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Motrivivência

versão On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.31 no.59 Florianópolis jul./set 2019  Epub 03-Dez-2019

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2019e58016 

Artigo Original

A participação de ginastas do Rio Grande do Sul nos Jogos Olímpicos: trajetórias, narrativas e memórias

The participation of gymnasts from Rio Grande do Sul in the Olympic Games: careers, narratives and memories

La participación de gimnastas de Rio Grande do Sul en los Juegos Olímpicos: trayectorias, narrativas y memorias

Natália Bender1 
http://orcid.org/0000-0002-0585-7981

Silvana Vilodre Goellner2 
http://orcid.org/0000-0002-1990-665X

1Mestre em Ciências do Movimento Humano Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Escola de Educação Física Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil naati_bender@hotmail.com

2Doutora em Educação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Escola de Educação Física Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil vilodre@gmail.com


RESUMO

Fundamentado no aporte teórico-metodológico da História Oral, este texto tematiza a participação de ginastas do Rio Grande do Sul nos Jogos Olímpicos, tendo como foco suas narrativas. Como fontes, foram utilizadas entrevistas realizadas com os/as sete ginastas gaúchos/as participantes desse megaevento e outras narrativas cujo conteúdo se relaciona com o tema. As entrevistas foram cotejadas com outras fontes como reportagens, livros, artigos acadêmicos e atlas esportivos. A análise de conteúdo foi utilizada como ferramenta analítica, considerando as etapas de pré-análise, exploração do material empírico e tratamento dos dados. Do entrecruzamento entre as fontes, identificamos que os/as ginastas iniciaram sua trajetória esportiva na escola e posteriormente se transferiram para clubes, onde tiveram formação básica na ginástica, e para aprimorar suas performances migraram para outros estados. A participação nos Jogos Olímpicos foi representada como um momento ímpar em suas trajetórias, inscrevendo a ginástica em suas memórias, histórias e corpos.

PALAVRAS-CHAVE: Ginástica; Jogos olímpicos; Memória

ABSTRACT

Founded on Oral History’s theoretical and methodological contribution, this essay talks about the participation of gymnasts from Rio Grande do Sul in the Olympic Games, focusing on their own narratives. The sources used are the interviews made with the seven gymnasts and other narratives that are related to the subject matter. The interviews were compared with other sources such as reports, books, academic articles and sports atlas. Content analysis was used as analytical tool, taking into consideration the stages of pre-analysis, exploration of empirical material and data processing. Using source crossing, we identified that the gymnasts started their sports careers in the school and were transferred to teams afterwards, where they had basic teaching of gymnastics, and to improve their performance, they migrated to other States. The participation in the Olympic Games was marked as a lifetime period in their careers, inscribing the gymnastics in their memories, histories and bodies.

KEYWORDS: Gymnastics; Olympic games; Memory

RESUMEN

Fundado en el aporte teórico-metodológico de la Historia Oral, este texto tematiza la participación de gimnastas de Rio Grande do Sul en los Juegos Olímpicos, teniendo como foco sus narrativas. Como fuentes se utilizaron entrevistas realizadas con las siete gimnastas y otras narrativas cuyo contenido se relaciona con el tema. Las entrevistas fueron cotejadas con otras fuentes como reportajes, libros, artículos académicos y atlas deportivos. El análisis de contenido fue utilizado como herramienta analítica, considerando las etapas de pre-análisis, exploración del material empírico y tratamiento de los datos. De entrecruzamiento entre las fuentes, identificamos que los/las gimnastas iniciaron su trayectoria deportiva en la escuela y posteriormente se trasladaron a clubes, donde tuvieron formación básica en la gimnasia, y para perfeccionar sus performances emigraran a otros estados. La participación en los Juegos Olímpicos fue representada como un momento impar en sus trayectorias, inscribiendo la gimnasia en sus memorias, historias y cuerpos.

PALABRAS-CLAVE: Gimnasia; Juegos olímpicos; Memoria

INTRODUÇÃO

A realização dos Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro, possibilitou que várias modalidades esportivas adquirissem visibilidade em um país cuja cobertura midiática está focada no futebol espetacular praticado pelos homens. Possibilitou também a exibição de diferentes atletas, cujas conquistas foram representadas como feitos heroicos diante de um território pleno de competitividade, desafio e superação.

Considerando esse contexto, este artigo objetiva analisar a participação de ginastas do Rio Grande do Sul nesse megaevento esportivo, tendo como foco suas próprias narrativas. O estudo justifica-se não apenas pela escassez de publicações que visibilizam a história de atletas do Rio Grande do Sul nos Jogos Olímpicos, mas também pela possibilidade de fomentar reflexões a partir dos dados levantados, sobretudo, aqueles advindos das entrevistas realizadas com atletas e treinadores/as que integraram a seleção brasileira olímpica em alguma edição da competição.

A escolha pela ginástica tem profunda relação com a história do esporte no Rio Grande do Sul, visto que essa prática corporal se estruturou no final do século XIX, tornando-se pioneira em relação a outros esportes no cenário regional e a outras manifestações ginásticas no contexto nacional. A fundação da Sociedade Ginástica de Porto Alegre (Sogipa), em 1867, a criação da Liga de Ginástica do Rio Grande do Sul, em 1895, e a realização da primeira competição de ginástica artística do Brasil, na cidade de Hamburgo Velho, em 1996, são alguns dos indicadores do caráter pioneiro do esporte, cuja disseminação é atribuída à imigração alemã (PUBLIO, 2004; NUNOMURA; PICCOLO, 2008; SCHIAVON et al., 2013). Dentre as modalidades reconhecidas pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), apenas a Ginástica Artística (GA), a Ginástica Rítmica (GR) e a Ginástica de Trampolim (GT) integram o programa olímpico, e destas, somente a última não contou com a presença de atletas do Rio Grande do Sul ao longo de todas as edições dos Jogos Olímpicos.

