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Contrapontos

versión On-line ISSN 1984-7114

Contrapontos vol.21 no.1 Florianopolis ene./dic 2021  Epub 20-Mayo-2022

https://doi.org/10.14210/contrapontos.v21n1.p148-168 

Artigos

EPISTEMOLOGIA DA PRÁTICA: ANÁLISE DA PRODUÇÃO ACADÊMICA EM TESES E DISSERTAÇÕES BRASILEIRAS

EPISTEMOLOGY OF PRACTICE: ACADEMIC PRODUCTION ANALISIS IN BRAZILIAN THESES AND DISSERTATIONS

EPISTEMOLOGÍA DE LA PRÁCTICA: ANÁLISIS DE LA PRODUCCIÓN ACADÉMICA EN TESIS Y DISERTACIONES BRASILEÑAS

Luiz Gustavo Bonatto Rufino1 

Samuel de Souza Neto1 

1Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Rio Claro, SP, Brasil.


Resumo:

Atualmente, há muitas conceituações concernentes ao conceito de epistemologia, à exemplo do constructo denominado “Epistemologia da Prática”. Embora em muitos contextos haver maior utilização de tal conceito, poucos estudos demonstram como tem sido sua utilização no campo científico, isto é, qual tem sido o estado da arte na análise dessa conceituação. Assim, objetivamos analisar o estado da arte das produções acadêmicas que abordam o conceito de Epistemologia da Prática em teses e dissertações publicadas no Brasil, buscando compreender os aspectos quantitativos e qualitativos a esse respeito, no decorrer do recorte temporal de 1999 até 2018, baseado no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Os resultados da análise de um total de 98 trabalhos encontrados permitem concluir que a perspectiva da Epistemologia da Prática tem apresentado certa inserção no âmbito das pesquisas na pós-graduação brasileira, especialmente na última década, o que ilustra a proeminência da abordagem desse conceito atualmente. Apesar disso, é fundamental que haja análises criteriosas acerca de suas potencialidades e limitações, bem como considera-se importante haver investimento maior na fundamentação teórica que subsidie os trabalhos de modo mais apropriado.

Palavras-chave: Epistemologia; Prática; Estado da Arte

Abstract:

Currently, there are many concepts concerning to the concept of epistemology, such as the construct called “epistemology of practice”. Although in many contexts there has been greater use of this concept, few studies demonstrate how it has been used in the scientific field, that is, what the state of art has been in the analysis of this concept. Thus, we aim to analyze the state of art of academic productions that address the concept of Epistemology of Practice in theses and dissertations published in Brazil, seeking to understand the quantitative and qualitative aspects in this regard during the period from 1999 to 2018, based on the Catalog of Theses and Dissertations from CAPES. The results of the analysis of a total of 98 studies found allow us to conclude that the perspective of the epistemology of practice has shown some insertion in the scope of research in Brazilian graduate studies, especially in the last decade, which illustrates the prominence of the approach to this concept. currently. Despite this, it is essential that there are careful analyzes about their potentials and limitations, as well as it is considered important to have greater investment in the theoretical foundation that supports the work in a more appropriate way.

Keywords: Epistemology; Practice; State of Art

RESUMEN:

Actualmente, existen muchos conceptos relacionados con el concepto de epistemología, como el constructo denominado “epistemología de la práctica”. Si bien en muchos contextos ha habido un mayor uso de este concepto, pocos estudios demuestran cómo se ha utilizado en el campo científico, es decir, cuál ha sido el estado del arte en el análisis de este concepto. Así, buscamos analizar el estado del arte de las producciones académicas que abordan el concepto de Epistemología de la Práctica en las tesis y disertaciones publicadas en Brasil, buscando comprender los aspectos cuantitativos y cualitativos al respecto durante el período de 1999 a 2018, con base en del Catálogo de Tesis y Disertaciones de CAPES. Los resultados del análisis de un total de 98 trabajos encontrados permiten concluir que la perspectiva de la epistemología de la práctica ha mostrado cierta inserción en el ámbito de la investigación en los estudios de posgrado brasileños, especialmente en la última década, lo que ilustra el protagonismo del enfoque a este concepto. A pesar de ello, es fundamental que existan análisis cuidadosos sobre sus potencialidades y limitaciones, así como también se considera importante tener una mayor inversión en la base teórica que sustenta el trabajo de una manera más adecuada.

Palabras clave: Epistemología; Práctica; Estado del arte

Introdução

Dentro do campo acadêmico, nos últimos anos, tem sido empregado, de modo cada vez mais preponderante, conceituações diversificadas para as definições e significações no que corresponde ao conceito de “epistemologia”. Com efeito, a multiplicidade com que o emprego de tal termo tem sido evidenciado demonstra alguns apontamentos. De um lado, isso pode significar uma preocupação teórico-conceitual com a produção do conhecimento frente a conceitos filosóficos basilares, tal qual é a epistemologia. Por outro lado, o uso irrestrito e ampliado pode significar certo esgarçamento conceitual, bem como certa pulverização com baixa preocupação semântica e epistemológica.

Nesse sentido, pode-se evidenciar que o uso do termo “epistemologia” tem sido acompanhado de muitos complementos, a exemplo de “epistemologia da vida”, “epistemologia da saúde”, “epistemologia da prática”, “epistemologia da ciência”, “epistemologia da religião”, entre muitos outros. Em suma, tal emprego pode ser carregado de armadilhas semânticas, embora também possa servir para delimitar certos constructos teóricos bem delineados e específicos.

Frente a essa problemática, temos como eixo central, no presente estudo, investigar o aporte teórico-conceitual de uma forma específica de compreensão e emprego do termo “epistemologia”, ligado à conceituação de prática profissional. No campo das ciências humanas e sociais e também no campo educativo e da formação profissional, esse conceito tem sido cada vez mais encontrado em produções científicas nacionais e internacionais. Investigar como tal conceituação tem sido apresentada pelo campo acadêmico brasileiro é o foco desta pesquisa.

Assim, pode-se considerar que, dentro do paradigma da pesquisa científica, o termo epistemologia, segundo Sánchez Gamboa (2014, p. 250-251, grifo do autor) é empregado para se compreender o polo de análise, bem como o nível de articulação lógica “das técnicas, métodos e teorias e que se refere às concepções de ciência, aos critérios de validade e de rigor da prova, (...) que se identifica, também, com os pressupostos epistemológicos que definem e diferenciam as diversas abordagens teórico-metodológicas utilizadas na pesquisa científica”. Em suma, em sua raiz, a epistemologia congrega sua forte vinculação com a fundamentação do conhecimento científico em diferentes momentos históricos.

