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Childhood & Philosophy

versão impressa ISSN 2525-5061versão On-line ISSN 1984-5987

child.philo vol.18  Rio de Janeiro jan./dez 2022  Epub 09-Out-2022

https://doi.org/10.12957/childphilo.2022.67605 

DOSSIÊ: estudos da infância: movimentos, limiares e fronteiras

o encontro com o buriti: a árvore da vida e as crianças warao em nova iguaçu

meeting buriti: the tree of life and the warao children in nova iguaçu

el encuentro con el burití: el árbol de la vida y los niños warao en Nova Iguaçu

flavia miller naethe mottaI 
http://orcid.org/0000-0001-8538-8865

andréa silveira dutraII 
http://orcid.org/0000-0003-3260-1831

Iuniversidade federal rural do rio de janeiro, seropédica, rio de janeiro, brasil - E-mail: flaviamnmotta@gmail.com

IIuniversidade federal rural do rio de janeiro,seropédica, rio de janeiro, brasil - E-mail: mestredea@hotmail.com


resumo

“Só existe a beleza se existir interlocutor. A beleza da lagoa é sempre alguém” (Mãe, 2017, p. 40). Valter Hugo Mãe expressa nosso desejo na feitura desse artigo: partilhar o encontro com as crianças refugiadas. Esse encontro faz parte do processo de pesquisa que busca mapear as crianças em condição de refúgio na Baixada Fluminense e desvelar a experiência de deslocamento de seu país de origem. Na dinâmica em mapear os sujeitos da pesquisa, fomos surpreendidas com um grupo de crianças, que fazem parte do grupo étnico Warao e que foram acolhidas pelo município de Nova Iguaçu - Baixada Fluminense. Os Warao são indígenas do norte da Venezuela e seu nome significa povo da canoa, dada sua relação profunda com as águas. Pelas águas turbulentas da vida, um grupo de crianças e suas famílias chegaram a Nova Iguaçu. Antes de serem lá acolhidas, as famílias “acamparam” no entorno do Terminal Rodoviário Novo Rio por algumas semanas. Inicialmente foram encaminhadas para um abrigo público, mas o mar agitado refratava diferenças de perfil entre eles e os integrantes que já faziam parte do abrigo. Por uma iniciativa religiosa, as famílias foram acolhidas pelo município de Japeri num sítio. Permaneceram por seis meses, porém, mais uma vez, foram navegar em outras águas, pois sofriam a iminência de um despejo. Na busca de águas mais tranquilas, os Warao foram acolhidos pelo município de Nova Iguaçu. As famílias (cinco núcleos interligados) tinham o desejo de permanecerem juntas, a Secretaria de Assistência Social (SEMAS) cedeu e adaptou, então, à moradia dos indígenas, uma escola desativada. Dentro de águas agitadas, em plena pandemia, o Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Linguagens, Infâncias e Diferenças (GEPELID), entrou em cena, acompanhando a rotina dessas crianças na escola de abrigo e no Centro de Ação Social de Marambaia. Nos encontros com os Warao fomos impactadas com a árvore Buriti, árvore da vida! Ah, o Buriti, palavra que causou afeto e aprendizagem, pois possui raízes profundas e uma ligação afetiva para os Warao. Durante o caminho do estudo comprovamos que a pesquisa em Ciências Humanas sempre é um encontro com o outro, assim como o sistema ideológico é de suma importância na formação de signos. A palavra Buriti também carrega um sentido ideológico e vivencial para o povo Warao. Cabe destacar que o aporte teórico dessa escrita possui arquitetônica em Bakhtin e na relação entre o pesquisador e os sujeitos do campo.

palavras-chave: crianças refugiadas; crianças warao; movimentos de deslocamentos.

abstract

“There`s only beauty if there is an interlocutor. The beauty of the lagoon is always someone” (Mãe, 2017, p.40). Valter Hugo Mãe expresses our desire in the making of this paper to share our experience of meeting refugee children, as part of an ongoing research project dedicated to exploring the conditions in which they live in Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, Brazil, and the influences they bring with them from their birth countries. In the process of conducting this research, we were surprised by a group of children who belong to the Warao ethnic group, and who have been welcomed by the municipality of Nova Iguaçu, which is part of Baixada Fluminense. The Warao are indigenous peoples from the North of Venezuela and their name means “canoe,” given their close relationship with water. A group of displaced Warao children and their families arrived in Nova Iguaçu after having “camped” out in the surroundings of Novo Rio bus station for a few weeks, followed by a sojourn in a public shelter, where the differences between them and the existing members of the institution led to conflict. Through a religious institution’s initiative, the families then found shelter in a small farm in the city of Japeri. They stayed there for six months, but once again were threatened by the prospect of eviction, after which they were finally welcomed in the city of Nova Iguaçu. The families-five interconnected units-expressed the wish to remain together and a social service institution found them a closed school building, which was modified to accommodate the group. When the Covid pandemic struck, the research and study group GEPELID began following the daily routine of these children at the shelter school and at the Marambaia welfare center. In their meetings with the Warao, the researchers were struck by their references to the Buriti tree as the “tree of life,” and the depths of its implications for their identity. In exploring this concept, the research group’s experience of radical cultural difference revealed the extent to which research in the human sciences is always a meeting with the other, and the relation between researcher and subjects an occasion for dialogue.

