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Contrapontos

versión On-line ISSN 1984-7114

Contrapontos vol.22 no.2 Florianopolis ago./dic 2022  Epub 12-Dic-2022

https://doi.org/10.14210/contrapontos.v22n2.p126-138 

Artigos

REFLEXÕES SOBRE EDUCAÇÃO, INFÂNCIA E GÊNERO: ANÁLISE DO FILME O DIÁRIO DO PESCADOR

REFLECTIONS ON EDUCATION, CHILDHOOD AND GENDER: ANALYSIS OF THE FILM THE FISHERMAN´S DIARY

REFLEXIONES SOBRE EDUCACIÓN, INFANCIA Y GÉNERO: ANÁLISIS DE LA PELÍCULA THE FISHERMAN´S DIARY

Josiane Eugênio1 

Maria Aparecida Casagrande1 
http://orcid.org/0000-0002-8758-674X

Gildo Volpato1 
http://orcid.org/0000-0001-9167-7559

1Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, SC, Brasil.


Resumo:

Buscou-se analisar, qualitativamente, o filme O diário do pescador, que aborda diferentes formas de violência e preconceito sofrido pelas mulheres e meninas moradoras de uma vila de pescadores na República dos Camarões/África Central. O estudo teve como objetivo compreender as concepções de infância, educação e gênero encontradas no filme e o papel da educação na emancipação das meninas/ mulheres. As análises foram realizadas á luz de autores como Vigotsky (2011), Cohn (2005), Freire (1996, 2002), Ivic (2010) e Louro (1997, 2011). A partir dos fatos ocorridos no filme, podemos perceber o poder da educação, revelando que o acesso, pode interferir na possibilidade de transformação da realidade vivida. As reflexões desenvolvidas apontam para a importância de se pensar e lutar por políticas de prevenção das violências de gênero e de cuidados com as infâncias de meninas e mulheres, como possibilidade de justiça social e construção de um mundo mais igualitário e humano.

Palavras-chave: O diário do pescador; Educação; Infância; Gênero

Abstract:

This study conducted a quantitative analysis the film The Fisherman’s Diary, which addresses different forms of violence and prejudice suffered by women and girls living in a fishing village in Cameroon/ Central Africa. its aim was to understand the conceptions of childhood, education and gender portrayed in the film, and the role of education in the emancipation of girls and women. As theoretical background to the analyses, we made use of authors such as Vigotsky (2011), Cohn (2005), Freire (1996, 2002), Ivic (2010) and Louro (1997, 2011). Based on the facts that occurred in the film, we see the power of education, revealing that access to education can greatly enhance the possibility of transforming the lives of these girls and women. The reflections developed point to the importance of thinking about and fighting for policies to prevent gender violence and to care for the childhood of girls and women, as a way of improving social justice and building a more egalitarian and humane world.

Keywords: The Fisherman´s diary; Education; Childhood; Genre

Resumen:

Buscamos analizar cualitativamente la película The Fisherman’s Diary, que aborda diferentes formas de violencia y prejuicios sufridos por mujeres y niñas que viven en un pueblo de pescadores en Camerún/África Central. El estudio tuvo como objetivo comprender las concepciones de infancia, educación y género encontradas en la película y el papel de la educación en la emancipación de las niñas/mujeres. Los análisis se realizaron a la luz de autores como Vigotsky (2011), Cohn (2005), Freire (1996, 2002), Ivic (2010) y Louro (1997, 2011). A partir de los hechos ocurridos en la película, podemos ver el poder de la educación, revelando que el acceso puede interferir en la posibilidad de transformar la realidad vivida. Las reflexiones desarrolladas apuntan a la importancia de pensar y luchar por políticas de prevención de la violencia de género y de atención a la infancia de niñas y mujeres, como posibilidad de justicia social y de construcción de un mundo más igualitario y humano.

