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Motrivivência

versão On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.32 no.61 Florianópolis  2020  Epub 01-Jan-2020

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020.e65571 

Artigo Original

Dilemas heteronormativos de feminilidade em exemplares da Revista Playboy onde posaram atletas

Heteronormative dilemmas of femininity in copies of Playboy magazine where athletes are represented

Dilemas heteronormativos de femeninidad en los ejemplares de la Revista Playboy donde posaron atletas

Fabio Zoboli1 
http://orcid.org/0000-0001-5520-5773

Alfrancio Ferreira Dias2 
http://orcid.org/0000-0002-5562-0085

Renato Izidoro da Silva1 
http://orcid.org/0000-0002-0368-7384

1Universidade Federal de Sergipe - UFS, Departamento de Educação Física, São Cristóvão, Sergipe, Brasil

2Universidade Federal de Sergipe - UFS, Programa de Pós-graduação em Educação - PPGED/UFS, São Cristóvão, Sergipe, Brasil


RESUMO

O texto tem como objetivo versar sobre os dilemas heteronormativo entre as identidades masculina e feminina vividos por quatorze mulheres atletas, que posaram nuas na Playboy entre os anos de 1988 e 2012, sustentando o argumento de que estes interpelam a heteronormatividade feminina a partir de tensões estéticas e políticas de gênero e sexualidade. Tratou-se de um estudo qualitativo que teve como campo empírico um produto midiático analisado sob o viés pós-estruturalista. Como resultado percebe-se que o discurso dessas revistas realiza o papel político de recolocar o corpo atlético feminino sob a égide da heteronormatividade feminina.

PALAVRAS-CHAVE: Revista playboy; Mulheres atletas; Heteronormatividade

ABSTRACT

This text aims the heteronormative dilemmas between the masculine and feminine identities, lived by fourteen women athletes who posed naked in the Playboy Magazine during the years of 1988 and 2012, bearing the argument of which these questions confront the feminine heteronormativity from esthetic and political tensions of gender and sexuality. It was a qualitative study which took a media product as an empirical field analyzed under the post-structural bias. As a result, it is possible to realize that the speech of these magazines carries out the political role of re-putting the feminine athletic body to the aegis of the feminine heteronormativity.

KEYWORDS: Playboy magazine; Women athletes; Heteronormativity

RESUMEN

El texto tiene como objetivo versar sobre los dilemas heteronormativos entre las identidades masculina y femenina vividos por catorce mujeres atletas que posaron desnudas en Playboy entre los años 1988 y 2012 sosteniendo el argumento de que éstos interpelan la heteronormación femenina a partir de tensiones estéticas y políticas de género y sexualidad. Se trató de un estudio cualitativo que tuvo como campo empírico un producto mediático analizado bajo el sesgo post-estructuralista. Como resultado se percibe que el discurso de essas revistas realiza el papel político de recolocar el cuerpo atlético femenino a la égida de la heteronormación femenina.

PALABRAS-CLAVE: Revista playboy; Mujeres atletas; Heteronormatividad

INTRODUÇÃO

O presente estudo versa sobre os dilemas heteronormativo entre as identidades masculina e feminina vividos por quatorze mulheres atletas, que posaram nuas nas páginas da revista Playboy entre os anos de 1988 e 2012. O argumento central do estudo consiste em sustentar que em face das ambiguidades históricas e culturais, provocadas pelos signos masculinos e femininos, que simultaneamente carregam as atletas em seus corpos, os discursos da Playboy reposicionam suas modelos sob a égide da heteronormatividade feminina a partir de tensões estéticas e políticas de gênero e sexualidade. Essa recolocação política implica evidenciar, nos comportamentos dessas atletas, parâmetros estéticos tradicionalmente atribuídos às mulheres; especialmente, quanto à posição de objeto sexual do homem.

A heteronormatividade é um dispositivo social de produção de feminilidade e de masculinidade, que opera por divisão e fragmentação do corpo: recorta órgãos e gera zonas de alta intensidade sensitiva e motriz (visual, tátil, olfativa…), que depois identifica como centros naturais e anatômicos da diferença sexual/genital homem/pênis e mulher/vagina (PRECIADO, 2014). “A natureza humana é um efeito da tecnologia social que reproduz nos corpos, nos espaços e nos discursos a equação: natureza = heterossexualidade” (PRECIADO 2014, p. 25). Decorrente dessa estrutura, os genitais passam a demarcar a heteronormatividade a partir de categorias que gestam políticas mediadas por agenciamentos históricos de subjetivação na medida em que, além de ter um pênis ou uma vagina, o sujeito deve corresponder a comportamentos éticos, estéticos e culturais nas formas de relacionamentos existentes na sociedade conforme suas diferenças e semelhanças corporais.

Apesar de o esporte sofrer constantes e intensas transformações em suas tradições sociais, políticas, culturais, econômicas e jurídicas, alinhando-se cada vez mais aos aspectos da Modernidade (ou Pós-modernidade) contemporânea; não podemos perder de vista que a sustentação de nossa argumentação envolve historicamente localizar o esporte enquanto lugar social do masculino e, portanto, dos homens; já que esses não podem apresentar aspectos femininos, bem como as mulheres não devem apresentar caracteres daqueles, com a pena de terem suas identidades de gênero questionadas ou suspeitadas. Não obstante, essa historicidade do esporte justifica o interesse do campo dos estudos sobre gênero e sexualidade acerca das questões que orbitam em seu passado, presente e futuro.

Para Vaz (2011, p. 850), “o esporte não está isento das práticas e dos discursos generificantes, como nos embates como a participação das mulheres nas diversas modalidades esportivas, na afirmação de diferentes masculinidades nas competições [...], no trânsito e na presença de sexualidades tida como desviantes” (VAZ, 2011, p. 850). A mulher no esporte envolve um desvio da sexualidade masculina historicamente localizada no corpo dos homens. As mulheres atletas, portanto, subvertem, no mínimo, duas ordens sociais ligadas ao gênero e à sexualidade: primeiro, descaracterizam a historicidade do esporte, porque seus aspectos femininos desvirtuam ou ferem a hegemonia masculina atribuída exclusivamente aos homens; segundo, descaracterizam a historicidade da mulher, porque os aspectos masculinos do esporte desvirtuam ou ferem a hegemonia feminina atribuída exclusivamente às mulheres. As mulheres, portanto, encontram-se no centro dos dilemas heteronormativos relativos ao universo esportivo historicamente ligados ao masculino do homem.

