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Childhood & Philosophy

versão impressa ISSN 2525-5061versão On-line ISSN 1984-5987

child.philo vol.18  Rio de Janeiro jan./dez 2022  Epub 27-Set-2022

https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67361 

DOSSIÊ: estudos da infância: movimentos, limiares e fronteiras

martin buber e donald wood winnicott: limiares e deslocamentos conceituais como aposta da pesquisa com bebês

martin buber and donald wood winnicott: thresholds and conceptual shifts as a ethos for research with babies

martin buber y donald wood winnicott: umbrales y dislocamientos conceptuales como apuesta en la investigación con bebés

Iuniversidade federal fluminense, niterói, rio de janeiro, brasil - E-mail: nazarethssalutto@gmail.com


resumo

Este artigo tem como objetivo articular as teorias de Martin Buber (Antropologia Filosófica) e Donald Wood Winnicott (Psicanálise), tendo os bebês - suas expressões e movimentos - como centralidade. Em cotejo e diálogo com os referidos autores, compreende-se que o princípio ontológico do ser humano é a relação como marca do existir. A partir desse princípio, são cunhados os conceitos relação, sutileza, reciprocidade e vínculo, que possibilitam a construção de um olhar sensível para a dimensão relacional entre bebês e adultos, em contextos educativos e de pesquisas. O texto desenvolve esses conceitos, revelando que no encontro entre adultos e bebês há um esforço para se reconhecerem como pessoas. Aos primeiros, impõem-se a generosidade da partilha. Aos últimos, faz-se o convite ao mundo. Convite ao qual os bebês se lançam com a tenacidade e o ímpeto dos movimentos inaugurais. O encontro entre a Psicanálise de Winnicott e Antropologia Filosófica de Buber revelou-se promissor na confirmação de que os bebês são pessoas de relação, contribuindo com estudos sobre bebês na Educação, de modo particular, e nas Ciências Humanas, de modo geral.

palavras-chave: martin buber; donald wood winnicott; pesquisa; bebês.

abstract

This paper aims to articulate the theories of Martin Buber (Philosophical Anthropology) and Donald Wood Winnicott (Psychoanalysis) as they help us understand the world of infancy. In dialogue with these two authors, we come to understand that the ontological principle of the human being is the relationship as a mark of existence. Based on this principle, the concepts “relationship,” “subtlety,” “reciprocity” and “bond” are introduced in order to explore the relational dimension of the interactions between infants and adults in both educational and research contexts. Our text develops these four concepts and explores the part they play in the encounter between adults and infants, on the understanding that the latter is based on the effort to recognize each other as persons. We argue that for adults, the fundamental impulse toward infancy is to share the world through inviting their participation-an invitation in response to which babies launch themselves with the tenacity and impetus of an inaugural movement. The theoretical confluence of Winnicott's psychoanalysis and Buber's philosophical anthropology results in confirming that infants are intrinsically relational persons, and as such, these two thinkers’ relational ontology has much to contribute to studies in infant education in particular and in the Human Sciences in general.

keywords: martin buber; donald wood winnicott; research; babies.

resumen

Este artículo tiene como objetivo articular las teorías de Martin Buber (Antropología Filosófica) y Donald Wood Winnicott (Psicoanálisis), teniendo a los bebés -sus expresiones y movimientos- como eje central. En cotejo y diálogo con estos autores, se entiende que el principio ontológico del ser humano es la relación como marca del existir. A partir de este principio, se acuñan los conceptos de relación, sutileza, reciprocidad y vínculo, que posibilitan construir una mirada sensible a la dimensión relacional entre bebés y adultos, en contextos educativos y de investigación. El texto desarrolla estos conceptos, revelando que en el encuentro entre adultos y bebés hay un esfuerzo por reconocerse como personas. A los primeros se les impone la generosidad de compartir. A los últimos, se les hace una invitación al mundo. Una invitación a la que los bebés se lanzan con la tenacidad y el ímpetu de los movimientos inaugurales. El encuentro entre el Psicoanálisis de Winnicott y la Antropología Filosófica de Buber resultó prometedor al confirmar que los bebés son personas relacionales, contribuyendo a los estudios sobre bebés en la Educación, en particular, y en las Ciencias Humanas, en general.

palabras clave: martín buber; donald wood winnicott; investigación; bebés.

martin buber e donald wood winnicott: limiares e deslocamentos conceituais como aposta da pesquisa com bebês

introdução

Este artigo tem como objetivo articular as teorias de Martin Buber (Antropologia Filosófica) e Donald Wood Winnicott (Psicanálise), tendo os bebês - suas expressões e movimentos - como centralidade. Da revisão e do estudo de seus trabalhos, emergem os conceitos relação, sutileza, reciprocidade e vínculo, que possibilitam a construção de um olhar sensível para a dimensão relacional entre bebês e adultos em contextos educativos e de pesquisas. Para Buber (1974), uma linha de demarcação deve ser traçada a cada dia por cada ser humano. Segundo Winnicott (2014), em cada bebê há uma centelha vital que o impele a viver. Ao pôr em relação os dois estudiosos, é possível deduzir que no encontro entre adultos e bebês há um esforço para se reconhecerem como pessoas. Em cotejo e diálogo com os referidos autores, compreende-se que o princípio ontológico do ser humano é a relação como marca do existir.

Para Winnicott (1990, 2012, 2014) o bebê não existe, mas sim, um sujeito que se integra, paulatinamente, a partir de processos intersubjetivos, sustentados pela e nas relações, sendo o handling e o holding1 gestos marcados por atencionalidade e materialidade que tornam possíveis o bebê existir como pessoa. Segundo Buber (1974), a relação se institui a partir de certa temporalidade no encontro entre pessoas - Tu -, coisas e situações - Isso. Tudo que é, portanto, endereçado como discurso, gesto, expressão direta ou indireta para os/as bebês importa, porque tudo dá contorno às experiências - tenazes, intensas, inaugurais - que os/as bebês vivenciam desde que chegam ao mundo.

Além desta introdução, o texto está organizado em três partes. A primeira apresenta, de modo breve, a biografia e os contextos de produção da obra dos dois autores; a segunda discute as categorias conceituais relação, sutileza, reciprocidade e vínculo, à luz de suas teorias; por fim, são tecidas breves reflexões finais.

limiares, deslocamentos e potência no diálogo entre martin buber e donald wood winnicott

Martin Buber (1878-1965) e Donald Winnicott (1896-1971) construíram e sustentaram seus trabalhos em tempos distintos, embora tenham partilhado experiências que os aproximam. Para Buber, o Holocausto o leva a viver na Palestina - não por escolha, mas pela força da situação emergente (Bartholo Jr, 2001; Friedman, 2002; Zuben, 2003). Durante a Segunda Guerra Mundial, Winnicott é convidado pelo governo britânico a coordenar a evacuação de crianças de seus lares de referência. Nesse período, iniciou o que se firmaria como seu estudo sobre ‘privação e delinquência’; a última, assumida como manifestação de saúde psíquica (Phillips, 2006).

