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Eccos Revista Científica

versão impressa ISSN 1517-1949versão On-line ISSN 1983-9278

Eccos Rev. Cient.  no.53 São Paulo abr./jun 2020  Epub 31-Jan-2024

https://doi.org/10.5585/eccos.n53.17252 

DOSSIÊ 53 - EDUCAÇÃO, ESTÉTICA E SENSIBILIDADES

ENTRE CUBOS, CAMINHOS E ÁRVORES: UMA DISCUSSÃO SOBRE A RENOVAÇÃO DA VIDA

AMONG CUBES, PATHS AND TREES: A DISCUSSION ABOUT LIFE RENOVATION

Cleide Rita Silvério de Almeida, Doutora em Educação1 
http://orcid.org/0000-0003-1135-9855

Mariangelica Arone, Doutora em Educação2 
http://orcid.org/0000-0002-0734-1858

Alexsandro Junior de Santana, Doutor em Educação3 
http://orcid.org/0000-0002-8726-2745

1Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) São Paulo - SP, Brasil

2Doutora em Educação pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) São Paulo - SP, Brasil

3Doutor em Educação pela Universidade Nove de Julho (UNINOVE) São Paulo - SP, Brasil


Resumo

Neste artigo, que recorreu a fontes de natureza bibliográfica e documental, apresentam-se três filmes de curta-metragem para discutir a condição humana, tendo como referência teórica o pensamento complexo de Edgar Morin. Parte-se da premissa de que os filmes, sejam curtas ou longas-metragens, trazem um potencial formativo na medida em que mobilizam a sensibilidade estética por meio da projeção e identificação com os personagens, colocando-nos em sintonia com eles. Os filmes fazem emergir vários temas, instigando uma nova compreensão e até rupturas com ideias cristalizadas. Espera-se que este trabalho possa trazer contribuições para a ação docente em sala de aula, desenvolvendo atividades formativas que cultivem nos alunos renovação de ideias, outros olhares e perspectivas de vida.

Palavras Chave: Curta-metragem; Estética; Sensibilidade; Pensamento complexo.

Abstract

In this article, which recurred to sources of biographical and documentary character, we present three short films in order to discuss human condition, taking as a theoretical reference Edgar Morin´s complex thought. Based upon the premise that the films, being short or long films, convey a formative potential as far as they mobilize aesthetic sensibility by means of the projection of the characters and of the identification with them, by putting them in sintony with them The films make various subject-matters emerge and instigate a new comprehension and up till ruptures with crystallized ideas. We hope that this work can bring contributions to the teacher´s and professor´s activity within the secondary education classroom and within the university classroom and develop formative activities which cultivate a renovation of ideas, other views and life perspectives in the pupils and students.

Key-words: Short film; Aesthetic; Sensibility; Complex thought.

1 Introdução

A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. (COUTO, 2009, p. 15).

Este artigo busca trazer para a reflexão a dimensão poética por meio de filmes de curta-metragem. Em nosso grupo de pesquisa, há algum tempo, sentimos a necessidade de expressar as ideias que estudávamos a partir de outras linguagens, como a literatura e o cinema. O que poderíamos descobrir mexendo em outras gavetas? Esta pergunta veio a nós a partir do livro Bisa Bia, Bisa Bel (MACHADO, 1984), unida à curiosidade de investigar: será que, como Isabel, nós encontraríamos alguma Bisa Bia num envelope dentro da caixa que estava na gaveta do armário da mãe de Isabel enquanto fazia arrumação? Queríamos olhar para dentro de nosso campo, mas com outros elementos, novas ideias que nos instigassem ou, como nos traz Mia Couto (2009, p. 106), queríamos “deixar entrar a luz da poesia na casa do pensamento”. Os curtas-metragens poderiam auxiliar-nos nesta busca? Nossa hipótese é que poderíamos encontrar caminhos interessantes, porque temos trabalhado com alunos de iniciação científica e de mestrado nesse sentido e obtido resultados expressivos, uma vez que filmes, de longa ou curta duração, contribuem para a compreensão da condição humana. Temos também referências positivas sobre o potencial formativo de curtas com classes de Pedagogia, para discutir questões educacionais.

