2.1 A abordagem da Prática Pedagógica dos professores no ensino da redação padrão ENEM na produção científica: tendências e lacunas

O mapeamento da produção científica revela que há uma concentração das pesquisas na Região Sudeste, com oito dissertações e apenas uma tese; seguido da Região Centro-Oeste com cinco dissertações e uma tese; já as Regiões Nordeste e Sul possuem o mesmo número pesquisas - quatro em cada. Registra-se a ausência de pesquisas na Região Norte. Com isso, a Tabela 2 mostra a distribuição por região e suas respectivas instituições.

A partir da leitura dos resumos dos trabalhos, inicialmente levantamos as categorias conforme as tendências, recorrências e lacunas no tocante às pesquisas cuja temática seja a Prática Pedagógica do Ensino de Redação ENEM. Entretanto, ao verificarmos o corpus levantado, observamos uma nova categoria emergente que intitulamos de: Princípios Normativos Sobre o Ensino de Redação ENEM.

A análise das pesquisas permitiu-nos verificar subcategorias, a partir das categorias, que intitulamos de: Prática Pedagógica (referente ao processo de ensino aprendizagem, materiais didáticos, uso de tecnologias no ensino, o docente e ao aprendiz da produção textual); e Princípios Normativos do Ensino de Redação (Base Nacional Comum Curricular, Parâmetros Nacionais Curriculares do Ensino Médio, Manual de Redação ENEM). Isso facilitou o agrupamento das teses e dissertações por temas e contribuiu para verificar pontos recorrentes entre os trabalhos, possibilitando mostrar a interrelação existente no processo de produção textual, como é possível verificar na Tabela 3.

As categorias acima apresentam o foco dos estudos, considerando que esses tecem inter-relações temáticas entre si, podem aparecer em mais de uma subcategoria. Assim, dos vinte e um trabalhos que constituíram nosso corpus de análise, subdividimos a categoria Prática Pedagógica em quatro subcategorias: Prática Pedagógica Docente, Aprendiz Textual, Materiais Didáticos e Ferramenta Digital; e a categoria Princípios Normativos do Ensino de Redação em duas subcategorias: Documentos Oficiais de Redação, Referências em Redação Padrão ENEM.

O Quadro 1 evidencia a interrelação das temáticas nas pesquisas que constituem o corpus de análise.

Nesse contexto, a categoria Prática Pedagógica apresenta o maior número de trabalhos, pois consideramos os elementos fundamentais do processo de ensino: planejamento, conteúdo (material didático), metodologia (uso de tecnologias, abordagens, rascunhos, reescritas), relação professor-aluno (caráter autoral, subjetividade), avaliação (resultados dos exames) e objetivos (finalidade do ensino) nessa categoria; tornando seu corpus de dados mais robusto. A propósito, ^{Mizukami (2018)}, considera esses elementos fundamentais, e a relação entre eles contribui para prática pedagógica já que o fazer docente é o ensinar. E esse ensino se dá no fazer e ao fazer se aprende, estabelecendo relações sociais e interação entre os sujeitos: professor e aluno.

Já a categoria Princípios Normativos sobre o ensino de Redação apresenta pesquisas que se valem de documentos oficiais, normatizações, manuais, legislações sobre o ensino de Redação; ou que aparecem tecendo uma relação com os elementos do processo de ensino-aprendizado. Assim, observamos que uma mesma subcategoria pode estabelecer relações com os de outra categoria, já que o foco é a Prática Pedagógica do Ensino de Redação ENEM.

A partir dessas categorias e subcategorias procedemos a análise, verificando quais desses trabalhos podem apresentar uma tendência (inovação) ou propor orientações e encaminhamentos no tocante a prática pedagógica, a partir dos elementos do processo de ensino-aprendizagem já apresentados.

Ou ainda também, aqueles que trazem uma recorrência seja temática, metodológica (material didático, uso de tecnologias, dinâmica da aula, reescritas, rascunhos), relação professor-aluno (caráter de autoral, subjetividade, autonomia) ou ainda que propõe um estudo que estabelece relação, por exemplo, entre material didático X manuais de Redação.

