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Eccos Revista Científica

versão impressa ISSN 1517-1949versão On-line ISSN 1983-9278

Eccos Rev. Cient.  no.64 São Paulo  2023  Epub 12-Fev-2024

https://doi.org/10.5585/eccos.n64.21906 

Artigos

ANÁLISE DO ENSINO DE SOCIOLOGIA NO NÍVEL MÉDIO DO IFPB - CAMPUS SOUSA

ANALYSIS OF SOCIOLOGY TEACHING IN HIGH SCHOOL AT IFPB - CAMPUS SOUSA

ANÁLISIS DE LA ENSEÑANZA DE SOCIOLOGÍA EN LA ESCUELA SECUNDARIA DEL IFPB - CAMPUS SOUSA

Patrícia Diógenes de Melo Brunet, Mestrado em Ensino1 
http://orcid.org/0000-0001-8337-2288

Simone Cabral Marinho dos Santos, Doutorado em Ciências Sociais2 
http://orcid.org/0000-0001-8338-8482

1Mestrado em Ensino. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB. Sousa, PB - Brasil.

2Doutorado em Ciências Sociais, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/Campus Pau dos Ferros - UERN/CAPF. Pau dos Ferros, RN - Brasil.


Resumo

O presente estudo investigou o ensino da disciplina de Sociologia no ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) - Campus Sousa, com destaque para a organização da disciplina no Projeto pedagógico dos cursos integrados ao ensino médio, os conteúdos ensinados e a adoção de recursos pedagógicos nos planos de ensino e diários de classe. Como proposta metodológica, realizou-se uma pesquisa de natureza bibliográfica e documental, através do procedimento de análise dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC’s), dos planos de ensino da disciplina e dos diários do professor de sociologia. Dos resultados, é possível perceber uma preocupação com a contextualização dos conteúdos, de modo a estabelecer conexão com recursos pedagógicos que despertem o interesse dos alunos. Por outro lado, percebe-se a necessidade da instituição pesquisada transpor a interdisciplinaridade do papel para a sala de aula, bem como incentivar a disposição para o trabalho em conjunto entre as disciplinas. Igualmente, colocar-se, de forma engajada, no debate para que a disciplina de Sociologia possa continuar a ser ofertada na educação básica.

Palavras-chave: ensino médio; sociologia; interdisciplinaridade.

Abstract

The present study investigated the teaching of Sociology in high school at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Paraíba (IFPB) - Campus Sousa, highlighting the organization of the subject in the Pedagogical Project of courses integrated into high school, the contents taught and the adoption of pedagogical resources in teaching plans and class diaries. As a methodological proposal, a bibliographical and documentary research was carried out, through the analysis procedure of the Pedagogical Projects of Course (PPC's), the teaching plans of the discipline and the diaries of the professor of sociology. From the results, it is possible to perceive a concern with the contextualization of the contents, in order to establish connection with pedagogical resources that arouse the students' interest. On the other hand, it is perceived the need of the researched institution to transpose the interdisciplinarity of the paper to the classroom, as well as to encourage the willingness to work together between the disciplines. Equally, engage in the debate so that the discipline of Sociology can continue to be offered in basic education.

keywords: high school; sociology; interdisciplinarity.

Resumen

El presente estudio investigó la enseñanza de la Sociología en la enseñanza media en el Instituto Federal de Educación, Ciencia y Tecnología de Paraíba (IFPB) - Campus Sousa, destacando la organización de la asignatura en el Proyecto Pedagógico de los cursos integrados en la enseñanza media, los contenidos impartidos y la adopción de recursos pedagógicos en planes didácticos y diarios de clase. Como propuesta metodológica, se realizó una investigación bibliográfica y documental, a través del procedimiento de análisis de los Proyectos Pedagógicos de Curso (PPC's), los planes docentes de la disciplina y los diarios del profesor de sociología. A partir de los resultados, es posible percibir una preocupación por la contextualización de los contenidos, a fin de establecer conexión con recursos pedagógicos que despierten el interés de los estudiantes. Por otro lado, se percibe la necesidad de la institución investigada de trasladar la interdisciplinariedad del trabajo al aula, así como de fomentar la voluntad de trabajo conjunto entre las disciplinas. Igualmente, participar en el debate para que la disciplina de Sociología pueda seguir ofreciéndose en la educación básica.

Palabras clave: escuela secundaria; sociologia; interdisciplinariedad.

1 Introdução

É sempre possível pensar que o ensino se transforma quando está imerso em relações sociais concretas e experiências vividas. Como declarou Freire (1987), ensinar e aprender resultam da interação entre professor e aluno e do diálogo entre ambos, capazes de construir uma atitude crítica frente à complexidade do mundo. A relação professor e aluno é carregada de significados, indo além de um processo cognitivo de transmissão de conhecimento, no qual o professor emite enquanto o aluno recebe.

Adentrando esse universo, Charlot (2005) defende que o professor deve ensinar com significado, mobilizando os alunos para que os saberes façam sentido para eles, no entendimento de que só aprendemos aquilo que nos interessa. Assim, é possível percebermos o papel relevante que o professor desempenha na mobilização por ele desencadeada, durante a atividade de ensino.

Este artigo, debruçando-se sobre o ensino e a sua importância, é um recorte de estudos oriundos da dissertação defendida em 2017 no Mestrado Acadêmico em Ensino da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) - Campus Avançado de Pau dos Ferros (CAPF), acerca do ensino de Sociologia no 3º ano de cursos técnicos integrados ao ensino médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) - Campus Sousa. A pesquisa abordou a consolidação da sociologia como uma ciência e disciplina, suscitando debates em torno do ensino de conteúdos e da formação de professores para atuação no ensino médio.

