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Eccos Revista Científica

versión impresa ISSN 1517-1949versión On-line ISSN 1983-9278

Eccos Rev. Cient.  no.47 São Paulo set./dic 2018  Epub 10-Jun-2019

https://doi.org/10.5585/eccos.n47.8041 

Resenhas

A fábrica da educação: da especialização taylorista à flexibilização toyotista, de Ricardo Antunes e Geraldo Augusto Pinto São Paulo: Cortez, 2017. 115 ps. (Coleção Questões da Nossa Época). v. 58.

Alex Martins de Oliveira1 

Leandro Sieben2 

Antonio Ademar Guimarães3 

1Doutorando em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS - Brasil alex.oliveira@poa.ifrs.edu.br

2Doutor em Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor/Diretor Colégio Martinus, Curitiba, PR - Brasil leandrosete@gmail.com

3Mestre em Administração pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Professor da Faculdade Instituição Evangélica de Novo Hamburgo, Novo Hamburgo, RS - Brasil. antonio@ienh.com.br

A fábrica da educação: da especialização taylorista à flexibilização toyotista. Antunes, Ricardo; Pinto, Geraldo Augusto. São Paulo: Cortez, 2017. 115p.


O livro traz para o debate os desafios contemporâneos das mudanças na forma de organização do trabalho para a educação questionando: Elas influenciaram as demandas de formação dos trabalhadores no século XX? Que concepções motivaram essas mudanças e quais interesses representavam? E, diante desse quadro, a educação ainda pode oferecer alguma perspectiva influência na emancipação dos trabalhadores?

Na elaboração de respostas a esses questionamentos, os autores organizam o livro com uma introdução mais oito capítulos, detalhando os diversos sistemas de gestão do trabalho e a correspondente educação. Na introdução são refletidas questões históricas como a escola que vigorou ao longo do chamado ‘século do automóvel’ e o porquê de esse projeto sofrer fortes modificações, diante do questionamento sobre qual era a formação necessária para os trabalhadores dessa época; e, nos dias de hoje, o que pretendem os formuladores dos novos modelos de produção. Concluem os autores que ainda impera o utilitarismo em relação à formação do trabalhador e a imposição da razão instrumental.

O primeiro capítulo sobre a produção e o trabalho alienado inicia questionando por que o mundo da produção tem importância na história humana: O que é, afinal, o mundo da produção e como se desenha o mundo do trabalho no interior do processo produtivo? Com base nos conceitos de Marx e Hegel, os autores alertam que não podemos realizar nenhuma análise da vida em sociedade de forma fragmentada. Para a compreensão das “ricas conexões do mundo complexo das causalidades e das ações humanas” (p. 9) apoiam-se na categoria totalidade de Marx, para analisar os momentos que compõem o econômico, o político, o ideológico e o valorativo, que nos conduzem a processos reciprocamente determinantes e determinados.

O capitulo dois apresenta o sistema taylorista de gestão da produção que foi desenvolvido e propagado no decorrer do século XX, a partir dos estudos de Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que originou o livro Princípios da Administração Científica. A obra foi organizada em torno das principais estratégias de Taylor para a implantação da administração científica, cujo objetivo era chegar a um processo produtivo eficiente.

Já no capítulo três, composto pelas ações do fordismo e a produção industrial, os autores destacam as principais características da linha de montagem e a padronização técnica típica da produção em larga escala, tendo Henry Ford (1863-1947) como precursor da ‘indústria de massa’. Trata-se de um modelo de produção que, aliado às teorizações de Taylor, realizou mudanças na organização do trabalho fabril e influenciou o consumo e circulação dos produtos. A empresa Ford foi considerada uma das mais importantes indústrias do capitalismo contemporâneo, sendo o seu fundador também considerado um obstinado pela produtividade do trabalho.

No capítulo quatro é elaborada uma análise crítica que contextualiza e compara o sistema taylorista-fordista e o novo mundo da fábrica. Para os autores, esse sistema possui muitos elementos que já haviam sido apontados por Marx, nos capítulos iniciais de O Capital, sobre a relação da grande indústria do século XIX e a valorização do trabalho fragmentado no século XX, recebendo destaque a própria produção em série.

