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Motrivivência

versión On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.31 no.58 Florianópolis abr./jun 2019  Epub 11-Sep-2019

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e56031 

Porta Aberta

Resenha da obra “Educação Física e esporte no século XXI”

Review of the work “Physical Education and sport in the 21st century”

Reseña de la obra “Educación Física y deporte en el siglo XXI”

Marcus Vinícius Simões de Campos1 
http://orcid.org/0000-0002-1825-0097

Fidel Machado de Castro Silva2 
http://orcid.org/0000-0002-1825-0096

Natália Papacídero Magrin3 
http://orcid.org/0000-0002-1825-0095

Odilon José Rogle4 
http://orcid.org/0000-0002-1825-0094

1Mestre em Educação Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Faculdade de Educação Física, Campinas, São Paulo, Brasil. camposmvs@gmail.com

2Mestre em Educação Física Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Faculdade de Educação Física, Campinas, São Paulo, Brasil. fidel.machado@yahoo.com.br

3Mestre em Educação Física Instituto Federal do Triângulo Mineiro - IFTM, Campus Avançado Uberaba Parque Tecnológico, Uberaba, Brasil natimgrin@hotmail.com

4Doutor em Educação Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Faculdade de Educação Física, Campinas, São Paulo, Brasil. rogle@fef.unicamp.br

MOREIRA, Wagner Wey; NISTA-PICCOLO, Vilma Leni. Educação física e esporte no século XXI. Campinas: Papirus, 2016.


RESUMO

A presente resenha tem o intuito de analisar a obra Educação Física e Esporte no Século XXI” organizada por Wagner Wey Moreira e Vilma Lení Nista-Piccolo. O livro apresenta a Educação Física a partir de distintas perspectivas. A coletânea se apresenta como uma sequência da obra “Educação Física & Esportes: Perspectivas Para o Século XXI”, de 1992, objetivando trazer ao debate reflexões pertinentes a área da Educação Física que contribuem para a ampliação das discussões. Esta iniciativa de boa articulação entre temas e autores, concedeu à coletânea a posição de finalista para o Prêmio Jabuti de 2017, na categoria Educação e Pedagogia.

PALAVRAS-CHAVE: Educação física; Esporte; Educação

ABSTRACT

This review is intended to analyze the work “Physical Education and Sport in the 21st Century” organized by Wagner Wey Moreira and Vilma Lení Nista-Piccolo. The book presents Physical Education from different perspectives. The collection is presented as a sequence of the work "Physical Education & Sports: Perspectives for the 21st Century", 1992, aiming to bring to the debate relevant reflections in the area of Physical Education that contribute to the expansion of the discussions. As a result, this initiative of good articulation between themes and authors, gave the collection the finalist position for the Jabuti Prize of 2017, in the category Education and Pedagogy.

KEYWORDS: Physical education; Sport; Education

RESUMEN

La presente reseña tiene el propósito de analizar la obra “Educación Física y Deporte en el Siglo XXI” organizada por Wagner Wey Moreira y Vilma Lení Nista-Piccolo. El libro presenta la Educación Física a partir de distintas perspectivas. La colección se presenta como una secuencia de la obra "Educación Física & Deportes: Perspectivas para el Siglo XXI", de 1992, con el objetivo de traer al debate reflexiones pertinentes al área de la Educación Física que contribuyen a la ampliación de las discusiones. Como resultado, esta iniciativa de buena articulación entre temas y autores, concedió a la colección la posición de finalista para el Premio Jabuti de 2017, en la categoría Educación y Pedagogía.

PALABRAS-CLAVE: Educación física; Deporte; Educación

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como foco desenvolver uma resenha crítica do livro intitulado “Educação Física e Esporte no Século XXI”, publicado em 2016, pela Editora Papirus, com 444 páginas, organizado pela Profa. Dra. Vilma Lení Nista-Piccolo1, atualmente vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Sorocaba - UNISO e pelo Prof. Dr. Wagner Wey Moreira, atualmente professor dos cursos de Bacharelado em Educação Física, Mestrado em Educação Física e Mestrado em Educação, todos pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM.

Para o desenvolvimento desta resenha três motivos foram considerados: (1) o histórico de ambos os autores e suas contribuições para a Educação Física ao longo das últimas décadas; (2) a associação da obra ao livro “Educação Física e Esportes: Perspectivas para o Século XXI”, organizado pelo Prof. Dr. Wagner Wey Moreira e editado pela Papirus em 1992, o qual, atualmente, está na sua 17ª edição e tem ampla projeção na área, ou, como emprestamos da fala das autoras do oitavo capítulo “[...] exerceu considerável impacto em nossa área de conhecimento em virtude da qualidade de seus textos, das reflexões expressas pelos autores e do momento pelo qual passava a educação física.” (p. 173); (3) a nomeação como um dos livros indicados para a categoria Educação e Pedagogia do Prêmio Jabuti 2017.

