Introdução
O stresse parental pode ser influenciado por diversos fatores tais como alteração da rotina, recursos financeiros limitados, aspectos relacionados com a situação laboral, falta de tempo livre/cansaço, relações de conflito com o(a) parceiro(a), perceção de isolamento social, recursos comunitários inacessíveis (ALEXANDRE, 2010; ALGOOD; HARRIS; HONH, 2013; FELIZARDO; GIALLO et al., 2011;WOODMAN, 2014). No caso dos pais de crianças com necessidades específicas acresce, ainda, a diversidade de sentimentos e emoções que podem surgir devido ao diagnóstico e que podem interferir, de forma significativa, nas interações que estabelecem com os seus filhos e com todos os elementos da rede de suporte (COUTINHO, 2004; GRUSEC; DANYLIUK, 2014; MIODRAG; HODDAPP, 2010). Sentimentos de insegurança, tensão emocional e ansiedade podem ser alguns dos desafios da adaptação à parentalidade vivenciados por estes pais (PAKENHAM; SOFRONOFF; SAMIOS, 2004). No estudo de Hutton e Caron (2005) verificou-se que das 19 mães e 2 pais que participaram, 52% relataram alívio imediatamente após o diagnóstico, 43% sentimentos de luto e perda, 29% choque ou surpresa e 10% sentimentos de culpa. Compreendeu-se também que, na perspetiva destes pais, após o diagnóstico não lhes foi dado o suporte necessário.
Decorrente de todos os desafios vivenciados pelas famílias das crianças com necessidades específicas, a identificação e implementação de fatores que promovem a resiliência, revela-se de grande importância (MIODRAG; HODAPP, 2010). Como forma de contribuir para o aumento da resiliência destas famílias refere-se o reforço do apoio social traduzido no incremento das redes de apoio formais (e.g. serviços sociais, educativos e médicos) e informais (e.g. familiares, amigos, vizinhos, grupos sociais) (ALMEIDA; SAMPAIO, 2007; CARVALHO et al., 2016; SERRANO, 2007) e com consequente impacto no aumento do conforto das famílias e redução do sofrimento diário, tal como comprovado por Pottie e Ingram (2008).
Cada rede de apoio e a(s) sua(s) interligação(ões) pode(m) surgir como fontes de experiências, oportunidades, aconselhamento e/ou orientação para promover a capacitação e desenvolvimento da família e da criança. É neste âmbito que se destacam os grupos de apoio a pais, focos essenciais de apoio social que permitem desenvolver relações de suporte positivas com outros pais e possibilitam o apoio mútuo com grande influência na competência social e emocional da criança e sua família (BRUDER, 2010; DUNST, 2004).
Os grupos de apoio a pais podem ser dirigidos por um profissional (aconselhamento técnico), geridos por um pai em colaboração com um profissional ou conduzidos apenas por pais (grupos de ajuda mútua/entreajuda) (HALL et al., 2015; LO, 2010). Apesar de Boukysis (2000) referir que estes grupos têm maior estabilidade e longevidade se forem administrados, em conjunto por um pai e um profissional, ressalva que caso sejam os profissionais a conduzir os grupos, é crucial renunciar ao papel de expert, dando ênfase à aprendizagem e à escuta ativa entre pais. Independentemente do formato, o objetivo dos grupos de apoio a pais consiste em apoiar e reforçar as capacidades parentais, através de novas experiências e oportunidades que lhes permitam aumentar a serenidade da criança e de toda a família e obter maior satisfação parental e apoio emocional (BARNETT et al., 2003; CHAREPE, 2011; HALL et al., 2015). Com estes grupos pretende-se (1) facilitar a adaptação, por meio da identificação e validação de sentimentos, pontos fortes, apoio dos profissionais e apoio de outros pais; (2) incentivar ao apoio mútuo e à partilha de informações; (3) aumentar a percepção de apoio disponível e recebido; (4) melhorar as capacidades na procura e obtenção de informações e recursos relacionados com diagnóstico e serviços; e (5) promover a sensibilidade e competências efetivas para os pais (BARNETT et al., 2003).
