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Motrivivência

versão On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.32 no.63 Florianópolis  2020  Epub 30-Nov-2020

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020.e71855 

Artigo Original

Entre as atividades promovidas e o consumo produtivo: análise das práticas dos jovens atletas de elite nos Jogos Olímpicos da Juventude

Between promoted activities and productive consumption: analysis of the practices of young elite athletes at the Youth Olympic Games

Entre actividades promovidas y consumo productivo: análisis de las prácticas de jóvenes deportistas de élite en los Juegos Olímpicos de la Juventud

1Universidade Federal do Tocantins - UFTO, Tocantinópolis, Tocantins, Brasil

2Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, Departamento de Ginástica, Vitória, Espírito Santo, Brasil


RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar as práticas dos jovens atletas de elite nos Jogos Olímpicos da Juventude diante das atividades culturais e educacionais a partir da observação direta e dos registros iconográficos atinentes à edição de Buenos Aires, cuja análise apoiou-se na teoria do cotidiano. Constata-se que a Vila Olímpica da Juventude é um ambiente deveras intercultural, cujo cotidiano é capaz de ensejar uma pluralidade de práticas tanto no plano estratégico, a partir da sua organização estrutural e da sua programação de atividades culturais e educacionais, quanto no plano tático, a partir dos usos e apropriações diferenciados dos jovens atletas, mobilizando táticas de desvio ou resistência e táticas de bricolagem. Conclui-se que os jovens atletas produziram sentidos que transcendiam as questões culturais e educacionais, associando-se, sobretudo, ao seu crescimento profissional enquanto atleta de elite.

PALAVRAS-CHAVE: Jogos olímpicos da juventude; Jovens atletas de elite; Teoria do cotidiano

ABSTRACT

The objective of this study was to analyze the practices of young high performance athletes in the Youth Olympic Games in the face of cultural and educational activities based on direct observation and iconographic records related to the Buenos Aires edition, whose analysis was based on the theory of daily life. It seems that the Youth Olympic Village is a truly intercultural environment, whose daily life is capable of giving rise to a plurality of practices both at a strategic level, from its structural organization and from its program of cultural and educational activities, and at a tactical level, based on the different uses and appropriations of young athletes, using diversion or resistance tactics and diy tactics. It is concluded that young athletes produced meanings that transcended cultural and educational issues, and were associated, mainly, with their professional growth as high performance athletes.

KEYWORDS: Youth olympic games; Young high-performance athletes; Theory of daily life

RESUMEN

El objetivo de este estudio fue analizar las prácticas de los jóvenes atletas de alto rendimiento en los Juegos Olímpicos de la Juventud frente a actividades culturales y educativas basadas en la observación directa y los registros iconográficos relacionados con la edición de Buenos Aires, cuyo análisis se basó en la teoría de la vida cotidiana. Parece que la Villa Olímpica de la Juventud es un entorno verdaderamente intercultural, cuya vida diaria es capaz de dar lugar a una pluralidad de prácticas tanto a nivel estratégico, desde su organización estructural y su programa de actividades culturales y educativas, como a nivel táctico, basado en los diferentes usos y apropiaciones de los atletas jóvenes, utilizando tácticas de desviación o resistencia y tácticas de bricolaje. Se concluye que los atletas jóvenes produjeron significados que trascendieron cuestiones culturales y educativas, y se asociaron, mayormente, con su crecimiento profesional como atletas de alto rendimiento.

PALABRAS-CLAVE: Juegos olímpicos de la juventud; Jóvenes atletas de alto rendimiento; Teoría de la vida cotidiana

INTRODUÇÃO1

O esporte não é um fenômeno estático, nem tampouco possui uma história linear de “evolução”, mas é passível de diferentes olhares e interpretações, interesses e contradições. Não obstante, podemos dizer que a forma como praticamos e os valores que atribuímos a prática esportiva no século XX, foram em grande medida formatados pelo desenvolvimento do Movimento Olímpico (MO)2, apesar dos desdobramentos e apropriações locais heterogêneos (TAVARES, 2007).

Observado de maneira retrospectiva, o criador do MO - o Barão de Coubertin - via a educação como uma ferramenta fundamental para reformar os problemas que assolavam o contexto sociocultural francês, promovendo a paz e a igualdade entre os indivíduos. Ora, tal compreensão histórica ajuda a demarcar a crença no potencial educativo e transformador atribuído ao esporte em geral e, em especial, ao esporte olímpico, cujos efeitos devem (ou deveriam) materializar-se no estilo de vida de cada praticante, transcendendo, portanto, a sua experiência no âmbito esportivo.

De fato, na esteira desta intencionalidade, os Jogos Olímpicos da Juventude ou Youth Olympic Games (YOG) emergem como uma espécie de “carro-chefe” das estratégias do Comitê Olímpico Internacional (COI) direcionadas especificamente para o público jovem, aproximando-o dos ideais correlatos ao MO, cujo ponto fulcral perpassa pelo equilíbrio das qualidades do corpo, do espírito e da mente, particularmente, por meio da tríade ‘esporte, cultura e educação’ (COI, 2007; 2009). Ora, isto, por sua vez, demandava não apenas a realização de competições esportivas olímpicas, mas, exigia o arranjo de uma programação híbrida capaz de fomentar os aspectos culturais e educacionais.

Tal intento serve para justificar a criação do Culture and Education Programme (CEP) e a sua consequente atuação no interior da Youth Olympic Village (YOV), a fim de promover ou facilitar as interações, a socialização e a construção de amizades entre os jovens atletas competidores de vários esportes e representantes de diferentes nações e, por extensão, de diferentes culturas, numa ambivalência entre o desempenho esportivo e o desenvolvimento humanístico (TURINI et al. 2008; DaCOSTA, 2009; TAVARES, 2009).

Com efeito, em que pese tais intentos valorativos, parte da literatura internacional aponta que as experiências educacionais dos jovens atletas parecem materializar-se muito mais a partir de reuniões e interações socioculturais de caráter informal entre eles do que necessariamente em decorrência da sua participação nas referidas atividades ofertadas pelo CEP (SOUZA; TAVARES, 2020), demonstrando um certo descompasso entre as estratégias institucionais do COI com a perspectiva dos jovens atletas olímpicos, em especial, no que tange ao consumo destas atividades.

Não obstante, importante salientar que esta situação díspar entre o que é proposto institucionalmente e o que, de fato, interessa aos consumidores não decorre exclusivamente destes serem representados por jovens atletas de elite, tendo em vista que outros autores, como Mello et al. (2011), por exemplo, enfocaram um público-alvo diferente, mas encontraram resultados semelhantes. Conforme identificado por estes autores, os jovens alunos de um projeto social possuíam expectativas, gostos e interesses voltados para a competição, opondo-se à proposta crítico-superadora do projeto (cujo esporte era a atividade central), o que, por sua vez, provocou-lhes uma insatisfação e/ou uma rejeição enquanto consumidores, seguida pela sua consequente evasão.

Diante desse cenário, concordamos com Michel de Certeau (1994) a respeito da necessidade e importância de olharmos para os atores das práticas cotidianas não como consumidores passivos dos bens culturais oferecidos, mas, como praticantes, uma vez que no entremeio dos seus movimentos particulares de uso e apropriação, tornam-se capazes de transformar criativamente aquilo que lhe é ofertado (consumo produtivo), recriando as balizas que cerceiam suas ações em um determinado lugar de domínio e poder. Sintomaticamente, isso ajuda a justificar o distanciamento não raras vezes existente entre aquilo que é ofertado, proposto ou imposto institucionalmente, com aquilo que o indivíduo recebe, se apropria ou consome.