Por apresentar um mosaico de múltiplas perspectivas, além do trato de temáticas fundamentais no âmbito da área, como o fenômeno esportivo; educação física escolar; saúde; formação profissional em graduação e em pós-graduação; tecnologias de informação; meio ambiente e sustentabilidade; dentre outras, a obra conduziu à estruturação da presente resenha. Para tanto, em um primeiro momento será apresenta a síntese de cada um dos dezoito capítulos e, posteriormente, a percepção geral da obra, abordando suas contribuições, limitações e implicações para o campo de conhecimento da Educação Física.

Parte I - perspectivas do fenômeno esportivo

Esta primeira parte do livro compreende questões a respeito do fenômeno esportivo neste milênio, em especial, aquelas referentes à educação e à pedagogia do esporte.

O primeiro capítulo do livro é desenvolvido por Jorge Olímpio Bento, no qual o autor de forma eloquente aborda inúmeros temas, perpassando pelos campos da filosofia, da antropologia, da sociologia, da poesia e da arte, mas sem, contudo, perder-se em excessiva variação epistemológica uma vez que opta pelas humanidades em seu conjunto como matriz de sua reflexão. Ao anunciar duas perguntas encadeadas, quais sejam, “Para onde caminha a educação? Qual é o ideal que a guia?”, o autor empreende uma radicalização da concepção de educação presente em nossos dias visando: “uma elaboração plural em torno dos desvios e perigos da mentalidade fabricadora, tecnicista e utilitária, de uma racionalidade inteiramente centrada no critério da eficiência, que se assenhorearam dos comandos da educação.” (p. 11, grifos do próprio autor).

O capítulo é dividido em dez seções, todas focadas na necessidade de uma retomada à educação para os preceitos éticos e estéticos, o que já prenuncia uma opção epistêmica de se aproximar estes dois campos, articulando-se suas continuidades. Entre os temas debatidos em sua seção, o autor traz à tona (I) os olhares presentes a partir de paradigmas ultrapassados e inadequados para com a educação e a maneira como a destruição dos outros toma o espaço da cooperação; (II) como a resistência ética para tais modelos é de responsabilidade dos acadêmicos, cientistas, intelectuais, teóricos e professores; (III) a necessidade da filosofia de construir novas e boas perguntas, ao passo que é necessário compreender que as melhores respostas são as perguntas; (IV) o reducionismo da educação para a preparação estritamente profissional, fruto da lógica da fábrica e o predomínio do homo faber e eficiens sobre todas as outras dimensões; (V) a necessidade de reconfigurar o sujeito da educação e tomada de consciência do proposto em curso; (VI) o apelo a não anulação dos fins da educação em função da dogmática e hipócrita ordem do dia; (VII) tomar como referência a paideia grega, para a qual a educação se concretiza em atos axiológicos que se reveem na arété, a arte dos gregos; (VIII) pensar a educação como projeto artístico, para interpretar e inspirar a vida, por esta ser o espaço da imaginação criar coisas diferentes das que já existem; (IX) a necessidade de novos personagens, novos professores e novos alunos para dar conta da empreitada; (X) finalmente, uma nova epistemologia do modo de ver o mundo e o progresso, uma revolução das mentalidades, somente operada pela educação.

Alcides José Scaglia e Riller Silva Reverdito são os autores do segundo capítulo intitulado “Perspectivas pedagógicas do esporte no século XXI”. Se as contribuições do texto anterior abarcaram questões filosóficas para com a educação de modo geral, neste momento os autores trazem à tona a necessidade de formular uma nova pedagogia para o esporte, preocupada em construir “conhecimentos teórico-práticos para sua intervenção em diferentes cenários, personagens, significados e finalidades.” (p. 45). Reunindo autores de diferentes partes do mundo, compreendidos como possíveis novas tendências em pedagogia do esporte, os autores se direcionam à tentativa de superação do modelo tradicional para o ensino dos esportes.