Uma dinâmica que também se tem constituído como força propulsora deste eixo de pesquisa são os estudos desenvolvidos sobre o pensamento complexo de Edgar Morin. Em várias obras ele se declara um “onívoro cultural” (MORIN, 2000b, p. 13) e expressa seu entusiasmo pelo cinema, pela literatura e a música: “O cinema era a gruta dos Mistérios iniciáticos para minha geração. Ao nos transportar a um estado semi-hipnótico, o cinema nos iniciava em uma vida superior, mágica, sublime” (MORIN, 2000b, p. 16). E, ainda:

No âmago da leitura ou do espetáculo cinematográfico, a magia do livro ou do filme faz-nos compreender o que não compreendemos na vida comum. Nessa vida comum, percebemos os outros apenas de forma exterior, ao passo que na tela e nas páginas do livro eles nos surgem em todas as suas dimensões, subjetivas e objetivas. (MORIN, 2000a, p. 50).

Os filmes despertam uma possibilidade de compreensão do outro, pois, enquanto em nossa vida prosaica, no correr de nossos afazeres e no cumprimento de nossas obrigações, não conseguimos prestar atenção às condições do sofrimento humano, desviando o olhar, nos filmes não ficamos indiferentes ao que acontece. “A estética desperta a nossa consciência. Estimulando as potências inconscientes de empatia que existem em nós [...].” (MORIN, 2012, p. 148) Trazem também um sentido educativo de “escolas de vida” (MORIN, 2000a, p. 48), na medida em que permitem descobertas de nós mesmos a partir do que acontece com os personagens, pois são acionados mecanismos de projeção e identificação em que nos vemos no outro e vemos o outro em nós. Situações vividas que dialogam na semelhança, na complementaridade e até no antagonismo. Torcemos, vibramos, choramos, enfim, emocionamo-nos com tudo o que acontece na tela, e também aprendemos com toda a dinâmica das imagens em movimento que vão esculpindo nosso olhar e sentir.

Neste sentido, apresentaremos três filmes de curta-metragem visando a estabelecer um diálogo sensível com nossos leitores e os convidando a assistirem a estes curtas provocadores de reflexão.

2 Contando histórias: era uma vez...

A proposta de trabalhar com curtas-metragens remete-nos a narrativa simbólica semelhante à dos contos infantis, em que cada um deles propõe reflexões sobre a condição humana.

2.1 A casa em pequenos cubinhos: espaço, vida e memória

[...] Como pude ficar assim?

Nosso olhar - duro - interroga:

“o que fizeste de mim?!”

Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,

Lentamente, ruga a ruga...

(QUINTANA, 2005, p. 410).

Essa história de Kunio Kato ocorreu-nos no momento em que sentimos a necessidade de refletir sobre narrativas, de conhecer sentimentos, memórias, escolhas. A trama, sem diálogos, sobre um senhor que mora em cidade ao nível do mar instigou-nos a narrar encantos, o exalar da poesia numa metáfora da vida, do tempo, do amor e da solidão. A trajetória de um homem que, com o transcorrer do tempo, à maneira de pensar do eu poético, tem uma linda história de vivências, que lhe imprimiram sabedoria.

O filme conta a história de um velho que vive isolado em uma casa que foi invadida pela água. Quando a água se acumula e sobe, ele começa a construir, com pequenos tijolos em forma de cubo, uma nova moradia sobre a anterior, que está sendo alagada, e este movimento vai-se repetindo. Os móveis e objetos são transportados num barquinho, até que acontece um imprevisto: seu cachimbo favorito cai na água e vai para o fundo. O senhor mergulha para ir atrás dele. Mergulha cada vez mais fundo. Ao mergulhar, passa a evocar suas lembranças: sua própria história, a de sua família, a da casa, dos objetos submersos que vai encontrando. As recordações vão surgindo a cada mergulho.

Assim, o curta-metragem mobiliza reflexões sobre a ação que o sujeito protagonista vai tecendo no seu contexto, ao incluir, em seu trabalho de construção/reconstrução da casa, detalhes, particularidades, a fim de trazer à tona as suas memórias.

O estudo de A casa em pequenos cubinhos moveu-se ao redor de duas categorias: o processo singular do sujeito humano e suas interações num determinado período da história, das ações e das emoções humanas, ou seja, identidade, em diálogo com um referencial teórico que privilegiou o pensamento complexo, como linguagem que possibilita expressar “simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias” (LAJOLO, 2000, p. 106), e com a memória, o rememorar, a passagem do tempo e suas implicações.

