentados nesta sessão são os que foram coletados junto aos caçadores entrevistados pela turma participante da pesquisa e trouxe apontamentos relevantes. A maioria das pessoas já havia mencionado conhecer algum caçador, algumas nas próprias famílias e as entrevistas tiveram por objetivo conhecer aspectos culturais dos caçadores e suas percepções sobre o comportamento da onça.

Essa atividade pôde ser feita tanto individualmente como em grupo, frente ao argumento de que não havia tantos informantes/caçadores. Assim, foram realizadas: quatro entrevistas individuais, uma em dupla, uma em trio e outra com um grupo de seis pessoas, totalizando sete caçadores entrevistados por 15 pessoas do grupo participante. Nem todas as respostas desses roteiros de entrevista foram completas, alguns entrevistados não sabiam ou não quiserem responder determinadas questões. Assim, procuramos expor no quadro 2 uma síntese, com o conteúdo mais significativo, extraído do conjunto de dados.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Quadro 2 Resultados das entrevistas com caçadores 

2.3 CAUSOS DE ONÇAS

Durante nossos encontros formativos, nove histórias emergiram espontaneamente durante o transcorrer do curso e foram registradas pela primeira autora e, na realização das entrevistas com os caçadores, tivemos mais sete histórias recolhidas, o que totalizou 16 histórias. Procuramos identificar, na análise de conteúdo, como era narrada a relação entre os seres humanos e as onças, observar como os conflitos eram descritos e quais desfechos as histórias apresentavam. E procuramos discutir, junto ao grupo participante, a veracidade dessas histórias.

Os causos apresentados na sequência foram coletados junto aos caçadores pelo grupo participante durante as entrevistas. Entre esses, temos causos curtos, que descrevem algo factual, como no seguinte exemplo: “Segundo o entrevistado [um caçador] dois tios dele foram esperar uma onça no bebedouro. Quando a onça chegou, não se sentiram seguros para matá-la e deixaram ir embora, com medo dela não morrer e vir atrás deles”. Outros causos misturam elementos reais aos fantasiosos: “Dois caçadores foram caçar. Um deles ouviu um urro de um animal. O compadre perguntou para o outro: - isso é um barulho de um carro? - Meu compadre, não é carro, é onça. - Meu nome é fui. E corre até hoje com medo da onça”.

No intuito de entender os conflitos entre as pessoas e as onças, um elemento que merece destaque é justamente o de que as narrativas recolhidas apresentaram ‘um duelo’. Os seres humanos e as onças são concebidos como espécies que se enfrentam e se ameaçam. No geral, apenas uma das espécies vai sair viva. O ser humano pode apresentar sequelas como um medo eterno. Por outro lado, quando o humano vence a onça, transforma-se em um herói. O conjunto das narrativas recolhidas não traz, em nenhum momento, aspectos de uma convivência harmoniosa com as onças, porque as pessoas que as narram, provavelmente, não concebem outras formas que não sejam as conflituosas, e estes aspectos acabam por se retroalimentarem.

Como também consideramos a atividade de coleta de causos enquanto um processo formativo, fizemos uma roda de conversa com o grupo participante para dialogarmos sobre quais foram as dificuldades e os aprendizados no ato de realizar as entrevistas sobre as onças, e os causos em si. Todas as pessoas afirmaram que gostaram da experiência de entrevistar e que adquiriram mais conhecimento sobre as onças. Enquanto dificuldade, também foi unanimidade a desconfiança que os entrevistados tinham sobre a finalidade da entrevista e o risco de terem seus nomes mencionados, pois não queriam ser identificados. Quando questionamos se o recolhimento dos causos de onça promoveu alguma mudança de perspectiva, a maior parte das pessoas participantes confirma que sim, indicando, principalmente, a desmistificação de que ‘as onças atacam, sem motivo, qualquer ser humano’.

Ponderamos este aspecto como um ganho educacional muito relevante, pois foi uma oportunidade que tiveram de vivenciarem algumas narrativas que elucidaram essa questão. Dessa maneira, as pessoas puderam experimentar uma maior familiaridade com as onças, através de suas histórias, o que pôde gerar uma ressignificação e constituir novas formas de pensamento e atuação.