As/os estudiosas/os de suas obras apontam semelhanças que os aproximam tanto conceitual quanto ideologicamente. Uma delas se dá a partir de dois conceitos fundantes de seus trabalhos: zwischen e in-between. O primeiro, o entre, funda a possibilidade do diálogo interhumano, categoria ontológica na teoria de Martin Buber; in-between, espaço potencial , área de transição do mundo subjetivo ao objetivo, conceito seminal na obra de Winnicott (Praglin, 2006).

Para Buber, o entre como categoria ontológica que provoca o acontecimento das relações interpessoais (zwischenmenschliche); para Winnicott, o espaço como área intermediária (in-between), como limite-espaço aberto, caminho entre o universo subjetivo e o objetivo. De acordo com Praglin (2006), a autenticidade desses dois conceitos funda uma epistemologia do conhecimento sobre os primórdios do ser. Em Winnicott, o nascimento marca o início do in-between (marca humana); com Buber, compreende-se a ação que se dá no entre, que atua na área, no espaço. Autenticidade que, segundo Praglin (2006), vem contribuindo ao longo de décadas na produção de conhecimento em diferentes campos, que tomam a pessoa como fenômeno complexo e estrutural da existência humana, forjada na condição da responsabilidade estabelecida no entre. Mas, que caminhos seguiram os autores que tornam possível essa aproximação? Iniciemos por Buber.

A gênese do pensamento de Buber se dá na dialética entre pensar e agir, fundada no denso estudo da filosofia, especialmente no diálogo com Kant e Feuerbach. É considerado um dos filósofos mais expoentes do século XX (ZUBEN, 2003), embora recusasse a tutela de uma escola de pensamento específica, ou ser classificado como filósofo da linguagem, da religião ou da educação, como político ou como místico (Bartholo Jr., 2001, p.11).

O sentido da ação, da presença, da palavra empenhada é o caminho de orientação para o ser humano2 ser. Para Buber, o conhecimento não deve reduzir o ser humano à interpretação, à ideia que se faz sobre sem considerar o que ele é como ser. Tomá-lo como fenômeno de conhecimento significa tanto confirmá-lo, quanto produzir nova realidade sobre o próprio ser humano, o que marca os princípios do que Buber define como antropologia autêntica, ou seja, a mensagem humana caracterizada pela exigência “de revisão de nossas perspectivas sobre o sentido da existência humana [...](Zuben, 1974, p.VII).

Segundo Buber (1949), desde os primórdios, o ser humano tem clareza de ser, ele mesmo, o objeto mais digno de investigação. No entanto, ao tomar a si próprio como tema de estudo, parece titubear em tomar esse objeto em sua concretude, em seu sentido mais autêntico. Por vezes, inicia a tarefa, mas, logo desfaz-se do empreendimento, devido à sua complexidade. Exausto, o homem [ou mulher] busca estudar qualquer coisa referente ao céu e à terra, menos sua própria realidade (Buber, 1949, p. 11). Ora, a aproximação com sua própria realidade, levaria o ser humano (da ciência), num esforço de distanciamento travestido de rigor, a confundir interpretação e objetificação? Para Buber (1949), não importa interpretar o ser humano sem antes saber o que ele é, porque “somente para o homem que se realiza como ser inteiro é que as relações podem realmente nos ajudar no conhecimento do homem [ou mulher]” (Buber, 1949, p. 141). Estendendo essas reflexões, Buber (idem) aponta questões que sugerem o esvaziamento da discussão humana nos estudos do ser humano. Isso porque, questões fundamentais em torno de sua autenticidade, passam ao largo de algumas miradas científicas. Logo, não basta que o ser humano se imponha o desafio de ser objeto do conhecimento sem assumir que ele próprio indaga o conhecimento, a partir de sua realidade autêntica. Inclinações que marcam não só sua opção pelo inacabamento, como também o caráter de abertura como baliza teórico-prática de um modo de conhecer o pensamento dialeticamente construído: “A filosofia procede por um desenvolvimento progressivo do sentido, e Buber em suas reflexões ontológicas vincula sempre em uma interdependência dialética o plano teórico com a dimensão concreta do mundo vivido (Zuben, 2003, p. 61).

Do debate com a filosofia, Buber funda, portanto, uma antropologia da ação que determina o papel de orientação e realização do ser humano como ser de relação; como cerne de sua questão, está o diálogo, a responsabilidade. A totalidade não gira em torno somente da teoria ou do pensamento, mas na esfera radical do encontro que se dá na palavra: “[...] relação é também um evento que acontece entre o homem [ou mulher] e o ente que se lhe defronta. Não é o homem [ou mulher] que é o condutor da palavra mas é esta que o conduz e o instaura no ser (Zuben, 1974, p. XLVI).

É da sua infância que Buber (1991) traz as memórias de suas primeiras incursões, com o pai ou o avô, nas comunidades hassidicas3: “as quais observei como uma criança experiencia essas coisas, não como ideias, mas como imagem e pensamento (1991, p. 35). Posteriormente, na vida adulta, sua imersão é de outra ordem, tendo em vista que ali, ao escutar histórias e relacioná-las com as formas de vida das pessoas, ele compreende o sentido de comunidade. Por um lado, a convivência com as histórias impregna Buber do sentido da responsabilidade, conceito caro à sua obra. No entanto, é ao compilá-las e contá-las, que essa dimensão se atualiza como experiência daquilo que ele formula: a função de realização do ser humano é a ação pela palavra, levando-o ao encontro e ao diálogo, pois “a palavra utilizada para narrá-las é mais que mero discurso; transmite às gerações vindouras o que de fato ocorreu, pois, a própria narrativa passa a ser acontecimento [...] (Buber, 2012, p. 11).

Do reencontro com essa experiência e as narrativas, Buber não molda, mas banha a teoria do diálogo, do interhumano, pois “a relação entre o tzadik e seus discípulos é tão somente a sua mais intensa concentração. Nesta relação, a reciprocidade se desenvolve no sentido da máxima clareza (Zuben, 1974, p. XL). Palavra empenhada, compromisso com a tradição, engajamento com o outro, ações que se fazem conceitos na obra de Buber e fundantes de seu pensamento filosófico, originado na escolha por pensar as questões de seu tempo, do humano e, para elas, propor uma ação que se dá na palavra, no diálogo, na responsabilidade. Para o autor, a interface entre pensar e agir “só ganha seu impulso e sentido na medida em que encontram o marco orientador na concretude da trama existencial das experiências vividas como sua única condição de realização (Zuben, 2003, p. 10). Tomemos esse fio para ir em direção a Donald W. Winnicott.