Para efeitos deste estudo, adotamos como critério para definir os sujeitos da investigação aqueles que, nascidos em solo gaúcho, independente de terem competido no Jogos Olímpicos, lá estiveram. Tal opção parte do princípio de que, para adentrar o seleto quadro de ginastas, esses/as esportistas vivenciaram experiências significativas em suas carreiras desde o momento da convocação para integrar a seleção até a sua presença na arena olímpica. Tal afirmação avaliza a escolha dos ginastas que integram este estudo, cujos nomes foram obtidos a partir da consulta ao site do Comitê Olímpico do Brasil e a três obras referenciais: Atlas do Esporte no Brasil (DACOSTA, 2004), Atlas do Esporte no Rio Grande do Sul (MAZO; REPOLLD FILHO, 2005) e Enciclopédia Olímpica Brasileira (RUBIO, 2015). Desde a inserção das ginásticas no programa olímpico, o Rio Grande do Sul se fez representar por sete ginastas, cinco atletas e dois treinadores, sobre os quais apresentamos alguns dados seguindo a ordem de participação nesse megaevento.

Gérson Klippel Gnoatto (8/10/1963) foi o único ginasta brasileiro que disputou os Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984). Sua carreira durou quatorze anos e nesse período participou do Campeonato Mundial de Budapeste (1983) e da Universíade de Kobe (1985). Em 1987, abandonou a ginástica para trabalhar como representante comercial. Passaram-se oito anos até que Marta Cristina Schonhorst (11/11/1974) assegurasse uma vaga individual na Ginástica Rítmica nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), aos 18 anos. Sua primeira competição internacional se deu aos 9 anos em um campeonato sul-americano. Em 1989, estreou no campeonato mundial no qual conquistou a vaga olímpica, e por mais de uma década serviu à seleção. Encerrada a carreira de atleta, dedicou-se aos estudos e assumiu a coordenação técnica das seleções olímpicas de Ginástica Rítmica no período 2004-2008. No ano 2000, nos Jogos Olímpicos de Sidney, Natália Scherer Eidt se tornou a segunda gaúcha a integrar a equipe de Ginástica Rítmica e, nessa mesma edição, Daiane dos Santos foi convocada como reserva para a equipe de Ginástica Artística. A carreira de Natália (28/10/1985) se encerrou quando tinha 19 anos em função de lesões. Sua primeira convocação para a seleção aconteceu aos 12 anos para participar do Campeonato Pan-Americano de Ginástica Artística e Rítmica realizado em Houston, no qual obteve o 3ª lugar. Depois dos Jogos Olímpicos de Sidney, ainda participou dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (2003), conquistando três medalhas de ouro. Abandonou as competições no período preparatório para os Jogos de Atenas e passou a se dedicar à formação em Educação Física. Nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004), a Ginástica Artística contou com a participação de Daiane dos Santos e de Mosiah Rodrigues. Daiane (10/02/1983) foi convocada para a seleção pela primeira vez em 1997 para competir no Campeonato Sul-Americano do Chile. Dois anos depois, aos 26 anos, conquistou o 2º lugar no salto e o 3º no solo nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg. No ano de 2003, sagrou-se campeã de solo no Campeonato Mundial de Anaheim (USA) e com a equipe conquistou a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo. Foi a primeira ginasta brasileira a chegar a uma final olímpica tendo obtido a 5ª colocação. Conquistou ainda o vice-campeonato por equipe nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro (2007) e a 6ª colocação por equipe nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008). Sua terceira e última participação nos Jogos Olímpicos aconteceu em 2012, competição na qual as brasileiras obtiveram o 12º lugar. Nesse ano, abandonou as competições tornando-se professora de Educação Física e empresária. Mosiah (31/08/1981) iniciou os treinamentos aos 11 anos e, ainda juvenil, integrou a seleção principal. Nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo conquistou a medalha de prata por equipe e a de bronze no salto sobre cavalo e na barra fixa. Foi o único ginasta brasileiro a participar dos Jogos Olímpicos de Atenas. Foi medalhista nos Jogos Sul-Americanos de Buenos Aires (2006) e nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro (2007). Em 2009, disputou a Universíade de Belgrado, o Campeonato Mundial de Londres e o Troféu Brasil, no qual conquistou a medalha de ouro. Antes de abandonar as competições, nesse mesmo ano, conquistou cinco medalhas no Campeonato Sul-Americano. Nos Jogos Olímpicos de Atenas houve também a participação dos dois treinadores: Adriana Alves (5/08/1972), que iniciou na ginástica aos 9 anos e, para pagar seus estudos, aos 14 começou a dar aulas e treinar ginastas. Graduou-se em Educação Física em 1996, e até hoje atua como treinadora. Participou de duas edições dos Jogos Olímpicos: em Atenas, acompanhou Daiane e, em Londres, Adrian Gomes. Leonardo Finco (22/06/1964) foi ginasta dos 12 aos 18 anos, quando começou a atuar como treinador. Participou dos Jogos de Atenas como treinador de Mosiah e desde então atua na preparação de atletas. Adrian Gomes integrou a seleção olímpica em 2012, mas em função de uma lesão às vésperas da prova, não competiu. A atleta iniciou na ginástica ainda na escola e logo migrou para um clube. Participou dos Jogos Pan-Americanos de Ginástica de Guadalajara (2010), de Medellín (2012), dos Jogos Sul-Americanos de Santiago (2011) e de Rosario (2012), cujos resultados favoreceram sua convocação para Londres. Atuou como ginasta até 2014, quando abandonou o esporte competitivo e passou a atuar como professora de dança e de ginástica.

A pesquisa foi desenvolvida a partir da perspectiva teórico-metodológica da História Oral (ALBERTI, 2005; MEIHY, 1998), entendendo que as narrativas advindas das entrevistas não representam a verdade do acontecido, mas o modo como os/as ginastas perceberam sua participação nesse megaevento esportivo. Acessar suas memórias, sentimentos e significados que atribuem às suas trajetórias significa entender a “presença do passado no presente imediato das pessoas” (MEIHY, 1998, p.13), levando em conta o modo como os/as narradores/as rememoram o acontecido. Afinal, ao recorrermos à memória de pessoas, acessamos experiências que são individuais e coletivas, pois, ainda que a memória seja guardada por um indivíduo tendo como referência suas experiências e vivências, ela está marcada pelo grupo social com o qual conviveu e se socializou, e essa sociabilidade se configura como um elemento essencial da formação de sua identidade, da percepção que tem de si mesmo e dos outros (ALBERTI, 1989; FERREIRA; AMADO, 1996).

