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Eccos Revista Científica

versão impressa ISSN 1517-1949versão On-line ISSN 1983-9278

Eccos Rev. Cient.  no.44 São Paulo set./dez 2017  Epub 20-Jun-2019

https://doi.org/10.5585/eccos.n44.7943 

Dossiê temático

Tendências dos rankings acadêmicos de abrangência nacional de países do espaço ibero-americano: os rankings dos jornais El Mundo, El Mercurio, Folha de São Paulo, Reforma e El Universal1

Trends in the academic rankings of the Ibero-American countries: El Mundo, El Mercurio, Folha de São Paulo, Reforma and El Universal

Adolfo Ignacio Calderón1 

Carlos Marshal França2 

Armando Gonçalves3 

1Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Pós-doutorado em Ciências da Educação na Universidade de Coimbra; Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, SP - Brasil. Bolsista de Produtividade do CNPq. adolfo.ignacio@puc-campinas.edu.br

2Doutorando em Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas). Professor da Faculdade de Administração do Centro de Economia e Administração da PUC-Campinas, Campinas, SP - Brasil. carlos.marshal@puc-campinas.edu.br

3Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Professor da Fundação Instituto de Administração, Campinas, SP - Brasil. a_goncalves@hotmail.com


Resumo:

Este artigo aborda a avaliação da educação superior por meio de rankings acadêmicos. Analisa os cinco rankings produzidos por jornais de grande circulação existentes no espaço ibero-americano: 50 Carreras - Los Mejores Centros Universitários, do jornal espanhol El Mundo; Ranking de Calidad de las Universidades Chilenas, do jornal chileno El Mercurio; Ranking Universitário Folha - RUF, do jornal brasileiro Folha de São Paulo; Las Mejores Universidades, do jornal mexicano Reforma, e Mejores Universidades do jornal mexicano El Universal, apresentando tendências, semelhanças e especificidades existentes, em termos conceituais e metodológicos. Realizou-se estudo de caráter descritivo-analítico e comparativo, por meio de pesquisa bibliográfica e documental. Todos os rankings explicitam a missão de orientar a escolha de futuros universitários e classificam universidades e cursos de graduação. Evidencia-se diversidade metodológica, adotam-se indicadores com variada predominância (objetivos, subjetivos ou híbridos) e de diversas naturezas (com foco em produtos, em insumos ou híbridos).

Palavras-chave: Avaliação da Educação Superior; Rankings Acadêmicos; Rankings Universitários

Abstract:

This article addresses the evaluation of higher education through academic rankings. It analyzes the five rankings produced by newspapers of great circulation, existing in the Ibero-American space (50 Carreras - Los Mejores Centros Universitarios, from the Spanish newspaper El Mundo, Ranking de Calidad de las Universidades Chilenas, of the Chilean newspaper El Mercurio; Ranking Universitário Folha - RUF, from the Brazilian newspaper Folha de São Paulo; Las Mejores Universidades do jornal mexicano Reforma, from the Mexican newspaper Reforma; and Mejores Universidades of the Mexican newspaper El Universal), presenting tendencies, similarities and specificities, existing in conceptual and methodological terms. A descriptive-analytical, comparative study was carried out through bibliographical and documentary research. All rankings spell out the mission of guiding the choice of future college students and rank universities and undergraduate courses. Methodological diversity is evidenced, with indicators with varied predominance (objectives, subjective or hybrid) and of several natures (focusing on products, inputs or hybrids).

Keywords: Higher Education Evaluation; Academic Rankings; University Rankings

Introdução

Com a criação do Academic Ranking of World Universities (ARWU) em 2003, mais conhecido como ranking da Universidade de Shangai (THÉRY, 2010), iniciou-se a rápida expansão dos rankings acadêmicos, índices e tabelas classificatórias (RANKINTACs), em diversos níveis de abrangência, não somente em âmbito mundial, mas também regional e nacional, os quais desafiam aos poderes públicos dos diversos países e a governança universitária. (GONÇALVES; CALDERÓN, 2017)

Conforme Ordorika Sacristán e Rodríguez Gómez (2010a), os rankings acadêmicos2 podem ser classificados, de acordo com suas orientações e finalidades, por critérios acadêmicos elaborados por governos e/ou universidades, e de orientação comercial, nitidamente mercadológicos e baseados na venda da publicidade vinculada a sua publicação e difusão. Os primeiros podem ser classificados, de acordo com Calderón e Lourenço (2014), como rankings promovidos pelo setor público, principalmente agências estatais ou públicas não estatais, sendo considerados como oficiais, e os segundos como não oficiais, promovidos pelo setor privado, principalmente pelo mercado editorial, grande imprensa e empresas de consultoria.

Em um estudo de referência sobre a emergente temática dos rankings acadêmicos nos principais sistemas nacionais de educação superior do mundo, Hazelkorn (2007) observou a existência de diferentes rankings nacionais produzidos a partir de pesquisas do setor privado, bem como a existência de uma relação de amor e ódio dos atores da educação superior em relação a eles, sendo comum os questionamentos quanto a sua validade, com destaque para suas metodologias e procedimentos técnicos, sua utilidade para estudantes e consumidores da educação superior, e sua compatibilidade com os diferentes objetivos, missões e formatos organizacionais das Instituições de Educação Superior (IES).