Com efeito, é na esteira dessa discussão sobre as práticas dos sujeitos que este autor desenvolve as importantes noções de estratégia e tática como “maneiras de fazer” o cotidiano. Para ele, as práticas estratégicas fazem referência aos sujeitos e/ou instituições detentores de algum tipo de poder, sendo particularmente responsáveis por estabelecer as regras de determinado convívio social e oferecer o conjunto de atividades, serviços e bens culturais correlatos, numa tentativa de produzir/manter a estabilidade do lugar (CERTEAU, 1994), tal como pode ser ilustrado pelas práticas dos organizadores dos YOG, bem como dos organizadores do projeto social supracitados.

Já as práticas atinentes ao plano tático, por sua vez, referem-se ao lugar dos mais “fracos”, uma vez que estes não são responsáveis pela fabricação, mas, pelo consumo das atividades previamente definidas, muito embora tais atores possam criar um tipo de resistência à ordem imposta, inventando mil maneiras de utilizá-las ou de consumi-las, operando golpes possibilitados pelas falhas que as conjunturas superiores vão abrindo (CERTEAU, 1994). Ora, segundo tal perspectiva teórica, são estes movimentos táticos que provocam a instabilidade do local, transformando-o, desta forma, em um espaço social, tal como pode ser exemplificado, aqui, pelas práticas dos jovens atletas dos YOG, bem como dos jovens alunos do referido projeto.

Portanto, nota-se que as práticas dos jovens atletas de elite dos YOG - foco deste estudo - podem expressar potenciais de apropriação e/ou um consumo produtivo a partir dos usos que estes fazem em relação às atividades promovidas pelo CEP. Tais usos, por sua vez, podem confluir ou destoar da proposta do COI de transformar a sua modalidade de competição olímpica mais recente em um empreendimento capaz de não apenas reunir os mais talentosos e promissores atletas jovens de todo o mundo, mas proporcionar-lhes o desenvolvimento do espírito olímpico através de experiências educativas, representando, portanto, um catalisador dos aspectos esportivo, cultural e educacional (COI, 2007; 2009).

Destarte, em face do exposto, buscamos analisar as práticas dos jovens atletas participantes da edição de Buenos Aires dos YOG (YOG-2018) diante das atividades culturais e educacionais ofertadas no contexto específico da YOV.

CAMINHAR METODOLÓGICO

A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, sob o parecer de número 3.066.398. Trata-se de estudo de caso, por meio de um delineamento qualitativo descritivo, centrado nos YOG-2018. A justificativa principal por esta opção metodológica gira em torno da busca por uma maior compreensão acerca de um fenômeno complexo, contornado por um conjunto de eventos, comportamentos e processos dinâmicos, desenrolados entre os membros de um determinado cotidiano.

Para tanto, optamos por lançar mão da observação direta (VIANNA, 2003), sistematizada em diário de campo; dos registros iconográficos de imagens paradas (BAUER; GASKELL, 2002); e das interações comunicativas (enunciação - fala em ato) como os meios investigativos para identificar o encadeamento das ações, operações e interações dos sujeitos em um determinado contexto situacional (CHAUVIN; JOUNIN, 2015).

No que diz respeito ao processo analítico, por sua vez, nos apoiamos na teoria do cotidiano de Michel de Certeau (1994), numa tentativa de ‘captar no voo’3 as formas como os jovens atletas de elite fazem uso das atividades culturais e educacionais que lhes foram ofertadas. Buscamos, então, estabelecer um contato presencial junto ao Comitê Organizador dos YOG-2018 (BAYOGOC) na entrada da YOV, a fim de identificar a viabilidade de adentrar naquele local e colocar em prática as nossas pretensões investigativas. Contudo, após nos apresentarmos, fomos informados de que o acesso à YOV era destinado exclusivamente aos jovens atletas e às suas respectivas delegações, bem como aos membros da imprensa, devidamente credenciados e aos convidados: membros do COI, atletas-modelos e demais sujeitos que faziam parte da organização das suas atividades, incluindo os próprios voluntários. Ora, tal burocracia ratifica a relutância do COI em conceder o acesso direto aos atletas olímpicos durante seus eventos, conforme já havia sido apontado por autores como Parent, Kristiansen e Macintosh (2014).

Assim, foi necessário fazer um contato telefônico e, em seguida, encaminhar um e-mail - contendo um conjunto de informações solicitadas - para o setor responsável pelos “casos omissos” acerca do acesso àquele local. Somente após as referidas tratativas, obtivemos o acesso à YOV durante um total de cinco dias (13 a 17 de outubro), com a entrega de um Passe Olímpico que nos autorizava a circular livremente por suas dependências - com exceção dos alojamentos onde as delegações nacionais foram acomodadas -, permitindo-nos acompanhar o que foi ofertado e consumido na YOV durante o período supramencionado (manhã, tarde e noite).

Com efeito, após superarmos a dificuldade de acessar o referido local, passamos para o passo seguinte: refinar o nosso olhar para identificar a disposição e organização das atividades culturais e educacionais e, em especial, captar a forma como os jovens atletas interagiam com as mesmas. De fato, estes intentos demandam um tipo de relação diferenciada do pesquisador com o contexto situacional complexo e diversificado em que ele está implicado, exigindo-lhe uma espécie de ‘sensibilidade etnográfica’, capaz de estranhar o que lhe é familiar e, ao mesmo tempo, familiarizar-se com o que lhe é estranho (VELHO, 1978). Aqui, urge compreender que o processo de “observação” não envolve somente o olhar, mas, convoca todas as capacidades sensoriais do pesquisador, considerando, por exemplo, a fala em ato e as diferentes formas de comunicação dos atores na situação contextual em que são produzidas, incluindo o entendimento daquilo que não se diz, ou do que é percebido sem ser dito (CHAUVIN; JOUNIN, 2015).

Isto posto, em consonância com o propósito deste estudo, nós estabelecemos dois aspectos principais a serem considerados no processo de observação: O primeiro consiste em observações mais gerais a respeito do ambiente intercultural empreendido na YOV dos YOG-2018, incluindo a composição e o oferecimento das atividades culturais e educacionais destinadas aos jovens atletas; já o segundo, inclui as observações mais específicas a respeito das práticas cotidianas destes atletas a partir dos usos que eles fazem das referidas atividades culturais e educacionais oferecidas na YOV.

Nesta perspectiva, o uso de um diário de campo foi importante para registrar as nuances que circunscrevem uma rede de situações, atitudes e diálogos mais recorrentes no ambiente estudado, fundamentados por determinada perspectiva teórica e circunscritos pela subjetividade e afetividade do pesquisador (CHAUVIN; JOUNIN, 2015). Ademais, utilizamos também a fotografia como forma de registro iconográfico dos eventos observados, a qual apresentou-se como uma possibilidade não apenas para ilustrar os serviços oferecidos, mas, para formular pistas visando uma melhor leitura e descrição de representações e apropriações dos praticantes no cotidiano da YOV. Ora, tal como assinala Cardoso e Mauad (1997), enquanto componente polissêmico de uma dada realidade, a fotografia suscita a necessidade de desvendar uma intrincada rede de significações, cujos atores sociais interagem dialeticamente com os signos, consumindo-os e produzindo-os.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No presente estudo, organizamos os dados produzidos com a observação direta a partir de dois eixos de análise. No primeiro, focalizamos as práticas institucionais e o ambiente intercultural empreendido na YOV dos YOG-2018, dando visibilidade ao plano estratégico da composição da sua estrutura e das atividades culturais e educacionais ofertadas pelo CEP. No segundo, focalizamos as práticas dos jovens atletas, dando visibilidade ao plano tático no que diz respeito às possibilidades de usos das referidas atividades.