A escolha da revista Playboy para mediar as discussões de identidades heteronormativas de sexualidade e gênero se deve ao fato de ela ser uma referência frente aos inúmeros dispositivos de sexualidade no âmbito da cultura brasileira. Além disso, a Playboy foi a primeira revista no Brasil, a veicular imagens de mulheres nuas. Cabe informar também que a revista é tratada neste texto como um artefato cultural; nesse sentido, ela não foi analisada como entretenimento, mas sim como uma ‘tecnologia política’ que produz discursos de gênero e sexualidade, que atravessam a produção de identidade sexual e de gênero do leitor.

Lançada a problemática e o objetivo deste texto, apresentamos o mesmo em três partes: num primeiro momento, expomos a metodologia do estudo a partir de duas seções: o campo empírico (Revista Playboy) e a abordagem teórico-conceitual (pós-estruturalismo). Na segunda parte do escrito os dados são apresentados e analisados em meio a tensivas teóricas trazidas pelas vozes dos autores eleitos para a análise. Por último, nas considerações finais, retomamos o objetivo de nosso estudo e, a partir dele, tecemos a síntese dos resultados.

METODOLOGIA - O CAMPO EMPÍRICO: A REVISTA PLAYBOY

Idealizada por Hugh Hefner, a Playboy surgiu no ano de 1953, na cidade de Chicago nos Estados Unidos, e teve como primeira capa a atriz Marilyn Monroe. Ao longo do tempo a Playboy foi ganhando adeptos, leitores e interessados por todo o mundo e, atualmente, circula em 33 países, chegando ao Brasil, no ano de 1975, publicada pela Editora Abril, que mantém os direitos sobre ela no território nacional até hoje. Porém, vale destacar que nos primeiros dois anos, por conta da censura da ditadura militar, a revista chamava-se: Revista do Homem. Somente em 1977, com um regime militar menos incisivo, sob o comando do presidente Ernesto Geisel (1974-1979), a Editora Abril conseguiu estampar na capa a logomarca da revista americana, o coelho patenteado por Hefner (RISÉRIO, 2010, p. 244).

A partir de 1977, a comercialização e vendagem da Playboy se alavancou, tornando-se na década de 1980, uma das revistas com maior vendagem no mercado nacional, com uma tiragem média de 400 mil exemplares/mês. Porém, até o ano de 2018, a década em que as revistas foram mais vendidas foi a de 1990, quando esteve sob a direção de Ricardo Setti, com a edição de duas grandes personagens da programação da televisão brasileira: Suzana Alves, conhecida como Tiazinha, na edição de março de 1999, com 1.240.000 exemplares; e, Joana Prado - a Feiticeira - que, em dezembro do mesmo ano, vendeu 1.250.000 revistas, recorde da Playboy na versão brasileira.

Caracterizada como uma revista para o público masculino, a Playboy apresenta não somente fotos e imagens de mulheres nuas; pois, apresenta seções que trataram dos mais variados assuntos além de o aspecto da nudez: dicas e propagandas de moda e beleza para os homens; poder e fama (apresentando entrevistas com personalidades, e perfil dos entrevistados); cultura (divulgação de livros, filmes e músicas); desejos e prazeres (ensaios e crônicas eróticas); caro playboy (opinião dos leitores sobre a revista: elogios/críticas); moda (roupa, bebidas, viagens, perfume, carros); humor (quadrinhos, cartoons e piadas); enfim, assuntos diversos que compõem o universo masculino. Tais características minimizaram um pouco o estigma da revista em trazer unicamente em suas páginas fotos de mulheres nuas.

A partir do mês de março de 2016, a Playboy parou de publicar ensaios de mulheres totalmente nuas. Essa política foi adotada com o argumento de que, por meio da internet, as pessoas podem ter acesso a imagens de cunho sexual sem custo. No entanto, a revista continua rodando seus exemplares mensais com ensaios sensuais/provocantes de mulheres. Porém, a partir dessa nova política a nudez não foi mais exposta na sua totalidade.

Feita a apresentação sintética de nosso campo/material empírico, importante mencionar que esta pesquisa pode ser vista como uma análise de produto midiático, que é utilizada quando se procura acompanhar determinado veículo midiático e detectar/compreender seu conteúdo e seu discurso, com suas possíveis intenções (MEZZAROBA, MENDES, PIRES, 2010).

Segundo Fischer (2001), a mídia é um lugar privilegiado de criação, reforço e circulação de sentidos que operam na formação de identidades individuais e sociais, bem como na produção social de inclusões, exclusões e diferenças. Tomando como base os pressupostos de Fischer (2001) - a mídia assume uma posição central na produção do sujeito - e de Foucault (2016) - a relação de tempo e espaço produz verdades e as condições de sua enunciação discursiva - analisamos 14 edições da Playboy nas quais figuraram mulheres ligadas ao campo esportivo. Para chegar a este recorte temporal e amostragem vale mencionar que buscamos pelo nome de todas as mulheres que posaram na Playboy desde o ano de 1977 (ano de seu lançamento no Brasil com o nome Playboy) até março de 2016 (última versão da revista onde figura o nu das mulheres).

No período histórico de nossa amostra - 1988/2012 - estão contidas todas as atletas que foram capa da Playboy brasileira: de Hortência a Mari Paraíba. Além das atletas faz parte de nossa amostra a ex-árbitra de futebol, a bandeirinha Ana Paula. Sua inserção no campo empírico de nossa pesquisa ocorreu, pois ela está ligada ao campo esportivo; assim, os discursos de gênero e sexualidade relativos ao seu ensaio estão em total consonância com o discurso atlético/esportivo que nos interessa nesta pesquisa. Segue exposto no Quadro 1 o ano/mês, nome e modalidade de cada uma das atletas que posaram na Playboy.

