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Contrapontos

versión On-line ISSN 1984-7114

Contrapontos vol.21 no.1 Florianopolis ene./dic 2021  Epub 20-Mayo-2022

https://doi.org/10.14210/contrapontos.v21n1.p131-147 

Artigos

REPRESENTAÇÕES RACIALIZADAS E DIMENSÕES PEDAGÓGICAS DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS DO PERSONAGEM NEGRO PIMPO NA REVISTA INFANTIL “CACIQUE”

RACIALIZED REPRESENTATIONS AND PEDAGOGICAL DIMENSIONS OF THE COMICS OF THE BLACK CHARACTER PIMPO IN THE CHILDREN’S MAGAZINE “CACIQUE”

REPRESENTACIONES RACIALIZADAS Y DIMENSIONES PEDAGÓGICAS DE LAS HISTORIETAS DEL PERSONAJE NEGRO PIMPO EN LA REVISTA INFANTIL “CACIQUE”

Maria Angélica Zubaran1 

1Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil, Canos, RS, Brasil.


Resumo:

O presente estudo analisa as representações racializadas do personagem negro “Pimpo” e de sua família e as dimensões pedagógicas de quatro Histórias em Quadrinho (HQs) publicadas na revista infantil Cacique, no ano de 1954. O objetivo central é, a partir da abordagem teórica dos Estudos Culturais, desnaturalizar e problematizar os significados específicos atribuídos às representações do corpo de personagens negros em HQs e aos seus comportamentos. Entre os resultados de pesquisa destaca-se, inicialmente, o potencial pedagógico das revistas infantis e das HQs, produzindo e disseminando formas de ser criança entre os leitores. No caso particular das representações sobre o personagem negro Pimpo, nas HQs da Revista Cacique, considera-se que elas são marcadas por certa ambiguidade de significados e sentidos. Por um lado, o personagem Pimpo foi reduzido a representações estereotipadas e estigmatizadas, como “moleque”, preguiçoso, traquinas, marcado racialmente pela diferença da cor preta da sua pele, pelo seu cabelo encarapinhado, pelos olhos esbugalhados e lábios proeminentes. Por outro lado, foi humanizado, apresentado convivendo com sua família e com amigos brancos e um primo pardo, aparentemente integrado, dentro das premissas da democracia racial vigente naquela época.

Palavras-chave: estudos culturais; representações racializadas; histórias em quadrinhos; revista Cacique

Abstract:

This study analyzes the racialized representations of the black character “Pimpo” and his family and the pedagogical dimensions of four Comics published in the children’s magazine Cacique, in 1954. The main objective is, from the theoretical approach of Cultural Studies, denaturalize and problematize the specific meanings attributed to representations of the body of black characters in comics and to their behavior and attitudes. Among the research results,the pedagogical potential of children’s magazines and comic books stands out, producing and disseminating ways of being a child among readers. In the particular case of representations about the black character Pimpo, in the comics of Revista Cacique, it is considered that his representations are marked by a certain ambiguity of meanings and senses. On the one hand, the character Pimpo was reduced to stereotyped and stigmatized representations, as a “toddler”, lazy, mischievous, racially marked by the difference in the black color of his skin, his curly hair, bulging eyes and prominent lips. On the other hand, he was humanized, shown living with his white family and friends and a brown cousin, apparently integrated, within the premises of the racial democracy in force at that time.

Keywords: cultural studies; racialized representations; comics; Cacique magazine

RESUMEN:

Este estudio analiza las representaciones racializadas del personaje negro “Pimpo” y su familia y las dimensiones pedagógicas de cuatro historietas publicadas en la revista infantil Cacique, en 1954. El objetivo principal es, desde el enfoque teórico de los Estudios Culturales, desnaturalizar y problematizar los significados específicos atribuidos a las representaciones del cuerpo de los personajes negros en los cómics y a su comportamiento y actitudes. Entre los resultados de la investigación, se destaca inicialmente el potencial pedagógico de las revistas y los cómics infantiles, que producen y difunden formas de ser niño entre los lectores. En el caso particular de las representaciones sobre el personaje negro Pimpo, en los cómics de Revista Cacique, se considera que sus representaciones están marcadas por una cierta ambigüedad de significados y sentidos. Por un lado, el personaje Pimpo quedó reducido a representaciones estereotipadas y estigmatizadas, como un “niño pequeño”, holgazán, travieso, marcado racialmente por la diferencia en el color negro de su piel, su pelo rizado, ojos saltones y labios prominentes. Por otro lado, fue humanizado, presentado viviendo con su familia y amigos blancos y un primo moreno, aparentemente integrado, dentro de las premisas de la democracia racial vigente en ese momento.