Têm sido desenvolvidos vários estudos no âmbito dos grupos de apoio a pais e os resultados obtidos coincidem na percepção dos pais sobre a utilidade dos grupos e a satisfação com o apoio recebido (SOLOMON; PISTRANG; BARKER, 2001). De fato, decorrente da experiência nestes grupos, há pais que para além de incentivarem outros pais para a importância de participação neste tipo de grupos, reportam melhorias significativas na adaptação à situação, na interação com a criança e nos níveis de autoestima (BAUM, 2004; CONNOLLY; GERSCH, 2013; ZEEDYK; WERRITTY;RIACH, 2003). Os grupos de apoio a pais podem ter impacto na identificação de soluções e no suporte ao processo de tomada de decisão uma vez que, segundo os pais, estes grupos permitem um conhecimento mais alargado sobre a problemática, partilha com outros pais, ouvir e conhecer outras experiências, oportunidades em participar em espaços de convívio com outros pares e as crianças conhecerem-se entre si (CONNOLLY; GERSCH, 2013).
A participação dos pais nestes grupos de apoio pode ser facilitada por diversos fatores como seja a existência de babysitters, o cuidado na marcação dos horários das reuniões e sua duração, a localização geográfica da reunião e respectiva facilidade no transporte (HÄGGMAN-LAITILA; PIETILÄ, 2013). Por outro lado, questões relacionadas com a autoestima, autoconfiança nas competências parentais, timidez e preocupação relativamente ao julgamento por parte de outros pares, estigma associado ao uso de serviços, o reconhecimento da necessidade de ajuda e as mudanças ocorridas na família podem ser alguns dos desafios que os pais enfrentam quando da decisão de participação num grupo de apoio a pais (KOERTING et al., 2013). Considerando os preceitos da intervenção precoce e das práticas centradas na família, os grupos de apoio a pais surgem como um recurso de extrema importância uma vez que o suporte dado à família é mais impactante do que aquele que é exclusivamente centrado na criança. As famílias que experienciam este tipo de suporte referem que influencia de forma positiva a sua capacitação, o seu bem-estar, os padrões de interação família-criança, a coesão familiar, entre outros (DUNST; TRIVETTE; HAMBY, 2007).
Considerando o tema em análise e a evidência que o sustenta, delineou-se o seguinte objetivo de investigação: Conhecer e compreender as perspectivas de pais acompanhados num Grupo de Apoio a Pais de uma Equipe Local de Intervenção Precoce (ELI) na zona Norte de Portugal subdividido em 4 objetivos específicos: i) Conhecer as expectativas dos pais, quando da entrada no grupo de apoio a pais; ii) Identificar os benefícios que os pais consideraram ter pelo fato de participarem no grupo de apoio a pais; iii) Identificar as barreiras ao funcionamento do grupo de apoio a pais; iv) Identificar as recomendações dadas pelos pais para melhoria do funcionamento e dinâmica do grupo de apoio a pais.
Método
Estudo qualitativo desenvolvido tendo em consideração os critérios da credibilidade, transferibilidade e confirmabilidade de forma a garantir a confiabilidade da investigação.
Para a garantia da credibilidade recorreu-se ao peerdebriefing com dois elementos externos ao estudo, mas com conhecimento acerca da temática e do processo de investigação que se disponibilizaram para analisar os dados, ouvir e refletir sobre as opiniões, ideias e preocupações da equipe de investigação (COUTINHO, 2011). Foi também utilizada a memberscheckde forma a que cada participante pudesse certificar e confirmar os dados recolhidos, as interpretações dadas e respectivas conclusões (COUTINHO, 2011). Assim, a transcrição de cada entrevista foi enviada a cada um dos pais, por email, para verificar se a análise e interpretação realizadas correspondiam às suas opiniões e percepções.
Tendo em consideração a transferibilidade realizou-se uma descrição detalhada e completa do contexto e dos participantes (DENZIN; LINCOLN, 1994).
Para a confirmabilidade recorreu-se a um diário de campo no qual se registaram todas as observações consideradas pertinentes, bem como reflexões acerca dos processos adotados (COUTINHO, 2008).