Poderíamos, a partir desta narrativa, fazer uma analogia com a construção da casa em andares com as fases da vida humana: infância, juventude e maturidade. São muitos os aspectos que poderíamos destacar; aqui ressaltamos a casa como o lugar em que nos relacionamos, onde criamos vínculos, recordamos e ressignificamos nossas memórias.

A memória funciona como:

[...] um diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito. Sem o trabalho da reflexão e da localização, ela seria uma imagem fugidia. O sentimento também precisa acompanhá-la para que ela não seja uma repetição do estado antigo, mas uma reaparição. [...] Mas o ancião não sonha quando rememora: desempenha uma função para a qual está maduro, a religiosa função de unir o começo e o fim, de tranqüilizar as águas revoltas do presente alargando suas margens [...] O vínculo com outra época, a consciência de ter suportado, compreendido muita coisa, traz para o ancião alegria e uma ocasião de mostrar sua competência. Sua vida ganha uma finalidade se encontrar ouvidos atentos, ressonância. (BOSI, 1998, p. 18).

Um aspecto importante da história inscrita nas lembranças do personagem é que traz à tona um momento único, singular, não repetido, irreversível da vida, e se constitui num pensamento perpassado pelo afeto, pelos sentimentos ligados às passagens vividas. Os feitos dos episódios rememorados só se revestem de significado para o velho quando traduzidos por meio dos objetos presentes.

Constatamos, ainda que:

O mundo dos velhos, de todos os velhos, é, de modo mais ou menos intenso, o mundo da memória. Dizemos: afinal, somos aquilo que pensamos, amamos, realizamos. E eu acrescentaria: somos aquilo que lembramos [...]. Na rememoração reencontramos a nós mesmos e a nossa identidade, não obstante os muitos anos transcorridos, os mil fatos vividos. Encontramos os anos que se perderam no tempo, as brincadeiras de rapaz, os vultos, as vozes, os gestos dos companheiros de escola, os lugares, sobretudo aqueles da infância, os mais distantes no tempo e, no entanto, os mais nítidos na memória. Eu poderia descrever passo a passo, pedra a pedra aquela estrada dos campos que percorríamos quando rapazes para chegar a uma herdade um pouco fora de mão. (BOBBIO, 1997, p. 30-31).

A casa em pequenos cubinhos traz as marcas identitárias de seu personagem em cada ambiente, em cada tijolo e pavimento, construído e reconstruído de forma resistente ao alagamento. Sua relação com a moradia representa a expressão de sua identidade, uma singularidade construída com suas marcas significativas e pessoais, numa estruturação contínua para sua proteção e bem-estar, como aprendido com outros seres humanos e na sua cultura.

Para Morin (2011b, p. 49):

[...] a identidade humana é constituída numa relação dialógica da tríade indivíduo/sociedade/espécie. Por natureza e por definição, o ser humano é algo muito complexo e não pode ser compreendido dissociado dos elementos que o constituem. [...] todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer à espécie humana.

A reflexão sobre a identidade é marcada pelo aspecto individual em suas múltiplas faces, social, cultural e emocional. Assim sendo, o vínculo com o passado é importante para prover continuidade e força para a formação de identidade, principalmente quando cuidamos do que foi guardado na memória. Nesse movimento, ao revisitar as suas lembranças o personagem preservou e salvou o cimento de sua casa da vida do esquecimento e da perda, e desse modo prosseguiu sua construção.

Ao perseguir a metáfora da casa para entendermos o curta-metragem, buscamos os vínculos das imagens, objetos, móveis, ambientes, como representações de uma necessidade humana fundamental, que está enraizada e que permite mostrar, por meio dos retratos da família, os vestígios da vivência do personagem, o bem-estar vivido no ambiente familiar, que são levados para cada tijolo construído no novo pavimento.

Ao mergulhar, o personagem traz à tona recordações; escolhe o cachimbo como objeto predileto para ir ao encontro das profundezas vividas pelo seu eu mais profundo e fortalecer ou restituir o senso de identidade e a autoestima renovada de esperança.

É perceptível a condição estética, na capacidade de sentir, de perceber, do sentimento que o personagem reservou para recordar cada retrato, ambiente, objeto, e o que podiam causar, no espaço e momento, para que ele tivesse condições de fruir o movimento de sua vida. O parar para ver, reparar, oportunizando reunir as peças carregadas do novo e do imprevisto, revisto e ressignificado.