Palabras clave: estudios culturales; representaciones racializadas; historietas; revista Cacique

Introdução

Parece pertinente, de imediato, marcar a atemporalidade entre passado e presente que marcam as histórias em quadrinhos do personagem negro1 “Pimpo”, registradas na revista infantil Cacique na década de 1950. Entende-se que essas histórias retrocedem às imagens do passado escravista e colonial e que estão também entrelaçadas à presença dos racismos cotidianos que são reencenados no presente e que continuam a marcar a mídia e as narrativas sobre as infâncias na contemporaneidade. Conforme destaca Grada Kilomba, “o racismo não é uma ‘coisa’ do passado” (KILOMBA, 2019, p. 71). Daí a importância de tratá-lo como um problema teórico e prático significante nos discursos acadêmicos e, por que não dizer, no estudo das histórias em quadrinhos.

As quatro HQs selecionadas para análise neste estudo foram publicadas no ano de 1954, primeiro ano de lançamento da revista infantil Cacique, em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, como resultado da iniciativa do Centro de Pesquisas e Orientação Educacionais - CPOE/RS, da Secretaria de Educação e Cultura - SEC/RS. Entre os critérios de seleção destas 4 HQs destaca-se o fato de não terem sido pesquisadas e estudadas até o presente estudo e de apresentarem dimensões pedagógicas relevantes, no que diz respeito à construção das identidades étnico-raciais de crianças leitoras de histórias em quadrinho. Destaque-se que o personagem Pimpo aparece apenas nestas quatro HQs e é um dos poucos personagens infantis negros que protagonizam histórias em mais de uma edição da revista (FLORES, 2020).

Entre as décadas de 1950 e início de 1960, a revista atingiu um total de 123 edições, e, durante quase uma década, produziu e disseminou valores e comportamentos específicos para crianças e jovens leitores gaúchos, contribuindo, assim, para a produção de suas infâncias durante aquele período. Inicialmente, era impressa na Livraria do Globo e atingiu uma tiragem mensal entre 10 e 15.000 exemplares e, de 1957 a 1959, tornou-se quinzenal (BASTOS, 1994,p. 1).

De acordo com Silveira, Zubaran e Hessel (2019), em estudo sobre a materialidade da revista, a Cacique era composta por uma variedade de seções, entre elas: textos ficcionais, lendas, fábulas, histórias seriadas, histórias em quadrinhos, poemas, partituras musicais, textos informativos relacionados à história, geografia e cultura brasileira, assim como textos informativos sobre outros países e povos, além de temas relacionados às ciências. Havia, também, diversos passatempos, como charadas, adivinhações, curiosidades, palavras cruzadas, registradas em quase todas as edições, assim como piadas, anedotas e provérbios; a revista Cacique, desse modo, filiava-se às tradições das outras revistas infantis brasileiras que a precederam ou foram contemporâneas, assemelhando-se às mesmas, tanto no cumprimento de ideais educativos para a infância, quanto no intuito de ser um canal de entretenimento e recreação. Observa-se, ainda, que a presença de algumas seções e textos - valorizando elementos regionais - pretendiam contribuir para a construção de uma identidade regional sul-rio-grandense.

Em uma breve história dos quadrinhos no Brasil, Dario DJota Carvalho (2006) destaca entre os precursores das histórias dos quadrinhos no século XIX, o nome de Ângelo Agostini, ao criar, em 1869, “As aventuras de Nhô Quim”, considerada a primeira HQ do Brasil. Já no século XX, destaca-se a iniciativa do jornalista Adolfo Aizen, quando lançou o Suplemento Infantil, em 1934, no jornal A Nação, tornando-se o pioneiro dos quadrinhos de aventura no Brasil2. Em 1939, Roberto Marinho, inspirando-se, possivelmente, no personagem Giby, que havia surgido na revista O Tico-tico, em 1907, lançou a revista em quadrinhos “o Gibi”, termo que, desde então, passou a ser considerado sinônimo de revistas em quadrinhos.

É preciso distinguir, ainda, na história dos quadrinhos para crianças no Brasil, as revistas que eram constituídas exclusivamente por quadrinhos, como foram, por exemplo, as revistas Disney, introduzidas no Brasil na década de 1950, e as revistas infantis que traziam histórias em quadrinhos em algumas páginas, das quais a mais famosa, sem dúvida, foi O Tico-tico, revista infantil brasileira mais duradoura, com cerca de 2.097 exemplares, de 1905 a 1960 (ROSA, 2002, p. 7) e Sesinho, que circulou de 1947 a 1960 (BRITES, 2004).

