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Educação UFSM

versión impresa ISSN 0101-9031versión On-line ISSN 1984-6444

Educação. Santa Maria vol.46  Santa Maria ene./dic 2021  Epub 24-Oct-2023

https://doi.org/10.5902/1984644443584 

Artigo Demanda Contínua

Literatura infantil: expressão artística que coloca as personagens idosas em movimento

Children’s literature: artistic expression that sets elderly characters in motion

1Professora doutora na Universidade Federal de São João del-Rei. São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil. E-mail: mavilatodaro@ufsj.edu.br.

2Professora Doutora na Universidade de São Paulo. São Paulo, São Paulo, Brasil. E-mail: meirec@usp.br


RESUMO

O cenário de envelhecimento populacional e a complexidade das mudanças socioeconômicas, tecnológicas e culturais, desafiam a educação brasileira à leitura de um mundo “grávido” de um novo fenômeno: a diversidade dos modos de viver a velhice. As crianças precisam ler o mundo que envelhece, ao mesmo tempo em que passam por experiências intergeracionais nas suas comunidades, para evitar a discriminação etária (ageism). Nesse sentido, o foco temático deste estudo é a literatura infantil. O método previu uma pesquisa bibliográfica, cujos objetivos são: levantar obras de literatura infantil, disponíveis em língua portuguesa, que tragam personagens idosas; estabelecer relações entre as editoras, seus locais e a quantidade de livros, entre as obras e os anos de publicação, e, ainda, entre gênero, etnia, uso de adjetivos e de tempo verbal; e, também, pensar umageroalfabetização.

As questões de pesquisa foram: Quais títulos da literatura infantil investigada trazem personagens idosas? A literatura infantil guarda em si as potencialidades para a construção de conhecimento sobre a velhice? Como a linguagem literária pode ser um instrumento educativo para umageroalfabetização? Os resultados revelaram que a expressão artística literária se apresenta por meio de títulos veiculadores de temas que, nem sempre, desvelam a diversidade etária em uma única obra. Conclui-se que, partilhar diferentes obras que trazem personagens idosas na literatura infantil, como instrumento educativo, pode potencializar, nas crianças, a construção de novas concepções de velhice, visto que é pelas linguagens que se expressam pensamentos e sentimentos.

Palavras-chave: Literatura infantil; Idosos; Educação

ABSTRACT

The current circumstances of an aging population and the complexity of socioeconomic, technological, and cultural shifts, stimulate the need for the Brazilian education system to read a world impregnated with a new phenomenon: the diversity of ways of living at the old age. Children need to read this aging world whilst participating in intergenerational experiences within their communities in order to avoid ageism. Subsequently, the thematic focus of this study is children’s literature. Our methodology foresees a bibliographical research incorporating the following goals: the sampling of works found under the banner of children’s literature, which include elderly characters and are available in Portuguese; the establishment of correlations between publishers, where they are located, and the number of books they published, between the works and their year of publication, and also between gender, ethnicity, and the usage of specific adjectives and verb tenses; and the envisagement of ageroliteracy. The questions posed by our research were as follow: Which titles of the investigated works incorporate elderly characters? Does children’s literature hold within itself the potential for constructing knowledge about old age? How can literary language be an educational tool forgeroliteracy? The results revealed that the literary artistic expression is presented through theme-conveying titles that not always unveil the age diversity in a single work. It can be concluded that sharing different works that bring elderly characters in children’s literature, as an educational tool, can enhance, in children, the construction of new concepts of old age, since it is through language that thoughts and feelings are expressed.

Keywords: literature; Elderly; Education

Introdução

A produção de conhecimentos, de acordo comBolzan, Santos e Powaczuk (2013, p. 99),

[...] decorre de pesquisas que levam a um aprofundamento teórico acerca das bases epistemológicas, capazes de auxiliar na problematização das situações e vivências do contexto local e global que envolve o processo educativo. Esse princípio é básico para a construção de novos

conhecimentos e/ou [re]significá-los, além de criar diversificadas ações para enfrentar situações desafiadoras que envolvem a docência, bem como contribuir para a ampliação e qualificação dos conhecimentos produzidos no campo educacional.

Assim sendo, desenvolvermos pesquisas que aproximem a área da Saúde da de Humanas, significa colocarmos em diálogo campos científicos distintos, com referenciais próprios, mas com um objeto comum: o corpo, ou a pessoa sendo seu corpo. A Gerontologia, campo de natureza multi e interdisciplinar, permite-nos compreender, multidimensionalmente, o corpo que envelhece, enquanto a Educação nos leva a entender que somos corpos conscientes. Para Freire (1971, p. 74), é “[...] próprio do homem estar em constantes relações com o mundo”; assim, a conscientização da importância do diálogo supõe o reconhecimento do caráter relativo de cada campo de conhecimento e da complementaridade necessária para fundamentar o entendimento das complexas relações humanas.