A seleção dos 7 participantes deste estudo cumprem os seguintes critérios de inclusão: a) O interesse e motivação para participar no estudo; b) A disponibilidade de tempo para participar no estudo; c) A criança/família encontrar-se a ser acompanhada pela equipe local de intervenção há, pelo menos, 6 meses e, d) Terem frequentado o projeto “Grupo de Pais”. O projeto Grupo de Pais foi concebido pelos profissionais que integram uma Equipe Local de Intervenção (ELI) da Zona Norte de Portugal, com os seguintes objetivos: 1)Proporcionar momentos em grupo, através da partilha de sentimentos, opiniões e experiências entre os pais acompanhados pela ELI do estudo; 2) Promover interações sociais entre os pais da ELI do estudo através da intercomunicação e do estabelecimento de relações de suporte positivas; 3) Promover um aumento na literacia dos pais, concernente às necessidades identificadas pelos pais acompanhados pela ELI do estudo. As 56 famílias (mãe e pai) apoiadas por esta ELI foram convidadas a participar neste grupo, tendo sido facultado pelo mediador de caso a hora e o local (centro de saúde) para os encontros. As sessões decorrem mensalmente (na primeira terça-feira de cada mês), pelas 18h, tendo uma duração de 1h 30min. Dos 13 pais que participam no projeto Grupo de Pais, 7 aceitaram integrar este estudo (2 pais e 5 mães).
Na Tabela 1 apresenta-se uma caracterização dos participantes deste estudo. Os nomes próprios foram substituídos por nomes fictícios, por questões de respeito pelo anonimato e confidencialidade dos participantes.
Tabela 1 Caracterização dos participantes
Participantes | Idade Participante | Habilitações Participantes | Profissão Participante | Idade da criança apoiada na ELI | Diagnóstico criança apoiada na ELI |
Maria | 30 anos | 9º ano | Operária | 5 anos | Trissomia 21 |
Francisco | 40 anos | Licenciatura | Contabilista | 4 anos | Sìndrome Bardet - Biedl |
Catarina | 41 anos | 9º ano | Dona de casa | 6 anos | Atraso Global do Desenvolvimento |
Laura | 41 anos | 9º ano | Ajudante Ação Social | 6 anos | Epilepsia |
Camila | 32 anos | 6º ano | Operadora de Calçado | 5 anos | Atraso Global do Desenvolvimento |
Diogo | 30 anos | 12º ano | Eletricista | 5 anos | Trissomia 21 |
Júlia | 39 anos | 9º ano | Despenseira | 4 anos | Atraso Global do Desenvolvimento |
Fonte: Autoria própria
Para a recolha de dados recorreu-se a entrevistas semiestruturadas realizadas pela segunda autora deste artigo, com supervisão da primeira autora.A entrevista foi gravada em formato áudio. No roteiro da entrevista consta: (i) a caracterização pessoal dos elementos do agregado familiar; (ii) perspectivas acerca do grupo de apoio a pais considerando a) expectativas; b) benefícios; c) barreiras; d) recomendações futuras. A hora e data de entrevista foi definida por cada família e a entrevista realizou-se nas instalações da equipe local de intervenção. A entrevista mais curta teve a duração de 25 minutos e a entrevista mais longa teve a duração de 1h e 15 minutos. As entrevistas foram transcritas e posteriormente enviadas, via correio eletrónico, a cada um dos intervenientes para a validação já mencionada.
Foram tidos em consideração os procedimentos para manutenção do anonimato e confidencialidade e foi garantida também a participação livre e esclarecida, através da leitura e preenchimento do consentimento livre e informado.
A realização deste estudo foi autorizada pela Subcomissão de Coordenação Regional do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância Norte, com posterior contacto da Equipe Local de Intervenção da Zona Norte de Portugal para averiguar interesse e disponibilidade de participação.
O tratamento dos dados recolhidos foi realizado com base nos princípios da análise de conteúdo de Bardin (2013) e tendo em consideração a etapa da pré-análise, a exploração dos materiais, e o tratamento os resultados, a inferência e a interpretação com definição das categorias em concordância com as unidades de registo. A definição das categorias foi realizada a priori, com base na revisão bibliográfica e nos objetivos de investigação, e a posteriori com a emergência de novas subcategorias durante a análise dos dados recolhidos. Na definição de categorias aplicaram-se também os princípios da exaustividade, exclusividade, objetividade e pertinência. Na figura 1 encontra-se representado o sistema de categorias e subcategorias definido para este estudo.
Resultados
Os resultados deste estudo serão apresentados tendo por base os objetivos e questões de investigação previamente formulados.