Quadro 1 Edições da revista Playboy nas quais figuraram atletas (1988 a 2012) 

Ano Mês Capa Esporte
1988 Fevereiro Hortência Basquete
1988 Julho Sueli dos Santos Atletismo/ Lançamento do Dardo
1993 Fevereiro Dora Bria Surfe
1994 Abril Fabiana Oliveira Mergulho
1995 Janeiro Ana Alice Natação
1995 Julho Bel Futebol
1996 Setembro Ida Vôlei
2000 Fevereiro Ana Paula Teixeira Jet ski
2001 Fevereiro Vanessa Menga Tênis
2002 Fevereiro Hérica Triatlo
2004 Junho Naara e Lorraine Bodyboarding
2007 Janeiro Andrea Lopes Surfe
2007 Julho Ana Paula Bandeirinha futebol
2012 Julho Mari Paraíba Vôlei

Fonte: Elaboração dos autores.

Abordagem teórico-conceitual: o pós-estruturalismo

O fundamento do pós-estruturalismo está em incorporar à vida o fato de a razão pensar dentro de certos limites. Quando mencionamos a palavra razão, é preciso pensá-la em sua pluralidade contra sua suposta universalidade. Outrossim, as razões, construídas por esquemas lógicos particulares, próprias de grupos políticos, culturais e econômicos, podem reconhecer seus limites quando apresentam dificuldades ou curtos-circuitos diante um dado fenômeno mundano estranho. Na epistemologia, o pós-estruturalismo se desenha a partir dos estudos de Foucault e Deleuze acerca da filosofia de Kant; mais especificamente os conceitos de Aufklärung e de Crítica (FOUCAULT, 2013, p. 357).

Na medida em que a razão pensa por meio de conceitos e categorias que vão além ou aquém do dado empírico (DELEUZE, 2001, p. 93), o raciocínio axiomático da matemática começa a imperar dedutivamente em um movimento que vai da ciência e da filosofia para a realidade, esquadrinhando essa última mais e mais conforme diagramas categoriais e estatísticos, que necessitam formular perfis teóricos para enquadrar dados empíricos enquanto amostras reais de conceitos abstratos ou puramente racionais (Razão Pura, Matemática, Metafísica, Transcendente), isto é, que não passam pela experiência dos sentidos para serem formulados; a exemplo do círculo perfeito. Segundo David-Ménard (2014, p. 186), “[...], Deleuze desdobra toda a sua verve polêmica contra a filosofia kantiana do juízo que pretende esquadrinhar o real por meio de categorias e princípios que fazem com que ela compareça previamente - um propedêutica - sob uma jurisdição assimilada à razão”.

Por essa via, conceitos como mulher, homem, feminino, masculino, pênis, vagina, atleta, esporte etc. são axiomas conceituais cuja finalidade é servirem de propedêutica para o juízo viver as experiências mundanas sempre dentro de seus limites taxionômicos. Tudo aquilo que se perfazer estranho à sua estrutura lógica, ou seja, que não se enquadre no juízo sintético a priori, deverá ser submetido a uma categoria genérica chamada de “estranho” ou “anormal”. Enquanto lugar cognitivo, a classe dos estranhos serve como um depurador ou purificador do fenômeno contraditório no sentido de passar pelo crivo do eixo saber-poder em detrimento do desejo. Passada essa etapa, a razão então decidirá se o acontecimento é agrupável ou não em alguma de suas categorias prévias; considerando grandes chances de serem distribuídos pelas gavetas das taxionomias clínicas da patologia ou jurídicas da moral.

Todos os conceitos axiomáticos mencionados acima são, portanto, juízos sintéticos a priori que se antecipam, em termos de controle do destino do vivo, a quaisquer possibilidades de definição posterior da sexualidade do ser inserido no fluxo do devir das experiências. Mais do que isso, a crítica deleuzeana sobre o kantismo não entende que o juízo sintético a posteriori, indutivo, poderá axiomatizar o ser em algum momento. As definições desse juízo são efêmeras, pois submetidas ao devir como fio condutor de toda ontologia indefinida e infinita.

O pós-estruturalismo, portanto, orienta incorporar as contradições ao pensamento sem que a razão se sinta obrigada a excluir o acontecimento perturbador ou mesmo ponderá-lo em termos de exceção à regra, o que submete o desejo ao crivo da marginalidade aceitável, mas sempre lembrada na sua ultrapassagem das leis e das regras (ROSOLATO, 1999, p. 64). Acompanhamos historicamente o quanto os desejos que se orientam para o centro das relações contraditórias sofrem com os estigmas axiomáticos da marginalidade social e moral. Há uma espécie de perda de liberdade do sujeito estigmatizado, pois sua história vai sendo marcada pela necessidade de sempre se justificar e de dar esclarecimentos públicos sobre sua identidade ligada ao desejo sexual. Já os “normais” percorrem livremente suas teias de desejo, pois se afastam das contradições; embora as contornem e as evitem o tempo todo.

Dados os limites deste trabalho, a mulher-atleta provoca, para além da estrutura racional ortodoxa, a heterodoxia de “[...] um corpo que convida a ver outras possibilidades de vida naquilo que se apresenta como impossibilidade. Dir-se-á que busca nos tropeços a cifra de seu tempo e reclama uma ética como um renovado nós” (CANGI, 2014, p. 7). Não obstante, desejo, concebido como vetor de gênero, é um corpo da ordem da significação atravessado por discursos que agenciam sentidos sobre ele; o corpo se constrói no interior de determinado contexto por interações de ordens objetivo/materiais e subjetivo/simbólicas sempre contraditórias e infinitas.

Assim, pensar sexualidade e gênero a partir da ótica pós-estruturalista, significa romper com o binarismo prescrito pela matriz heterossexual, abrindo fissuras para desestabilizar as amarras que prendem os corpos na inteligibilidade estrutural dessa matriz racional, ocasionando uma ressignificação subversiva de corpo, sexo e gênero (ALÓS, 2012). Trata-se de libertar o gênero e a sexualidade dessas amarras epistêmicas e metafísicas, que os prendem a modelos antecipatórios não deixando emergir outros significados além das fronteiras do molde.