O ensino sobre uma sociedade que envelhece é considerado uma educação gerontológica (CACHIONI, 2005). Já a alfabetização, é definida como o processo de aprendizagem em que se desenvolve a habilidade de ler e de escrever. Como a aprendizagem da leitura e da escrita acontece quando instrumentaliza e enriquece a vida, é na perspectiva de uma educação gerontológica que pode ensinar a ler o mundo que envelhece, que propomos o termogeroalfabetização.Nas palavras deFreire (1996, p. 123), “[...] respeitar a leitura de mundo do educando significa tomá-la como ponto de partida para a compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos impulsos fundantes da construção do conhecimento”. O simples contato do leitor criança com a obra literária não necessariamente alfabetiza, mas desempenha o papel de despertar a curiosidade infantil como impulso para o conhecimento do outro-idoso.

O cenário de envelhecimento populacional e a complexidade das mudanças socioeconômicas, tecnológicas e culturais, desafiam a educação brasileira à leitura de um mundo “grávido” de um novo fenômeno: a diversidade dos modos de viver a velhice. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2025, o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de idosos (OMS, 2015). Essas mudanças são desafiadoras e suas implicações são profundas. Uma criança nascida no Brasil ou em Mianmar, em 2015, pode viver 20 anos a mais do que uma criança nascida há 50 anos (OMS, 2015). O Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde, alerta que outras grandes mudanças sociais estão ocorrendo juntamente ao envelhecimento da população. Combinadas, elas podem significar que envelhecer no futuro será muito diferente das experiências de gerações anteriores (OMS, 2015).

Desse modo, as crianças precisam ler o mundo que envelhece, ao mesmo tempo em que passam por experiências intergeracionais nas suas comunidades, para evitar a discriminação etária (ageism). Esse termo significa preconceito de idade, e foi concebido porButler (1980) como um processo de estereotipar sistematicamente e discriminar pessoas por meio da idade. Os estereótipos negativos podem, por isso, levar à exclusão. Não é simples identificarmos oageism, mas, apesar disso, o aumento de estudos e de instrumentos para medi-lo pode potencializar as chances de produzirmos conhecimento e avançarmos nessa temática.Todaro (2008), em sua tese de Doutorado, desenvolveu e avaliou um programa de leitura visando à mudança de atitudes de crianças em relação a idosos. Os resultados da pesquisa indicaram que as atitudes eram geralmente positivas, mas melhoraram ainda mais após o programa. As medidas foram tomadas por meio da Escala Todaro que foi aplicada como pré e pós-teste.

Vale ressaltarmos que entre os preconceitos, como o racismo, o sexismo, o machismo, o etnocentrismo, entre outros, oageismé o menos abordado em pesquisas acadêmicas brasileiras que tratam da literatura infantil e de suas potencialidades. Em uma busca no Portal de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao cruzarmos os termos literatura infantil eageism, nenhum resultado foi encontrado. Tal revelação nos preocupa na medida em que estudar a linguagem na e da literatura infantil é buscarmos abarcar todo o amplo e complexo rol de possibilidades discursivas (SILVA, 2017).

A linguagem é um instrumento que serve para comunicar ao outro algo sobre as coisas. Ao emissor, cabe a função de expressão; ao receptor, a função de apelo; aos conteúdos, a função de representação. Entre esses três elementos, existe um canal de ligação manifestado por um fenômeno perceptível pelos sentidos. Ao fazermos uso da linguagem para nos comunicarmos, o objetivo é o entendimento de uma determinada mensagem. De acordo comFreire (1971, p. 44): “O mundo humano é, dessa forma, um mundo de comunicação”.

A linguagem é, portanto, o maior instrumento de interação entre sujeitos socialmente organizados. Isso porque ela possibilita a troca de ideias, a circulação de saberes e faz intermediação entre todas as formas de relação humana. Quando queremos nos expressar, oralmente, ou na forma escrita, recorremos às palavras, às expressões e aos enunciados de uma língua, os quais atuam em dois planos: o denotativo, que é o sentido literal da palavra, expressão ou enunciado; e o conotativo, que é o sentido figurado.

A linguagem literária é uma linguagem conotativa, que, em seu plano de expressão, se vale da linguagem denotativa e do estilo. A literatura é, assim, uma das manifestações da linguagem artística. A literatura infantil que traz em seu bojo personagens idosas, coloca discursos sobre velhice em movimento. Dessa maneira, a literatura faz girar os saberes, não fixa, não fetichiza nenhum deles; ela lhes dá um lugar indireto, e esse indireto é precioso (BARTHES, 1997). Pensar nisso, leva-nos a problematizar a linguagem da e na literatura infantil, e refletir sobre as atitudes preconceituosas veiculadas nos discursos do senso comum sobre as pessoas idosas.