Especificamente no que se se refere aos rankings nacionais, estudo promovido pelo Observatory on Academic Ranking and Excellence (IREG), em 2014, envolvendo 37 países, aponta, entre outras tendências que a maioria dos rankings nacionais: destina-se a candidatos ao ensino superior e a seus pais (94,5%); avalia as IES como um todo, elaborando rankings institucionais (77,7%), por áreas (33,3%) e por assunto (31,4%); e é publicada por empresas de mídia comercial (57,9%). O estudo em questão identificou a correlação existente entre a forte posição de determinados países em rankings globais e a presença de um ou vários rankings nacionais em seus territórios, demostrando que a cultura de competitividade interna estimulada pelos rankings ajuda a manter a qualidade do ensino superior e sua boa posição internacional. Trata-se de uma hipótese que vai na mesma direção de estudos realizados por Salmi e Saroyan (2007), que mostraram que os países com mais universidades classificadas entre as 100 melhores de rankings globais - Ranking da Universidade de Shangai e Ranking THE, do jornal britânico The Times - são aqueles em que o setor privado fornece rankings nacionais bem consolidados.

Estudos promovidos pelo setor privado (LOURENÇO; CALDERÓN, 2015), que mapearam os rankings acadêmicos de abrangência nacional em Ibero-América, revelam a existência desse tipo de instrumento classificatório em somente quatro dos 24 países do espaço ibero-americano - Espanha, Brasil, México e Chile, membros da Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Eles estão localizados nos países mais competitivos desse espaço e ganham certa visibilidade nos rankings mundiais e grande destaque nos regionais, corroborando a correlação apontada pelos estudos do IREG-2014 e de Salmi e Saroyan (2007) entre o desempenho internacional de determinados países e a existência de rankings nacionais em seus territórios.

Nesse contexto, o presente artigo se debruça especificamente em torno dos rankings de abrangência nacional ou regional, desde que circunscritos dentro do espaço geográfico de um mesmo país, não oficiais e promovidos por meios de comunicação da grande imprensa no espaço ibero-americano, tendo como objetivo analisar os cinco rankings de abrangência nacional ou regional produzidos por jornais de grande circulação desse espaço, a saber: 50 Carreras - Los Mejores Centros Universitários, do jornal espanhol El Mundo; Ranking de Calidad de las Universidades Chilenas, do jornal chileno El Mercurio; Ranking Universitário Folha - RUF, do jornal brasileiro Folha de São Paulo; Las Mejores Universidades, do jornal mexicano Reforma; e Mejores Universidades, do jornal mexicano El Universal, apontando tendências, semelhanças e especificidades em termos de trajetória e metodologia.

Para tanto, realizou-se estudo de caráter descritivo-analítico, comparativo, por meio de pesquisa bibliográfica e documental em fontes primárias e secundárias, incluindo a análise da página web de cada um dos rankings estudados até as edições referentes ao ano de 2016. Convém frisar que não serão abordados os poucos rankings produzidos por magazines ou revistas semanais de informação geral, por exemplo, o Ranking de Universidades e Carreras, produzido desde 2000, no Chile, pela revista Qué Pasa, nem os rankings promovidos pela revista América Economia sobre as universidades peruanas, chilenas e mexicanas.

Para efeito da análise comparativa dos rankings estudados será tomada como referência seminal a classificação realizada por Andrade (2011), que criou uma tipologia de quatro diferentes tipos de rankings, quais sejam: a) com foco no produto e objetivo - construídos com base em produtos que possam ser mensurados de forma objetiva, por exemplo, resultado médio dos alunos de uma universidade num teste de proficiência; b) com foco no produto e subjetivo - produtos mensurados de forma subjetiva, por exemplo, a reputação da universidade com base em informações coletadas por meio de questionários ou entrevistas realizadas junto a diversos informantes; c) com foco no insumo e objetivo - construídos por meio de indicadores objetivos de insumos utilizados no processo produtivo da educação, como titulação e regime de trabalho do corpo docente; e d) com foco no insumo e subjetivo - construídos a partir da avaliação subjetiva de insumos fornecidos mediante formulários e entrevistas com os diversos públicos das universidades.

Embora tenha considerado a existência efetiva de rankings elaborados com base na combinação dessas duas matrizes de variáveis (insumo-produto e subjetivo-objetivo), o estudo de Andrade (2011) não explorou todas as possibilidades de ampliar essa tipologia inicial. Assim, incorporamos de modo mais explícito à tipologia citada o que denominamos como rankings híbridos, isto é, que apresentam como característica a presença combinada e variável de indicadores construídos simultaneamente a partir de produtos e/ou insumos e coletados por meio de informações simultaneamente objetivas e/ou subjetivas. Ampliar a tipologia permite estabelecer uma base que facilita a análise comparativa de diversos rankings cujo desenho geral, critérios e indicadores parecem muitas vezes, à primeira vista, completamente distintos.

De modo a ilustrar as diferentes possibilidades que essa nova tipologia proporciona, a Figura 1 evidencia nove configurações gerais que os rankings podem apresentar.

Fonte: Construída pelos autores, a partir de ampliação de tipologia elaborada por Andrade (2011), contemplando a possibilidade da existência de rankings híbridos.

Figura 1: Grid de Tipologia dos Rankings Acadêmicos 

As nove configurações gerais de rankings acadêmicos, ilustradas visualmente por meio do Grid de Tipologia dos Rankings Acadêmicos, busca evidenciar os chamados rankings puros e rankings híbridos: os primeiros correspondem exatamente à tipologia seminal criada por Andrade (2011); já os rankings híbridos, embora aparentem assumir apenas cinco configurações diferentes, podem envolver combinações entre indicadores objetivos e subjetivos ou ter foco simultâneo no insumo e no produto, traduzindo, efetivamente, como ficará demonstrado ao final deste trabalho, numa multiplicidade de variações (Figura 2) que acaba ensejando a construção de rankings híbridos muito diversificados.