Segundo os autores, para trilhar esta empreitada é necessária uma nova concepção de esporte, tomando o ambiente de jogo como um sistema complexo, do qual o reducionismo tecnicista, a visão fragmentada e a crença no inatismo como fundamentos para uma pedagogia pensada para o esporte não dariam conta. Contemplando um trabalho de revisão das mais influentes teorias do conhecimento, abordagens de ensino e suas respectivas teorias pedagógicas ao longo da história da educação, os autores indicam o lugar das novas tendências sob a égide dos pressupostos interacionistas e da abordagem ecológica. Contudo, mesmo enaltecendo a sua oportunidade, esboçam a nebulosidade em relação às propostas teórico-metodológicas desta abordagem, dessa forma anunciando como desafio para este século que as novas tendências pedagógicas tenham mais clareza sobre suas intenções.

Parte II - perspectivas do movimento olímpico

A segunda das nove partes do livro dedicadas às perspectivas da Educação Física e Esportes neste século, concentra-se em pontuar o Movimento Olímpico, atrelando seus impactos sociais de legado e cultura.

O primeiro capítulo a compor essa parte, de autoria do professor Lamartine Pereira da Costa, intitulado “Perspectivas do esporte e da Educação Física com base na tecnologia e na sustentabilidade”, tem por objetivo traçar um paralelo entre as influências tecnológicas e o legado olímpico a partir do prisma do esporte. Ao longo de sua escrita retrata pontualmente a transmissão de jogos olímpicos em canais televisivos e a influência social causada. A campanha, “Esporte para Todos” é quem molda os olhares do autor para o fator sustentável oriundo do movimento olímpico.

Para o autor, o “Cubo de Preuss” é um modelo de como tornar um legado sustentável, norteado pelas dimensões - impacto em transcurso e tempo de ocorrência - modela-se variadas projeções de relacionamentos e estimativas articulando o máximo possível de dimensões para definir-se um legado. Da Costa, vai adiante quando vislumbra, ser o cubo, um hábil caminho metodológico para solucionar contradições de avanços e retrocessos na Educação Física. Sendo o esporte ao longo de sua história recente, um portador de valores científicos e tecnológicos, há eminentes indícios de ser um multiplicador do compromisso humano da sustentabilidade.

O segundo capítulo a compor esta parte corrobora com as ideias apresentadas por Da Costa, intitulado “Perspectivas dos estudos olímpicos no Brasil para o século XXI com autoria de Otávio Tavares. Este texto pretendeu demonstrar as influências do movimento olímpico na sociedade perpassando por três momentos fundamentais: Significado do Movimento Olímpico, Produção de Conhecimento e Pesquisas Produzidas.

Seu desafio inicial foi desvincular o Movimento Olímpico da concepção de comitês organizadores como o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), estes amplamente questionados por supostas ações que estariam em contraposição aos discursos educacionais. Para o autor, o Movimento Olímpico deve carregar a bandeira da pluralidade, emulando seus símbolos e valores, temos neste patamar, estudiosos dedicados a promover o fenômeno olímpico e disseminar suas positivas facetas, observa-se uma crescente produção acadêmica nos períodos pré e pós-olímpicos nos países sede, especialmente no Brasil, produções essas ligadas aos cursos de Educação Física.

Para o autor, a esta produção pontual e majoritariamente em livros é de ser dada devida atenção, visto não obter grande poder de massificação, quando o Movimento Olímpico possui potencial suficiente para auxiliar em mudanças.

Parte III - perspectivas para o trato do fenômeno corporeidade

Nesta parte do livro os dois capítulos convergem na tentativa de desmitificar a concepção dual hegemônica entre mente e corpo, renegando ao segundo o status de máquina, e suas interface para o entendimento de esporte.

Contrários a uma concepção tradicionalmente dualista de ser humano na qual mente e corpo são entidades que não configuram uma unidade, presente em filósofos, como Platão e Descartes, Silvio Gallo e Paola Sanfelice Zeppini introduzem ao debate autores contemporâneos para formularem o quinto capítulo, “O que pode um corpo? Perspectivas filosóficas para a corporeidade”. Nessa empreitada o intuito é destacar algumas ideias de filósofos de grande influência a partir da segunda metade do último século: Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault. Para dar conta da empreitada da discussão sobre o corpo, se utilizam da noção foucaultiana de “corpo utópico” e a noção de “corpo sem órgãos” originária das obras de Deleuze e Guattari.

