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Revista Educação Especial (Online)

versão On-line ISSN 1984-686X

Rev. Educ. Espec. vol.36  Santa Maria  2023  Epub 06-Nov-2023

https://doi.org/10.5902/1984686x68321 

Relato de pesquisa

Percepção de estudantes com altas habilidades/superdotação nas graduações em saúde

Perception of students with high abilities/giftedness in health graduations

Percepción de estudiantes con altas capacidades/superdotación en las graduaciones de salud

Glauce Thais Bezerra Souza Barros¹ 
http://orcid.org/0000-0002-2361-772X

Patricia Maria Forte Rauli² 
http://orcid.org/0000-0001-9415-9546

Maria Cecilia Da LozzoGarbelini³ 
http://orcid.org/0000-0001-8536-584X

Denise Rocha Belfort Arantes-Brero4 
http://orcid.org/0000-0001-9282-6755

Leide da Conceição Sanches5 
http://orcid.org/0000-0002-5832-7132

¹Centro Universitário do Rio São Fancisco, Paulo Afonso, BA, Brasil. glaucethais@gmail.com

²Faculdades Pequeno Príncipe, Curitiba, PR, Brasil. patricia.rauli@fpp.edu.br

³Faculdades Pequeno Príncipe, Curitiba, PR, Brasil. maria.garbelini@fpp.edu.br

4Núcleo Paulista de Atenção à Superdotação, São Paulo, SP, Brasil. drbarantes@gmail.com

5Faculdades Pequeno Príncipe, Curitiba, PR, Brasil. leide.sanches@fpp.edu.br


RESUMO

Estudo sobre a percepção de estudantes superdotados, que busca apreender as ansiedades e expectativas dos mesmos a partir do seu ingresso nas universidades, onde passam a vivenciar um universo diferente de aprendizagem. Objetivou-se apreender a experiência desses estudantes nas graduações em saúde e compreender como percebem o processo de ensino e aprendizagem neste contexto. Pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa, por meio de entrevista semiestruturada com nove estudantes de cursos de graduação na área da saúde. As categorias encontradas foram: vivência na universidade, o desconhecimento sobre a superdotação, a interação social e sobre a autopercepção. Os resultados revelam que o ingresso dos superdotados na universidade suscitou sentimentos de angústia e surpresa. Evidenciou-se o desconhecimento de muitos docentes sobre a superdotação, o queindica que para eles, ser superdotado é ter a obrigação de saber todas as matérias e tirar ótimas notas. Notou-se que a percepção sobre a temática de superdotação se encontra na invisibilidade, e,embora a inclusão seja discutida, a superdotação nem sempre é incluída no debate. Isso ocorre porque o imaginário sobre a superdotação que advém do senso comum acaba corroborando com a ideia de gênio, o que interfere na construção de um olhar crítico sobre a questão. Conclui-seque são necessários mais estudos, com ofertas de formação para todos os colaboradores que compõem o quadro funcional das instituições de ensino, especialmente os docentes. A formação para atender as especificidades da superdotação requer o desenvolvimento de estratégias de ensino ativo que possam estimular suas habilidades.

Palavras-chave: Altas Habilidades/Superdotação; Estudantes; Ensino Superior

ABSTRACT

Study about the perception of gifted students, which seeks to apprehend their anxieties and expectations from their entry in the universities, where they begin to experience a different universe of learning. The objective was to apprehend the experience of these students in health graduations and understand how they perceive the teaching and learning process in this context. Exploratory and descriptive research with a qualitative approach, through semi-structured interviews with nine undergraduate health students. The categories found were: university experience, lack of knowledge about giftedness, social interaction and self-perception. The results reveal that the entrance of the gifted at university aroused feelings of anguish and surprise The lack of knowledge of many professors about giftedness was evidenced, which indicates that for them, being gifted is having the obligation to know all the subjects and get excellent grades. It was noted that the perception of the theme of giftedness lies in invisibility and although inclusion is discussed, giftedness is not always included in the debate. This is because the imagination about giftedness that comes from common sense ends up corroborating the idea of ​​genius, which interferes in the construction of a critical look at the issue. It is concluded that further studies are needed, with training offers for all employees who make up the staff of educational institutions, especially teachers. Training to meet the specifics of giftedness requires the development of active teaching strategies that can stimulate their abilities.

Keywords: High Abilities/Giftness; Students; University education

RESUMEN

Estudio de la percepción de los estudiantes superdotados, que busca aprehender sus ansiedades y expectativas desde su ingreso a las universidades, donde comienzan a experimentar un universo de aprendizaje diferente. Objetivo: aprehender la experiencia de estos estudiantes en las titulaciones de salud y comprender cómo perciben el proceso de enseñanza y aprendizaje en este contexto. Investigación exploratoria y descriptiva con enfoque cualitativo, a través de entrevistas semiestructuradas con nueve estudiantes. Las categorías encontradas fueron: experiencia universitaria, desconocimiento sobre superdotación, interacción social y autopercepción. Los resultados revelan que el ingreso a la universidad de los superdotados genera sentimientos de angustia y sorpresa. Se evidenció el desconocimiento de muchos profesores sobre la superdotación, lo que indica que para ellos ser superdotado es tener la obligación de conocer todas las materias y sacar excelentes notas. Se señaló que la percepción del tema de la superdotación radica en la invisibilidad y aunque se discute la inclusión, la superdotación no siempre se incluye en el debate. Esto se debe a que la imaginación sobre la superdotación que proviene del sentido común acaba corroborando la idea de genio, que interfiere en la construcción de una mirada crítica sobre el tema. Se concluye que son necesarios más estudios, con ofertas formativas para todos los empleados que integran la plantilla de las instituciones educativas, especialmente los docentes. La capacitación para cumplir con las características específicas de la superdotación requiere el desarrollo de estrategias de enseñanza activas que puedan estimular sus habilidades.