Se “mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mundo” (FREIRE, 1997, p. 68), então cabe à literatura uma função social, com implicações na leitura de mundo.

A literatura infantil tem sido um meio cada vez mais utilizado para levar às crianças das escolas o debate sobre o respeito às diferenças. De acordo comBuendgens (2014), esse tema é encontrado tanto no Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), o qual encaminha acervos às bibliotecas das escolas públicas com livros de variadas temáticas e expressões literárias, quanto no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Não podemos esquecer que, desde “[...] muito pequenos, aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos ‘lendo’, bem ou mal, o mundo que nos cerca” (FREIRE, 2009, p. 71).

Temas difíceis, ou delicados, como, por exemplo, velhice, morte, doenças,bullyinge sexualidade, vêm marcando presença na literatura infantil e têm sido objeto de análise de pesquisadores que estudam a literatura infantil, comoBastos e Tomé (2011),Debus (2012),Lampert e Walsh (2010),Lesnik-Oberstein (1994),McDaniel (2001) e Mendes (2013),Azevedo, Balça e Selfa (2017),Rubim e Silva (2017) eSilveira e Silveira (2019). A relevância de tais questões, dá-se na formação de leitores do mundo e de cidadãos empenhados em cultivar valores humanistas, como o respeito à diferença, em busca de formar, como afirmaFreire (2000, p. 100), “[...] pessoas críticas, de raciocínio rápido, com sentido de risco, curiosas, indagadoras”.

O livro destinado a crianças precisa ser apresentado, nas escolas, acompanhado de um procedimento intencional que prevê sequências didáticas, estratégias de leitura, atividades problematizadoras, motivação e interpretação (BARBOSA, 2017;BIANCHINI; ARRUDA; FIGLIOLO, 2015; GIROTTO; SOUZA, 2010;SOLÉ, 1998; TODARO, 2008). Tal questão não foi tratada no presente estudo, mas é importante frisarmos que, desde a escolha por títulos, a intencionalidade do adulto educador se revela na circulação dos temas, dos discursos e dos saberes que quer compartilhar.

Dito isso, os objetivos deste estudo são: levantar obras de literatura infantil, escritas em língua portuguesa, que tragam personagens idosas; analisar o que seus títulos expressam; e pensar umageroalfabetização.As questões de pesquisa foram: Quais títulos da literatura infantil investigada trazem personagens idosas? A literatura infantil guarda em si as potencialidades para a construção de conhecimento sobre a velhice? Como a linguagem literária pode ser um instrumento educativo para umageroalfabetização? Tendo isso em conta, a seguir, discorremos sobre o método e os resultados da pesquisa.

Método

Esse estudo é parte integrante da pesquisa de pós-doutoramento deTodaro (2020) que, entre outros objetivos, se dedica a levantar e a analisar obras literárias dedicadas às crianças, disponíveis em língua portuguesa. A pesquisa, de abordagem quanti-qualitativa, é denominada “Educação e diversidade etária: a importância de ler o mundo que envelhece”.

Os dados do presente artigo foram derivados do estudo preliminar desenvolvido pelas autoras. Para o levantamento dos livros de literatura infantil, realizamos uma busca na internet, no ano de 2020. Foram três ossitesvisitados: Livraria Cultura (https://www3.livrariacultura.com.br/), Livraria Saraiva (https://www.saraiva.com.br/) e Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (https://www.fnlij.org.br/). Neles, buscamos os catálogos disponíveisonline.

Os livros a serem identificados deveriam ter em seu título alguma palavra, ou mais de uma, tais quais: avô(s), avó(s), vovô(s), vovó(s), vó, vô, velha(o), velhas(os), velhinha(o), velhinhas(os), velhote e velhota. O critério de inclusão previu publicações destinadas às crianças editadas entre os anos de 2000 e 2019, com a intenção de verificarmos os discursos sobre velhice na linguagem literária, no século XXI.

Resultados

Na Tabela 1, trazemos os resultados do levantamento nossitese descrevemos os nomes das editoras, o local (Estado) onde estão sediadas e a quantidade de livros encontrados.