key words: refugee children; children; warao; displacement.

resumen

"La belleza sólo existe si hay un interlocutor. La belleza de la laguna es siempre alguien" (Mãe, 2017, p. 40). Valter Hugo Mãe expresa nuestro deseo en la realización de este artículo: compartir el encuentro con los niños y niñas refugiados. Este encuentro forma parte del proceso de investigación que busca mapear a los niños y niñas en condición de refugiados en la Baixada Fluminense y desvelar la experiencia de desplazamiento desde su país de origen. Durante el proceso de mapeo de los sujetos de la investigación, nos sorprendió un grupo de niños pertenecientes a la etnia Warao que fueron acogidos por el municipio de Nova Iguaçu - Baixada Fluminense. Los Warao son indígenas del norte de Venezuela y su nombre significa pueblo de la canoa, dada su profunda relación con el agua. A través de las aguas turbulentas de la vida, un grupo de niños y sus familias llegaron a Nova Iguaçu. Antes de ser acogidos allí, las familias "acamparon" en los alrededores de la Terminal de Autobuses de Novo Rio durante alunas semanas. Inicialmente se les remitió a un refugio público, pero el mar embravecido refractaba diferencias de perfil entre ellos y quienes ya estaban en el refugio. Por una iniciativa religiosa, las familias fueron acogidas por el municipio de Japeri en un sitio. Permanecieron allí durante seis meses, pero, una vez más, se fueron a navegar a otras aguas, ya que sufrían la inminencia de un desalojo. En busca de aguas más tranquilas, los Warao fueron acogidos por el municipio de Nova Iguaçu. Las familias (cinco núcleos interconectados) deseaban permanecer juntas, por lo que la Secretaría de Asistencia Social (SEMAS) cedió y adaptó una escuela en desuso para albergar a los indígenas. En aguas turbulentas, en medio de la pandemia, el Grupo de Estudio e Investigación sobre Lenguajes, Infancias y Diferencias (GEPELID) entró en escena, acompñanado la rutina de estos niños en la escuela de acogida y en el Centro de Acción Social de Marambaia. En los encuentros con los Warao nos impactó el árbol Buriti, ¡árbol de la vida! Ah, el Buriti, palabra que causó afecto y aprendizaje, porque tiene raíces profundas y un vínculo afectivo para los Warao. Durante el recorrido del estudio comprobamos que la investigación en Ciencias Humanas es siempre un encuentro con el otro, así como que el sistema ideológico es de suma importancia en la formación de los signos. La palabra Buriti también carga un sentido ideológico y vivencial para el pueblo Warao. Cabe mencionar que la base teórica de este escrito tiene su arquitectura en Bajtín y en la relación entre el investigador y los sujetos del campo.

palabras claves: niños y niñas refugiados; niños y niñas warao; movimientos de desplazamientos.

o encontro com buriti: a árvore da vida e as crianças warao em nova iguaçu

A beleza da lagoa é sempre alguém.

(Walter Hugo Mãe)

Inaugurar a escrita desse artigo com o enunciado de que a beleza está sempre em alguém, coaduna com a relação de alteridade defendida por Bakhtin, pois segundo o autor é nessa relação que os indivíduos se constituem, ou seja, eu apenas existo a partir do outro, já que “tudo o que me diz respeito, a começar pelo meu nome, chega do mundo exterior à minha consciência pela boca dos outros (da minha mãe etc.), com a sua entonação, em sua tonalidade valorativa-emocional”. (BAKHTIN, 2011, p. 373). Nessa perspectiva o que se destaca na produção do conhecimento é a questão alteridade e dialogismo, que nas reflexões bakhtinianas, não estão separados, mas imbricam na relação dialógica do eu-outro.

O compasso dessa escrita não poderia ser diferente, pois acreditamos que as epistemes de pesquisa nas Ciências Humanas, calcadas na filosofia da linguagem, têm o cerne da discussão no encontro do pesquisador com os seus outros (seus sujeitos da pesquisa) e são nessas relações, à luz de um arcabouço teórico, que o conhecimento é produzido. Para tal, antes de mergulharmos na lição do Buriti e das crianças Warao de Nova Iguaçu, contemplaremos a lagoa do encontro com os nossos sujeitos, perfazendo uma escrita sobre o nosso o campo da pesquisa.