Nesse mesmo panorama, Japiassu (1991) considera que a epistemologia pode ser considerada o constructo dedicado ao estudo sobre a ciência dentro do campo da filosofia da ciência, de modo a investigá-la dentro de constructos metódicos e reflexivos sobre o saber, sua organização, formação, desenvolvimento e funcionamento. Ainda segundo o autor, há certa ambiguidade no estatuto da epistemologia, uma vez que ela encontra, no campo filosófico, seus princípios elementares, embora seu objeto esteja vinculado ao campo científico.

Japiassu (1991) estabelece um programa analítico no qual procurou aprofundar essa compreensão paradoxal da epistemologia, tanto para a Filosofia, quanto para a Ciência. Como síntese, o autor afirma que se trata de um conceito plural e polissêmico, o qual pode ser considerado como um conceito flexível, uma que vez é considerado também um meio de se “estudar a gênese e a estrutura dos conhecimentos científicos” (JAPIASSU, 1991, p. 38).

Todavia, de acordo com Tardif (2012), tal perspectiva a respeito da visão de epistemologia ligada à teoria e o estudo da ciência e do conhecimento científico foi se modificando historicamente, se afastando da demarcação entre o que é ou não ciência e se aproximando dos estudos relacionados aos conhecimentos comuns oriundos da etnometodologia, do interacionismo simbólico, da sociologia cognitiva, entre outros. Segundo o autor, desde a década de 1960, houve o esfacelamento das concepções mais ortodoxas sobre o conceito de epistemologia, a partir da abertura das compreensões que o relacionava aos saberes cotidianos, vinculados ao senso comum. Nesse sentido, foi ganhando cada vez mais proeminência a constituição epistemológica dos conhecimentos das diversas profissões, ou seja, relacionados ao desenvolvimento da prática dos profissionais de diferentes áreas de atuação. É dentro desse paradigma que o conceito de Epistemologia da Prática se insere.

Schön (2000), ao analisar a prática profissional, faz uma analogia pertinente: para o autor, trata-se de um “terreno pantanoso”, pois embora as dificuldades mais superficiais possam apresentar respostas oferecidas pelos conhecimentos de ordem científica, os problemas mais profundos são caóticos e confusos e requerem outras estruturas analíticas para sua resolução. Trata-se, de acordo com o autor, das Zonas Indeterminadas de Prática (ZIP), que escapam dos cânones da racionalidade técnica científica. Dessa forma, a análise da prática profissional deve ser composta por aquilo que o autor denomina de racionalidade prática, apresentada como um outro paradigma compreensivo em oposição à lógica da racionalidade técnica. Nessa perspectiva, a prática pode ser compreendida como um complexo contexto de formação, construção e reflexão de saberes, a partir da competência, do talento artístico e da capacidade de reflexão. Inserida em um processo, de certa maneira, artístico e intuitivo, composto pelo “hábil fazer” do praticante reflexivo, as compreensões científicas tornam-se muito limitadas quando inseridas em instáveis contextos de incerteza, singularidade e conflito de valores (SCHÖN, 2000). Nesse sentido:

Essas zonas indeterminadas da prática - a incerteza, a singularidade e os conflitos de valores - escapam aos cânones da racionalidade técnica. Quando uma situação problemática é incerta, a solução técnica de problemas depende da construção anterior de um problema bem-delineado, o que não é, em si, uma tarefa técnica. Quando um profissional reconhece uma situação como única não pode lidar com ela apenas aplicando técnicas derivadas de sua bagagem de conhecimento profissional. E, em situações de conflito de valores, não há fins claros que sejam consistentes em si e que possam guiar a seleção técnica dos meios. (SCHÖN, 2000, p. 17).

A partir dessa perspectiva, novos contornos ao conceito de epistemologia podem ser arrolados. Nesse sentido, houve uma ampliação considerável na utilização de conceitos, tais como os da Epistemologia da Prática, nas mais diversas áreas e campos de atuação. Tais acepções passaram a ser cada vez mais encontradas, a exemplo dos apontamentos de Lira e Sarmento (2016), que consideram conceitos como de “profissional reflexivo” e de “epistemologia da prática”, cada vez mais empregados. Ao analisarem minunciosamente obras que tangenciam tais conceituações, as autoras assinalam que essas perspectivas não buscam esvaziar ou desprezar o conhecimento teórico, mas atrelá-lo à relação entre teoria e prática e suas interrelações na produção de saberes (LIRA; SARMENTO, 2016).

Embora o conceito de Epistemologia da Prática (e de Epistemologia da Prática Profissional) tenha ganhado projeção nas últimas décadas, - tanto no Brasil, quanto em outras localidades do mundo - não se tem, ainda, muitos estudos que procuraram inventariar e analisar as produções acadêmicas a esse respeito, bem como suas implicações, impactos e constructos investigados. Dessa forma, torna-se fundamental que se possa compreender a produção acadêmica dentro desse viés vinculado ao conceito de Epistemologia, o qual pode contribuir com o desenvolvimento científico de inúmeras áreas distintas.

Tendo em vista tal problemática, objetiva-se, com o presente estudo, analisar o estado da arte das produções acadêmicas que abordam o conceito de Epistemologia da Prática em teses e dissertações publicadas no Brasil, buscando compreender os aspectos quantitativos e qualitativos a esse respeito no decorrer do recorte temporal de 1999 até 2018, baseado no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

MÉTODOS

Tendo em vista os objetivos do presente estudo, buscou-se estabelecer uma análise do estado da arte dentro do recorte de investigação proposto, a saber: as investigações acadêmicas de teses e dissertações que tangenciam o conceito de Epistemologia da Prática. Portanto, trata-se de uma pesquisa de cunho exploratório e natureza fundamentalmente quantitativa e qualitativa, feita por meio da análise de dados estabelecida.

Nesse sentido, a investigação baseia-se em uma revisão sistemática de literatura, objetivando compreender a produção acadêmica, a respeito do foco de estudo, a partir do recorte temporal estabelecido (de 1999 até 2018). O presente recorte se justifica, já que, na base de dados utilizada, os primeiros estudos datam o ano de 1999. Por outro lado, os últimos trabalhos disponíveis respondem ao ano de 2018 (uma vez que entre a defesa de uma tese, ou dissertação e sua publicação no banco de teses e dissertações pode haver certo atraso, principalmente, para a leitura dos textos completos, em alguns casos). Assim, tratam-se das datas de início do primeiro trabalho encontrado sobre o tema da Epistemologia da Prática, até o ano em que aparecem os últimos trabalhos publicados até o presente momento.