Fonte: Os autores, a partir de ampliação da tipologia elaborada por Andrade (2011), aprofunda a existência de rankings híbridos

Figura 2: Grid de Tipologia dos Rankings Acadêmicos Puros e Híbridos e os respectivos enquadramentos dos rankings acadêmicos promovidos por jornais da grande imprensa do espaço ibero-americano. 

O ranking do jornal espanhol El Mundo

Intitulado 50 Carreras - Los Mejores Centros Universitarios é um dos mais antigos dentre os rankings universitários privados, de abrangência nacional, publicado por jornais de grande circulação no espaço ibero-americano. Teve sua primeira edição publicada em 2001, passando-se a chamar-se, a partir da edição 2008/2009, 50 Carreras - Dónde estudiar las más demandadas. (EL MUNDO, 2008)

Criado com o objetivo de auxiliar os estudantes no momento de escolha da universidade que melhor se ajuste às suas necessidades, 50 Carreras classifica em ordem decrescente as cinco melhores universidades espanholas em cada um dos cinquenta cursos superiores mais demandados pelos estudantes desse país, atribuindo às três primeiras colocadas medalhas de ouro, prata e bronze, respectivamente, e às outras duas, menções de honra3. Essa classificação das universidades por curso é acompanhada de um conjunto de informações complementares tais como: número de alunos, quantidade de vagas, tempo de duração, preço da anuidade, entre outras.

Além do ranking por cursos, o 50 Carreras divulga o ranking Las Mejores Universidades Españolas, para tanto somando o total de medalhas de ouro, prata e bronze obtidos pelas IES. O material de divulgação dos resultados desse ranking também é acompanhado de dados sobre as universidades: endereço, ano de fundação, quantidade de cursos oferecidos, número de alunos e de professores, entre outros. Convém mencionar que somente na primeira edição do ranking de universidades (EL MUNDO, 2001) as IES foram classificadas em quatro grandes categorias: universidades tradicionais, universidades de futuro, universidades de pesquisa e universidades emergentes. Após essa experiência, as IES passaram a ser agrupadas somente em duas categorias: universidades públicas e universidades privadas.

Para a elaboração do ranking, em cada uma das cinquenta carreiras, são utilizados como referência vinte e cinco indicadores, agrupados em seis categorias/dimensões diferentes (Quadro 1). A partir de tais informações são coletados dados de insumo e produtos, predominantemente subjetivos, coletados em questionários encaminhados a todas as universidades espanholas que fornecem informações institucionais sobre cada uma das carreiras analisadas, correspondendo a 50% do valor final do ranking.

Fonte: Construído a partir de informações presentes no documento 50 Carreras - Dónde estudiar las más demandadas. Curso 2016/2017 (El Mundo, 2016)

Quadro 1: 50 Carreras - Jornal El Mundo: indicadores agrupados em seis categorias diferentes correspondendo a 50% do valor final do ranking referentes a informações institucionais. 

Além dessas informações, o ranking também é composto por dados subjetivos obtidos por meio de questionários encaminhados a docentes especialistas, os quais avaliam, de forma anônima e voluntária, as melhores universidades em cada um dos cursos na sua área de especialidade. Esses questionários correspondem a 40% do peso final no ranking.

Os 10% restantes para a composição final do resultado são compostos de outros indicadores objetivos como os resultados de outros rankings internacionais, informações recolhidas junto à Agencia Nacional de Evaluación de La Calidad y Acreditación (ANECA) e relatórios de autoavaliação das universidades, entre outros documentos.

O ranking do jornal brasileiro Folha de São Paulo

O Ranking Universitário Folha (RUF) teve sua primeira edição divulgada em 03 de setembro de 2012. Constam de seus objetivos orientar os futuros estudantes em relação a suas escolhas e permitir que as próprias IES verifiquem seu desempenho e se comparem entre si. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012)

Entre outras características, o RUF destaca-se por sua “inspiração internacional”, na medida em que obedece a parâmetros consagrados em tradicionais rankings internacionais que surgiram no início da década de 2000 e permite aos seus usuários a construção de rankings customizados, por meio da utilização de diversos filtros existentes na plataforma eletrônica que divulga seus resultados.

O RUF4 é composto por dois rankings: o Ranking de Universidades e o Ranking de Cursos. O primeiro classifica apenas IES organizadas sob a forma de universidade, com base em cinco grandes categorias/dimensões - pesquisa científica, qualidade do ensino, avaliação do mercado de trabalho, inovação e internacionalização -, subdivididos em diversos indicadores, com pesos relativos diferenciados. (Quadro 2)

Fonte: Construído a partir de informações retiradas do site oficial do RUF - Ranking Universitário Folha, edição 2016 (FOLHA DE SÃO PAULO, 2016).

Quadro 2: Ranking Geral de Universidades - Jornal Folha de São Paulo: Critérios, indicadores e pontuação. 