Palabras clave: Habilidades altas/Don; Estudiantes; Enseñanza superior

Introdução

Ingressar na universidade é um desafio e uma oportunidade para a busca de novos conhecimentos e formação profissional. A ambientação no contexto universitário é uma experiência singular para cada estudante, pelas novas relações que se estabelecem. Dentre estes estudantes, encontram-se os que possuem altas habilidades ou superdotação, foco deste estudo, cujo objetivo é apreender a experiência de estudantes superdotados nas graduações em saúde e compreender como percebem o processo de ensino e aprendizagem neste contexto.

Segundo a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, consideram-se superdotados ou com altas habilidades os indivíduos que demonstram diversos potenciais mais elevados, isoladamente ou combinados, nos âmbitos intelectual, acadêmico, de liderança, referentes à psicomotricidade e artes. Além disso, apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas do seu interesse (BRASIL, 2008).

No que se refere ao perfil acadêmico, não deve ser considerado apenas o desempenho escolar e os resultados de testes psicométricos de desenvolvimento intelectual, como ocorreu nas bases estatísticas do Relatório de Marland (1971), que apontou de 3,5 a 5% da população mundial como superdotada. Isto porque, ao se considerar o superdotado de perfil criativo produtivo, que contempla as áreas de conhecimento, como: liderança, criatividade, competência psicomotora e artística, a estimativa é de 15% a 30% da população (VIRGOLIM; KONKIEWITZ, 2014). Sabatella (2013) ressalta que, o fato de as características dos superdotados serem mais facilmente perceptíveis na área intelectual acadêmica em detrimento das áreas artísticas e psicomotoras, é porque essas últimas são menos pesquisadas.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), incluiu no artigo 59 parágrafo I, a garantia de currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender as necessidades dos superdotados. A alteração pela Lei nº 13.234/2015, trouxe também a necessidade de identificar, cadastrar e atender, tanto na educação básica quanto na superior os estudantes superdotados (BRASIL, 2015).

No entanto, apesar das legislações vigentes, a escassez de pesquisas e de instrumentos de avaliação específicos para o contexto brasileiro traz dificuldades para a identificação desses estudantes (GAMA, 2006). Tais dificuldades inserem-se no contexto brasileiro, onde se tem enfrentado inúmeros desafios na área educacional nas últimas décadas, que revelam que “a educação brasileira tem sido menos efetiva com relação às necessidades educacionais especiais de seu alunado” (VIRGOLIM; KONKIEWITZ, 2014, p. 7).

Justifica-se a presente pesquisa, na qual se apresenta a percepção dos estudantes superdotados que estão inseridos nas Instituições de Ensino Superior (IES), pela necessidade de se levar cada vez mais o debate da superdotação para as universidades, onde pouco se problematiza essa temática. Isso porque, o desestímulo dos estudantes decorre na maioria das vezes pelo desconhecimento sobre a superdotação.

A pergunta que norteou a pesquisa foi qual a percepção do estudante com Altas Habilidades/Superdotação das graduações em saúde sobre seu próprio processo de ensino e aprendizagem.

Objetivou-se, portanto, apreender a experiência dos estudantes nas graduações em saúde e compreender como percebem o processo de ensino e aprendizagem neste contexto.

Superdotação: entre rótulos, mitos ecaracterísticas

Ressalta-se que indivíduos identificados e que se identificam como superdotados despertam inveja, intimidação, fascínio e espanto. Assim, pelo senso comum, associa-se com frequência superdotados a indivíduos inteligentes, imaginados como estudantes com óculos fundo de garrafa e que se destacam no desempenho escolar. Estes são vistos como estudantes que estão sempre nas bibliotecas da escola e que não precisam de ajuda da equipe escolar, quando, na verdade, nem sempre apresentam tais características (WINNER, 1988, p.11).

Há alguns mitos sobre os superdotados, conformeAntipoff e Campos (2010), como se os superdotados dominassem todas as áreas do currículo escolar, possuíssem Quociente de Inteligência (QI) elevado, nascessem sábios ou com sabedoria provindas do ambiente, como se fossem psicologicamente sempre bem ajustados, se tornassem adultos eminentes, fossem provenientes de classes econômicas privilegiadas e não tivessem necessidade educacional especial.

No entanto, apesar dos superdotados apresentarem uma condição intelectual acima da média, nem sempre o aspecto emocional condiz com a sua idade, e se percebe que também podem haver alguns problemas advindos da assincronia que pode gerar estresse ou angústia no âmbito social. Esta assincronia está relacionada às habilidades cognitivas e à intensidade com que estes indivíduos superdotados vivenciam o mundo, porque a facilidade com que acumulam as informações e emoções é muitas vezes maior do que as que poderiam absorver e processar (VIRGOLIM, 2012, p. 97).

Embora não haja regra para padronizar o perfil do indivíduo superdotado, há alguns indicativos possíveis de serem encontrados nesses indivíduos como curiosidade intelectual, facilidade na aprendizagem, habilidade de verificar pontos de vistas diferentes, memória excepcional, fluência verbal, senso de justiça aguçado, senso de humor apurado, imaginação, criatividade, perfeccionismo, sensibilidade, intensidade emocional (DELOU, 2010).

Relações entre superdotação e inteligência

O tema da superdotação remete ao conceito de inteligência. Dessa forma, cabe conhecer as teorias sobre a inteligência, para compreender a superdotação. Segundo Virgolim (2019, p. 74) “no final da década de 1970, novas formulações sobre a natureza da inteligência foram propostas como reação à abordagem psicométrica e à visão da inteligência como um fenômeno unitário”. A autora comenta que as três teorias contemporâneas mais influentes são a Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, a Teoria Triarquica da Inteligência de Robert Sternberg e Teoria da Superdotação de Joseph Renzulli (2014).