Tendo em vista tal constructo teórico, pode-se denominar esta investigação de uma pesquisa do tipo estado da arte, a qual, de acordo com Ferreira (2002), busca apresentar um caráter bibliográfico, caracterizando-se, principalmente, como uma forma de mapear e discutir a produção acadêmica de uma determinada área, tentando responder quais aspectos ou dimensões estão sendo mais destacadas e privilegiadas em diferentes épocas e lugares. Ainda, segundo a autora, esse tipo de estudo busca compreender de que forma e em que condições estão sendo produzidos trabalhos de caráter acadêmico, tais como dissertações de mestrado, teses de doutorado, artigos científicos, trabalhos publicados em anais de eventos, entre outros (FERREIRA, 2002).

No caso aqui proposto, o delinemanento e o recorte de estudo buscaram investigar especificamente o estado da arte sobre o tema da Epistemologia da Prática, a partir de teses e dissertações publicadas em língua portuguesa, em programas de pós-graduação validados e reconhecidos institucionamente no Brasil. Consideramos que os trabalhos em nível de pós- graduação correspondem à uma parcela muito importante da produção do conhecimento científico, podendo ilustrar, de modo apropriado e representativo, como esse tema tem sido abordado e desenvolvido dentro do recorte empreendido. Além disso, tais trabalhos costumam abordar, de forma aprofundada e criteriosa seus objetos de estudo, a fim de que possam possibilitar um bom panorama acerca de determinado assunto, a partir de critérios e recortes específicos.

Em termos metodológicos, a presente pesquisa foi realizada no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, atualmente a maior base de dados e de informações sobre os trabalhos defendidos no âmbito da pós-graduação no país. Outrora denominado “Banco de Teses e Dissertações da CAPES”, o atual sistema, com a denominação de “catálogo”, busca congregar os trabalhos publicados pelos programas de pós-graduação no país de forma mais robusta e com uma ampliação no armazenamento dos dados referentes às teses e dissertações defendidas no Brasil.

Além disso, a busca foi complementada pela pesquisa na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD). No entanto, destaca-se que os trabalhos encontrados na BDTD estavam também no Catálogo da CAPES, de forma que se evitou a sobreposição de estudos, analisando individualmente cada uma. A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

- BDTD foi desenvolvida e é coordenada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e integra os sistemas de informação de teses e dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa do Brasil, fomentando, ainda, o registro e a publicação de teses e dissertações em meio eletrônico.

Em termos de índice de busca, optou-se por pesquisar o termo “Epistemologia da Prática”, mantendo-o entre aspas, a fim de analisar o conceito exato dessa terminologia, sem palavras adjacentes. Assim, no catálogo CAPES, foi encontrado um total de 169 trabalhos cujo resultado esteve relacionado ao objeto de busca (a pesquisa no BDTD resultou em um total de 128 estudos, sendo que todos já estavam inseridos no catálogo CAPES). Após a leitura atenta dos títulos de todos os trabalhos, bem como das palavras-chaves e resumos, o corpus de investigação da presente pesquisa culminou em um total de 98 teses e dissertações, que serão aprofundadas a seguir. Cabe salientar que todos os trabalhos encontrados estão disponíveis integralmente para acesso no referido banco. Trabalhos cujos autores limitaram os acessos ou postergaram a publicação, não foram considerados.

Para a análise dos estudos utilizaram-se procedimentos e técnicas de pesquisa advindos da Análise de Conteúdo, segundo orientações de Bardin (1991). Em um primeiro momento, realizou-se uma análise de cunho quantitativo, buscando averiguar dados advindos dos trabalhos investigados que pudessem oferecer o panorama do estado da arte da temática analisada. Nesse momento, colocou-se em evidência o máximo possível de análises, que pudessem elucidar o estado da arte proposto, a exemplo da quantidade de trabalhos, regiões de desenvolvimento, diferenciação de autores entre homens e mulheres, áreas de conhecimentos e de avaliação, programas, orientadores, além de outros dados, que foram possíveis a partir das análises dos manuscritos.

Em um segundo momento, buscou-se empreender em uma análise de cunho qualitativo, compreendendo as especificidades e categorizações temáticas dos trabalhos investigados, analisando-se a interface da produção e divulgação científica vinculada ao conceito de Epistemologia da Prática no Brasil dentro do recorte investigado. Averiguaram- se as conceituações, definições e apropriações de tal conceito, os autores mais encontrados e que atuam como fundamentação teórica mais evidente, as lacunas no referido campo, os direcionamentos futuros ainda possíveis, etc. Todos os dados podem ser compreendidos na seção de Resultados e Discussão, a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em um primeiro momento, a análise esteve apoiada na pesquisa realizada por Silva (2014), que avaliou, de modo semelhante, trabalhos publicados no Brasil sobre o tema da “Epistemologia da Prática”, tanto em teses e dissertações, quanto em periódicos científicos. A autora encontrou em sua busca um total de 43 pesquisas, sendo 23 artigos científicos, 15 teses e cinco dissertações, dentro do recorte temporal de 1996 até 2013.

De posse desses dados, Silva (2014) sintetiza suas análises, considerando que as áreas de estudo que mais tem investigado a abordagem da Epistemologia da Prática tem sido a Educação (com um total de 29 estudos) e a Educação Física (com quatro trabalhos). Além desses domínios, diversas outras áreas investigam esse assunto, a exemplo da arquitetura, matemática, entre outras. Apesar disso, a autora alerta que boa parte dos estudos apenas faz certa “menção” ao termo, sem desenvolver uma perspectiva conceitual mais elaborada. Há também certa diversidade de autores mencionados para fundamentar a perspectiva da Epistemologia da Prática no corpo dos trabalhos analisados, embora haja uma proeminência na referência da perspectiva defendida pelo pesquisador canadense Maurice Tardif (SILVA, 2014).

A partir de recorte de pesquisa do presente estudo, dividiu-se a seção de resultados e discussão do trabalho em dois eixos: o primeiro, centralizando-se os aspectos analíticos mais quantitativos e o segundo, cujo foco se deu a partir da análise mais qualitativa. Cada um será apresentado separadamente a seguir.

A Epistemologia da Prática em teses e dissertações brasileiras: análise quantitativa

A análise quantitativa possibilitou empreender um mapeamento acerca de como o conceito de Epistemologia da Prática tem sido construído nos trabalhos monográficos analisados, possibilitando, assim, gerar um diagnóstico que ajudasse na tessitura do estado da arte. Dessa forma, os dados coletados puderam gerar alguns indicadores (percentuais, números totais, comparações, etc.) que foram fundamentais na compreensão da análise, permitindo atingir o objeto geral deste estudo.