Tabela 1 Editoras, locais e número de livros 

NOME DA EDITORA LOCAL DA EDITORA NÚMERO DE LIVROS PUBLICADOS
Abaquar Distrito Federal 1
Aletria Minas Gerais 1
Almedina Brasil São Paulo 1
Amarilys São Paulo 1
Artmed Rio Grande do Sul 1
Ática São Paulo 3
Autêntica Minas Gerais 5
Biblioteca 24 horas São Paulo 1
Brinque-book São Paulo 4
Callis São Paulo 2
Chiado Brasil São Paulo 1
Ciranda Cultural São Paulo 4
Companhia das Letrinhas São Paulo 2
Companhia Ed. Nacional São Paulo 1
Cortez São Paulo 5
Cosac Naify São Paulo 1
Ediouro Rio de Janeiro 1
De Cultura São Paulo 1
Escala Educacional São Paulo 1
Escrita Fina Rio de Janeiro 2
FEB Distrito Federal 1
Franco Minas Gerais 1
FTD São Paulo 2
Fundamento Paraná 6
Global São Paulo 4
Globinho Rio de Janeiro 1
Globo Rio de Janeiro 1
Habilis Rio Grande do Sul 1
Imperial Rio de Janeiro 1
Kalandraka Brasil São Paulo 2
Kapulana São Paulo 1
Littere Ceará 1
Martins Fontes São Paulo 1
Melhoramentos São Paulo 4
Mercuryo Jovem São Paulo 2
Miguilim Minas Gerais 1
Moderna São Paulo 3
Nacional São Paulo 2
Newbook São Paulo 1
Nova Didática Paraná 1
Páginas Minas Gerais 1
Pallas Rio de Janeiro 1
Panda Books São Paulo 9
Paulinas São Paulo 2
Paulus São Paulo 2
Petit São Paulo 1
Polen Livros Paraná 1
Positivo Paraná 2
Quinteto São Paulo 1
Record Rio de Janeiro 1
Rolimã Minas Gerais 1
Rovelle Rio de Janeiro 1
Salamandra Rio de Janeiro 1
Salesiana São Paulo 1
Scipione São Paulo 1
Scortecci São Paulo 3
Thesaurus Distrito Federal 1
Unisinos Rio Grande do Sul 1
Viajante do Tempo Rio de Janeiro 2
Vida São Paulo 1
Zastras São Paulo 1
Zit Rio de Janeiro 1

Fonte: Elaboração própria (2020)

No Quadro 1, trazemos os resultados dos termos que mais apareceram, o número de ocorrências, os títulos dos livros infantis, com seus respectivos autores(as) e o ano de publicação no Brasil.