Howard Gardner (2000), psicólogo norte-americano da Universidade de Harvard, escreveu a obra Estruturas da mente, comobjetivo de explicar que a inteligência não poderia ser medida apenas por testes padronizados. Nessa obra, o autor desenvolve a Teoria das Inteligências Múltiplas, que ainda é muito aplicada como prática pedagógica em escolas de todo o mundo (CHEMPCEK; HADDAD, 2019). Nessa teoria, é possível reconhecer as habilidades humanas, identificando oito tipos: lógico-matemática, linguística-verbal, espacial, sonora ou musical, corporal-cenestésica, naturalista, intrapessoal e interpessoal.

Ao invés de explicar a inteligência pelos testes psicométricos, Robert Sternberg (1985), psicólogo e psicometrista, propõe a Teoria Triárquica da Inteligência em uma abordagem cognitiva. Seus estudos se baseavam em três aspectos, o mundo interno do indivíduo, o mundo externo e a interação entre esses campos da experiência individual. Nessa teoria, Robert Sternberg apresenta três aspectos que se manifestam nos indivíduos superdotados: habilidade analítica, habilidade sintética e habilidade prática.

No final da década de 1966, o renomado pesquisador da Universidade de Connecticut Joseph Renzulli iniciou suas incursões na área da superdotação. Em 1978 publicou a Concepção da superdotação dos Três Anéis e continua sua extensa produção até a presente data, indicando o que denomina como comportamento de superdotação. Segundo Renzulli (2014), entende-se que o comportamento do superdotado é constituído na inter-relação de três traços: habilidade acima da média, comprometimento com a tarefa e criatividade.

Superdotação e os testes padronizados

Passados pouco mais de cem anos da criação do primeiro teste de habilidades mentais, a ciência ainda discute o que vem a ser a inteligência humana. Desde o psicólogo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920), que criou o primeiro laboratório de psicologia para experimentos, cujos estudos eram voltados às reações do organismo como objeto de estudo, como a percepção e a sensação, muitos outros laboratórios foram criados na Europa e nos Estados Unidos, onde essa nova ciência se destacou e os instrumentos de observação e medição foram se aperfeiçoando (VIRGOLIM, 2019).

Concomitantemente ao desenvolvimento de instrumentos de medição da inteligência, foram surgindo muitas críticas, por meio de pesquisas as quais apontam que a mensuração do QI não é formalizada pelos testes padronizados, e conforme Renzulli (2014, p.227)“não existe uma forma ideal de medir a inteligência e, portanto, devemos evitar a prática comum de acreditar que se conhecemos o QI de uma pessoa, também conhecemos sua inteligência”.

Diante do histórico dos testes psicométricos, surge uma questão importante sobre como é possível realizar uma avaliação em um superdotado para que se perceba sua condição? É necessário entender que “não existe uma forma ideal de medir a inteligência e, portanto, devemos evitar a prática habitual de crer que se nós conhecermos a pontuação do QI de uma pessoa, também saberemos sua inteligência” (RENZULLI, 2000, p. 45).

Landau (2002) conclui que os testes de inteligência não podem ser o único critério para definir a superdotação, pois o quociente está sempre sujeito a alterações, principalmente quando se trata de crianças pequenas. A inteligência não é algo pronto, mas em formação, de acordo com todas as influências, inclusive do ambiente, no desenvolvimento intelectual. Corroborando essas ideias, Guimarães (2007) ressalta que a avaliação não pode ser linear, evitando assim uma visão reducionista do desenvolvimento humano. Deve-se, portanto, considerar os aspectos sociais e culturais do comportamento dos indivíduos. Para Ghenther (2012, p. 64) “A busca do potencial e talento não contempla selecionar crianças que alcançam um padrão de desempenho, como pontos, respostas certas, ou resultados em testes, questionários, ou outra medida”.

Superdotação e o mundo universitário

Segundo Gama (2006) um adulto considerado talentoso foi uma criança que apresentou aptidões cognitivas superiores, porém, o inverso nem sempre acontece, pois nem toda criança que possui essas aptidões se tornam talentosos na fase adulta, devido à falta de motivação, do não envolvimento da família e também por falta de estímulo dentro do seu ambiente de estudo. Nesse último ponto, pode-se considerar que nas Instituições de Ensino Superior (IES) há poucos ou até ausência de programas educacionais para esse alunado, talvez porque há escassez de estudos e pesquisas sobre a superdotação, principalmente em cursos para formação de professores, pois “são raros os programas de pós-graduação lato e stricto sensu nesta área, logo, a formação de professores de ensino superior e pesquisadores também é comprometida (DELOU, 2012, p.135).

Assim, o estudante superdotado no ensino superior passa muitas vezes pela não identificação de sua condição intelectual e pela dificuldade de serem aceitos, acolhidos e compreendidos nas suas particularidades. Para Sabatella (2013, p. 113) “Quanto mais alto é o nível intelectual de um indivíduo, mais distante ele fica da norma e menos entendimento ele recebe por parte dos administradores e docentes”. Destaca-se que também existem situações de estudantes universitários que não querem ser identificados devido a problemas sofridos anteriormente em âmbito escolar, pelo temor de passarem pelo mesmo constrangimento.

Quanto às habilidades sociais, as autoras Alencar e Fleith (2001) informam que os superdotados não têm problemas de ajustamento social, mas, podem manifestar dificuldades em seu círculo social. Geralmente os superdotados se expressam melhor quando encontram indivíduos com características similares em seu ambiente, e essa dificuldade poderá diminuir ou até desaparecer em programas educacionais oferecidos pelas instituições nos quais possam encontrar seus pares.

Além das questões das habilidades sociais que o superdotado apresenta no meio acadêmico, também é possível perceber que o desconhecimento dos professores sobre o tema da superdotação pode afetar a possível identificação dos superdotados, e como consequência dificultar seu processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, segundo Merlo (2011), é preciso que os professores estejam capacitados para trabalhar com os estudantes superdotados, para que não ocorra a dispersão destes talentos.