As fontes de informação utilizadas pelo RUF são objetivas ou subjetivas, dependendo da própria natureza do indicador. Dados objetivos, coletados nos órgãos governamentais ou bases de dados científicas, constituem a fonte da totalidade dos indicadores referentes às categorias/dimensões pesquisa, inovação e internacionalização e de parte dos indicadores da categoria/dimensão ensino. Informações subjetivas, resultantes de entrevistas realizadas pelo Datafolha5 com pesquisadores vinculados a universidades e executivos da área de Recursos Humanos de grandes empresas servem para a construção da categoria/dimensão mercado de trabalho e de alguns indicadores da categoria/dimensão ensino.

O Ranking de Cursos, relacionado aos quarenta cursos superiores mais demandados no Brasil6, oferecidos por qualquer IES, independentemente de seu tipo de organização acadêmica, é construído com base em duas categorias/dimensões - Qualidade do Ensino e Mercado de Trabalho - igualmente desdobrados em indicadores com pesos diferentes, nas proporções representadas no Quadro 3.

Fonte: Construído a partir de informações retiradas do site oficial do RUF - Ranking Universitário Folha, edição 2016 (FOLHA DE SÃO PAULO, 2016).

Quadro 3: Ranking de Cursos - Jornal Folha de São Paulo: Critérios, indicadores e pontuação. 

O ranking do jornal chileno El Mercurio

O Ranking de Calidad de las Universidades Chilenas (RCUC) é divulgado desde 2012, numa parceria entre o Grupo de Estudios Avançados Universitas e o jornal chileno El Mercurio (GRUPO DE ESTUDIOS AVANZADOS UNIVERSITAS; EL MERCURIO, 2012). Elaborado a partir de indicadores exclusivamente objetivos, obtidos por meio de fontes públicas oficiais e passíveis de verificação, procura orientar os estudantes no processo de escolha da universidade em que pretendem estudar, por meio de dois rankings de IES e um de cursos de graduação. Um primeiro ranking de IES, denominado Ranking de Calidad de la Docencia de Pregrado7 (RCDP), tem foco no ensino de graduação. É elaborado a partir de dados objetivos agrupados em quatro dimensões com indicadores de processo e insumos (Quadro 4), cujo valor relativo gera uma pontuação determinada em cada dimensão, sendo o valor final de cada IES o resultado da média ponderada das quatro dimensões.

Fonte: Construído a partir de informações extraídas do Ranking de Calidad de las Universidades Chilenas (GRUPO DE ESTUDIOS AVANÇADOS UNIVERSITAS; EL MERCURIO, 2016).

Quadro 4. Ranking de Calidad de la Docencia de Pregrado - Jornal El Mercurio: Dimensões, indicadores e peso relativo. 

O segundo ranking de IES, denominado Clasificación de Universidades Chilenas (CUC)8, é composto de quatro tipos diferentes de rankings, um para cada categoria de universidades classificadas com base no seu perfil e projeto institucional e enquadrados em dois grandes grupos: a) Universidades de Ensino (UDE), composto pelas categorias UDE e UDE, com projeção em pesquisa9; b) Universidades de Pesquisa (UDP), composto pelas categorias UDP com doutorado em áreas seletivas (menos de sete doutorados concentrados em duas áreas do conhecimento) e UDP com Doutorado (mais de sete doutorados com mais de duas áreas do conhecimento).

Para classificar as UDE utilizam-se as mesmas categorias/dimensões adotadas no RCDP, tendo como diferencial que as IES são classificadas como UDE ou UDE com projeção em pesquisa. Por sua vez, a classificação das UDP é realizada com base em seis categorias/dimensões: as quatro presentes nas UDE, acrescidas das dimensões “Pesquisa” e “Doutorados”, alterando-se os pesos para a pontuação final.

No que se refere ao ranking de cursos, que complementa o RCUC, é divulgado o Guia de Indicadores Significativos de Carreras de Pregrado (GISCAPRE)10, conjunto de rankings elaborados em relação às diversas carreiras profissionais11 construído por meio da combinação de oito diferentes indicadores, a saber: anos de validade de credenciamento do curso; índice de evasão ao final do primeiro ano de curso; tempo médio de conclusão do curso; taxas de anuidade do curso; diferença entre o valor das taxas a serem desembolsadas pelo estudante e o valor subsidiado pelo governo chileno; taxa de empregabilidade um ano após a conclusão do curso; renda esperada após quatro anos de conclusão do curso; e expectativa de rentabilidade ao longo da futura carreira.

Ranking do jornal mexicano Reforma

Criado pelo jornal mexicano Reforma no ano de 2001 e divulgado anualmente desde então por meio de seu Suplemento Universitário, o ranking Las Mejores Universidades avalia e classifica as melhores universidades mexicanas da área metropolitana da Cidade do México, Guadalajara, Puebla e Monterrey.

Embora a nomenclatura do ranking do Reforma possa sugerir uma classificação geral das universidades mexicanas presentes nas regiões de sua cobertura, seu desenho não apresenta essa configuração, uma vez que seus resultados não visam determinar qual é a melhor universidade mexicana em termos gerais, mas sim classificar as melhores universidades em cada um dos diversos cursos avaliados anualmente. Trata-se, portanto, de um ranking de amplitude geográfica regional, visando a classificação de cursos de graduação mexicanos. (ORDORIKA SACRISTÁN; RODRIGUEZ GÓMEZ, 2010)

Ao longo de suas diversas edições, o número de cursos avaliados tem variado ano a ano. A edição mais recente do Las Mejores Universidades, referente ao ano de 2016, elaborou rankings relacionados a dezesseis carreiras: Administração, Arquitetura, Comunicação, Contabilidade, Direito, Design Gráfico, Economia, Gastronomia, Engenharia Eletrônica, Engenharia de Sistemas, Engenharia Industrial, Engenharia Mecatrônica, Engenharia Química, Medicina, Publicidade e Psicologia (REFORMA, 2016). A escolha dos cursos em relação aos quais são construídos os diversos rankings do Reforma se baseia no critério de demanda: são selecionados os cursos relacionados a carreiras profissionais que apresentam maior volume de matrículas e/ou que apresentam maior procura de candidatos nos processos seletivos.