Partindo dessa pesquisa, pautamos neste artigo os seguintes aspectos: (i) como a disciplina se encontra estruturada nos projetos pedagógicos de cursos técnicos integrados ao ensino médio do IFPB - Campus Sousa; (ii) que conteúdos são ministrados nessa disciplina; (iii) como a disciplina é organizada nos planos de ensino e diários de classe do professor de Sociologia desses cursos.

Destacamos, nesta pesquisa, a organização da disciplina Sociologia no Projeto pedagógico dos cursos, os conteúdos próprios ao seu ensino e a adoção de recursos pedagógicos nos planos de ensino e diário de classe. Trata-se de um trabalho engajado no debate atual, pela defesa de que a disciplina de Sociologia continue a ser ofertada na educação básica.

2 Metodologia

A pesquisa é de natureza bibliográfica e documental, com uma abordagem qualitativa, a qual proporciona ao investigador os meios necessários para investigação dos fenômenos sociais. A pesquisa bibliográfica, de acordo com Severino (2007, p. 122), “é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc”. Para nossa pesquisa, recorremos ao estudo de autores e documentos pertinentes ao estudo sobre o ensino de sociologia.

Já a pesquisa documental, segundo Kripka, Scheller e Bonotto (2015), permite que o investigador mergulhe, capte o fenômeno a partir da perspectiva do documento, produzindo novos conhecimentos, criando formas de compreender os fenômenos e como estes têm sido desenvolvidos. É um tipo de pesquisa que favorece a observação, o processo de maturação dos indivíduos, seus conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades e práticas. Para esses autores, “o uso do documento em pesquisa permite acrescentar a dimensão do tempo ao social” (KRIPKA; SCHELLER; BONOTTO, 2015, p. 245).

Nesses moldes, seguimos com o delineamento da documentação, tomando como objetos de estudo: i) Projetos Pedagógicos dos Cursos Técnicos de Agropecuária, Agroindústria, Informática e Meio Ambiente, todos integrados ao ensino médio do IFPB/Campus Sousa; ii) Diários de classe do terceiro ano, referentes ao ano letivo de 2015, por ser o ano concluído na instituição, quando da coleta de dados. A partir desses documentos, pudemos compreender como o ensino de sociologia é desenvolvido nesses cursos, considerando a relevância da abordagem qualificada da realidade social que pode ser feita por essa disciplina, e como ela pode contribuir para o enriquecimento dos demais componentes curriculares.

3 O ensino de sociologia no ensino médio

O ensino de Sociologia no nível médio da educação básica, ao longo dos anos, foi marcado por idas e vindas nos currículos escolares. Essa inconstância explica a pouca tradição e importância dada às discussões sociológicas nas escolas. A disciplina de Sociologia permaneceu obrigatória no currículo do ensino médio entre o período de 1925 a 1942. Depois disso, foram constantes os esforços para o seu retorno, enquanto era priorizado o ensino de outras disciplinas, consideradas “úteis” para a vida prática do aluno (BRUNET et.al, 2017). Apenas no ano de 2008, por meio da Lei nº 11.684, é instituída a inclusão obrigatória da disciplina de Sociologia e também da Filosofia, nas três séries do ensino médio brasileiro.

Antes, em 2006, quando publicadas as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, foi projetado, para a disciplina de Sociologia, o desafio de tornar o seu ensino mais interessante e produtivo, destacando-se a importância da mediação pedagógica, com o propósito de traduzir o conhecimento sociológico em linguagens e termos adequados, que pudessem ser compreendidos pelos alunos. Em outras palavras, fazer com que aquilo que é pesquisado nas instituições acadêmicas pudesse encontrar sentido diante da realidade da sala de aula (BRUNET et.al, 2017). Como vemos, firmou-se a necessidade de justificar a importância da disciplina, reforçando a emergência de uma análise consciente dos processos sociais no ensino médio, sendo a Sociologia imprescindível para a compreensão desse contexto.

Em 2012, são homologadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, publicadas pelo CNE via Parecer nº 05/2011. Nessas Diretrizes, reafirma-se a obrigatoriedade da disciplina de Sociologia em todos os anos do ensino médio, bem como a sua inclusão na área de Ciências Humanas. Em termos operacionais, a área de Ciências Humanas passa então a agregar os componentes curriculares obrigatórios História, Geografia, Filosofia e Sociologia (BRASIL, 2011).

O que poderia se configurar uma tomada de decisão sólida e duradoura, por força da lei, na história mais recente da disciplina, novamente demonstrou sua fragilidade, diante das disputas políticas deflagradas com a publicação da Base Nacional Comum Curricular. Passados quase dez anos da publicação da Lei nº 11.684/2008, a disciplina de Sociologia perde então o status de obrigatoriedade, como componente curricular em todas as séries/módulos do ensino médio. Com a publicação da Lei 13.415/2017, que trata da Reforma do Ensino Médio, fica a cargo de estados e municípios adequarem seus currículos à BNCC.

Nessa nova configuração, a Sociologia, assim como a Filosofia, a Geografia e a História, aparecem como componentes curriculares da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, perdendo-se de vista as especificidades científicas de origem dessas áreas do conhecimento (SILVA, 2020). Para Silva (2020), essas especificidades originais foram dissolvidas em habilidades e competências requeridas por um novo currículo, sem com isso fortalecer os conteúdos da disciplina, ao contrário, enfraquecendo-os em suas bases científicas.