Dessa forma, é possível verificar quais as lacunas e delimitações concernentes das pesquisas desenvolvidas acerca da Prática Pedagógica Docente, para que outros pesquisadores possam contribuir para produção científica nesse segmento. O Quadro 2 evidencia essa afirmativa.

Na categoria Prática Pedagógica estão todos os trabalhos relacionados ao fazer laboral do docente, já na categoria Princípios Normativos do Ensino de Redação os preceitos e orientações quanto ao exercício dessa prática, seja na esfera curricular, atitudinal, ou referência de redações como modelos a serem ensinados e seguidos, ou ainda a prescrição de como será avaliada a redação. Nesse contexto, um mesmo trabalho pode abordar a prática pedagógica por meio da relação professor-aluno e ter como dados as produções textuais e o Manual de Redação para estabelecer uma comparação entre os textos.

Assim, contata-se que todos os trabalhos apresentam temáticas recorrentes, e que eles têm pontos de interseção. Por isso, dentro da perspectiva do que consideramos recorrência, estão as pesquisas que tem como objeto de estudo ou como corpus da pesquisa, a prática pedagógica ou os elementos fundamentais para o exercício do processo de ensino que constituem a prática.

Pensamos que as tendências são inovações, seja na abordagem teórico metodológica, seja na delimitação da pesquisa, ou até nos instrumentos utilizados e no tratamento de dados realizados. Entretanto, sabemos que o conceito de tendência é relativo no espaço tempo, pois o conhecimento não é estático, por isso tomamos o cuidado de ter um olhar parcimonioso em relação a isso.

Não identificamos as lacunas como falhas nas pesquisas, porque nosso objetivo não é estabelecer juízo de valor ou fazer críticas, mas sim apresentar um levantamento sistemático acerca dos trabalhos que versam sobre a Prática Pedagógica Docente do ensino de Redação. As percebemos como uma oportunidade para que futuros trabalhos se desenvolvam, onde não há recorrência, é possível uma perspectiva inovadora. Além disso, alguns trabalhos deveriam ser revisitados, não por problemas de qualidade; mas porque com o passar do tempo carecem de novos olhares, outras abordagens e perspectivas para manter a atualidade condizente com a realidade.

A Figura 2 a seguir, demonstra o quantitativo de trabalhos que foram classificados em cada classificação anteriormente exposta:

Fonte: As autoras (2021).

Figura 2 Quantitativo de pesquisas que foram classificadas em cada classificação 

Os trabalhos que apresentam apenas recorrência temática quanto à Prática Pedagógica são três: ^{Valle (2009)}, ^{Silva (2011)} e ^{Oliveira (2019)}. Entendemos como recorrência, a reincidência da temática central e de um ou mais elementos constitutivos do processo de ensino-aprendizagem. Outras onze pesquisas também trazem em seu bojo recorrências, entretanto, figuram também em outras categorias como tendências e lacunas.

O mais recente nesse âmbito de recorrências no tocante a Prática Pedagógica Docente e relação professor aluno é a de ^{Oliveira (2019)}. Ressignificações para o ensino de escrita no nível médio: práticas docentes em uma escola técnica de Campinas, busca compreender como o ensino de escrita se organiza, coloca o professor como mediador do processo de ensino-aprendizagem, consolida a produção textual de seus alunos e evidencia a visão do professor acerca da prática da escrita.

Para isso recorreu a análise de documentos e diretrizes curriculares, dispositivos didáticos usados em sala de aula, observação participante, entrevistas com discentes e docentes e textos produzidos pelos alunos. Os resultados apontaram para uma mescla entre diferentes concepções de escrita por parte do docente a depender da prática de escrita a ser trabalhada, estando ora mais próximo de uma visão desta como processo, ora de um produto acabado, o que evidencia um professor em busca da consolidação de seu trabalho de mediador da aprendizagem de escrita dos seus alunos.