O critério geral que orienta a construção dos rankings é a reputação da instituição, e a fonte de informação utilizada para a construção dos indicadores, a partir dos quais são classificadas as universidades em cada um dos rankings de cursos, é de natureza subjetiva: são realizadas entrevistas telefônicas com profissionais responsáveis pelos processos de recrutamento em empresas públicas e privadas. Os gerentes, diretores, chefes de departamento e outros executivos responsáveis pelas áreas de recrutamento e seleção das empresas entrevistados pelo jornal Reforma emitem opiniões sobre um conjunto de universidades mexicanas previamente selecionadas pelo jornal, a partir dos seguintes critérios: ser afiliada à Asociación Nacional de Universidades e Instituciones de Educación Superior (ANUIES), conceder diplomas de validade oficial, ter mais de mil alunos matriculados na instituição como um todo, contar com um mínimo de quarenta estudantes matriculados no curso objeto da avaliação e contar com pelo menos duas gerações de egressos. Durante as entrevistas, cada executivo é instado a atribuir notas, numa escala de zero a dez, relacionadas a três aspectos de cada curso das universidades pré-selecionadas: grau de preparação e conhecimentos proporcionado ao egresso; capacidade de liderança e de trabalho em grupo do egresso; e desenvolvimento de valores e ética profissional. Essas notas são traduzidas numa média final ponderada para cada curso. O cálculo dessa média considera pesos respectivos de 40%, 30% e 30% para cada um dos aspectos acima citados. A partir de então é calculada uma nova média ponderada das notas atribuídas por todos os profissionais entrevistados para avaliar cada um dos cursos, com pesos proporcionais ao porte das empresas consultadas.

A composição dos rankings de cada curso não depende apenas do resultado obtido a partir das entrevistas realizadas no ano correspondente à divulgação de cada edição do ranking. Efetua-se uma média ponderada, reunindo também os resultados obtidos nos três anos anteriores. Embora o jornal entreviste também, anualmente, professores e estudantes das universidades mexicanas, e os resultados dessas entrevistas sejam apresentados por ocasião da divulgação do Suplemento Universitário do jornal, os dados obtidos junto a esses públicos não são utilizados para a composição dos rankings.

Ranking do jornal mexicano El Universal

O Guia Mejores Universidades é publicado desde 2007 pelo jornal mexicano El Universal com o intuito de auxiliar pais e alunos a tomarem decisões com base em informações, bem como colocar à disposição das IES informações consideradas úteis, objetivas e oportunas. (EL UNIVERSAL, 2016)

Está composto por dois tipos de rankings, em um total de 26 tabelas classificatórias, com diferentes metodologias: 1) Ranking General de Instituciones, comparando as IES entre si; e 2) Ranking de Programas, classificando as IES mais bem avaliadas em 25 cursos de graduação. As informações que permitem a construção dos rankings são predominantemente de natureza subjetiva: informações quantitativas relatadas pelas próprias instituições e algumas delas verificadas em bases de dados públicas; e a percepção de professores e/ou empregadores, dependendo do tipo de ranking.

São convidadas a participar desses rankings todas as IES das regiões mexicanas de Cidade México, Estado de México, Morelos, Querétaro, Puebla, Jalisco e Nuevo Leon, que constam dos registros do Ministério da Educação Pública, da ANUIES ou da Federación de Instituciones Mexicanas Particulares de Educación Superior (FIMPES). Uma vez aceita a participação, é solicitada uma carta autorizando o El Universal a consultar os dados da IES em organismos oficiais, para sua comprovação. Atendidos esses requisitos, é composta a relação das universidades que comporão os rankings do El Universal.

Conforme se observa no Quadro 5, O Ranking General de Instituciones é composto por: a) informações quantitativas fornecidas pelas IES, equivalente a 60% do ranking, (varáveis relativas a acreditação institucional, pesquisa e docência, sem maior detalhamento das informações coletadas e seus respectivos pesos); b) levantamento de opiniões junto a empregadores, equivalente a 20% do ranking final, a partir de amostra com empresas públicas e privadas, incluindo lista de empresas proporcionadas pelas IES, envolvendo 100 entrevistas por estado abrangido e entrevistas aleatórias; e c) levantamento de opiniões com professores das IES pesquisadas, equivalente também a 20% do ranking final, os quais são escolhidos aleatoriamente a partir de lista de docentes fornecida pelas próprias IES participantes dos rankings, sendo entrevistados por correio eletrônico ou via telefônica.

Fonte: Construído a partir de informações retiradas do site oficial do guia Mejores Universidades , Edição 2016 (EL UNIVERSAL, 2016)

Quadro 5: Ranking de General de Instituciones do Guia Mejores Universidades - Jornal El Universal: Dimensões, indicadores e peso relativo 

O Ranking de Cursos é composto por dois tipos de informação: a) dados quantitativos fornecidos pelas IES sobre os cursos pesquisados, não sendo divulgado detalhamento dos indicadores adotados nem os pesos de cada um para compor resultados, e b) opiniões dos professores das IES pesquisadas sobre os cursos das áreas que foram consultados, avaliando-os dentro de uma escala de um a cinco.