De Hortência a Mari Paraíba: análise do dilema feminino diante da heteronormatividade da Playboy

A edição da Playboy de fevereiro de 1988 expôs o ensaio nu da jogadora de basquete Hortência, e a edição de julho do mesmo ano trouxe o ensaio da atleta de atletismo, a lançadora de dardo Sueli dos Santos. Os ensaios inauguraram a fase de investimento da revista em corpos femininos do universo esportivo. Ambos os ensaios entrelaçaram discursos de normas de gênero pautados na heteronormatividade.

[...] As cortinas cor-de-rosa dão um toque quase infantil ao ambiente. Em todos os cantos para onde se olhe há dezenas de enfeites, souvenires e presentes dos fãs de várias partes do mundo - só dá China, tem uma coleção de quase 30 bonecas (PLAYBOY, 1988a, p. 69).

Dizem que ao nascerem, elas foram colocadas por Deus diante de duas opções: ou seriam bonitas ou seriam campeãs, nunca as duas coisas (PLAYBOY, 1988b, p. 65).

Ao anunciar que o quarto e a sala da casa da Hortência possuem diversas cortinas “cor-de-rosa”, “enfeites”, “souvenires” e uma coleção de “30 bonecas”, a revista investe em evidenciar que a rainha do basquete brasileiro fora das quadras está dentro de uma heteronormatividade feminina na medida em que traz em seu discurso cores e objetos “próprios” para mulheres. Gênero designa o conjunto de sentidos atribuídos aos corpos, às identidades e às subjetividades, bem como se estende a objetos, espaços e práticas materiais e simbólicos denominados femininos ou masculinos. Essa produção geralmente se dá de forma dicotômica e hierárquica, produzindo divisões de gênero (cores, objetos, ocupações, lugares, cargos) de ordem androcêntrica.

No enunciado do ensaio de Sueli, “seriam bonitas ou seriam campeãs, nunca as duas coisas” (PLAYBOY, 1988b, p. 65), vemos de forma clara novamente o dilema heteronormativo. A frase pode ser interpretada da seguinte forma: “ser bonita” é um atributo ligado ao “ser mulher”; por outro lado, “ser campeã” é um atributo ligado ao “ser atleta”, que tem relação com o “ser masculino”. Ou seja, uma mulher masculina não pode ser bonita. Doravante, a presença de Sueli na revista nos leva a supor outra frase então não-dita: é atleta, mas é bonita. Pois, o discurso diz que ser bonita ou campeã implica contradição cujos polos não podem ser verdadeiros ao mesmo tempo, tal como rege a regra lógico-aristotélica do terceiro excluído: uma coisa não pode ser e não-ser, ou ser isso “e” aquilo.

Os dilemas da heteronormatividade na Playboy de Hortência e Sueli se desdobram no eixo poder e desejo, cujo elo é a sexualidade submetida ao saber: taxionomia política das genitálias ou do corpo masculino e do feminino como fundamento distintivo das classes ou gêneros homem e mulher. Do lado do poder é certo que a heteronormatividade desempenha a função de gramática dos comportamentos e do desejo sexual lançado no campo da alteridade, isto é, da libido responsável por algumas das relações ou laços sociais. Do lado do desejo, sempre ambíguo, ambivalente ou esquizo, a mulher-atleta abala, por um lado, a dimensão do poder; mas, por outro, entra em seu jogo, porque também o deseja. Ao desejo, portanto, é permitido se dirigir, concomitantemente, a duas ou mais coisas discrepantes ou opostas desde os limites de uma tradição lógica. Desde Freud que, para o desejo, em princípio infantil, a contradição lógica não existe.

Contudo, ao entrar no jogo do poder, o desejo passa a ter que justificar e explicar seus paradoxos ou suas ultrapassagens dos limites da norma. Por essa via, a Playboy discursa no lugar da mulher que, apesar de atleta, deve provar ser feminina, e esse é um argumento político e estético presente em todas as 14 edições.

Quando surgiu nas pistas brasileiras, batendo recordes e esbanjando sensualidade, Sueli logo ficou conhecida como “A Bela do Dardo”. Vaidosa, ela não dispensa a maquiagem nem na hora de competir. E, cá entre nós, para quem lança olhares provocantes assim, lançar dardos deve ser fácil, muito fácil (PLAYBOY, 1988b, p. 68).

Desde o começo de sua carreira - e já é ocioso perguntar por que uma moça tão bonita quis ser logo bandeirinha -, sempre entrou em campo como se estivesse indo para um baile: de perfume, batom, rímel, sombra, unhas pintadas e brincos. A diferença é que, em vez de vestido longo, estava de um uniforme curto - e, quando achava que o calção do uniforme não estava justo ou curtinho o suficiente, punha-o de jeito ela mesma, antes do jogo (PLAYBOY, 2007. p. 96).

Os dois enunciados acima, um retirado da Playboy de Sueli e outro do ensaio da bandeirinha Ana Paula, estão consonantes aos anteriores na medida em que também fazem apelo à erotização do desejo tencionando a heteronormatividade feminina com a prática esportiva. Para Goelner (2005), se para as mulheres do início do século XX, a beleza era vista como sinônimo de saúde, e também de uma genitália adequada para cumprir suas funções reprodutivas, a partir dos anos de 1970, outro discurso será incorporado: o da erotização de seus corpos. “Objeto do olhar de outrem, o corpo erotizado no e pelo esporte, inventa uma imagem da atleta contemporânea que, mesmo exercitada fisicamente, inscreve no seu corpo marcas que o tornam absolutamente desejável” (GOELNER, 2005, p. 147).

O esporte é uma prática social das mais apreciadas na modernidade; atravessado pelas constantes transformações históricas das organizações sociais. Por assumir status, o esporte é tema de estudos dos mais variados campos de conhecimento e está relacionado às reflexões sobre gênero e sexualidade, pois sustentado na expressão dos corpos humanos, inevitavelmente expostos a problemas estéticos e éticos. O corpo atlético, por ser corpo humano, em termos epistemológicos, pode ser localizado como o lugar do sentir e do agir por excelência. Politicamente é o principal ou primeiro mediador das relações sociais; ou que, no mínimo, o lugar da afetividade desses contatos. Enquanto uma das causas ou fundamentos relacionais, o corpo é lugar primeiro e último da sexualidade, a existência na qual essa se realiza por meio do sexo e de outras formas objetivas ou fantasiosas da libido.