Para este artigo foram analisadas entrevistas1 com os oito ginastas olímpicos, além de outras produzidas pelo Projeto Garimpando Memórias, em especial, aquelas que tematizam a presença de atletas em megaeventos esportivos e as que versam sobre as modalidades ginásticas. Essas entrevistas foram cotejadas com outras fontes, como algumas reportagens publicadas em jornais e artigos acadêmicos. Apesar de nos referenciarmos basicamente nas narrativas orais, as demais fontes foram analisadas com a mesma importância e significação, visto que “a relação história oral e pesquisa documental é bidirecional e complementar. Ambas fornecem simultaneamente subsídios e informações à outra, tornando o processo de construção de fontes orais extremamente desafiante e rico” (DELGADO, 2006, p.25).

Como ferramenta metodológica foi utilizada a análise de conteúdo (BARDIN, 2000) a partir de três fases distintas: a pré análise, a exploração do material empírico e o tratamento dos dados. Do entrecruzamento entre as entrevistas e os diferentes documentos que compõe o corpus empírico da pesquisa, destacamos dois temas que foram recorrentes nas narrativas dos sujeitos que compõem este estudo: a inserção na ginástica e a participação nos Jogos Olímpicos.

A INICIAÇÃO EM SOLO GAÚCHO E A MIGRAÇÃO PARA APERFEIÇOAMENTO

O primeiro contato com a ginástica parece ser comum aos/às atletas entrevistados/as e se deu a partir de duas instituições: a escola e o clube esportivo. Ainda que em contextos diferentes e em temporalidades distintas, esses locais promoveram modos de praticar a ginástica que marcaram o corpo e a subjetividade das crianças que posteriormente dedicaram-se ao esporte transformando-se em atletas ou treinadores/as olímpicos/as.

Com exceção de Gerson, todos os/as ginastas iniciaram na modalidade no contexto escolar, local onde suas habilidades e potencialidades foram observadas. Mosiah narra que teve sua iniciação com seis para sete anos em uma escola municipal de Porto Alegre, onde participava de um projeto de capoeira. Relembra que seu professor identificou seu potencial de atleta e “fez uma autorização a próprio punho, levou isso até a minha mãe, para ter autorização para me levar até o clube, ele me levou até o Grêmio Náutico União, fiz um teste lá e enfim, troquei a capoeira pela ginástica artística” (RODRIGUES, 2013, p.1). Adrian aponta que iniciou nessa mesma faixa etária: “Com seis anos, comecei na Educação Física porque tinha ginástica. Fazia duas vezes na semana e a professora me viu, perguntou se eu queria participar dos treinos” (GOMES, 2014, p.1). O mesmo aconteceu com Daiane, porém de modo mais tardio:

Ao contrário de muitas meninas que iniciam cedo na ginástica, em média aos seis anos, Daiane descobriu seu talento tarde, já aos 11. Ela brincava com uma amiga numa praça quando foi vista pela professora Cleusa de Paula, que logo a levou para treinar na Associação dos Amigos do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (ESPORTE ESSENCIAL, 2014, s.p.).

Marta e Natália também conheceram a Ginástica Rítmica no contexto escolar. A primeira nasceu na cidade de Passo Fundo, mas frequentou o colégio na capital, onde praticava as modalidades de voleibol, ginástica e atletismo. “Aos sete anos optou pela Ginástica Rítmica e passou a treinar na Sogipa” (RUBIO, 2015, p.356). Natália fez sua formação inicial na cidade onde nasceu, Santa Cruz do Sul. Lá frequentou o Colégio Mauá e nele se aproximou da ginástica: “Eu comecei a praticar ginástica com cinco anos de idade, no colégio, em uma demonstração feita na escola, porque na minha escola a modalidade era demonstrada e eu me interessei e comecei a praticar, foi assim que começou” (EIDT, 2014, p.1).

Gérson trilhou um caminho diferente: foi induzido no esporte por força da trajetória esportiva de seus pais. Dante Gnoatto, pai de Gérson, integrou a equipe brasileira que participou do I Campeonato Mundial de Ginástica disputado em Roma, no ano de 1954. Cabe destacar que dos seis atletas da equipe, três eram no Rio Grande do Sul, fato que tem forte relação com a história da modalidade. Afinal, o início de sua prática institucionalizada ocorreu na região Sul, sendo que as primeiras Federações no país foram fundadas na região Sudeste (PÚBLIO, 1998). Sua mãe também era ginasta e estava grávida dele quando participou dos Jogos Pan-Americanos realizados em São Paulo, em 1963. O grande envolvimento e a paixão pelo esporte fizeram com que Dante levasse seus três filhos para o Grêmio Náutico União. No entanto, conforme registra em sua entrevista: “só o que ficou foi o Gerson. Foi campeoníssimo” (GNOATTO, 2005, p.3).

Merece destaque na formação dos/as ginastas sul-rio-grandenses um espaço de gestão pública: o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE), criado em 1963 sob gestão do governo estadual. Exceto Marta e Natália, as atletas da Ginástica Rítmica, os/as demais atletas tiveram passagem neste centro, inclusive Leonardo Finco e Adriana Alves que fizeram carreira como treinadores. Vejamos:

Eu comecei tarde na modalidade que eu atuo que é a ginástica. Eu nasci no interior e na cidade em que eu nasci não existia. Vim morar em Porto Alegre quando eu tinha doze anos, queria praticar um esporte aqui, me indicaram o CETE, na época eu vim conhecer o que tinha de esporte, que eram vários. Olhei para a ginástica, me apaixonei e a partir daí fui atleta, pouco, dos doze aos dezoito (FINCO, 2013, p. 1).

Na verdade comecei na escola estadual, em Porto Alegre mesmo e eu comecei fazendo a parte de dança e de ginástica rítmica na escola, a professora da escola me encaminhou para o CETE, que é o Centro de Treinamento [...] ali eu comecei com a ginástica artística em 1981 (ALVES, 2013, p. 1).

O trabalho com a ginástica teve início no CETE no ano de 1976, e para “que as ginastas pudessem participar das competições, foram filiadas através da Associação dos Servidores da Secretaria de Educação e Cultura” (SANTOS; NEGAMINE; BERNARDI, 2005, p.30). O Centro possuía estrutura adequada e satisfatória para a iniciação esportiva, conforme podemos identificar no relato de Daiane ao se referir ao período no qual treinou nesse local: “Então em relação à estrutura física de onde eu comecei, para a iniciação era boa. Tinha tablado, tinha fosso, paralela, solo. Era bem legal assim. O espaço era grande e era público! Nesse lugar tinham vários tipos de esporte” (SANTOS apud SCHIAVON, 2009, p.189).