Como nos lembram os autores, Foucault é amplamente conhecido por sua obra Vigiar e Punir, na qual o filósofo aponta o corpo como objeto das relações de poder. Contudo, no ano de 2009 fora publicada uma conferência de dezembro de 1966 na rádio France-Culture, da qual os autores resgatam uma nova filosofia do corpo em Foucault, pela qual introduz a noção de “corpo utópico” como uma expansão da vida, uma ampliação da potência, sendo o corpo a utopia, a criação de outros espaços e outras possibilidades de viver. No momento seguinte, trazem a noção de “corpo sem órgãos” de Deleuze e Guattari, uma realidade intensa, não quantificável ou mensurável. A ideia não é esfacelar o corpo, mas criá-lo na luta contra os estratos oriundos do poder que nos “amarram”, o organismo, a significação e a sujeição. Para isto é necessária uma nova compreensão do corpo como potências vivenciadas intensivamente.

Na mesma direção do primeiro capítulo desta sessão Wagner Wey Moreira (organizador) e Regina Simões irão advogar a necessidade de uma ressignificação do que compreendemos como corpo na sociedade contemporânea para modificar o atual entendimento de esporte, no capítulo intitulado “Educação Física, esporte e corporeidade: associação indispensável”. A partir da vertente fenomenológica, os autores se propõem a identificar três universos que, para eles, devem ser inseparáveis: Educação Física, esportes e corporeidade, compreendidos como inerentes e responsáveis para a superação da noção de corpo-máquina, amplamente popularizada em nossos dias pelos discursos do consumo, da saúde e da Educação Física. Advogando uma teoria da corporeidade que propicie a concepção da multiplicidade, dos sentidos, dos saberes do corpo, recorrem às reflexões de autores como Maurice Merleau-Ponty.

Esta concepção de corporeidade deve ser a premissa para uma ampla compreensão do esporte, em especial a defendida por Jorge Olímpio Bento, para além de suas manifestações no alto rendimento. Esta ampliação da compreensão de esporte traz consigo inúmeros significados e um novo redimensionamento do alcance de termos como ética e moral, pois “[...] assumir a corporeidade é assumir o compromisso com a atitude esportiva”. Finalmente, os autores encerram sua reflexão trazendo à discussão o potencial formador do esporte na educação e o principal papel dos profissionais da Educação Física, seja na licenciatura ou no bacharelado, o pedagógico, uma vez que o entendimento da corporeidade leva o aluno não somente ao conhecimento do corpo enquanto entidade física, mas que este é rodeado por questões de ordem social, política, religiosa e econômica.

Parte IV - perspectivas para a formação profissional em graduação e em pós-graduação na área

A quarta parte da obra trabalha a atual formação profissional em educação física, no âmbito do bacharel, do professor da escola e do professor universitário, identificando problemas ainda permanentes e oferecendo novas perspectivas para suas superações.

Go Tani é o responsável pelo sétimo capítulo, intitulado “Pós-graduação em educação física: crescimento e correção da rota”, tendo como objetivo questionar o papel da pós-graduação em educação física no Brasil, com seu foco na formação de doutores. Situando o leitor dos objetivos da pós-graduação, a saber, a formação de recursos humanos qualificados para a docência no ensino superior e a formação de pesquisadores para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, o autor destaca que numa área academicamente nova como a Educação Física, a pós-graduação tem o papel fundamental de contribuir para sua legitimação e consolidação.

Para formular sua reflexão, o autor discute a formação qualificada do docente de curso superior, apontando que a proposta inicial da pós-graduação em Educação Física não conseguiu lograr seu objetivo principal de “[...] formar recursos humanos qualificados para a docência no ensino superior, que implica, em última análise, uma formação para produzir conhecimento, isto é, capacidade de realizar pesquisa.” (p. 157). Este cenário é consequência da fase inicial da pós-graduação e a qualificação acelerada, fruto de inúmeros professores espalhados em universidades estaduais e federais que por conta da falta de titulação não podiam exercer plenamente as três atividades do docente universitário, o ensino, a extensão e a pesquisa. Como alternativa, o autor propõe a formação do pesquisador que ensina, mas não diminuindo a importância do ensino.

Finalmente, aponta que este processo de formação do pesquisador deve estar inserido na consolidação da Educação Física enquanto área do conhecimento, no enfrentamento do panorama vigente de crescimento de estudos desenvolvidos por personagens formados pela pós-graduação da área, mas sem relação com sua especificidade. Esta correção de rota também implica formar docentes que deverão tomar decisões a partir de uma visão ampla sobre assuntos cada vez mais sistêmicos, no intuito de contribuir para definir melhor a base epistemológica da área.

O oitavo capítulo do livro tem como autores Vilma Lení Nista-Piccolo (organizadora) e Vickele Sobreira, as quais escolheram como título “A formação em Educação Física em análise: a realidade diante das diversidades”. Suas reflexões se direcionam na formação profissional em Educação Física nos cursos superiores, abarcando tanto o bacharel como o licenciado, porém centrando o texto no segundo. Como foco, empreendem uma discussão centrada na formação profissional para a diversidade em detrimento do profissionalismo, trazendo à tona o compromisso da universidade, do currículo e dos professores dos cursos superiores nesta empreitada.