Winnicott foi pediatra, psicanalista, conferencista, leitor apaixonado de poemas, apreciador de músicas, pensador reflexivo, firme em suas convicções. Em alguma medida, ao imergir no seu trabalho, pode-se considerar que o sentido da ação também o define. Segundo seus estudiosos e interlocutores, a presença de Winnicott era marcada pela coerência entre o que estudava e o modo como desdobrava ciência e prática (Khan, 2000; Phillips, 2006; Rodman, 1987). Em seu texto Psicanálise e ciência: amigas ou parentes? (2011), Winnicott indaga sobre o fazer científico: o que seria, a que serve e, especialmente, a quem fala?

Para o cientista, formular questões é quase tudo [...]. A ciência suporta uma infinidade de dúvidas, e implica fé. Fé em quê? Talvez em nada; apenas numa capacidade de ter fé; ou, se tiver mesmo que existir fé em algo, que seja então a fé nas inexoráveis leis que governam os fenômenos (Winnicott, 2011, p. XIV).

Ocupar-se das pessoas, investigar causas e origens de sintomas físicos, restituir o papel da intuição na auto-organização da vida são questões que atravessam sua obra. Não causa estranheza, por exemplo, sua relação com a religiosidade, uma vez que, para este autor, ela se vincula à capacidade de manter o assombro diante da vida (Rodman, 1987). Khan (2000), amigo e parceiro de trabalho de Winnicott, apresenta o autor sob distintas facetas, com intuito de revelar o ser humano por inteiro, seu caráter: “era essa característica de ser inviolavelmente ele mesmo que lhe permitiu ser tantas pessoas diferentes para tanta gente (2000, p. 11).

O fato de não atropelar a ideia que o outro fazia dele se coaduna com sua perspectiva de apoiar sem invadir, ou, sustentar com a mão invisível da alteridade (Winnicott, 2014). Permite que o outro construa sua própria ideia a partir do que o ambiente cria como condições, elemento fundamental na constituição do self verdadeiro e sua manifestação autêntica. Esses subsídios aproximam os debates travados nesse duplo ofício clínico, pediatria e psicanálise, que se complementam como bases de sua teoria do amadurecimento. Verdadeiro e falso self, integração, holding e handling, mãe e ambiente suficientemente bons, objeto transicional são alguns conceitos que contornam o paradigma de Winnicott (Davis; Wallbridge, 1982; Phillips, 2006).

Para Winnicott (1990, 1983, 2012), toda pessoa carrega como herança humana a tendência à integração, ao amadurecimento. Uma vez conquistadas, essas duas esferas contornam o que o autor define como saúde, que significa a integração entre psique, corpo e mente, “ele veria a doença como uma inibição daquela espontaneidade potencial que pare ele caracterizava a própria substância da vida de uma pessoa (Phillips, 2006, p. 22). A união dessas três dimensões é denominada por ele de estar vivo. Essa expressão é recorrente em seus textos, revelando sua atenção - e defesa - sobre a realidade psíquica, subjetiva, como algo emergente para a constituição, e manutenção, de uma “vida que valha a pena ser vivida (Winnicott, 2011, p. 23).

Polaridades como complexo x simples interessam à obra de Winnicott, pois revelam o esforço para afirmar seu trabalho, o que fez debruçando-se teoricamente sobre a psicanálise em geral e a infantil, em particular, assumindo a complexidade4 do tenso ambiente intelectual em que estivera imerso. E, em contrapartida, seu esforço por construir uma teoria de linguagem clara, acessível, que falasse, por princípio de respeito e escuta com, e não apenas para, o outro.

Nesse sentido, a condição de pediatra coloca Winnicott face a face com problemas que não se apresentavam no recorte do setting analítico. Embora não tenha fundado uma escola de pensamento, Winnicott evolui para “um modelo genuinamente colaborativo de tratamento” (Phillips, 2006, p. 35), envolvendo os próprios pacientes e buscando influenciar outras áreas de atendimento ao bebê, à criança, às famílias. Winnicott fez inúmeras palestras, transmissões de rádio, conferências, e a maior parte dos seus livros resultam desse material e das inúmeras cartas que trocou com interlocutores, pacientes ao longo de sua vida (Rodman, 1987).

Tais questões vão dando contorno a um modo de formulação teórica que se interessa em compreender lacunas, o que não está visível como sintoma. Para o autor, o importante está em “entender que a saída do cercado é a um só tempo estimulante e amedrontadora; [...] e que a vida é uma longa sequência de saídas de cercados, riscos e desafios novos e estimulantes (Winnicott, 2011, p. 50-51).

Sair do cercado, para uma vida que valha a pena ser vivida, exige coragem, mas, sobretudo, confiança em si mesmo. Para Winnicott, a confiança é construída a partir de um sentimento de pertença a essa primeira morada de cada pessoa que integra psique, corpo, mente. Em seu trabalho, Winnicott aborda, recorrentemente, a expressão sentimento de (segurança, confiança, apoio, entre outros), sugerindo que o que decorre do sentimento (confiar, sentir-se seguro, apoiado) não está oferecido de antemão, mas construído na linha tênue da constituição de si mesmo, de modo que a vida valha a pena ser vivida. Em Buber, é no entre que se dá o encontro, o diálogo que trama a vida. O entre revela potência, possibilidade de encontro dialógico forjado pelas pessoas de relação. Em Winnicott, o espaço potencial é o lugar em que a subjetividade atua urdindo a saída do cercado, o encontro com a realidade externa. Martin Buber e Donald Winnicott, forjam, cada qual, sua gênese sobre ser pessoa: morada segura em si mesmo; ser de relação, de encontro, de diálogo, de reciprocidade.

A partir dessas considerações, toma-se Antropologia Filosófica e Psicanálise como produção de conhecimento e sentido, considerando a potência que essa aproximação anuncia para fundamentar os estudos sobre o bebê, na tessitura dos conceitos relação, sutileza, reciprocidade e vínculo.

no princípio, a relação

Como princípio ontológico do ser humano está a relação, diz Buber (1974, 1991, 2009). Esse é o alvo quando no início a vida se institui. O evento da relação se dá na tentativa de diminuir - ou extinguir - a distância até o outro, até torná-lo um Tu.