3 GRUPO FOCAL

Como já descrito, houve a formação de dois grupos focais: o primeiro com as pessoas que tiveram contato com a onça e o segundo com as pessoas que não tiveram esse contato. O roteiro utilizado para condução da entrevista continha as seguintes questões: 1) O papel da onça no ecossistema; 2) Se aceitam a presença da onça na região; 3) Os papéis individuais e coletivos para conservação do ambiente; 4) Se existe a possibilidade de mudança de hábitos para garantir um melhor convívio com as onças; 5) Se após o contato com a onça aumentou o repúdio ou a aceitação dela; 6) Qual a relação entre o fato de se morar na Caatinga e a disputa por recursos entre as onças e os seres humanos.

Todas essas questões foram respondidas individualmente e, depois, discutidas em grupo. Assim sendo, foi possível observar mudanças de posicionamento. E, como descrito na literatura, muitas pessoas refletiram e mudaram de opinião ao ouvir outros argumentos e novas informações trazidas pelos demais integrantes do grupo. Como a discussão foi extensa, vamos destacar os pontos mais relevantes.

Em relação ao entendimento sobre o papel ecológico deste animal, as pessoas afirmaram que influi positivamente na aceitação da onça quando existe a preocupação da manutenção ecossistêmica. Entre as 21 pessoas participantes dos dois grupos focais, oito pessoas afirmam não querer a presença da onça próxima à comunidade. Porém, entre essas, apenas uma teve o contato direto com o animal. Nas que aceitam a presença da onça, existe o argumento a favor de que as futuras gerações têm o direito de conhecer esse animal e a preocupação com o equilíbrio da natureza, o que demonstra um forte senso ético. Houve um relato de um participante que morou anteriormente em uma região onde a onça foi extinta e que relatou os problemas decorrentes, como a superpopulação de queixada (Tayassu pecari) na ausência do predador, causando problemas à agricultura e à economia local. Esse foi um exemplo concreto do que ocorre quando se perde o predador na cadeia alimentar.

A questão sobre os papéis individuais e institucionais na defesa ambiental e das onças, foi elaborada pela percepção da primeira autora do não entendimento claro sobre eles. Constatou-se uma forte inclinação a responsabilizar o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o governo pelo descompromisso com a fiscalização e com ações na defesa ambiental, e pouco, ou quase nenhum, entendimento dos seus papéis individuais ou sociais.

Observamos que as pessoas não se manifestaram sobre o papel da educação e sua potencial contribuição na formação ambiental de estudantes. Assim, procuramos inserir na discussão dessa pergunta o papel institucional da escola para a comunidade. É interessante notar também que, apesar da escola estar situada dentro de uma APA, muitas/os professoras/es não sabiam e não incluem discussões pertinentes a esse ambiente em suas práticas. Isso também é discutido por Frizzo e Carvalho (2018), que destacam que a proximidade geográfica das áreas naturais não é garantia de uma aproximação pedagógica com a natureza ou de uma maior ambientalização curricular.

Quando perguntamos sobre os hábitos que a pessoa estaria disposta a mudar, duas pessoas responderam que não é possível mudar e que não estão dispostas a isso. Em outras duas respostas, afirmam que é possível mudar. Entretanto, sugerem não mudanças pessoais, mas sim um afastamento da onça. Assim, uma declara que as onças devem ser levadas para algum zoológico e a outra afirma que as onças devem ser retiradas da região. Seis respostas descrevem a mudança de pensamento e conscientização das outras pessoas para a mudança, se ausentando do processo. As demais respostas destacam a atuação em aspectos conservacionistas, tais como: evitar desmatamentos e queimadas ou a realização de um melhor planejamento territorial.

Na questão se o contato com a onça aumentou o repúdio ou a aceitação, foi considerada por nós como uma pergunta-chave e desencadeou um importante dado. Dentre as 11 pessoas que tiveram contato com a onça, cinco descrevem que o medo aumentou, outras cinco, que diminuiu e, apenas uma pessoa, afirma que não influenciou. Entre as que afirmam que o medo diminuiu, existem os relatos que descrevem um comportamento pacífico da onça ou de sua beleza e fascínio.