Tendências, convergências e especificidades

O estudo evidencia que todos os rankings foram criados no século XXI. Com exceção daqueles produzidos pelos jornais El Mundo (Espanha) e Reforma (México), criados em 2001, os rankings dos outros jornais (Folha de São Paulo, El Mercurio e El Universal) surgiram na esteira da expansão dos rankings acadêmicos internacionais, sendo que os de Chile e Brasil foram criados, coincidentemente, no ano de 2012. Todos eles apresentam como objetivo principal orientar e auxiliar a escolha de futuros universitários e seus pais em relação às carreiras e às universidades.

Com exceção do ranking espanhol e dos rankings dos jornais mexicanos, que evidenciam explicitamente seu caráter estritamente jornalístico, os demais, sem deixar o caráter jornalístico dos veículos de comunicação e informação que os promove, tentam apresentar aos leitores um produto legitimado ou ancorado na cientificidade do campo acadêmico-universitário. Isso se evidencia pela presença de pesquisadores vinculados a instituições universitárias de prestigio na equipe que supervisiona o trabalho de confecção de indicadores e de coleta e tratamento dos dados.

Quatro dos rankings descritos também são semelhantes quanto a sua estrutura geral: são compostos, essencialmente, de duas categorias de produtos diferentes e, até certo ponto, complementares: rankings de universidades e rankings de cursos de graduação. O ranking mexicano do Reforma apresenta uma estrutura mais simples, uma vez que sua estrutura geral contempla apenas ranqueamento de cursos.

Uma descoberta interessante, decorrente da análise comparativa dos cinco rankings tratados neste estudo, se refere à preocupação presente nos rankings brasileiro, chileno e espanhol de respeitar a heterogeneidade das IES, considerando suas características e especificidades. O Quadro 7 apresenta uma tipologia das universidades elaborada a partir de critérios utilizados na montagem desses rankings.

Fonte: Construído a partir de informações retiradas do site oficial do guia Mejores Universidades, Edição 2016 (EL UNIVERSAL, 2016).

Quadro 6: Ranking de Cursos do Mejores Universidades - Jornal El Universal: Dimensões, indicadores e peso relativo 

Fonte: Construído a partir de informações extraídas dos rankings dos jornais El Mundo, Espanha (EL MUNDO, 2001), El Mercurio, Chile (GRUPO DE ESTUDIOS AVANÇADOS UNIVERSITAS; EL MERCURIO, 2016), e Folha de São Paulo, Brasil (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012).

Quadro 7: Tipologia das universidades para a construção de Rankings Acadêmicos 

Apenas os rankings mexicanos comparam indistintamente as diferentes universidades e cursos, sem considerar qualquer forma de diferenciação institucional entre as mesmas. Curiosamente, esses dois rankings se incluem no grupo que acentua seu caráter puramente jornalístico.

O ranking espanhol estabelece distinção entre as diferentes IES, públicas ou privadas. Além dessa diferenciação, esse ranking espanhol, em sua primeira edição, procurava captar a heterogeneidade institucional daquele país ao classificar as universidades em quatro tipos: universidades tradicionais, universidades de futuro, universidades de pesquisa e universidades emergentes.

O ranking brasileiro procura respeitar a multiplicidade e variedade do conjunto do sistema de educação superior desse país ao estabelecer uma clara distinção entre as instituições de educação superior, levando em consideração não apenas a natureza administrativa das IES (pública ou privada), como também as diferenças na configuração da estrutura organizacional das mesmas (universidades, centros universitários e faculdades).

O ranking chileno, por sua vez, permite classificar as IES de tal forma que se pode valorizar a qualidade de acordo com as especificidades de cada IES, permitindo captar a diversidade das universidades e de suas missões institucionais, fato que não se identifica, até o encerramento desta pesquisa, nos rankings dos outros países. Como foi mencionado, esse ranking chileno classifica as universidades como Universidades de Ensino (UDE) e Universidades de Pesquisa (UDP). Dentro das UDE existem duas subclassificações: UDE e UDE com projeção em pesquisa. Dentro das UDP, identificam-se as UDP com doutorado em áreas seletivas (menos de sete doutorados concentrados em duas áreas do conhecimento) e UDP com Doutorado (mais de sete doutorados com mais de duas áreas do conhecimento).

O estudo revelou, conforme exposto na Figura 2, que as especificidades próprias a cada um dos rankings repousam, acima de tudo, em diferenças identificáveis a partir de aspectos metodológicos que determinam a escolha da natureza e do tipo de fonte utilizadas na construção de seus indicadores.

Do ponto de vista do tipo de fonte por meio da qual são recolhidas as informações para a avaliação dos diversos indicadores, verifica-se que o ranking chileno constrói indicadores objetivos, empiricamente identificáveis; o ranking mexicano, em contrapartida, constrói indicadores baseados em fontes exclusivamente subjetivas, envolvendo percepções de informantes do meio acadêmico e do mercado de trabalho ou dados fornecidos pelas próprias IES. Desse ponto de vista, eles são completamente opostos, mas ambos são classificados como rankings puros.