O plano estratégico do CEP

Após a nossa inserção no cotidiano da Vila, nos deparamos com um ambiente extenso, aberto e bem ornamentado, sendo composto/dividido pelo BAYOGOC por cinco diferentes setores, quais sejam: Praça (Village Square), Quadra (La canchita), Palco central (Stage), Zona Residencial (Residential Zone) e Salão/Sala de estar (The Hall/ARM´s lounge). Em síntese, cada setor era formado por um conjunto diversificado de estandes ou estações (fixas ou móveis), disponibilizando o consumo de uma variedade de serviços, atividades e bens culturais para cerca de 4.000 jovens atletas que transitavam pela YOV ao longo de 12 dias4.

Observamos que o BAYOGOC confere aos atletas um trânsito livre por todo o ambiente, os quais podem frequentar mediante ao seu gosto (afinidade, vontade, curiosidade, etc.) e à sua disponibilidade de tempo, os respectivos estandes ou estações. Aliás, é oportuno ratificar que a sua participação nas respectivas atividades do CEP não é de caráter obrigatório, haja vista que muitas delas coincidem com próprio calendário de competição de determinados esportes. A título de exemplo, cumpre-nos informar que algumas competições olímpicas, como no caso dos atletas de Vôlei de Praia e de Basquete 3x3, duraram praticamente todo o período dos YOG-2018; enquanto as competições dos atletas de Patinação de Velocidade sobre Rodas, bem como de BMX Freestyle e de Caratê, por exemplo, foram finalizadas no curto período de dois dias: 7 a 8 de outubro, 10 a 11 de outubro e 17 a 18 de outubro, respectivamente.

Por outro lado, em que pese essa não obrigatoriedade de participação nas referidas atividades, o COI - mais precisamente por intermédio do CEP - engendra aquilo que Michel de Certeau (1994) chama de operações estratégicas, isto é, ações que servem de base para fomentar a ordem e a conservação das posições, apresentando-se, portanto, como estruturante do lugar. Uma delas, assume forma de coerção a partir da determinação imputada aos jovens atletas para que permanecessem hospedados na YOV até o final dos YOG-2018, independente do seu respectivo calendário de competição. Essa, inclusive, é uma das notáveis diferenças deste megaevento para os JO, nos quais os atletas que concluem suas competições (sendo eliminados precocemente ou finalistas) não costumam permanecer na Vila Olímpica, retornando prontamente para os países em que residem.

Um dos primeiros aspectos que nos chamaram a atenção em nossas observações in loco diz respeito à própria organização estrutural da YOV. Ora, sabe-se que todos os atletas ficaram hospedados ali, mais precisamente, na zona residencial: um conjunto de apartamentos divididos por nações. Não obstante, este setor ficava situado na parte final da YOV. Ou seja, em todas as suas chegadas e saídas, os atletas tinham que passar obrigatoriamente por um trajeto onde foram montados os estandes e as estações. A Figura 1, por exemplo, ilustra uma estação de atividades circenses montada no dia 14 de outubro, pontualmente nas proximidades da Zona Residencial. Tal estratégia parecia ajustar-se à intenção de persuadir ou de despertar a atenção e a curiosidade dos jovens atletas que estavam saindo ou retornando para seus respectivos apartamentos.

Fonte: Os autores

Figura 1 Montagem de atividades circenses próxima a zona residencial 

Observamos, ainda, que o BAYOGOC repetiu uma estratégia meticulosa dos organizadores das edições anteriores, numa tentativa de rivalizar com o caráter facultativo correlato à participação dos jovens atletas nas referidas atividades. Trata-se da distribuição de um dispositivo eletrônico com conexão bluetooth para todos os participantes. Denominado de Yogger, este dispositivo possuía o formato de uma pequena mão e foi projetado, basicamente, para atender uma dupla função. A primeira era facilitar/estimular o contato inicial com outros atletas a partir da junção com um dispositivo semelhante, permitindo a troca de dados pessoais (nome, telefone, e-mail, contas das redes sociais, etc.). Essa troca, propiciava, ainda, uma determinada pontuação nos seus respectivos dispositivos; a segunda, por sua vez, apresentava-se como uma espécie de upgrade na motivação dos atletas para frequentarem os estandes e estações montados pelo CEP, a fim de participarem das atividades oferecidas em ambos. Para tanto, ao final de cada atividade vivenciada, eles conseguiam angariar um conjunto de pontos, bastando apenas aproximar o seu dispositivo a uma placa digital que ficava sob os cuidados dos voluntários, os quais estavam sempre acompanhando-os e orientando-os na realização das respectivas atividades.

Com efeito, a somatória destes pontos conquistados após a realização nestas atividades - incluindo a pontuação advinda das trocas de contato com os outros atletas - poderia ser convertida em diversos brindes personalizados com o logo dos YOG-2018, tais como: lenços, mochilas, bonés, toalhas e até mesmo um carregador portátil para seus aparelhos celulares. Estes brindes eram disponibilizados no estande “Yogger Desk”.

Na esteira dessas estratégias persuasivas com a utilização da tecnologia digital, também constatamos uma atenção especial dada para a relação do jovem atleta com a mídia, especialmente, a mídia digital. Dentre os serviços oferecidos pelo BAYOGOC para contemplá-la, destaca-se um tipo de consultoria especializada, a qual foi ofertada mais precisamente no estande “The Game Changers5, a partir da promoção de workshops com especialistas e influenciadores digitais. Estes auxiliaram os jovens atletas a produzirem o seu próprio conteúdo midiático e, por conseguinte, compartilhá-lo com seus fãs através das suas mídias sociais, abordando as suas experiências pessoais e, em especial, as suas conquistas esportivas.

Em observância ao conjunto de serviços e atividades oferecidos no cotidiano da YOV, identificamos outras atividades que também podem ser caracterizadas como espécies de consultorias, tal como as que foram ofertadas no estande “Athlete 365”, mais especificamente, nas seções ‘Olympic Solidariety’ e ‘Career+’. Na primeira seção, foi oferecido um suporte para os atletas no tocante à continuidade de suas carreiras esportivas como atletas de elite. Aqui, eles foram orientados, por meio do jogo de Snookball6, sobre as formas de captar financiamentos disponibilizados pela Solidariedade Olímpica Internacional7. Já na segunda seção, foi ofertado um suporte no sentido de investirem em suas carreiras futuras. Aqui, eles foram orientados, por meio de aplicativos e jogos interativos que haviam sido instalados e disponibilizados nos tablets, a respeito das possibilidades existentes no meio esportivo que melhor se encaixavam com o conjunto de habilidades e afinidades demonstradas por cada um deles.