Em todas as edições da Playboy, nas quais posaram atletas, há uma interpelação permanente ao dilema heteronormativo feminino na sua relação com a heteronormatividade masculina, ligada à prática do esporte. Esses dilemas ficam evidentes nos ensaios de Bel - jogadora de futebol - e da surfista Andrea Lopes:

Fiquei lá fora, de saia comprida, jogando com uns moleques, lembra ela. Filha de peixe, só podia dar um peixão desses! (PLAYBOY, 1995b, p. 80).

Era verão e havia um zunzunzum no Rio de Janeiro sobre uma menina que pegava onda melhor do que muitos homens. (PLAYBOY, 2007a, p. 65).

Era verão e havia um zunzunzum no Rio de Janeiro sobre uma menina que pegava onda melhor do que muito menino. Andrea, típica gatinha da Barra da Tijuca, loirinha, queimada de sol, uma pequena sereia para mil fantasias. Muitas ondas rolaram desde aquele verão [...] (PLAYBOY, 2007a, p. 96).

Sob o viés do binário heteronormativo, a prática do esporte por parte das mulheres traz inerte a si o seguinte dilema: “[...] sucesso nestas práticas poderia infringir as leis da natureza pois, ao mostrarem-se mais fortes do que se supunha, seria fissurado o discurso das diferenças naturais cuja base estava assentada na sobrepujança física de um sexo sobre outro” (GOELNER, 2005, p.145).

Por ser objeto e sujeito da sexualidade, o corpo atleta está envolvido, nos limites de sua natureza e de sua cultura, por inúmeras leis, regras e padrões de conduta responsáveis por organizar politicamente as relações dos corpos em sociedade. O esporte, nesse sentido, é um dos mecanismos políticos de regulação dos corpos em diversos sentidos, dentro e fora do ambiente de jogo. Por conseguinte, o tema do controle sobre os corpos de atletas é tratado mais comumente acerca das disciplinas dadas nos regimes intensos de treinamento. Entretanto, tema recorrente nos momentos de concentração em centros de treinamento antes e durante campeonatos e torneios, o desejo sexual sempre surgiu como um problema de desvio da concentração. De todo modo, isso é um dos detalhes mais patentes do quanto o esporte desempenha um papel na regulação na sexualidade dos corpos. Outro tema de referência nesse campo, que para o momento mais nos interessa, é a moderna categorização por gênero.

Sabemos que as equipes esportivas são geralmente classificadas por dois critérios básicos: idade e sexo. Quanto a esse segundo critério, homens e mulheres não se misturam em uma mesma equipe; assim como nos centros de treinamento os alojamentos são separados, tal como em conventos de padres e freiras; ou em pavilhões penitenciários; não esquecendo que as escolas e, especialmente, as aulas de Educação Física por vezes já se valeram da divisão por sexo, isto é, pelas genitálias como sinônimo de gêneros masculino e feminino. Mas, o problema histórico que é pano de fundo da proposta deste escrito envolve uma divisão mais radical do esporte no que tange à dicotomia masculino/homem e feminino/mulher.

Essa questão parte de nossa experiência histórica quanto ao esporte ser originalmente uma prática masculina e, portanto, pela tradição hegemônica, de homens. Com efeito, as divisões categoriais das esquipes baseadas no sexo/gênero são recentes se compararmos com a história anterior quando as mulheres eram excluídas do ambiente - da categoria - esportivo; certamente porque esse deriva, de maneira sublimada ou simbolizada, das ações ligadas à caça e à guerra; de onde as mulheres também foram e, em muitos casos, ainda são apartadas; com exceção das vezes em que a sobrevivência se sobrepunha à regra cultural. Para Veblen (1965, p. 234): “Esportes de toda espécie têm o mesmo caráter geral [...], se transformam gradualmente, de uma base de combate hostil, em astúcia e chicana, sem que seja possível traçar-se uma linha divisória de qualquer ponto”. Nesse sentido, continua dizendo que: “A propósito, a gíria do atletismo é em grande parte formada por locuções extremamente sanguinárias, emprestadas da terminologia guerreira” (VEBLEN, 1965, p. 235).

Basicamente, Veblen (1965, p. 241) comenta que na “[...] ideia popular, há muita coisa admirável no tipo de virilidade promovido pela vida esportiva [...], as qualidades assim caracterizadas correntemente podem ser classificadas de truculência e solidariedade de clã”. Assim, o “[...] motivo da aprovação e admiração correntes dessas qualidades másculas, bem como o motivo de serem elas denominadas ‘másculas’, é o mesmo motivo da sua utilidade para o indivíduo”. Qual seja, as vantagens sociais em exibir proezas em termos de poder; a exemplo de chamar o interesse das mulheres. Mas, deixando em suspenso a riqueza e a variedade teórica e empírica de uma reflexão etnológica, partimos para um fato moderno quando dos primeiros Jogos Olímpicos de nossa era, realizado em Atenas, 1896: dentre duzentos e noventa e cinco (295) atletas não havia presença de uma mulher sequer.

Tal ausência perdurou até o ano de 1918; ano em que as primeiras associações desportivas femininas surgem na história da humanidade. Segundo Braustein et al. (2001, p. 173): “O desportista no princípio do século XX é um homem de idade madura, de boa situação financeira, e que vê nas práticas desportivas mais um meio de encontros mundanos do que outra coisa”. Quanto à participação das mulheres, o autor aponta duas razões ligadas à ausência:

[...] em primeiro lugar, o argumento médico que dizia que o corpo feminino não podia suportar o esforço, e a que a sua principal função era a procriação. Em seguida o argumento social e moral: a mulher tem um lugar a ocupar no seio do seu lar, e toda a prática desportiva é concebida como exibicionismo (cf. VEBLEN, 1965, p. 235-241).