Palabras clave: The Fisherman´s diary; Educación; Infancia; Género

INTRODUÇÃO

O cinema, assim como a leitura, desempenha um importante papel social, pelo espaço privilegiado que ocupa, na formação cultural dos indivíduos, na educação e na socialização das pessoas, uma vez que a arte enriquece o acervo pessoal da humanidade (DUARTE, 2002). O cinema, entretanto, é uma invenção moderna que atende a diferentes interesses de ordem econômica e condicionamentos culturais. Na variedade de gêneros, há filmes para diferentes públicos e com objetivos diversos, desde os que são produzidos e consumidos como mera mercadoria para fins lucrativos; filmes que são como arte para fins educacionais ou culturais; filmes que reproduzem preconceitos e ideologias, e filmes com propósitos reflexivos e até revolucionários, buscando transformar realidades.

Partimos do entendimento de que o recurso do cinema, pode ser usado como arte e expressão humana e pode servir de via de acesso ao conhecimento no meio acadêmico formal, estimulando um amplo debate capaz de abordar reflexões sobre diferentes conceitos, teorias e temas.

Assim, com o intuito de enriquecermos essa discussão sobre o papel do cinema na educação, escolhemos o filme “The Fisherman’s Diary”, traduzido para o português como: O diário do pescador, lançado em 2020 e dirigido por Enah Johnscott, a fim de analisarmos à luz da teoria crítica, aspectos que elegemos fundamentais para pensar os processos de educação nas infâncias das meninas e mulheres. O filme em questão trata-se de uma produção camaronesa, que se desloca das produções de Hollywood, tão comumente difundidas em nosso meio social. No âmbito dos gêneros (ação, aventura, drama, romance, suspense, terror, ficção, fantasia, biográfico, comédia e histórico), O diário do pescador é um drama com pretensão de crítica cultural que evoca a controversa interpretação entre antigo/tradicional e moderno/ modernidade.

O filme retrata a história de uma vila de pescadores, na República dos Camarões, que tem uma realidade tradicional de vida simples e dura, trazendo à tona uma crítica a determinadas práticas culturais e de exploração infantil, bem como as violências de gênero perpetradas, desde cedo às crianças, especialmente as meninas, como uma condição natural tradicionalmente passada de pai para filho em diferentes gerações. Não raras vezes elas são impedidas de frequentar a escola e são controladas pelos próprios parentes por meio de intimidação e violência. Apesar do filme não retratar diretamente a situação da exploração infantil, pode-se inferir que sugira isso, uma vez que se sabe que na África Central, em especial região do Lago Volta, em Gana, cerca de vinte mil crianças pescam para senhores de escravos, segundo a Organização Internacional do Trabalho - OIT1.

Sabemos que a República dos Camarões, atualmente vive uma crise separatista, mas que tem origem ainda no período colonial. Oliveira e Cardoso (2021, p.37) trazem considerações acerca dessa crise:

Durante a Conferência de Berlim, a posse do território que constitui o país atualmente foi concedida aos alemães, que mantiveram um domínio colonial marcado pela violência contra as populações autóctones. Com a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, o país foi despojado de sua colônia, que teve seu domínio dividido entre a Inglaterra - que passou a governar o território a partir de Lagos, na Nigéria - e a França - que assumiu o controle da maior parte do território, incorporando-o à estrutura da África Equatorial Francesa.

Após 1960, com a independência de parte camaronesa sob domínio francês, agravou-se em 2016 a guerra separatista e as consequências para a educação são imensas, pois muitas escolas fecharam para evitar os ataques frequentes contra as instalações de ensino. Professores e estudantes têm sido atacados, raptados, ameaçados e mortos. Em 2021, conforme alerta da agência da ONU, mais de 700.000 crianças foram privadas de educação nas regiões do noroeste e sudoeste (DW, 2021).

O enredo do filme gira em torno da força de vontade de uma menina chamada Ekah, de 12 anos, protagonista do filme, que lutava para subverter a ordem natural da história das meninas e das mulheres que viviam em uma vila de pescadores.

Neste artigo propomos, então, uma discussão sobre questões relativas aos processos de educação na infância e gênero como possibilidade de emancipação de meninas e mulheres. A partir da Teoria Histórico Cultural, são discutidos aspectos relacionados ao papel da educação e do/a professor/a, nos processos de humanização e na aprendizagem e desenvolvimento das crianças e jovens, por meio da apropriação do conhecimento.