Nessa dissertação verificamos que os elementos do processo de ensino-aprendizagem apontados por ^{Mizukami (2018)}: relação professor-aluno, metodologia (mediação), conteúdo (livro didático), avaliação (produção textual) tecem uma relação de confronto com as diretrizes curriculares analisadas; pois trazem orientações acerca do trabalho docente referente ao ensino de produção textual que na prática passa por uma oscilação, nem sempre o texto do aluno é mediado pelo docente.

A dissertação de ^{Silva (2011)}, Cursos de redação para o aluno do 3º ano do ensino médio: necessidade ou imposição? Faz uma análise do trabalho pedagógico desenvolvido na escola com a produção textual escrita, os objetivos são refletir sobre os problemas dos alunos em relação a produção, sem incorrer na armadilha de estabelecer culpados. A situação do sujeito vestibulando em relação a sua língua materna, como se dá o ensino de redação no ensino médio, e como é visto o gênero Redação Escolar no vestibular, apresentando-se, então, o discurso dos manuais.

Os resultados apontam os prováveis motivos para as dificuldades encontradas na realização da pesquisa e para o consequente resultado obtido, assim como também se argumenta sobre possíveis soluções para a melhoria da prática pedagógica atualmente utilizada pelos professores no ensino da produção textual escrita. Nota-se novamente que há uma reincidência no tocante a prática pedagógica, entretanto aqui salienta-se uma busca pelas causas das dificuldades de produção textual e caminhos para superar, tem um enfoque no resultado do vestibulando.

Nota-se que ambas as dissertações salientam a Prática pedagógica Docente, uma com enfoque no papel do professor como mediador e nessa última em como buscar soluções para as dificuldades apresentadas com o intuito de obtenção de resultados em provas e exames como o ENEM. Ou seja, a temática central é recorrente, não traz uma inovação e nem apresenta lacunas que podem ser preenchidas com novas pesquisas.

Já as pesquisas de ^{Nicolodi (2005)}, ^{Ruotti (2008)}, ^{Teixeira (2013)} e ^{Manso (2017)} demonstram recorrência temática, tendência e de lacunas. Pensamos que as lacunas podem ser preenchidas com propostas orientações, contribuições ou que a delimitação da pesquisa pode ser alargada em outro momento, ou ainda que pode ser revista em virtude de mudanças no contexto histórico, social e político educacional do ensino de Redação frente a Prática Pedagógica Docente.

Dessa forma, o trabalho de ^{Nicolodi (2005)} representa com maestria a temática Prática Pedagógica, a qual estabelece uma relação direta com o aprendiz de produção textual uma vez que mostra como a intervenção e o direcionamento do professor no processo de escrita do aluno traz melhorias significativas de desempenho e propicia a constituição da subjetividade e o caráter autoral dos textos.

Intitulada A mediação do professor na atividade de produção de textos de alunos concluintes do ensino médio, foi realizada uma análise reflexiva de uma prática de produção de textos com aluno concluintes do ensino médio. Como abordagem metodológica, foi utilizada a teoria histórico-cultural, aportando contribuições de Vygotsky e Bakhtin. É perceptível que apesar da recorrência temática no tocante a importância da figura do docente há uma inovação, pois considera-se os sujeitos da pesquisa inseridos socialmente, como agentes produtores de conhecimento; trazendo uma tendência. De modo concomitante observa-se que não há muitos trabalhos com esse perfil, portanto há uma lacuna no que se refere a analisar a Prática Pedagógica considerando o processo histórico-cultural.

^{Ruotti (2008)}, discorre sobre a postura do professor de Língua Portuguesa ao desenvolver atividades de produção textual escrita nas aulas de Redação, em particular, salas do ensino médio da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Nesse cenário, coloca-se em questão o papel e o trabalho do professor para desenvolver atividades em que a escrita seja uma prática significativa. A partir disso, o objetivo foi demonstrar que o professor, ao entender a aula de Redação como um evento social e o texto produzido pelo aluno como um momento desse evento, pode estabelecer com maior segurança os caminhos para o ensino-aprendizagem.