E, para tornar esse encontro memorável do nosso ponto de vista, escolhemos narrá-lo para além das palavras. Freud (2019) já sugeria o espanto que o estranho (Unheimliche) provoca no sujeito ao trazer à tona de súbito algo que deveria ter permanecido inconsciente. Na verdade, trata-se de um sentimento ambivalente que brota da relação com o outro, uma infamiliaridade, que remete aos nossos sentimentos mais profundos de desconhecimento e desamparo (inquietante estranheza). Para Freud, há muito de familiar nesse sentimento, o que vive o pequeno humano ainda não verbal, diante do real que lhe cabe decifrar através da linguagem, a caminho de uma humanização via cultura que, quanto mais progride, mas o afasta do singelo desejo inicial de retornar à completude uterina.

O encontro com o outro em sua total outridade nos remete ao conceito de tradução de Bhabha (2001, p. 231): “No ato da tradução, o conteúdo ‘dado’ se torna estranho e estranhado, e isso por sua vez deixa a linguagem da tradução, Aufgabe, sempre em confronto com seu duplo, o intraduzível - estranho e estrangeiro”. E da aproximação, por nós sugerida aqui, entre Freud (2019) e Bhabha (2001) chegamos à necessidade de construção de outro entendimento para a intraduzível diferença.

Em uma proposta de tomar as ciências humanas no viés heterocientífico, buscamos voltar nossos métodos de nos relacionar com os sujeitos de pesquisa e de apresentar nossas compreensões para formas “alargadas” que nos permitam reconhecer na pesquisa as três esferas da cultura humana - ética, estética e epistemologia - tal como propõe Bakhtin (2011). Assim, em consonância com São Tomás de Aquino, para quem nada há na mente humana que não tenha chegado pelos sentidos (Oliveira, 2013) pensamos em grafar nosso artigo verbal e imageticamente, rompendo com o verbal escrito como único alimentador da ordem epistemológica que sustenta nossa compreensão do mundo.

Isso dito, avancemos:

O que passamos a relatar a seguir são frutos da pesquisa “A experiência da diáspora: crianças refugiadas ou solicitantes de refúgio na baixada fluminense/RJ” levada à cabo pelo Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Linguagem, Infância e Diferenças (GEPELID) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Sob o guarda-chuva protetor da pesquisa institucional, desenvolvem-se pesquisas de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado.

Os “imponderáveis da vida real” (Malinowiski, 1978) nos colocaram em contato com um grupo de indígenas Warao que foram acolhidos pelo município de Nova Iguaçu após um processo de interiorização que incluiu, antes desta paragem, uma estadia em Pacaraima (RR) e Japeri (RJ). Fomos ao seu encontro.

Os participantes do grupo marcaram no endereço fornecido pela equipe do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) que mediaram nosso contato. Após uma longa viagem de carro, vindas de pontos distintos da região metropolitana do Rio de Janeiro (Mesquita, Nova Iguaçu e Rio de Janeiro) chegamos em Parque Estoril, local que as crianças Warao se encontravam. Cabe destacar que as famílias que chegaram em Nova Iguaçu foram acolhidas na Escola Municipal Daniel Nogueira Ramalho. Essa escola foi desativada mediante a inauguração de um novo prédio escolar municipal próximo às redondezas.

Ficamos esperando os demais componentes do Grupo de Pesquisa na praça (éramos 7 ao todo), que fica em frente à escola, assim como os representantes do CRAS. Estes seriam responsáveis em nos apresentar às famílias e crianças, uma vez que a Assistência Social mediava as mais variadas relações do grupo com órgãos ou setores públicos.

Arquivo do GEPELID

Imagem 1 Fonte Fachada da E.M. Daniel Nogueira Ramalho 

Durante essa espera, reverberávamos sobre nossa ansiedade em entrar pela primeira vez em campo, após um longo período de encontros online e conhecer o grupo Warao só de ouvir falar. Nesse tempo de espera, nossas epistemes também foram acionadas com relação ao campo de pesquisa e o ato de pesquisar que se assemelha andar na contramão de um caçador que corre rápido e certeiro na captura de sua presa; pois o campo é um encontro com o outro, desvelando assim a pesquisa COM e não SOBRE as crianças. Ficamos na praça, paquerando o prédio escolar... E percebemos pequenos movimentos que emergiam da porta da escola: um grupo de crianças que apareceu na calçada e depois retornou ao prédio, uma mulher que saiu para varrer a calçada, um homem que também apareceu e depois entrou. Assim como estávamos ansiosas para saber quem estava do outro lado, o movimento parecia recíproco. Esse movimento de “observando e sendo observados”, perdurou por um tempo, até que o portão novamente se abriu e de lá saíram três crianças, um cachorro e uma bola. Eram algumas crianças Warao. As crianças foram para um campo de futebol da praça e começaram a jogar bola. A brincadeira parecia divertida, a bola rolando pelo gramado de um lado para o outro ao toque de pés habilidosos, refratando o movimento com os que estão dentro da escola: a bola rolando para lá e para cá, pois estávamos olhando de um lado e sendo observados do outro com a força da curiosidade dentro de evento que podemos considerar como “soslaio e espreita”.