Dentre as pessoas cujo medo aumentou, encontra-se um professor que criou um filhote de onça-parda durante algum tempo. Ele a considera um animal traiçoeiro, relatando que: “se ela estava com fome, ela pulava e pegava a comida. Eu tenho medo. Na hora que ela tá miando, não ponha a mão”. Ele soltou a onça quando o animal começou a crescer, pois perdeu o controle e não conseguia mais atender sua demanda alimentar. Procuramos esclarecer sobre o instinto animal e a necessidade de sobrevivência que impulsiona o comportamento alimentar, confrontando a ideia de ser um animal traiçoeiro, que é uma personificação do sentimento humano, aplicado ao animal. Porém, esse professor classifica sua experiência, extensa e profunda, como totalmente negativa.

Para as pessoas que não tiveram nenhum contato com onças foi pedido que pensassem em alguma pessoa que tivesse tido esse contato e nas histórias que ouviram. Nesse grupo, apenas uma resposta foi neutra, e todas as outras apontaram que o medo e o repúdio aumentaram. Esse dado pode indicar que, quando as pessoas ouvem os relatos, sem vivenciar a situação, prevalece a visão negativa, pois as histórias que são narradas refletem a ameaça e o medo.

Assim, entre as pessoas que tiveram contato, metade desmistificou a questão do medo, porque perceberam que a onça não ataca as pessoas aleatoriamente. E, entre as que não tiveram contato com a onça, todas mantêm o medo, baseado nas histórias que ouvem. Isto indica o quão importante é vivenciar a natureza e apreender as experiências com seus próprios sentidos.

Ao iniciarmos a discussão sobre a questão sobre o significado a vida na Caatinga, em relação às dificuldades, e o quanto isso interfere na disputa pelos recursos, tivemos uma totalidade de respostas afirmando que a dificuldade de vida neste bioma se deve aos enfrentamentos para o cultivo alimentar, a falta de água e o trabalho árduo de seus cotidianos.

Durante todo o processo formativo, ficou evidente o predomínio da visão utilitarista em relação aos recursos naturais e as dificuldades encontradas para a sobrevivência humana. Trabalhamos essa questão tentando demonstrar a ligação que isso tem sobre o fato de considerarem a onça uma competidora que precisa ser eliminada. Entre as 21 pessoas envolvidas, três consideraram natural eliminar um animal que disputa os recursos, ou pelo hábito sertanejo da caça. Duas afirmaram que só é natural matar caso o animal ameace a vida humana.

Porém, durante a discussão, no primeiro grupo focal (das pessoas que tiveram o contato com a onça), uma pessoa afirma que se o sustento da vida humana vem do gado e, se a onça matar o gado, estará ameaçando indiretamente a sobrevivência humana, o que justificaria a sua eliminação. A partir desse argumento, todas as outras pessoas do grupo passaram a concordar com seu posicionamento e defender que a onça que ataque a criação animal seja morta. Esse dado foi fundamental para compreender que o fato de a onça ameaçar os animais de criação é visto como uma ameaça à própria vida humana. E, todas as pessoas que responderam negativamente, em relação a ser aceitável eliminar um animal que disputa recursos, mudaram suas respostas quando passaram a considerar a predação do gado como uma ameaça indireta às suas próprias vidas. Assim como acontece nas interações grupais, percebeu-se nitidamente que a posição da professora, de associar a ameaça ao gado como uma ameaça à própria vida humana, influenciou todo o grupo.

A discussão a respeito desta questão foi totalmente diferente no segundo grupo focal. Havia a presença de um participante que suscitou a discussão da racionalização no uso dos recursos e que eles são suficientes para os humanos e as onças. Houve muitos integrantes que continuavam a considerar a vida na Caatinga difícil e que a disputa pela vida é acirrada, mas não naturalizaram a morte da onça, como aconteceu no primeiro grupo.

Por fim, destacamos no quadro 3, a síntese das evidências constatadas em cada uma das formas de coleta de dados utilizadas nesse trabalho.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Quadro 3 Principais resultados 

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os primeiros resultados, obtidos pela aplicação dos questionários, nos demonstram alguns aspectos interessantes que subsidiaram a continuidade do trabalho. Expõem um entendimento prévio de que a causa de aproximação da onça à comunidade se dá, ou pela falta de presas naturais, ou nos períodos secos. Sogbohossou e colaboradores (2011) também descreveram o aumento da predação aos animais de criação, feitas por babuínos na África, no período seco. Porém, o grupo trabalhado nesta pesquisa demonstra entender também que, a influência antrópica contribuiu para a sua aproximação, entretanto, essa simples constatação não é suficiente para promover uma mudança de comportamento. Em relação à percepção sobre as onças, evidenciou-se tanto o sentimento de medo, como do fascínio, sentimentos frequentemente relatados em outros estudos sobre relações entre humanos e onças (MARCHINI; MACDONALD, 2012).