As expectativas dos pais, quando da entrada no grupo de apoio a pais
A maioria dos pais não possuía uma ideia concreta sobre a dinâmica de funcionamento do grupo de apoio a pais, no entanto a totalidade dos participantes consideraram estes grupos muitos importantes.
Maria considerou que este grupo lhe proporcionaria ainda mais ajuda, não só dos outros pais como também dos profissionais: “tentamos sempre procurar o melhor caminho e sentimos que precisávamos desse apoio dos pais e dos profissionais”.
Francisco referiu que nunca tinha ouvido falar sobre os grupos de apoio a pais pelo que a sua decisão de participar não foi imediata: “fiquei na expectativa, vontade, vontade, acho que não senti logo”. A relutância de Francisco estava relacionada com algumas preocupações sobre a pertinência do projeto, considerando que talvez fosse: “...mais uma coisa para tomar o meu tempo, que é pouco”. No entanto declarou sentir-se: “curioso” e, por esse motivo, acabou por estar presente, na primeira reunião: “fiquei agradado e surpreendido pela forma como a mesma foi conduzida, o que suscitou o meu interesse em continuar”.
Outro indicador destacado pela totalidade dos pais refere-se à importância da partilha de experiências e conhecimentos entre pais. A este nívelMaria reforça: “tinha vontade de partilhar, em comentar, relatar, os nossos acontecimentos”. Acrescenta ainda que gostava igualmente de “… tirar algo dos outros pais, com casos parecidos e poder ouvir a história deles (…) a gente aprende ouvindo os relatos uns dos outros”.Francisco por sua vez reforça a perspectiva de Maria: “… aprender com os restantes pais e profissionais fez com que quisesse manter a minha presença, pois todas as ajudas são poucas”.
Catarina refere que sentiu de imediato vontade em participar, principalmente pela partilha de experiências com outros pais porque: “nós conhecemos bem os nossos filhos, mas, nem sempre, sabemos como lidar da melhor maneira com eles”. Laura refere que estes grupos seriam uma oportunidade para: “conhecer outros pais” e adquirir mais conhecimento”. Esta perspectiva é valorizada por Camila quando refere: “… aprender através da experiência dos outros pais. Tentar perceber como eles faziam…pois os outros pais podiam fazer melhor do que nós”. Diogo concorda com estas perspectivas e salienta: “sentia curiosidade em ouvir a opinião de outros pais que passavam por situações semelhantes e … ter oportunidade de partilhar a minha história, enquanto pai de uma criança com necessidades específicas”.
De uma forma geral as expectativas para a maioria dos participantes centraram-se, na promoção de oportunidades para ouvir e interagir, com outros pais, com experiências idênticas, contribuindo para uma maior disseminação de informação (estratégias, principalmente) que os ajude a lidar com algumas das preocupações relacionadas com o desenvolvimento dos seus filhos.
Perspectivas sobre os benefícios da participação no Grupo de Apoio a Pais
Os participantes deste estudo referem que o grupo de apoio a pais lhes permitiu criar um sentimento de pertença e de compreensão. Maria reforça esta ideia: “estarmos todos no mesmo barco, sentimo-nos seguros, ali somos todos iguais, tanto os nossos filhos como nós, pais, não há aquela distinção, aquela diferença”. A maioria dos participantes salienta que quando as suas dúvidas e inquietações são valorizadas e compreendidas os sentimentos de incerteza diminuem e é reforçado o nível de confiança nas suas competências.
Francisco refere que, ao encontrar outros pais que partilham as mesmas angústias e receios suavizou a forma como percebia as necessidades específicas da sua filha: “Só aí, já me aliviou um bocado... “, reforçando ainda que aprendeu a: “viver melhor com a situação da nossa filha”.
Catarina relata que foi ajudada: “a ver também o lado positivo”, assim como a perceber que : “…todos os pais têm as mesmas inquietações”. Laura destacou como beneficio da sua participação no grupo de apoio a pais a partilha de situações que a levaram a relativizar as dificuldades da sua filha: “depois do que vi e ouvi, até acho que tenho muita sorte”. Considerou ainda que alguns pais foram: “um exemplo para mim”.
Por sua vez Júlia refere que a sua participação no grupo a ajudou a compreender que: “passamos todos um bocadinho pelo mesmo”, reforça o sentimento de pertença e união no grupo: “não sei explicar bem, é claro que o mal dos outros não me deixa feliz, mas ver que não sou a única a passar por isto, (referindo-se às suas dúvidas e receios) ajuda mesmo”.