Imagem 2 Fonte Campo de futebol Arquivo do GEPELID 

Após um tempo de espera chegaram dois integrantes do CRAS, pediram desculpas pela demora porque fizeram a caminhada a pé para chegar ao local, pois não dispuseram de transporte. A Assistente Social foi na frente, bateu no portão da escola e pediu permissão para entrar. Um movimento de respeito, pois ali o espaço físico pode ser uma escola pública, mas o clima é de casa... E quando se chega à casa de alguém, é preciso pedir permissão para entrar e ser bem-vindo. Permissão dada, entramos na casa. Fizemos o reconhecimento do espaço, muitas roupas penduradas no varal que atravessavam quase todo o pátio externo da escola, uma mesa de concreto sem bancos na parte com cobertura (talvez um espaço do refeitório da escola) e cadeiras espalhadas pelo pátio externo, curiosamente nenhuma de nós fotografou a mesa que rapidamente se configurou como uma muralha a separar os dois grupos (pesquisadoras e Warao).

Arquivo do GEPELD

Imagem 3 Fonte Varal de roupas 

Algumas mulheres sentadas em tecidos, vestígios de uma fogueira no chão do pátio externo, algumas árvores de grande estatura também plantadas no espaço externo e uma boneca (sem roupa) aos pés de uma das árvores, que além da bola, foram os únicos brinquedos identificados na primeira visita.

A Equipe do CRAS explicou o motivo da nossa presença. Sentimos alguns olhares desconfiados em nossa direção. Iniciamos um movimento de buscar assento nos bancos de concreto localizados na parede externa do pátio, a fim de dialogar com mais proximidade, mas o Seu Gerônimo, Cacique do grupo, achou melhor a conversa acontecer ao redor da mesa de concreto. Pegamos algumas cadeiras, mas ninguém realizou o movimento de sentar-se. O clima instaurado era um “clima de fronteira”, tendo a mesa de concreto como o divisor (bem peculiar para o momento por ser duro e frio): de um lado os Warao com quem tentávamos o primeiro contato e do outro lado o grupo de pesquisa. A Professora Flávia iniciou apresentação, explicando o motivo da pesquisa e pedindo autorização para termos o contato com as crianças. Seu Gerônimo, que falou em espanhol, achou que nossa visita ali tinha relação com moradia e aluguel, assunto que logo descobrimos ser uma das grandes preocupações do grupo. Um dos integrantes do CRAS explicou que a visita do grupo não estava relacionada com essa questão. A professora Flávia pediu que cada integrante da pesquisa se apresentasse, assim o primeiro martelo estilhaçou o gelo, quando falávamos os nossos nomes e ao pronunciarmos o nome deles, os risos apareceram, revelando a importância do nome e de sua pronúncia correta. Os Warao achavam graça quando não entendíamos muito bem o enunciado dos nomes. Entre os Warao, uma adolescente que conseguia falar o português com mais fluência, Madeline, transformou-se na mediadora do encontro. Após a autorização verbal dos adultos para termos o contato com as crianças, elas foram chamadas e ficaram bem pertinho da mesa. Algumas tamborilavam as mãos em cima da mesa e se apresentavam também. Uma das pesquisadoras, aproveitou o interesse das crianças em “batucar a mesa” e começou uma versão da brincadeira “Soco, soco, bate, bate, soco, soco, vira, vira”. Imediatamente as crianças começaram a imitar os gestos realizados na superfície da mesa e brincamos juntos.

Rapidamente a brincadeira estabeleceu uma ponte entre nós e os grupos antes divididos por uma mesa de concreto, aproximaram-se. Ficamos nesse movimento por um tempo, quando perguntamos para a nossa mediadora se elas tinham alguma brincadeira a nos ensinar. Ela prontamente disse que sim e chamou as demais crianças para mostrá-la. De mãos dadas iniciaram uma brincadeira em que uma das mãos se soltava e batia na outra

Arquivo do GEPELID

Imagem 4 Fonte Brincadeiras que aproximam 

Foi realmente um encontro com as crianças, através da brincadeira, a fronteira de gelo inicial se transformou em água e nadamos na referência que nos uniu: o brincar. Enquanto a brincadeira acontecia, as mulheres do grupo Warao teciam linhas do Buriti para confecção de pulseiras e colares de miçangas. A questão artesanal é muito peculiar no grupo indígena. Utilizavam um pedaço de madeira como base para entrelaçar os fios e através das miçangas, formavam os desenhos nas pulseiras.