Não obstante, também identificamos a coexistência de um outro tipo de consultoria personalizada para os atletas, a qual, por sua vez, destoou um pouco da perspectiva cultural e educacional do CEP: trata-se do estande “Performance Accelerator”, formado por uma parceria do COI com a Universidade de Lausanne e com o Instituto Nacional de Esporte, Especialização e Performance (INSEP). Nesse estande, fomos surpreendidos por uma receptividade mais questionadora, cujos membros antecipadamente nos interpelaram sobre o que desejávamos naquele local, conferindo-nos um bom indicativo sobre o seu teor diferenciado e destoante. De fato, tal como o próprio nome sugere, o foco, aqui, não está na promoção da interação ou da socialização entre os jovens atletas, mas, na otimização da sua performance. Para tanto, eram realizados testes físicos individualizados no intuito de oferecer uma análise detalhada sobre o corpo do atleta (enfocando suas articulações e seus músculos). Esses testes permitiam a identificação das suas eventuais fraquezas, acompanhada pela elaboração de uma série de exercícios específicos destinada para fortalecê-las, visando, em última instância, evitar possíveis lesões e maximizar seu rendimento esportivo.

Por fim, há outros três aspectos que merecem destaque em nossas análises: o “Salão ou Sala de estar”, a estação fixa de “Grandes Jogos” e o setor do “Palco”, os quais parecem-nos ter sido devidamente montados na YOV como uma estratégia para oferecer aos jovens atletas múltiplas possibilidades de interação, divertimento e socialização.

No que diz respeito ao primeiro aspecto, observamos o arranjo de pequenos bancos, cadeiras e sofás, destinados para fomentar a interação entre os referidos sujeitos. É também neste espaço que ocorria o episódico, interativo e prestigiado “Bate-papo com os campeões” ou “Chat with Champions”. Aqui, era ofertada ao jovem atleta a possibilidade de interagir com alguns atletas já consagrados, selecionados pelo COI para visitarem aquele espaço e atuarem como uma espécie de “atleta-modelo”, tanto por seus feitos esportivos, quanto por sua trajetória de vida diferenciada, incluindo a dimensão valorativa que os envolvem.

Já no que se refere à estação dos Grandes Jogos, por sua vez, identificamos o oferecimento de diferentes atividades de caráter lúdico-recreativo, com destaque para os jogos com dimensões acima das convencionais, tais como: jogos de xadrez, tiro ao alvo e mesa de pebolim. Seu horário de funcionamento normal (com acompanhamento dos voluntários) era entre às 10:00h da manhã e às 21:00h da noite.

Finalmente, no que concerne ao setor do Palco, constatamos a oferta de um conjunto de atividades calcadas basicamente na interface entre musicalidade e dança, com destaque para cantorias no Karaokê, danças de diferentes ritmos internacionais, bem como batucadas e shows ao vivo. Seu horário de funcionamento iniciava a partir das 5:00h ou 6:00h e se estendia no máximo até às 21:45min, a fim de não atrapalhar o descanso dos atletas, tendo em vista que este setor ficava situado próximo à Zona Residencial.

De acordo com Santos (1997), a ludicidade reflete uma necessidade do ser humano em qualquer idade, sendo propulsora não apenas de diversão, mas, em especial, do desenvolvimento pessoal, social e cultural dos sujeitos, facilitando, desta maneira, os processos de socialização, comunicação e expressão, os quais, outrossim, também podem ser fomentados a partir da música e/ou da dança, por exemplo. Assim, inspirados em Michel de Certeau, poderíamos pensar que estes elementos são compatíveis com os intentos estratégicos do CEP na promoção de um ambiente dinâmico, lúdico e intercultural, ou, nos termos deste autor, são condizentes com os dispositivos da ordem dominante, na tentativa de gerir as relações e as ações em direção a uma exterioridade de alvos específicos que ameaçam o seu poder (CERTEAU, 1994). As ameaças, neste caso, poderiam configurar-se, por exemplo, na manifestação das atitudes de distanciamento e/ou de não-envolvimento entre os referidos atletas no cotidiano da YOV.

Portanto, em síntese, parece-nos que a YOV foi estrategicamente planejada, desde a sua organização estrutural até a maior parte da programação de atividades do CEP, para fomentar os encontros e as interações entre os jovens atletas de diferentes culturas, bem como para sugerir uma maior possibilidade destes visitarem aos estandes espalhados pela Vila, endossando, deste modo, o lugar de poder por parte do BAYOGOC. Evidencia-se, aqui, a tentativa institucional de estabelecer as regras do jogo e as suas respectivas interações, as quais deveriam ser atravessadas pelos aspectos culturais e educacionais atrelados aos YOG-2018.

O plano tático dos jovens atletas

Neste subtópico, daremos continuidade à descrição e análise dos nossos dados, cuja centralidade doravante será dada aos jovens atletas como praticantes do cotidiano da YOV, pois, apesar de estarem situados neste espaço como consumidores, eles não relacionam-se passivamente com os bens e produtos que que lhes são apresentados, podendo imprimir as suas marcas a partir do respectivo consumo (CERTEAU, 1994). Logo, focalizaremos a suas diferentes maneiras de lidar com o processo de racionalidade definido pelo outro, o qual é representado, aqui, pelo COI, por intermédio do CEP e do BAYOGOC.

Assim, identificamos no cotidiano da YOV um complexo amálgama de práticas, ora construídas sob maior rigidez e controle, como a obrigatoriedade dos jovens atletas passarem por uma inspeção com aparelho de raio X - de maneira análoga a um controle de embarque aéreo - a cada vez que adentravam neste local, bem como de permanecerem hospedados ali, mesmo após ter findado seu calendário de competições; ora construídas sob maior permissividade e tolerância, como a relativa autonomia dos mesmos ao saírem e voltarem para este local a qualquer hora8, bem como, de frequentarem os estandes do CEP e participarem das suas respectivas atividades.

De maneira geral, constatamos um ambiente deveras intercultural no cotidiano da YOV. Primeiramente, em decorrência da obviedade deste local recepcionar um conjunto de 4.000 atletas - e demais membros que compõem as delegações - de 206 países diferentes. Por conseguinte, em virtude das iniciativas institucionais, sobretudo, a partir da organização estrutural e da oferta de atividades culturais e educacionais, aludidas acima. No entanto, tal como pretendemos mostrar na sequência, as práticas dos jovens atletas sinalizam para um consumo não passivo ou disciplinado, haja vista que estas são capazes de, nos termos de Certeau (1994), desfazer a fatalidade da ordem.

Nesse sentido, analisamos uma rede de ações táticas que mais nos chamaram à atenção no cotidiano da YOV, visando dar visibilidade para a mobilidade tática dos jovens atletas, isto é, para o emaranhar das astúcias e das espertezas levadas a efeito na sua relação com os serviços e bens culturais atinentes ao plano estratégico da organização estrutural e da organização programática do contexto, particularmente, a partir do repertório de atividades oferecidas. Destarte, para fins analíticos, dividimos as práticas cotidianas destes sujeitos em duas categorias heterogêneas, embora interligadas e/ou indissociáveis (1- Táticas de fuga ou resistência; 2- Táticas de bricolagem), as quais serão focalizadas a seguir.

Táticas de desvio ou resistência

As ações táticas têm por excelência características de resistência, de antidisciplina e, portanto, de transgressão, no sentido de romper os limites estabelecidos institucionalmente. Assim, esta categoria expressa a dimensão ética das práticas cotidianas (CERTEAU, 1994), constituindo-se, no caso deste estudo, pela recusa dos jovens atletas em se identificar com uma ordem estabelecida, a qual, por sua vez, é caracterizada pela organização e estruturação dos estandes, das estações e das respectivas atividades culturais e educacionais ofertadas.