Os causos de onça recolhidos nos remeteram fortemente ao duelo entre os seres humanos e as onças. Lembrando que essas narrativas dizem muito sobre as pessoas em seus contextos, sua historicidade e suas percepções e apreensões do mundo. Conforme Carvalho (2008) “em uma Educação Ambiental interpretativa, torna-se fundamental considerar a historicidade das questões ambientais”.

Assim, ao saber que existem “duelos” entre seres humanos e onças, revelada pelos causos, não podemos deixar de considerar que, no contexto do semiárido, as pessoas vivem uma luta diária pela vida e pela sobrevivência, o que pode levar a uma experiência com a natureza mais direcionada ao sustento, e à visão sobre a onça como de uma competidora de recursos naturais. Observamos que essas narrativas perpassam gerações, criando um tecido imaginário de oposição entre as espécies, o que dificulta que se estabeleçam outras formas de estar em um ambiente de convívio, tolerância e aceitação da onça (HOFSTATTER; OLIVEIRA, 2016).

Outros estudos também revelam a importância das histórias na formação de valores. A pesquisa de Kellert (1985) sugere que as histórias infantis que envolvem o lobo influenciam a percepção e interferem negativamente na visão que as crianças possuem dele. Kellert (1985) e Álvares, Pereira e Petrucci-Fonseca (2000) também consideram que as lendas e folclores, já enraizados entre os pecuaristas mais velhos, influenciam na percepção negativa dos predadores.

Porém, em um trabalho educativo, não podemos considerar as pessoas enquanto seres passivos. A educação da atenção, apresentada por Ingold (2010), nos auxilia na compreensão de que as informações transmitidas através das gerações não podem ser vistas como um suprimento acumulado de representações, pois isso retiraria do sujeito a capacidade particular de formação de seu conhecimento, transformação e desenvolvimento individual. Essa postulação se evidencia, muito fortemente, entre as pessoas que tiveram o contato mais próximo com os animais e ressignificaram suas percepções. Ingold (2008), afirma que o conhecimento através das histórias só se realiza através da experiência pessoal do que é narrado.

Outro aspecto que Ingold (2012) enfoca é que, independente do fato ser real ou imaginado, a experiência foi vivida de alguma forma e isso deve ser considerado quando trabalhamos com histórias. Como qualquer outro aspecto cultural, as narrativas, enquanto algo vivo, se transformam, influenciadas pelos elementos reais. Se a onça não fosse mais presente na comunidade, talvez essas histórias ganhassem uma entonação mais fantasiosa ou imaginada ainda. Neste mesmo sentido, Hermann (2002, p. 42) destaca que, “a história é sempre compreendida em referência ao presente”. Portanto, por vivenciarem de fato a onça como uma ameaça à criação animal e à vida humana, a análise se torna ainda mais complexa e permeada por diferentes aspectos psicológicos. O medo, que é o sentimento dominante, é motivado tanto pelos fatos recentes, como pelo passado que se reinventa na memória coletiva.

Desta maneira, entendemos que o medo, a ameaça e o duelo, que foram os aspectos psicossociais desvelados na análise dos causos, devem ser usados para discutir os modos de vida, a tradição, os hábitos, mas, também, novas possibilidades. Assim, é possível aprofundar diálogos que construam pontes entre os seres e os seus saberes na busca da consciência histórica pois, segundo Hermann (2002, p. 52), “há uma relação entre a consciência teórica da compreensão e a práxis da compreensão. Compreender é aplicar algo geral a uma situação concreta; ou seja, é a realização do sentido”.

Um trabalho educativo e formativo para o convívio entre seres humanos e a onça ou outros predadores, tal como procuramos realizar, precisa, antes de tudo, conhecer e valorizar os aspectos culturais da comunidade, agregando esforços para construir, junto aos sujeitos, formas de compreensão da tradição e desmistificação em relação ao repúdio. Lembrando que Freire (2003) nos inspira a promover uma educação democrática, dialógica, pautada na experiência, na pluralidade cultural e que dialogue com os conhecimentos prévios, gerando autonomia e emancipação política.