Logo no início de nossas reflexões sobre o filme, ao pensar no processo educacional nele descrito, o conceito de emancipação emergiu. Para Freire (2002), falar em emancipação é falar das diferentes formas de opressão, de exclusão e de dominação no mundo neoliberal. Freire aponta e defende uma pedagogia em que todos possam se emancipar, mediante uma luta libertadora, que “só faz sentido se os oprimidos buscarem a reconstrução de sua humanidade e realizarem a grande tarefa humanística e histórica dos oprimidos - libertar-se a si e os opressores” (FREIRE, 2002, p. 30).

Em O diário do pescador, poucas pessoas recebiam educação escolar. Apenas aquelas que tinham condições de pagar a escola, os livros e os uniformes escolares. A educação nesse cenário surge como ferramenta de humanização e possibilidade para mudança de vida. Em certos momentos do filme é possível perceber, nos personagens que não tiveram acesso à educação escolar, uma espécie de comportamento bárbaro, violento, como se não houvesse sentimentos frente ao sofrimento causado e até mesmo vivido pelos outros. É o caso das punições severas aplicadas à menina Ekah, pelo seu pai, que para ele lhe serviam de lição. A personagem Ekah, além de ser impedida de ir para escola e de brincar, sofreu exploração infantil, violências variadas e até estupro.

O filme inicia pela imagem do pescador Solomon, pai de Ekah, que parece estar num monólogo narrativo de um diário que não está sendo escrito por ele. Aliás, a mensagem do filme sobre o diário mencionado no título do filme fica nas entrelinhas. Podemos interpretá-lo de diferentes formas e não se sabe qual seria a intenção da direção do filme. Em nosso entendimento, é como se o diário não pudesse ser escrito pelos pescadores da vila que, mergulhados no próprio sofrimento, não conseguiam pensar para além do píer2 de pesca. Como se a autoria de suas vidas não lhes pertencesse, já que não possuíam elementos básicos para escreverem sobre suas próprias jornadas.

Em O diário do pescador, a possibilidade de emancipação através da educação foi sendo adiada pelo preconceito sofrido pelas mulheres que queriam estudar. A personagem Ekah busca essa emancipação quando se utiliza de processos diretos e indiretos, sendo influenciada pelas interações sociais com os moradores e com a professora Bihbih. De acordo com Vigotsky (2011, p. 865):

a criança começa a recorrer a caminhos indiretos quando, pelo caminho direto, a resposta é dificultada, ou seja, quando as necessidades de adaptação que se colocam diante da criança excedem suas possibilidades, quando, por meio da resposta natural, ela não consegue dar conta da tarefa em questão.

Assim, a compreensão de mundo de Ekah e o processo de aprendizagem só foi possível quando mediado por outros, no caso a professora, que apresentou à menina, elementos importantes do processo educacional.

Nesse contexto, surgiram as seguintes indagações: Qual o papel da educação escolar para a emancipação das meninas/mulheres? E, ainda, quais as concepções de infância, educação e gênero podem ser encontradas no filme O diário do pescador?

No rastro dessas inquietações, a proposta deste texto foi refletir sobre a importância da educação e do meio social para a aprendizagem e o desenvolvimento dos seres humanos. Ao mostrar a realidade enfrentada por crianças (principalmente meninas) de países distantes do Brasil, como os do continente africano, podemos refletir sobre as diferentes realidades e desigualdades de gênero que marcam a vida de mulheres e meninas pelo mundo todo, incluindo as brasileiras.

A MENINA EKAH “ESPIA” A ESCOLA

Na comunidade de pescadores em que os personagens vivem, em situação economicamente desfavorável as condições de vida difíceis, a escola é considerada lugar para preguiçosos e fracassados e sua frequência é desaconselhada, especialmente para mulheres. Independentemente da idade, elas são pobres, estão abandonadas à própria sorte e se veem obrigadas a seguir o destino traçado pelos homens da família e da comunidade. Ekah, contrariando as ordens do pai, procura assistir as aulas através de frestas nas paredes rústicas da escola de madeira. Ao espiar os conteúdos que estavam sendo trabalhados na escola, mesmo por meio das frestas, Ekah é provocada pelo processo de internalização dos conhecimentos, podendo nos pautar de que a educação, é um processo de apropriação de signos culturais enquanto instrumentos psicológicos que ajudam os indivíduos a organizar seu comportamento e suas ações (VYGOTSKY, 1984).