No entanto, há de considerarmos que a BNCC confere à sociologia uma dupla finalidade no ensino médio: por um lado, a de compartilhar as teorias e os conceitos acerca do pensamento sociológico, e, por outro lado, a de produzir a “desnaturalização” e o “estranhamento” frente ao senso comum estabelecido. Defende-se o estímulo à visão crítica da realidade, associando-o ao ensino de conceitos primordiais para esse componente curricular. Como posto no documento da BNCC,

Nessa etapa, como os estudantes e suas experiências como jovens cidadãos representam o foco do aprendizado, deve-se estimular uma leitura de mundo sustentada em uma visão crítica e contextualizada da realidade, no domínio conceitual e na elaboração e aplicação de interpretações sobre as relações, os processos e as múltiplas dimensões da existência humana. (BRASIL, 2018, p. 472).

É reconhecida a importância dessa disciplina na formação cidadã dos jovens, sobretudo por ser o ensino médio uma etapa final da formação básica a eles oferecida. Embora prevaleça a preocupação em indicar os conteúdos primordiais a serem estudados, bem como a forma de abordá-los, de modo a facilitar o aprendizado e o desenvolvimento dos alunos, cabe-nos destacar uma marca hierárquica imposta ao currículo pela BNCC. Há uma hierarquização de disciplinas consideradas mais ou menos importantes, que não é propriamente uma novidade, mas que reforça efeitos negativos de valorização de uma área em detrimento de outra e, mais uma vez, a perda de status de componentes obrigatórios relevantes do ensino médio.

Essa realidade persiste, o que nos impele a uma constante necessidade de justificar a importância do ensino de Sociologia. De acordo com Bodart e Feijó (2020, p. 19), essa necessidade ocorre pelos seguintes motivos: a) pouca tradição da disciplina no currículo escolar nacional; b) disputas em torno do modelo de educação fortemente influenciado pelo neoliberalismo; c) ‘movimentos’ anti-intelectuais que se ampliam no Brasil contemporâneo. Soma-se a isso, um descrédito da disciplina que encontra refúgio numa visão conservadora, que comumente a associa aos objetivos doutrinários de ideologias de esquerda. Ainda segundo Bodart e Feijó (2020), a resistência à Sociologia ocorre por desconhecimento ou, de forma consciente, por aqueles que a enxergam como uma ameaça aos seus privilégios. Essa visão equivocada da Sociologia nega e subverte um dos seus princípios, qual seja, o de suscitar a reflexão e o questionamento acerca dos fatos sociais, contribuindo para uma formação cidadã e crítica, sendo um importante instrumento para a defesa da democracia.

Como percebemos, há uma descontinuidade no ensino de Sociologia no nível médio, em decorrência da inconstância da disciplina na base curricular. Preocupa-nos especialmente a posição que a disciplina ocupa no currículo. E aqui ressaltamos o lugar que se pretende alocar a Sociologia no contexto da educação profissional e tecnológica, cujo objetivo principal é formar mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, seguindo a lógica neoliberal. A construção do pensamento sociológico, nesse cenário, não poderá deixar de priorizar, no nosso entendimento, a questão humana, tomando como referência a formação de indivíduos questionadores, reflexivos, indagadores e conscientes da realidade social na qual estão inseridos. Nessa direção, pontua Oliveira:

A preocupação com a formação humana ganha contornos importantes quando pensamos nos institutos federais de educação, ciência e tecnologia, que oferecem formação para o trabalho, sendo um exemplo a oferta de ensino médio técnico integrado. Estas instituições se propõem a oferecer conhecimento que permita aos seus alunos enfrentar os mundos do trabalho, mas não podem deixar de formar cidadãos conscientes de sua realidade (OLIVEIRA, 2019, p.603).

A capacidade de indagar sobre a realidade social atravessa as contribuições da Sociologia e com ela, o conjunto das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas do Ensino Médio, de modo a projetar uma perspectiva de abordagem interdisciplinar mais articulada e menos excludente. Assim, é possível levar o aluno a compreender a complexidade das relações sociais, tornando-se crítico e reflexivo diante dos fenômenos sociais que o rodeiam, abandonando a postura de alienação e de conformação. Tal compreensão se faz importante por ser o ensino médio a etapa final da formação básica do estudante, como também um primeiro passo para a escolha de uma profissão. Por isso a disciplina de Sociologia se faz urgente nesta etapa da vida do aluno, contribuindo para que ele se identifique como sujeito de cultura, pertencente a determinados grupos e estruturas sociais.

A preocupação com o currículo caminha ao lado de um dos requisitos necessários para que o ensino de Sociologia possa ser consolidado no ensino médio, o investimento na formação de professores. Como nos lembra Moraes (2003), a preocupação em definir conteúdos e a produção de materiais didáticos são necessários, mas não se pode negligenciar as discussões a respeito da formação docente. Embora a discussão sobre formação docente esteja fora dos limites do nosso artigo, não esqueçamos que o processo de ensino e de aprendizagem envolve formação, o que confere ao ensino de Sociologia uma necessária articulação entre os elementos presentes nas teorias sociológicas e a realidade social do aluno. A formação docente deve atentar para o contexto de vida do aluno, para a forma como os conteúdos serão abordados e para as especificidades do trabalho em sala de aula (BRUNET et.al, 2017).