Pilares conceituais de sua teoria, as palavras-princípio Eu-Tu e Eu-Isso expressam o que o autor denomina fenômeno da relação: a primeira do Eu com o outro, a segunda do Eu com o mundo, com as coisas. Ao me relacionar com o Tu, não posso me relacionar com o Isso e vice-versa. De acordo com o autor,

As palavras-princípio não são vocábulos isolados mas pares de vocábulos. Uma palavra-princípio é o par Eu-Tu. A outra é o par Eu-Isso no qual, sem que seja alterada a palavra-princípio, pode substituir Isso por Ele ou Ela. Desse modo, o Eu do homem [ou mulher] é também duplo. Pois, o Eu da palavra-princípio Eu-Tu é diferente daquele da palavra-princípio Eu-Isso (Buber, 1974, p. 3).

De acordo com este princípio, o Eu só existe na condição dessas palavras-princípio, o que aponta para a dualidade da atitude do ser humano uma vez que, o “mundo é duplo para o homem [ou mulher], segundo a dualidade de sua atitude. A atitude do homem [ou mulher] é dupla de acordo com a dualidade das palavras-princípio que ele pode proferir” (Buber, 1974, p. 3). Entrar em relação, de acordo com os princípios do autor, é apostar na dualidade como caminho contrário ao isolamento, no esforço de agir sobre o acontecimento da vida. Esse duplo modo de ação - distintos um do outro, dual - revela que o ser humano ora concretiza suas ações na relação Eu-Tu, ora na relação Eu-Isso.

A relação Eu-Tu refere-se a tudo o que compete ao outro, ao ser humano, que não visa usar o outro para nada, mas estar com ele. Atitude que exprime inteireza, pois, “quem diz Tu não possui coisa alguma, não possui nada. Ele permanece em relação (Buber, 1974, p. 5). Já a palavra-princípio Eu-Isso refere-se à perspectiva do relacionamento. Trata-se de ser, de usar, de possuir e de agir para e no mundo das coisas, e, desse modo, viver relacionamentos, ao contrário de estar em relação. Para Buber, a vida do Eu-Isso pode se restringir a uma série de experimentações sobre as coisas e, desse modo, não se vive a inteireza e a reciprocidade, já que “a experiência se realiza nele e não entre ele e o mundo. O mundo não toma parte da experiência. Ele se deixa experienciar [...] (Buber, 1974, p. 6).

A liberdade dada ao ser humano na dualidade Eu-Tu e Eu-Isso também constitui o caráter de imprevisibilidade dessa atitude. Isso porque ir ao encontro do outro define a abertura dessa atitude que, por sua vez, não revela a intenção do outro. Ir ao encontro da relação é uma escolha solitária e pessoal, pois, “do evento perfeito da relação conhecemos, por tê-la vivido, a nossa saída, a nossa parte do caminho. A outra nos acontece, nós não a conhecemos. Ela acontece para nós no encontro. O Tu se apresenta a mim (Buber, 1974, p. 88).

O Tu se apresenta a mim. A partir desse horizonte, pode-se inferir que toda promessa de encontro é também uma possível porta para o desencontro. Se não há abertura de um dos Tu envolvidos, o encontro não acontece, o diálogo não se estabelece, a potência é interrompida pela indiferença e não se constitui a relação. Para Buber (1974) o princípio ontológico do ser é a relação.

Winnicott dedicou seus estudos e ofício para compreender, e sistematizar teoricamente, a gênese dessa premissa na dualidade5 mãe-bebê6.Uma das intenções de Winnicott era compreender lacunas. O autor perseguiu a ideia de que alguns comportamentos relacionados a sintomas patológicos, psicossomáticos, manifestos na vida adulta, poderiam ter sua origem nas falhas experimentadas pelo bebê nos estágios iniciais da vida que, se não fossem superados, comprometeriam o desenrolar do amadurecimento (Davis; Wallbridge, 1982).

Para Winnicott, era preciso tanto escutar, quanto devolver a credibilidade intuitiva às mães nos cuidados e dedicação ao seu bebê; ouvi-las e observá-las foi determinante para compreender, e atuar, sobre o psiquismo. Foi nesse ofício, exercido durante toda a sua vida, que Winnicott fundou conceitos seminais sobre o “ambiente suficientemente bom, o brincar como a constituição da realidade externa para o bebê, preocupação materna primária, holding7e handling8”, entre outros que se tornaram a base para o que seus estudiosos definissem o ponto nuclear de seu pensamento: a teoria do amadurecimento pessoal.

Em alguns textos e traduções, lê-se teoria do amadurecimento pessoal (Khan, 2000; Philips, 2006; Dias, 2014), enquanto em outras, teoria do desenvolvimento pessoal. Para alguns autores, essa é uma distinção importante, tendo em vista que Winnicott, ao longo de sua vida profissional, opôs-se às correntes tanto biologistas, quanto evolucionistas, considerando que o amadurecimento é o exercício principal de se buscar uma vida que valha a pena ser vivida, o que se dá numa arena subjetiva. Buscando compreender esse princípio, Winnicott (2012) afirma que a força relacional é o que, aos poucos, “ao longo de muitas repetições, ajuda a assentar os fundamentos da capacidade que o bebê tem de sentir-se real. Com essa capacidade, o bebê é capaz de enfrentar o mundo [...]” (p. 5).

Esse modo de conceber a posição do bebê no mundo o reconhece não como um vir a ser somente após a mediação de outras pessoas e coisas, mas, “assim que nasce, o bebê já é um ser humano, lançado como todos nós na tarefa9 de viver (Dias, 2014, p. 121). Tarefa de viver que põe na relação a força das interações que fundamentam o existir do bebê; toda a potência do que ele pode na interface com o outro, isso significa dizer que, na centralidade da teoria de Winnicott, está em “questão a capacidade de [o sujeito] sentir-se vivo, de alcançar o sentimento de real, para além das constatações do funcionamento biológico (Ribeiro; Santos, 2008, p. 9).

Ao endereçar seus discursos para as mães - e seu desejo era afetar pais, enfermeiros, pediatras e outros responsáveis pelo cuidado direto ao bebê - o autor salienta que, antes da imersão na vida cultural, a vida do bebê depende e está vinculada a esse outro. O viver não é um acontecimento simples, mas uma conquista lapidada nas minúcias cotidianas.

Voltemos um pouco.