Arquivo do GEPELID

Imagem 5 Fonte Tranças e tramas 

Aos poucos, íamos nos misturando ao grupo, sempre sob o olhar atento do Seu Gerônimo. Soubemos então que na véspera uma das mulheres passou mal e desmaiou, ficando com as mãos tortas durante o processo. Imediatamente reagimos perguntando se ela havia sido socorrida ao médico. Fomos esclarecidas que o Cacique havia feito uma reza para espantar o espírito mal, causador do evento e morador de uma das árvores localizada no pátio da escola. O grupo havia solicitado a remoção da árvore, o que não teria sido permitido pela Secretaria Municipal de Parques e Jardins. As mulheres nos relataram que à noite escutavam a árvore chorar e os grupos evitavam sair das salas de aula transformadas em quartos pelo temor que o espírito maligno causava. Diante da negativa de sua remoção, diariamente acendiam uma fogueira na raiz da árvore, na tentativa de matá-la.

Arquivo do GEPELID

Imagem 6 Fonte Árvore com espírito mal 

Foi um encontro com muitas reflexões e aprendizagens, ecoando sobre a epígrafe da lagoa: o primeiro encontro com os sujeitos da pesquisa, “no sentido em que ela se concretiza apenas pela expectativa da reunião com o outro”. (Mãe, 2017, p. 40). A sensação da beleza da lagoa de hoje: o encontro com os Warao. No intuito de situar um pouco mais sobre os sujeitos da pesquisa, a seguir tecemos um breve relato sobre o grupo étnico indígena.

os warao

Originários da Venezuela, os Warao são o segundo grupo étnico mais populoso do país com cerca de 49.000 pessoas. Falam a língua de mesmo nome e o espanhol com graus variados de fluência.

O território que ocupavam abrangia todo o estado do delta de Amacuro e partes de Monagas e Sucre, no nordeste do delta do Orinoco. Os municípios de Antonio Díaz e Pedernales, de onde vieram os Warao que hoje estão no Brasil, são áreas com grande população indígena, representando 92% e 69% da população total, respectivamente.

Warao significa “povo da canoa”, embora essa denominação se referisse inicialmente à parte do grupo, essa qualificação, foi estendida aos indígenas habitantes dos buritizais, passando a definir toda a etnia. A canoa faz parte da vida do grupo e também dos rituais de luto e morte (Rosa, 2020).

A despeito da unidade linguística, os Warao apresentam modos de ser heterogêneos que variam de acordo com a região/comunidade do delta do Orinoco de onde provêm. Essa heterogeneidade interna ao grupo se reflete nas relações que estabelecem aqui no Brasil, afetando, por exemplo, as dinâmicas de abrigamento.

A saída dos grupos de seus territórios de origem é demasiadamente marcada pela exploração petrolífera que afetou profundamente o ecossistema, causando falta de água potável, destruindo peixes e camarões, trazendo doenças, contaminando o solo e os rios. O deslocamento, no entanto, não apaga as marcas étnicas de pertencimento indígena e os laços familiares, tais como compreendidos por eles. Tais caraterísticas provocam algumas situações de desacordo com as instâncias da região orientadas por valores culturais locais. A presença dos Waraos no Brasil é registrada desde 2014 (ACNUR, 2021), mas é em 2016, com agravamento da crise venezuelana, que teve início um processo migratório mais intenso, como revela a tabela a seguir:

Tabela 1 Warao no Brasil 

Presença Warao no Brasil (quantidade de pessoas) Ano Localidade/Região
30 2014 Roraima
600 2016 Roraima e Amazonas
1.200 2018 Pará
3.300 2020 Cinco Regiões do Brasil

Fonte: ACNUR, 2021.

O Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) reconheceu a situação de grave violação dos direitos humanos na Venezuela em junho de 2019, o que garantiu a sua população em deslocamento para o Brasil o reconhecimento do status de elegíveis à condição de refugiados. As relações sociais e de parentesco organizaram os deslocamentos dos Warao e pouco a pouco, as diferentes regiões do Brasil começaram a recebê-los. A rede de relações os auxilia a se deslocarem, de forma autônoma, entretanto, em extrema vulnerabilidade por disporem de pouco dinheiro e eventualmente terem que viajar aos poucos.