Nas entrevistas com os caçadores, pudemos perceber que, entre os sentimentos mobilizados, existe a predominância do medo. Um entrevistado afirma ter matado a onça por medo; outro relata que, “de início ficou com medo, o que é bem natural, mas, em seguida, teve uma sensação de euforia e curiosidade”, demonstrando alternância de sentimento, pois quando passou o medo (sensação instantânea), e percebeu que ela não o ameaçava, permitiu emergir outros sentimentos.

Segundo Conforti e Azevedo (2003), praticamente não existem relatos, no Brasil, comprovados, de ataque aos humanos. Estes são raros e ocorrem somente se os animais estão encurralados, feridos, na defesa dos filhotes ou do alimento caçado (MARCHINI; MACDONALD, 2012). Esse dado, quando apresentado, foi refutado pelo grupo participante, que afirma a existência de ataques aos humanos na região, o que acaba contribuindo para que se sustente o sentimento de medo. O trabalho de Marchini e Macdonald (2012) demonstrou que a intenção de matar onças é motivada principalmente pelo medo ou pela emoção, sendo que, na Amazônia o medo foi o fator que mais influenciou na opção de matá-las.

Outro objetivo, no trabalho direto com os caçadores, foi o de melhor compreender quem são os praticantes de caça que vivem nesta região semiárida, e quais são as motivações para a caça. Apesar do número reduzido de entrevistados para se traçar um perfil conclusivo do tipo de caçador da região, alguns pontos interessantes podem ser destacados. Talvez o próprio fato de não haver mais tantos caçadores, como foi declarado pelo grupo, possa ser um indicativo de um declínio da atividade. Muitos, inclusive, apesar de caçarem, não se consideram caçadores, pois fazem as caçadas esporádicas ou em defesa da criação animal. Entre as pessoas que confirmam que já mataram alguma onça, existe o apontamento que o fizeram no encontro casual da caçada de outros animais, alegando o medo ou a sensação de ameaça. Esse comportamento difere dos criadores de animais que, muitas vezes, as perseguem por retaliação.

Antes de iniciar a pesquisa, já considerávamos que, conhecer mais sobre os caçadores e hábitos da caça, seria o objetivo mais difícil de ser cumprido. Após o contato com o grupo participante, isso foi se confirmando pelos relatos de que, na própria comunidade, todo mundo sabe quem caça, mas que os caçadores sofrem medo de punição e, portanto, não confirmam suas atividades.

Muitas informações sobre a caça emergiram durante diferentes momentos do curso, nas conversas sobre o assunto. Um dos aspectos revelados é sobre o caçador de onças ‘profissional’ que, segundo a fala de um professor, era comum até a década de 1940. Uma pessoa era contratada para matar onça, em geral, por retaliação ao ataque da criação animal. Esse participante revelou que uma pessoa de sua família atuou profissionalmente como caçador. O caso mais impressionante foi narrado por outro professor, e confirmado por todo o grupo, sobre um homem, já falecido, considerado o principal caçador da região, e conhecido por ter eliminado mais de cem onças. Esses matadores de onça ‘profissionais’ também são descritos em estudos realizados no Pantanal (CAVALCANTI et al., 2010).

Outro perfil de caçador, também presente na região, é o caçador ‘por esporte’, como se observa pela fala de um participante do grupo: “vem gente de dinheiro caçar por esporte, em cima de umas caminhonetes. Eles vêm tudo armado, como se fossem pra guerra”. Esse tipo é um caçador ‘externo’ à comunidade, muitos vêm da sede do município para a zona rural passar o fim de semana e praticar a caça como entretenimento. Alguns possuem fazenda na região, mas o motivo da prática difere substancialmente dos moradores locais.

Importante destacar que a caça, por ser reconhecida como hábito cultural ou defesa pessoal, é aceita na região, como é possível aferir pelas falas do grupo participante e dos entrevistados. Marchini e Macdonald (2012), que pesquisam os conflitos dos humanos com as onças pela Teoria do Planejamento Comportamental, afirmam que a aceitação social acaba encorajando a prática da caça, pois se fosse uma atitude reprovada pela comunidade, poderia diminuir. Também pudemos perceber, entre estes entrevistados que, apesar de haver compreensão das causas antrópicas, isso ainda não acarretou uma mudança significativa de comportamentos e práticas, o que evidencia a necessidade de um trabalho educativo a longo prazo, envolvendo toda a comunidade.