Ao nascer, o bebê ocupa um lugar pautado na dependência extrema do outro. É o outro quem o alimenta, quem identifica, e se identifica, com suas necessidades primeiras (desconforto, fome, sono, choro); quem apresenta os elementos do mundo - pessoas, objetos, espaços. Para Winnicott (2014, p. 99), “um bebê não pode existir sozinho, sendo essencialmente parte de uma relação. Perspectiva que converge com a prerrogativa de que “o lugar dos outros é indispensável para nossa realização existencial” (Zuben, 2003, p. 68). Converge, ainda, com a afirmação de que a “história de um ser humano não começa aos cinco anos, nem aos dois, nem aos seis meses, mas ao nascer e antes de nascer, se assim se preferir; e cada bebê é desde o começo uma pessoa, necessitando ser conhecida por alguém” (Winnicott, 2014, p. 96).

A dependência, portanto, é a posição básica ocupada pelo bebê ao nascer. Todos os seus esforços caminharão em direção a construir seu próprio contorno. No entanto, ao assumir a prerrogativa da relação, tal situação de dependência pode ser tomada como um duplo. O bebê se realiza e tem sua subjetividade constituída pela e na ação com o outro, do mesmo modo que, ao adulto, estende-se a oportunidade de ampliar, estética e plasticamente, sua própria condição de existência e realização no ato de dedicar-se à manutenção da existência do bebê. Solidariedade e semelhança, então, marcam a entrada do bebê na vida, nas nossas vidas. Tais substantivos convocam uma postura dos adultos frente à novidade da chegada do bebê e desenha traços para além do atendimento as suas necessidades básicas (alimentação, sono, higiene). Diz respeito a acolhimento afetivo com o olhar, troca de calor que o bebê sente ao ser tocado pelo toque do outro, modo como é colocado para dormir ou é recebido ao acordar. E “tudo isso indica que assistência a um recém-nascido é uma tarefa absorvente e contínua, que só pode ser executada por uma pessoa (Winnicott, 2014, p. 25). Traços que assemelham adultos e crianças como seres humanos são atravessados pela solidariedade que deveria ser a marca de toda relação, que anuncia e revela para os bebês, toque a toque, dia a dia, modos possíveis de se inscrever nas relações e no seu lugar na vida dos outros.

Para Winnicott (2012), essas ações podem ser definidas como um estado de dedicação que colocam a sutileza como um modo de olhar para quem é, o que precisa e o que pode um bebê. Um estado que evidencia o quanto o olhar e o movimento do adulto podem se dedicar ao que faz um bebê, ao modo como ele responde ao conjunto de ações sobre e com ele e que, de algum modo, desvela, para ele mesmo, sua própria realidade.

Essas reflexões levam a pensar a sutileza como marca da constituição subjetiva do bebê. Relação marcada, da concepção ao nascimento, pelos traços que o outro inaugura no encontro com ele, constituída pela voz, pelo colo que embala, pelo seio que alimenta ou pela mão que oferta outro alimento, pelos toques recebidos em diferentes momentos. Essa integração de que trata Winnicott recupera algo formulado pelo autor: nessa relação de troca sensorial, olfativa, visual, rítmica, há o elemento da dedicação.

Nesse sentido, o outro cumpre o papel de dar os primeiros contornos à existência do bebê por meio da identificação que lhe permite ir ao encontro da relação com o bebê, através do reconhecimento diário de suas necessidades de cuidado, proteção, condição de existir: “em Winnicott, isso significa dizer que o que está em jogo na natureza humana e o que a constitui é o seu acontecimento como ser humano, isto é, a sua continuidade de ser como pessoa (Ribeiro; Santos, 2008, p. 11).

Constituímo-nos conscientemente como pessoas, no papel ativo de ser de relação (Buber, 1974) no mundo fundamentalmente atravessado pelo outro. As marcas deixadas pelas ações do outro ao longo de nossa existência inscrevem possibilidades ou, ao contrário, conduzem-nos à indiferença, ao desvio da relação como aposta. Se Buber (1974, 1991) afirma que a vida existe como fenômeno de relação, Winnicott (2012) permite compreender a construção dos fios relacionais no miúdo, no esforço de que estar vivo exige e, “não estou apenas me referindo ao fato de ela [a mãe] ser capaz de saber se o bebê está ou não com fome, e todo este tipo de coisas; refiro-me às inúmeras coisas sutis... (Winnicott, 2012, p. 4). Sutileza, portanto, que presume agir: olhar, escutar, acolher. Ação inscrita nos gestos, nas inúmeras ações que marcam o cotidiano do bebê.

a sutileza no entre

Se no tópico anterior a relação foi tomada como princípio e alvo da vida do ser, a sutileza desponta como possibilidade para conferir materialidade ao sentido da relação. Buber (1974, p. 13) afirma que “toda existência real é relação”. Em Winnicott (1975, 1983, 2011, 2012, 2014), reitera-se a teoria do esforço do bebê, desde que nasce, para tornar-se real para si próprio e, consequentemente, para o outro: “o ser humano está envolvido com o problema da relação entre aquilo que é objetivamente percebido e aquilo que é subjetivamente concebido e, na solução desse problema, não existe saúde para o ser humano que não tenha sido iniciado suficientemente bem” (Winnicott, 1975, p. 26). Se, como aponta Buber, o Eu não passa de uma abstração. “Ele só é na relação” (Zuben, 2003, p. 17), quais seriam as condições que sustentam uma vida de e para a relação?

Winnicott (1975, 1983, 2012) encontrou no par mãe-bebê uma das chaves para essa indagação e, com ele, pode-se compreender que o processo de se constituir um ser de relação é lento. Trata-se de um processo que exige calma no olhar para aquilo de que o bebê necessita para, sutilmente, avançar no seu processo de amadurecimento. Para Winnicott (2012, 2014), o primeiro passo para que se instaure um estado de relação é tomar a dependência como premissa, tornando-se necessário considerar o impacto da total dependência do bebê em relação à mãe e, dessa, em relação ao ambiente que a circunda e possa lhe dar apoio no cuidado ao bebê e, consequentemente, seu processo de amadurecimento. “Reconhecer o fato da dependência (Winnicott, 2012, p. 74, grifo do autor), portanto, parece ser a tarefa primeira do encontro, indicando o que o outro - o bebê - precisa e que, no início, gira em torno da total manutenção de seu bem-estar físico (alimentação, sono, vacinas...). Na provisão dessas necessidades primeiras, as ações dos adultos vão dando contorno ao bebê: “[...] o apoio do ego materno facilita a organização do ego do bebê. Com o tempo, o bebê torna-se capaz de afirmar sua própria individualidade, e até mesmo de experimentar um sentimento de identidade pessoal” (Winnicott, 2012, p. 8).

