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Eccos Revista Científica

versión impresa ISSN 1517-1949versión On-line ISSN 1983-9278

Eccos Rev. Cient.  no.47 São Paulo set./dic 2018  Epub 10-Jun-2019

https://doi.org/10.5585/eccos.n47.10407 

Resenhas

Formação para a docência na educação infantil: pedagogias, políticas e contexto, de Débora Teixeira de Mello, Viviane Ache Cancian e Simone Freitas da Silva Gallina (Orgs). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2017, 503 p.

Ligia de Carvalho Abões Vercelli1 

1Doutora em educação pela Universidade Nove de Julho. Docente do curso de Pedagogia e do Programa de Mestrado em Gestão e Práticas Educacionais (Progepe/Uninove). São Paulo - SP - Brasil ligia@uni9.pro.br

Formação para a docência na educação infantil: pedagogias, políticas e contexto. Mello, Débora Teixeira de; Cancian, Viviane Ache; Gallina, Simone Freitas da Silva. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2017. 503p.


Abordar diferentes temáticas voltadas às crianças de 0 a 5 anos é sempre desafiador e relevante, uma vez que, após vinte e dois anos da homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9394/96), a qual aponta a educação infantil como a primeira etapa da educação básica, portanto, como direito fundamental, ainda encontramos crianças sem vagas em creches e pré-escolas. Além disso, são muitas as pesquisas sobre esses níveis de escolaridade que ressaltam a persistência de um modelo de ensino instrumental que subtrai dos pequenos a principal atividade dessa faixa etária: a ludicidade. Assim, apresentar resultados de trabalhos que vislumbram uma pedagogia emancipatória voltada à primeira infância se faz extremamente necessário.

Na apresentação da obra Formação para a docência na educação infantil: pedagogias, políticas e contexto, as organizadoras Débora Teixeira de Mello, Viviane Ache Cancian e Simone Freitas da Silva Gallina ressaltam que trabalhar com a complexidade da docência na educação infantil as desafiou a participarem da Rede Nacional de Formação de Professores, composta por dezoito universidades de todo o Brasil1. Em parceria com os participantes dessas instituições e com a Coordenadoria de Educação Infantil do Ministério da Educação (CEI-MEC), Mello, Cancian e Gallina elaboraram o curso de especialização em docência na educação infantil com a finalidade de garantir a visibilidade das crianças pequenas por meio de planos de ação pedagógicos a serem implantados nos contextos de trabalho das participantes.

O livro que ora resenhamos apresenta o protagonismo de docentes da educação infantil que participaram do curso em questão, em diferentes escolas e cidades do estado do Rio Grande do Sul, que atentaram para a pedagogia da escuta, das relações e das diferenças levando em conta as crianças, as famílias e os docentes. Composto de vinte e dois artigos, aborda as seguintes temáticas: brincadeiras, avaliação na educação infantil com foco na documentação pedagógica; práticas pedagógicas com bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas; formação inicial e continuada de professores da pequena infância; arte visual, música e experiência estética; implementação de políticas públicas em alguns municípios do Estado do Rio Grande do Sul; organização do espaço físico para bebês; participação da família de crianças de 0 a 3 anos e rotinas.

Vale a pena ressaltar que as práticas pedagógicas voltadas especificamente para os bebês (0 a 1 ano e sete meses de idade) foram objeto de análise em sete artigos, fato este, para nós, muito importante, pois trabalhar pedagogicamente com esse público ainda é o ‘calcanhar de Aquiles’ para muitos docentes. Seguem catorze textos que apresentam temáticas voltadas à educação infantil como um todo (crianças de 0 a 5 anos), sendo que dois abordam somente a pré-escola, ou seja, o trabalho realizado com crianças de 4 a 5 anos, e um artigo voltou-se para a educação não escolar especificamente em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).

Esta resenha está agrupada nesses três blocos - bebês, educação infantil como um todo e CRAS - e suas respectivas temáticas a fim de evidenciar que é viável e possível realizar um trabalho pedagógico que leve em conta as especificidades da infância e das famílias, bastando uma equipe engajada e disposta a enfrentar novos desafios.

As autoras dos trabalhos voltados aos bebês discutiram as seguintes temáticas: avaliação na educação infantil com foco na documentação pedagógica, práticas pedagógicas (dois textos), a participação da família no contexto escolar, o espaço do bebê na escola de educação infantil, constituição da docência, o brincar musical. De forma geral, apontam a necessidade de se registrar todos os movimentos dos bebês, seus gestos e suas necessidades, pois somente por meio do registro é possível acompanhar, analisar e interpretar a realidade das crianças, suas descobertas e experiências.