Quadro 1 Termos, ocorrências, títulos, autores e ano de publicação 

TERMOS TÍTULOS AUTORES ANO DE PUBLICAÇÃO
Avós 1 As coisas que eu amo nos avós Trace Moroney 2012
2 Minhas duas avós Ana Teixeira 2017
3 Avós Chema Heras 2003
4 Meus avós são demais Jennifer Moore-Malinos 2008
5 Ser avós, que aventura! Roser Capdevilla 2006
6 Avôs e avós Nelson Albissu 2017
7 Quero ter avós! Silmara Rascalha Casadei 2013
8 A terra dos avós José Ricardo Moreira 2008
9 Era uma vez duas avós Naumim Aizen 2003
10 Quando seus avós morrem Victoria Ryan 2004
11 A menina e suas três avós Mônica de Ávila Todaro 2016
velhinha 1 A Velhinha na janela Sônia Junqueira 2008
2 O bebezinho da velhinha Silvana de Menezes 2014
3 Tinha uma velhinha que engoliu uma mosca Jeremy Holmes 2010
4 Três velhinhas tão velhinhas Roseana Murray 2004
5 A velhinha e o porco Rosinha 2012
velhinho 1 O velhinho que virou criança Antonio Hohlfeldt 2009
velha(s) 1 As velhas fiandeiras Grupo as meninas do conto 2017
2 A velha coroca Roberto Athayde 2007
3 O jovem caçador e a velha dentuça Lucilio Manjate 2016
4 O macaco e a velha João de Barro 2019
5 A velha e a baleia Maria Lyra 2015
6 A velha misteriosa Ana Maria Machado 2010
7 Histórias da velha coruja Paulo Debs 2009
8 CEIUCI - A velha gulosa Maria Inez do Espírito Santo 2013
9 A velha magrela, a gata Fornela e os óculos-janela Tatiana Busto Garcia 2007
10 A velha árvore: uma história de amor pelos idosos Daniel Munduruku 2002
11 A velha dos cocos Ninfa Parreiras 2006
12 A bruxa mais velha do mundo Elizete Lisboa 2008
velho 1 O velho lobo do mar Tati Mileide 2011
2 O velho, a carranca e o rio Rogério Andrade Barbosa 2010
3 O velho acendedor de vagalumes Vânia Chaves 2016
4 O Velho urso que engoliu uma mosca Trish Phillips 2007
5 ANANSI - O velho sábio Rosa Freire d'Aguiar 2007
6 O velho gigante que engoliu um relógio Becky Davies 2018
7 Chiru Velho & Virso Savio Moura 2011
8 Preto Velho do Surrão Marion Villas Boas 2012
9 O velho da montanha e outras histórias Rafael Lago 2012
Avô 1 Meu avô grego Alexandre Kostolias 2010
2 Meu avô africano Carmen Lúcia Campos 2011
3 Gus e eu - a história do meu avô e do meu primeiro violão Keith Richards 2015
4 Meu avô judeu Henrique Sitchin 2018
5 Meu avô é um urso polar Jackie French 2007
6 Na Kombi do meu avô Ivo Minkovicius 2013
7 Meu avô desparafusado Sergio Klein 2011
8 O livro secreto do meu tio-avô Rosana Rios 2018
9 Por que eu amo meu avô Alison Reynolds 2011
10 Eu amo o meu avô Anna Walker 2010
11 O segredo do avô urso Pedro Mañas 2019
12 Meu avô italiano Thiago Iacocca 2010
13 Histórias do avô Burleigh Muten 2009
14 Meu avô desencarnou Daniella Carvalho 2008
15 Meu avô japonês Fabiana Shizue 2009
16 Meu avô chinês Dongyan Wang 2012
17 O avô mais louco do mundo Roy Berocay 2012
18 Meu avô espanhol João Anzanello Carrascoza 2009
19 Meu avô português Manuel Filho 2010
20 O menino que levou o mar para o avô Eraldo Miranda 2018
21 Eu, meu avô, a pipa e a guerra dos gatos Sergio Capparelli 2012
22 O bravo soldado meu avô Luís Pimentel 2010
23 Sábados com meu avô Fanny Abramovich 2012
24 A menina, a vaca e o avô Luis Pimentel 2011
25 Meu avô árabe Marisa Zakzuk 2012
26 Meu avô é um tatá Janaína de Figueiredo 2018
27 Meu avô era uma cerejeira Angela Nanetti 2007
28 O avô Jacinto e os macaquinhos do sótão Sofia Fraga 2019
29 Tem um avô no meu quintal Tânia Alexandre Martinelli 2000
30 Meu avô tem oito anos Sonia Travassos 2012
31 A casa do meu avô Ricardo Azevedo 2006
32 Meu avô e eu Telma Guimarães 2001
Avó 1 Colo de avó Roseana Murray 2017
2 Minha avó é uma bruxa Elizabete Ferreira 2016
3 Minha avó é uma gorila Jackie French 2010
4 Eu amo a minha avó Anna Walker 2010
5 Strega nona - a avó feiticeira Tomie de Paola 2007
6 Carta de um menino para a pior avó do mundo Neusa Sorrenti 2013
7 A menina e o segredo da avó Alexandre Perlingeiro 2012
8 A avó adormecida Roberto Parmeggiani 2014
9 54 histórias que minha avó contava na Kombi Omar Benjamim 2012
10 Para uma avó muito especial Elen Exley 2013
11 O livro da avó Luís Silva 2010
12 O dia em que minha avó envelheceu Lúcia Fidalgo 2013
13 Avó com cheiro de pão caseiro Zé Zuca 2010
14 Avó maluca lelé da cuca e avó pirada da pá virada Jonas Ribeiro 2007
15 Minha avó já foi bebê Paula Sandroni 2000
16 A Avó de Tutancâmon Roberto Pavanello 2009
17 A avó dos dinossauros Tonio Carvalho 2009
18 Minha avó botou um ovo Alexandra Rodrigues 2007
19 Minha avó tem Alzheimer Dagmar H. Mueller 2006
20 Minha avó, sua avó Florence Noiville 2013
1 Uma delícia de vó Creusa Alves 2017
2 Vó Zildinha e suas estórias Yedda de Mello e Souza 2012
3 Vó Leninha em: O aniversário de Isabela Ana Paula de Abreu 2015
4 Vó, para de fotografar! Ilan Brenman 2017
5 Vó Zoe Gisele Gama Andrade 2013
6 Vó que faz poema Celso Sisto 2000
7 Minha vó sem meu vô Mariângela Haddad 2015
8 Vó Mi, vó Li e eu no parque Mirna Pinsky 2003
9 O mistério da sopa da vó Leninha Ana Paula de Abreu 2015
1 Conta mais vô Manolo Quesada 2014
2 Porão do vô Regina Renno 2015
3 Vô estrela Bárbara Aquino 2015
Vovó 1 Elias e a vovó que veio do ovo Iva Procházková 2014
2 Como ser babá da vovó Jean Reagan 2019
3 O presente da vovó loba Didier Dufresne 2016
4 Vovó inventa palavras Rosa Maria Miguel Fontes 2017
5 A menina, o cofrinho e a vovó Cora Coralina 2009
6 Cadê vovó? Mauro César Silva Viana 2002
velhote 1 De trote em trote, agarrei o velhote Mauro Martins 2012
velhota ------------------------- ------------ -----
Vovô 1 Como ser babá do vovô Jean Reagan 2013
2 Vovô teve um AVC Dori Hillestad Butler 2010
3 O anjo da guarda do vovô Jutta Bauer 2003

Fonte: Elaboração própria (2020)

Análise e discussão

Este estudo teve como foco temático a literatura infantil. Foram levantadas obras editadas no Brasil, entre os anos de 2000 e 2019, que traziam personagens idosas. Ao identificarmos as palavras que mais apareceram nos títulos dos 112 livros encontrados, foi possível estabelecermos relações entre as editoras, os seus locais e a quantidade de livros; entre as obras e os anos de publicação; e, ainda, entre gênero, etnia, uso de adjetivos e do tempo verbal.