Entre os pontos fundamentais identificados, está a visão utilitarista dos recursos naturais, que transpõe a ameaça representada pela onça aos recursos ou à própria vida. Neste trabalho, procuramos evidenciar, junto ao grupo participante, que existem recursos suficientes para os seres humanos e para as onças, mas que requer manejo e algumas medidas de proteção e utilização racional desses recursos. Do ponto de vista educacional, sugerimos uma educação ambiental contextualizada, que considere a historicidade local, a cultura, os aspectos psicossociais, e que considere os limites e potenciais econômicos como elementos importantes nas tomadas de decisão. Uma educação que respeite as tradições, mas seja capaz de desmistificar o repúdio e o medo, trazendo informações úteis e construindo, junto à população, alternativas viáveis para a convivência com esses animais, resguardando seus modos de vida.

Os grupos focais, como descrito, cumpriram o papel de oportunizar o debate sobre os diversos temas que emergiram durante todo o curso, contribuindo com o processo educativo proposto. Além disso, revelou novos dados e evidências, entre os quais destacamos o início de uma desconstrução excessiva do medo, a partir de um melhor entendimento da onça. Gadamer (2012) esclarece que o preconceito e a pré-compreensão estão na base da constituição da nossa forma de pensar.

No mesmo sentido, Hermann (2002, p. 48) afirma que “a estrutura da pré-compreensão, da qual derivam os preconceitos, carrega consigo a necessidade de se estar entre a estranheza e a familiaridade, e é nisso que se constitui a situação hermenêutica”. Diante desta leitura, observamos que, metade das pessoas que tiveram contato com o animal declaram que puderam superar a “estranheza” e se “familiarizar” com a onça, produzindo novos sentidos e ressignificando sentimentos. Oliveira e Oliveira (2015) também descrevem que o contato próximo com os animais auxilia na criação de elos afetivos, e Kellert (1985) defende que a aceitação e a afeição pelos animais aumentam em pessoas que possuem vivências positivas com a natureza, despertando o desejo de proteger a vida selvagem e seus habitats naturais.

A outra questão que se aprofunda nos grupos focais é a dificuldade de vida no semiárido nordestino, que não pode ser desconsiderada na explicação da comunidade entender a onça enquanto uma competidora por recursos naturais. Isso precisa ser fortemente agregado ao planejamento de ações que visem a conservação deste animal. No trabalho de Sogbohossou e colaboradores (2011), na África, por exemplo, se demonstra uma situação parecida, de predação à criação animal por leões, nas comunidades rurais, porém existe um fundo destinado à proteção deles que ressarce as pessoas que tiverem prejuízos. Essa poderia ser uma das formas de atender também as comunidades rurais brasileiras.

Porém, uma pesquisa no Parque Nacional do Iguaçu, demonstra que entre 39 pessoas entrevistadas, que tiveram perdas de gado por ataques onças, apenas 26,4% possuem uma atitude negativa em relação a elas, as outras declaram que seriam incapazes de matá-las (CONFORTI; AZEVEDO, 2003). Em outro estudo, no Vale do Ribeira, se aponta que 75% dos moradores entrevistados já perderam algum animal por predação e, entre esses, metade considera que as onças devem ser exterminadas (PALMEIRA; BARRELLA, 2007). Estes dados confirmam que existem outros fatores envolvidos na tolerância da presença da onça, provavelmente no campo dos valores, e que a predação aos animais de criação não é o único fator que motiva os criadores a quererem matá-las. No campo dos valores existe a necessidade e a oportunidade de um longo trabalho educativo, pois a Educação Ambiental pode colaborar em relação aos aspectos sensíveis humanos, propondo outras vivências com a natureza e despertando outros sentidos e ligações com o meio, para além dos utilitaristas, e sensibilizando para a convivência entre as diferentes formas de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Valenti e colaboradoras (2014) indicam a necessidade da Educação Ambiental com a temática dos predadores, nas localidades ondem eles ocorrem. Assim, sugerimos alguns conteúdos que podem ser abordadas no processo educativo, tais como: o uso e a ocupação antrópica do solo; as diferentes visões de utilização dos recursos naturais; o papel e o comportamento dos predadores no ecossistema.