Porém, nesse aspecto a mudança por parte dos professores se faz de forma tímida. As práticas pedagógicas voltadas aos bebês revelam a possibilidade de os tornarem protagonistas no contexto escolar, oferecendo acesso às diferentes linguagens com ênfase nas interações e nas brincadeiras tal como propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010). Para tanto, o olhar atento e sensível deve estar presente no cotidiano do professor e, além disso, ele deve ser o principal mediador a fim de favorecer a autonomia dos bebês. Para tanto, os espaços devem ser transformados e repensados visando uma intencionalidade pedagógica para que eles possam criar cultura, se relacionar e experenciar diferentes sons, aromas, sabores e saberes a todo o momento. Nesse sentido, a formação continuada em serviço se faz necessária uma vez que a realidade objetiva aponta para as necessidades dos bebês de um determinado contexto. Cabe ressaltar que na educação infantil, principalmente no trabalho voltado aos bebês, a família necessita participar para que possam entender as propostas pedagógicas, o porquê de cada atividade e das brincadeiras, além do vínculo fundamental de confiança entre as duas instituições.

No que se refere à educação infantil de 0 a 5 anos, as temáticas se voltam à formação inicial e continuada, artes, propostas pedagógicas, rotinas e brincadeiras. Alguns textos apontam o quanto a formação inicial não dá conta de trabalhar a complexidade da criança pequena, muitos cursos de Pedagogia sequer oferecem disciplinas voltadas ao trabalho com os bebês. E ainda, no Estado do Rio Grande do Sul, em determinados locais, ainda se encontram escolas nas quais os professores não têm formação superior, conforme previsto pela LDBEN. Para dar conta dessa lacuna, alguns textos apontam a importância da formação continuada em serviço, porém ressaltam que ela fará sentido se forem discutidos aspectos que façam parte do cotidiano da escola, das famílias e da comunidade, ou seja, questões enfrentadas no dia a dia pelos docentes e demais funcionários. As pesquisas apresentadas denotam o quanto a promoção de encontros com os profissionais ressignifica as práticas pedagógicas, pois eles são capazes de refletir sobre suas ações e modificá-las no cotidiano escolar.

A prática pedagógica voltada às artes foi um dos aspectos discutidos em dois textos, uma vez que essa linguagem ainda traz vestígios de uma pedagogia tradicional na qual as crianças têm de colorir desenhos prontos, fazer colagens e recortes sem significado algum. Os textos trazem abordagens diferenciadas apontando o quanto as crianças são capazes de transformar objetos usando a criatividade e a expressão, porém, para tal, os espaços e tempos das crianças têm de ser respeitados. A brincadeira foi o mote da maioria dos artigos, os quais apontam que se trata de uma atividade que tem de estar presente na rotina das crianças pequenas, em diferentes situações, tendo o professor como elo mediador a fim de que possa observar como elas as desenvolvem, com qual intenção e de forma. É por meio delas que os pequenos criam cultura.

A pesquisa realizada no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da cidade de Santo Augusto, no Rio Grande do Sul, foi voltada para o brincar como estratégia de acolhimento a crianças de 0 a 6 anos em situação de vulnerabilidade social. Para tanto, a equipe envolvida visitou diferentes locais do bairro e 89 residências para que pudesse avaliar a dinâmica de vida das pessoas. Além disso, realizaram entrevista semiestruturada com a psicóloga do Centro. A brincadeira foi utilizada como elo de fortalecimento de vínculos afetivos entre crianças e suas famílias a partir da escuta dos sujeitos no contexto pesquisado, a brinquedoteca do CRAS. As autoras concluíram que o brincar possibilitou o resgate do afeto e do sorriso, sentimentos e emoções congelados entre pais e filhos, em função da dura realidade que têm de enfrentar.

O que nos chamou atenção nessa coletânea, além da diversidade das pesquisas, foi o fato de os vinte e dois artigos terem sido escritos somente por mulheres, sendo que em cada um participaram duas autoras, totalizando quarenta e quatro. Diante dessa constatação, perguntamos: Somente mulheres se matricularam no curso de especialização em docência na educação infantil ou os homens não quiseram ou não foram convidados a participar da coletânea? Caso esse questionamento seja negativo, esse dado revela o quanto a educação infantil, no Rio Grande do Sul, ainda é um espaço voltado para as mulheres tal como foi constituído historicamente. Os capítulos poderiam ter sido organizados de forma que apontassem, em uma sequência, as pesquisas realizadas somente com bebês, uma vez que se trata de um momento ímpar do desenvolvimento; em seguida as de educação infantil como um todo e, por último, as do CRAS, por ser um espaço de educação não formal. Um dos capítulos apresenta citação repetida de uma determinada autora, mas de forma alguma esses pontos tiram o mérito do trabalho apresentado.

A coletânea revela dados muito interessantes, apontando a possibilidade de um fazer pedagógico que respeite os bebês e as crianças pequenas, seus tempos e espaços, suas necessidades e individualidades. Traz alento ao observarmos que são muitas as experiências que tiram os pequenos de uma posição passiva e os coloca como construtores do conhecimento. Porém, segundo algumas autoras, muito cabe ser feito em termos de formação de professores para que tenhamos uma escola da infância que respeite as especificidades dessa faixa etária e valorize as descobertas infantis.

REFERÊNCIAS

Formação para a docência na educação infantil: pedagogias, políticas e contexto, de Débora Teixeira de Mello, Viviane Ache Cancian e Simone Freitas da Silva Gallina (Orgs). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2017, 503 p. [ Links ]

Nota

1Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal da Paraíba (UFPA), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal do Paraná (UFPA), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Federal do Sergipe (UFSE), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade Federal de Brasília (UnB).

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