Entretanto, na realidade brasileira, a carência de capacitação dos docentes no que se refere à identificação dos estudantes superdotados, é uma das dificuldades para o desenvolvimento de ações dirigidas a esse público, comenta Sabatella (2012). A autora complementa que normalmente, as IES têm instrumentos e recursos para amparar os estudantes com baixo rendimento acadêmico, e, no entanto, não se percebe o cuidado especial quando se trata de estudantes superdotados, especialmente se esse estudante cumpre com suas obrigações escolares.

Segundo Martins (2021, p. 168), ser professor é desafiador, pois este deveria dar atenção a cada estudante, sem deixar de atender a todos ao mesmo tempo, embora deva haver integração das atividades realizadas “a intervenção educativa é regulada conforme a necessidade de cada um”.

Em um ambiente com pouca estimulação que não apresenta desafios ou com pouco acesso a experiências na educação, os superdotados podem não demonstrar toda a sua potencialidade. Muitas vezes, o método de ensino tradicional é visto como maçante para o superdotado, que acaba não se adequando e passa a ser visto como se fosse um problema para a escola (PALUDO; LOOS-SANT’ANA; SANT’ANA-LOOS, 2014).

Destaca-se a necessidade da elaboração de planos de ensino que se adequem aos alunos superdotados dentro do mundo universitário. Percebe-se, portanto, a necessidade de estabelecer parcerias e programas que contribuam com o fortalecimento de políticas públicas educacionais voltadas para os superdotados, público praticamente relegado até o momento. Apesar das iniciativas já colocadas em prática, ainda há muito a ser feito.

Materiais e métodos

Esta pesquisa é de abordagem qualitativa e foi realizada com nove estudantes de graduação de Medicina, Psicologia e Farmácia, todos reconhecidos tipicamente como superdotados acadêmicos. Foram incluídos na pesquisa estudantes de cursos de graduação em saúde de qualquer semestre, que comprovaram a superdotação por meio de laudo psicológico e eram maiores de 18 anos. Estes estudantes foram reconhecidos tipicamente como superdotados acadêmicos, e seus QIs são superiores aos de seus pares etários. As avaliações continham testes psicométricos, além de análises qualitativas realizadas nos atendimentos. Foram excluídos da pesquisa os estudantes de cursos de graduação em saúde que informaram superdotação, mas sem comprovação. A pesquisa foi realizada em Curitiba/PR e Região Metropolitana.

Os participantes informaram como experienciam seu cotidiano como superdotados, que é o objeto deste estudo. Foram realizadas perguntas referentes à sua relação com professores e colegas, ao processo de ensino e de aprendizagem e referente à sugestão de mudanças na universidade quanto à melhoria de aprendizado. Para Creswell (2014, p. 75), “o foco está na essência das experiências vividas por pessoas com relação a esse fenômeno”.

Preliminarmente à execução da pesquisa o projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), conforme as Resoluções 466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), e aprovado sob o parecer número 2.331.010.

A análise das informações foi realizada sob o aporte de Minayo (2009), que apresenta a importância de um tripé que inter-relacione teoria, método e técnica. Desse modo, considerou-se que “a qualidade de uma análise depende também da arte, da experiência e da capacidade de aprofundamento do investigador que dá o tom e o tempero do trabalho que elabora” (MINAYO, 2009, p. 622).

Análise dos resultados e discussão

Apresenta-se o perfil dos participantes da pesquisa, que é significativo para a compreensão de suas falas. Salienta-se que os conteúdos das falas dos participantes são identificados pela sigla SD, que significa superdotado que são enumerados de 1 a 9, e desse modo, são identificados pelas siglas de SD1 a SD9.

Dos nove participantes da pesquisa quatro se declararam do sexo feminino e 5 masculinos, com idade que variou entre 18 e 26 anos. A religião que mais se destacou foi o ateísmo, com cinco participantes, seguida pela religião católica, com dois participantes, pelo agnosticismo, com um participante e uma resposta para nenhuma religião.

Três participantes da pesquisa cursavam Psicologia e dentre estes dois estavam no nono semestre e um no último semestre. Cinco eram estudantes de Medicina, cursando o terceiro, quinto, sétimo, oitavo e o décimo semestre. Um era estudante de Farmácia, no segundo semestre. As IES desses acadêmicos são privadas e filantrópicas.

Optou-se por desenvolver, fundamentadamente, um dos elementos do perfil dos participantes, relacionado com a discussão de gênero, que embora neste estudo, pelo número pequeno de participantes e a escolha da amostra, a participação de mulheres quase equivaleu à de homens, aponta-se na literatura, que a quantidade de homens superdotados laudados é maior que de mulheres. Esse é um aspecto a ser discutido, visto que é mais difícil a identificação de mulheres superdotadas. Isto porque, conforme Reis e Gomes (2011), as condições sob as quais ocorre a construção de identidade nos diferentes contextos difere de meninos para meninas. Seguem os autores:

É preciso entender como o gênero molda nossos pensamentos, linguagem e ações, evitando que se inviabilizem as medidas para igualdade no contexto da construção da cidadania. Com base em definições do que é ser homem e/ou mulher, edifica-se um sistema de discriminação e exclusão entre os sexos pautado em estereótipos. Apresentados como categorias opostas, excludentes e hierarquizadas, o feminino e o masculino encontram eco nas instituições sociais, como família e escola, que perpetuam valores históricos e culturais. (REIS; GOMES, 2011, p. 154).

Segundo Arantes-Brero (2020), tal desigualdade deriva da cultura e também do reconhecimento das habilidades de acordo com o gênero. Ora, se as mulheres foram criadas para obedecerem e serem resignadas, quando demonstram habilidades acadêmicas acima da média são reconhecidas como esforçadas e muito estudiosas. Quanto aos homens, sem muito esforço são mais valorizados por serem curiosos e questionadores, sendo mais reconhecidos em suas altas habilidades que as mulheres. No ambiente acadêmico, é possível perceber a repercussão das relações de gênero no comportamento diferente das meninas, o que pode dificultar sua identificação na sala de aula.