A abordagem foi a partir dos estudos da Análise Crítica do Discurso, o que proporcionou um melhor entendimento da dinâmica de relação entre discurso e sociedade, reprodução de poder e desigualdade social, inerentes a escola, as aulas de redação e suas especificidades. As análises realizadas possibilitaram compreender a forma como um aluno/autor age, representa o mundo e se identifica dentro de um texto. Essa maneira de ver a produção escrita permite ao professor um trabalho claro e consistente das competências e habilidades escritoras.

O pesquisador inova ao proceder um recorte dos sujeitos da pesquisa. Alunos do EJA, que já tem o estigma de dificuldade de aprendizagem, não obstante, se vale da teoria da Análise do Discurso para entender dinâmicas políticas, sociais e conflitos de poder que se estabelece no processo de ensino-aprendizagem, que o texto do aluno é um reflexo de sua percepção de mundo e de suas competências. A temática é recorrente ao desenvolver atividade de produção textual e apresenta uma lacuna, pois não há pesquisas sobre esse corpus.

^{Teixeira (2013)} em seu trabalho Redação no Ensino Médio: a argumentação dos alunos do Projeto Travessia, analisa vinte produções textuais de alunos que não concluíram o ensino médio no período regular. O objetivo foi verificar em que medida os alunos do Travessia Médio usam a argumentação nas redações dissertativas em interação com a sociedade da qual fazem parte; assim por meio dessas e de outras questões, encontrar novas práticas didáticas pautadas nos paradigmas sociointeracionistas. Uma vez que, ao compreendermos os argumentos que os educandos usam para dissertar sobre um tema, poderemos refletir sobre questões relativas à motivação para o posicionamento crítico mediante as temáticas propostas e a organização do trabalho pedagógico do professor como mediador do conhecimento.

Nesse trabalho, observamos a recorrência temática em relação ao ensino de produção textual, e um diferencial ao fazer uso de paradigmas sociointeracionistas, além disso, valoriza a argumentação para além da esfera escolar, perscruta a validação prática no contexto social do aprendizado feito na escola, e tem como sujeitos alunos que estão à margem da faixa etária do período de conclusão do ensino médio, dada a data em que a pesquisa ocorreu, novos trabalhos nessa perspectiva poderiam ser desenvolvidos, valorizando o contexto em que o aluno está inserido e a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos na escola em sua vida social.

A pesquisa de ^{Silva (2014)} investiga as categorias de práticas interativas que emergem no processo de reescrita em um contexto de mediação provido do uso das Tecnologias da Informação. O corpus foi composto por dados provenientes de uma revisão bibliográfica documental e dados gerados em contextos educacionais. A investigação contempla a inserção das tecnologias nas práticas de ensino e aprendizagem da escrita, tema abarcado pelos documentos oficiais referentes a Educação Nacional, os sujeitos da pesquisa foram duas turmas de terceiro ano do ensino médio e graduandos do sétimo período de Letras.

Nesse contexto, uma sequência didática do gênero artigo de opinião motivou o processo de escrita/reescrita delineado pelos sujeitos participantes desta pesquisa nos dois níveis de ensino. As versões textuais, as subjacentes intervenções mediadas por interfaces digitais (Moodle quickmail/e-mail e recursos do aplicativo Word) evidenciam o objeto de pesquisa constituído pelas categorias de práticas interativas discentes/docentes decorrentes do processo de reescrita. Por fim, os resultados, evidenciam essas categorias de práticas interativas efetivadas entre o professor (em situação de intervenção/mediação) e os(as) alunos(as) ou acadêmicos(as) (ante a intervenção do professor) que emergem no processo de reescrita.

A pesquisa de ^{Silva (2014)} salienta que mesmo com o uso de ferramentas digitais o papel do professor não perde seu espaço ou valor, ao contrário, ele é importante mediador tanto no uso desses recursos tecnológicos quanto no processo de ensino-aprendizagem do conteúdo, no caso o artigo de opinião. Suas considerações e intervenções servem de reflexão para os alunos, pois passam a ver os erros como um instrumento que possibilita melhorar seu texto devido a figura de mediador - do professor -, a diferença é que se faz por meio de outras plataformas e recursos; assim a prática é revista, renovada.