Zelira Eichenberg, uma das pioneiras no trabalho com a Ginástica Rítmica no Rio Grande do Sul, indica em sua entrevista como se dava a transição de ginastas das dependências do CETE para os clubes esportivos:

Dentro do CETE, se fez uma associação desportiva para poder trabalhar. Então, essas crianças que eram escolhidas ou descobertas, eram levadas para essas associações desportivas que assim poderiam competir. No momento que os clubes começaram a abrir [...] as escolinhas eram a massificação. As escolinhas do CETE sempre foram a porta para entrar dentro da GR. Depois dali os técnicos escolhiam as ginastas (EICHENBERG, 2010, p. 4).

Daiane, Adrian e Mosiah são exemplares dessa afirmação e, tão logo seus talentos foram detectados, migraram para o Grêmio Náutico União, cujo foco era a competição. “Mas eu acho que a diferença de quando eu fui para o União acho que era a intensidade de treinamento. Que era uma coisa mais séria, e era mais no nível competitivo mesmo. Mais forte. No União tinha uma organização mais completa do que tinha no CETE” (SANTOS apud SCHIAVON, 2009, p.215). Daiane está se referindo ao ano de 1995 quando chegou ao clube e passou a ser treinada por Adriana Alves que, mesmo depois da atleta migrar para o Centro de Treinamento de Ginástica em Curitiba, no ano de 2002, continuou sendo sua treinadora, inclusive acompanhando a ginasta nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e de Pequim (2008). Adrian Gomes também faz essa análise quando rememora sua transferência do CETE para o União:

Na verdade assim, no CETE era mais recreio, mais brincadeira e tal; claro tinha as competições que a gente achava muito legal, na verdade não valia quase nada, mas para a gente que era pequenininha valia muito... Depois quando eu fui fazer esse teste no União eu vi as pequeninhas lá, da minha idade, treinando, mas treinando muito assim, bem forte (GOMES, 2017, p. 3).

Mosiah fez um percurso um pouco diferente e da escola migrou diretamente para um clube: o Grêmio Náutico União, instituição que historicamente investiu na formação de ginastas de alto nível. Em sua entrevista relata: “Mas quem realmente faz ginástica artística no nosso estado é o Grêmio Náutico União; a Sogipa trabalha mais de forma de lazer mesmo, mais de atividade física, de proporcionar isso para as crianças, mas falando em esporte é só o Grêmio Náutico União” (RODRIGUES, 2013, p.2). Diferente de suas colegas de modalidade, foi o único atleta que permaneceu no Rio Grande do Sul durante toda a sua carreira.

Eu entendi que eu podia, dentro do Grêmio Náutico União, chegar aos Jogos Olímpicos, enfim, de conseguir desenvolver o meu potencial. E por isso também eu não quis deixar o nosso estado. Tive convites de São Paulo, do Rio de Janeiro, mas aquela coisa, sem ter muita perspectiva de futuro, então, preferi ficar aqui onde seria o meu porto seguro, digamos assim, ter tranquilidade para poder treinar e me desenvolver tecnicamente (RODRIGUES, 2013, p. 3).

Sua classificação para os Jogos Olímpicos aconteceu em 2003 no torneio pré-olímpico realizado nos Estados Unidos. Nas suas palavras: “A nossa equipe não conseguiu nenhuma vaga, mas eu individualmente, pela minha competição, conquistei uma vaga, não para o Brasil, mas conquistei a minha vaga” (RODRIGUES, 2013, p.3). A trajetória esportiva de Leonardo e de Adriana também se estruturou e se consolidou em solo gaúcho que, em grande medida, foi responsável pela preparação de Mosiah e Daiane, cuja base foi formada no Grêmio Náutico União.

Em que pese as narrativas favoráveis dos atletas sobre a estrutura da ginástica no Rio Grande do Sul, vale registrar que, exceto Mosiah, todos migraram para outros estados visando o aprimoramento de sua formação. Segundo Gomes, Cros e Anjos (2016), a atratividade de outras cidades “acontece principalmente pelo amplo número de instituições esportivas que oferecem a prática de modalidades diversas, pelo maior número de competições e pela maior atenção midiática, que se converte em maiores possibilidades de patrocínios” (p. 14).

Gerson mudou-se para Belo Horizonte em agosto de 1980, então com 17 anos, visando qualificar-se para competir em campeonatos internacionais. Em função desse aprimoramento, no ano de 1983, participou do Campeonato Mundial, em Budapeste, onde obteve a classificação para participar dos Jogos Olímpicos de 1984. Em sua entrevista relembra: “Eu fui classificado para ir para os Jogos Olímpicos nesse campeonato. Então, praticamente um ano depois, um pouco menos de um ano, a preparação que eu tive foi dentro do Minas Tênis Clube” (GNOATTO, 2014). Acontecimento este que não passou despercebido pela imprensa esportiva. Em junho de 1984, a Revista Placar destaca a presença do gaúcho em Minas Gerais:

No próximo sábado, dia 30, o público de Belo Horizonte poderá ver, com exclusividade de mundial, uma prova de ginástica de nível olímpico: Gerson Klippel Gnoatto, 20 anos, único ginasta brasileiro convocado para os Jogos de Los Angeles, apresenta na I Copa dos Campeões de Ginástica, marcada para o ginásio do Minas Tênis Clube, a série com que vai disputar uma modalidade olímpica (REVISTA PLACAR, 1984, p. 53).

As atletas da Ginástica Rítmica também deixaram o Rio Grande do Sul, seja por motivos pessoais, seja em busca de aperfeiçoamento. Marta viveu no Rio Grande do Sul apenas na infância. Aos 7 anos iniciou na ginástica, na Sogipa, e dois anos mais tarde participou de sua primeira competição. No entanto, foi em São Paulo e na Alemanha que fez sua formação, em função de transferências da sua família. A chance de participar de treinamentos no exterior fez com que melhorasse sua performance. Em 1989, participou do Campeonato Mundial na Iugoslávia e, no ano seguinte, conquistou a vaga individual para os Jogos Olímpicos de Barcelona, disputados em 1992, competição na qual conquistou a 41º posição dentre as 43 atletas participantes. Natália vivenciou sua formação de base no estado, mais especificamente no Colégio Mauá, na cidade de Santa Cruz do Sul, onde iniciou sua prática esportiva. Várias de suas vitórias aconteceram quando estava nessa instituição, com destaque para o Campeonato Sul-Americano realizado na Venezuela, em 1999, quando ganhou três medalhas de ouro. Em 2000, a atleta “conquistou vaga na Seleção Brasileira Permanente de Conjunto em Londrina - PR, permanecendo nesta cidade até 2003” (SANTOS; NEGAMINE; BERNARDI, 2005, p.31). Nesse mesmo ano, com apenas 14 anos de idade, participou dos Jogos Olímpicos de Sidney, se classificando com o 8º lugar no cômputo geral. Em sua entrevista rememora: “E foi assim a caminhada até a convocação, foi bem difícil porque eu sempre tive lesão e isso me desgastou muito, também foi difícil por ser do interior, daí competir e, às vezes achar injusto, porque tem toda essa questão de ser do interior e de um colégio” (EIDT, 2014, p.5).