Segundo Leany Torres, liderança Warao em Roraima, a população indígena tem muita conexão com a natureza e a cultura é transmitida através de relatos orais para a geração mais nova, através das narrativas e contos Warao. Quanto à religião, acreditam no ser supremo Kanobo, que significa “nuestro abuelo”, aquele que conecta a questão espiritual e terrenal, protegendo a população das doenças. Durante pesquisa de campo, percebemos a questão espiritual na prática, narrado na escrita inicial desse artigo. A entrada no campo de pesquisa nos fez mais uma vez referendar a premissa que temos perseguido:

a atividade de pesquisa torna-se então uma espécie de exílio deliberado, onde a tentativa é de ser hóspede e anfitrião ao mesmo tempo. [...] o pesquisador pretende ser aquele que recebe e acolhe o estranho. Abandona seu território, desloca-se em direção ao país do outro, para construir uma determinada escuta da alteridade e, poder traduzi-la e transmiti-la”. (Amorim, 2004, p. 26)

Dentro dessa dinâmica de encontro, escuta, acolhimento e alteridade nos deparamos com a história do Buriti, a árvore da vida! Abandonando o nosso território, a fim de conhecer o país do outro, navegamos novamente para Parque Estoril, no intuito de encontrar o grupo de crianças Warao na sua rotina da semana: ida ao CRAS de Marambaia para participar de uma sequência didática remota. Esse dia não foi escolhido de forma aleatória, pois buscávamos a aproximação, de “receber e acolher esse estranho” participando e partilhando do seu cotidiano. Foi acompanhado esses eventos no CRAS de Marambaia, que pela primeira vez tivemos o encontro com a palavra Buriti, que até então não tínhamos ouvido falar.

a imprevisibilidade do encontro: surgimento da palavra buriti

Nosso encontro com o Buriti ocorreu de forma inesperada. A professora de espanhol ainda não tinha se conectado no ambiente virtual. Um dos estagiários estava um pouco aflito, pois as crianças aguardavam o encontro e nos pediu, se era possível, ligar para a professora, pois seu celular estava sem sinal. Não foi possível ajudar, pois também não tínhamos sinal para realizar a ligação. O tempo foi passando e as crianças iniciaram um movimento de pegar uma folha de papel A4 para desenharem enquanto aguardavam. A responsável pela direção do CRAS, foi até a sala onde estávamos aguardando e nos passou a seguinte informação: o celular da professora caiu na água e não seria possível realizar o encontro virtual. Perguntou-nos se poderíamos realizar alguma atividade com as crianças. Assim assumimos o encontro com as crianças e foi nesse momento que nos chegou à árvore do Buriti.

O encontro aconteceu na brincadeira de “Imagem e Ação”. As crianças formaram um círculo e para iniciar as adivinhações escolhemos como campo semântico os animais. Desenhamos o primeiro animal e as crianças acertaram: gato, que na língua do grupo se escreve misi. O segundo animal que as crianças adivinharam foi cachorro que em escrita Warao é beoro. Motivadas em ter a participação do grupo na atividade, convidamos uma criança do grupo para assumir a ação de desenhar. A criança que aceitou o desafio foi ao quadro e desenhou uma cobra, que na língua materna das crianças se escreve juba. Só foi possível descobrir a escrita em Warao, devido a construção de uma lista as palavras em português, para logo após o grupo traduzir em forma de escrita à língua delas.

Cada criança escolheu sua palavra e registrou no quadro através do desenho. O campo semântico foi subvertido... mais uma vez a imprevisibilidade do campo. Foi desse movimento que surgiu a palavra Ojidu (em Warao) e conhecida como Buriti na nossa língua. Uma das crianças do grupo desenhou uma imagem que na nossa visão de mundo, parecia um coqueiro, mas que para aquele grupo, especificamente, significava muito mais... não era uma planta qualquer. Era o de Buriti, a árvore da vida!

Pensar na árvore da vida comumente falando, nos remete a árvore com um significado religioso, da fecundidade da imortalidade ou do fruto proibido, uma vez que “toda palavra está sempre carregada de um conteúdo ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos aquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas e concernentes à vida” (Bakhtin, 2006, p. 96).

Para os Warao as árvores são protegidas por uma guardiã: Dauarani (a Madre del Bosque), assim a relação que estabelecem é extremamente respeitosa. Cortar uma árvore depende da permissão de seu guardião, as árvores, as pedras, quase todas as coisas têm hebu uma força sobrenatural que as rege. O Hebu ainda pode ser considerado um espírito maligno ou uma doença que os acomete (Rosa, 2020).

Para os indígenas, o Buriti é ainda Ojidu - a árvore da vida. Conta a lenda que Ojidu era um homem a quem os Warao pediam a rede, a farinha, a fruta, a minhoca e ele trocava por outras coisas. Ele foi morto por um homem invejoso e se transformou na árvore de Buriti, de onde vem a fibra para fazer artesanato, a palha que cobre seus telhados, o fruto que alimenta, a madeira para a construção das casas e canoas, o remédio para a gripe.