Essa observação remete-nos, a Freire (1996), novamente quando o autor se refere à importância e à necessidade de uma pedagogia dialógica emancipatória do oprimido, em oposição à pedagogia da classe dominante de uma concepção bancária da educação, como um depósito ou um auxílio.

Ekah, inspirada pela história de vida da ativista paquistanesa Malala Yousafzai3, motivada pelo desejo de aprender e não conformada com a proibição de frequentar à escola, luta pela liberdade de poder ser estudante. Como uma “espiã” do conhecimento, Ekah “flerta” com as diferentes aprendizagens nas diversas áreas do conhecimento, aprimorando aquilo que já conhecia do seu cotidiano e desenvolvendo muitas de suas funções intelectuais: atenção, memória lógica, abstração e a capacidade para comparar e diferenciar. O pensamento e a memória, funções psicológicas superiores, foram sendo construídas no decorrer da narrativa da personagem, por meio da mediação da professora que, depois de tê-la surpreendido “espiando” as aulas na escola, passa a oferecer a Ekah algumas das possibilidades de educação escolar, de forma velada, por conta da recusa e incompreensão do pai da menina.

Fora por meio das frestas das paredes da escola, no diálogo com a professora, que Ekah recebe aquilo que Freire (1996) chama de uma pedagogia mais humanista, num processo de luta pela libertação.

É nesse cenário que a menina se dá conta da relação de subordinação a que se encontrava, atribuindo-lhe um novo significado aos objetos e as situações por ela vivida, expressando o seu caráter ativo, no curso do próprio desenvolvimento. Cedendo aos apelos sedentos de saber da criança e contrariando as normas do patriarcado da ilha, a professora passa a oferecer atividades específicas à Ekah, em sua casa, atuando como mediadora do processo de aprendizagem planejando as intervenções, por intermédio de experiências e interações. Isso nos remete ao que Vigotsky (1998, p. 97) definiu como a zona de desenvolvimento proximal (ZPD), ou seja:

[...] a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com outros companheiros mais capazes.

Faz-se importante dizer que cabe à escola um dos papeis mais relevantes para a humanidade: promover a socialização dos alunos e a sua identificação cultural com a comunidade. Como citado por Ivic, Vygotsky trata da aprendizagem de diferentes tipos de atividades, que seria papel essencial da educação formal, “proporcionar aos estudantes os instrumentos, as técnicas interiores, as operações intelectuais” (IVIC, 2010, p. 31). Neste sentido, a grandeza da função social escolar se volta à apropriação do patrimônio físico e cultural através da pesquisa e do registro, mas, principalmente, através da vivência do contexto cultural.

Nesta perspectiva, ainda como inspiração os ensinamentos de Freire (1996) para quem o processo de aprender [...] “é um processo que pode deflagrar no aprendiz uma curiosidade crescente, que pode torná-lo mais e mais criador” (FREIRE, 1996, p. 13), percebe-se o quanto o estímulo recebido por Ekah, em O diário do pescador lhe foi significativo.

No filme, muitas reflexões acerca do processo histórico de construção da infância surgiram. Pensando em outras culturas e sociedades, a ideia de infância, de suas experiências e vivências pode ser formulada de outros modos, pois são diferentes para cada lugar, devendo ser entendida no seu contexto sociocultural. De acordo com Cohn (2005, p. 22), “o que é ser criança, ou quando acaba a infância, pode ser pensado de maneira muito diversa em diferentes contextos socioculturais, e uma antropologia da criança deve ser capaz de apreender essas diferenças”.

A categoria infância é revelada no filme de diversas maneiras, e daria para perguntar por que algumas crianças vão para escola e outras não? Como é a infância de crianças em situação de vulnerabilidade social? Qual o tempo de brincar?