Um acontecimento foi determinante para a migração de Daiane, Adrian e Natália: a criação de Centros de Treinamentos das modalidades ginásticas. Em 2001, a Confederação Brasileira de Ginástica criou uma estrutura para a Ginástica Artística Feminina, na qual:

As melhores ginastas do Brasil passaram a treinar juntas em regime de concentração no Centro de Treinamento da modalidade em Curitiba2. Apenas as meninas que residiam com suas famílias na cidade voltavam para os seus respectivos lares após a longa jornada no ginásio que durava, em média, sete horas diárias, de segunda a sábado (NUNOMURA; OLIVEIRA, 2012, p. 380).

Em estudo realizado com ginastas paulistas no período de 2011 a 2014, Letícia B. Lima (2016) identifica que a migração das atletas se deu, entre outros motivos, pela inexistência de um Centro de Treinamento em São Paulo, “assim como a transição de técnicos de São Paulo para o Rio de Janeiro e o acompanhamento de algumas ginastas com eles” (p.135). Ou seja, a busca por melhores condições de treinamento, o apoio financeiro e a estrutura de alto nível dos Centros de Treinamento capturaram as ginastas gaúchas promovendo sua migração para outros Estados. De maneira semelhante, foi criado um Centro de Treinamento para a Ginástica Rítmica junto a Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR), na cidade de Londrina, que também abrigou uma seleção permanente. Voltados para o alto rendimento, esses centros de excelência acolheram as ginastas gaúchas que, uma vez convocadas para a seleção nacional, passaram a neles treinar.

O processo de transferência, apesar de trazer projeção para as gaúchas, provocou desconfortos e desestabilizações. Adriana, técnica de Daiane, assim se refere a criação da seleção permanente:

A Daiane era nossa mídia dentro do espaço, então, as crianças vinham para ver a Daiane. [...] Então qualquer coisa que se fazia era em função dela, e a saída dela para uma seleção permanente, para nós seria muito ruim, porque o clube teria ela em poucos momentos. [...] A seleção permanente, que eram os russos e a Confederação, não queria mais que nós treinadores nacionais, que não estivéssemos inseridos no sistema, estivéssemos muito próximos, porque eles diziam que cada vez que o ginasta vinha para seu clube ele engordava, ou ele treinava mal, entendeu? Eles começaram a colocar isso na cabeça das meninas, então, claro, elas não queriam mais voltar e lá elas tinham um ginásio de primeiro mundo, no clube elas não tinham um ginásio de primeiro mundo. Só que quem pagava o salário era o clube, quem tinha formado era o clube (ALVES, 2013, p. 6-7).

Se a condição para estar na seleção era morar nos Centros de Treinamento, a estadia longe da família também representava novos desafios para as ginastas. Natália relembra:

Eu acho que a ginástica me fez amadurecer muito mais cedo, até porque eu fui embora de casa com treze anos [...] Era muito diferente. Começando por uma treinadora russa, que tinha lá e era uma ex-atleta olímpica da ginástica que na Olimpíada de Atlanta em 1996 tinha conquistado o pódio pela Rússia [...] então, eu tive muita dificuldade porque era outro ritmo de treinamento (EIDT, 2014, p. 6).

Adrian também deixou seu clube para servir à seleção e, aos 14 anos, transferiu-se para São Paulo, experiência que a desestabilizou. “Foi uma época bem sofrida para mim, porque era uma coisa muito regrada e eu não estava preparada psicologicamente; fisicamente eu estava, mas psicologicamente não, eu acho que eu era muito pequena [...]” (GOMES, 2014, p.2). O desajuste de Adrian fez com que fosse dispensada da equipe, a qual voltou a integrar apenas em 2009, quando fez sua preparação para participar dos Jogos Olímpicos de Londres, competição na qual foi acompanhada pela treinadora Adriana.

Enfim, tomando como referência as narrativas desses/as ginastas, podemos entender que ao expressarem aspectos relacionados a sua trajetória individual tornam visíveis questões afetas, ao que Katia Rubio denomina de a “cultura da modalidade”, cuja sedimentação e transformação é “influenciada pela tradição que envolve suas origens e continuidade, pelo momento histórico em que ela se realiza e também pelas políticas institucionais que regem a modalidade” (RUBIO, 2006, p.19). Ou seja, as suas trajetórias esportivas só foram possíveis porque no Rio Grande do Sul as modalidades ginásticas integraram o rol de práticas corporais ofertadas nas instituições escolares e clubísticas (TESCHE, 2001). Foi na escola que os/as atletas tiveram os primeiros contatos com a modalidade (exceto Gérson) e foi no clube que se transformaram em atletas, o que expressa aspectos relacionados à tradição da ginástica no Rio Grande do Sul, cujos clubes fomentadores da modalidade foram fundados por imigrantes alemães com a finalidade de preservar a cultura e os costumes, “uma vez que a prática da ginástica representava uma das manifestações culturais desta comunidade (MAZO; LYRA, 2010, p.968).

Migrar para outros estados foi necessário para que buscassem qualificar suas performances e para aprimorar sua formação profissional depois que deixaram de competir. Ainda assim, a identificação com seu estado de origem se fez presente em suas narrativas dado o vínculo não apenas de nascença, mas de pertencimento cultural, cujas memórias remetem a aspectos particulares, sobretudo, de sua infância e formação inicial. Nesse sentido, chegar aos Jogos Olímpicos resultou de uma série de fatores, incluindo os individuais e os afetos à cultura da modalidade. Essa junção possibilitou que alçassem aquilo que faz parte do desejo e do imaginário de grande parte de quem se dedica ao esporte de alto rendimento: integrar o “sonho olímpico”.