Lajolo (2010)afirma que, na pesquisaProdução e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, encomendada à Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), destacam-se os anos de 2000, 2005, 2006, 2007 e 2008, quando 28.500 títulos de literatura infantil e juvenil foram editados no Brasil.

A amostra desse estudo nos fez perceber que a editora que mais publicou títulos referentes à temática em questão foi a Panda Books, o que difere do levantamento realizado porTodaro (2008), quando a autora levantou um número maior de obras da Editora Ática. No que se refere aos locais das editoras, notamos que a maior parte das obras presentes em nossa amostra foi publicada na região Sudeste, sendo 66 editadas no Estado de São Paulo, dezesseis no Rio de Janeiro e dez em Minas Gerais. Tal achado vai ao encontro do que verificou Todaro (2008) que, à época, também relatou ser o Estado de São Paulo que mais publicou obras sobre o tema. Os demais livros se concentraram em editoras do Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Ceará.

Do Quadro 1, pudemos extrair uma questão de gênero no que tange à autoria dos livros: 65 livros foram escritos por mulheres e 47, por homens. Tal achado corrobora os dados de Todaro (2008) que indicou, em sua pesquisa, uma quantidade superior de obras de autoras em sua amostra. No que tange aos anos de publicação, é perceptível um incremento dos lançamentos a partir de 2006, o que até o ano de 2019 resulta em uma média de oito ou mais livros publicados sobre a temática por ano. Todaro (2008), em seu levantamento de livros infantis sobre a temática velhice, encontrou, à época, apenas 35 obras. Foi possível notarmos, portanto, nesse estudo, um aumento de títulos que trazem personagens idosas, no panorama editorial brasileiro. É importante lembrarmos que, em 2006, o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) foi criado com a finalidade de assegurar a democratização do acesso ao livro, o fomento e a valorização da leitura e o fortalecimento da cadeia produtiva do livro como fator relevante para o incremento da produção intelectual e o desenvolvimento da economia nacional. Tal política pública se vê refletida em nossa amostra.

No que concerniu à quantificação da categorização de palavras, a maior parte das obras levantadas (32) trouxe, em seus títulos, a palavra “avô”. Em segundo lugar, apareceu “avó”, com 20 ocorrências. Em seguida, com 12 ocorrências, as palavras “velha” e “velhas”; “avós” apareceu em 11 obras; nove obras trouxeram, em seus títulos, a palavra “velho”; foram encontrados nove livros com a palavra “vó”; “velhinha” foi um termo encontrado em cinco livros, assim como “vovó”. Em menor quantidade, apenas com três ocorrências cada, apareceram as palavras “vô” e “vovô”. E, por último, “velhote” e “velhinho”, com apenas uma ocorrência para cada termo. O termo “velhota” não apareceu na amostra coletada.

Acompanhadas das categorias principais, notamos a presença de adjetivos desqualificantes, como: coroca, dentuça, magrela, gulosa, louco, desparafusado, bravo, maluca, pirada e pior. Apenas três adjetivos (demais, sábio e delícia) puderam ser considerados elogiosos. Se discursos literários e sociais atuam nos processos de subjetivação, determinando como homens e mulheres devem se portar, então, quando o tema é velhice, as personagens idosas de nossa amostra apareceram nos títulos atreladas a adjetivos que (des)qualificam seu modo de ser.

A questão de gênero, na amostra, evidenciou que 53 livros trazem como personagem principal o avô, também chamado de “vô”, “vovô”, “velho”, “velhinho” e “velhote”. Com relação ao gênero feminino, foram encontradas 57 obras que, no título, se referem às avós. Para a personagem feminina, há de destacarmos títulos que remetem à esfera familiar, como em:A velhinha na janela;Colo de avó;Avó com cheiro de pão caseiro;Casa de vó é sempre domingo; eO mistério da sopa da vó Leninha.

Para o personagem masculino, os títulos apontam para enredos em torno de aventuras no rio, na montanha, no carro e no cavalo, por exemplo. Tal achado vai ao encontro da análise das narrativas estudadas porSilva (2008), que traziam personagens do conto infantojuvenil brasileiro contemporâneo, na qual a pesquisadora concluiu que o papel de cidadão do mundo é reservado ao homem, e à mulher resta a função de membro da família.