Ora, de forma inequívoca, seria utópico observar e, tampouco, diferenciar os 4.000 jovens atletas que ininterruptamente transitavam pela YOV. Contudo, no decorrer das nossas observações, foi possível captar algumas peculiaridades e recorrências no seu cotidiano. Dentre elas, destacam-se determinados atletas - especialmente, embora não exclusivamente, competidores de algumas equipes femininas e masculinas de Futsal9 - cujas ações nos chamaram à atenção pelo fato de transitarem por estes espaços basicamente em direção a dois destinos específicos: ou para dirigirem-se até o refeitório a fim de se alimentarem ou para deslocarem-se até um dos quatro Parques temáticos da capital argentina, visando a disputa das suas respectivas competições esportivas. Além disso, notamos que eles o faziam quase sempre de forma agrupada, acompanhados, inclusive, pelos membros da sua comissão técnica, denotando uma organização prévia das respectivas comissões.

Nesse contexto, durante os cinco dias em que estivemos imersos no cotidiano da YOV, raramente os vimos visitando o conjunto de estandes e de estações e, por tabela, participando das suas respectivas atividades. Identificamos, pois, que alguns agrupamentos de atletas saíam da YOV pela manhã portando os seus respectivos equipamentos de competição10 e somente retornavam com o crepúsculo do entardecer, deslocando-se imediatamente para a Zona Residencial e para o refeitório (não necessariamente nessa ordem).

Em casos como esse, pode-se conjecturar algumas situações possíveis: por um lado, supõe-se que tais atletas estavam sobrecarregados por sua competição esportiva diária, algo que, aliás, já foi alegado por alguns atletas em outros estudos (KRIEGER, 2012; KRISTIANSEN, 2013; PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014; PETERS; SCHNITZER, 2015); por outro lado, supõe-se que estes sujeitos poderiam optar por fazer uso do restante da programação esportiva diária para acompanhar os seus próximos competidores e/ou para torcerem por seus compatriotas em ação antes ou após as suas competições.

Com efeito, na hipótese do primeiro cenário, temos a questão do compromisso esportivo dos atletas, enquanto na hipótese do segundo, temos uma ação deliberada dos mesmos em se colocarem na condição de expectadores. No entanto, em ambos, é interessante observar que tais atletas estavam imbuídos sobremaneira da parte esportiva/competitiva correlata aos YOG-2018 e, por isso, permitindo o desdobrar de uma relação de desvio ou resistência com as atividades do CEP.

Não obstante, no bojo dessa reflexão, vale a pena chamar a atenção do leitor para um cenário adicional. Verificamos que alguns atletas não se delongavam nos Parques de competição, retornando para a YOV imediatamente após os seus compromissos esportivos e, mesmo com o tempo livre neste espaço, faziam a opção (ou, talvez, eram impelidos a fazer por sua comissão técnica) por usá-lo para o seu descanso e para sua recuperação física, tal como corroborado por outros estudos (KRISTIANSEN, 2013; PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014; KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016), o que nos permite inferir a mesma interpretação delineada acima.

Em observância à identificação desta situação no cotidiano da YOV, parece-nos pertinente detalhar um momento específico no qual as atletas de Futsal da Bolívia e de Portugal, por exemplo, retornaram para este espaço logo após encerrarem a sua competição diária. Naquela ocasião, todas as atletas portuguesas seguiram imediatamente para a Zona Residencial (tal como ocorria com regularidade), enquanto três atletas bolivianas, por sua vez, pararam para observar o conjunto de atividades circenses correlatas a uma estação móvel, já mencionada alhures.

Neste exemplo, identificamos que as referidas atletas observavam atônitas outros sujeitos experienciando atividades de flexibilidade e equilíbrio, até o momento em que uma delas advertiu as demais, a partir da seguinte enunciação captada: “Lembrem-se que não podemos demorar muito aqui. Necessitamos descansar11. Assim, em poucos minutos, elas retornaram para os seus apartamentos, sem sequer experimentar tais atividades, dando a entender que deveriam permanecer focadas em algo presumivelmente mais importante do que o conjunto de atividades ofertadas na Vila. Neste caso, tudo indica tratar-se do seu calendário de competição olímpica12.

De acordo com Michel de Certeau (1994), quanto mais controlado é o lugar, mais invisíveis são as ações táticas dos praticantes. Sintomaticamente, aproveitando-se da brecha institucional de uma não obrigatoriedade de participação nestas atividades do CEP, as ações descritas acima podem ser bons exemplos para dar visibilidade às táticas engenhosas de desvio e/ou de resistência por parte de alguns grupos de atletas para ‘tirar partido do forte’ (CERTEAU, 1994), particularmente, em relação ao que havia sido estrategicamente programado/ofertado para eles no interior da YOV. Nesse cenário, parece-nos que tais possibilidades de ação correlatos ao plano tático não apenas engendraram resultados remotamente previstos pelo plano estratégico, como também demonstraram que, de fato, não houveram operações de passividade, submissão e conformismo por parte dos referidos atletas na posição de consumidores e enquanto praticantes do espaço da YOV.

Ora, tendo em vista que a relação instituída entre o dito e o não-dito no discurso dos sujeitos é propulsora da produção de sentidos (SILVA, 2008), advogamos que o mesmo pode acontecer com a relação estabelecida entre o feito e o “não-feito” nas suas respectivas práticas cotidianas. Afinal, a rigor, constatamos que foi no entremeio dessa relação que os jovens atletas observados puderam reinventar-se em um ‘não lugar’, isto é, em um lugar que não é o seu próprio, mas, do outro, insinuando-se para ele sem, no entanto, apreendê-lo por inteiro, provocando, desta maneira, deslocamentos nas fronteiras de dominação (CERTEAU, 1994), conforme foi demonstrado acima.

Destarte, captamos na dinâmica do cotidiano da YOV um certo caráter de renúncia por uma parte dos jovens atletas em relação aos possíveis e diversificados benefícios ofertados pelo plano estratégico (incluindo diferentes brindes de participação), a fim de lograrem eventuais possibilidades de ganho a partir das respectivas práticas de desvio, de resistência ou simplesmente de não participação nas referidas atividades culturais e educacionais ofertadas, o que, nestes casos, parecem-nos constituírem-se, em práticas significantes (CERTEAU, 1994) para os mesmos. Portanto, pode-se depreender que a experiência de participação destes sujeitos nos YOG-2018 foi mediada quase que exclusivamente pela programação esportiva correlata a estes Jogos, uma vez, que a sua participação na programação cultural e educacional foi limitada, quiçá, inexistente.

Táticas de bricolagem

Enquanto a categoria acima compreendeu a dimensão ética nas práticas de desvio e/ou de resistência por parte de determinados atletas em relação à programação do CEP, a presente categoria, por sua vez, expressa a dimensão estética pela maneira como muitos deles escolhem as atividades do repertório disponível segundo seus interesses próprios, isto é, em função do horizonte de seus gostos, necessidades e aspirações. Aqui, eles não fogem ou resistem as atividades ofertadas, mas, as consomem a partir de práticas que se revelam como uma espécie de bricolagem. Apoiados em Certeau (1994), utilizamos essa expressão para nos referirmos ao cabedal de práticas construídas ou “fabricadas” por sujeitos considerados mais fracos, mas, ao mesmo tempo, capazes de articular criativamente vários elementos fragmentados, desdobrando-se em algo novo, a partir da estética da recepção, ou mais precisamente, a partir da “arte de fazer”.