Segundo Morin (2000c, p. 103):

A estética é uma relação que se estabelece entre o ser humano e uma certa combinação de formas. [...] A sensibilidade estética é bem uma aptidão para entrar em ressonância, em “harmonia”, em sincronismo, com sons, odores, formas, imagens, cores, que são profundamente produzidos [...].

O personagem mergulha em sua memória e busca lembranças criadas a partir dos objetos, sons, espaços, personagens ausentes no presente, mas que mobilizam recordações e nutrem a vida que insiste e persiste. As lembranças não são estáticas e, da mesma maneira que ele movimenta os objetos constituintes da memória, também esta vai tornando-se um devir complementar do momento presente, momento este que o fortalece apesar de tudo, fazendo, pela contínua reconstrução, com que ele não se entregue à invasão das águas. Como um Sísifo, ele não desiste de sua caminhada; sobe e desce, mergulha e constrói, não se entregando ao absurdo de um ciclo que se repete, porque a memória que compõe sua identidade ressignifica o seu viver.

A relação do personagem com sua casa emana a sua identidade, as marcas pessoais, sua própria alma, a beleza interior que sobressai na construção contínua de seu meio de proteção, que a contém. Em cada tijolo, em cada pavimento, ele mantém viva a sua identidade, que ao ser rememorada surge como lembrança da casa em que outrora viveu e, ao vasculhar os esconderijos da própria memória, penetra nos territórios da velhice. Isto nos remete à epígrafe de Quintana: tornar-se velho é preservar, é encontrar a chama refletida no próprio rosto, é reconhecer-se no tempo, sem sobressaltos. É reconhecer “ruga a ruga” pelos velhos familiares, é reencontrar-se com sua própria história, de forma a construir e reconstruir, da sua forma, resistindo ao alagamento.

2.2 Pai e filha: o tempo, a esperança, a saudade

A partir do curta-metragem Pai e filha, buscamos refletir sobre os sentidos e configurações do amor e da saudade, elementos extremamente relevantes no trabalho poético do enredo.

O filme inicialmente apresenta uma despedida, em que a personagem filha, ainda criança, despede-se do pai. A história conta a saga da personagem que, ano após ano, e sempre de bicicleta, retorna ao lugar da despedida, esperando que o pai retorne. Assim como as paisagens holandesas retratadas pelas estações, com a personagem também acontece a passagem do tempo. Enquanto a roda gira, os anos passam, remetendo ao título da música de fundo: “As ondas do Danúbio”; os anos vão passando como ondas que vão e vem. Cada corte introduz nova elipse temporal, que equivale a uma noção da passagem do tempo, e assim ela se torna adolescente, adulta, mãe e idosa. Ao longo de todo o filme a tonalidade sépia está presente indo de um bege claro a um marrom escuro. A paleta é pastel e aquarelada ao mesmo tempo. O preto e o branco são contrastados, com sombras muito marcadas e não há escala de cinzas. O traçado do caminho é delicado, reservando espessura para as árvores, e apresentando apenas um contorno dos personagens, mas sempre há uma claridade presente que projeta sombras das bicicletas, do movimento do andar, das árvores.

Em Pai e filha, sem o uso de palavras, no gesto de repetição incessante do pedalar na bicicleta, uma menina vai ao local do adeus, mostra seus sentimentos de amor e saudade, e que se estrutura nas lembranças que possuía do pai. Demonstra, ainda, que dentro da memória se pode viver. Do mesmo modo, a melodia da trilha sonora vai-se repetindo harmoniosamente.

A velha bicicleta contém fragmentos, recordações do que já foi da história, da temporalidade humana. No entanto, ao voltar-se a ela no ato de buscar pela última vez o pai, liberta-se a história de sua objetificação de passado: a agora idosa deixa a bicicleta jogada e vai até o barco, criando outro olhar sobre a saudade e inevitavelmente a sua consciência de finitude pela realidade é expressa. Diante disto, não é possível pedir mais tempo, a angústia da espera termina. A vida segue o seu curso.

No filme, sem vozes e com personagens sem rostos, em que as expressões faciais são concebidas por meio das emoções, o texto poético alterna-se entre os tempos vividos pela personagem e a ênfase dada a uma música que conduz a atmosfera sonora e integra a animação do início até o final. Um “eu” saudoso denuncia mensagens e emoções vividas pela espera da filha, que é transmitida pela linguagem corporal e pela harmonia com a música.