A integração, categoria central nesse processo, seria a reunião dos sentidos e sensações difusos que o bebê tem ao nascer. Para Winnicott (2012), a integração acontece à medida que o bebê tem condições, a partir da organização do ambiente, de sentir-se real a partir das experiências10 cotidianas a que está submetido. E, para este autor, a experiência pela qual passa o bebê e lhe confere, cada vez mais, o sentimento de sentir real e vivo, é experimentada do seu ponto de vista, algo que o observador externo pode inferir, mas não totalmente compreender. A integração confere desse modo, os princípios de unidade à constituição da subjetividade do ser vivente. Integrar-se, estar reunido consigo e em si mesmo como condição para ser e estar no mundo, portanto, entrar em relação.

Para Buber (2009), a dependência se manifesta no inter-humano; ela acontece porque o ser humano só pode ser para outro ser humano: “ela se origina de fato no avesso do próprio inter-humano: na dependência dos homens entre si. Não é fácil fazer-se confirmar no seu Ser pelos outros [...]” (Buber, 2009, p. 144).

Os cuidados e apoio são seminais nessas primeiras e fundamentais experiências do bebê. Apoiar pode ser comparado a sustentar, reconhecido em formulações como o holding e o ambiente facilitador ou, o ambiente suficientemente bom e que não é algo que se para o bebê desconsiderando uma manifestação sua. O holding é uma forma de apoio que dá contorno às experiências do bebê que, paulatinamente, se integra ao espaço, marcado especialmente pelas experiências que o toque, sensibilidade à temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, entre outros. No seu sentido ampliado, o termo relaciona-se à observação intensa e dedicada às manifestações e reações do bebê, ao ambiente que concernem à responsabilidade com e nos cuidados com eles; aos modos e expressões físicas de cuidar do bebê, como banhá-lo, alimentá-lo, vesti-lo, segurá-lo. Winnicott estruturou o conceito de holding em toda a sua obra, primeiro no atendimento clínico aos bebês, que lhe possibilitou observar distintas variações do holding dispensado pelas mães. Depois, estrutura essa perspectiva no atendimento de pacientes no setting psicanalítico e psiquiátrico, tornando-a uma expressão fundante em sua teoria (Abram, 2000).

Ir ao encontro através de uma profunda identificação. Identificação que não significa tonar-se igual, mas, apoiar, sustentar - física, material e financeiramente - as experiências do bebê. Delineia-se, assim, a ideia de que a dependência do bebê, dada sua condição, não autoriza o adulto a tomar a experiência como algo a ser dado ou transmitido ao bebê. Ao contrário, de acordo com os preceitos de Winnicott, a própria experiência do adulto precisa ser reorganizada. O tempo e o espaço, tal como estavam antes, indicam ser revistos. Em cena, alguém que se manifesta de forma distinta; suas reações se expressam de formas distintas que, como adultos, podem estar distanciados. É preciso (re) conhecer o que o bebê precisa para, a partir disso, oferecer-lhe condições para amadurecer, física e emocionalmente. Algo que envolve sutileza expressa nos gestos e na materialidade, nesse ambiente de holding.

Em Buber (2009) vemos essa intenção quando analisa o inter-humano: relações estabelecidas sempre entre os seres humanos. Para o autor, o inter-humano extrapola os fenômenos sociais, constituídos nas comunidades acadêmicas e culturais. No entanto, não se trata de um fenômeno intrapsíquico ou movido apenas pela simpatia, uma vez que sua necessidade primeira é ir de encontro a outrem, de modo que “cada um dos dois se torne consciente do outro de tal forma que precisamente por isso assuma para com ele um comportamento, que não o considere e não o trate como seu objeto mas como um parceiro num acontecimento da vida (Buber, 2009, p. 138).

Os dois autores se expressam de modo filosófico, mas também convidam à práxis, uma vez que tanto para um, como para o outro, ir ao encontro de outrem é agir na direção do encontro. Para Winnicott o apoio, o holding que sustenta e proporciona contorno; para Buber esse componente expressivo do ser para outrem está num olhar que se faz, que se constrói no desejo da ação: “o seu olhar, ele “faz” este olhar; com a ajuda da capacidade que o homem [ou mulher] possui em maior ou menor medida de fazer aparecer um elemento determinado do Ser no olhar, ele fabrica um olhar que deve atuar como uma manifestação[...]” (Buber, 2009, p. 142).

Como afirma Winnicott (2012), “tudo parece muito simples quando vai bem, e a base de tudo isso encontra-se nos primórdios do relacionamento [...], quando a mãe e o bebê estão em harmonia (2012, p. 8). Tal reconhecimento não é simples se o adulto que cuida, apoia e sustenta o holding, não reconhece a natureza dessa ocupação manifesta por elementos sutis.

Em Buber, temos dois conceitos que se integram e auxiliam entender essas reflexões: linha de demarcação e inclusão. A linha de demarcação envolve a ambiguidade que viver e agir implica:

o homem [ou mulher] contemporâneo [...] diante dessa contradição entre o desejável e o possível, o realizável, cada indivíduo se encontra impelido a traçar, como denomina Buber, uma linha de demarcação entre exigências imperativas e a possibilidade, limitada e relativa, de poder atendê-las (Zuben, 2003, p. 18, grifos do autor).

Pode-se reconhecer que há nisso um sentido de autovigilância, um estado de alerta que necessita de exercício para se manter aceso e operante diante das situações vividas cotidianamente. Desse modo, “nota-se a importância da educação da capacidade de juízo e de deliberação, indispensáveis nas horas de decisões fatídicas” (Zuben, 2003, p. 18).

Se até agora vimos a mãe como figura primeira na manutenção do bem-estar do bebê, como se compõem essas relações quando os bebês são inseridos em círculos mais amplos de convivência? A linha de demarcação parece fornecer pistas para o engajamento cotidiano. A inclusão, como resultado desse engajamento, uma vez que “aplicada à reflexão e prática pedagógicas, é a capacidade de o indivíduo, engajado no encontro dialógico, manter duplo sentimento, vale dizer, ter consciência de si próprio e, ao mesmo tempo, perceber o outro na sua alteridade singular” (Zuben, 2003, p. 19).

Sendo assim, por que o duplo sentimento de ter consciência de si próprio e perceber o outro na sua alteridade singular, pode ser considerado sutil? Porque a sutileza parece encontrar-se na fronteira de uma linha tênue entre olhar para o bebê como extensão de si próprio, no sentido da posse de outrem e enxergar o bebê como alguém que, na sua dependência, é potência de realização no sentido apontado por Winnicott: aquele em há uma centelha vital a despeito de nossa capacidade de o compreender totalmente. Em sentido próximo, para Buber, “cada indivíduo empenha suas forças para definir essa linha em cada situação reclamando decisão. Buber compara as situações contingentes com o recém-nascido que, apesar das semelhanças, tem sempre uma feição nova, jamais vista e que permanecerá única (Zuben, 2003, p. 18-19).