Um primeiro aspecto que merece destaque se refere à diferença de trabalhos de dissertação de mestrado e de teses de doutorado correspondentes à abordagem do tema da Epistemologia da Prática. Do total de 98 trabalhos monográficos (teses e dissertações) encontrados - correspondentes aos critérios de inclusão desta pesquisa e utilizados como corpus investigativo da análise do estado da arte -, houve a divisão dos dados apresentados na Figura 1.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 1 Caracterização por tipo de trabalho de pós-graduação e seus respectivos valores correspondents 

Do total de 98 trabalhos analisados que abordavam, de alguma forma, a temática da Epistemologia da Prática, compreende-se que 54 (o que corresponde à 55% do total) se referiam a dissertações de mestrado acadêmico, 40 (correspondente à 41% do total) eram teses de doutorado e quatro (4%) estavam relacionados a dissertações de mestrado profissional. Esses dados podem ser compreendidos na Figura 1, relacionada ao gráfico representativo da caracterização dos estudos investigados.

Dessa forma, épossívelconsiderarquea maior partedostrabalhos se referemadissertações de mestrado acadêmico, fato que pode ser justificado, uma vez que há, proporcionalmente, mais dissertações defendidas (em número absoluto) do que teses no Brasil. Chama a atenção, no entanto, um número considerável de teses que também abordam o tema, o que indica que, de alguma forma, tanto as dissertações, quanto as teses analisam o conceito de Epistemologia da Prática. Em todos os trabalhos analisados, tal conceito aparece no título, no resumo, ou nas palavras-chave, porém, em alguns trata-se de um conceito periférico, abordado juntamente com outros nos estudos, enquanto que em outros tem-se tal conceituação como central na fundamentação teórica e na análise dos trabalhos. Finalmente, cabe destaque aos trabalhos de mestrado profissional, os quais, embora ainda pequenos em quantidade, indicam também que a ideia de Epistemologia da Prática pode ser um tema proeminente em trabalhos aplicados em contextos de intervenção profissional.

Outro dado que se procurou investigar, ainda em termos de caracterização geral, refere- se ao número de trabalhos monográficos analisados e sua proporção de autoria, em termos de homens ou mulheres que os produziram. Assim, foram encontrados 72 trabalhos (entre teses e dissertações), realizados por mulheres (73% do total) e 26 por homens (27% do total). Esse dado parece interessante, uma vez que, apesar do número de mulheres inclinar-se a parecer proporcionalmente maior do que o de homens na pós-graduação brasileira, especialmente em determinadas áreas, em outras, o número de homens ainda é proporcionalmente superior (a exemplo das denominadas ciências duras).

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 2 Diferenciação de sexo na produção científica sobre Epistemologia da Prática na pós-graduação brasileira 

De acordo com dados recentes, a maior participação feminina em cargos docentes está relacionada a áreas ligadas à ideia de “cuidado”, tal como educação, nutrição, enfermagem, psicologia, saúde coletiva e serviço social (FOLHA DE SÃO PAULO, 2021). Não de outro modo, tais áreas são as que congregam a maior parte dos estudos sobre Epistemologia da Prática, fato que indica a maior proeminência feminina nesse cenário. Um exemplo envolve os domínios de investigação científica mais voltados aos processos educativos (cujos estudos sobre Epistemologia da Prática estão mais relacionados, conforme serão analisados a seguir), no qual há certa predominância da autoria de mulheres que estão debruçadas na investigação sistemática e científica sobre essa temática. Cabe salientar, ainda, que, embora as mulheres sejam maioria entre estudantes de pós-graduação, elas ainda são minoria entre o número total de docentes nas instituições com cursos de pós-graduação, o que se apresenta como uma lacuna que precisa ser superada (FOLHA DE SÃO PAULO, 2021).

Em termos da análise por programas e áreas de conhecimento, como já foi aqui destacado, há a proeminência de estudos na área da Educação (e outras licenciaturas). A Figura 3 apresenta o gráfico representativo dessa questão.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 3 Divisão dos estudos por programas de pós-graduação e áreas de conhecimento 

A partir desses dados, pode-se compreender que aproximadamente 75% dos trabalhos analisados referem-se aos programas direcionados à área da Educação (seja de “Educação” propriamente dito, seja correlacionado, a exemplo de “Educação Escolar”, “Educação Contemporânea”, “Educação, Arte e História”, etc.). A Educação Física vem como área que apresenta o segundo maior número de trabalhos, embora com quantidade bastante inferior à encontrada nos estudos sobre educação (7,15% do total). Apesar disso, cabe salientar que alguns estudos desenvolvidos com a temática da Educação Física (mais precisamente dois) estiveram lotados em programas da área da Educação e afins. Ressalta-se, ademais, a quantidade de áreas e programas que vem se apropriando do tema da Epistemologia da Prática, sendo um total de 20 com, ao menos, um trabalho sobre essa temática.

Conforme já salientado, a grande maioria dos programas com estudos sobre Epistemologia da Prática está relacionada com o campo educativo. Tal fato apresenta uma herança histórica, uma vez que os estudos basilares sobre tal conceito têm sido desenvolvidos e abordados de modo mais sistemático por autores e referenciais da Educação brasileira, há algumas décadas, fato que se apresenta como um importante enlace nesses campos, possibilitando maior representatividade de estudos e pesquisas nessas áreas, em detrimento de outras.

Chama a atenção, por outro lado, a pouca representatividade de trabalhos encontrados em áreas clássicas, tais como sociologia, psicologia e, sobretudo, filosofia. O baixo número de estudos que abordam a temática da Epistemologia da Prática encontrados nesses campos, que, há muito tempo, abordam diferentes perspectivas a respeito do conceito mais amplo de epistemologia, incitam alguns questionamentos. De que forma a pós-graduação, dentro dessas grandes áreas (filosofia, sociologia e psicologia) compreendem e abordam a ideia da temática de Epistemologia da Prática? Ao que tudo indica, devido a sua baixa expressividade, trata-se de uma temática “marginal”, cuja ênfase não tem sido desenvolvida de modo mais consolidado.