A imagem das bicicletas, mais especificamente as rodas das bicicletas, mostra a relação entre pais e filhos, de tal maneira que giram constantemente, metaforicamente como a roda da vida e a evidência de que o tempo não para. É com esse intuito que a poesia de Chico Buarque nos mostra o poder da vida irredutível à apreensão do desvelo criativo da história, revelando os acontecimentos e os tempos vividos pela personagem filha.

Tem dias que a gente se sente

como quem partiu ou morreu.

A gente estancou de repente,

ou foi o mundo então que cresceu.

A gente quer ter voz ativa,

no nosso destino mandar.

Mas eis que chega a roda viva

e carrega o destino prá lá....

Roda mundo, roda gigante

Roda moinho, roda pião

O tempo rodou num instante

Nas voltas do meu coração...

(RODA..., 1968).

O cenário também foi pensado de acordo com esta noção do cotidiano da vida, ao se desenrolar a partir de uma sequência em que a personagem principal faz um trajeto de bicicleta onde há um pequeno barranco, porém muito íngreme. O obstáculo barranco deve ser vencido. O pensamento de Chico Buarque “A gente vai contra a corrente até não poder resistir...” (RODA..., 1968) reverbera, em certa medida, esta ideia de superação da dificuldade transmitida no filme. Desta forma, a personagem, com sua bicicleta, vai vencendo os obstáculos e atravessando toda a sua vida até seu envelhecimento, o que é evidenciado pela passagem do tempo representada nas paisagens transformadas pelas estações do ano, assim como na transformação do seu corpo e de seu movimento.

Em cada passagem do tempo, o obstáculo barranco vai-se tornando mais difícil de ser vencido. Desse modo, observamos que na velhice a personagem precisa descer da bicicleta e subir o barranco caminhando. Isso indica e sugere algo capaz de nos conectar ou reconectar diretamente com a questão: o andamento da vida e os seus obstáculos, que são representados em elementos que teriam ação direta em uma bicicleta e que atravessam cada estação do ano, e no outono, com a ventania, seu efeito é devastador.

Assim, quando nos encontramos com a sua presença envelhecida, observamos o passar de muitos anos, como se fôssemos inesperadamente atirados a um tempo mais original, no mesmo lugar onde o pai a deixou. Há uma parada, uma quebra no fluxo incessante do porvir que se perde no passado, e que revela a esperança. Ansiosa em saber se o barco está voltando, age de modo descuidado com a bicicleta, deixando-a caída no chão, para ir ao encontro da paisagem a beira da água.

Nesse momento, a atitude da personagem representa a esperança, fazendo vínculo com a imagem do pai e com suas lembranças, com o passado e as passagens do tempo que se fazem presentes em sua vida. E a roda da vida é manifestada, como na poesia de Chico Buarque:

Na volta do barco é que sente

O quanto deixou de cumprir

Faz tempo que a gente cultiva

A mais linda roseira que há

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a roseira prá lá... (RODA..., 1968).

Desvela-se um rio que secou. A personagem hesita um pouco, chega à clareira e avista um barco velho, deteriorado, meio coberto pela areia do fundo do rio. Um barco muito parecido com o de seu pai. Nesse momento ela para e toca o barco, num movimento ininterrupto da própria roda viva. Expressa-se um sentimento como se o barco fosse a proteção acolhedora do pai. Ela então se deita no barco, demonstrando toda a possibilidade extraordinária da forma de vida; é como se o pai tivesse retornado para ela. Tudo agora é o desejo original, e acolhedor, unido de forma nostálgica: o rio seco, o barco, a bicicleta, a tristeza e a saudade, como imagens recorrentes.

Com a saudade, seu passado não é somente recuperado, como é possível pensar também no fim, como na poesia “Roda viva”:

A roda da saia mulata

Não quer mais rodar não senhor

Não posso fazer serenata

A roda de samba acabou...

A gente toma a iniciativa

Viola na rua a cantar

Mas eis que chega a roda viva

E carrega a viola prá lá...

(RODA..., 1968).

2.3 Flores e árvores: amor, bem e mal, renovação

Eu queria aprender o idioma das árvores.

Saber das canções do vento nas folhas da tarde.

Eu queria apalpar os perfumes do sol.

(BARROS, 2003, p. 14).

Partindo da epígrafe acima, em que a criança fala à árvore, fala ao vento, apalpa os perfumes do sol e inicia seu destino de falar com todos, nomeando os seres do mundo, tornando-os conhecidos, começamos a tessitura desta tapeçaria de referências acerca do filme de curta-metragem Flores e árvores (1932) e seus simbolismos.