O que ocorre é que as consequências históricas do patriarcado repercutem nas relações de gênero atuais, porque a educação, que faz parte do processo de sociabilidade, carrega consigo uma herança sociocultural transmitida pelo conhecimento, pelas habilidades e valores. Isto acaba definindo o comportamento masculino e feminino (REIS, 2008).

Quanto às categorias, salienta-se que estas emergiram a partir das informações contidas nasentrevistas. Para a categorização foram agrupados os temas mais suscitados pelos participantes, pela similitude, a saber: vivência dos estudantes superdotados na universidade; desconhecimento sobre o estudante superdotado na universidade; interação social dos estudantes superdotados na universidade e autopercepção dos estudantes superdotados.

Vivência dos superdotados na universidade

Percebeu-se pelas entrevistas, que a vivência dos superdotados na universidade foi de constante amadurecimento e evocou sentimentos de angústia e surpresa. Alguns entrevistados relataram sua decepção ao perceber que o ensino seria similar ao Ensino Médio, conforme a fala a seguir

Quando eu entrei no mundo universitário foi uma grande decepção, na verdade, porque foi muito fácil, eu sou uma pessoa que nunca tive caderno, e isso era uma motivação para ir para a faculdade, para eu chegar nesse mundo acadêmico diferente poder não ser obrigada a usar caderno, a ser obrigada a muitas coisas, e não foi isso que aconteceu (SD2).

Alguns participantes encontraram alternativas para lidar com essa situação em sala de aula, evitando ter problemas com o professor e atrapalhar os colegas.

Eu já sento no fundo da sala, onde ninguém senta atrás de mim, então dessa forma, o fato de que eu estou usando o computador não atrapalha ninguém, até porque não tem ninguém atrás de mim para que a tela seja chamativa, mas os professores às vezes se sentem incomodados, e acredito que alguns deles se sintam incomodados pelo simples fato de que eu não estou prestando atenção na sala, ou que estou desdenhando a capacidade deles, ou que eu que não estou nem aí ou que estou faltando com respeito, mas na verdade, é a forma que eu tenho para estar na sala de aula, porque se não for assim, eu quero sair a cada cinco minutos, o que eu acredito que atrapalhe bem mais do que o fato de estar com o computador aberto (SD4).

Ocorre que o sistema educacional não é desafiador o suficiente para esses indivíduos. Os superdotados gostam de desafios, demandando condições socioambientais adequadas para que desenvolvam suas potencialidades. Entende-se, portanto, que os ambientes familiares, sociais e as instituições devem promover experiências educativas significativas e desafiadoras para enriquecer seu potencial, a criatividade e a expressão pessoal (BERBENA, 2006).

Há desconhecimento e faltam programas educacionais direcionados aos superdotados no meio acadêmico, o que os desmotiva dentro da universidade. De acordo com Sabatella (2012), uma das características dos indivíduos superdotados é a curiosidade e o anseio por novidades. Para a autora:

Uma mente extremamente curiosa se identifica pela necessidade de estimulação constante. A rotina e as atividades que se repetem são como um terrorismo para a maioria dos alunos superdotados e esta é uma das razões porque eles resistem a completar lacunas de tarefas que todos os dias são reproduzidas quase que da mesma forma (SABATELLA, 2012, p. 123).

O terrorismo descrito por Sabatella (2012) traduz os sentimentos contidos nos relatos dos participantes da pesquisa:

Novidade o tempo todo é muito bom. Óbvio, que depois que você começa a entender como funciona, e se não tiver mais novidades fica chato (SD1).

Segundo Virgolim (2019), o desconhecimento sobre a superdotação pode gerar diagnósticos errôneos com características parecidas com a superdotação, como o Transtorno de Espectro Autista (TEA), por exemplo, o que é percebido por um dos participantes da pesquisa.

Muitas vezes eles tratam como autismo, ou algo de espectro. Eles tentavam passar atividades extras ou faziam você ir nos encontros como se fosse autoajuda, para você ir conversar com outros estudantes, mas na verdade, todo mundo que estava lá era do espectro autista. Não tinha nada a ver com meu jeito de ser, porque não é uma dificuldade, é uma facilidade que me desmotivou e a maioria das pessoas que estavam lá estavam com dificuldades, então... era muito diferente, e eles não sabiam o que eram as diferenças (SD2).

O que chama a atenção nesses relatos o desconhecimento sobre a forma como lidar com a superdotação na universidade. Por meio dos sentimentos expressados os participantes da pesquisa dão sinais de que querem ser vistos e reconhecidos, em suas especificidades.

O desconhecimento sobre o superdotado na universidade

Ao falar sobre a universidade e todos os constructos que envolvem a superdotação, os entrevistados comentaram a ausência de professores especialistas na área de Educação Especial que pudessem atendê-los de acordo com suas necessidades e salientaram as dificuldades para identificá-los.

Não falam de superdotação aqui na faculdade (SD9).

Há duas questões a serem analisadas quanto à necessidade de estruturar um programa educacional para indivíduos que evidenciam talentos e habilidades superiores: “o que é um superdotado?”E “A que nos referimos quando afirmamos que um determinado indivíduo é superdotado?” (ALENCAR; FLEITH, 2001, p. 51). São perguntas que encaminham para a necessidade de os professores tomarem cada vez mais conhecimento do tema para compreender e saber lidar com seus estudantes. Isto é evidenciado pelo participante da pesquisa a seguir.

As pessoas tratam as altas habilidades como se fossem superpoderes, como se você não tivesse dificuldade em nenhum aspecto em sua vida, então se você pede ajuda para alguma coisa, parece que você está testando. Ou se você pergunta alguma coisa para seu professor, ele acha que você está testando, e os colegas não conseguem entender como alguém que senta na última carteira, não tem caderno, não anota e fica no computador a aula toda, vai bem e tira 10. É complicado (SD2).