OS JOGOS OLÍMPICOS DE PERTO E POR DENTRO: A NARRATIVA DOS/AS GINASTAS

A oportunidade de fazer parte dos Jogos Olímpicos é comumente representado como o ápice da carreira de atletas. Fazer parte da maior competição esportiva do mundo é um sonho e um desafio: “uma coisa realmente muito grande para o atleta, é o máximo que ele pode chegar” (EIDT, 2014, p 9). Os esforços empreendidos para alcançar esse sonho parecem ser recompensados só pelo fato de estarem nos Jogos, mesmo que nenhuma medalha seja conquistada. Ao analisar o significado que os/as atletas e treinadores/as do Rio Grande do Sul atribuem a esse evento, Macedo e Bernardi (2016) apontam que o destaque acontece não apenas pela participação na competição, mas por todo o ambiente que a circunda: “a organização da Vila Olímpica, a participação na cerimônia de abertura, a convivência com ídolos do esporte de várias nacionalidades, a estrutura das competições, a segurança, a torcida, a mídia e as lembranças que essa participação gerou” (p.129).

Para Daiane “a Olimpíada é muito especial, todo mundo que participa, independente do resultado, eu acho que já é privilegiado, porque pouquíssimas pessoas conseguem chegar assim” (SANTOS, 2014, p.6). Adriana, sua treinadora, afirma: “É muito legal a experiência de tu participar dos Jogos e tu estar dentro da Vila Olímpica sabe? Tu estás vivendo com aquelas pessoas que tu olhas, que também são ídolos [...]. Então é um somatório de conhecimento, de troca de experiência que é fantástico” (ALVES, 2013, p.9). Mosiah assim percebe sua presença:

Foi o ano que eu tive que largar a faculdade, que eu tive que, enfim, direcionar todas as minhas atenções e energias para aquele evento e de fato deu certo assim, porque a minha competição foi a competição da vida, digamos assim. Foi super boa, o evento é feito todo para os atletas que estão lá, então, não é só uma competição: a cidade, o país, tudo respira aquilo, então, em qualquer lugar que a gente vá, metrô, o centro da cidade, a vila olímpica, enfim, tudo é Olimpíada (RODRIGUES, 2013, p. 8).

Ter a oportunidade de competir com atletas de vários países, vivenciar o glamour que circula em torno da competição, ter visibilidade na mídia e partilhar o ambiente olímpico são apontados como uma oportunidade ímpar em suas trajetórias. No entanto, para chegar lá muito esforço foi empreendido. A preparação exige uma dedicação cuja performance resulta de treinos desgastantes, restrições alimentares, afastamento da vida social, resistência a dor e resiliência. O treinamento é marcado pelo stress sobre o corpo, visando que ele responda às exigências e assim supere seus próprios limites. “Não por casualidade, os atletas aprendem a conviver com a dor como se ela fosse não apenas ‘natural’, mas, em certos casos, até mesmo desejável (VAZ, 2016, p.92). Ou seja, a dor não é ocasional. Ela integra a trajetória de quem se dedica ao esporte. Para Daiane: “Às vezes uma lesão normal de treino, cansaço, por estresse, alguma coisa. Mas tem vários tipos de lesão. Agora, eu quando lido com uma lesão... tem gente que diz: ‘você não se abala?’ E eu falo: ‘Se eu me abalasse não tinha que ser atleta, porque todo atleta vai passar por isso’” (SANTOS apud SCHIAVON, 2009, p.265). Essa afirmação permite entender que a dor compõe não apenas a rotina das ginastas como integra ainda o imaginário do ser uma atleta de alto rendimento. Segundo Maurício Oliveira (2014):

As ginastas treinam e se desenvolvem rodeadas de histórias de sacrifício à dor, Muitas vezes observam suas companheiras e vivenciam situações que aumentam sua tolerância aos desconfortos e sinais do corpo de que há algo errado. E, dessa forma, cria-se uma cultura de que aquela que sente dor, mas que se mantiver firme no seu propósito, logrará sucesso, contrário àquela que desiste frente a esses obstáculos (p. 135).

Natália também vivenciou essa realidade, visto que durante sua trajetória sofreu muitas lesões e mesmo assim persistiu: “Eu continuei treinando e isso desencadeou vários outros problemas, hoje inclusive três médicos me acompanham porque eu vou ter que operar a coluna, porque não tem mais jeito assim, por causa da ginástica, eu consegui destruir a minha coluna” (EIDT, 2014, p.10). Adrian, por sua vez, levou seu desejo ao extremo: Convocada para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, sofreu uma lesão quarenta e oito horas antes da sua competição. “Ela machucou porque ela tem uma hérnia de lombar e a hérnia travou de uma tal forma que ela acabou sendo retirada vinte e quatro horas antes do evento” (ALVES, 2013, p.8). Apesar do desconforto e da dor, a ginasta propôs à equipe médica que a mantivesse na competição:

Me desesperei muito. Perguntei se fosse qualquer outra menina da Seleção, eles também não deixariam. Questionei o porquê de não poder competir sendo que eu tinha aguentado até lá. Minhas dores nas costas já vinham desde o início do ano. Perguntei várias vezes e só diziam que não dava. Comprometi-me a assinar um termo de responsabilidade e só falavam: ‘Não, pode ser pior quando tu tiveres lá saltando’. Porque na verdade eu estava travada, não conseguia puxar a perna, perdi a sensibilidade da perna esquerda. Falaram que nem assinando, nem fazendo nada, me desesperei mais ainda, chorei um mês (GOMES, 2014, p. 6).

Situação semelhante foi vivida por Soraya Carvalho nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Uma grave fratura na perna por estresse impediu que participasse da competição às vésperas de sua realização. Sobre esse episódio, a atleta rememora: “Então, foi muito desgastante porque eu tive esse resultado e esse resultado para mim foi muito ambíguo. Da mesma forma que foi muito triste, para mim foi um alívio, assim: Ai, graças a Deus. Não vou precisar fazer mais nenhum esforço. Não vou precisar treinar mais nenhum dia. Chega” (CARVALHO apud SCHIANON, 2009, p.281).