As crianças podem ser olhadas sob diferentes perspectivas uma vez que possuem múltiplas existências decorrentes das inúmeras possibilidades de inserção social. Os artefatos, a história de seus antepassados, suas relações familiares, a maneira como são educadas e ainda a espacialização de suas vidas possibilitam tecer compreensões que enriquem a produção de conhecimento sobre as crianças em geral, suas infâncias e suas concretudes

[…] todo nascimento humano é também um nascimento geopolítico, pois o fato de nascer em determinados espaços geográficos, de viver em determinadas paisagens, em territórios diversificados, cria redes simbólicas e materiais que estão nas fronteiras das infâncias que chegam até as crianças. (Lopes; Motta, 2021, p. 603)

Essa ideia ganhou força quando em outra proposta de trabalho, tivemos uma roda de conversa com as crianças sobre o livro literário “Refugiados” de Illan Brenman. No livro algumas questões sobre o deslocamento foram destacadas e as crianças também conseguiram identificar como a guerra e a fome. Após a leitura do livro, refletimos no cordão de Maat, presente em todas as cenas nos personagens em transição. Nesse clima de idas e vindas, lançamos a pergunta: Que imagem tenho do lugar que venho? As crianças fizeram vários registros em forma de desenho, e de uma forma geral quase todos apresentaram as seguintes repetições: rio, buriti, cesto, remo, canoa e janoko (casa).

Imagem 7 Fonte  Desenho de Madeline Arquivo do GEPELID 

O desenho rico em detalhes de Madeline nos apresenta aspectos de sua existência antes da chegada ao Brasil. O encontro com a cultura ocidental por sua vez, revela-se na palavra love acima de um coração vermelho, apontando a influência do idioma inglês na forma como vê o mundo. Chama atenção que a palavra escolhida se refira ao amor, possivelmente identificado por Madeline como elemento presente na sua existência anterior. Ainda assim, a escolha de um quarto idioma para sua manifestação (nem Warao, nem espanhol, nem português) não deixa de causar estranheza e nos coloca diante de uma perspectiva onde indígenas e brasileiros podem ser percebidos como subalternizados em relações de colonização.

Desenho de Yunilsia

Arquivo do GEPELID

Imagem 8 Fonte 

Yunilsia, por sua vez nos mostra uma representação de espaço onde a natureza envolve a existência numa relação harmoniosa entre o humano e o ambiente. As memórias das crianças mais velhas apontam para uma narrativa onde o modo de viver Warao parece mais preservado enquanto memória e tradição.

Arquivo do GEPELID

Imagem 9 Fonte:  Desenho de Nogeli 

Nogeli, por sua vez, mais novo, traz uma imagem onde não encontramos sinais de sua presença na cena. O brinquedo talvez remeta à passagem de uma criança por lá, ainda assim, não diz muito sobre que brincadeiras convidava a experimentar. O que resta de memória para Nogeli? A narrativa dos outros membros do grupo vai se tornando então elemento identitário de maior relevância, uma vez que fornecerá as bases para a construção de uma visão de mundo que alie ao contemporâneo da experiência iguaçuana, o passado de floresta, rio e árvores.

Com base nos desenhos realizados pelas crianças, a curiosidade sobre sua relação com a árvore Buriti aumentou. Encontramos um documentário chamado “Nona anonamo - somos todas artesãs” no CRAS de Marambaia e assistimos uma parte com o grupo. Em seguida, numa roda de conversa eles falaram sobre sua relação com a árvore da vida, confirmando as informações que havíamos apurado.

Durante o relato de um dos componentes do grupo percebemos que o Buriti esteve presente desde o primeiro dia do campo. Palavra com significado ideológico de subsistência, é muito mais que uma simples árvore. A linguagem situa o mundo. A ligação do Buriti para os Warao tem uma história com raízes profundas. Na relação dialógica ali estabelecida, a palavra nos foi dita. E “toda palavra (todo signo) de um texto conduz para fora dos limites desse texto. A compreensão é o cotejo de um texto com outros textos [...] somente em seu ponto de contato é que surge a luz que aclara para trás e para frente, fazendo que o texto participe de um diálogo” (Bakhtin, 2002, p. 113).