Em relação aos caçadores, foi possível perceber, pelos relatos e entrevistas, as suas diferentes intenções: os que caçam em retaliação à perda de animais; os que caçam por medo e em proteção à própria vida e; os que caçam por entretenimento. Desta forma, as abordagens educativas com os caçadores devem ser diferenciadas. O grupo dos que caçam por entretenimento, a nosso ver, é o mais difícil de ser abordado, pois, além de não caçarem por uma necessidade específica de obtenção alimentar, a caça mobiliza sentimentos de poder e competição. Isto se evidencia quando os participantes da pesquisa descrevem que se relaciona a caça obtida a um ‘troféu’. Estes valores implicam em uma postura de vida, e precisariam ser trabalhados em uma prática educativa extensa e transformadora, o que requer mais pesquisas e uma preparação específica para essa abordagem.

Para as pessoas que caçam em retaliação à perda de animais, indica-se que a prática educativa se alie ao planejamento participativo da criação e formas de evitar a predação. Quanto aos caçadores que alegam caçar em proteção à vida, é necessário melhor compreender o medo, sentimento descrito como o mais comum, conhecer mais os hábitos dos animais e em quais casos eles atacam. Porém, como o medo é um sentimento muito imbricado ao ser, outras pesquisas precisariam ser feitas em relação a este aspecto tão subjetivo.

Entretanto, ressaltamos o fato de que no processo aqui relatado, metade das pessoas que tiveram o contato com a onça indicaram ter ressignificado suas percepções sobre o animal e afirmaram que o medo diminuiu. Essa é uma questão importante para futuros trabalhos de pesquisa e mediação de atividades de Educação Ambiental.

As narrativas sobre a onça apontam que o medo, ao perpassar gerações, cria um tecido imaginário de repúdio a esse animal. A análise dos causos de onça mostrou-se eficiente na emergência de temas que ao mesmo tempo são atuais, cotidianos e ancestrais, assim, permitem diversas problematizações, sendo um campo muito rico de trabalho, e que pode ser aproveitado em análises futuras.

Didaticamente, a experiência de as pessoas irem a campo para conversarem, ouvirem histórias e pesquisarem sobre a onça, também se mostrou como uma possibilidade interessante de ensino e de construção autônoma do conhecimento. Os diálogos e as conversas foram importantes momentos de reflexão e trocas do grupo, onde o confronto de ideias foi fundamental para se pensar em outras possibilidades.

Assim, pensar na convivência entre seres humanos e onças envolve uma questão complexa e multifacetada na construção de outras formas de perceber e de se relacionar com o meio ambiente. Não são caminhos simples, pois requerem investimento, concentração de esforços, políticas públicas pertinentes, um trabalho participativo e uma Educação Ambiental comprometida, mas acreditamos que são caminhos possíveis.

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3Adotamos linguagem não sexista

4Os dados do segundo encontro não foram considerados pois não correspondem ao tema deste artigo. Eles podem ser acessados em Hofstatter, 2013.

5As questões estão descritas na análise dos resultados.

6Esse levantamento foi feito para uma primeira verificação de aparição da onça na comunidade. Não analisamos, nesse momento, a profundidade da experiência do contato com a onça, o que foi feito no grupo focal e onde consideramos relevante apenas o contato direto ou através de algum familiar residente na mesma casa.

Recebido: 19 de Fevereiro de 2019; Aceito: 21 de Janeiro de 2020

Contato: Laboratório de Educação Ambiental/ DCAM/ UFSCAR. Rod. Washington Luiz, s/n

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Doutora em Ciências pelo programa de pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de São Carlos. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano - Campus Catu. Grupo de Estudo e Pesquisa e Estudo em Educação Ambiental - GEPEA/UFSCAR. E-mail:<lakshmivallim@gmail.com>.

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Doutora em Ciências pelo programa de Engenharia Ambiental da Universidade de São Paulo. Professora Titular/ Sênior do Departamento de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Carlos. Grupo de Estudo e Pesquisa e Estudo em Educação Ambiental - GEPEA/UFSCAR. E-mail:<haydee.ufscar@gmail.com>.

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