Isto posto, analisamos, aqui, uma rede de táticas de bricolagem, a partir da relação estética entre o que é ofertado e o que é consumido, sobretudo, por estas sobrelevarem mais claramente as diferentes maneiras destes atletas em “lidar com” os bens e produtos culturais estrategicamente ofertados no espaço da YOV, dentre os quais destacam-se: Yogger; Performance Accelerator; Athlete 365; e Chat with Champions.

O primeiro aspecto desta categoria analítica diz respeito aos diferentes usos que os jovens atletas fizeram do Yogger. Ora, conforme assinalado anteriormente, parte das interações entre os atletas de esportes e nacionalidades diferentes foram fruto do uso deste dispositivo. Com efeito, algumas destas interações foram não apenas iniciadas, como também continuadas por seu intermédio, com o desenrolar de conversas - geralmente, em torno de seus respectivos esportes, como preparação, calendário de competição, etc. - que, por vezes, se prolongavam para além do próprio local de encontro.

A figura abaixo demonstra a socialização entre jovens atletas de nacionalidades diferentes no jogo de pebolim13, a qual havia sido precedida pelo uso do Yogger nas proximidades deste espaço. Naquele momento, captamos uma comunicação entre eles, na qual um dos atletas argentinos sugeriu às demais atletas para jogarem juntos, dando continuidade a referida interação.

Fonte: Os autores

Figura 2 Socialização entre atletas de nacionalidades diferentes no jogo de Pebolim 

Segundo apontado por parte da literatura internacional, uma das principais razões relatadas pelos atletas que apreciaram o Yogger, em diferentes edições dos YOG, foi justamente a capacidade deste dispositivo em facilitar o estabelecimento do primeiro contato entre eles, funcionando como uma espécie de “quebra-gelo”, capaz de deixá-los mais à vontade para conversarem (PARENT; KRISTIANSEN; MACINTOSH, 2014; PETERS; SCHNITZER, 2015; KRIEGER; KRISTIANSEN, 2016).

Em contrapartida, por mais que o Yogger tenha sido notadamente utilizado por alguns atletas (tal como exemplificado acima) como um elemento capaz de engendrar o compartilhamento de experiências integradoras e socializadoras, cumpre-nos acrescentar que nós também identificamos algumas situações cotidianas no espaço da YOV que, em alguma medida, destoam destes achados, as quais parecem enveredar-se na contramão das interações comunicativas mais prolongadas por meio do referido dispositivo. No bojo dessa pluralidade, acentua-se a identificação da troca de dados digitais entre alguns atletas (de diferentes nacionalidades), seguida por uma nítida e imediata indiferença dos mesmos. Ora, situações desse tipo, por exemplo, permitem-nos relativizar a natureza e pertinência do primeiro contato estabelecido, cuja ideia central (e estratégica) é encetar uma conversa inicial e não apenas promover a mera junção de dispositivos, a partir da qual cada atleta simplesmente seguia para o seu lado, sem qualquer indício de uma interação mais profícua.

Nesse sentido, apesar de reconhecermos que tais atletas podem eventual e futuramente vir a trocar mensagens - em especial, por meio das redes sociais -, compreendemos que estes também podem manter a relação entre eles da mesma forma em que foi iniciada: sem verbalizar uma única palavra. Para ilustrar esse tipo de relação, tomamos nota do momento em que duas atletas da Croácia se aproximaram de uma atleta da Coréia do Norte que estava sentada (e desacompanhada) em um dos bancos espalhados pela YOV, limitando-se a apontar para os seus próprios dispositivos, ao passo que a norte-coreana (demonstrando ter entendido a mensagem), sacou o seu dispositivo do bolso e efetuou a troca de dados, atendendo ao desejo das croatas, as quais imediatamente optaram por bater em retirada.

Ora, no caso exemplificado acima, é razoável supor que a barreira linguística representou um entrave na comunicação entre as referidas atletas. Entretanto, verificamos a ocorrência de casos semelhantes no interior da YOV, em que alguns atletas simplesmente transitavam por este espaço com o referido dispositivo estendido a sua frente, efetuando a troca de dados com os atletas que encontravam no caminho (envolvendo àqueles do mesmo continente e, inclusive, da mesma língua oficial, como por exemplo, estadunidenses e canadenses; colombianos e chilenos). Ou seja, parece-nos tratar-se de relações intersubjetivas e, ao mesmo tempo, superficiais, haja vista que são compostas geralmente por uma troca de olhares e por pouquíssimas palavras (acompanhadas algumas vezes por um sorriso e, raríssimas vezes, por um aperto de mão), seguindo-se obviamente pela junção mencionada (e imediata) do dispositivo eletrônico.

De forma sintomática, tais ações deliberadas dos respectivos sujeitos nos remetem para o caráter funcional inerente à interação superficialmente estabelecida entre eles, a qual parece pautar-se tão somente na possibilidade que lhes foi concedida de angariar mais pontos a cada nova junção com outro dispositivo e, consequentemente, trocá-los por brindes personalizados com o logo deste megaevento. Ou seja, teríamos, aqui, um movimento da ação tática de bricolagem, capaz de jogar dentro do campo adversário contra as suas respectivas configurações de poder, acessando determinados fragmentos dos bens e serviços que lhes são oferecidos para consumo (CERTEAU, 1994), representados, aqui, pelo uso específico que alguns atletas fizeram do Yogger.

Com efeito, tais situações destoantes no que se refere aos diferentes usos do Yogger, colocam em evidência os movimentos plurais, ambíguos e contraditórios no cotidiano da YOV, visto que este não é um espaço composto por operações ou esquemas de ações previamente determinadas. Conforme sinalizado por Certeau (1994), é a relação socialmente estabelecida que determina seus termos, de modo que cada individualidade pode comportar uma pluralidade (muitas vezes contraditória) de suas determinações relacionais.

O segundo aspecto, por sua vez, faz referência à opção que os jovens atletas fizeram pelo consumo das atividades ofertadas no estande Performance Accelerator, embora estas tenham destoado um pouco da perspectiva cultural e educacional do CEP (ou talvez, exatamente por isso). Ora, apesar de não sentirmos, por parte dos nossos interlocutores, uma espécie de sinalização tacitamente favorável para observar o cotidiano deste espaço, foi possível identificar no seu derredor que este estava sempre sendo ocupado por determinados atletas que se mostravam curiosos e/ou interessados com as possibilidades de otimizarem suas performances corporais e, consequentemente, esportivas.

Sintomaticamente, tal procura parece ser consonante não apenas com a rotina, mas, com a própria construção da sua identidade14. Ora, ao investigar como a prática do esporte de alto rendimento impacta no jovem atleta, Valle (2003) pontua que a sua rotina diferencia-se do que se espera de outros jovens da mesma idade, pois a sua condição requer uma série de padrões de treinamento, de dieta, de cobranças, etc., de tal modo que seu corpo é constantemente regido por um controle de qualidade destinado para lidar com um elevado nível de competitividade que lhe é exigido. Para a autora, tais condicionantes reverberam no seu processo de construção identitária, o qual acaba associando-se ao caráter de heroico, saudável, belo e vencedor, cuja otimização da performance o ajuda a vencer os desafios do círculo esportivo e, por conseguinte, as dificuldades pessoais, sentindo-se aceito e respeitado socialmente.