Os participantes destacam a importância deste sentido de pertença como alicerce de uma maior capacidade de enfrentar os desafios subjacentes ao fato de serem pais ou mães de crianças com necessidades específicas.
Segundo a maioria dos participantes a sua participação no grupo de apoio a pais está igualmente associada a maiores níveis de confiança e autoestima. Ter em consideração as experiências de outras famílias, numa situação análoga, parece constituir uma fonte de apoio emocional. Maria destaca: “mais confiança… mais confiança em mim mesma para poder encarar os ditos problemas, não é?”. Acrescenta que a sua participação no grupo a ajudou a ter: “respeito por mim mesma,… feliz, contente, mais segura”.
Camila reforça a perspectiva de Maria relativamente à melhoria da sua autoestima. O primeiro dos benefícios identificado, reportou-se à autoestima: “achava que o problema era meu, que não fazia as coisas bem e ouvir outros pais deu para perceber que afinal o problema não é meu…é normal”. O fato de Camila ter mudado a sua perspectiva, perante as situações com as quais nem sempre soube lidar ajudou-a a ter mais esperança e a reduzir a: “ansiedade que eu tinha com os meus filhos”, assim como a “perceber que tenho muita coisa boa (referindo se a si e à dinâmica familiar)”.
Outro beneficio reportado pelos pais refere-se à oportunidade de aumentar a sua rede social de apoio informal, criando novas oportunidades de apoio e até de amizade importantes. A este nível Maria reforça: “a nossa relação começou a ser diferente, como amigos, já trocamos mensagens, partilhamos fotos, festinhas”. Diogo valorizou o fato da sua participação no grupo de apoio a pais lhe ter permitido alargar e aprofundar a sua rede de apoio social, o que lhe permitiucriar novas oportunidades para poderconversar com quem: “compreende perfeitamente por aquilo que passamos, pois também tem uma filha com problemas”.
O aumento de informação, através da partilha entre os diferentes participantes no grupo de apoio a pais é igualmente um beneficio destacado pela maioria dos participantes neste estudo.Franciscoassegura que adquiriu novos conhecimentos, importantes para lidar com diferentes situações diárias, com a sua filha, através das narrativas dos outros pais e profissionais. Catarina reforça esta perspetiva afirmando: “ouvir outras versões é sempre uma aprendizagem”.
Maria destaca a importância da informação como beneficio da sua participação no grupo: “ter o profissional ali, em frente a nós a responder às questões, a fazer-nos novas questões, não é? a mim ajudou-me muito”.
As barreiras que os pais identificam no funcionamento do grupo de apoio a pais
Os participantes referiram dois tipos de categorias de barreiras, uma relacionada com o próprio funcionamento e dinâmica do grupo e uma outra relacionada com outros fatores externos ao funcionamento do grupo.
Em relação ao funcionamento do grupo os participantes referem a dificuldade em conciliar o horário laboral com a hora e dia das sessões do grupo de apoio a pais. Julia refere:“o horário, por questões laborais: nem sempre me é possível sair a tempo para comparecer nas reuniões”. Laura reforça esta ideia: “o horário, coincidia com a hora de saída do trabalho, …não era fácil …esta correria provocava-me algum stresse”. Camila apoia esta perspetiva: “o horário, sem dúvida nenhuma…o horário foi péssimo … os finais de dia são sempre muito atarefados”.
Em relação a outros fatores externos ao funcionamento do grupo a maioria dos participantes referem receios que estão relacionados com a exposição pública, a falta de privacidade, os julgamentos, entre outros aspectos.
O receio relativo à perda de privacidade é justificado pela presença, no grupo de apoio a pais, de pessoas conhecidas da família. Francisco reforça este receio referindo: “o receio de falar… não me senti confortável…”. Catarina refere igualmente dificuldades em falar “à frente de outras pessoas que conhecem a minha família”. Relacionado com estas preocupações Júlia refere: “receio de poder ser criticada e/ou julgada pelos restantes membros do grupo, devido às minhas dúvidas sobre a forma de agir, em determinadas situações”.
