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Psicologia da Educação

versión impresa ISSN 1414-6975versión On-line ISSN 2175-3520

Psic. da Ed.  no.54 São Paulo ene./jun 2022  Epub 30-Abr-2023

https://doi.org/10.23925/2175-3520.2022i54espp1-6 

EDITORIAL

MÉTODO E PERSPECTIVA CRÍTICA NA PESQUISA EM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO:CONTRIBUIÇÃO PARA A PRÁXIS EDUCACIONAL

Mitsuko Aparecida Makino Antunes1 
http://orcid.org/0000-0003-2793-7410

Ruzia Chaouchar dos Santos2 
http://orcid.org/0000-0002-3441-782X

1 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo - SP - Brasil; miantunes@pucsp.br

2 Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - São Paulo - SP - Brasil; ruziachauchar1@gmail.com


E o que foi feito é preciso

Conhecer para melhor prosseguir

Falo assim sem tristeza,

falo por acreditar

Que é cobrando o que fomos

Que nós iremos crescer

iremos crescer,

Outros outubros virão

Outras manhãs,

plenas de sol e de luz

(Milton Nascimento;

Fernando Brant).

Este número especial da Revista Psicologia da Educação traz uma contribuição especial para a área, qual seja, a discussão sobre método. Em geral, nas publicações científicas, o método é um tópico estritamente necessário, porém sucinto; são mais escassos os artigos que tratam especificamente das questões metodológicas (Antunes, 2005).

Com base nessa premissa, pondera-se que Vigotski (2021, p. 162), ao se amparar nos fundamentos do materialismo histórico-dialético, cita Marx, afirmando que “[...] toda ciência seria supérflua se a essência das coisas e as suas formas fenomênicas coincidissem diretamente”. Tais preceitos expressam sua preocupação teórico-metodológica de superar as visões tradicionais da Psicologia, à época, centradas exclusivamente na imediaticidade dos fenômenos psicológicos tomados de modo estático e isolado, com o intuito de desvendar elementos constitutivos da essência do objeto investigado.

Nesse sentido, compartilhamos dos pressupostos vigotskianos sobre os processos e tendências de desenvolvimento do conhecimento teórico em sua complexidade:

[...] o estudo científico é ao mesmo tempo tanto o estudo do fato quanto o do procedimento de cognição desse fato. Em outras palavras, é o trabalho metodológico sobre a própria ciência, na medida em que esta avança ou toma consciência de suas conclusões. A escolha da palavra já implica um processo metodológico (Vigotski, 1927/2004, p. 316).

Frente a essas considerações, não se pode perder de vista que a produção do conhecimento científico e os pressupostos culminantes desse processo refutam qualquer pretensa “neutralidade” defendida pelos pressupostos (neo)positivistas. Nessa dinâmica, sublinha-se que:

[...] o antagonismo entre simples espontaneidade e estado consciente constitui um tema central na luta de classes dos trabalhadores. Porém, esse antagonismo, da perspectiva metodológica, nunca é simplesmente psicológico, mas possui sempre um conteúdo social: a questão referente a que momentos da exploração capitalista determinam essencialmente o comportamento dos trabalhadores que se sublevam contra ela (Lukács, 2013, p. 625).

Diante disso, impõe-se o compromisso ético-político com a formação inicial e continuada dos/as psicólogos/as e educadoras/es fundamentada na indissolúvel relação entre teoria e prática, alicerçada no engajamento com o projeto societário orientado por valores humano-genéricos que permitam dirigir o exercício profissional de modo que este não se degrade em psicologismo, o qual historicamente contribui para os movimentos produtores, legitimadores e justificadores das diferenças socialmente impostas pelos interesses dominantes (Santos, 2021).