Na esteira da discussão que envolve o seu círculo esportivo, o terceiro aspecto compreende a participação dos jovens atletas nas atividades ofertadas pelas seções ‘Olympic Solidariety’ e ‘Career+’, doAthlete 365”, conforme retratado na Figura 3. Em nossas observações, constatamos que ambas apresentam alguns elementos em comum que ajudam a justificar a opção dos jovens atletas em consumi-las, com destaque para a interatividade proporcionada pelo jogo de Snookball e pelos jogos e aplicativos virtuais, bem como a possibilidade conferida a estes sujeitos de capitalizarem informações que fossem úteis para o seguimento das suas carreiras enquanto atleta de elite e também para as suas carreiras futuras, respectivamente.

Fonte: Os autores

Figura 3 Participação dos atletas nas seções Olympic Solidariety e Career+ do “Athlete 365” 

Em contrapartida, a Figura acima nos dá indícios sobre o que pode ser a diferença mais representativa entre as atividades ofertadas nas seções Olympic Solidariety (à esquerda) e Career+ (à direita). Trata-se do processo de socialização entre eles, o qual é nítido na primeira (com a participação conjunta dos atletas de diferentes nacionalidades), e negligenciado na segunda, com exceção dos momentos em que os próprios atletas (da mesma nacionalidade) tinham a iniciativa de compartilhar os seus respectivos resultados. Captamos, por exemplo, uma comunicação interativa entre atletas equatorianos, na qual um deles fez a seguinte enunciação: “Já terminei. Creio que vou ser um homem de negócios”15 (risos).

Com efeito, ressalta-se que apesar de ter sido empregada em tom de galhofa, tal enunciação (aliada à procura dos jovens atletas pela referida atividade/consultoria sobre sua carreira futura) pode revelar uma preocupação comum aos atletas profissionais, incluindo os mais jovens. De acordo com Campos, Cappelle e Maciel (2017), a aposentadoria destes sujeitos ocorre por volta dos 40 anos de idade, período em que outros profissionais ainda são eminentemente produtivos, justificando tamanha preocupação. Além disso, os autores argumentam que tal problemática pode ser agravada em decorrência da escassez de políticas públicas e de iniciativas privadas direcionadas para que os ex-atletas continuem inseridos no mercado de trabalho.

Por fim, o quarto aspecto é representado, aqui, pelo consumo que os jovens atletas fizeram do “Chat with Champions”. Nessa conjuntura, cabe-nos pontuar que diferentemente dos três aspectos supramencionados (cuja oferta era diária), este, por sua vez, era pontualmente programado para ocorrer em apenas cinco dos 12 dias dos YOG-2018. No entanto, um exemplo que nos parece representativo do seu uso foi rigorosamente em uma data que não constava previamente na referida programação, indicando uma espécie de estratégia flexível (e de improviso) por parte do BAYOGOC para aproveitar tal oportunidade. Nesta ocasião, a “atleta-modelo” convidada para conversar com os jovens atletas na YOV foi a brasileira Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora de Futebol do mundo (cinco de forma consecutiva) e contou, sobremaneira, com a participação dos atletas brasileiros (Figura 4), os quais estavam observando e escutando atentamente o compartilhamento de suas experiências.

Notadamente fascinados com a carreira de sucesso da referida atleta multicampeã no cenário esportivo, identificamos que alguns atletas mais curiosos se sentiram à vontade para elaborar perguntas que giravam em torno da sua trajetória esportiva, incluindo como havia sido o início da sua carreira, os triunfos alcançados e as principais dificuldades enfrentadas por ela neste árduo e vitorioso percurso. Foram elaboradas, ainda, questões que giravam em torno do próprio preconceito que a mesma precisou superar para ganhar oportunidade e notoriedade em um esporte historicamente e hegemonicamente masculinizado16.

Fonte: Os autores

Figura 4 Participação dos atletas brasileiros no Chat with Champions 

Segundo apontado por autores como Kristiansen (2013) e Peters e Schnitzer (2015), tais encontros com os atletas-modelos na YOV foram considerados pelos jovens atletas como sendo importantes para o seu desenvolvimento pessoal e para atenuar o aspecto competitivo dos YOG, uma vez que o foco não estava apenas no seu desempenho esportivo. Além disso, também teriam servido para incentivá-los a participarem das respectivas atividades do CEP (SCHNITZER et al., 2014). Não obstante, no caso do Bate-papo com a atleta Marta correlato aos YOG-2018, nos chamou a atenção a presença dos atletas brasileiros de Futsal, os quais - à semelhança do que havia ocorrido com as atletas portuguesas desta modalidade, por exemplo -, também não foram vistos, durante nossas observações, frequentando quaisquer outros estandes e estações e, consequentemente, participando das suas respectivas atividades culturais e educacionais. Outrossim, isto nos permite inferir que os mesmos também fizeram uso tanto de táticas de desvio ou resistência em relação às demais atividades ofertadas no cotidiano da YOV, aliando-as às táticas de bricolagem, cuja nacionalidade da referida atleta-modelo e/ou a proximidade da sua modalidade esportiva com o Futsal podem ajudar a justificar a participação seletiva, quiçá exclusiva, destes sujeitos no “Chat with Champions”.

Diante do que está posto, o emaranhado de táticas analisadas nesta categoria corrobora o entendimento de que não há uma relação de passividade por parte dos jovens atletas na condição de consumidores/usuários, mas, de “produtividade”. Neste caso, o que poderia ser visto institucionalmente como um conjunto de estratégias bem-sucedidas devido ao consumo dos referidos objetos ofertados, parece-nos corresponder particularmente à dimensão estética inerente às “artes de fazer” dos respectivos sujeitos no cotidiano da YOV. Ou seja, tratar-se-ia das maneiras pelas quais eles decidiram utilizar os produtos ofertados por um lugar de poder, o qual, reiteramos que é caracterizado por Certeau (1994) como o lugar próprio das instituições - com seus respectivos dispositivos estratégicos -, expressando a vitória do lugar sobre o tempo, permitindo capitalizar vantagens conquistadas, preparar novas expansões e lograr uma independência em relação à característica de variabilidade das circunstâncias.

Em contrapartida, pode-se conjecturar que, embora as práticas bricoladoras observadas sejam correlatas ao plano tático - espaço de apropriação -, em algumas situações e sob determinadas condições, estas também podem assumir nuances estratégicas, na medida em que indicavam não apenas uma legitimação de determinadas atividades ofertadas pelo CEP, mas uma aparente busca, por parte dos jovens atletas de elite, pela ocupação de um lugar próprio, intentando tomá-lo para si ao consumir a parte da referida programação que fosse capaz de atender ao que eles pareciam buscar naquele espaço.

Em suma, tais atividades tinham em comum o fato de serem objetivamente orientadas para o seu círculo esportivo de alto rendimento: financiamento olímpico, carreira futura, relação com a mídia, performance corporal e bate-papo com os campeões. Logo, isto nos permite pensar que de alguma maneira os YOG-2018 podem ter representado para os referidos atletas jovens “[...] uma porta de preparação para os Jogos Olímpicos convencionais” (SOUZA; MATARUNA-DOS-SANTOS; TAVARES, 2019, p. 234). Ora, ao capitalizar um conjunto de informações correlatas às suas expectativas, interesses e aspirações, tais práticas constituem-se por uma rede de produção de sentidos e apresentam-se como um espaço de afirmação da sua identidade atlética em um determinado tempo e espaço.