Situando o leitor através de pesquisas sobre a formação do professor de Educação Física, analisam diferentes problemas curriculares em diversas instituições de ensino, constatando a ênfase apenas nas modalidades esportivas, sem focar na prática pedagógica, evidenciando a falta de acompanhamento de muitos cursos com as demandas sociais emergentes. Esta situação permite problemas, como a formação do especialista sem conhecimento dos aspectos humanos, o ensino no curso superior descontextualizado com a realidade, disciplinas aprendidas isoladamente ou a mera transmissão de informações, todos sanáveis por um curso de graduação bem estruturado, com equilíbrio e distribuição das disciplinas, integrador do ensino, pesquisa e extensão, sustentados no conhecimento de bases epistêmicas e filosóficas sólidas, de forma a abarcar uma formação plural e contextualizada.

Parte V - perspectivas com as novas tecnologias de informação

A quinta perspectiva empenha-se a dialogar sobre o atual tema das tecnologias, temática antes não presente no livro que deu origem a este (Educação Física e esporte: perspectivas para o século XXI), no entanto, tema de muita atenção neste século.

O primeiro capítulo, de autoria de Mauro Betti e Diego de Souza Mendes, intitulado “Educação Física e esporte: perspectivas com as novas tecnologias de informação e comunicação” objetivou ampliar o debate acerca das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) no cenário social e educacional, evidenciando conceitos da Educação Física. A escrita relata períodos de mudança e significação das TICs, delimitando a abrangência da comunicação ubíqua em contato com a juventude, as tecnologias e a cultural corporal de movimento.

Segundo os autores, para ampliar os pontos de contato com a juventude, a fim de reatualizar as formas de ensino é necessário compreender os contornos específicos da midiatização estabelecendo os signos da cultura digital como elo entre as partes. As redes sociais, fenômeno em progressiva expansão, ditam aspectos comunicativos em forma de “falação esportiva” levando a foco e maciço conhecimento de novas formas de ativismo digital. Há de se criar novas interlocuções pedagógicas entre a Educação Física e as TICs, com ênfase na indústria cultural e comunicações de massa, para então estabelecer uma comunicação ubíqua à Educação Física.

Giovani De Lorenzi Pires e Rogério Santos Pereira assinam o segundo capítulo desta parte, intitulando de “Educação Física, esporte, lazer e TICs: trajetória, demandas e perspectivas para a docência e a pesquisa no século XXI” colocando a temática como desafiadora e buscando interpretar percursos recentes para então projetar futuros ou próximos.

Os autores estabelecem uma ordem cronológica para as intervenções sociais das TICs, desde sua recente chegada à Educação Física brasileira em grupos de estudos e pesquisas, perpassando e pontuando os movimentos de consolidação destas nos contextos - metodológico/tecnológico, crítico e produtivo - crendo na massificação da emissão comunicativa digital, o que gerou um movimento de novas demandas para educação e em especial para a Educação Física, tornando-se um quadro teórico-metodológico adequado tanto para a organização didática quanto para ações que tomem o corpo e seu movimento como interface com as TICs. Ressaltam ainda, que sem adequados processos, métodos e procedimentos escolares a inclusão das TICs correm o risco de se tornarem uma mudança periférica, como a de lousas a giz para lousas digitais.

Parte VI - perspectivas no universo do lazer

A sexta parte do livro concentrou autores dedicados a ampliar os conhecimentos no universo do lazer, colocando em foco as perspectivas da Educação Física no que diz respeito às pretensões futuras e ao turismo.

Antônio Carlos Bramante é quem inicia o debate com o texto intitulado “Recreação e lazer: futuro fora de nossas mãos”, apresentando resultados comparativos para 15 tópicos que ele denominou de dimensões distintas no campo do lazer, em três recortes de anos - passado (1990), presente (2010) e futuro (2030) - detectando, mesmo com o tempo, relevância para esses tópicos no presente e com boas perspectivas para o futuro.