Os rankings do jornal espanhol El Mundo e do jornal mexicano El Universal podem ser denominados híbridos, predominantemente subjetivos. No caso do ranking do El Mundo, isso se justifica, uma vez que dez por cento do valor ponderado de seu resultado final é resultado de indicadores objetivos; no caso do ranking do jornal El Universal, algumas das informações subjetivas fornecidas pelas próprias IES são confirmadas objetivamente em bases de dados oficiais.

Observação: As três tabelas classificatórias promovidas pelo jornal El Mercurio compõem o ranking de Calidad de las Universidades Chilenas, cada uma com características que impedem seu enquadramento em único tipo de ranking híbrido.

O ranking do jornal Folha de São Paulo adota uma configuração híbrida, com relativo equilíbrio entre fontes objetivas e subjetivas, tendendo para a maior utilização de fontes objetivas: parte de seus indicadores é construída objetivamente (60%) e parte é construída subjetivamente (40%).

No que se refere à adoção de rankings com foco nos insumos e/ou nos produtos, o ranking do Reforma efetua a classificação dos cursos exclusivamente com base na qualidade de determinados produtos, podendo ser considerado um ranking puro que adota indicadores subjetivos com foco no produto.

Embora não de modo exclusivo, o ranking da Folha de São Paulo está estruturado preponderantemente a partir de indicadores de produto (86%), ou seja, dados e informações a partir dos quais são construídos índices que pretendem avaliar a qualidade dos principais produtos universitários a partir da ótica desse ranking: pesquisa e ensino. Nesse sentido, o RUF é um ranking essencialmente híbrido, que além de apresentar relativo equilíbrio entre fontes objetivas e subjetivas, tendendo para a maior utilização de fontes objetivas, demonstra relativo equilíbrio entre insumos e produtos, tendendo para um foco maior nos produtos.

Na relação insumos e produtos, os rankings de El Mundo e El Universal caracterizam-se por serem híbridos. Além de predominantemente subjetivos, pelos dados divulgados publicamente, infere-se que eles apresentam equilíbrio entre insumos e produtos. A respeito de El Mundo, pode-se afirmar que suas principais fontes de informação para produzir tanto o 50 Carreras quanto o Las Mejores Universidades Españolas equivale a 50% dos questionários respondidos pelas universidades, com informações predominantemente de insumos, sendo que os 50% restantes, obtidos por meio de dados oficias (10%) e de percepções de docentes e especialistas (40%), contém informações predominantemente de produtos. No que se refere a El Universal, destaca-se que o Ranking de General de Instituciones do Guia Mejores Universidades é composto das percepções de professores e empregadores sobre a qualidade de IES, portanto, refere-se a produtos (40%), sendo que 60% dos dados quantitativos fornecidos pelas IES envolvem insumos e produtos sobre ensino e pesquisa, além de outros dados institucionais. Desse total de 60%, considerando a ausência de detalhamento dos indicadores, infere-se que uma parcela reduzida se refere a produtos, provavelmente na área de pesquisa, predominando os dados de insumos. Diante dessa realidade, classificou-se como um ranking que apresenta equilíbrio entre insumos e produtos.

Cenário semelhante se identifica no Ranking de Cursos do Guia Mejores Universidades, do mesmo jornal, no qual 30% corresponde a percepções de professores sobre qualidade dos cursos (produtos), e os dados institucionais sobre os cursos, que envolvem insumos e produtos, equivalem a 70%. Desse último percentual, estima-se uma predominância de insumos, calculando-se parcela reduzida de informações sobre produtos.

Em relação ao RCUC, produzido pelo jornal El Mercurio, além de possuir três rankings puros decorrentes da adoção de indicadores elaborados com informações objetivas, no que diz respeito à utilização de indicadores com foco nos insumos e/ou produtos seus rankings podem ser classificados como híbridos. Na medida em que o RCUC tenta abranger a grande heterogeneidade do sistema de educação superior chileno, torna-se difícil enquadrar suas três tabelas classificatórias em um único tipo dentro da diversidade de rankings híbridos existentes. Nesse sentido, o ranking da qualidade do ensino de graduação (RCDP) pode ser caracterizado como predominantemente de insumo dos processos de ensino. O ranking de IES (CUC) abrange uma heterogeneidade de indicadores, sinalizando equilíbrio entre insumos e produtos. Por sua vez, o Guia de Carreiras (GISCAPRE) combina uma série de indicadores, predominando o foco no produto.

À guisa de conclusão

Muitos usos podem ser feitos dos resultados explicitados neste artigo. Os críticos das metodologias adotadas pelos rankings acadêmicos e o decorrente questionamento da validade dos mesmos por seu caráter predominantemente subjetivo, podem reforçar suas teses a partir dos dados apresentados na Figura 2. Como foi mencionado, o estudo demonstra que três dos cinco jornais da grande imprensa do espaço ibero-americano que produzem rankings acadêmicos tomam como fonte de referência para a definição de qualidade da educação superior indicadores subjetivos (La Reforma, México) ou predominantemente subjetivos (El Mundo, Espanha; El Universal, México). A essas publicações soma-se o ranking promovido pelo jornal Folha de São Paulo (Brasil), que adota relativo equilíbrio entre indicadores objetivos e subjetivos, embora tendendo mais para os indicadores objetivos. Como exceção ficam os rankings promovidos pelo jornal El Mercurio, que adotam indicadores objetivos, destoando totalmente das estratégias metodológicas dos outros jornais.