REFLEXÕES FINAIS

As análises produzidas neste estudo sugerem que a YOV é um ambiente deveras intercultural, cujo cotidiano é capaz de ensejar uma pluralidade de práticas tanto no plano estratégico, a partir da composição da sua estrutura e das atividades culturais e educacionais ofertadas pelo CEP, quanto no plano tático, a partir dos usos e apropriações diferenciados dos jovens atletas.

No que diz respeito ao plano estratégico, nós identificamos diferentes iniciativas institucionais - como forma de persuasão ou coerção - destinadas para fomentar múltiplos encontros e interações entre os jovens atletas de diferentes culturas, tanto por meio de sua organização estrutural, quanto por meio de grande parte da sua programação de atividades culturais e educacionais. Assim, os resultados demonstram que a racionalização estratégica do COI - por intermédio do BAYOGOC/CEP - lança mão de aspectos como ludicidade, interatividade e tecnologia para despertar a atenção, o interesse e a participação dos jovens atletas nas mesmas e, consoante aos seus interesses institucionais, para fomentar uma espécie de ‘educação em valores olímpicos’ - excelência, amizade e respeito -, endossando, deste modo, o seu lugar de poder.

No que se refere ao plano tático, por sua vez, nós identificamos um conjunto de práticas astuciosas dos jovens atletas na posição de consumidores, ratificando que não houve uma relação de passividade dos mesmos, mas, de “produtividade”. Tais práticas foram focalizadas, basicamente, a partir de dois tipos: táticas de desvio ou resistência e táticas de bricolagem.

Nas primeiras, analisamos a dimensão ética das práticas por meio da recusa ou esquiva destes sujeitos em relação ao conjunto de bens e produtos culturais (e seus possíveis e respectivos benefícios) ofertados pelo plano estratégico, na tentativa de lograr algumas possibilidades de ganho não compatíveis com a ordem estabelecida institucionalmente. Assim, tais táticas permitiram-lhes reinventar-se em um ‘não lugar’ (CERTEAU, 1994), provocando deslocamentos nas fronteiras de dominação.

Já nas táticas de bricolagem, por sua vez, analisamos a dimensão estética das práticas dos referidos sujeitos, por meio das maneiras singulares de apropriação das informações que lhes foram distribuídas e dos objetos que lhes foram entregues por um lugar de poder, baseando-se, para tanto, em seus interesses próprios, isto é, nos aspectos associados ao seu círculo esportivo de alto rendimento.

Em contas finais, conclui-se que os jovens atletas produziram sentidos que transcendiam as questões culturais e educacionais, embora estas também estivessem presentes, como a interação e a socialização. Tais sentidos associaram-se, sobretudo, ao seu próprio crescimento profissional e, desta forma, suas práticas de espaço também podem assumir nuances estratégicas, postulando a ocupação de um lugar próprio e a afirmação da sua identidade enquanto atleta de alto rendimento, evidenciando, portanto, a relação de interdependência, competição e tensão entre as práticas estratégicas (ordenadas de organização) e as práticas táticas (poéticas de apropriação).

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1 A presente pesquisa contou com o apoio financeiro da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.

2O MO engloba os Jogos Olímpicos de Verão (desde 1896), Jogos Olímpicos de Inverno (desde 1924) e, mais recentemente, os Jogos Olímpicos da Juventude (desde 2010), bem como todas as organizações e atletas diretamente relacionados ao COI e reconhecidas por ele.

3Esta expressão certeauniana é utilizada neste estudo para referir-se à interação estabelecida entre os referidos sujeitos no instante exato em que, a partir de suas práticas, eles poderiam alcançar determinadas possibilidades de ganho, particularmente, em relação às atividades do CEP.

4Os YOG-2018 foram oficialmente iniciados na noite de 6 de outubro, com a realização da cerimônia de abertura no centro da capital argentina. Logo, a programação esportiva nos respectivos locais de competição, aliada a programação cultural e educacional na YOV tiveram início somente no dia seguinte e se estenderam até o dia 18.

5Pode ser traduzido, embora não literalmente, como: “mudando o jogo”.

6Trata-se de uma versão aumentada de um jogo conhecido como Sinuca, mas, neste caso, jogado com os pés.

7Consiste em uma comissão designada pelo COI, cujo objetivo é administrar os recursos financeiros destinados para os CONs que apresentarem projetos de desenvolvimento relativos ao universo olímpico.

8A YOV ficava aberta aos atletas 24 horas por dia, embora as atividades do CEP cessassem por volta das 22:00h.

9Esta modalidade esportiva fez a sua estreia nas competições olímpicas nos YOG-2018, a qual tivemos a oportunidade de assistir alguns jogos antes de lograrmos o acesso ao cotidiano da YOV, o que, por sua vez, foi importante para reconhecermos os referidos atletas neste local, como por exemplo, as equipes do Brasil (masculina), da Bolívia e de Portugal (femininas).

10Dentre eles, além das chuteiras de Futsal, verificamos atletas com quimonos (de Karatê ou de Judô), raquetes de Tênis e até mesmo bicicletas atinentes a uma das disciplinas do Ciclismo. Portanto, seria improcedente resumir as referidas práticas (classificadas, aqui, como de desvio ou resistência) aos atletas de uma modalidade específica. Adicionalmente, ressalta-se, ainda, a identificação de outros atletas (como as competidoras de Futsal da República Dominicana) participando de diferentes atividades do CEP, ratificando que tais práticas não são exclusividade de uma única modalidade esportiva.

11Tradução nossa.

12Para efeitos de informação adicional, ressalta-se que a equipe boliviana, tal qual a portuguesa, também chegou a fase final nestes Jogos, logrando feitos esportivos que são proporcionais às suas pretensões ou, pelo menos, à sua tradição nesta modalidade, ao conquistar um inesperado quarto lugar.

13A expressão originalmente utilizada por ele foi “metegol”, forma como este jogo é conhecido em seu país.

14Com base em Hall (2000), pode ser entendida a partir do advento da pós-modernidade, isto é, como identidades abertas, fluidas, contraditórias e inacabadas. Nesse sentido, ela pode ser construída continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos diferentes sistemas culturais que nos cercam.

15Tradução nossa.

16No que se refere às condições historicamente desiguais de acesso e participação das mulheres no cenário esportivo, vale a pena consultar os estudos de Goellner (2006) e de Martins e Reis (2018). No primeiro, a autora tece suas considerações a partir da análise da história das práticas corporais e esportivas no contexto nacional, focalizando o surgimento e a projeção de vários talentos esportivos femininos. Enquanto no segundo, as autoras concentram seus esforços na análise da questão de gênero relacionada ao futebol profissional espanhol, focalizando a marginalização feminina nesse contexto, cujas causas atravessam fatores como: ausência de uma liga profissional, falta de patrocínio e ausência de políticas públicas na promoção da urgente e necessária justiça social.

AGRADECIMENTOS Não se aplica

FINANCIAMENTO A presente pesquisa contou com o apoio financeiro da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM Não se aplica

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Campus de Goiabeiras, tendo sua aprovação deferida sob o número do CAAE 99991018.0.0000.5542 e número de parecer 3.066.398, conforme exigências estabelecidas pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde

LICENÇA DE USO Os autores cedem à Motrivivência - ISSN 2175-8042 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution Non-Comercial ShareAlike (CC BY-NC SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar com a mesma licença

PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

Recebido: 27 de Fevereiro de 2020; Aceito: 09 de Junho de 2020

adriano.lopes@mail.uft.edu.br

tavaresotavio@yahoo.com.br

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

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CONFLITO DE INTERESSES

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