A fim de atualizar o debate, o autor amplia de 15 para 30 dimensões, dividindo-as em sete áreas de abrangência (Questões Conceituais; Espaço: a cidade como lócus da experiência de lazer; Lazer no setor público; Lazer no setor “semipúblico”; Lazer no setor “semiprivado”; Lazer na iniciativa privada; Questões ligadas à gestão do lazer). Em meio a um jogo de trocadilhos, o autor releva limites quanto a previsões futuras, ressaltando a grande quantidade de erros inerentes a essa tentativa, no entanto salienta a validade da experiência para pensar o futuro. Mostra-se emblemático ao dizer que, na pior das hipóteses, se não se pode comprovar os benefícios do lazer para a qualidade de vida das pessoas, é patente que a ausência dele empobrece a qualidade de vida como um todo. Para ele, pensar o futuro pode antecipar desafios a serem enfrentados, construindo caminhos que auxiliem e compreendam a complexa dimensão da vida humana.

O segundo capítulo desta temática, intitulado “Reflexões e perspectivas sobre o lazer no campo da Educação Física e do esporte: o turismo como tópico emergente no século XXI” com autoria de Ricardo Ricci Uvinha e Edmur Antônio Stoppa, objetivou traçar as relações já expostas no título, considerando as novas formas de lazer da sociedade decorrente de um longo processo histórico. Para considerar sobre o turismo como área emergente do lazer, os autores inicialmente contextualizaram o lazer enquanto cultura apontando suas características na sociedade contemporânea e as polêmicas que o cercam desde o nome até a oposição ao trabalho. Os impactos do lazer na vida cotidiana envolvem também ações comunitárias e políticas de lazer, que dependem do desenvolvimento de ações específicas para superar o sentido de assistencialismo e tornar-se então uma questão de cidadania.

O turismo carrega neste contexto o rótulo de emergente devido ao exponencial crescimento atual, quando agregado ao lazer atingindo uma evidente faceta de mercadorização, devendo ser entendido como dimensão humana de elevada relevância para o engajamento social.

Parte VII - perspectivas na educação física escolar

A sétima parte da obra debruçou-se sobre a Educação Física Escolar, tema candente e um dos pilares para a área. Essa sessão teve como intuito versar sobre as problemáticas encontradas na Escola e os desdobramentos acerca da conjuntura educacional.

O primeiro capítulo nomeado: “Educação Física e esporte: novas perspectivas para o século XXI? O dia em que o macaco falou”, assinado pelo professor doutor João Batista Freire, já apresenta no próprio título um questionamento e, como subtítulo, uma provocação intrigante e paradoxal. No desenvolver do texto, o autor, nas linhas iniciais, descreve uma de suas experiências como docente em uma reunião com outros professores. Ao compartilhar suas concepções sobre a Educação Física foi, automaticamente, olhado com espanto, como se fosse um “chimpanzé falante”. Tal espanto tem como motivo a surpresa dos profissionais das outras áreas de um professor de Educação Física possuir a capacidade de argumentar e teorizar sobre a área.

Ao longo do texto, o autor problematiza a ineficiência das escolas no que se refere ao aprendizado dos alunos, anuncia e desenvolve dois dos possíveis problemas para a dificuldade de ensinar: a atenção e a pedagogia. O professor também tece críticas sobre as formas de avaliação e a lógica que se sustenta a escola. Ao final do texto, enfatiza e defende que a Educação Física é uma disciplina pedagógica que trabalha com o corpo na sua integralidade.

O segundo capítulo da sessão, assinado por Carmem Elisa Henn Brandl e Inácio Brandl Neto, nomeado: “A Educação Física escolar e as práticas pedagógicas participativas”, os autores optam por não pensar em perspectivas inéditas para o século XXI e sim retomar e investigar as propostas já criadas para assim analisar se elas ainda são atuais e se possuem capacidade de enfrentamento à realidade da conjuntura da educação física escolar.

Desse modo, os autores optam por versar sobre práticas pedagógicas participativas, pois acreditam que estas possuem um maior dinamismo, uma maior potência para lidar com a diversidade dos alunos e a possibilidade de proporcionar uma educação para a autonomia. Além desses fatores, tais práticas ressaltam a importância da participação ativa de todas as partes envolvidas no processo de ensino-aprendizagem e enfatizam a condição não rígida de tais práticas. Como exemplos dessas abordagens, os autores discorrem e apresentam o construtivismo e a pedagogia histórico-crítica. Após esse momento, demonstram como essas propostas podem ser incorporadas pela educação física escolar no seu cotidiano. Para finalizar, os autores realizam algumas considerações sobre a importância de um ambiente propício para a aprendizagem.

Parte VIII - perspectivas na relação com a área da saúde

A oitava sessão da obra destaca a área da saúde e discorre acerca de questões relacionadas ao uso do exercício físico no controle e prevenção de algumas doenças e sobre a relação estabelecida entre exercício físico e saúde. Os autores trataram sobre relevantes problemáticas presentes no século XXI.