Por outro lado, vale retomar, ainda que brevemente, algumas informações sobre outros personagens meninos, negros, de quadrinhos brasileiros, das primeiras décadas do séc. XX. Conforme informa Cardoso (2009), Giby, personagem criado por J. Carlos, em 1907, como companheiro de Juquinha, nas páginas de quadrinhos de O Tico-tico, seria o primeiro menino negro nos quadrinhos brasileiros. E é Cardoso (2009) que afirma sobre Giby (e a reprodução de muitas tiras originais na mesma obra permite que o leitor verifique a adequação da análise):

Além de extremamente caricato, Giby é apresentado aos leitores como pouco inteligente, e, na primeira história, nivelado a um deficiente mental. Nas demais, é submetido a outras situações humilhantes criadas pelo filho do dono da casa, onde trabalha como copeiro. Veste-se como tal; camisa amarela, jaqueta vermelha, calças xadrez vermelha e preta. Juquinha, autor intelectual das situações ridículas ou trapalhadas em que coloca o Giby, nunca é repreendido e sempre leva a melhor. (p. 151).

Cardoso, estudioso dos quadrinhos brasileiros, relembra, ainda, que vários personagens negros apareceram após Giby, tanto em O Tico-tico, quanto em outras revistas infantis. Rosa (2002), em detalhado exame daquela revista, focaliza os personagens Benjamin e, posteriormente, Azeitona. Benjamin é introduzido na galeria de personagens de O Tico-tico como companheiro de travessuras de Chiquinho, menino branco, que já cativava leitores, pelo seu "comportamento irreverente e traquinas" (p. 180). Sobre Benjamin, Rosa afirma (2002, p. 185):

Constituindo-se em um arremedo caricato da representação que se fazia do negro na sociedade brasileira, Benjamin coadjuvou com seus oito anos de idade, pés descalços, postura defeituosa, feições grosseiras e linguajar peculiar, as travessuras de Chiquinho e Jagunço [o cachorro]. [...] Na representação estereotipada da Benjamin, estavam presentes características comumente associadas e mesmo impingidas ao negro, quando recém-saído da escravidão: humildade, docilidade, dependência da família branca, sujeito a castigos mesmo por pequenas faltas e desastres, semianalfabeto, condenado ao exercício de profissões subalternas, filho de mãe pobre [...], de alma simples, sem ambição.

A permanência de Benjamin, ao lado do personagem Chiquinho nas páginas de O Tico- tico foi longa: desde antes dos anos 1920 até o final dos anos 1950. Neste sentido, o personagem foi contemporâneo de outro menino negro nas páginas da revista: Azeitona, participante do trio de garotos que se tornaria célebre: "Reco-reco", "Bolão" (um menino gordo) e "Azeitona", que apareceu pela primeira vez em 1931 e, com algumas lacunas e modificações, permaneceu até o final da circulação da revista, no começo dos anos 1960. Conforme Rosa (p. 209), os três garotos “se revezaram como autores e vítimas de brincadeiras, sustos e engodos", o que já é alguma mudança em relação ao personagem Benjamin. Especificamente sobre Azeitona, Rosa acrescenta (2002, p. 211):

Azeitona, pretinho de olhos arregalados, fita no alto da cabeça e, a princípio, apresentado com pés descalços, fora inspirado, segundo seu ilustrador, numa imagem que ele vira no cinema, quando jovem. Se o pai de Reco Reco e o do Bolão apareceram em alguns episódios das aventuras de seus filhos, no caso de Azeitona, foi sua mãe, "S'iá Juvência", quem surgiu como a personagem adulta, responsável pelo garoto, exercendo trabalhos domésticos como cozinheira e lavadeira.

Estereótipos, permanências, nuances, deslizamentos, tanto nos enredos, quanto nas caracterizações imagéticas se imbricavam, pois, na representação de personagens meninos negros, na primeira metade do século passado, atuando na fixação de imagens que atuavam pedagogicamente, possivelmente também junto aos ilustradores e redatores da revista Cacique.

Já sobre as características mais gerais das HQs, como seu gênero textual, ou “rótulo” - conforme a preferência de alguns teóricos (RAMOS, 2010) - os quadrinhos abrigam vários gêneros, como tiras, caricaturas, charges, cartuns. Fernando Moretti (2012) destaca que se trata de uma narrativa sequencial em quadros ordenados, ou frames, nos quais há a apresentação dos desenhos e de palavras (códigos visual e verbal), que compõem o seu enredo. Ramos (2010) relembra, ainda, que “o espaço da ação é contido no interior de um quadrinho”, “o tempo da narrativa avança por meio da comparação entre o quadrinho anterior e o seguinte” e que o “personagem pode ser visualizado” (p. 18). Vale relembrar que os quadrinhos, desde seu surgimento, foram desenvolvendo uma linguagem própria, que os afastou de simples histórias verbais ilustradas. A representação da fala e do pensamento através de balões com variados formatos é, atualmente, um dos elementos mais característicos das HQ (RAMOS, 2010, p. 31), mas nem sempre foram utilizados, como se poderá constatar na reprodução de quadrinhos do Pimpo. As onomatopeias, outros recursos amplamente usados, atualmente, como forma de representação da “trilha sonora” dos quadrinhos, foram sendo gradualmente incorporadas aos quadrinhos, enquanto linhas indicando movimentos. Símbolos - corações, lâmpadas, estrelas, raios, notas musicais, etc., com significados codificados, também são recursos agregados ao código do gênero, de pouca ocorrência antes dos anos 1960, 1970.