Portanto, esse trabalho traz uma inovação, pois foi o único a fazer uso de recursos tecnológicos no processo de escrita e reescrita textual, sendo assim uma tendência. Apresenta também uma oportunidade para que mais pesquisadores se debrucem sobre tal recorte temático, uma vez que de 2014 para cá passamos por uma pandemia e houve uma necessidade em âmbito mundial de adequação do processo de ensino-aprendizagem via uso de meios digitais; logo essa lacuna carece de ser preenchida com novos estudos. A recorrência em relação ao tema, a relação professor-aluno, a Prática Pedagógica e o uso de documentos oficiais normativos do ensino de Redação.

Os trabalhos até aqui apresentados são pertencentes a categoria Prática Pedagógica e nas subcategorias: Aprendiz Textual, Materiais Didáticos, Prática Pedagógica Docente e Ferramenta Digital em Escrita; em sua totalidade revelam a importância do fazer laboral em sala de aula como uma ferramenta de produção coletiva (aluno x professor) de conhecimento, valorizando assim, o saber experiencial do docente e sua relação intrínseca com o aprendiz.

Além disso, o uso de material didático como um elemento do processo de ensino-aprendizagem, mostra que ele é uma ferramenta e não um guia. Pesquisas apontam falhas, lacunas e a necessidade da revisão de alguns desses materiais; pois muitas vezes não atendem a realidade social em que os alunos estão inseridos. O uso de ferramentas digitais no processo educacional é escasso, apenas um trabalho traz tal perspectiva demonstrando a necessidade de maiores pesquisas, ademais práticas interativas com uso de softwares e aplicativos podem favorecer o processo de ensino e estreitar relações sociais com os aprendizes.

A Figura 3 abaixo é uma síntese dos pontos principais e recorrentes, de acordo com as subcategorias da categoria Prática Pedagógica.

Fonte: As autoras (2021).

Figura 3 Prática pedagógica: uma relação pedagógica entre docente e aprendiz 

Já os trabalhos da categoria Princípios Normativos do Ensino de Redação, dividiram-se nas subcategorias - Documentos Oficiais de Redação, trabalhos que tem como objeto de pesquisa por exemplo: a BNCC, Manual de Redação do Aluno desenvolvido anualmente pelo INEP, Redações nota 1.000 divulgadas pelo MEC.

A tese de ^{Rodrigues (2017)}, A produção textual no ensino médio: os documentos oficiais de ensino, o livro didático e a prova de redação do ENEM tem como objetivo verificar como as orientações teórico-metodológicas, para o ensino de produção de texto, contidas nos principais documentos oficiais de ensino, repercutem nas propostas de produção textual dos livros didáticos de Língua Portuguesa, no ensino médio. Para tanto, as propostas de produção de textos apresentadas pelos dois livros didáticos mais utilizados em todo o país, no ano de 2015, por alunos da rede pública de ensino: Português Linguagens (^{CEREJA e MAGALHÃES, 2013}) e Novas Palavras (^{AMARAL, et al, 2013}).

Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo-quantitativo-interpretativista, fundamentada na teoria sociointeracionista, proposta por ^{Bakhtin (1990)}, mais especificamente, em seus conceitos sobre interação e gêneros do discurso. As análises das propostas de produção de texto, desse manual, revelaram diferenças significativas entre os dois livros: o livro Português Linguagens considera quase que a totalidade das orientações teórico-metodológicas dos PCNEM e propõe o ensino de uma variedade de gêneros discursivos, o que possibilita não somente uma formação mais ampla ao aprendiz, mas também favorece a formação do escritor competente de textos.