Contudo, posteriormente, chama nossa atenção o fato de o ingresso das mulheres nos ambientes esportivos ter sido uma das vias para a concretização do discurso da emancipação feminina (BRAUSTEIN et al., 2001, p. 173); levando-nos a refletir que a própria liberdade era considerada uma qualidade tipicamente masculina, na medida em que a emancipação se confundiu com a masculinização da mulher ou a necessidade dessa assumir papéis historicamente atribuídos aos homens. Segundo Foucault (1996), a sociedade elege discursos e depois os reproduzem como verdadeiros. Assim, a Playboy ratifica um discurso de verdade: o da heteronormatividade e da correspondência natural e linear corpo/sexo-gênero/identidade, a partir de enunciados que produzem normas de gênero e vigilância.

Em algumas edições analisadas, as demarcações de gênero são produzidas, entrelaçando ao feminino o discurso do cuidado com o corpo, como se vestem e desenvolvem as tarefas do cotidiano. Essa produção se evidenciou no enunciado do ensaio da triatleta Hérica Lopes: “Gosto de cozinhar, sabia? Já fui chef de cozinha até de restaurante tailandês. Faço uma comidinha light, com peixe e salada, que é ótima. Se for um jantar a dois, capricho nos temperos afrodisíacos” (PLAYBOY, 2002, p. 38). Com isso, vemos que a construção do ser mulher está relacionada ao corpo que transita em certas práticas, excluindo outras. Embora cozinhar seja tradicionalmente atribuição das mulheres, Hérica Lopes suspeita que, por ser atleta, os leitores da revista não poderiam “saber” de suas habilidades culinárias.

A construção de gênero pautada pela heteronormatividade demarca os corpos e os lugares de homens e mulheres na sociedade, excluindo os que não se enquadram nesses moldes ou os que estão na fronteira (BUTLER, 2003). Essa caracterização é estimulada pelos editoriais, produzindo uma relação entre a revista e o leitor que aprende sobre heterossexualização compulsória. Assim, o “[...] corpo parece como um meio passivo sobre o qual se inscrevem significados culturais” (BUTLER, 2003, p. 27).

Não é possível primeiro definir a ontologia do corpo e então se referir às significações sociais que o corpo assume. Em vez disso, ser um corpo é estar exposto à modelagem e à forma social, e isso é o que torna a ontologia do corpo uma ontologia social. Em outras palavras, o corpo está exposto a forças socialmente e politicamente articuladas, bem como a apelos de sociabilidade - incluindo a linguagem, o trabalho, e o desejo - que tornam possível a persistência e florescimento do corpo (BUTLER, 2010. p. 2-3).

Com base na análise dos ensaios das 14 edições, podemos verificar algumas estratégias da produção e estímulo do desejo masculino ao recolocar o corpo atlético feminino na linha da produção da masculinidade, tais como feminilização das mulheres por meio de metáforas e fetiches associados a elementos intraesportivos (sexualização dos instrumentos atléticos) e extraesportivos (sexualização da juventude/infância relativos aos símbolos da virgindade).

Observamos que na edição do ensaio da tenista Vanessa Menga as metáforas e fetiches são mais evidentes e diretos, como podemos exemplificar com o enunciado: “Ciranda, cirandinha. Vamos todos cirandar? Este jardim, este clima meigo, natural, infantil. Meu cenário ideal para o amor seria assim...” (PLAYBOY, 2001, p.70). Esse discurso foi também direcionado na edição do ensaio da jogadora Hortência, a partir da produção de enunciados que ligam a atleta ao mundo infantil, tais como a ênfase nas cortinas que decoram sua casa e a sua coleção de bonecas, discutida anteriormente. Na produção visual do ensaio de Vanessa Menga a referência à inocência infantil se contrapõe à utilização de roupas comportadas e tidas como do universo adulto. Apenas as poses da atleta para as fotos produzem uma ideia fenomenológica de mulher com feminilidade quase infantil no olhar.

Na fabricação de metáforas e fetiches relacionados ao instrumental dos esportes praticados, a revista produziu discursos visíveis por meio da utilização de objetos e significações simbólicas sexualizadas. Seja por meio de implementos esportivos utilizados em seus esportes (bola de tênis, bola de vôlei, jet ski, raquetes, piscina, pranchas, dentre outros) ou até mesmo, por objetos que fazem alusão à performance esportiva (medalhas, troféus). Na edição do ensaio da árbitra de futebol Ana Paula Oliveira, a produção foi intensificada, na medida em que os discursos elegidos pelo editorial do artefato cultural fizeram uma conexão com o universo do futebol. Por exemplo, a imagem produzida para a capa apresenta Ana Paula usando uma calcinha com design similar ao de uma bola de futebol. A mesma produção de significados foi utilizada na edição do ensaio da surfista Andrea Lopes, na qual a Playboy utilizou um cordão havaiano para fazer uma calcinha, fazendo alusão, assim, ao espaço desejado por todos os surfistas para “pegar onda”: o Havaí.

Outro aspecto sobre a utilização dos elementos demarcadores do esporte praticado pelas atletas foi o lugar/cenário onde aconteceram os ensaios. Alguns expuseram os cenários das atuações das atletas, como os ensaios de Andrea Lopes, Ana Paula Teixeira, Naara e Lorraine que, por serem praticantes de esportes aquáticos, apareceram nuas em cenários que traziam o elemento água. Desse modo, a linguagem atlética é desviada de suas funções culturais para serem orientados a finalidades ligadas aos desejos sexuais. Segundo Schwengber (2012, p. 264-265), as imagens “[...] produzem e veiculam, em suas formas plásticas, concepções estéticas, políticas e sociais”. A revista utiliza enunciados visíveis ligados ao exercício de uma linguagem vinculada a uma rede discursiva que vai determinando, no decorrer dos anos, a cultura, os comportamentos, os perfis e as práticas estéticas e os estímulos ao desejo masculino ligado o erotismo do corpo feminino.

O erotismo e a feminilidade são estimulados pela revista por meio de metáforas e frases alusivas ao instrumental esportivo. Esses discursos dizíveis são estimuladores da sexualidade masculina e da masculinidade. Ao destacar frases alusivas à sensualidade e ao corpo feminino, a revista produz e rotula títulos metafóricos fetichizados:

Verde que te quero ver. Mari Paraíba prova que é a jogadora de vôlei mais gostosa do Brasil (PLAYBOY, 2012, p. 8).