Assim, pode-se inferir que a sutileza se revela nas minúcias, no miúdo das ações cotidianas, nos gestos que envolvem o conhecimento íntimo do adulto, a vigilância cuidadosa do seu olhar que se identifica com o bebê pela sua condição de pessoa, que reconhece sua atualidade. O adulto, mais experiente, precisa nutrir-se para organizar, receber, sustentar e apoiar as ações que propiciam contorno, que situam o bebê no seu encontro com o mundo. Sutileza que não se dá em grandes doses, mas em pequenas medidas, nas dobras desveladas desse encontro que envolve inúmeras tarefas diárias na manutenção da existência do bebê.

Para Winnicott (1983, 2012, 2014), existe algo no bebê que sempre escapará à nossa compreensão. Para Buber (1974) a vigilância implica o engajamento para a condição de existir no mundo. Para os dois autores, no outro e com o outro ser de relação encontram-se as chaves do mundo. Para ambos, ainda, há um elemento central que constitui a sutileza: a categoria do entre (Buber, 1974; Winnicott, 1975, 1983, 2014). O entre (zwischen), em Buber, é categoria ontológica que carrega o espaço comum a ação:

O Eu-Tu não autoriza a fusão no outro ou a absorção na realidade do outro, mas é a relação recíproca e total com o outro. O “entre-dois” é esse espaço ontológico cuja característica é reunir sem fundir uma na outra - igualdade e distinção -; é o “entre-dois” que autoriza o intervalo que congrega a distância (Zuben, 2008, p. 133).

Para Winnicott (1983), o entre (in-between), é o espaço potencial para a ação criadora, onde se dá o trânsito entre a realidade subjetiva e a objetiva. Sigamos primeiro com Winnicott.

No espaço entre (in-between), parece residir uma força de existência e constituição de subjetividade latente. A única coisa de que o bebê sabe é de si próprio; sua única e principal ocupação é manter-se vivo. O espaço-entre, estabelecido pela relação com o outro que o recebe no mundo, atua sobre seu estado subjetivo. O entre age sutilmente, como um diálogo silencioso do bebê e o adulto, do bebê e o mundo.

Do estado de identificação e “mistura” com a mãe, para constituir o próprio self o bebê se apoia no dela como se fosse seu. Aos poucos, sutilmente, o bebê é surpreendido e afetado pelo ambiente11. Os ritos dessa passagem que inscreve a pessoa nas complexas ações humanas e seus sistemas culturais são miúdos e ocorrem no tempo-espaço deixado vago para a ação do bebê, tanto a ação física, aquela que o impele a retirar um objeto do lugar, por exemplo, quanto aquela que é de ordem interna, que calcula, que mede aquilo que é o foco de sua ação, logo, espaço subjetivo. Esse espaço entre o cálculo e a ação é o que nosso autor denomina como entre (in- between). Espaço que não deve ser preenchido pela ação de ninguém mais que o bebê. Desse modo, tem-se o entre como categoria conceitual em Winnicott que se relaciona tanto a um espaço real - àquele sobre o qual o bebê atua, mexe, revira -, quanto ao espaço subjetivo. Há uma dupla ação que reverbera da potência do entre deixado vazio: aquilo que impele o bebê a sair de si mesmo e inscrever suas ações criativas e o que a criação lhe sustenta como espaço subjetivo e singular: “o entre é considerado com a categoria ontológica dos dois pólos envolvidos no evento da relação [...]. Ela é encontrada somente no eixo no qual oscila e vibra o eu-tu” (Zuben, 2003, p. 92).

O entre, pode ser considerado assim, como amálgama, como materialização das relações dos homens uns com os outros; do homem [ou mulher] com e no mundo; do homem com e no seu tempo; do homem [ou mulher] com e na vida; como acontecimento portador de relação. O entre sela a relação Eu-Tu que se manifesta a partir da totalidade da ação em direção ao outro, “[...] é o intervalo, é o lugar de revelação da palavra proferida pelo ser” (Zuben, 2003, p. 93). Proferida e endereçada a outro ser, daí se constituir como fenômeno de relação.

Área intermediária, ou espaço intermediário para Winnicott define a capacidade que o bebê vai construindo de operar entre a realidade interna (subjetiva; Eu-Sou) e a externa (objetiva; Eu-Tu; Eu-Isso). Para estruturar a categoria de sutileza, portanto, há que se considerar o que se dá no espaço intermediário do bebê (aquilo que ele opera mediante suas próprias condições) e o entre estabelecido no espaço-tempo externo, no qual operam a realidade externa, incluindo o adulto. Este último, tem o compromisso de tornar o ambiente suficientemente bom enquanto se dá o trânsito do bebê. Parece correto afirmar que há uma práxis na discussão de Winnicott: das ações sutis, percebidas e exploradas entre (in-betwenn), funda-se a relação, a experiência de estar vivo e lutar pela vida. Mas isso se dá no espaço deixado vazio, na brecha para o estabelecimento do entre. Ou seria espaço construído?

Winnicott (2014) ao formular a expressão o mundo em pequenas doses, oferece uma perspectiva delicada de que o mundo é aprendido devagar, numa relação que é intensa, mas pausada entre ver, conhecer, sentir e tomar consciência de si. Não se toma conhecimento do mundo fora da inteireza de si, nem em grandes goles.

A sutileza, portanto, pode ser tomada, então, como categoria central na relação. Uma vez que é esse artifício sutil, vivido e instaurado cotidianamente, que forja a malha da parcela de realidade à qual o bebê inscreve-se em pequenas doses. Viver é tomar posse do sentido de estar vivo, presente, real, o que não é conquistado através de uma avalanche de estímulos e incentivos externos, mas de uma mirada subjetiva de si no mundo. Como afirma Winncicott (2014, p. 76),

o bebê começa nada sabendo do mundo, e na época em que as mães terminaram sua tarefa o bebê já se converteu em alguém que conhece o mundo, que pode descobrir o caminho para viver nele e até para tomar parte na maneira como ele se conduz.