4 Resultados e discussão

4.1 Proposta do ensino de Sociologia nos Projetos Pedagógicos de Curso do IFPB - Campus Sousa

Antes de adentrarmos na proposta da disciplina objeto da pesquisa, faz-se necessário explicitar que o IFPB - Campus Sousa possui quatro cursos integrados ao ensino médio, quais sejam: Agropecuária, Agroindústria, Informática e Meio Ambiente, os quais possuem a disciplina de Sociologia como obrigatória, desde o ano de 2008, nas três séries do ensino médio.

De posse dos Projetos Pedagógicos (PPC’s) desses cursos integrados, identificamos qual a proposta de cada um para o ensino de Sociologia no nível médio. Os projetos pedagógicos são importantes documentos institucionais que apresentam as concepções de ensino e de aprendizagem de um curso. Neles, estão presentes os elementos que compõem a estrutura do curso: currículo, corpo docente, corpo técnico-administrativo e infraestrutura, bem como os procedimentos de avaliação e instrumentos normativos de apoio às ações e decisões relativas ao curso.

A começar pelo curso de Agropecuária, o seu PPC foi elaborado por comissão constituída através da Portaria nº. 16 de 22 de fevereiro de 2013. O curso faz parte do eixo tecnológico Recursos Naturais, sendo o mais antigo da instituição, ofertando 40 vagas anuais, com uma carga horária total de 3.698h. Foi pensado e programado para oferecer uma formação técnica, articulando as dimensões trabalho, ciência, cultura e tecnologia, fundamentando-se nos seguintes pressupostos:

O currículo do Curso Técnico em Agropecuária está fundamentado nos pressupostos de uma educação de qualidade, com o propósito de formar um profissional/cidadão que, inserido no contexto de uma sociedade em constante transformação, atenda às necessidades do mundo do trabalho com ética, responsabilidade e compromisso social (IFPB, 2014, p. 24).

Assim, devido à modalidade do curso, o currículo está articulado de forma a integrar uma educação geral com a formação profissional, promovendo-a através da construção de uma consciência crítica e cidadã. Além dessa formação humanitária, o perfil técnico desejável do egresso desse curso objetiva que ele detenha as competências a seguir:

  • Planejar, executar, acompanhar e fiscalizar todas as fases dos projetos agropecuários;

  • Administrar propriedades rurais;

  • Elaborar, aplicar e monitorar programas preventivos de sanitização na produção animal, vegetal e agroindustrial (IFPB, 2014, p. 26).

Dentre as várias disciplinas que colaboram para a formação almejada, está a disciplina de Sociologia oferecida no 3º ano do ensino médio, a qual propõe que o aluno possua o domínio dos subsídios necessários para plenamente exercer a sua cidadania, apropriando-se de uma linguagem que dialogue com o cotidiano e apresentando um pensamento diferenciado em relação aos fenômenos sociais, com foco no mundo do trabalho e nos meios de produção. Para tanto, são elencados os seguintes conteúdos como necessários:

Fonte: Elaborado pelos autoras (2021).

Figura 1 Conteúdos de Sociologia presentes no PPC de Agropecuária para o 3º ano do ensino médio 

Analisando agora o PPC do Curso de Agroindústria, esse foi elaborado por comissão constituída através das Portarias nº. 15 e 16 de 22 de fevereiro de 2013. O curso pertence ao eixo tecnológico de Produção Alimentícia, com uma carga horária total de 3.332h, ofertando 30 vagas anuais. É um curso intimamente ligado à área de agropecuária, que objetiva contribuir para minimizar o desperdício de produtos agrícolas, tais como frutas, legumes, verduras, laticínios, carnes e pescados.

Em relação ao perfil desejável do aluno que conclui o curso de técnico em Agroindústria, espera-se que ele seja capaz de desenvolver as seguintes competências:

  • - Operacionalizar o processamento de alimentos nas áreas de laticínios, carnes, beneficiamento de grãos, cereais, bebidas, frutas e hortaliças;

  • - Auxiliar e atuar na elaboração, aplicação e avaliação de programas preventivos, de higienização e sanitização da produção agroindustrial;

  • -Projetar e aplicar inovações nos processos de montagem, monitoramento e gestão de empreendimentos (IFPB, 2014, p. 29).

É importante destacar que na análise dos conteúdos previstos para a disciplina de Sociologia, para o 3º ano do ensino médio, observamos que o programa do curso de Agroindústria é exatamente igual ao programa do curso de Agropecuária, como está descrito na Figura 1, supostamente em razão da interligação existente entre esses cursos. Os PPC’s desses dois cursos foram aprovados em 2014, sendo que as ementas de Sociologia foram elaboradas antes da chegada dos atuais professores da disciplina.

No que se refere ao curso técnico em Informática, integrado ao ensino médio, seu PPC foi elaborado pela comissão constituída através da Portaria nº. 151 de 16 de novembro de 2015. Trata-se de um curso pertencente ao eixo tecnológico de Informação e Comunicação, com uma carga horária total de 3.334h, ofertando 30 vagas anuais. Esse curso apresenta como objetivo:

Formar profissionais técnicos de nível médio aptos ao desenvolvimento de suas funções no campo de trabalho, com maior perspectiva de empregabilidade nas áreas de produtos e serviços de tecnologia da informação, com reconhecida competência técnica, política e ética, capazes de se tornarem disseminadores de uma nova cultura de utilização da TIC (Tecnologia da informação e comunicação), em todos os espaços possíveis do setor produtivo, primando por um elevado grau de responsabilidade social (IFPB, 2016, p. 22).