O capítulo cinco aborda a exaustão dos processos de produção baseados na perspectiva do taylorismo-fordismo. Esse esgotamento exigiu do capital hegemônico uma mudança de paradigma no modo de acúmulo de riquezas. Dessa forma, com base em algumas experiências mundiais, sobretudo a partir dos anos 1980, o modelo produtivo desenvolvido pela empresa japonesa Toyota Motor Company, que ficou conhecido como toyotismo, combinou elementos de continuidade e descontinuidade do modelo anterior e se transformou no padrão a ser seguido e copiado mundo afora. Dentre suas características, destacam-se: a) produção ligada à demanda em vez da produção em massa; b) metodologia baseada no just in time, pela qual se busca continuamente a redução dos estoques; c) estrutura produtiva horizontalizada, fundindo-se à rede empresas terceiras nas quais o trabalho em equipe é um dos pontos principais e cada trabalhador/a opera mais de uma máquina dentro do processo (Nen-Ko).

No capítulo seis, os autores propõem um diálogo acerca da educação de gestores e trabalhadores frente aos desafios da produção industrial do século XX. O modelo inspirado em Ford e teorizado por Taylor desprezava o conhecimento dos/as trabalhadores/as, transformando suas atividades em ‘tarefas’. O objetivo era atacar os saberes-fazeres e o poder de barganha dos/as trabalhadores/as, limitando seus conhecimentos a especializações fragmentadas. Essa educação tinha como principal função a formação de força de trabalho para o mercado. De uma forma geral, nesse modelo de educação o estudante deveria ser preparado para as tarefas rotinizantes das linhas de produção segmentadas e superficiais. Além disso, o/a trabalhador/a deveria ter um bom grau de disciplina e um alto senso de obediência para suportar e viver atendendo demandas de sua linha de produção sem questionamentos. O modelo taylorista-fordista chamado Trainning Within Industry (TWI) - treinamento dentro da indústria -, foi propagado por todo o mundo, principalmente a partir do esforço de guerra nos Estado Unidos.

O capítulo sete mostra que o sistema taylorista-fordista iniciou no mundo uma nova metodologia de educação industrial, na qual vigoraria a perspectiva do treinamento de caráter estritamente utilitário, o que seria suficiente para que o/a trabalhador/a pudesse atender às demandas da produção como um todo. Pela expansão mundial do TWI, essa metodologia foi aperfeiçoada no Japão, com inserção de mecanismos inovadores como o kaizen, no qual se aplicava o princípio de melhoria contínua. Uma vez que a indústria japonesa ainda estava em processo de recuperação nas décadas de 50-60 e que o aumento de produtividade era um pressuposto essencial naquele momento histórico, não só o aumento da produtividade se tornava obrigatória, mas também a flexibilidade na produção - essa a razão do êxito do TTWI desenvolvido na fábrica de motores da Toyota. Essa mudança de paradigma redesenhou a estrutura de educação. Os novos desafios dos/as trabalhadores/as agora tinham que ser enfrentados pelo sistema educacional: com a expansão do toyotismo, o capital reinventou a relação empresa/trabalhador/a e propôs a flexibilização da produção mundial agora se aplicam às relações trabalhador/empresa. O trabalho passou a ser um produto do ‘empresário’ trabalhador, sob o nome de capital humano, pelo qual polivalência, multifuncionalidade e flexibilidade se tornaram elementos essenciais na educação dos trabalhadores.

O capitulo oito conclui o livro com uma reflexão sobre a educação humanista, omnilateral e emancipadora que embasa a crítica ao modelo educacional unilateral, instrumental e alienado que, no capitalismo, reflete a separação entre homem de trabalho intelectual (homo sapiens) e manual (homo faber). Os modelos de produção taylorista-fordista e toyotista de produção capitalista se tornaram, ao longo desse período, as estruturas fundamentais de influência nos modelos de educação pelo mundo, transformando o trabalho de homens e mulheres em simples mercadorias. Com essa influência, a educação tem se convertido numa ferramenta a serviço do capital, em prejuízo de toda uma sociedade de trabalhadores.

O livro de Antunes e Augusto Pinto retoma uma temática que se mantém atualíssima ao escancarar um histórico de submissão da educação à lógica do capital que expõe as feridas atuais; ao mesmo tempo, contribui para a busca de respostas aos desafios das metamorfoses do trabalho. Recomendamos a leitura!

REFERÊNCIAS

A fábrica da educação: da especialização taylorista à flexibilização toyotista, de Ricardo Antunes e Geraldo Augusto Pinto São Paulo: Cortez, 2017. 115 ps. (Coleção Questões da Nossa Época). v. 58. [ Links ]

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