Segundo Virgolim (2019), a expressão superdotado pode sugerir uma compreensão equivocada, como a de que ser superdotado significaria ser um super-herói ou um indivíduo com capacidades excepcionais, referindo-se a habilidades raras existentes no ser humano comum.

Novamente, o desconhecimento guiado pelo senso comum direciona ao entendimento errôneo que, ao invés de aproximar professores e estudantes, aumenta a distância entre ambos. Assim, não basta que haja boa vontade em acolher e incluir, mas deve-se estudar, a fim de entender profundamente a superdotação. A capacitação para entender a superdotação deve ser tanto institucional quanto pessoal. Segue outro relato.

Eu me sinto acolhida, mas ao mesmo tempo eu me sinto muito prejudicada, sabe? Parece que tenho a obrigação de saber, eles já me olham, esperando uma resposta minha, porque a turma inteira não sabe, e você tem a obrigação de saber. Ah, mas desde o começo, quando eu percebi que estava assim, eu já pedi para que eles parassem com isso, e daí melhorou (SD5).

No ambiente escolar é indispensável que o professor identifique as potencialidades, estilos e ritmos de aprendizagem dos alunos, como salientam Pérez e Freitas (2012), justamente para fornecer uma educação de qualidade e atender suas necessidades dentro do processo de ensino e aprendizagem.

Desde a infância eu sinto que o professor não está apto a tratar, a cuidar dos alunos com altas habilidades. O professor não é ensinado a tratar um aluno com altas habilidades. Ele é ensinado a dar aulas para a aluno de inteligência média para baixo. Então ele é ensinado a estimular aquele que não consegue, aquele que não sabe, aquele que não faz, sabe? Aquele que consegue fazer qualquer coisa com facilidade, ele meio que ignora e deixa (SD6). Não adianta nada identificar uma pessoa com superdotação e não saber lidar com ele. Então, tem que saber identificar o problema e saber como lidar com ele, para estimular esse aluno. Eu acho que precisa aprender e estimular esse tipo de aluno. (SD6)

Uma capacitação adequada traria a oportunidade de conhecer os superdotados. Desse modo, “a formação de professores para atender aos alunos superdotados é essencial para que sejam desenvolvidas estratégias de ensino estimulantes de modo que possam desenvolver, ainda mais, as suas altas habilidades” (WECHSLER; SUAREZ, 2016, p. 52).

Incluir no programa de formação de professores assuntos referentes à área de Educação Especial em relação à superdotação auxiliaria na adaptação e enriquecimento do currículo, na flexibilização de protocolos, organização de programas de atendimento e também no encaminhamento desse alunado para um trabalho individualizado, sugere Sabatella (2012). Porém, antes de tudo, é necessário entender o processo da identificação destes estudantes. O participante da pesquisa abaixo sugere:

Acho que isso é uma coisa que poderia mudar nas universidades, poderiam começar a existir, a ter projetos extracurriculares, talvez um sistema de dispensa de disciplina. Até falando sobre o que mudaria no processo ensino-aprendizagem, eu acho que seria uma coisa muito válida você dispensar uma disciplina, elaborando uma prova muito bem elaborada, que valesse a nota integral dessa disciplina (SD4).

Dentre as características presentes nos superdotados, destaca-se a curiosidade intelectual. Esses indivíduos são curiosos, gostam de investigar e fazem muitas perguntas (SABATELLA, 2013).

Então, durante todo o período de faculdade, eu aprendi que perguntar coisas para os professores não é um bom caminho, eles se sentem desafiados e testados, porque você faz perguntas que eles não esperam que os alunos façam, e daí você faz uma pergunta, que muitas vezes, eles não sabem responder porque é muito especificada, e eles se sentem desafiados, e muitas vezes, pensam que estão sendo desafiados. Eu acho que não perguntar foi uma estratégia para não ser tão odiada (SD2).

Percebe-se que alguns problemas com a superdotação são o desestímulo e a frustração perante um programa acadêmico que preza pela repetição e pela monotonia e menospreza o clima psicológico, gerando problemas desfavoráveis para que os superdotados sobreponham seu potencial (ALENCAR; FLEITH, 2001).

Talvez, eu nem sei, mas a própria faculdade pudesse disponibilizar esse espaço psicológico ali (SD1). Porque se as pessoas são diferentes, avaliar elas no mesmo programa, com mesmo projeto não vai funcionar, tem que ver a falha. E infelizmente eles são feitos para a maioria, então eu acho que tem que ter uma avaliação alternativa das pessoas, já ajudaria, porque as pessoas com altas habilidades, porque já tiraria a ansiedade e o nervosismo que elas passam quando elas têm que passar por todo o processo seletivo que vão ser não adequados para ela (SD3).

Evidencia-se, nesses relatos, que o desestímulo decorre do desconhecimento sobre a superdotação. Outro elemento que chama a atenção é que há um certo ânimo quando o professor dá autonomia aos alunos, ou quando trabalha bem determinadas teorias, promovendo debates ou tornando as aulas teóricas mais dinâmicas. Destaca-se que isso não diz respeito apenas aos superdotados, mas sabe-se que todos os estudantes se beneficiam e apoiam novas perspectivas do ensino, mais dinâmico.

Nesse sentido, Delou (2012) indica que as instituições de ensino podem ofertar atividades de enriquecimento curricular em parceria com as escolas públicas de ensino regular e os Núcleos de Atividades para superdotados (NAAH/S), assim como realizar pesquisas e estudos em diferentes áreas. Desse modo, é nas universidades e nos institutos de pesquisa que se busca o conhecimento científico, “logo seria natural que as universidades se interessassem pelas pesquisas com sujeitos com habilidades e competências extraordinárias” (DELOU, 2012, p. 135).