Isabel Cristina de Araújo Nunes, 29 anos, a Bel, musa da seleção brasileira que conquistou o campeonato sul-americano de futebol feminino em janeiro (PLAYBOY, 1995b, p. 80).

Ana Paula: A bandeirinha mais gostosa do Mundo! (PLAYBOY, 2007a, p. 1).

Você vai ver aqui por que Ana Alice continua sendo um fenômeno. (PLAYBOY, 1995a, p. 8).

Quanta majestade. Cabelos dourados, músculos quentes, sede de amor (PLAYBOY, 1993, p. 47).

Garota sapeca. Mulher fenomenal (PLAYBOY, 2001, p. 65).

Os rótulos produzidos para abrir os ensaios e as seções passam a produzir elementos normalizadores para o corpo feminino e, também, investem numa pedagogia da sexualidade, capturando o olhar masculino a partir do entrelaçamento do entretenimento-desejo-prazer para homens, que é o esporte. Enunciados como “mais gostosa do Brasil”, “mais gostosa do Mundo”, “garota sapeca”, “mulher fenomenal” estereotipam a mulher, produzindo um discurso de corpo perfeito, desejável, estimulante, e esse corpo é sempre jovem; mas, com referências a terminologias esportivas: Brasil (seleção brasileira); Mundo (Copa do mundo); sapeca (pode se referir a crianças espertas e habilidosas em um dado esporte); fenomenal (atletas são chamados de fenômenos quando se destacam por suas habilidades extremas).

As aprendizagens de gênero, de corpo e de sexualidade vão sendo construídas a partir dessas relações arbitrárias entre signos e símbolos. Os discursos não somente podem ser verdadeiros ou falsos, mas “[...] produzidos como efeitos da verdade de um discurso sobre a identidade primária e estável” (BUTLER, 2003, p. 195). Os discursos dizíveis e visíveis produzidos pela revista estão intimamente demarcando a heterossexualidade e produzindo normas e vigilância de gênero, principalmente, quando a ênfase é dada à beleza e à feminilidade. Em Pedagogias de Sexualidade, Guacira Louro menciona que as “[...] muitas formas de fazer-se mulher ou homem, as várias possibilidades de viver prazeres e desejos corporais são sempre sugeridas, anunciadas, promovidas socialmente [...]. Elas são também, renovadamente, reguladas, condenadas ou negadas” (LOURO, 2010, p.9).

Nesse sentido, o modelo de homem, de desejos corporais são sugeridos e anunciados pela Playboy no decorrer das edições, regulando expectativas sexuais dos homens.

Mulher fenomenal: 24 anos, 1,73 metro de altura, 55 quilos, 85 centímetros de busto, 63 de cintura, 90 de quadris e 51 de coxa (PLAYBOY, 2001, p. 69).

Insuperável. Repare bem: 1,70 metro, 56 quilos, 90 centímetros de busto, 70 de cintura e 90 de quadris (PLAYBOY, 2002, p. 35).

Adjetivos como “Formas naturais”, “Mulher fenomenal”, “Insuperável”, aliadas a medidas de peso, circunferências e idade são algumas formas utilizadas pela Playboy para inicialmente descrever os corpos femininos a fim de estimular a produção desejo masculino pela mulher feminina, sem desvincular de uma linguagem esportiva em que a metrificação dos corpos em medidas de estatura, envergadura, peso, circunferências etc. faz parte dos fundamentos do treinamento e da seleção de atletas.

A medida inaugura um modelo de olhar e ao mesmo tempo um modo de intervir, materializando com intensidade, e quase mecanicamente, os processos de conformação dos corpos [...]. Medir torna-se, de fato, a ação e a intenção primeira para domesticar o corpo e enquadrá-lo em supostas normalidades. [...] A medida do peso corporal dada pela balança permite, portanto, pensar na sensibilidade e na tolerância em relação à visibilidade dos corpos e é instrumento indispensável na constituição das pedagogias higiênicas (SOARES, 2008, p. 76).

Outros enunciados são produzidos para estimular o desejo e o erotismo masculino, utilizando termos ligados ao universo esportivo das mulheres dos ensaios. De modo geral, a revista produz manchetes em quase todos os seus ensaios, a partir de metáforas, vinculando a mulher à modalidade esportiva, conforme expomos alguns a seguir:

Felizmente pelo menos neste ensaio, Bel continua marcando gols de placa em território nacional (PLAYBOY, 1995b, p.86).

Mas o que você vai descobrir é que além de ser a melhor surfista do Brasil, Andrea é uma mulher sensacional e dona de atributos mais devastadores do que um tsunami (PLAYBOY, 2007a. p.80).

Uma máquina. Milhas por hora, anos luz! Irrefreável beleza [...] (PLAYBOY, 2000, p. 64).

Ana Paula Levanta a bandeira! A regra é clara: fica muito difícil prestar atenção no jogo quando Ana Paula Oliveira está bandeirando. Você olha aquelas pernas, aquele shortinho, aquela corrida graciosa e até esquece dos times. Pois bem, torcedor, aqui está Ana Paula, do jeito que você sempre quis. Como diria Galvão Bueno: “Quem é que soooooooobe?” (PLAYBOY, 2007b, p. 92).

As identificações de gênero e de sexualidade são produzidas pela e na cultura, bem como suas expressões também são formalizadas e controladas pelas relações do poder. As identificações sexuais vão sendo determinadas pelos processos de socialização, nos quais as masculinidades e feminilidades são produzidas com base nas normas dos grupos sociais. Ao produzir editorias que trazem a valorização do corpo jovem, da beleza estética e o erotismo, a revista Playboy direciona o leitor e investe sobre a masculinidade heterossexual. Os enunciados acima capturam o leitor, a partir da produção dos corpos desejáveis e dos elementos e fetiches técnicos e instrumentais estimuladores do desejo.

Na edição de julho de 2012, última analisada a partir de nosso recorte teórico-metodológico, surge em destaque nos enunciados uma discussão acerca da homossexualidade nas páginas do ensaio protagonizado pela jogadora de vôlei Mari Paraíba. Apesar de o ensaio ser produzido em consonância com aspectos já descritos na nossa análise, ao final do número há um direcionamento do editorial para o tema da homossexualidade, a partir de questões direcionadas para a atleta.