No entanto, apesar de se considerar alguns dos elementos específicos da linguagem dos quadrinhos e o potencial educativo desses artefatos culturais, é importante destacar que, durante algum tempo, essas produções textuais foram consideradas como uma “arte menor” e desprezadas como objetos de estudos considerados mais “sérios” nas Ciências Humanas. Pode-se considerar que foi a partir das abordagens teóricas da História Cultural e dos Estudos Culturais que esses textos culturais passaram a ser pesquisados como importantes objetos de estudo.

Segundo Pesavento, a partir da História Cultural, os historiadores passaram a abordar esses textos culturais na sua faceta de representação do mundo social e de elementos integrantes do imaginário coletivo (PESAVENTO, 1994). Recentemente, Fernanda Theodoro Roveri e Maria Walburga dos Santos, a partir da abordagem teórica da História Cultural, analisaram os processos históricos-pedagógicos de educação do corpo infantil, na personagem Caxuxa, uma menina negra, na revista infantil “Cirandinha”, que circulou no Brasil nos anos 1950, para a compreensão dos processos educativos mais amplos que se inscrevem sob os corpos na infância. De acordo com as autoras, “Podemos falar, assim, de um processo de educação que marca o corpo da criança por meio de códigos, práticas, técnicas, discursos, políticas, pedagogias e processos culturais mais amplos que circundam os indivíduos e que nem sempre são facilmente percebidos” (ROVERI; SANTOS, 2019, p. 3).

Na perspectiva dos Estudos Culturais, Marisa V. Costa (2012) destaca a ideia de que as revistas são produtivas e constroem relatos interessados que operam sobre nossas vidas, orientando as escolhas, apontando caminhos, construindo significados sobre o mundo, sobre as identidades e a sociedade em que se vive. Nesta direção, Steinberg (1997, p. 101-102) propõem a noção de pedagogias culturais vinculadas à [...] ideia de que a educação ocorre numa variedade de locais sociais, incluindo a escola, mas não se limitando a ela. De acordo com a autora, locais pedagógicos são aqueles em que o poder se organiza e se exercita, tais como bibliotecas, TV, filmes, jornais, revistas, brinquedos, anúncios, videogames, livros, entre outros.

No caso particular das revistas infantis, como salienta Martins (2001), em seu estudo sobre semanários e mensários que circularam pela cidade de São Paulo, entre 1890-1922, as revistas pedagógicas e infantis apresentavam uma proposta formadora, como veículos de valores, comportamentos e hábitos e de propostas de educação moral, cívica e, por vezes, religiosas. Assim, entende-se que não se aprende sobre raça e identidades étnico-raciais somente na escola, mas também por meio de diversos significados, que são produzidos e disseminados na cultura, em múltiplos artefatos culturais, entre eles, as histórias em quadrinhos. Inspiraram este texto, também, as reflexões de Camozzato e Costa (2013) para pensar possíveis pedagogias culturais disseminadas pela revista Cacique. Para as autoras, “[...] a pedagogia se relaciona, assim, com o modo de conduzir os sujeitos, de operar sobre eles para obter determinadas ações”. (CAMOZZATO; COSTA, 2013, p. 26), constituindo-se numa vontade de produzir determinadas subjetividades e identidades.

Daí a importância de se desnaturalizar e desconstruir as representações e pedagogias racializadas do corpo negro que são produzidas e disseminadas nas HQs e seus possíveis efeitos, particularmente, no campo educacional. E, desta forma, problematizar-se os significados específicos que são atribuídos aos corpos de personagens negros nas histórias em quadrinhos como se o pertencimento étnico-racial fosse um processo “natural”, demarcado por traços fenotípicos visíveis e associados a comportamentos estereotipados e negativos. É esse processo de desnaturalização de representações e pedagogias racializadas dos corpos de personagens negros em histórias em quadrinhos que se pretende empreender nas análises que seguem.