A sutileza está, como afirma Buber (1974), na estreita aresta12. E por ela não se passa aos bandos. Caminhos percorridos na sutileza marcam a chegada do bebê na vida. Pelas mãos, gestos e ações de outrem, o mundo vai sendo conhecido e conquistado dia a dia. A força dessas duas posições - sutileza e entre - para pensar o bebê está na natureza sutil da relação que pode ser estabelecida com o bebê. Para Winnicott (ano), não se pode falar em pessoa diante do bebê, porque, para constituir-se como pessoa, ele precisa passar pelas primeiras tarefas do amadurecimento, mediante o apoio de um ambiente suficientemente bom. E, da sutileza realizada no entre, aproximam-se os dois últimos conceitos: vínculo e reciprocidade.

no encontro, reciprocidade e vínculo

Como se constituem os ritos de passagem dos bebês para outros modos, espaços e condições relacionais? A identificação com seus primeiros responsáveis é reconhecida e tomada como fatores essenciais em novos ritos de passagem, encontros e formas relacionais? “A existência psicossomática é uma realização, e, embora sua base seja uma tendência hereditária de desenvolvimento, ela não pode tornar-se um fato sem a participação ativa de um ser humano que segure um bebê e cuide dele [...]” (Winnicott, 2012, p. 10).

A imersão do bebê na cultura carrega, portanto, a marca subjetiva dos primeiros momentos de integração que ele viveu com o outro (a mãe ou outro adulto responsável por ele). Vínculo e reciprocidade são potências latentes que resultam da relação e da sutileza; que podem vir a ser estabelecidas cotidianamente e constituírem alicerces para os ritos de passagem que o bebê faz ao participar de novas formas de organização, espaços sociais.

Essa forma de compreender o desenvolvimento na obra de Winnicott revela que a teoria do amadurecimento, em última instância, diz respeito ao poder continuar-a-ser da pessoa durante toda a sua vida. As inúmeras ações sutis - segurar, proteger, olhar, tocar, sustentar -, que se desenrolam enquanto o bebê constrói consciência de si mesmo, garantem a previsibilidade. Pode-se inferir que vínculo e reciprocidade se encontram em estado de potência desde que o bebê chega ao mundo. Não são óbvios, nem gratuitos; sustentam-se na parcela do que o adulto provê. Com esse provimento do adulto, o bebê compreende e aprende sobre a previsibilidade, o que lhe dá conforto e confiança, contribuindo para que ele, aos poucos, tenha segurança e confiança no outro, no mundo externo.

Dias (2014) destaca que “o processo de amadurecimento pessoal depende, fundamentalmente, de dois fatores: a tendência inata ao amadurecimento e a existência contínua de um ambiente facilitador” (p. 91). Há, em todo aquele que nasce, a potência, a centelha para a vida. No entanto, para Winnicott, há condições para que o amadurecimento e a integração se realizem. Sobre essas condições, vale voltar novamente a Buber que compreende, a partir do fenômeno da relação, o dialógico como “a forma explicativa do fenômeno do interhumano. Interhumano implica a presença ao evento do encontro mútuo. Presença significa presentificar e ser presentificado. Reciprocidade é a marca definitiva da atualização do fenômeno da relação” (Zuben, 1974, p. XLVIII).

Do encontro Eu-Tu, decorre a possibilidade relacional do encontro e a reciprocidade como potência. Encontro imprevisível, onde não se opera sobre o controle do outro, mas, sim, de se estar com e para o outro; presentifica e ser presentificado: “o Tu se apresenta a mim. Eu, porém, entro em uma relação imediata com ele. Assim, a relação é, ao mesmo tempo, escolher e ser escolhido, passividade e atividade” (Buber, 1974, p. 89). Nessa perspectiva, a possibilidade de selar a reciprocidade se torna latente. Reciprocidade vivida no diálogo, no encontro entre dois “Tu: o diálogo genuíno só se dá em clima de plena reciprocidade, quando o indivíduo experiencia a relação também “do lado do outro”, sem, contudo, abdicar à especificidade própria (Dascal, 2009, p. 8. grifos da autora).

Há aqui, também, um fio sutil, leve, tênue. Uma vez que o adulto, concebido como pessoa de relação mais experiente nas coisas do mundo, se dá ao bebê como presente, ele aponta, ao mesmo tempo, a potência de ser presentificado pelo bebê. Alguém que provê o bebê quando de sua dependência absoluta fia confiança e elos de segurança com os quais o bebê tem condição de presentificar o adulto.

Esse primeiro elo construído - estar do lado do outro que o acolhe -pode ser tomado como elemento constituinte dos ritos de passagem e inserção no mundo da cultura, compreendendo, assim, os laços de confiança e reciprocidade com o/os adulto/os de referência mais imediato/s do bebê, para o universo cultural. Ritos que podem carregar como marca a sutileza: sejam os de entrega para outro adulto, os de inserção num novo ambiente, sejam na relação e apropriação que, gradualmente, os bebês fazem dos objetos da cultura. Expressões que, para Buber, só são possíveis na esfera dialógica: “não é apenas o relacionamento dos homens entre si, mas é o seu comportamento, a sua atitude um-para-com-o-outro, cujo elemento mais importante é a reciprocidade da ação anterior [...]” (Dascal, 2009, p. 8-9). A marca da ação, portanto, que se dá na relação, no face-a-face, nos pequenos elementos sutis que bordam a vida e anunciam a possibilidade inter-geracional entre os bebês e os outros.

reflexões finais

O encontro entre a Psicanálise de Winnicott e Antropologia Filosófica de Buber revelou-se promissor na confirmação de que os bebês são pessoas de relação, contribuindo com estudos sobre bebês na Educação, de modo particular, e nas Ciências Humanas, de modo geral. A densidade de seus estudos, em especial no modo como concebem o ser humano e a ciência, tornou possível tecer os conceitos relação, sutileza, reciprocidade e vínculo, com o intuito de contribuir para os estudos sobre os bebês. As categorias relação, responsabilidade, diálogo, entre convidam à dinâmica de se pensar o conhecimento sobre o bebê em oposição ao biologicismo que sobrepõe estágios de desenvolvimento ao amadurecimento pautado na relação, na sutileza, na reciprocidade e no vínculo como conquista humana. Ao pôr em relação os dois estudiosos, sensivelmente é possível deduzir que no encontro diário entre adultos e bebês há um esforço para reconhecerem-se como pessoas. Aos primeiros, aqueles que aqui já estão, impõem-se a generosidade da partilha. Aos últimos, os bebês, está o convite do mundo. Convite ao qual lançam-se com a tenacidade e o ímpeto que os movimentos inaugurais prometem: sempre haverá a primeira palavra, o primeiro engatinhar, o primeiro apontar, o primeiro chamado. Nesse entre que é potência de encontro, cabe todo o possível, tanto para os adultos quanto para os bebês.

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Recebido: 19 de Maio de 2022; Aceito: 07 de Agosto de 2022

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