O casamento infantil e a falta de perspectiva de mudança de vida, num contexto social e econômico desfavorecido, fazia com que muitas meninas (no caso daquelas que não tinham oportunidade financeira para se matricular) abandonassem os estudos e passassem a se dedicar aos serviços domésticos desde muito cedo.

Os estudos históricos de Philippe Aries (1981) mostram a ideia de infância como uma construção social histórica do ocidente, pois em outras culturas e sociedade a ideia de infância pode até não existir, ou ser trada de outras formas. O que é ser criança, quando acaba a infância pode ser interpretado de maneira muito diferente em diversos contextos sócio culturais, e uma antropologia da infância deve ser capaz de apreender essas diferenças.

Atualmente os teóricos que estudam as infâncias compreendem que essa categoria pode expressar as sociedades em suas contradições, pois é notável na sociedade capitalista que se avançou sobre os direitos da infância, no entanto as diferentes formas de exploração de crianças ainda são uma realidade.

Conhecer as crianças é decisivo para a revelação da sociedade, como um todo, nas suas contradições e complexidade. Mas é também a condição necessária para a construção de políticas integradas para a infância, capazes de reforçar e garantir os direitos das crianças e a sua inserção plena da cidadania ativa (SARMENTO, 2001, p. 1).

É fundamental refletir sobre a amplitude de direitos das crianças no âmago das sociedades, uma vez que da condição de sujeitos passivos passaram a ser ativos no processo de sujeitos de direitos, numa lógica de participação. No Brasil, o advento da Constituição Federal (1988), trouxe no artigo 227 a garantia aos direitos das crianças e dos adolescentes como absoluta prioridade. A novidade abriu caminho para a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,1990) e representou novo olhar sobre a infância ao romper com o modelo punitivista do Código de Menores que vigorava durante o Regime Militar, como poder ver no Artigo 227:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) (BRASIL, 1988).

O Estatuto da Criança e do Adolescente, 1990, foi (e continua sendo) uma importante conquista do Brasil. Trata-se de um ponto de partida para a política de direitos da criança, e que tem possibilitado, também, avanços em termos do reconhecimento dessa categoria - crianças e adolescentes -, mas isso não significa que as infâncias estejam plenamente protegidas, pois há muito a ser feito e consolidado para que realmente as diferentes infâncias possam ser verdadeiramente salvas, assistidas e acolhidas.

Cabe sinalizar que o filme ora discutido contribui com seu drama a uma crítica cultural que evoca controversa relação entre o antigo e o tradicional, mesmo a instituição escolar sendo também protagonista da história, mas não teve a intencionalidade em mostrar como se dava essa proteção, ao público infanto-juvenil naquele país (a exemplo do Conselho Tutelar no Brasil), que estivessem preocupados com os direitos à educação, como os cerceados da protagonista Ekah. Ficou explícito que somente a professora Bihbi, a inspiração da ativista Malala e as memórias da mãe, deram suporte à emancipação de Ekah.

AS IMPLICAÇÕES DO GÊNERO E VIOLÊNCIA NA VIDA DAS MULHERES NA VILA DOS PESCADORES

As discussões de gênero despontam quando pensamos nas vozes das mulheres e meninas silenciadas. No filme, a menina Ekah foi impulsionada pela professora, pelas memórias de sua mãe e pela fotografia de Malala Yousafzai, com a frase que possivelmente tenha evocado seu poder de emancipação: “Livros, canetas e mulheres podem mudar o mundo!”. Malala ganhou notoriedade internacional com sua luta em defesa do direito de as mulheres estudarem e, no filme, a protagonista Ekah supera adversidades num cenário de precárias condições econômicas e sociais e se reconstrói em meio a tantas violências sofridas, tomada pelo empoderamento que a educação lhe oportunizou.

A violência contra as mulheres é endêmica em diferentes países e culturas, causando danos a milhões de mulheres e suas famílias. Durante a pandemia de COVID-19 a questão foi agravada pela necessidade do isolamento ampliando o convívio diário dos familiares. Esse tema tem se tornado recorrente para populações, governos, órgãos internacionais e pesquisadores sociais, nos últimos anos. Ao longo da vida, uma em cada três mulheres, ou seja cerca de 736 milhões delas, são submetidas à violência física ou sexual por parte de seu parceiro ou violência sexual por parte de um não parceiro - número que permaneceu praticamente inalterado na última década (OMS, 2021).