Interação dos acadêmicos superdotados na universidade

Quando se referem às habilidades sociais, alguns participantes informam que possuem dificuldades em encontrar indivíduos que compartilhem os mesmos interesses e habilidades. As habilidades sociais são compreendidas como “diferentes classes de comportamentos sociais, disponíveis no repertório de uma pessoa, que contribuem para a qualidade e a efetividade das interações que ela estabelece com as demais” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2008, p. 518). Assim,

É difícil ser superdotado no meio de pessoas comuns, é mais trabalhoso, mas, não é impossível, você consegue se adequar. Ninguém é tão diferente a ponto de estar sozinho (SD5).

Segundo Landau (2002) os superdotados têm receio de se reconhecerem diferentes dos outros. Assim, “como, muitas vezes, não se identificam com seus pares, tendem a se isolar, negar o talento e passam a se sentir fragmentados, frustrados ou com um vácuo em seu autoconhecimento” (CHAGAS-FERREIRA, 2014, p. 294).

As pessoas até ficam bravas comigo e perguntam como eu falto tanto e tiro notas boas ou não reprova ou ele está aqui, está dormindo, acorda e responde a todas as perguntas. Com os alunos é muito complexo, porque aqueles que estudam muito não gostam muito de mim, sabe? Tipo, eles acham que sou vagabundo e eu também acho, tipo preguiçoso, então, eles preferem excluir, mas eu também não ligo quando isso acontece (SD6).

Salienta-se que nem todos os superdotados apresentam as mesmas características; entretanto, “é ainda possível que os superdotados tentem dissimular algumas delas, especialmente quando se trata de características desencorajadas pelo meio social em que vive o indivíduo” (ALENCAR; FLEITH, 2001, p. 65).

Quanto aos colegas é sempre muito difícil, e vai continuar sendo muito difícil, é ...porque eu tenho... vamos dizer... eu tive muito medo da inteligência virar arrogância, sabe? (SD3).

Dentro do ambiente universitário o superdotado chama a atenção e acaba sendo exposto, tornando-se facilmente alvo de preconceito, o que representa mais um entrave em sua vida, no âmbito socioemocional (PALUDO; LOOS-SANT’ANA; SANT’ANA-LOOS, 2014).

Eu acho que, quando mudei de universidade, as pessoas não me conheciam como a pessoa das notas altas, mas infelizmente chegaram as primeiras provas e eu perdi a maioria dos meus amigos (SD2).

Percebe-se que o medo de ser percebido como arrogante é angustiante, porque em ambiente onde não há conhecimento do tema o suficiente para a compreensão e o acolhimento dos superdotados, o que estes representam acaba parecendo um afrontamento para os professores e outros indivíduos nas IES.

A primeira vez que ouvi falar sobre o termo foi através de um trabalho, por sugestão de uma professora e a partir disso, eu comecei a me identificar em um dos trabalhos, e acabei e descobrindo com essas possibilidades e passei a propor alguns projetos dentro da universidade, mas não fui muito bem acolhida. Tive muitos problemas com professores, muitos, muitos, muitos, com colegas também, não consegui me enturmar e por conta disso, acabei me mudando para outra universidade (SD4).

O que tem que ser percebido e deve ser o foco de educação permanente nas universidades é que, os superdotados se diferenciam não somente pelos padrões de necessidades educacionais, mas também pelas “habilidades cognitivas e linguísticas, interesses, estilos de aprendizagem, motivação e níveis de energia, personalidades, saúde mental e autoconceito, hábitos e comportamento, experiências” (ALENCAR; FLEITH, 2001, p. 68). Quando isso ocorre, a visão é mais positiva:

Meus amigos conseguem entender o que eu falo, mesmo quando pensam diferente e eles compreendem, estão ali de verdade, assim como eu os entendo. Não foi em casa que aprendi isso, porque a empatia de casa é engraçada, porque a empatia em casa é do tipo que é dever da gente fazer isso, e ainda tem aquela famosa frase que sou melhor do que as pessoas (SD1).

A compreensão pode implicar em uma maior aproximação dos superdotados, sem julgamentos. Incluir, significa tornar-se hábil para acolher e entender a perspectiva destes, buscando junto a eles novas formas de aprendizagem.

Autopercepção dos superdotados

A autopercepção é essencial para os superdotados, principalmente para se reconhecerem como indivíduos que têm condições intelectuais diferenciadas e para esclarecer quais são seus deveres e direitos nas IES.

É notável, nas falas dos participantes da pesquisa, que o estereótipo dos superdotados permeia a sociedade, o mundo acadêmico e, por conseguinte, as relações sociais que se estabelecem. Normalmente, o superdotado é conhecido como “um indivíduo pálido, franzino, que usa óculos com lentes grossas, instável emocionalmente e excêntrico” (FLEITH; ALENCAR, 2001, p. 47).

No entanto, uma pessoa superdotada reconhece que é diferente desde a infância, pela própria vivência que leva a sentimentos aguçados de “dúvida, desespero, confusão, isolamento, decorrentes da percepção que os outros têm sobre ela; sua precocidade a faz, pela reação normalmente desencadeada nos outros, sentir-se como anormal e estranha” (PALUDO; LOOS-SANT’ANA; SANT’ANA-LOOS, 2014, p. 63).

Eu sempre me vi, desde muito moleque, como diferente. Eu sabia que minha cabeça não funcionava igual ao restante das pessoas, assim. É... em nenhum momento não me deixaram fora da caixa, muito pelo contrário, sempre me encaixei bem em todas as situações de socialização, mais do que eu tento. Sempre me deu uma sensação que eu era diferente, de que eu não era como os outros (SD7).

Com relação aos mitos da superdotação, estes atrapalham a vivência dos superdotados no meio em que vivem, e produzem estereótipos sobre eles. Portanto, “essas ideias errôneas acabam trazendo consigo uma série de preconceitos que podem prejudicar, sobremaneira, o desenvolvimento emocional das pessoas” (ARANTES-BRERO, 2020, p. 65).