O primeiro texto intitulado: “Educação Física e saúde no século XXI: conhecimento e compromisso social”, é escrito por Idico Luiz Pellegrinotti e Marcelo de Castro Cesar. Os autores informam que há um aumento das doenças crônico-degenerativas no século XXI e evidenciam a relevância da atividade física regular na prevenção, no controle e na redução dessas morbidades. Dada essa relação e a importância da atividade física, os autores acreditam que o campo de trabalho para os profissionais da área sofre um aumento simbólico, pois os professores podem atuar na iniciativa privada, como clubes e academias, em praças, escolas, no Sistema Único de Saúde (SUS) e em outros setores.

Como proposta que contraponha o modelo biomédico hegemônico, os autores apresentam a proposta da clínica ampliada que visa uma participação mais ativa do sujeito, contudo, há no decorrer do texto uma centralidade na questão do controle e da prescrição de determinados protocolos de avaliação e treinamento o que incorre em um retorno ao modelo biomédico.

A relação entre conhecimento científico e o compromisso pedagógico apresenta-se para os autores como um elemento profícuo para a compreensão do humano em sua forma e natureza. Para tal ação, os autores apresentam diversos quadros que visam a melhor elaboração de programas eficientes na promoção e aprimoramento da saúde dos sujeitos.

O segundo capítulo da sessão chamado: “Obesidade na infância e na adolescência: o papel do exercício físico”, escrito por Wendell Arthur Lopes e Cláudia Regina Cavaglieri, respalda-se na fisiologia e trata sobre a questão da obesidade infanto-juvenil e de como o exercício físico exerce influência na reversibilidade desse quadro. Os autores reúnem diversas fontes nacionais e internacionais acerca da temática e afirmam a gravidade da obesidade nessas etapas, pois tal fator pode desenvolver sérias doenças crônicas.

Nas subseções, os autores abordam questões, como avaliação e demografia da obesidade, causas e consequências, o tratamento da obesidade e a influência do exercício físico no tratamento da obesidade juvenil. Ademais, enfatizam a importância do papel da escola no controle disso que consideram uma epidemia global.

Parte IX - perspectivas com relação ao meio ambiente e à sustentabilidade

Na nona seção da obra, ausente no primeiro livro (Educação Física e esportes: perspectivas para o século XXI), o meio ambiente, a sustentabilidade e os seus desdobramentos ganham notoriedade e peso na discussão polêmica que essa temática carrega consigo. Autores versam em como a Educação Física pode corroborar para manter a discussão tensionada e presente nos variados contextos sociais. Os capítulos apresentam semelhanças quanto a alguns exemplos citados, materiais bibliográficos e considerações relacionadas ao papel e influência da Educação Física.

“Encontros e conexões da Educação Física com a educação ambiental: múltiplas contribuições” é o capítulo escrito por Mauricio Massari e Marcos Reigota. Divido em subseções que aludem a uma partida futebolística, os autores buscam atestar que a relação estabelecida entre Educação Física e meio ambiente, educação ambiental e sustentabilidade já existem e notam-se seus efeitos.

No segundo tempo, os autores traçam um panorama conceitual acerca das questões de educação ambiental, meio ambiente e sustentabilidade. Nesse setor, fazem uso de um aporte teórico que conta com Paulo Freire, Hannah Arendt entre outros.

Já na prorrogação, a Educação Física encontra-se com a educação ambiental e as conclusões não são animadoras, haja vista que os autores constatam que há uma reflexão teórica ainda incipiente na área e que há necessidade de um maior rigor teórico metodológico nos estudos que tratam dessa temática. Nas palavras finais os autores criticam o modelo de Educação Física que possui, como objetivos únicos, a promoção da saúde e a formação de atletas. Para uma Educação Física mais comprometida com questões ambientais é necessário que haja uma ressignificação desse padrão.

Já no capítulo “Educação física escolar, meio ambiente e sustentabilidade”, assinado por Alexandre Magno Guimarães e Simone Sendin Moreira Guimarães, os autores realizam algumas reflexões acerca dos temas meio ambiente e sustentabilidade e explicitam algumas aproximações errôneas que são cometidas no uso dos conceitos. Ao longo do texto, os autores realizam vários questionamentos e problematizam algumas questões referentes à Educação Física e a sua presença no contexto escolar.