Portanto, no que se refere às áreas de conhecimento, pode-se concluir que o conceito de Epistemologia da Prática está bastante arraigado aos campos ligados às ciências da educação e suas áreas correlatas, que têm procurado desenvolver a ideia de saberes, que emergem de diferentes situações práticas e que, por isso, operam em uma ruptura paradigmática, como lembra Schön (2000). Nesse contexto, não se trata de aplicar conhecimentos científicos dentro das práticas profissionais e outros campos de intervenção social, crítica denominada pelo autor de visão “aplicacionista”. Trata-se de reconhecer os saberes que emergem das práticas em situações de singularidade e conflito de valores e que requerem a reflexão sobre a prática, como eixo fundante para seu desenvolvimento e aprimoramento. À medida que campos teóricos como a filosofia, a sociologia e a psicologia se distanciam dessa perspectiva, não é possível compreender em que medida tal perspectiva pode ser considerada dentro dessas áreas, que poderiam contribuir muito com análises, críticas e desenvolvimento de visões que auxiliassem na perspectiva da Epistemologia da Prática, ao longo do tempo.

Com relação à divisão do recorte temporal analisado, o primeiro trabalho publicado e disponibilizado pelo Catálogo CAPES apresenta a data de 1999 e o último, 2018. Apesar dos dados dos trabalhos estarem contidos on-line no catálogo - o que tornou possível, tanto a busca, quanto a análise dos estudos -, boa parte deles (sobretudo os publicados até a primeira metade dos anos 2000) não estava disponibilizada completamente para leitura, de todo o corpo do texto. Além disso, é possível que diferentes programas e mesmo autores e orientadores, individualmente, demorem certo tempo entre as defesas dos trabalhos e sua homologação e consolidação no referido banco de dados, de modo que, futuramente, outros estudos possam vir a ser implementados por diferentes programas e devem abordar essa temática. Contudo, por meio dos títulos, palavras-chave e resumos, foi possível proceder à análise. A Figura 4 apresenta o gráfico da produção sobre Epistemologia da Prática em teses e dissertações, ano a ano, de acordo com o recorte realizado.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 4 Gráfico do recorte temporal dos trabalhos analisados ano a ano e suas respectivas quantidades de estudos correspondentes 

Com relação ao desenvolvimento de pesquisas em nível de pós-graduação, sobre a Epistemologia da Prática, desde o primeiro trabalho (1999) encontrado, considerou-se que, em todos os anos, ao menos uma produção a respeito desse tema foi defendida no Brasil, com exceção do ano de 2002, sendo a média de trabalhos defendidos por ano superior à cinco teses e/ou dissertações. Além disso, percebe-se uma tendência de crescimento (embora não linear), a partir de meados da década de 2000, sobretudo entre os anos de 2007 até 2015 (cuja média chega à 7,77 trabalhos publicados por ano), com exceção do ano de 2010 (com apenas três estudos). Nos últimos anos, a produção tem se mantido estável, embora a tendência seja de uma pequena queda, com relação aos trabalhos defendidos, sobretudo no último biênio analisado, fato que pode ser explicado pela demora com que alguns programas tem em consolidar os trabalhos completos no banco de dados analisado, ou mesmo autores ou orientadores, que protelam por períodos de até dois anos o acesso aos textos completos de suas monografias, para fins de poder publicá-las em outros veículos antes do término desse período. Nesse sentido, é possível que nem todos os trabalhos do ano de 2018 tenham sido computados ainda, uma vez que, por se tratar de um ano recente, não se sabe até que ponto o catálogo se apropria dos trabalhos defendidos nos últimos meses, ou se há certa demora nesse processo.

Tanto o gráfico com relação ao número de trabalhos publicados por ano, quanto o correspondente às áreas de conhecimento e programas, demonstram que a temática da Epistemologia da Prática tem se ampliado enquanto objeto de estudo e investigação científica na pós-graduação brasileira, apesar de ser ainda uma quantidade pouco representativa do total de trabalhos produzidos no Brasil. Essa tendência de crescimento está fortemente relacionada com uma série de fatores, a exemplo do aumento da produção acadêmica a respeito desse tema e maior inserção de alguns trabalhos internacionais no contexto brasileiro (sobretudo de autores como Donald Schön e Maurice Tardif), apropriação conceitual de parte dessa perspectiva por algumas leis e referenciais que acabam, tanto instigando a elaboração de mais estudos à respeito, quanto propiciando maior contato dos autores brasileiros com essa temática, entre outros. Tem-se, também, um número razoável de trabalhos que estabelecem críticas (algumas vezes contundentes) à tal abordagem, principalmente aqueles vinculados a pressupostos norteadores histórico-críticos (marxistas), entre outros. Parte dessas críticas e autores serão apresentadas na sequência, no próximo item de análise. Cabe, ainda, destacar que tal crescimento está muito agregado ao campo das ciências da educação, pois como se observou, trata-se de área com a maioria absoluta de estudos que abordam essa perspectiva.

Finalmente, em termos quantitativos, procedeu-se à uma análise das Instituições de Ensino Superior (IES) que abordam o tema da Epistemologia da Prática e suas respectivas regiões. Em termos da regionalidade da produção, procurou-se congregar as instituições analisadas em cada uma das grandes regiões brasileiras. A Figura 5 apresenta o gráfico representativo dessa análise.

Fonte: Elaborado pelos autores

Figura 5 Gráfico do recorte por região dos trabalhos analisados acerca da Epistemologia da Prática, a partir das Instituições de Ensino Superior (IES) com estudos defendidos sobre o tema 

Com base nas análises do gráfico representado pela Figura 5, considera-se que a região sudeste é aquela com maior número de trabalhos defendidos sobre o tema da Epistemologia da Prática, com 38 produtos (correspondendo à 39% do total). Em segundo lugar, vem a região nordeste, com 27 estudos (27% do total). Em terceiro lugar está a região sul, com 21 teses ou dissertações (22% do total). Posteriormente, aparece a região centro-oeste, com dez (10% do total). Finalmente, temos a região norte com dois trabalhos (2% do total). Apesar dessa tendência de prevalência de estudos na região sudeste, devido, inclusive, à maior concentração de programas de pós-graduação, cabe destacar, também, a região nordeste, a qual tem contemplado quantidade significativa de investigações, bem como concentra boa parte das IES mais produtivas sobre defesas de teses e dissertações, com relação a essa temática, conforme averiguado pelos dados subsequentes.

Em termos de IES, pode-se considerar que as universidades que mais tem produzido teses e dissertações sobre essa temática da Epistemologia da Prática em números absolutos são a Universidade Federal do Ceará (10 trabalhos), a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (8), a Universidade Estadual Paulista (8), a Universidade Estadual do Ceará (5) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (5). Em que pese tal concentração, foram encontrados, no total, 41 instituições com, ao menos, um trabalho defendido sobre essa temática. Cabe destaque às Universidades do Ceará (tanto Federal, quanto Estadual), a PUC São Paulo, também a Unesp e a UFRGS, por concentrarem o maior número de trabalhos encontrados (juntas, tais instituições correspondem a quase metade dos trabalhos encontrados). Embora haja certa pulverização de IES, a exemplo do número total de 41, é possível considerar as regiões e locais que congregam a maior parte dos estudos e pesquisas a esse respeito.