A representação da violência sofrida por Ekah em O diário do pescador é a mesma violência retratada em dados estatísticos de vários países, geralmente os menos desenvolvidos. As questões culturais relativas às violências e as dificuldades das mulheres de emanciparem-se, bem retratadas no filme, desprendem-se do amálgama da violência de gênero.

No Brasil, a Lei 11.340/2006, nacionalmente conhecida como a Lei Maria da Penha tem gerado inúmeros debates no campo das Ciências Humanas, assim como a Lei 13.104/2015, que trata do crime de Feminicídio, promulgada no Brasil em março de 2015, que abriu um novo cenário para discussão em torno da violência de gênero e das violências domésticas.

Esse debate também percorre os papeis dados a homens e mulheres na sociedade, bem como denúncia à permanente instabilidade das relações de gênero. Assim, a compreensão evocada nas cenas de violência contra as mulheres do filme, perpassa as questões de gênero e educação, as quais podem ser importantes para as mudanças significativas nas práticas discriminatórias e preconceituosas das sociedades. Pensar na educação das meninas é também pensar de que forma os processos educacionais podem contribuir para a diminuição das violências de gênero.

Para ilustrar essas considerações, num dos diálogos do filme, que acontece em uma roda de conversas entre mulheres da vila de pescadores, com a presença de meninas, uma das mulheres comenta em voz alta: “Até parece que educação é importante. Educação é inútil. Destrói as famílias! Só preguiçosos idiotas vão à escola! É perda de tempo e dinheiro!”. Para essa fala, uma das meninas responde: “Prefiro ser peixeira do que ir à escola. Ou até me casar como a Rita!”, o que foi encorajado pela mãe: “Bem pensado Andong! - Você é esperta!”. Logo, mais uma frase desencorajadora é proferida novamente pelo tio da menina Ekah “educação não é para mulheres!”. Impossível não pensar no reflexo desse entendimento cultural local sobre a escola e a educação não ser para mulheres. A apropriação do conhecimento que as mulheres podem obter na escola, poderia provocar uma “rebeldia” à ordem social do lugar das mulheres naquela vila. E a quem interessaria essa rebeldia? A quem interessa essa mudança na realidade daquele local?

Conhecer a origem histórica da desigualdade de poder entre homens e mulheres, é entender que todo o poder patriarcal que está imbricado em qualquer sociedade necessita de compreensão. Na concepção de Dias (2017, p. 19), a violência contra as mulheres possui “fundamento cultural e decorre da desigualdade no exercício do poder que leva a uma relação de dominante e dominado”. Isso se dá porque o patriarcalismo coloca os homens no centro de todas as expectativas sociais. É para eles a iniciativa das atividades mais notórias, em todos os elementos da sociedade, seja na cultura, nas instituições religiosas, educacionais, na economia, na política; há sempre uma hierarquização das ações públicas dos homens em relação às mulheres (DIAS, 2017).

A categoria gênero também atravessa as discussões de Scott (1995, p. 14), para quem o gênero é “um elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos” e “é um primeiro modo de dar significado às relações de poder”. A ênfase dada pelo conceito de gênero à construção social das diferenças sexuais não se propõe a desprezar as diferenças biológicas existentes entre homens e mulheres, mas considera que, com base nelas, outras são construídas.

Para Louro (2011, p. 25), “é necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como essas características são representadas ou valorizadas, [...] o que é feminino ou masculino em uma dada sociedade e em um dado momento histórico” é que precisam ser levadas em consideração.

O gênero ganha novos formatos a partir do momento que aceitamos que a construção do gênero é histórica e se faz incessantemente. Assim, as relações entre homens e mulheres, os discursos e as representações dessas relações estão em constante mudança, o que supõe que as identidades de gênero estão continuamente se transformando. Sendo assim, é indispensável admitir que até mesmo as teorias e as práticas feministas - com suas críticas aos discursos sobre gênero e suas propostas de desconstrução - estão construindo o que chamamos de gênero (LOURO, 2011).