Apesar dos cursos do IFPB - Campus Sousa serem de uma tradição mais voltada para o campo, o curso de técnico em informática se distancia dessa tradição e objetiva acompanhar as novas tendências da sociedade da informação, ofertando aos alunos a possibilidade de se capacitarem na utilização das ferramentas da tecnologia da informação.

Em relação aos conteúdos de Sociologia, previstos para este curso no 3º ano do ensino médio, a proposta é que se trabalhem conteúdos relacionados à estrutura do Estado, à política e ao exercício da cidadania, refletindo as relações entre Estado e Sociedade e conscientizando sobre a importância de se discutir sobre política. Assim, abordam-se os seguintes temas:

Fonte: Elaborado pelos autoras (2021).

Figura 2 Conteúdos de Sociologia presentes no PPC de Informática para o 3º ano do ensino médio 

Por último, apresentamos o curso técnico de Meio Ambiente integrado ao ensino médio. O PPC foi elaborado por comissão constituída pela Portaria nº. 150 de 16 de novembro de 2015. O referido curso pertence ao Eixo Tecnológico de Ambiente, Saúde e Segurança, totalizando uma carga horária de 3.265h, com uma oferta de 40 vagas por ano. O seu surgimento foi motivado pelas crescentes preocupações com o meio ambiente, objetivando formar profissionais com uma especialidade sólida, que os possibilite exercer atividades de gerenciamento, consultoria, extensão e pesquisas relacionadas à agricultura familiar, ao desenvolvimento sustentável e respeito ao meio ambiente. Ao final do curso, espera-se que o egresso tenha desenvolvido as seguintes competências:

  • - Coletar, armazenar e interpretar informações, dados e documentações ambientais;

  • - Identificar parâmetros de qualidade ambiental dos recursos naturais (solo, água e ar);

  • - Identificar problemáticas ambientais - tanto vinculados às atividades produtivas da zona rural como da zona urbana (IFPB, 2016, p. 23).

Este curso teve o seu PPC aprovado também no ano de 2016, apresentando os mesmos conteúdos programáticos do curso de Informática para a disciplina de Sociologia, como aparecem na Figura 2.

Recapitulando, os conteúdos de Sociologia são os mesmos nos cursos de Agropecuária e Agroindústria, tendo sido elaborados no ano de 2014 pelo então professor titular da disciplina. Como também são idênticos os conteúdos previstos para os cursos de Informática e Meio Ambiente, elaborados pelo professor contratado em 2015, que ora designamos como P1. A seguir, apresentamos as análises de todo esse aparato documental, de acordo com a metodologia adotada no presente estudo.

Um aspecto observado nos PPC’s dos cursos analisados, exceto o PPC do curso de Meio Ambiente, foi a presença da perspectiva de interdisciplinaridade, em tópico que versa sobre as possibilidades de atuação no mundo do trabalho, apontando como direção norteadora: “Aplicar os fundamentos científico-tecnológicos nas diversas áreas do conhecimento” (IFPB, 2014, p. 27). Para que sejam aplicados esses fundamentos nas diferentes áreas é imprescindível que, durante o ensino médio, o aluno já tenha desenvolvido trabalhos interdisciplinares interligando diversos conhecimentos. Os projetos pedagógicos afirmam ainda que:

O currículo deve contemplar as quatro áreas do conhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a contextualização e a interdisciplinaridade ou outras formas de interação e articulação propiciando a interlocução entre os saberes e os diferentes campos do conhecimento (IFPB, 2014, p. 32).

Tais documentos efetivamente revelam a preocupação com uma metodologia que propicie a interdisciplinaridade, buscando a interação entre os diversos saberes. Em relação à prática pedagógica, o IFPB (2014) afirma a necessidade de interação dos professores com os diferentes contextos culturais, além de se comprometer no incentivo à utilização pelos professores de metodologias e instrumentos para ações e projetos interdisciplinares.

Nos projetos pedagógicos dos cursos de Informática e Meio Ambiente percebemos uma preocupação na utilização didática dos conhecimentos prévios do aluno, ao proporem como metodologia de ensino a realização de “debates sobre os temas elencados a partir de contextos práticos oriundos de situações cotidianas vivenciadas pelos alunos” (IFPB, 2016, p. 87). Através desses debates, o aluno pode trazer para o meio escolar discussões vividas em seu meio social e comunitário, posicionando-se de forma mais crítica frente aos arranjos práticos de sua vida cotidiana. A valorização do conhecimento prévio foi apontada por Octávio Ianni (2011) como um dos desafios do professor de Sociologia em sala de aula. Cabe a ele mobilizar o conhecimento prévio que o aluno traz para a sala de aula, ao mesmo tempo em, que leva o aluno à busca por novos conhecimentos. Assim, o professor de sociologia pode e deve “[...] revelar e desenvolver dados, informações ou noções que os estudantes trazem para a sala de aula e acrescentar novas informações e interpretações, tendo em vista desenvolver uma compreensão nova, original, científica e viva daqueles fatos” (IANNI, 2011, p. 330).