A superdotação te coloca em um patamar de superioridade, e não poderia existir esses patamares, porque superdotada faz algo melhor na visão dos outros, e não deveria ser, é só um jeito diferente de funcionar, assim como pessoas com o QI mediano, que às vezes têm uma habilidade muito forte artística ou até mesmo matemática, geografia, português, e não são reconhecidas por isso (SD2).

Apesar de se perceberem como indivíduos intelectualmente diferentes, no caso dos entrevistados, alguns se auto boicotam para se adequar aos ambientes escolares, às amizades ou até mesmo para se perceberem diferentes e especiais. Nas entrevistas foi possível notar a autossabotagem de alguns superdotados, tanto na adequação ao ambiente universitário, propriamente na sala de aula, como na deturpação de sua condição de superdotação.

Eu não mereço estar aqui. Em relação aos outros, eu estudei muito pouco, eu não me dediquei, eu não me dediquei tanto como os outros para chegar aonde eu estou. Isso é muito complicado porque você se autossabota quando você fica pensando nisso, mas é um trabalho de formiguinha. Então foi dois anos para eu ir entendendo isso. Hoje eu aceito bem isso, e estou tranquilo quanto a isso (SD9).

Quanto ao autoconceito do superdotado, segundo Paludo, Loos-Sant’ana e Sant’ana-Loos (2014), é formado à medida que “consegue distinguir seus atributos e sua conduta dos atributos e da conduta do outro” (p. 53). A angústia contida na fala abaixo é um indicativo das dificuldades de interação, pela carência de um processo de autoconhecimento e avaliação.

Tem muitas pessoas ali que eu não consigo manter uma conversa, se eu não estou no meu melhor dia, porque é um desgaste de energia. É um gasto de energia interno assim para mim. Elas perguntavam se eu não percebia que eu era grossa. Pra mim eu não acho que eu estava sendo grossa e quanto eles se olharam tipo como socialmente é adequado, socialmente é reforçado, blábláblá (SD1).

Alguns entrevistados relatam o quanto foi importante a avaliação para que pudessem se compreender melhor e perceber quais são seus pontos fortes e fracos quanto à superdotação. Segundo Delou (2012) esse diagnóstico não é considerado como um rótulo, pois é um trabalho técnico especializado com o intuito de fornecer orientação para o seu bem-estar e para seu autoconhecimento.

Segundo Jacobsen (1999) a confiança é facilmente construída quando se permite o autoconhecimento. Segundo a autora, “nós não precisamos mais implorar, agir como palhaços para ganhar atenção ou nos prejudicar cuidando dos outros” (JACOBSEN, 1999, p. 321). Isso se reflete na fala abaixo:

Uma coisa que é muito característica minha é a satisfação intrínseca, eu não preciso ser recompensada, com nota ou elogio, não é recompensador. É algo dentro de mim, sou eu comigo mesma(SD2).

Ao longo da vida os indivíduos passam por experiências, boas ou ruins, mas todas influenciam no seu processo de autoconhecimento, indispensável para a busca de autoconfiança e satisfação pessoal, cada um de acordo com sua condição. “Acredita-se que tais experiências configuram-se como importantes e necessárias para o crescimento, para o amadurecimento” (PALUDO; LOOS-SANT’ANA; SANT’ANA-LOOS, 2014, p. 75).

Considerações finais

A questão da invisibilidade dos estudantes superdotados ainda é muito presente nas IES, apesar da existência de legislações vigentes. Os estudantes superdotados encontram algumas situações similares às da educação básica, como o desconhecimento do tema de superdotação pelos professores e também poucas ou quase nenhuma proposta de programas educacionais direcionados a eles.

Compreender como o superdotado se percebe no ambiente acadêmico a partir dos relatos de suas vivências e também como ele percebe o processo de ensino-aprendizagem foi uma experiência enriquecedora e desafiadora, no que se refere ao acolhimento e orientação desses estudantes. O estudo apontou que as vivências dos estudantes superdotados nas IES mostram que fatores como a desmotivação, pode levar à evasão destes estudantes das universidades, como o que ocorre também na educação básica.

O desconhecimento sobre assunto torna a IES um lugar desmotivador, pois provoca poucos desafios durante as aulas. Pode-se perceber a ausência de docentes especialistas na área que pudessem orientar os estudantes superdotados sobre suas necessidades educacionais e ainda, que pudesse identificá-los no meio acadêmico. A identificação torna-se necessária e primordial para acolher esse público em programas educacionais, e em paralelo provocar o sentimento de pertencimento a um grupo de pessoas com mesmos interesses. Assim, destaca-se que é importante que esses indivíduos se reconheçam com condições intelectuais diferenciadas para esclarecer quais são seus deveres e direitos diante do sistema educacional.

Ressalta-se que a avaliação é um complemento do autoconhecimento do indivíduo, e no caso do superdotado, é um dos caminhos percorridos para entender sua condição, mas não pode ser o único modo de identificação. Ao se reconhecer com essa condição, o superdotado poderá ter acesso aos seus deveres e direitos dentro do ambiente acadêmico.

Nas pesquisas realizadas, mostrou-se que a superdotação não se faz diferente para a questão de gênero, porém, os meninos são mais facilmente identificados do que as meninas, em decorrência de construções sociais e culturais ideologicamente inadequadas.

Nota-se que as políticas públicas elaboram documentos com foco na Educação Especial que incluem os superdotados já há algum tempo, entretanto, quando a criança se torna um jovem adulto e entra para a universidade, a atenção é menor, o que revela a necessidade de mais políticas específicas voltadas aos universitários superdotados.

Devido à importância do tema e à existência de poucos estudos voltados à temática, sugere-se ampliar as pesquisas acerca da identificação, reconhecimento, acolhimento e atendimento aos superdotados, que contribuam não somente ao universo universitário, mas contemplem esse público em sua totalidade.

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Recebido: 29 de Outubro de 2021; Aceito: 02 de Fevereiro de 2023; Publicado: 18 de Maio de 2023

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