Sobre aproximações precipitadas, os autores tencionam a relação que se estabelece entre o meio ambiente e o fato da Educação Física inserir as pessoas em ambientes naturais para a prática de esportes. Isso não atesta uma relação direta, pois essas práticas podem desviar para uma vertente extremamente utilitária do meio ambiente. Como proposta, os autores anunciam algumas estratégias como sugestão para que seja concretizada uma relação e uma aproximação de cunho mais político e social da Educação Física, do meio ambiente e da sustentabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quer seja pelo percurso de “Educação Física e Esportes: perspectivas para o século XXI” ao longo destes anos, frequentemente presente na bibliografia de várias iniciativas acadêmicas, quer seja pelo destaque agora alcançado por “Educação Física e esportes no século XXI” em razão de sua indicação ao prêmio Jabuti, o reconhecimento destes livros como referências profícuas à análise é inescapável. No que tange à obra aqui resenhada, sua qualidade intelectual é evidente, ainda que possamos apontar algumas limitações em seu alcance quando a consideramos em termos de efetivas propostas de intervenção.

O convite de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento apresenta-se como peça fundamental da obra, conferindo uma pluralidade interessante, ainda que, por vezes, graus diferentes de especialização em temas comuns gere certa discrepância entre os textos. Nesse sentido, ainda que não fosse intenção expressa, alguns capítulos entram em rota de colisão, apresentando conteúdos legítimos, mas em chaves epistemológicas quase contraditórias.

Talvez presos pela tendência de continuidade com a obra anterior, alguns temas que perderam relevância foram insistidos ao passo que outros temas que mereceriam atenção não foram contemplados e, ainda, os que foram poderiam ter ganhado maior profundidade. Em termos gerais, uma obra que reúne temas e autores diversos não tem como escapar desta armadilha, a qual não é mais grave que o esperado na obra atual.

Ainda é importante destacar que a falta de uma Introdução se faz sentir de modo incômodo. Por se tratar de uma reunião de autores e temas diversos, como já discutido, uma Introdução talvez fosse capaz de dirimir a heterogeneidade provável de uma obra com estas características. Ainda nesse sentido, a Introdução poderia ser capaz de anunciar as opções temáticas, esclarecendo porque certos temas foram insistidos e outros acrescentados. O hiato de tempo existente entre as obras poderia ser tratado, nesta Introdução, como um dado para a reflexão, apontando como os temas dos capítulos se apresentaram ao longo destes anos. Enfim, uma Introdução poderia dar organicidade à obra, alinhavando os textos de modo discursivo.

Poder-se-ia considerar também que alguns capítulos apresentam um tom quase romântico e demonstram uma carência de alternativas mais objetivas para os problemas crônicos que comprometem a ação pedagógica e o campo do conhecimento da área. Ademais, tais fatores já haviam sido anunciados na obra de 1992. Reiteramos o esforço, o complexo trabalho realizado pelos organizadores e o cuidado em produzir uma obra que sintetiza diferentes perspectivas na área. Todavia, percebemos uma certa centralidade na discussão teórica o que nos leva a inferir pouca atenção e avanço na Educação Física brasileira a respeito destas alternativas. Destacamos também a tentativa de diversidade, articulando a Educação Física com temas pungentes ao mundo contemporâneo. Assim, abre-se espaço para reconhecer a obra como campo fértil para leitores da área possibilitando diversos olhares sobre aspectos relacionados à temática da Educação Física, seus enfrentamentos e desdobramentos no século XXI.

Acreditamos que, pelo exposto, o livro pode ser um ótimo instrumento para a formação de profissionais da Educação Física, áreas afins, interessados nos temas que o compõem, ou quem objetiva tecer discussões sobre a temática a fim de planejar, discorrer, projetar e lançar críticas de modo a subsidiar, ampliar o conhecimento e, sobretudo, apresentar mais elementos a serem problematizados na prática profissional. Parece-nos que, como resultado de uma boa articulação entre temas e autores, foi concedida à coletânea a posição de finalista para o Prêmio Jabuti de 2017, na categoria Educação e Pedagogia, o que é uma posição de mérito e que justifica a atenção dessa resenha agora ensaiada.

REFERÊNCIAS

MOREIRA, Wagner Wey; NISTA-PICCOLO, Vilma Leni (Orgs.). Educação física e esporte no século XXI. Campinas: Papirus, 2016. [ Links ]

1As informações referentes ao currículo e histórico dos autores foi obtida através da Plataforma Lattes, entre os dias 01 a 20 de Novembro de 2017.

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PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

Recebido: 26 de Março de 2018; Aceito: 27 de Abril de 2018

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

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CONFLITO DE INTERESSES

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EDITORES

Mauricio Roberto da Silva, Giovani de Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira.

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