Nos projetos pedagógicos dos cursos de Agropecuária e de Agroindústria, por sua vez, também encontramos a preocupação com o desenvolvimento de uma postura crítica frente à realidade social. O caráter teórico-metodológico destes projetos “tem por objetivo propiciar ao aluno o desenvolvimento do seu pensamento crítico questionando as evidências, as aparências e os lugares comuns” (IFPB, 2014, p. 100). Nesses mesmos termos, Ianni (2011) aborda os desafios correspondentes à consciência da vida social no âmbito do ensino escolar. As mudanças acontecem nas sociedades movidas por um ideal, seja religioso, político, intelectual ou de qualquer outra ordem, que impulsiona a luta através da compreensão dos fatos sociais que o originaram. Essas transformações, sendo objeto de estudo das Ciências Sociais, devem, portanto, necessariamente, perpassar o ensino de sociologia também no ensino médio (IANNI, 2011).

No ensino de Sociologia, o professor trabalha com vários conceitos na abordagem dos conteúdos, o que proporciona ao aluno uma linguagem mais científica. Tais conceitos, porém, necessitam ser contextualizados, para que façam parte do aparato cognitivo dos jovens como um elemento do seu conhecimento racional, que os permite melhor explicarem ou compreenderem a sua própria realidade social. Aqui repousa outro desafio, de acordo com Ianni (2011), o de evitar a naturalização dos fatos sociais. Os fatos sociais não são consequências do destino, mas construídos socialmente, de modo quase irresistível aos indivíduos. Desnaturalizá-los é não nos conformarmos diante das configurações sociais e não nos apegarmos ao discurso de que tudo sempre aconteceu dessa forma e assim continuará a acontecer.

Ademais, observamos também nos projetos pedagógicos uma atenção com a necessidade de contextualização dos conteúdos, ao declararem como objetivo específico da Sociologia “integrar o conhecimento do alunado ao contexto social através de vivências, aproximando o olhar de percepção da realidade social” (IFPB, 2014, p. 100). A contextualização tem se mostrado presente no trabalho docente feito na disciplina de Sociologia, conforme comentaremos adiante, na análise dos diários de classe do professor da disciplina.

4.2 Análise dos diários de classe da disciplina de Sociologia

Neste tópico, ocupamo-nos da análise dos diários do professor de Sociologia, a partir dos conteúdos ministrados no ano letivo de 2015, avaliando-os de acordo com o que está previsto nos PPC’s da instituição, buscando também as evidências que demonstrem, ou não, a existência de um trabalho interdisciplinar no ensino de Sociologia.

O diário de classe é um importante aliado do professor, que atesta a frequência do aluno na instituição, bem como contém o registro de conteúdos, atividades, avaliações e todo o trabalho desempenhado em sala de aula. No IFPB - Campus Sousa adotava-se o diário físico até o ano letivo de 2010, que foi substituído a partir de 2011 por diários eletrônicos, disponibilizados através do sistema intitulado Q-acadêmico, o qual é alimentado com as frequências e notas, bem como por outras informações dos alunos, além de trazer os conteúdos lecionados em cada bimestre. Ao final do ano letivo, o professor entrega um relatório de notas consolidadas a ser arquivado na Coordenação de Controle Acadêmico do campus, por questões de segurança. Para este estudo, fizemos o requerimento dos diários da disciplina de Sociologia à citada coordenação, que os forneceu em forma de um relatório digital, consoante o Quadro 1, que será apresentado na sequência.

Na instituição pesquisada, até o primeiro semestre de 2016, só havia um professor de Sociologia (Professor P1). Contudo, a nossa análise concentra-se apenas nos diários de 2015, por ser o ano letivo que já se encontrava concluído à época da pesquisa, podendo fornecer uma visão mais completa de todo o processo. Foram observados os conteúdos de Sociologia lecionados em cada um dos bimestres do 3º ano do ensino médio, nos quatro cursos integrados da instituição. No entanto, os conteúdos se repetem, sendo idênticos em todos os cursos. Assim, foi elaborado apenas um quadro demonstrativo com tais conteúdos, para as devidas análises.

É importante destacar que a instituição pesquisada adota como livro didático para a disciplina de Sociologia a obra “Sociologia Hoje”, volume único da Editora Ática, dos autores Igor Machado, Henrique Amorim e Celso de Barros.

Quadro 1 Diário de Sociologia do 3º ano do ensino médio 

Diário de Sociologia do 3º ano do ensino médio
1º bimestre 2º bimestre 3º bimestre 4º bimestre
- Política e poder.

- O que é o Estado?

- Contratualistas: Limites do Estado. Hobbes e Locke.

- Contratualistas:
Limites do Estado: Rousseau.

-Avaliação.

- Regimes Políticos: A democracia.

- Regimes políticos: parlamentarismo.

- Partidos políticos.

- Partidos políticos: direita e esquerda.

- Avaliação.
- O conceito de Globalização.

- A governança global

- Globalização e o Estado.

- Exercício sobre globalização e relações internacionais.

- Movimentos Sociais Globais.

- Avaliação.

- O Brasil e a globalização.

- Exibição do documentário.

- Avaliação.
- O conceito de cidadania e a declaração universal dos direitos humanos.

- Direitos civis, direitos políticos e direitos sociais.

- Ações coletivas e movimentos sociais.

- A Luta dos movimentos sociais no Brasil.

- Organizações dos seminários acerca do debate político sobre projetos de lei conservadores polêmicos atualmente em tramitação no Congresso Nacional.

- Seminário I - PEC 171/1993 - A redução da maioridade Penal.

- Seminário II - PL 5069/2013 - Dificuldade na realização do aborto legal.

- Seminário III - PL 6583/2013 - Estatuto da família.

- Debate sobre a legalização da maconha tendo em vista que a equipe encarregada, não apresentou o seminário.