Com relação às IES encontradas, é preciso considerar, ainda, que a temática da Epistemologia da Prática está bastante concentrada em algumas instituições, que congregam orientadores e linhas de pesquisa que apresentam como possibilidade a investigação acerca do campo da Epistemologia da Prática, a exemplo das linhas desenvolvidas pela PUC São Paulo e pela Unesp (em diversos campi). Certamente, a apresentação de linhas de pesquisa que possibilitam investigar assertivas que dialogam, direta ou indiretamente, com o conceito de Epistemologia da Prática possibilitam a criação desse campo de investigação mais robusto, o qual deve ser fomentado e incentivado em linhas e trabalhos futuros.

A Epistemologia da Prática em teses e dissertações brasileiras: análise qualitativa

Em um primeiro momento, foi feita a análise dos dados provenientes dos aspectos quantitativos, a respeito das produções acadêmicas sobre Epistemologia da Prática. No segundo momento, procedeu-se a um panorama geral do estado da arte sobre as produções, com relação ao objeto de estudo, a partir de uma análise mais qualitativa. Para isso, buscou-se ler e compreender os conceitos apresentados pelas teses e dissertações defendidas no Brasil nos últimos 20 anos; como tal temática tem sido abordada sob o ponto de vista teórico; e sua aplicabilidade prática.

Inicialmente, é preciso destacar, assim como constatou Silva (2014), que existe uma quantidade grande de referenciais teóricos utilizados para se abordar tal temática. Os mais proeminentes e que aparecem na maioria dos trabalhos são Donald Schön e Maurice Tardif. Apesar disso, autores como John Dewey, Ken Zeichner, Ángel Pérez Gómez, Jacques Therrien, bem como outros nacionais, a exemplo de Maria Amelia Franco, Evandro Ghedin, Selma Garrido Pimenta e Isabel Alarcão, entre outros, também são citados. Cabe destacar quantidade menor de investigações, que buscam suporte em outros autores clássicos, a exemplo de Jean Piaget e Jürg Habermas, entre outros.

Alguns apontamentos provenientes das análises dos trabalhos que se consideraram importantes com relação a esse panorama se referem basicamente a três fatores: 1) utilização do conceito “Epistemologia da Prática”, muitas vezes, com pouca fundamentação de suas bases epistemológicas; 2) apresentação dessa abordagem, ora como referencial teórico e conceitual, ora como fundamentação metodológica; e, 3) volume representativo de trabalhos que apresentam crítica ao conceito, embora, muitas vezes, tais análises apareçam de forma pouco fundamentada. Discorre-se brevemente sobre essas perspectivas, a seguir.

Com relação à utilização do termo, boa parte dos trabalhos analisados apresenta como referencial teórico os autores supracitados, embora o nível de profundidade e fundamentação varie de acordo com cada um. Entretanto, considera-se preocupante que alguns dos trabalhos analisados (aproximadamente oito estudos) fazem menção ao termo, mas apresentam poucas referências sobre o mesmo, ou então não apresentam citação alguma que dê suporte ao conceito. Assim, há um empobrecimento conceitual dessa perspectiva, da mesma maneira que se enfraquecem as análises, podendo gerar dificuldades de compreensão.

A referenciação e a fundamentação de um conceito tal como o de Epistemologia da Prática se mostra como uma ação muito importante, uma vez que, simplesmente ao ser mencionado em um trabalho monográfico como uma tese ou dissertação, não permite considerar tal estudo como baseado nessa perspectiva epistemológica. Assim, embora o nível de fundamentação e leitura varie pelos trabalhos e pelas diferentes áreas de conhecimento, acredita-se ser importante apresentar uma estrutura analítica, que solidifique tal conceito à luz dos autores e do conhecimento científico já proposto para a abordagem desse tema.

Acerca da perspectiva teórica e metodológica, é possível ponderar que boa parte dos trabalhos apresentam o conceito de Epistemologia da Prática como referencial teórico que fundamenta o quadro conceitual e também as discussões e análises empreendidas. Porém, cabe enfatizar que um número relativamente grande de trabalhos (aproximadamente 17 estudos) apresentaram o termo como sendo parte dos referenciais metodológicos do trabalho. Embora se acredite ser bastante profícuo o estudo do conceito de Epistemologia da Prática, tanto como fundamentação teórica, quanto metodológica, é preciso que se invista em maiores compreensões acerca de como utilizar essa perspectiva criteriosa e rigorosamente comprometida com os pressupostos científicos norteadores da pesquisa acadêmica, no que tange aos procedimentos metodológicos de investigação. Esse alerta se faz necessário, porque os primeiros autores que cunharam o termo não apresentaram necessariamente os constructos metodológicos necessários ou não tiveram essa preocupação a priori. Portanto, uma série de questionamentos podem ser arrolados sobre essa questão, a exemplo: “O que vem a ser a Epistemologia da Prática como referencial metodológico?”; “Quais são os passos e encaminhamentos de coleta de dados de uma pesquisa sobre esse viés?”; Em que medida tornam- se claros e evidentes os pressupostos metodológicos de um estudo baseado nessa abordagem?”.

Assim, é importante que se investigue, de forma mais apropriada, essas questões. Como hipóteses, considera-se que tomar como suporte o conceito de Epistemologia da Prática como arcabouço metodológico de um trabalho tende a buscar subsídios na racionalidade prática, opondo-se às formas mais positivistas de ciência vinculadas à racionalidade técnica. Estudos baseados em narrativas e histórias de vida, pesquisas-ação, valorização de formas de se pesquisar, baseadas na justiça social e em dar voz a grupos marginalizados, entre outras, foram encontrados ao se remeter a esse conceito de epistemologia. Apesar de ser uma intenção potencialmente interessante, é preciso ter cuidado com o esvaziamento teórico a partir de confusões conceituais. Julga-se preocupante a perspectiva de poder haver certo “desbarato” do conceito, sobretudo no âmbito da pós-graduação brasileira.