Para além da dor física, a pressão sentida ao realizar as provas é algo que os/as ginastas referem em suas entrevistas. Natália assim se refere a essa situação: “A gente tem aquele um minuto e meio, no caso o conjunto dois minutos e meio, para mostrar o que você treinou a vida inteira e se você errar põe tudo a perder, então é uma pressão muito grande antes de você entrar na quadra” (EIDT, 2014, p.8). Essa pressão não recai somente na exibição de uma boa performance, mas envolve outras circunstâncias, como descreve Gerson:

Eu senti um peso muito grande, sabe? É um peso que ninguém põe em ninguém, mas tu sente que tu está no maior evento do mundo e tem cobranças subliminares, vamos dizer assim. Toda hora tu dando entrevista, perguntando em jornal, em rádio, em televisão, se tu vai bem [...]. Quer dizer, então, de certa forma tem essa cobrança indireta que vai te colocando um peso nos ombros (GNOATTO, 2014, p. 10).

Daiane vivenciou esse sentimento: considerada uma das favoritas à conquista da medalha de outro nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, frustrou essa expectativa ao cometer erros em sua coreografia, conquistando a quinta colocação. “É difícil de você saber lidar com a pressão, é difícil de você saber lidar, tudo ali na mão. Porque naquele momento eu tinha tudo na mão. Era aquela coisa, se você não errar você vai ser campeã olímpica. E foi um passinho a mais que não deu” (SANTOS apud SCHIAVON, 2009, p.248). Indubitavelmente esse sentimento se fez mais potente em função da visibilidade midiática dessa prova e da real possibilidade de conquistar uma medalha, fato inexistente na geração pioneira (SCHIAVON; LOCCI, 2018).

Afora essas situações que demandam enfrentamentos plenos de esforço e dedicação, a oportunidade de vivenciar os Jogos Olímpicos é ressignificada e figura nas narrativas dos/as ginastas como um momento único que marca suas trajetórias esportivas ampliando-se também para outras dimensões de suas vidas. “O foco é tão grande em cima do trabalho que a gente passa o tempo inteiro trabalhando e não consegue aproveitar muito, mas igual a emoção de estar lá [...] é a melhor do mundo assim, para uma carreira profissional” (FINCO, 2013, p.5). Adriana considera sua presença nos Jogos como “o ponto final de um ciclo” (ALVES, 2013, p.9). Ciclo esse que se estende para além do evento, visto que se manter no esporte prescinde também de muito esforço e dedicação.

Exceto Gerson, os/as demais entrevistados/as ocuparam outros espaços no universo cultural da ginástica. Cada um ao seu modo vivenciou o processo de transição entre a participação nos Jogos Olímpicos, a continuidade da carreira e/ou o seu encerramento. No entanto, em suas narrativas, enfatizam que participar dos Jogos Olímpicos demarcou um diferencial em suas vidas. Vejamos:

Apesar de fazer muito tempo, eu vejo que essa experiência que eu tive, ainda mais para a área que eu escolhi que é a educação física, ela tem um peso enorme para conseguir reconhecimento (EIDT, 2014, p. 10).

Mas por ser um atleta olímpico a gente tem solicitações em diversos outros pontos, por exemplo, a questão de comentar eventos internacionais, de ter parcerias com o Ministério do Esporte, por exemplo, que atua no âmbito nacional, a própria Confederação Brasileira, ginásios que abrem pelo país e que gostariam de ter referências dentro daquela modalidade, a gente tem essa oportunidade de ir lá, de conhecer, de tentar auxiliar de alguma maneira ou de servir de espelho para aquela molecada que está começando (RODRIGUES, 2013, p. 7).

Ela foi bastante importante, às vezes eu sinto que na ginástica não foi tanto quanto se gostaria, mas igual eu sou muito grato a isso e foi o que me motivou também para continuar o trabalho [...] a repercussão na Olimpíada, sem a medalha é muito momentânea, ela acontece, ela repercute, sem a medalha quase nada financeiramente, que é um retorno que sempre se espera também, porém houve o reconhecimento e eu sou grato a isso também (FINCO, 2013, p. 6).

A Ginástica Rítmica foi minha primeira escola e como atleta por mais de uma década representei a seleção brasileira em muitas competições conquistando a sonhada vaga olímpica para Barcelona 1992. Treinar minhas primeiras equipes foi a sequência e multiplicação deste sonho e em 2004 assumi a coordenação das Seleções Olímpicas Permanentes de Ginástica Rítmica para o ciclo olímpico 2004-2008. Hoje minha atuação está diretamente voltada para a gestão estratégica de pessoas, formação de times e gestão de mudanças. Coach de desenvolvimento e docente dos cursos de graduação e pós-graduação no esporte e recursos humanos3 (SCHONHORST, 2014, s.p.).

Ter sido campeã mundial, ter ido para a Olimpíada, ter feito Ginástica Olímpica, ter sido campeã mundial, olímpica. As pessoas dizem: ‘Eu paro para ver você!’, é legal isso, mas te causa aquela coisa assim... nossa! [...] Eu sou exemplo para milhares e milhares de pessoas (SANTOS apud SCHIAVON, 2009, p. 251).

É uma coisa que eu vou levar para sempre na vida [...] então essa passagem pelos Jogos Olímpicos me deu isso: de assumir as tuas limitações, sabe? E isso eu acho que é importante na vida geral, não só na vida esportiva (GNOATTO, 2014, p. 14).

Adrian registra uma história diferente: foi à única atleta que não competiu. Foi aos Jogos Olímpicos, mas não atuou. Em sua entrevista, aponta os aspectos mais marcantes na sua experiência olímpica: o fato de não competir, a frustração pela extenuante preparação e o infortúnio da lesão. “Bom, na verdade eu pensei muito em desistir quando sai da Vila. Achei que não teria forças para continuar, mas depois vi que dava, mas só depois que já estava aqui” (GOMES, 2014, p.12). Em que se pesem as diferenças nas suas trajetórias, é recorrente a sensação de ter conseguido chegar ao topo, assim como o entendimento de que, apesar de todos os percalços encontrados nesse caminhar, estar lá foi muito gratificante.

Ginástica é uma coisa que não tem como fazer se você não gosta. Se você não tem prazer, não tem como você levar, sete horas todos os dias treinando, sem você gostar. Então, para as pessoas, eu abdiquei tantos anos da minha vida, 13 anos da minha vida para Ginástica, abdiquei de ficar com a minha família, de ter namorado, de casar, de ter filho [...]. Então é aquela coisa: tudo na vida você tem que abdicar de alguma coisa para ganhar outra. Se tivesse que fazer tudo de novo faria. Faria! Numa boa. Porque não me arrependo de ter treinado tudo que treinei, de abrir mão (SANTOS, 2014, p. 16).