Na análise dialógica do discurso o que entra em cena é a dimensão dialógica presente em qualquer enunciado, quando tomado nas condições concretas de enunciação. Dessa forma o dialogismo se torna a condição mesma de produção de conhecimento, uma vez que há uma polifonia de sentidos e enunciados que se relacionam se alterando nessa relação. Na relação dialógica com os sujeitos da pesquisa e nos eventos vividos no campo, a palavra Buriti, que sem os relatos das crianças para nós pesquisadores seria apenas mais uma árvore, afetou a produção de novos sentidos, pois na palavra se realizam os inúmeros fios ideológicos que penetram todas as áreas da comunicação social. O encontro da palavra Buriti, através dos enunciados das crianças indígenas, foi um momento precioso para a nossa pesquisa, acreditamos que a palavra é capaz de fixar todas as fases transitórias das mudanças sociais, por mais delicadas e passageiras que sejam. (Baktin; Volochinov, 2002) Seguimos, portanto, o teórico que nos fundamenta, Mikhail Bakhtin, que diz que os homens se revelam na e pelas linguagens que produzem e reproduzem. São constituídos por palavras próprias e por palavras alheias (Bakhtin, 2011). São produtores, reprodutores e receptores de textos; são herdeiros coproprietários de uma língua, usuários; são sujeitos expressivos, narrativos, são linguagem: são textos orais e escritos, são narrativas que contam experiências da vida humana, vida que acontece aqui e acolá, em diversas partes do mundo, desde o delta do rio Orinoco a Parque Estoril em Nova Iguaçu.

Onde existir um homem, haverá ali língua, haverá ali tempo, um espaçotempo, uma sociedade e uma história sendo narrada. A língua é o cronotopo do homem, o “onde” e o “quando” exerce sua existência, o seu habitar o seu ato responsável e responsivo e seu não álibi. A palavra é humana, é propriedade compartilhada por todos. Estamos convencidos que o mundo pode ser visto por muitos pontos de vista e de que não existe uma única forma de concebê-lo. O mundo que vemos é aquele que criamos e que ouvimos dizer pelas diversas narrativas humanas. Interessa-nos perceber que tais escolhas nos revelam uma ética que estrutura a nossa vida. Escolha essa que nunca é previamente dada, antes construída no ato. Por isso, viver é assumir que tudo que fazemos (ou deixamos de fazer) é de nossa única e inteira responsabilidade. E que nossa existência é do não álibi.

Dentro dessa premissa, da palavra como propriedade compartilhada, a questão da escuta é um ato primordial, uma vez que:

[...] escutar é dar valor ao outro; não importa se você concorda com ou não com ele. Aprender a escutar é uma tarefa difícil; é preciso se abrir para os outros, e todos nós necessitamos disso. A escuta competente cria uma profunda abertura e uma forte predisposição à mudança. (Rinaldi, 2012, p. 209)

O encontro com palavra Buriti e da produção de sentidos que essa árvore possui para o grupo Warao, só foi possível mediante a experiência de escutar e de se abrir para outro. Através dos enunciados compartilhados, percebemos a ligação com a árvore da vida, uma ligação forte com raízes profundas, tal como o Ojidu na sua plenitude natural. A palavra Buriti nos trouxe muitas lições.

considerações provisórias

Não basta colocar face a face dois homo sapiens quaisquer para que os signos se constituam. É fundamental que esses dois indivíduos estejam socialmente organizados, que formem um grupo (uma unidade social): só assim um sistema de signos pode constituir-se.

(Bakthin, 2006, p. 33)

Essa frase faz todo sentido nos encontros narrados nesse artigo. Primeiro o encontro com o estranho e desconhecido perfazendo nossa entrada no campo, em terras iguaçuanas, como os Warao. Não foi apenas um encontro físico, mas um encontro com a vida de um grupo indígena. O segundo encontro foi com a palavra Buriti que carrega um sentido ideológico e vivencial para o grupo: a árvore da vida. Cabe destacar que o sistema ideológico é de suma importância na formação dos signos, porém é na comunicação que encontramos as crenças e vivências, refletidas e refratadas nas palavras, dentro de uma dinâmica dialógica na prática diária de interação social. Essa percepção ficou latente de como realmente a natureza está intimamente ligada no grupo pesquisado: uma árvore que carrega “os espíritos maus” e outra que significa a árvore da vida. Ainda temos muitos caminhos para percorrer no que se refere o presente estudo, mas seguimos a premissa da importância de dialogar e escutar o outro e traduzir os movimentos dessas interações, perfazendo o encontro de duas consciências de sujeitos distintos, únicos e irrepetíveis, mas que se olham... cada um com histórias distintas, mas que na relação dialógica se constituem. A entrada no campo sempre é permeada de reflexões, dentro de um ato responsivo e ético. Embora os sujeitos envolvidos ocupem lugares distintos, a pesquisa sempre será um encontro com o outro, eis aí novamente a beleza da lagoa.

referências

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Recebido: 15 de Agosto de 2022; Aceito: 25 de Agosto de 2022

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