Representações e Pedagogias Racializadas do Corpo do Personagem “Pimpo” nas Histórias em Quadrinhos da Revista Cacique

Inicialmente, vale destacar nesta análise cultural das histórias em quadrinhos do “Pimpo” que, na perspectiva dos Estudos Culturais e das teorizações de Stuart Hall (2016, p. 21):

[...] o entendimento do conceito de representação está relacionado à forma como a linguagem constrói significados compartilhados na cultura - as palavras que usamos para nos referir “as coisas”, as histórias que narramos a seu respeito, as imagens que dela criamos, as emoções que associamos a elas, as maneiras como as classificamos e conceituamos.

Apropria-se, aqui, ainda, do conceito de representações racializadas de Hall, em seu estudo “O Espetáculo do Outro”, em que o autor argumenta que as representações estereotipadas do outro negro, constituem um regime racializado de representação, que reduzem à cultura dos povos negros à natureza e que naturalizam a diferença étnico-racial.

Nesta perspectiva, interessa a esta análise, particularmente, as representações do corpo acionadas para marcar a diferença racial do protagonista “Pimpo” e, neste sentido, torna-se importante abordar, mesmo que brevemente, o campo epistemológico dos estudos sobre o corpo, empreendido a partir de diferentes disciplinas como a História, a Sociologia e a Antropologia e que tem sido denominado como Body Studies ou Estudos Corporais. João Gomes Junior (2020) sublinha alguns trabalhos clássicos como os de David Le Breton (2007) e Alain Corbin, Jean-Jacques Courtine e Georges Vigarello (2017a; 2017b; 2012). Sublinha-se, ainda, a importância dos estudos de Michel Foucault sobre disciplina, sexualidade, poder e biopoder, além dos trabalhos de Judith Butler (2017; 2002) e de Paul B. Preciado (2017). Segundo Gomes Júnior, este campo de estudos preocupa-se em pensar o corpo “como um fenômeno social e cultural, sendo objeto de discursos que o criam segundo imaginários e representações social e historicamente localizadas” (2020, p. 13).

Salienta-se, além disso, conforme Goellner (2012), que o corpo é produto do seu tempo, uma construção cultural dotada de diferentes marcações, não podendo ser universal, mas sempre “provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante o desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura, bem como suas leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre os corpos, os discursos que ele produz e reproduz” (GOELLNER, 2012, p. 28). Neste sentido, Goellner salienta que o corpo não é apenas a sua materialidade, mas igualmente os discursos que o representam e que o formam.

Nesse contexto, Iara Tatiana Bonin, Edgar Roberto Kirchof e Daniela Ripoll (2019) sublinham que emergiu um interesse especial pela análise do lugar do corpo na educação, impulsionado pela entrada das teorizações pós-modernas, pós-estruturalistas e pós-críticas na área da Educação (2019, p. 217), enquanto “um construto social, cultural e histórico produzido por vários textos e artefatos culturais” (p. 19). É esse entendimento do corpo que se privilegia nesta análise.

O corpus empírico da análise está composto por quatro histórias em quadrinhos: Pimpo no Circo, Pimpo na Festa, Pimpo Valente e Pimpo Guloso, publicadas na revista Cacique em seu primeiro ano de circulação.

Inicialmente, far-se-á uma breve descrição dos principais personagens que marcam as cenas protagonizadas por Pimpo: Nas HQs “Pimpo Guloso” e “Pimpo na festa de aniversário”, o personagem é representado junto aos membros de sua família, com destaque para a mãe,

o pai, a madrinha e o primo, seu companheiro nas traquinagens. Nas HQs “Pimpo guloso” e “Pimpo na Festa de Aniversário”, Pimpo é representado entre amigos brancos e seu primo de pele mais clara. Nesse sentido, parece haver uma intenção da revista em mostrar um cenário brasileiro multirracial e relações harmoniosas entre as diferentes etnias representadas nestas HQs, na perspectiva da democracia racial, discurso recorrente naquela época sobre as relações étnico-raciais no Brasil.

Pimpo no Circo

Na HQ "Pimpo no circo”, o primeiro quadrinho descreve o protagonista como “um negrinho moleque, de cabelo encarapinhado, nariz achatado, que gosta muito de circo”.

Fonte: Acervo do Projeto Cacique

Figura 1 Pimpo no Circo, p. 19, primeiro quadro 

Pode-se observar, na imagem anterior, que tanto o texto verbal como o imagético reduzem o personagem Pimpo à sua diferença física, representado de forma estereotipada e estigmatizada pela cor preta, olhos esbugalhados e lábios proeminentes. Nesta primeira imagem, o cabelo crespo não aparece, encoberto pelo uso do chapeuzinho branco.