No filme O diário do pescador, as mulheres e meninas que se rebelavam contra o sistema de dominação e submissão eram vistas como “doentes”, como “deslumbradas”, “teimosas”, “desobedientes” e logo deixavam de ser crianças sob a responsabilidade dos pais e passavam a ser “propriedade” ou “responsabilidade” dos maridos. As infâncias eram, portanto, interrompidas pelos afazeres domésticos e de mercado para subsistência, bem como pelas obrigações de esposa, em que sofriam todos os tipos de abusos. A comunidade local, como em todas as sociedades, algumas mulheres discordam e resistem as tradições violentas, como demonstrados pelas três mulheres (Ekah, Bibih e a mãe) que transgridem os papeis tradicionais, enquanto outras encaram a situação posta com naturalidade. Nesse sentido, era esperado que o pai, que também não teve acesso à educação, acreditasse que estaria fazendo o melhor para sua filha, entregando-a a um esposo.

A influência da professora Bihbih, que era mulher solteira, independente e vivia do próprio salário, sobre as pessoas da comunidade, não era bem vista pelos homens da ilha. O filme aborda o comportamento e conduta machista, misógina que tanto os familiares da menina Ekah quanto do dono da escola, tinham para com a professora, demonstrada em muitos momentos.

As atitudes e a posição de Bihbih, possivelmente, se configuravam uma ameaça aquela estrutura organizada em torno do gênero que colocava o masculino em situação inferior, diante de um feminino escolarizado. Era preciso coragem para esse enfrentamento. Ekah reconhece essa coragem da professora, quando se forma no ensino superior, agradecendo-a por tê-la ajudado a enfrentar aquele sistema e transformado a vida dela, trazendo-lhe o direito e a alegria de viver.

Importante dizer, que não somente Ekah venceu na batalha da educação, mas o processo educacional também se fortalece a cada vez que alguém se empodera por meio dele. Nesse sentido, os diferentes espaços educacionais têm importante contribuição para o enfrentamento às violências, desmistificando a cultura de dominação e de inferiorização da condição humana das mulheres e meninas no âmbito familiar, social e do trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As reflexões sobre o filme O diário do pescador, aqui abordadas, em que as categorias: educação, infância e gênero foram elencadas para que promovêssemos uma análise e discussão sobre a narrativa cinematográfica a partir dos estudos sobre a Teoria Histórico Cultural, permitiram-nos compreender o poder da educação, revelando que o acesso à escola, interfere, significativamente na possibilidade de transformação da realidade vivida por meninas e mulheres em todo o mundo.

O diário do pescador é um filme impactante, sobretudo por revelar a vida simples e tradicional de uma vila de pescadores, condicionada as imposições da sociedade capitalista e da imersão de políticas neoliberais, o que nos faz refletir sobre as diferentes culturas e realidades de vidas humanas no planeta.

Impossível não tecer um breve paralelo sobre os investimentos que têm sido feitos em tecnologias para armamento bélico, cujo objetivo é a destruição da terra, e quantos investimentos têm sido negligenciados na área da educação, que possibilitariam novos conhecimentos na defesa da terra e dos seres que nela habitam.

A sobrevivência das pessoas que habitavam aquela vila de pescadores dependia da existência de peixes, mas por quanto tempo ainda haveria peixes suficientes para aquela comunidade? A educação formal, oportunizada pela escola possibilita a abertura de outros horizontes (para além da pescaria, por exemplo) como se deu com Ekah, mas é preciso que a escola esteja ao alcance de todas as pessoas.

Além da violência de gênero contra as meninas e mulheres, o trabalho infantil, a escravidão sexual de crianças e adolescentes, e o valor da educação para as transformações dessa realidade, outros temas importantes e complexos são abordados no filme e mereciam outras reflexões. A maneira como as cenas foram construídas em torno desses aspectos que tanto nos emocionaram e nos revoltaram, escancara os problemas enfrentados por mulheres e meninas em diferentes continentes e estimula a reflexão sobre a necessidade de ruptura das injustiças por meio da educação, pois, apesar de tratar de uma vila específica no continente africano apresenta muitas semelhanças com a realidade de famílias, de mulheres e meninas mundo afora, inclusive no Brasil.