Quanto à caracterização dos personagens idosos, o cômico decorreu de expressões, como: “babá do vovô”, “babá da vovó”, “agarrei o velhote”, “vovó que veio do ovo”, “minha avó botou um ovo”, “o velho gigante que engoliu um relógio” e “velhinha que engoliu uma mosca”. O humor na literatura infantil aparece no encontro entre a realidade e a fantasia, sendo objeto de estudo e análise deBergmann e Sassi (2007, p. 203), as quais afirmam que: “Vários autores já publicaram histórias engraçadas, que divertem, porque transgredem”.

Observamos que algumas obras apostaram nos animais como personagens:Histórias da velha coruja;O velho lobo do mar;O velho urso que engoliu uma mosca;Meu avô é um urso polar;O segredo do avô urso;Minha avó é uma gorila;A avó dos dinossauros; eO presente da vovó loba. Os animais, segundoSilva e Piassi (2014), quando transportados para a literatura infantil, apresentam características antropomórficas e, perdendo sua relação com a natureza e a realidade, passam a personificar ações, sentimentos e emoções humanas.

A análise do uso do tempo verbal nos títulos, indicou o momento em que a história ocorreu. Foi possível notarmos que foram empregados verbos no passado e no presente. Nenhum título enunciou um fato que deva ocorrer em um tempo vindouro. Desse modo, a relação entre o personagem idoso, o autor e o tempo, não convocam o leitor-criança a pensar na sua própria experiência de velhice no futuro que, segundo a OMS (2015, p. 11), “[...] será muito diferente das experiências de gerações anteriores”.

As doenças e a morte apareceram como temas, explícita ou implicitamente, em seis títulos:Meu avô desencarnou;Minha avó tem Alzheimer;Minha vó sem meu vô;Cadê vovô?;Vovô teve um AVC; eO anjo da guarda do vovô. Quando buscamos as obras nossites, lemos as sinopses que indicaram outros livros que também tratavam do tema “morte”, como:Vovô vai para as estrelas;Vô estrela;O dia em que minha avó envelheceu;A casa do meu avô;Vovó inventa palavras;Vovó viaja e não sai de casa; eUma vovó italiana. Encontrarmos 13 livros sobre os temas morte e doença em um universo de mais de 100 livros, o que indica a pouca presença desses temas, como apontaMendes (2013).

O destaque da amostra se deu em relação às etnias, pois a etnia branca sobressaiu sobremaneira na amostra. Apenas um título traz a expressão “Preto velho”, referindo-se a uma pessoa idosa negra. Ao entrarmos nossitesde busca, foi possível vermos que, na capa do livroMeu avô é um tatá, a ilustradora desenhou um idoso negro, representando a personagem que deu título à história. Na obraMeu avô africano, também encontramos imagens de pessoas negras. Tal qualDebus (2012), chamamos a atenção para a necessidade de uma estética literária negra, como conscientização, em livros voltados para as crianças que tratam da temática “velhice”.

Todaro (2008) derivou de sua pesquisa cinco categorias de imagens sobre velhice e idosos, segundo critérios gerontológicos, a saber: estereotipadas; realistas; fantásticas; divertidas; e novos velhos. A imagem estereotipada indica a velhice como uma etapa de afastamento social, de inatividade e de comprometimento cognitivo (TODARO, 2008, p. 59). A realista apresenta a velhice como possibilidade de proximidade da morte e da sabedoria advinda de um maior número de experiências adquiridas ao longo da vida (TODARO, 2008, p. 61). A imagem fantástica se refere ao mundo imaginário, em que todo o tipo de aventura é possível (TODARO, 2008, p. 65). As imagens divertidas são as que se referem ao comportamento e ao bom humor das personagens idosas (TODARO, 2008, p. 67). Novos velhos é uma categoria que traduz uma velhice ativa, independente e autônoma (TODARO, 2008, p. 68).

Ao buscarmos categorizar os títulos dos livros, no presente estudo, lemos as sinopses divulgadas nossitesvisitados. Nelas, encontramos termos recorrentes, como: sábio; engraçada; doença; morte; sozinha; confusa; hilária; aventura; mágico; imaginação; jogar; trabalhar; casar; e dançar. O uso das palavras nas sinopses é um indicativo daquilo que as obras trazem em seus conteúdos.

Após a análise da amostra, concluímos que há livros que trazem histórias com diferentes personagens idosos. Há personagens, por exemplo, que são apresentados como sábios, e há aqueles que vivem uma velhice ativa. A categorização por imagens é uma forma de organizarmos as temáticas para compreendermos quais foram as mais enfocadas na amostra. Foi possível perceber que, quanto mais detalhada é a trama, mais imagens circulam na obra fazendo com que ela retrate a velhice em sua heterogeneidade.