Quanto a representação textual como “negrinho”, bastante frequente na sociedade brasileira, vale sublinhar que nem sempre significa um tratamento carinhoso; pelo contrário, frequentemente é uma expressão do olhar branco que inferioriza o outro negro. Segundo Hall (2006), estes estereótipos raciais constituem o que podemos chamar de “um regime racializado de representação”, que têm persistido nos repertórios de representação de pessoas negras e atravessado os séculos XX e XXI.

Segundo Gládis Kaercher (2010), educa-se por um conjunto de discursos que marcam os corpos com ideias específicas de raça e cor que constituem o que é ser branco ou negro na sociedade brasileira. De acordo com a autora, essas pedagogias da racialização são demarcadas por traços visíveis como a cor da pele, o cabelo e traços fenotípicos como largura do nariz e espessura dos lábios.

Quanto ao roteiro, como em todas as demais histórias do “Pimpo” e das histórias em quadrinhos ficcionais da Cacique, o humor é o motor da narrativa, geralmente desencadeado pela surpresa na resolução do nó central da trama. Pimpo é representado como um apreciador de circo, que se alegra com a chegada de uma companhia na localidade, o que o mobiliza a não querer perder nenhuma sessão. “Dia após dia, ele vai deixando na bilheteria o seu dinheirinho”. No dia da última apresentação, Pimpo está “sem um centavo” e “procura um meio de resolver a situação”. Posto o conflito central da narrativa, o protagonista busca soluções: pedir dinheiro ao pai, pedir ao bilheteiro que o deixe entrar de graça, tentar entrar por um rasgão na lona... sem sucesso. Uma alternativa, então, lhe é oferecida: “O homem propõe a Pimpo o seguinte: ganhará vinte cruzeiros e, ainda, assistirá ao espetáculo, se vestir uma pele de leão, para fazer o papel de fera”. Aceito o estratagema - que certamente terá surpreendido os pequenos leitores da revista - o novo desafio de Pimpo fantasiado de leão, para além das cabriolas que faz para delícia do público, é encontrar outra fera, que “vai chegando... chegando... e...” lhe pergunta: “ - Você também está ganhando vinte cruzeiros?”. O humor emerge da situação inesperada, mas é cortado pela lição de moral explícita:

“A lição foi de mestre!!... Desta vez, Pimpo sofreu um bocado... mas aprendeu que é muito melhor trabalhar e economizar um dinheirinho para, quando chegar o Circo, vestir roupa de guri, comprar a entrada, sentar-se comodamente, ser espectador que aplaude, do que esconder-se na pele do leão.”

Fonte: Acervo do Projeto Cacique

Figura 2 Pimpo no Circo, p. 21, quadros 12, 13, 14 e 15 

Na Figura 2, acima, destaca-se que o papel designado para Pimpo no circo, de vestir-se como um leão, pode ser interpretado dentro de uma rede discursiva mais ampla gerada pelo colonialismo, dos discursos de animalização do “outro”, em que o colonizado era representado como selvagem e associado à natureza. Ella Shohat e Robert Stam sublinham que o processo de animalização do outro negro visava a naturalizar as diferenças étnico-raciais, conforme segue:

O processo de animalização faz parte do mecanismo mais amplo e difuso da naturalização, ou seja, a redução do elemento cultural ao biológico, associando assim o colonizado a fatores vegetativos e instintivos em vez de associá-lo a aspectos culturais e intelectuais. (SHOHAT & STAM, 2006, p. 2001).

Ademais, a associação indireta do personagem Pimpo a um animal “legítimo rugidor das selvas africanas” revela uma visão estereotipada e preconceituosa da África, construída no imaginário europeu como um continente marcado por “barreiras” naturais, particularmente, pelas selvas impenetráveis, habitadas por animais perigosos e tribos selvagens.

Pimpo Guloso

Já no número seguinte da revista, 4, o personagem retorna na história “Pimpo guloso”. Na situação inicial da trama, o menino está brincando, quando é chamado por sua mãe. “Foi ver o que era, já meio desconfiado, pois todo preguiçoso tem medo de trabalho”. Sua mãe fizera um doce de figo e lhe pede para levá-lo à sua madrinha. A vontade de comer o doce é grande e Pimpo, de forma engenhosa e inconsequente, vai comendo um a um os figos, de tal forma que só lhe resta “entregar o presente assim mesmo” (só calda) para a madrinha. Descoberto o acontecido, além de uma possível reprimenda da mãe - representada visualmente pelo dedo materno em riste, Pimpo passa mal e, mais uma vez, a lição de bom comportamento vem expressa: “E aí está no que deu a gulodice. Pimpo quase teve uma indigestão e passou vários dias de cama, tomando remédios.” As representações e significados atribuídos ao menino negro Pimpo na HQ “Pimpo guloso” remetem às representações racializadas de animalização do outro, cujos instintos incontroláveis de comer o aproximam dos animais e da natureza e lhe subtraem humanidade. Essas representações racializadas de pessoas negras como animais são frequentes em vários outros artefatos culturais e em espaços de lazer como no futebol, em que insultos racistas como “macaco” são atribuídos às pessoas negras.