A luta pela emancipação através da educação é apresentada em O diário do pescador a partir do momento em que Ekah se apropria da história de vida de sua mãe, tendo como suporte a história de vida de Malala Yousafzai, e que teria desenvolvido nela o desejo de aprender. Ekah, que não estava conformada com o seu destino na ilha de pescadores, passou a buscar a emancipação e o direito de viver e escrever a própria história no seu “diário de vida”. Pelo estímulo real e idealizado, recebido de outras três mulheres - a professora Bihbi, a mãe e a ativista Malala, Ekah se apropria do conhecimento formal proporcionado pela educação e muda a sua realidade.

Há de se pensar quantas “Malalas”, “Ekahs”, “Bihbih” e “Marias” mesmo com grandes potenciais sucumbem por falta de oportunidade, de apoio ou mesmo de estímulo? Quantas lutam e morrem todos os dias pela violência a que são submetidas? Quantas carregam nos corpos as marcas do sofrimento, seja por doenças, maus-tratos, más condições de vida, falta de políticas públicas de cuidado e proteção? Quantas mulheres desistem de buscar o conhecimento, por falta de escolas, de professores, de políticas educacionais e governos dispostos a investir na qualidade da educação, pois o que vem sendo feito não dá conta da dimensão e da gravidade do problema?

De acordo com o Relatório Mundial sobre Prevenção da Violência de 2014, embora os países venham implantando estratégias para modificar normas sociais e culturais, as estratégias que vêm sendo empregadas ainda não são eficazes na promoção da equidade de gênero, que permitam real prevenção das violências. Também são necessárias políticas sociais e educacionais fundamentais, relativas a incentivos aos jovens para que concluam seus estudos. As políticas habitacionais para aliviar a pobreza ainda são muito raras em grande parte do mundo.

Assim, é mister pensar que a educação escolar não é neutra, nem se encerra em si mesma e a escola pode realmente ser um espaço educativo muito importante para as crianças, inclusive, um espaço de proteção para as que são submetidas em situações de exploração de trabalho e exploração sexual. Mas a escola também pode se constituir num espaço de dominação e imposição cultural externa. No caso dos países da África, há que se perguntar que tipo de educação as crianças africanas recebem tendo em vista a estrutura colonialista que ainda é hegemônica?

Reafirmamos, ao final deste trabalho, que a educação tem potencial para a consolidação do empoderamento feminino e promover a reflexão sobre a equidade de gênero, reduzindo assim, a penalização de mulheres e meninas pela cultura machista e patriarcal que ainda impera em diversos contextos e sociedades.

Todavia, sem pretensões de chegar a conclusões, este artigo não esgota aqui suas possibilidades de reflexões sobre as temáticas sugeridas no filme O diário do pescador. Outras categorias poderiam ter sido elencadas, como questões étnicas/raciais, as consequências do capitalismo e das políticas neoliberais nos países em desenvolvimento, bem como tantos outros marcadores que oportunizariam discussões a partir da linguagem cinematográfica escolhida.

Por fim, as reflexões embrionárias aqui desenvolvidas sobre O diário do pescador apontam para a importância de pensar políticas de gênero e de proteção à infância e à juventude, bem como sobre a necessidade de investimentos na educação das meninas e das mulheres, como possibilidade de garantir-lhes justiça social num mundo que se quer mais igualitário e humano.

REFERÊNCIAS

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2Píer nome dado a construção que avança para o mar, perpendicular ou obliquamente ao cais, para atracação de embarcações por um ou ambos os lados.

3Em 2014, Malala Yousafzai foi a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel da Paz, símbolo da luta pelo direito à educação das meninas, sobrevivente da violência extremista do Talibã. Em 2012, aos 15 anos, a jovem foi baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola. Seu crime foi se posicionar contra o regime que proibia mulheres de estudarem no Paquistão (PAIVA, 2018).

Recebido: 11 de Julho de 2022; Aceito: 05 de Novembro de 2022

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