No livro Novas Palavras, essas orientações teórico-metodológicas são praticamente, ignoradas nos comandos das propostas de produção textual, uma vez que predomina, nesse manual, práticas de escrita de textos voltadas, quase que exclusivamente, para a realização de provas de exames vestibulares e a prova de redação do ENEM. A análise aponta, a necessidade de um maior comprometimento por parte dos autores de livros didáticos, no que se refere a maneira como estes livros têm sido alterados ou atualizados, ao longo dos anos, e esse último pensamos que não favorece a formação de um escritor consciente e reflexivo já que só prepara para as avaliações.

Pensamos que essa tese tem uma contribuição ímpar no tocante a inovação, pois é a única a relacionar material didático (elemento do processo de ensino) aos princípios normativos do ensino de Redação, ainda sugere orientações aos autores e editoras com intuito de melhorar a seleção do conteúdo e abordagem feita por eles nas propostas de redação. Estabelece uma relação entre o que a normativa desse ensino espera, e o que acontece na prática; salienta o prejuízo que tal desvio pode causar aos alunos, além disso que muitos docentes optam pelo material didático que privilegia apenas o ENEM ou outros vestibulares.

Em virtude desse estudo ter sido realizado em 2017, com materiais didáticos do ano de 2015, percebe-se uma lacuna, essa pesquisa poderia ser revista com intuito de verificar se houve mudanças nos livros ao longo dos anos e quais as contribuições eles trazem, além de averiguar se estão em consonância aos postulados normativos. Recorrência quanto a temática do ensino de Redação e da Prática Pedagógica.

^{Andrade (2016)} em sua tese: Os critérios de correção da redação do ENEM: a adequação temática e texto dissertativo-argumentativo, analisa que em virtude do ENEM, especialmente a redação, diversas práticas foram modificadas em virtudes da busca por melhores resultados. A pesquisa de caráter documental, visou esclarecer os critérios de avaliação das redações do ENEM, entretanto, embora seja um instrumento eficiente para o processo de correção das redações, a competência 2 da matriz precisa ser revista.

Investigada, então, essa competência, ampliou-se as interpretações e verificou-se possíveis dificuldades que corretores e professores possam encontrar para aplicá-la. Além disso, verificou-se as propostas de redação dos anos de 2004 a 2014, para localizar traços de regularidades que pudessem dar subsídios a defesa da redação do ENEM como um gênero específico. Para isso, foram organizados os enunciados das redações em um quadro analítico-comparativo, com vistas a identificação do modelo cristalizado de proposta de redação, típico do exame.

Em uma etapa posterior, foi aplicado um questionário inicial a professores doutores, com experiência na educação básica, para verificar a compreensão lexical da competência 2 na matriz de correção das redações, e um questionário final, no qual os pesquisados procederam a avaliação justificada de três redações. Foi possível verificar a variabilidade na compreensão da competência analisada, em função das escolhas lexicais bem como sua subjetividade, em função da coexistência de duas habilidades em um único critério.

Com base nos resultados obtidos, destaca-se a necessidade de uma revisão lexical na matriz de correções e de ações de disseminação de seus conteúdos para a instrumentalização de professores e alunos que visem ao preparo para as redações do exame. Esperando, com isso, maior democratização do acesso, primeiramente, a um preparo mais adequado para o ENEM e, consequentemente, ao ensino superior.

Assim, esse trabalho estabelece uma análise interpretativa da Competência 2 que é: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa, faz um quadro comparativo das propostas em um período de 10 anos, identificando a estrutura textual e possíveis mudanças.

Logo, inova pelo processo metodológico percorrido e no tocante à temática também, pois não está focada na Prática Pedagógica e sim na avaliação da prova de redação do ENEM, nos critérios de correção, na interpretação de uma dada competência, portanto, percebemos uma tendência. Como não identificamos mais pesquisas nesse enfoque pensamos ter uma lacuna que possa despertar interesse de outros pesquisadores no futuro, dada a repercussão da redação do ENEM.

No intuito de mostrar os temas correlacionados em todos os trabalhos dessa categoria Princípios Normativos sobre o Ensino de Redação ENEM, desenvolvemos a Figura 4 como síntese.

Fonte: As autoras (2021).

Figura 4 As interfaces entre os princípios orientadores do ensino de Redação