No entanto, observa-se certa ambiguidade nas representações do personagem Pimpo, que simultaneamente é humanizado e apresentado convivendo com sua família3 nas histórias do “Pimpo no Circo” e do “Pimpo Guloso”, em que a presença do pai e da mãe está associada às tentativas de educá-lo e discipliná-lo, por meio de conselhos e recomendações, mesmo que suas imagens, particularmente a da mãe, ainda recorram a repertórios estereotipados.

Pode-se observar nos quadrinhos 3, 4 e 5, na Figura 3, a mãe de “Pimpo” ora representada de forma fragmentada, apenas pelo seu torso e pelos braços e a mão que segura uma colher e que mexe o doce em uma vasilha rústica, naturalizando-a como cozinheira (quadrinho 3), ora representada vestindo roupas simples e um turbante (quadrinho 4), que contribuem para reforçar a simplicidade e a rusticidade da mulher negra. Por último, sublinha-se que, assim como nas representações racializadas de Pimpo, ela também é reduzida aos significantes de sua diferença física - cor preta, olhos esbugalhados e lábios grossos.

Fonte: Acervo do Projeto Cacique

Figura 3 Pimpo guloso, p. 26, quadros 3, 4 e 5 

Para Hall, as representações racializadas de mulheres negras seguiram a tradição das Mammie do cinema norte-americano, que reduziram a mulher negra ao papel de doméstica e que naturalizam sua condição subalterna, como se fosse um atributo inato de todas as mulheres negras. Eram frequentemente representadas vestindo avental e turbante e associadas à cozinha e a utensílios, tais como fogão e panelas, essencializadas como cozinheiras.

Importante problematizar, ainda, na história “Pimpo Guloso”, a representação textual do personagem como “preguiçoso” e avesso ao trabalho. De acordo com Stuart Hall, a diferença étnico-racial durante a escravidão se dava em torno de dois temas: o primeiro era o status subordinado e a “preguiça inata” dos negros, naturalmente nascidos para a servidão. O segundo era o inato “primitivismo” dos negros, sua simplicidade e falta de cultura. Entretanto, observa- se que na trama narrativa de "Pimpo guloso", a “preguiça” é, de certa forma, relativizada, quando o personagem atende ao pedido da mãe para levar o doce de figo à casa da madrinha.

Pimpo Valente

No número 4 da revista, o personagem volta em "Pimpo Valente", que inicia com uma caracterização que ridiculariza o menino negro: "Certo dia, conversando com os amigos, Pimpo vangloria-se de ser muito corajoso e de não ter medo de nada", a que se segue uma exemplificação das histórias fantasiosas por ele contadas.

Fonte: Acervo Projeto Cacique

Figura 4 Pimpo valente, p. 1, quadro 1 

Nesta imagem, observa-se entre os amigos de Pimpo, a presença de outro personagem negro, seu primo Nando, igualmente representado de forma racializada, com olhos esbugalhados, lábios grossos e cabelo crespo, somente a cor da pele é mais clara, uma referência imagética à miscigenação racial presente na sociedade brasileira.

Como sugere Sueli Carneiro (2011), a miscigenação racial vem dando suporte à ideia de tolerância racial, expressa nas imagens de Pimpo entre seus amigos brancos. No entanto, segundo a autora, “a miscigenação estabelecia uma hierarquia cromática de fenótipos, que tinha na base o negro retinto e no topo o branco” (p. 67) e, entre eles, uma categoria intermediária, composta pelos miscigenados de pele mais clara, que, de acordo com as categorias raciais oficiais do IBGE, é o pardo.

Na narrativa que segue, com sua coragem posta em dúvida pelos amiguinhos brancos, Pimpo submete-se a uma prova: entrar numa casa assombrada, onde, apesar do medo, “a curiosidade lhe dá coragem”. Uma cortina velha cai sobre Pimpo, que, assustado, sai a correr da casa, assustando também os amigos que “fogem aos gritos”. A peraltice é castigada pelas consequências do ato - Pimpo cai num buraco, se machuca, rasga a roupa, e ainda tem de ouvir sua mãe, que “passa-lhe um ‘carão’ e o faz prometer que não tornará a praticar ‘façanhas’”. Aqui novamente, o personagem menino negro é o “travesso”, enquanto os demais personagens meninos brancos são bem-comportados.