- Prova de 2º chamada para os alunos que não apresentaram o seminário.

- Prova de recuperação.
- Capital Social e participação cívica.

-Capital Social e participação cívica (continuação).

- O papel das revoluções sociais.

- O ativismo político na luta por direitos; Exibição do documentário Defensorxs. Cap 1 - TEKOHA; A luta dos Guarani Kaiowá e o conflito de Terras no Mato Grosso do Sul.

- O ativismo político na luta por direitos; Exibição do documentário Defensorxs. Cap 2 - Engravatados; A luta pelos direitos humanos na esfera da política institucional no Brasil; Proposição de produção textual através da confecção de uma carta para um político.

- O ativismo político na luta por direitos; Exibição do documentário Defensorxs. Cap 3 - Todas as Cores; A luta por direitos das populações LGBT no Brasil.


- Prova de recuperação do bimestre

Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).

A abordagem dos conteúdos listados para o 3º ano dos cursos pesquisados, ao longo do ano letivo, se concentrou nos temas “política”, “poder”, “partidos políticos”, “globalização”, “cidadania”, “direitos humanos”. A apresentação desses temas/conceitos atende ao que está preconizado para a disciplina, ao oferecer ao aluno as ferramentas para que ele compreenda a dinâmica social na qual está inserido, entendendo-se como um elemento ativo com força política e capacidade de promover mudanças, por isso, essencial a abordagem sobre “política, direitos e cidadania”.

É importante ainda destacar que os conceitos trabalhados em Sociologia em muito se relacionam com conhecimentos de áreas afins, como Antropologia, Direito, Política, Economia e Psicologia, consideradas também fundamentais na preparação do aluno para vida cidadã, aparecendo no ensino médio não como disciplinas independentes, mas contextualizadas no corpo das disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia.

É muito importante que o aluno desenvolva uma postura crítica e reflexiva sobre a forma como o poder se constrói na sociedade e como ocorre a relação entre Estado e sociedade, que conheça seus direitos e deveres como cidadão e as diferentes formas de participação política. Ademais, uma das finalidades do ensino médio é a construção da cidadania do educando, o que se verifica, sem dúvida, nos conteúdos descritos no quadro acima.

Ao analisarmos os conteúdos ministrados nas turmas do 3º ano e compará-los com os PPC’s dos cursos de Agropecuária e de Agroindústria, observamos que esses conteúdos não seguem o que está previsto na ementa de Sociologia para o 3º ano. Nos projetos pedagógicos, os conteúdos a serem abordados são: “trabalho”, “relações de trabalho”, “desemprego”, “precarização do trabalho”, “modos de produção, relação de produção e meios de produção (Taylorismo, Fordismo e Toyotismo)”.

Por sua vez, em relação aos cursos de Informática e Meio Ambiente, os conteúdos abordados no 3º ano se aproximam mais do que está previsto nos projetos pedagógicos, embora os diários demonstrem que não se seguiu exatamente a forma que estava posta nos PPC’s. Mesmo assim, é possível identificarmos essas semelhanças, tendo em vista que os projetos desses cursos preveem conteúdos como “política e poder”, “formação do Estado”, “regimes políticos: a democracia”, “partidos políticos”, “Estado e cidadania no Brasil”.

Há, portanto, uma centralidade no debate político, objetivando retirar do aluno a visão de que tudo o que se refere à política é negativo e mentiroso, para entendê-la como um processo de tomada de decisões sobre questões sociais que acarretam efeitos para toda a coletividade. Em simultâneo, observamos, ainda no âmbito dos PPC’s da disciplina de Sociologia, uma ausência do conceito de cultura e questões relacionadas à diversidade sociocultural, o que propiciaria maior aproximação com a área da antropologia.

De acordo com os PPC’s dos cursos mencionados, o objetivo é trabalhar conteúdos relacionados à estrutura do Estado, à política e ao exercício da cidadania, refletindo as relações entre Estado e Sociedade e conscientizando os alunos quanto a importância de discutir sobre política, o que se mostra condizente com a abordagem apresentada nos diários do 3º ano.

Nesses diários também consta a exibição de vídeos como forma de contextualizar os temas estudados, além da realização de seminários. No 2º bimestre foi feita a exibição de um documentário para tratar do tema “globalização”. No 3º bimestre, adotou-se a metodologia de seminários para tratar da luta dos movimentos sociais e de projetos de lei polêmicos em tramitação no Congresso Nacional, a exemplo de projeto acerca da redução da maioridade penal, legalização do aborto e legalização da maconha, temas muito próximos da realidade dos jovens. No 4º bimestre utilizou-se o documentário “Defensorxs”, para contextualizar o ativismo político e a luta por direitos no Brasil. Esse documentário é dividido em capítulos e aborda a luta pelos direitos humanos nas cinco regiões do país.

3.3 O ensino de Sociologia, de acordo com os planos de ensino utilizados pelo professor

Para a análise presente neste tópico foram solicitados ao Professor P1 os planos de ensino utilizados para nortear as suas aulas durante o ano letivo de 2015. O professor atendeu à nossa solicitação e forneceu os planos de ensino adotados no curso de Meio Ambiente Integrado ao ensino médio.

Ressaltamos que os planos de ensino da disciplina de Sociologia, presentes nos PPC’s dos cursos, são exatamente os mesmos para o Curso de Meio Ambiente e para o Curso de Informática. A seguir, apresentamos, na Figura 3, um quadro demonstrativo com os conteúdos de sociologia distribuídos nestes cursos, em turmas do 3º ano do ensino médio.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).