O curta aborda as relações delicadas e difíceis entre árvores habitantes de uma floresta. Em poucos minutos, Walt Disney nos mostra uma obra-prima, seu primeiro filme colorido, que narra, sem diálogos, a história de duas árvores que se apaixonam, quando, inesperadamente, surge uma briga entre uma árvore oca, seca e rabugenta e uma mais jovem e gentil.

Na história, as flores, árvores e alguns animais estão acordando, quando o sol tinge o céu de várias cores. Aos poucos o dia surge e, pela temperatura amena e agradável da primavera, todos celebram e dançam. O ambiente é impregnado pela dança da vida, até que duas árvores começam a dançar apaixonadamente.

Percebe-se a presença marcante de uma natureza eufórica; a trilha sonora é tão expressiva que se configura como um adorno das árvores, folhas, flores e animais.

A trama tem como principal mote a relação entre duas árvores, que promovem galanteios entre si, mas têm de encontrar soluções para superar um obstáculo: outra árvore que possui como característica principal o desgosto, pois não enxerga tudo de bom que existe à sua volta. Suas atitudes tornam-se uma marca negativa quando observa a tudo e, com o objetivo de atrapalhar o casal, tenta agarrar a “árvore feminina”, sem sucesso. Fica irritada e ateia fogo na floresta.

Com Campbell, em sua obra “O poder do mito” (1991), refletimos sobre a dualidade do bem e do mal, que traz uma série de símbolos comuns encontrados nos terrenos dos mitos e religiões, os quais simbolizam uma realidade interior muito profunda presente em cada um de nós, na maneira como enxergamos o mundo e a nós mesmos. A figura do herói é realmente o elemento transitório. É a metamorfose ontológica essencial entre o mal e o princípio pacífico. O ser herói é acometido de algum tipo de tragédia e, assim, é desafiado à aventura. A aventura leva-o a derrotar a morte exuberante do mal, que se desmorona, e o herói retorna, vitorioso, à sua realidade, agora conduzindo o bem e ensinando a todos a vislumbrar os valores da outra margem da vida, a da paz primordial que foi reconquistada.

Foi com este elemento simbólico que nos deparamos quando trouxemos a animação Flores e árvores, um confronto entre bem e mal. Em nosso jeito de ver o mundo e viver, estamos familiarizados com o mal, de maneira que as implicações dessa batalha constante, dessa oposição, dessa visão dicotômica transitam no nosso caminhar, na tentativa de viver a jornada do herói, em que bem e mal são superados, transformados.

No eixo do mal da história, a árvore personagem representa o vilão: tem a voz da crueldade, sua aparência difere do colorido do resto da floresta: tronco cinzento, oco e seco, com corvos dormindo em seus galhos. Além desse aspecto visual demonstrando a negatividade, a música expressa por si só a construção desses acontecimentos, os quais são exaltados pela briga que culmina em um incêndio na mata, apagado pelos próprios seres da floresta.

Nesse sentido, consideramos os elementos da ética de Morin, para quem “A noção de mal é inseparável da subjetividade humana: só um sujeito individual pode sofrer com o mal e somente um sujeito individual pode querer fazer mal” (MORIN, 2011a, p. 188). Isso tem a ver com a conjunção da crueldade provocada pela falta, pelo excesso e pela maldade.

No eixo do bem da trama, um personagem árvore galanteia a outra árvore por meio do som tocado por ele mesmo, e aquela se comunica com ele dançando ao som dessa música; ambos possuem cores, como os demais. Em meio a esse cenário, troncos, galhos, folhas, animais estão em plena harmonia na floresta. Mas, esse bem está ameaçado e sob perseguição.

O pensamento de Morin traduz essa inquietação sobre a valorização do bem, quando nos diz:

[...] podemos resistir à crueldade do mundo e à crueldade humana pela solidariedade, pelo amor, pela religação e por comiseração pelas infelizes vítimas. O combate essencial da ética é a dupla resistência à crueldade do mundo e à crueldade humana. (MORIN, 2011a, p. 193).

Isto condiz com a busca das múltiplas ilhas de bondade que existem entre nós para resistir ao oceano de barbárie e maldade.

É muito comum a referência ao combate entre bem e mal em filmes e histórias relacionadas ao trânsito entre vida, crueldade, perdão e renascimento, bem como a transcendência abrindo caminho para o conhecimento de um novo modo de viver.