Fonte: acervo Projeto Cacique

Figura 5 Pimpo valente, p. 5, quadro 20 

Pimpo e a Festa de Aniversário

Na última aparição de Pimpo nas páginas da revista, no número 6, o protagonista retorna em “Pimpo e a festa de aniversário”, que assim inicia: “Pimpo, como toda criança, gosta de festas. E foi convidado para a comemoração do aniversário do primo Nando”. Enquanto as crianças “esperam a hora dos doces”, divertem-se com os pulos de uma rã. Nesta trama, não é o menino Pimpo que é o mais travesso, mas o personagem Nando, que coloca a rã no bolso do primo. Observa-se que também o primo Nando é representado como “muito arteiro”, enquanto as demais crianças brancas são comportadas.

Fonte: acervo Projeto Cacique

Figura 6 Pimpo e a Festa de Aniversário, p. 8, quadros 4 e 5 

De maneira um tanto previsível, a rã salta sobre a mesa e a perseguição, cheia de pequenos desastres, acaba com a fuga do batráquio pela janela, mas o bolo, os doces estão todos perdidos... E a história assim termina com a tradicional moral, agora mais sutilmente expressa: “E o primo Nando vê a festa terminada, como resultado de sua brincadeira de mau gosto”.

De forma geral, as histórias retratam travessuras infantis motivadas pela imprevidência, pela gula, pela presunção, pela inconsequência em um cenário de aparente harmonia e tolerância entre as diferentes etnias representadas nas imagens. Nas histórias do Pimpo, as traquinagens e trapalhadas são atribuídas aos personagens negro e pardo e são punidas e/ou são objeto de reprimendas e lições de moral de personagens adultos (a mãe) ou do narrador onisciente.

Considerações Finais

Considera-se que o estudo sobre as representações racializadas do personagem negro Pimpo nas histórias em quadrinhos contribui para o desvelamento de representações estereotipadas e preconceituosas do corpo negro em HQs e para a compreensão das implicações pedagógicas dessas representações racializadas na construção das subjetividades e identidades de crianças, particularmente, considerando-se que as revistas Cacique circularam em escolas, onde eram utilizadas como prêmios de rendimento escolar e eram assinadas por muitas famílias. Daí a dimensão educativa e pedagógica desta revista infantil, que contribuiu, especialmente através das imagens, para reforçar representações e preconceitos étnico-raciais prevalentes na sociedade daquela época.

Neste sentido, a análise empreendida pretendeu desconstruir e desnaturalizar as representações e pedagogias associadas ao corpo e ao comportamento do personagem negro Pimpo nas histórias em quadrinhos publicadas sobre esse personagem na revista infantil Cacique, por meio de recursos textuais e imagéticos.

Considera-se que as representações do personagem Pimpo nas HQs da Revista Cacique são marcadas por certa ambiguidade de significados e sentidos. Ora Pimpo foi inferiorizado, representado como “negrinho”, como preguiçoso, avesso ao trabalho e traquinas e, em outros momentos, aparentemente “integrado” entre amigos brancos e pardos, segundo as máximas da democracia racial prevalentes naquela época.

Por último, o artigo contribui também para demonstrar que não se aprende sobre raça e identidades étnico-raciais somente na escola, mas também por meio de diversos significados produzidos e disseminados na cultura em múltiplos artefatos culturais, entre eles, as histórias em quadrinhos; daí a importância de desconstruirmos seus textos e imagens.

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1Compartilha-se o entendimento de Grada Kilomba, quando sublinha que o termo negro está intimamente ligado à história colonial, e que para problematizá-lo opta por escrevê-lo em itálico e em letra minúscula.

2Em 1984, em comemoração aos 50 anos do lançamento dessa publicação, foi instituído pela Academia Brasileira de Letras e pela Associação Brasileira de Imprensa, que 14 de março seria o "Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos".

3Destaca-se que durante muito tempo a historiografi a brasileira negou a existência da família negra que foi representada como anômica e desorganizada. De certa maneira, nos quadrinhos brasileiros da primeira metade do século XX, esta questão também repercute, pois, conforme já mencionamos, o conhecido personagem menino negro de O Tico-tico – Azeitona – é o único que, no trio de amigos, não tem pai no universo fi ccional. No entanto, vale destacar, conforme sublinha Nilma Lino Gomes, que cada vez com mais frequência a família negra tem representado um espaço de valorização da cultura e da identidade negra e de preservação das memórias ancestrais, visando à construção da autoestima de identidades negras positivas.

Recebido: 27 de Agosto de 2021; Aceito: 16 de Novembro de 2021

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