Por este motivo, a editoria deste periódico, considerando a realização de uma atividade acadêmica envolvendo três universidades: Université de Neuchâtel, na Suíça, e duas universidades brasileiras, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que teve como questão central o debate sobre modalidades metodológicas colaborativas nas pesquisas crítico-educacionais, refeltiu sobre a relevância de publicar essa produção e decidiu publicar este número especial. Essas perspectivas têm sido recorrentes nas publicações mais recentes e guardam significativa relevância científica e, sobretudo, social, pois são construídas coletivamente com as/os participantes das escolas, lócus das investigações, comprometendo-se a produzir de maneira indissociável o conhecimento e a formação de educadoras/es, gestando transformações no cotidiano escolar.

O processo de construção deste número, por sua especificidade, contou com a colaboração preciosa das três docentes organizadoras da atividade interuniversitária e internacional, as Professoras Doutoras Laure Kloetzer, Sueli Salles Fidalgo e Wanda Maria Junqueira de Aguiar, respectivamente da Université de Neuchâtel, UNIFESP e PUC-SP. A organização desta publicação foi possível pelo trabalho exaustivo e primoroso da Profa. Dra. Luciana de Oliveira Rocha Magalhães, da Universidade de Taubaté, que realizou a consolidação dos textos e estabeleceu os contatos com todas/os as/os autoras/es para os devidos aprimoramentos dos artigos, a partir dos pareceres elaborados por nossas/os colaboradoras/es. Contamos, neste número, com a contribuição igualmente valiosa da Profa. Dra. Ruzia Chaouchar dos Santos, que assumiu este número da Revista como editora convidada. Sem a colaboração destas pesquisadoras não teria sido possível concretizar a edição desta publicação, por seu caráter particular. A contribuição das/dos pareceristas, do Programa de Estudos Pós-graduados em Educação: Psicologia da Educação, foi importante para que os trabalhos apresentados fossem avaliados com rigor.

É preciso destacar que este número da Revista Psicologia da Educação, assim como os outros que têm sido publicados, não seria possível sem o efetivo financiamento da PUC-SP, por seu Programa de Incentivo à Pesquisa - PIPEq - da Assessoria de Pesquisa da Universidade.

Esperamos que este número promova uma significativa contribuição para as/os pesquisadoras/es da área com o rico debate sobre os fundamentos da pesquisa científica, o método e a dimensão ético-política da produção de conhecimento científico em condições historicamente determinadas, que engendram as relações entre Psicologia e Educação. Esta foi a tarefa a que nos propusemos quando tomamos a decisão editorial de publicar este número especial composto por um conjunto de trabalhos, que sob distintos enfoques, abrangem instigantes reflexões com a finalidade de contribuir para o aprofundamento da discussão de método, pedra de toque da investigação científica.

Referências

Antunes, M. A. M. (2005). Materialismo histórico-dialético: fundamentos para a pesquisa em história da psicologia. In Abrantes, A. A.; Silva. N. R. & Martins, S.T. F. M. (Org.). Método histórico-social na psicologia social (pp.105-117). Petrópolis: Vozes. [ Links ]

Lukács, G. (2013). Para uma ontologia do ser social II. Tradução: Carlos Nelson Coutinho, Ivo Tonet, Ronaldo Vielmi Fortes. 1. ed. São Paulo, SP: Boitempo. [ Links ]

Santos, R. C. (2022). A dinâmica de (re)produção das queixas escolares e suas implicações nos modos de ser ético-moral segundo significações de crianças. 2022. Tese (Doutorado em Educação: Psicologia da Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: Psicologia da Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. [ Links ]

Vigotski, L. S. (2004). O significado histórico da crise na Psicologia. Uma investigação metodológica. In: VIGOTSKI, L. S. Teoria e método em psicologia. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes. Trabalho original publicado em 1927. [ Links ]

Vigotski, L. S. (2021). Problemas da defectologia. Tradução e revisão técnica: Zoia Prestes, Elizabeth Tunes. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular. Trabalho original publicado em 1898-1934. [ Links ]

Recebido: 14 de Janeiro de 2022; Aceito: 19 de Janeiro de 2023

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