Vimos na narrativa do filme três momentos que podem dar-se simultaneamente: a harmonia, o conflito entre o bem e o mal e o recomeçar. A harmonia no destaque de uma animação acompanhada pela melodia, que enfatiza a suavidade dos movimentos bonitos das plantas e folhas, e a tranquilidade dos personagens. Um cenário bem detalhado, valorizado pela luz dos raios da manhã, pelas sombras projetadas dos corpos, flores exercitando-se animadamente, personagem feminina se maquiando. No conflito, o vilão é o causador da perturbação da trama, pois a narrativa seria harmônica se não fosse por ele.

As cenas do conflito entre bem e mal expõem as atitudes individuais do vilão, seus achaques na história. Mesclando o atear do fogo numa ação do próprio sujeito e a busca coletiva dos outros seres para apagá-lo, tece-se um cenário da luta do bem contra o mal, o que nos mostra uma terra deformada, um lugar que precisa vencer obstáculos, reaprender a aprender.

Mas quando o incêndio assume proporções catastróficas e o fogo evidencia a transformação, ameaçando toda a fauna da floresta, os vários habitantes do local tentam apagá-lo em desespero. Nesse momento, a água, como elemento fluido do desejo de mudança, abrirá as possibilidades de uma nova aventura.

E isto tudo só se torna possível com o voo dos pássaros, que faz com que o ar sirva de símbolo das relações entre o céu e a terra, no sentido da renovação, de um novo ciclo a ser iniciado. O exercício de um voar coletivo dos pássaros que permitiu a simulação da ação dos bombeiros, ao provocar chuva nas nuvens.

No enfoque dessa interpretação, orientamo-nos por Campbell (1991) quando nos convida a adentrar a jornada do herói e refletir não apenas sobre que o bem deve superar o mal, mas que bem e mal são transformados, transmutados. Contudo, não observamos essa mudança de paradigma no final da trama, pois o próprio vilão que provocou a queima da floresta acaba sendo queimado também; assim, o personagem não se converte, e o casal bem-sucedido casa-se ao final, reafirmando a ideia de não permitir o mal para extrair o bem.

Este curta traz reflexões sobre um confronto e um encontro de gerações em que a passagem do tempo se torna secundária, e acaba se transformando num instrumento de valores no sentido do bem e do mal, e a difícil compreensão mútua travada nas relações.

Estas reflexões remetem-nos ao poema da epígrafe, de Manoel de Barros, em que o menino fala com os pensamentos dos seres do mundo. Com eles, buscamos conhecer um pouco dos personagens desta animação. E até “apalpar os perfumes do sol”, a pergunta que fica: estamos preparados para discutir, refletir sobre o bem e o mal?

O menino de “O idioma das árvores” evidencia seu anseio por assemelhar-se à natureza, mas necessário se faz o transcender do querer fazer para um querer ser, como integrante da natureza. Depreendemos daí o quanto essa mudança de paradigma é complexa, impondo-nos reformar o pensamento, como uma exigência para compreendermos esse novo jeito de viver. Assim, é necessário refletir sobre o que nos diz Morin (2012, p. 40):

[...] O espírito humano se abre ao mundo. A abertura ao mundo revela-se pela curiosidade, pelo questionamento, pela exploração, pela investigação, pela paixão de conhecer. Manifesta-se pela estética, pela emoção, pela sensibilidade, pelo encantamento diante do nascer.

3 Considerações finais

Os filmes dilatam ou prolongam os momentos intensos que atravessam, como raios, a vida real. (MORIN, 1997, p. 77).

As palavras mencionadas na epígrafe acima constituem uma renovação do pensamento, de tal forma que possamos configurar a arte como meio para incitar os diversos saberes apreendidos no modo poético. Aquele modo em que as possibilidades poéticas que habitam o terreno da experiência emocional, sensível e estética do humano alimentam a reflexão sobre o real, que ajuda a pensar sobre esses saberes e entendê-los desde outra perspectiva. Ao mesmo tempo, eles se constituem num exercício intelectual de novas descobertas.

O estudo dos curtas indica ao pensamento a religação, implica o tecer junto a complexidade humana em suas diversas dimensões, que é construída num viver feito de prosa e poesia. Esse exercício de compreensão é necessário para que possamos, em nosso cotidiano prosaico, contribuir para um poetizar no presente e no devir.