Distante dessas abordagens, ancoradas no que no campo da Sociologia da Educação convencionou-se chamar de paradigma do conflito (SANDER, 1984), a pesquisa evidencia a heterogeneidade existente, em termos metodológicos, nos rankings estudados, conjugando ampla gama de indicadores, os quais, ao serem combinados entre si, estabelecem diversos padrões referenciais de qualidade, estampando características específicas aos diversos rankings nacionais. Daí a importância de se compreender as metodologias e os padrões referenciais de qualidade adotados pelos rankings acadêmicos para entender a real dimensão de seus resultados, distante da mera espetaculazarização vazia dos mesmos, daquilo que Debord (1997) denominou criticamente como cultura do espetáculo. Aliás, é precisamente contextualizada na cultura do espetáculo que, a nosso modo de ver, a performance das IES não somente é exaltada, mas também espetacularizada, durante as grandes celebrações do prestigio universitário que acontecem em diversos pontos do planeta cada vez que os rankings acadêmicos (internacionais, regionais ou nacionais) divulgam seus resultados.

Finalizando, é nesse cenário de exaltação da performatividade institucional que a pesquisa revela alguns rankings adotando classificações diferenciadas ao captar não somente a heterogeneidade das IES, mas também suas potencialidades, permitindo, aos diversos públicos atendidos pelas universidades, informações mais aprofundadas para a tomada de decisões. Assim, o Quadro n 6 permite visualizar a adoção pelo jornal El Mercurio de interessante classificação das universidades de pesquisa ao criar duas categorias: universidade de Pesquisa com menos de sete doutorados e duas áreas do conhecimento e universidades de pesquisa com mais de sete doutorados e mais de duas áreas do conhecimento. Com a criação dessas duas categorias, é evidente que se valoriza o mérito de instituições com menor capacidade institucional em termos de pesquisa, mas que, apesar disso, se destacam entre seus pares. Da mesma forma, destacam-se as classificações adotadas pelo jornal El Mundo, que criou categorias específicas que também valorizam a diferença, por exemplo, entre “universidades de futuro” e “universidades emergentes”. A primeira permite projetar o prestigio das universidades dentro de uma perspectiva longitudinal, a segunda, universidades que se destacam apesar de seu pouco tempo de existência.

Esses também são indícios de novas contribuições deste estudo para os leitores preocupados com o aprimoramento dos RANKINTACs, valorizando-os como mecanismos indutores da melhoria da qualidade da educação superior, com base na responsabilização e na transparência de informações. (CALDERÓN; BORGES; POLTRONIERI, 2010)

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Notas

1O presente artigo faz parte do projeto de pesquisa intitulado “Rankings acadêmicos do setor privado no Brasil: trajetória e metodologias adotadas numa perspectiva comparada com rankings do espaço ibero-americano”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo n° 310775/2014-0, coordenado pelo Dr. Adolfo Ignacio Calderón, na condição de Bolsista Produtividade em Pesquisa do CNPq, nível 2, área de Educação, que prevê a formação de mestres e doutores em Educação

2Adota-se o termo rankings acadêmicos posto que engloba a diversidade de atividades do mundo universitário, não só envolve o ranqueamento de IES, também permite adotar indicadores mais específicos, como de cursos de graduação, de cursos de pós-graduação, e grupos e instituições de pesquisa científica, de egressos e empregabilidade, de transferência de conhecimento, inovação tecnológica, de projeção internacional, entre outros

3Procedimento instituído a partir da segunda edição do ranking, em 2002. A primeira edição listava três universidades em cada um dos cinquenta diferentes cursos, sem a atribuição de “medalhas”.

4Em sua primeira edição, no ano de 2012, o RUF contemplava também um “Ranking por Área do Conhecimento”, que listava as dez instituições brasileiras melhor avaliadas em cada uma dentre oito diferentes áreas de conhecimento.(FOLHA DE SÃO PAULO, 2012)

5O Datafolha é um instituto de pesquisas pertencente ao Grupo Folha, criado inicialmente, em 1983, como departamento de pesquisas do jornal Folha de São Paulo

6O número de cursos superiores listados no “Ranking de Cursos” editado em 2012 era de apenas vinte cursos. Em 2013 esse número passou a trinta e, a partir de 2014, ele tem sido composto por quarenta cursos

7Ranking de Qualidade do Ensino de Graduação. Tradução nossa

10Guia de Indicadores Significativos de Cursos de Graduação. Tradução nossa

11Em sua primeira edição, correspondente ao ano de 2012, eram apenas cinco as carreiras listadas (Direito, Engenharia Comercial, Engenharia Civil Industrial, Medicina e Pedagogia); a partir de 2013, esse número passou a nove (incluíram-se também as carreiras de Arquitetura, Enfermagem, Jornalismo e Psicologia)

Notas

8Classificação de Universidades Chilenas. Tradução nossa

9A diferenciação interna dentro do grupo Universidades de Ensino deve-se ao fato de que algumas dessas instituições, embora não possuam pesquisa institucionalizada e não ofereçam programas de doutorado, geram um volume significativo de pesquisa traduzido por meio da publicação de artigos científicos indexados internacionalmente.

Para referenciar este texto

CALDERÓN, A. I.; FRANÇA, C. M.; GONÇALVES, A. Tendências dos rankings acadêmicos de abrangência nacional de países do espaço ibero-americano: os rankings dos jornais El Mundo, El Mercurio, Folha de São Paulo, Reforma e El Universal. EccoS, São Paulo, n. 44, p. 117-141. set./dez. 2017

Recebido: 02 de Setembro de 2017; Aceito: 17 de Novembro de 2017

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