A persistência e a resiliência marcam as trajetórias dos sujeitos desta pesquisa. As lesões e performance aquém da esperada não os afastou do esporte, e voltar aos treinos e competições sublinhou o desejo de quem alcançou o sonho olímpico.

Depois de participar dos Jogos Olímpicos de 2000, Natália abandonou a ginástica em função da rotina de treinos, da dor física e das lesões frequentes. “Acabou a Olimpíada eu falei: Eu não quero mais ver esse esporte na minha frente. Foi muito, muito maçante” (EIDT, 2014, p.10). No entanto, em 2001, foi convidada pela sua técnica para retornar a competir e assim fez: “Daí eu... Agora já descansei, já engordei... Tá bom, vou voltar. E eu voltei para a seleção” (EIDT, 2014, p.12).

Adrian procedeu do mesmo modo. Recuperada da lesão de 2012, voltou a treinar no Grêmio Náutico União por mais dois anos, quando decidiu abandonar a ginástica. No entanto, em 2016, decidiu retomar os treinos e, dessa vez, junto a seleção brasileira de esqui aéreo, modalidade integrante do programa dos Jogos Olímpicos de Inverno. Durante um treinamento realizado nos Estados Unidos, sofreu um acidente no qual ficou desacordada por alguns instantes, acontecimento que a fez desistir das competições. Caso semelhante foi vivenciado pela ginasta Laís Souza, integrante da seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004 e Pequim (2018) que, depois de abandonar a ginástica artística, retomou o esporte competitivo no esqui aéreo e durante a preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi (2014) sofreu um acidente no qual lesionou a terceira vértebra da coluna cervical provocando a perda de movimentos, sensibilidade e controle de todos os órgãos abaixo do pescoço (TERRA.COM, 2015, s.p.).

Esses exemplos indicam o quanto suas trajetórias esportivas são marcadas por continuidades e descontinuidades. A rotina de treinos, o afastamento da família, as lesões, a distância dos centros esportivos do país, a pressão psicológica, a pouca visibilidade e a falta de uma política esportiva estruturada da modalidade são alguns dos fatores que poderiam colaborar para que abandonassem a ginástica. No entanto, os/as atletas aqui analisados/as persistiram e de modo particular inscreveram a ginástica em suas memórias, histórias e corpos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisarmos a trajetória esportiva de ginastas do Rio Grande do Sul que participaram nos Jogos Olímpicos, nos deparamos com algumas adversidades que gostaríamos de ressaltar. A primeira delas é que, antes da aparição e das conquistas de Daiane dos Santos, eram escassos os registros sobre essa modalidade esportiva tanto na mídia quanto na produção acadêmica. Nesse sentido, reafirmamos a relevância da utilização da História Oral para a produção de fontes para outras investigações, visto que “permite ouvir histórias de indivíduos e de grupos que de outra forma seriam ignorados; permite expandir os horizontes do nosso conhecimento sobre o mundo; e estimula o questionamento de nossas próprias hipóteses a respeito das experiências e dos pontos de vista de outras pessoas e culturas” (PATHAI, 2010, p.124). Neste caso específico, as memórias e histórias de pessoas que protagonizaram a ginástica gaúcha, cujas vidas foram marcadas por investimentos de diferentes naturezas visando nela se inserir e permanecer. Suas narrativas permitem corroborar a afirmação de Kátia Rubio (2016) quando menciona que o esporte, nesse caso olímpico, se configura como um fato social que se “perpetua no atleta como o narrador de eventos que colabora para a formação de um imaginário esportivo. Isso porque na condição de protagonista de espetáculo ele tanto é o herói de seu tempo como o anônimo em um futuro chamado pós-carreira” (p. 14).

Estar nos Jogos Olímpicos, vivenciá-los de perto e por dentro foi apontado como um momento especial na trajetória desses/as ginastas, embora não tenham conquistado uma medalha olímpica, símbolo máximo do reconhecimento de suas carreiras esportivas. Suas narrativas apontam o quanto essa presença foi significativa, marcando não penas sua trajetória esportiva, mas aspectos específicos de suas vidas fora do universo cultural do esporte. Ao visibilizarmos suas trajetórias, mesmo que de forma sucinta e descritiva, acreditamos cumprir com uma função que é pedagógica e política, posto que está direcionada para reconhecer e valorizar o quanto suas histórias particulares importam e são representativas para o contexto do esporte nacional. Esse sentimento avém de um achado desta pesquisa. Ao vasculharmos os registros oficiais a ginástica brasileira, o nome de Adrian Gomes não figura como uma atleta olímpica. O fato de não ter competido não a qualifica como tal. Essa ausência nos leva a afirmar que conquistar uma vaga para participar dos Jogos Olímpicos, vivenciá-los de perto e por dentro parece não ser o suficiente para alçar um posto no reduzido panteão olímpico. Para estar lá há que competir e, preferencialmente, ganhar!

AGRADECIMENTOS

Não se aplica.

REFERÊNCIAS

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1As entrevistas foram produzidas em gravador digital e, posteriormente, processadas seguindo as etapas de transcrição, conferência de fidelidade, copidesque, assinatura da carta de cessão de direitos autorais ao Centro de Memória do Esporte (ESEFID-UFRGS) e publicação no LUME - Repositório Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integram o Projeto Garimpando Memórias aprovado pelo Comitê de Ética da UFRGS sob o número 2007710.

2A preparação da equipe brasileira para os Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e de Pequim (2008) se deu na cidade de Curitiba em instalações mantidas pela Confederação Brasileira de Ginástica sob o regime de “seleção permanente”.

3Apresentação da ginasta publicada em seu Currículo Lattes. Disponível em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4139581J6. Acesso em: 14 jun. 2018.

FINANCIAMENTO CNPq

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM Não se aplica.

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Não se aplica.

PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

Recebido: 03 de Julho de 2018; Aceito: 15 de Fevereiro de 2019

Concepção do manuscrito: N. Bender, S.V. Goellner

Coleta de dados: N. Bender

Análise de dados: N. Bender, S.V. Goellner

Discussão dos resultados: N. Bender, S.V. Goellner

Produção do texto: N. Bender, S.V. Goellner

CONFLITO DE INTERESSES

Não se aplica.

EDITORES

Mauricio Roberto da Silva, Giovani de Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira.

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