Outra barreira referida pela maioria dos participantes prende-se com a dificuldade que os pais têm em arranjar alguém que cuide dos filhos. Camila refere: “não tinha com quem deixar os meus filhos” e Júlia reforça: “nem sempre tenho com quem deixar a minha filha ”.
As recomendações futuras identificadas pelos pais, na dinâmica de funcionamento do grupo de apoio a pais
A maioria dos participantes consideram que deveria existir uma maior flexibilidade na periocidade e horário das sessões. Maria refere: “…, acho que poderia ser duas vezes por mês”. Outra recomendação sugerida por Francisco é a presença de pais com histórias de sucesso, porque “conduziria a sentimentos de esperança, tão importantes para uma visão mais otimista sobre o futuro”.
Diogo recomenda a necessidade de: “estratégias que promovam uma maior adesão e participação nas sessões”. Francisco sugeriu que outras temáticas fossem abordadas “por exemplo, técnicas para lidar com o stresse”, porque acredita que são ferramentas que podem ajudar a: “sentir-me mais calmo (…)…eu ando sempre com a minha cabeça à roda”.
Os participantes referem igualmente a necessidade de existirem momentos de maior informalidade. Como exemplos destes momentos Maria destaca: “o lanchinho”; Júlia a realização de “piqueniques” e Camila de “caminhadas”.
Camila acredita que estes momentos mais informais: “conduzem a uma maior coesão do grupo, maior familiarização entre todos, acrescendo mais empatia para partilharem as suas vivências”.
Laura recomenda a necessidade de criação de um grupo de pais e filhos, uma vez que, a presença das crianças nas sessões foi um fator de distração. Camila reforça esta ideia a propor: “a criação de um grupo de pais com filhos adolescentes, para nos ajudarem com os irmãos mais velhos”.
Discussão
A intervenção precoce deverá promover maiores níveis de participação das famílias, criando assim um conjunto de oportunidades que lhes permita uma maior capacitação e corresponsabilização (TRIVETTE; DUNST, 2014). O grupo de apoio a pais poderá ser uma ajuda adicional, no sentido de reforçar a percepção de competência e confiança dos pais, as quais, por sua vez, contribuirão para a manutenção de uma participação parental mais eficaz, minorando os níveis de stresse familiar, as suas preocupações, aumentando e promovendo os seus níveis de bem-estar e de qualidade de vida (BAUM, 2004; CARTER, 2009; CLIFFORD; MINNES, 2013; KERR; MCINTOCH, 2000).
Em relação ao objetivo:Benefícios, os participantes consideraram que o grupo de apoio a pais teve influência nas suas capacidades de partilhar, escutar, aprender, falar de igual para igual com outros pares. O fato de conhecerem novas pessoas ajudou-os a compreender e aceitar novas ideias, novas formas de encarar as preocupações do dia a dia, conduzindo a uma maior capacitação através de um aumento de informação e normalização das suas emoções. Este resultado é similar ao obtido por Connolly e Gersch (2013) cujos pais referem que o grupo de apoio lhes permitiu obter uma maior confiança nas suas próprias escolhas e ações e uma maior capacidade para obter a informação que necessitavam. Lawet al. (2002), encontraram resultados análogos, tendo constatado que os participantes do seu estudo identificaram como principais benefícios uma maior capacidade para advogar em nome dos seus filhos, um aumento de conhecimento sobre as necessidades dos seus filhos, melhores competências para lidar com questões comportamentais e com outras preocupações do seu dia a dia.
Relativamente ao objetivo: Barreiras a maioria dos participantes referiu o horário das sessões como o maior problema. A este nível, reportaram-se ao ritmo diário da família, assim como às dificuldades em conciliar o horário laboral com a hora de início das sessões. Estes dados vão ao encontro dos resultados obtidos por Häggman-Laitila e Pietilä (2013) e Hjelteet al. (2015) por que constataram a dificuldade em conciliar o horário laboral e as rotinas familiares com os horários das sessões de apoio entre pais.