Figura 3 Conteúdos de Sociologia presentes nos planos de ensino do 3º ano 

Como é possível observar, a proposta apresentada nos planos de ensino é que se inicie pela discussão sobre a política e o poder, enveredando pela formação do Estado, a democracia e os regimes políticos, bem como a relação entre Estado e sociedade, a política no Brasil e a política contemporânea. O objetivo apresentado nos planos é desenvolver um debate crítico acerca da participação política, do exercício de direitos e da cidadania plena. Os planos apresentam, ainda, como objetivos específicos para esse debate:

  • Fomentar junto aos alunos o debate sobre a importância da política não apenas no âmbito institucional, mas como elemento componente da própria experiência de vida.

  • Refletir sobre as transformações nas relações entre sociedade e Estado.

  • Compreender os significados atrelados ao exercício de uma cidadania plena, bem como do exercício dos direitos civis, políticos e sociais.

  • Desenvolver uma percepção da importância das ações coletivas e movimentos sociais como motor de transformações na sociedade.

  • Refletir sobre as transformações políticas recentes na história do Brasil.

  • Apresentar o debate recente da sociologia política para a compreensão de problemáticas da contemporaneidade.

Destacamos que os conteúdos propostos contemplam significativamente o conteúdo “política”, como forma de construir uma consciência cidadã nos alunos. A discussão sobre “política” proporciona um entendimento mais aprofundado das relações de poder e a percepção de que essas relações estão presentes em vários aspectos da vida social, além de contribuir para desnaturalizar a ideia de que a política é sempre algo negativo e mentiroso, estimulando os alunos a cidadãos conscientes e participantes das decisões que permeiam os vários espaços da sociedade, abandonado uma postura de negação da política. Essa discussão permite uma reflexão sobre a relação entre Estado e sociedade, focando as várias formas de se exercer a democracia, os direitos dos cidadãos e as formas de participação na política. Assim, visa desenvolver nos alunos a competência para construir uma identidade política e social, proporcionando o exercício da cidadania plena.

Debruçando sobre esses planos de ensino, no que se refere à proposta metodológica para o ensino dos conteúdos previstos, notamos que foi adotada exatamente a mesma metodologia, com destaque para aula expositiva, exibição de filmes, músicas, textos literários, dentre outros.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2021).

Figura 4 Proposta metodológica para o ensino de Sociologia no ensino médio 

Fica evidenciada, na metodologia, a contextualização dos conteúdos apresentados nas aulas, através do uso de recursos como revistas, jornais e filmes, o que se mostra de grande importância, pois o ensino de Sociologia precisa dialogar com a realidade do aluno, com a realidade vivida por eles. O ensino não pode prescindir de explicações introdutórias a respeito da teoria, dos conceitos, dos temas propostos, mas valendo-se da mediação pedagógica, deve procurar estabelecer conexão com recursos que despertem o interesse dos alunos e relacione a teoria, os conceitos, os temas, ao seu contexto e vivência social.

Considerações finais

A presente pesquisa abordou os desafios que a disciplina de Sociologia superou (e ainda supera) em sua trajetória no meio educacional brasileiro. A princípio, passou por várias lutas para conquistar sua efetiva inserção no currículo do ensino médio, até culminar com sua obrigatoriedade, determinada apenas no ano de 2008.

Objetivamos investigar o ensino da disciplina de Sociologia no ensino médio do IFPB - Campus Sousa, mais especificamente, analisando como essa disciplina de Sociologia está estruturada na instituição, como ela está posta nos projetos pedagógicos dos cursos do ensino médio, nos planos de ensino e nos diários de classe do professor.

Nas análises empreendidas, observamos que os projetos pedagógicos dos cursos de Agropecuária e de Agroindústria apresentam o mesmo programa para a disciplina de Sociologia oferecida no 3º ano do ensino médio. Mas se diferenciam do programa encontrado nos PPC’s dos cursos de Informática e de Meio Ambiente. Nestes últimos, encontramos uma preocupação com o trabalho interdisciplinar, com a necessidade de lidar com a contextualização dos assuntos abordados, sendo tal preocupação facilmente perceptível nos diários de classe analisados.

No tocante aos diários de classe, temos que os conteúdos lecionados no ano de 2015 não seguem exatamente o que preveem os projetos pedagógicos, havendo uma maior aproximação entre programas e diários do curso de Informática e de Meio Ambiente. Pelo que foi descrito nos diários, não encontramos práticas interdisciplinares que conectassem os temas pertinentes ao ensino de Sociologia com referências temáticas de outras áreas afins.

Percebemos como ponto positivo a busca pela contextualização dos conteúdos, para o que valeram os diferentes recursos utilizados nas explanações em sala de aula. Todavia, apenas essa contextualização não se mostra suficiente para um estudo sociológico mais completo e abrangente. Para o que fica patente a necessidade da instituição pesquisada e sua classe docente, mormente no ensino da Sociologia, transpor a interdisciplinaridade do papel para a sala de aula, através de capacitações, estudos, encontros, despertando e incentivando a disposição para o trabalho em conjunto entre as diversas disciplinas.

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Recebido: 29 de Março de 2022; Aceito: 02 de Março de 2023

Editor Chefe: Prof. Dr. José Eustáquio Romão

Editora Científica: Profa. Dra. Ana Maria Haddad Baptista

Editora Científica: Profa. Dra. Marcia Fusaro

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