Editorial: Você disse que já foi cantada por outras atletas, o que elas te falaram?

Mari: Funciona assim: elas falam alguma coisa e, se você der brecha elas caem em cima. Mas, quando você sai pela tangente, elas respeitam, ficam de boa.

Editorial: Alguma vez, depois das cantadas, o clima esquentou no vestiário?

Mari: De briga?

Editorial: Não, não...

Mari: De outra coisa?

Editorial: Isso!

Mari: Não! Está maluco? Deus me livre! Vestiário é um lugar só para tomar banho e ir embora [risos]

Editorial: Que outra jogadora de vôlei também daria uma boa capa?

Mari: Paula Pequeno.

Editorial: Você toparia uma dobradinha com ela?

Mari: Eu e ela? Não. Só sozinha mesmo. Com ela ficaria um ensaio meio lésbico (rsrsrs) (PLAYBOY, 2007b, p. 92).

A heterossexualização compulsória é uma verdade produzida com base na crença de uma atração sexual natural entre os sexos opostos que correspondem, obrigatoriamente, cada um a um gênero distinto (macho-masculino, fêmea-feminino) (CARVALHO et al., 2016). Por essa razão, os corpos, os sexos e os gêneros são definidos de maneira binária, e a expressão das sexualidades é rigidamente vinculada às identidades de gênero. A heteronormatividade implica “heterossexualização compulsória” e é ensinada pelas instituições sociais, pela família, pela igreja, pela escola de forma gendrada ou generificada (CARVALHO et al., 2016). Nessa perspectiva, são esses discursos e instituições que produzem os sujeitos, seus corpos e identidades, se empenhando na “[...] reafirmação e na garantia do êxito dos processos de heterossexualização compulsória e de incorporação das normas de gênero, colocando sob vigilância os corpos de todos/as” (JUNQUEIRA, 2012, p.4).

Embora o editorial da revista na edição citada tenha introduzido a temática da homossexualidade, criando fetiches como a possibilidade de ‘dobradinha’ em ensaio com outra atleta, ele reintegra o discurso da heterossexualidade, principalmente, os enunciados reproduzidos por Mari: “Eu e ela? Não. Só sozinha mesmo. Com ela ficaria um ensaio meio lésbico (rsrsrs)”. Observa-se a heteronorma entrelaçando a fala da atleta, pois a própria revista já havia produzido outro ensaio com duas atletas (Naara e Lorraine). Por que ficaria um ensaio lésbico? O que esse enunciado evidencia? Que verdade é anunciada? Assim, mesmo quando o editorial propõe abertura ou fuga da norma, a heteronormatividade, muito presente no discurso da atleta, passa a vigiar e controlar com discursos reguladores. Entre outros mecanismos, a homossexualidade passa a ser utilizada para reiterar a norma heterossexual, pois é por meio da dualidade heterossexualidade/homossexualidade que heterossexualidade se torna “naturalizada” e “compulsória” (NOGUEIRA; COLLING, 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando o objetivo deste texto, que foi versar sobre os dilemas femininos da heteronormatividade prescritos nos discursos da revista Playboy, sustentando o argumento de que os discursos da revista interpelam a heteronormatividade feminina a partir de tensões estéticas e políticas de gênero e sexualidade, percebemos que o discurso sobre as quatorze mulheres-atletas realiza o papel de alertar para uma contradição normalmente rejeitada pela razão: o fato de também serem femininas as mulheres-atletas, rasuram o axioma do feminino por conta dos traços historicamente masculinos que carregam. No campo da linguagem, seus paradigmas e sintaxes, o pano de fundo do discurso do magazine está na seguinte frase: são atletas, porém femininas (mulheres).

Não obstante, demonstrou-se que nossa amostra empírica de mulheres atletas representam a experiência biográfica desse dilema, então expressos nos discursos da Playboy desenvolvido no eixo gênero-sexualidade-identidade em termos de masculino e feminino. A linha discursiva da revista em pauta desempenha o papel político de restituir o lugar dessas mulheres no âmbito dos signos historicamente femininos; já que o esporte as teriam retirado ou as ocultado desse lugar suposto e equivocadamente originário e natural. As narrativas apresentam como objetivo principal a comprovação de que, apesar de atletas ou esportistas, essas mulheres são e afirmam o feminino em seus aspectos tradicionais e hegemônicos. Mais do que isso, as edições da Playboy não forjam esse movimento, pois são as próprias mulheres, em suas biografias, que do centro do dilema estão à mercê dos problemas, paradoxos e aporias da dupla subversão que promovem ao serem mulheres atletas; femininas e masculinas, ao mesmo tempo, o terceiro excluído do binarismo.

Por meio da (re)produção de uma pedagogia da sexualidade, modos de viver e de senti-la são ensinados pela revista. Afirmamos isso na medida em que os ensaios sensuais nos quais figuram mulheres atletas possuem enunciados discursivos e visuais com vasto conteúdo de orientações para a criação de comportamentos ‘aceitáveis’ ou produzidos com verdadeiros para homens e mulheres. A Playboy veicula em seu discurso práticas de subjetivação explícitas e direcionadas a produzir e ecoar os regimes de verdades com objetivo de não somente agradar ao leitor, mas também de produzir as respostas às necessidades masculinas em consonância com a hetoronorma de identidade social de gênero e sexualidade.

A (re)produção dos dilemas da feminilidade heterossexual é evidente nos enunciados da revista Playboy, trazendo no seu bojo formas persuasivas que capturam o leitor para a leitura de um discurso de feminilidade hegemônica e, por vezes, machista. As aprendizagens do que é ser mulher funcionam como práticas de subjetivação que produzem um modelo de masculinidade a ser seguido ou alcançado, propondo ao homem discursos verdadeiros de normas de gênero e sexualidade, principalmente, os que pautam o prazer masculino em relação à recolocação da mulher na posição de objeto de desejo do homem, em oposição extrema aos fluxos dinamizados pelo feminismo e por outras críticas lançadas contra a hegemonia masculina

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PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

Recebido: 06 de Junho de 2019; Aceito: 11 de Dezembro de 2019

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