Por fim, também chamam a atenção as pesquisas que tem sido conduzidas e que tem como intenção questionar, criticar, apresentar as fragilidades do conceito e mesmo se opor à perspectiva da Epistemologia da Prática. Esses trabalhos (aproximadamente 26 estudos) procuraram - a partir de diferentes perspectivas - apresentar inúmeras críticas ao conceito. As principais se referem à suposta ênfase prática e pragmática do conceito e seu possível esvaziamento teórico, sua falta de relação com os condicionantes sociais, sobretudo em uma perspectiva de luta de classes, pouca ênfase aos domínios clássicos da ciência, a exemplo das disciplinas de “fundamentos”, entre outras. Contudo, cabe salientar que alguns estudos desenvolvem suas críticas sem apresentar uma compreensão apropriada do conceito e de suas potencialidades e limitações, o que dificulta a análise do real impacto desses questionamentos para a produção do conhecimento.

Como todo conceito teórico, a compreensão de Epistemologia da Prática não está isenta de sofrer inúmeras críticas de diferentes correntes teóricas e autores diversos. Essas críticas são fundamentais para a ruptura paradigmática, que possibilita que as fronteiras dos conhecimentos científicos possam ser superadas e desenvolvidas. Todavia, quando as críticas ao conceito são pouco fundamentadas ou apresentam argumentações que se encaixam em outros conceitos, sem haver maior atenção às compreensões de tal conceito, elas tornam-se pouco auxiliares desse processo de crise epistemológica e apresentação de novos paradigmas científicos. Uma maior atenção aos pressupostos teóricos do conceito de Epistemologia da Prática e uma apropriação mais clara de suas balizas teóricas fundadoras permitiriam que tais críticas pudessem reverberar de modo mais significativo e causar impactos propositivos menos aligeirados.

Em suma, ressalta-se que a perspectiva da Epistemologia da Prática tem apresentado, atualmente, certa inserção no âmbito das pesquisas na pós-graduação brasileira, especialmente na última década, o que ilustra a proeminência da abordagem desse conceito. Apesar disso, é fundamental que haja análises criteriosas, acerca de suas potencialidades e limitações, bem como considera-se importante haver maior investimento na fundamentação teórica que subsidie os trabalhos de modo mais apropriado. Sendo assim, finalmente, busca-se compreender como esse conceito tem sido abordado em termos de fundamentação teórica balizadora de sua proeminência no campo investigativo.

Dentro do recorte deste estudo, avalia-se que Tardif e Lessard (1999) contribuem para o desenvolvimento da compreensão de Epistemologia da Prática ao vinculá-la aos saberes e às experiências de profissionais diversos. Os autores afirmam que esses saberes são, entre outras coisas, forjados no trabalho, estando ligados às tarefas do ensino, sendo, portanto, interativos, sincréticos, plurais, heterogêneos, complexos, personalizados, existenciais, temporais, sociais, etc. Nessa perspectiva, os autores apontam:

Essas características esboçam uma “epistemologia da prática do ensino” que tem pouco a ver com os modelos dominantes de conhecimento inspirados nas técnicas, na ciência positivista e nas formas dominantes do trabalho material. Esta epistemologia corresponde, acreditamos, com aquela que provém de um trabalho que tem o humano como seu objeto e cujo processos de realização é fundamentalmente interativo, que convoca o trabalhador a se apresentar “em pessoa”, com tudo que ele é, com sua história e sua personalidade, seus recursos e seus limites (TARDIF; LESSARD, 1999, p. 403, tradução nossa, grifo nosso).

Tardif, Lessard e Gauthier (2001, p. 25, grifo dos autores) afirmam que a compreensão contemporânea, vinculada à Epistemologia da Prática baseia-se no princípio de que a prática profissional se constitui, em si, como um lugar autônomo e original de formação. Para os autores, a prática implica certas determinações e tensões específicas e que não são encontradas em outros âmbitos e que também não podem se reproduzir de forma “artificial”, seja no contexto da formação teórica na universidade, seja em um laboratório.

Essa estrutura de compreensão sobre a prática a partir dessa racionalidade é considerada como “um novo paradigma para o ensino” (SCHÖN, 1987). Isso porque rompe com uma perspectiva que se desenvolveu no âmbito da formação e da ciência que opera como o status quo, inclusive atualmente, com o modelo disciplinar corriqueiramente empregado nos processos formativos iniciais e continuados nas mais diversas áreas. Tardif, Lessard e Gauthier (2001) exemplificam, em linhas gerais, as principais características dessa Epistemologia da Prática. Para os autores:

Segundo esta perspectiva, a prática profissional vê-se investida de uma realidade própria, largamente independente das construções teóricas dos investigadores e dos procedimentos aplicados pelos tecnólogos da acção [sic]. É por isso que ela constitui um lugar de aprendizagem autónoma e incontornável. Local tradicional de mobilização de saberes e de competências específicas, a prática é cada vez mais considerada numa instância de produção desses mesmos saberes e competências; neles integrando uma parte da formação, a prática torna-se um espaço de comunicação e de transmissão desses saberes e competências. Esta visão rompe profundamente com o modelo tradicional que separava claramente uns dos outros os locais de mobilização (o mundo do trabalho), de produção (o mundo da investigação) e de comunicação (o mundo escolar) dos saberes e das competências (TARDIF; LESSARD; GAUTHIER, 2001, p. 26).

Para Tardif (2012, p. 247) “a questão da epistemologia da prática profissional se encontra, evidentemente, no cerne desse movimento de profissionalização”. Para o autor, no mundo do trabalho, a natureza dos conhecimentos distingue as ocupações, de forma que, no caso da educação, a profissionalização pode ser entendida como uma tentativa de reformulação dos fundamentos epistemológicos do ofício de professor, implicando em profundas alterações no âmbito da formação para o magistério (TARDIF, 2012).

Dessa forma, o conceito de Epistemologia da Prática em uma perspectiva contemporânea ganha um salto qualitativo, em termos de fundamentação, análise e proposições a partir das conceituações elaboradas por Tardif (2012). O autor propõe uma definição de pesquisa, a fim de construir e delimitar um objeto de investigação baseado no compromisso, com certas posturas teóricas e metodológicas. Nesse sentido, estabelece que essa Epistemologia da Prática pode ser compreendida pelo “estudo do conjunto dos saberes utilizados realmente pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas” (TARDIF, 2012, p. 255). Sendo assim, trata-se de uma postura de investigação científica, que busca compreender como se desenvolve o processo de produção, mobilização e transformação dos saberes relacionados às ações profissionais dos professores. Ainda para o autor:

A finalidade de uma epistemologia da prática profissional é revelar esses saberes, compreender como são integrados concretamente nas tarefas dos profissionais e como estes os incorporam, produzem, utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes à suas atividades de trabalho. Ela também visa compreender a natureza desses saberes, assim como o papel que desempenham, tanto no processo de trabalho docente, quanto em relação à identidade profissional dos professores (TARDIF, 2012, p. 256).