O que é importante ressaltarmos, nesse estudo, é a pequena quantidade de livros que trazem personagens idosas estereotipadas e o grande número de obras que retratam a velhice como uma etapa do ciclo da vida que pode ser vivida ativamente. A análise da amostra indica que os livros tratam de diferentes velhices, cada um à sua maneira, não indicando a idade cronológica, mas o papel social de avós ou a denominação de “velhos”. A problematização da complexidade dessa etapa da vida, que é resultante da interação entre as condições econômica, social, educacional e de saúde, terá mais potência se forem apresentadas às crianças, como instrumento educativo, pelo menos uma de cada imagem sobre velhice: estereotipadas; realistas; fantásticas; divertidas; e novos velhos.

Considerações finais

Em linhas gerais, esse estudo revelou a presença de personagens idosas na literatura, destinada a crianças, publicada no Brasil entre os anos de 2000 e 2019. Todavia, tal presença comparada ao acelerado processo de envelhecimento populacional e à necessidade de inserção da temática velhice na educação, nos faz refletir se tais livros estão nas bibliotecas das escolas de Educação Básica. Isso porque o acesso à linguagem literária se dá muito mais via instituição escolar do que instituição familiar. Visto que vivemos em um país desigual economicamente e em termos de nível de escolarização, é importante que o Estado invista em políticas públicas de fomento à leitura.

Quando pensamos em educação gerontológica, mais especificamente em umageroalfabetização, questionamo-nos se tais obras são conhecidas por formandos e formados em Educação e em Gerontologia que têm, ou não, em suas matrizes curriculares, conteúdos ligados à temática em questão, visto que trabalharão direta ou indiretamente com as crianças e com as pessoas idosas. Além disso, preocupa-nos se tais livros estão disponíveis nas bibliotecas escolares, o que merece outra pesquisa.

A literatura infantil, ao propor a representação da velhice, propicia um interessante processo de aprendizagem para as crianças que têm, ou não, contato com pessoas idosas em suas famílias. Coloca em movimento discursos sobre os diferentes modos de viver o processo de envelhecimento por meio das narrativas apresentadas. Por isso, ela traz uma importante contribuição para a área da Educação.

Em uma visão otimista, é possível afirmarmos que a literatura infantil, como meio simbólico, pode ser considerada como um valioso instrumento educativo para rever atitudes em relação à velhice. As obras trazem para o contexto educativo, formal, não formal ou informal, um tema que pode fomentar o respeito pelo outro que não tem a mesma idade que a criança.

Geroalfabetizar pode ser uma ação educativa cuja intenção seja proporcionar experiências de leitura nas quais a personagem idosa passe a ser associada aos diferentes modos de ser na velhice. O termogeroalfabetização,cunhado por Todaro (2020, p. 3) no seu projeto de Pós-Doutorado, significa “[...] ensinar as crianças a lerem, com criticidade, um mundo que envelhece e a escreverem uma nova história sobre sua velhice no futuro, lutando por uma vida digna e boa para pessoas de todas as idades”. Acreditamos que o protagonismo idoso inverte o processo histórico que sempre colocou a velhice como uma etapa da vida inferior em relação à juventude.

O atual perfil demográfico brasileiro afeta as instituições de ensino e requer modificações urgentes na gestão escolar, de forma a lidar melhor com esse novo contexto, geroalfabetizando. Se os livros destinados às crianças colocam as personagens idosas em movimento, então é necessário que, nas escolas, os profissionais da Educação selecionem diferentes obras para garantir que todos entrem em contato com a diversidade etária.

Podemos apontar algumas limitações metodológicas dessa pesquisa para futuros aperfeiçoamentos e futuras investigações. Em primeiro lugar, destacamos que, como a amostra foi coletada com base em apenas trêssitesde consulta, isso pode ter limitado, quantitativamente, o encontro de obras, publicadas no Brasil, entre os anos de 2000 e 2019, que tratam do tema velhice. Consideramos, ainda, a possibilidade de que futuras investigações levantem dados sobre a ocorrência dos termos no interior das obras, ou melhor, em seus conteúdos e não apenas nos títulos. Por fim, salientamos a importância de mais estudos sobre a temática que possam auxiliar na compreensão dos discursos sobre idosos que circulam nos livros que são, ou serão, oferecidos às crianças, via profissionais formados em Gerontologia e em Educação, instituições de ensino (formal ou não formal) e/ou familiares.

Concluímos que, mediante uma amostra tão vasta e disponível no mercado editorial brasileiro, torna-se possível partilhar diferentes obras que circulam na literatura infantil e que podem potencializar, nas crianças, a construção de novas concepções de velhice, visto que é pelas linguagens que expressamos pensamentos e sentimentos. Contudo, diante do escopo limitado desse artigo, não foi possível discutirmos as complexidades que envolvem os conteúdos e a interpretação dessas obras, uma vez que seria necessário levar em conta as questões atinentes à leitura e à interpretação dos textos completos. Dito isso, propomo-nos a seguir nos aprofundando no estudo do tema.

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