Para além do horário, o dia em que decorrem as sessões foi igualmente considerado uma barreira para alguns dos participantes pelo fato de não conseguirem apoio para cuidar dos seus filhos nos momentos em que os pais participam nas sessões. A investigação realça que são vários os pais que valorizam a participação nos grupos de apoio a pais, no entanto referem dificuldades em participar nos mesmos pela ausência de apoios nos cuidados aos seus filhos, enquanto estão presentes nas sessões do grupo (ARAÚJO, 2016; BAUM, 2004; CLIFFORD; MINNES, 2013; EDWARDS; GALLAGHER, 2014; HAGGMAN-LAITILA; PIETILLA, 2013; KERR; MCINTOSH, 2000; RACINE; SMITH; PELETIER; SCOTT-LANE; GUILCHER; SCHULTE, 2017; SOLOMON; PISTRANG; BARKER, 2001).
A perda de privacidade foi igualmente considerada uma Barreira para a maioria dos pais ao referirem que se sentiam pouco à vontade para falar perante outros paiscom quem não tinham relações pessoais(estranhos). Este resultado é consonante com os dados da investigação de Archibald (2019) e de Zeedyk, Werritty e Riach (2003) que consideram importante a presença de um profissional, na dinamização dos grupos de pais, de modo a mediar as interações e a criar um sentimento de segurança e de conforto na partilha entre pais que não têm relações de familiaridade entre si.
No que se refere ao objetivo:Recomendações os participantes consideram a necessidade de uma maior flexibilidade na periocidade e horário das sessões. Esta recomendação foi perspetivada pelos participantes do estudo de Araújo (2016), que referiram a possibilidade de as sessões se realizarem mensalmente de modo a facilitar a organização dos pais tendo em conta as exigências do dia a dia.
Outra recomendação está relacionada com a importância de envolver nas sessões pais com histórias consideradas se sucesso.
Embora tenha sido consensual a importância de ouvir as histórias e as experiências de outros, este tipo de vivências nem sempre proporciona sentimentos de bem-estar, por se focarem em aspectos menos positivos acerca da criança, do seu desenvolvimento e aprendizagem. Esta realidade é igualmente demonstrada nos resultados do estudo de Archibald (2019).
Os resultados relevam ainda a importância da participação dos profissionais nas sessões para esclarecimento de dúvidas quanto às preocupações relativas às áreas de desenvolvimento das crianças, para a validação de estratégias, assim como para a mediação do grupo, facilitando assim comunicação entre todos os participantes. Estes resultados estão em consonância com os resultados obtidos por Araújo (2016) que referem a importância da presença dos profissionais na condução do grupo de apoio. Resultados similares são encontrados no estudo de Hjelteet al. (2015) que reforçam que a intenção dos pais em iniciar e permanecer nos grupos de apoio é influenciada, entre outros fatores, pela forma como a equipe de profissionais faz a mediação do grupo, valorizando nesta mediação uma abordagem de proximidade e de respeito.
Outra das recomendações prende-se com a necessidade e utilidade de uma maior e melhor divulgação destes grupos. Estes resultados são congruentes com o estudo de Zeedyk, Werritty e Riach (2003), ao afirmar que uma das recomendações mencionada pelos participantes deste estudo refere-se à necessidade de uma maior informação sobre o conteúdo e objetivos do programa, de forma a coadjuvar, na decisão de frequentar um grupo de apoio parental.
Conclusão
Os resultados obtidos, na presente investigação tornam-se importantes para compreender a importância de grupos de apoio a pais para as famílias acompanhadas pela intervenção precoce em Portugal. Poderão ainda permitir a criação de novas respostas de apoio na intervenção precoce que respondam às verdadeiras preocupações e prioridades das famílias, ampliando assim novas oportunidades de interação e de apoio entre pais.
A principal limitação deste estudo prende-se com o fato dos participantes que frequentaram o grupo de apoio estarem a ser apoiados pela mesma equipe local de intervenção precoce, o que pode resultar numa realidade limitada para se obter uma compreensão mais abrangente e profunda do fenómeno em estudo. Outra limitação prende-se com o fato de ter sido apenas possível retratar uma realidade muito concreta em termos de contexto, experiências e vivências.
Para estudos futuros considera-se que esta pesquisa poderá ser enriquecida com as perspectivas de um maior número de famílias acompanhadas no âmbito da intervenção precoce e que se encontrem a participar em grupos de apoio a pais, conduzindo a uma maior compreensão sobre a pertinência deste tipo de apoio adicional. Poderá ainda ser relevante conduzir uma investigação com pais que permita compreender quais os fatores que interferem na decisão de participar, ou não, neste tipo de apoio adicional.