A elucidação dos saberes vinculados aos contextos de prática, ou seja, a análise da Epistemologia da Prática na perspectiva da racionalidade prática, apresenta implicações fundamentais em, ao menos, três âmbitos. São eles: a pesquisa, a formação e a prática profissional. No que corresponde à pesquisa, Tardif (2012) aponta que, em toda atividade profissional, é imprescindível que se leve em consideração o ponto de vista dos práticos, ou seja, de quem efetivamente realiza as ações profissionais. Isso porque são eles quem, realmente, sedimentam seu próprio trabalho e, por meio de suas experiências, tanto pessoais, quanto profissionais, constroem seus saberes, assimilando novos conhecimentos e competências e desenvolvem novas práticas e estratégias de ação. Ou seja, para Perrenoud (1997), é válido considerar que as investigações devem incidir diretamente sobre a prática. Em suma, ao se analisar o ensino, compreender as ações protagonizadas pelos professores é condição fundamental. De acordo com Tardif (2012), nesse sentido, os delineamentos investigativos correspondem à seguinte perspectiva:

[...] uma pesquisa não sobre o ensino e sobre os professores, mas para o ensino e com os professores. Noutras palavras, se a pesquisa universitária vê nos professores sujeitos do conhecimento, ela deve levar em consideração seus interesses e suas linguagens, e assumir isso através de discursos e práticas acessíveis, úteis e significativas para os práticos (TARDIF, 2012, p. 239).

No que corresponde à formação profissional, a crítica ao modelo aplicacionista (TARDIF, 2012), baseado na racionalidade técnica (SCHÖN, 1987), inclusive no âmbito brasileiro, tem sido o mote da discussão de uma série de propostas de formação profissional alicerçadas na prática, tais como o modelo clínico proposto por Perrenoud (1997), cujo objetivo é a articulação entre teoria e prática, ou o delineamento do practicum adotado por Zeichner (1990), o qual propõe que a formação profissional deve ser baseada nas ações profissionais, formando, assim, práticos reflexivos, entre inúmeras outras propostas.

Sendo assim, a análise dessa nova perspectiva de Epistemologia da Prática pode contribuir com alterações curriculares nos cursos de formação profissional, de modo a permitir uma maior compreensão sobre as vicissitudes, nas quais as intervenções profissionais estão imersas. Sem incorrer à visão de que a formação de professores é um “meio miraculoso que permitiria ultrapassar os limites e as contradições do sistema” (PERRENOUD, 1997, p. 94), é preciso considerar que, ao longo da prática, os professores levam consigo “toda uma bagagem de saberes provenientes de sua formação profissional, bagagem certamente incompleta, mas cujo peso não se pode desprezar” (GAUTHIER et al., 2013, p. 302-303).

Finalmente, a compreensão de Epistemologia da Prática apresenta implicações para a prática profissional, uma vez que pode desmistificar e trazer à tona visões ainda obscuras no que corresponde ao trabalho em diferentes campos de atuação. Tal como Tardif (2012, p. 234) considera, no caso do ensino: “o trabalho dos professores de profissão deve ser considerado como um espaço prático específico de produção, de transformação e de mobilização de saberes e, portanto, de teorias, de conhecimentos e de saber-fazer específicos ao ofício de professor”. Um dos possíveis desdobramentos que tal processo oferece se refere à sua contribuição no desenvolvimento da prática, permitindo aos profissionais terem mais clareza de seu trabalho (não apenas na docência, mas em diversos outros campos).

Todo esse conjunto de possibilidades podem ser compreendido à medida que a pós- graduação brasileira, ao analisar o conceito de Epistemologia da Prática possa contribuir cientificamente com o campo acadêmico, trazendo à tona as possibilidades concretas, as incongruências, as limitações, etc. Nesse sentido, mais estudos e pesquisas a esse respeito seriam cruciais para o fomento do debate nesse campo ainda em constituição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo apresentou como objetivo principal a análise do estado da arte das produções acadêmicas que abordam o conceito de Epistemologia da Prática em teses e dissertações publicadas no Brasil, buscando compreender os aspectos quantitativos e qualitativos a esse respeito, no decorrer do recorte temporal de 1999 até 2018, baseado no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Com base nos dados provenientes da análise desenvolvida, do tipo estado da arte, pode-se considerar que a perspectiva da Epistemologia da Prática tem apresentado certa inserção no âmbito das pesquisas na pós-graduação brasileira, especialmente na última década, o que ilustra a proeminência da abordagem desse conceito atualmente, embora ainda bastante diminuto, em comparação a outras temáticas mais usualmente abordadas. Apesar disso, é fundamental que haja análises criteriosas acerca de suas potencialidades e limitações, bem como considera-se importante haver maior investimento na fundamentação teórica que subsidie os trabalhos de modo mais apropriado.

Em termos quantitativos, evidenciou-se que, desde o desenvolvimento dos primeiros estudos, tem havido certo crescimento, tanto em teses, como em dissertações, apesar de nos últimos anos haver uma queda no número de trabalho produzidos. Há ainda certo disparate em comparação a regiões do país, programas e IES. Essa grande diversidade e discrepância ilustram a necessidade de uma ampliação no número de trabalhos de forma equitativa e rigorosamente baseada em fundamentações teóricas balizadoras.

Por outro lado, a análise qualitativa demonstrou que há certa influência de autores de origem anglófona e francófona, os quais costumam ser bastante referenciados em alguns trabalhos. Todavia, há grande discrepância entre aspectos, como referenciais, fundamentação teórica, delineamento metodológico, etc. Essa análise qualitativa mais pormenorizada permite inferir a necessidade de maior atenção aos aspectos teóricos, haja vista o risco ocasionado pelo esgarçamento do conceito, em muitos dos trabalhos encontrados. Os estudos de crítica a esse conceito acabam, muitas vezes, sendo superficiais, de modo que não contribuem com o questionamento e o avanço da vanguarda da ciência nesse campo.

Dessa forma, conclui-se que existe a necessidade de ampliação qualitativa e quantitativa no número de investigações que abordem, direta ou indiretamente, a temática da Epistemologia da Prática em seus delineamentos e constructos. A pós-graduação brasileira não deve se furtar desse debate epistemológico profícuo que pode possibilitar perenidade a um tema que tem influenciado áreas como a educação, mas que ainda carecem de amplos detalhamentos, fato que as pesquisas monográficas de teses e dissertações podem ajudar a desenvolver, por meio de ações rigorosas, metódicas, criativas e propositivas.

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Recebido: 19 de Outubro de 2021; Aceito: 07 de Novembro de 2021

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