Os filmes têm um papel relevante na formação humana, ao permitirem experiências que na vida cotidiana não seriam possíveis ou mesmo que escapam à nossa percepção. Os cubos, os caminhos e as árvores apresentados nos curtas expressam as várias dimensões da vida humana, pois são, de certa forma, imagens refletidas de nós mesmos, de nossos pensamentos e ações.

A inalienável aspiração humana à felicidade, à esperança, ao direito de existir sem outra justificativa senão a própria saudade é o que se lê nas entrelinhas como o motivo de viver da personagem principal da trama Pai e filha, obcecada, em seu próprio tempo, pela partida do pai, a ponto de nada afetar sua vontade de ver o retorno dele.

Em Flores e árvores, o texto poético é repleto de simbologias, em suas imagens de muitos significados. Todas elas se estendem no sentir a presença concreta da vida, que emoldura sentimentos, incertezas, inquietudes, sensações inusitadas do confronto permanente entre o mal e o bem. Neste pátio imaginário ressurge a vida, forte e resiliente, que cresce no nosso olhar, e do qual igualmente nascem os poemas.

Num jogo de proximidade e distância com memórias de uma vida, o personagem de A casa em pequenos cubinhos mostra os diversos saberes apreendidos no contexto local e cotidiano. Nele, as memórias investigadas em seu testemunho ganharam um espaço de viver a vida, onde as muitas formas de pensamento e sensibilidade estavam em relação. Assim, tais memórias são compreensíveis pela possibilidade de sua poesia nos levar a uma percepção da transparência em nós mesmos, do entendimento de que no individual se encontra o outro.

Os curtas levam-nos a pensar sobre a força da renovação da própria vida, seja buscando memórias, seja superando a saudade ou apagando um incêndio. A vida apresenta forças para enfrentar o que separa e mata. Aprendemos com os curtas que é preciso enfrentar os medos, como fez o velho ao mergulhar mais fundo para recobrar as memórias perdidas e encontrar novos significados para a construção com os pequenos cubos, o que lhe permitiu fazer com que o “insuportável torne-se suportável” (MORIN, 2012, p. 147), e assim novamente poder brindar. A renovação também é encontrada na filha com saudades do pai que partiu, e que nos caminhos procura por sinais de um retorno. Um sentimento de vazio que durou uma vida toda, e só na velhice conseguiu sentir “felicidade com a infelicidade” (MORIN, 2012, p. 147), o que lhe possibilitou rever seu pai. A vida é também renovada quando as árvores, com a ajuda de outros seres da floresta, conseguem extinguir o incêndio provocado por uma atitude de ódio. A união de todos, dos mais frágeis aos mais fortes, supera o risco de uma destruição iminente. Essa força conjunta faz com que seja possível tornarem-se “melhores, mais sensíveis e compreensivos” (MORIN, 2012, p. 147).

Dimensão sensível e poética: um embalo para nosso bem-viver. Com sabedoria, prosa, mas também com uma infinidade de detalhes que absorvem o belo, o poético. Tudo pensado para buscar a desconstrução e recriação de nosso universo. E, quem sabe, uma refundação para perceber o mundo, na renovação do pensamento na poesia e no amor para pactuar de um mundo transformado. Como nos diz Morin (2012, p. 137):

[...] a vida real da poesia é o amor. Um amor nascente inunda o mundo de poesia; um amor que dura irriga de poesia a vida cotidiana; o fim de um amor nos devolve à prosa. O amor, unidade incandescente da sabedoria e da loucura, faz-nos suportar o destino, faz-nos amar a vida. O amor é a grande poesia no mundo prosaico moderno e alimenta-se de uma imensa poesia imaginária (romances, filmes, revistas).

Por fim, as imagens, as músicas e danças ressaltadas no processo criativo dos curtas-metragens foram absorvidas na sensibilidade, na cumplicidade do gesto criador e inacabado das nossas construções poéticas, as quais assumiram um outro olhar sobre a realidade que nos cerca, por vezes marcada por incertezas e medo. E o mais prodigioso: a extrema simplicidade com que colocaram em nossas emoções a mescla entre o fascínio pelo reencantamento da própria vida e a construção do conhecimento que ainda nos é tão novo, em diálogo com o cultivo da nossa sensibilidade estética.

Referências

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Recebido: 20 de Maio de 2020; Aceito: 26 de Maio de 2020

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