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Motrivivência

versão On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.33 no.64 Florianópolis  2021  Epub 20-Maio-2021

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021.e79684 

Artigo Original

Dumbo, a trajetória de um atleta como síntese da conexão Brasil-Angola

Dumbo, the way of one athlete as the synthesis of connection Brasil-Angola

Dumbo, la trayectoria de un deportista como síntesis de la conexión Brasil-Angola

William Douglas de Almeida1 
http://orcid.org/0000-0001-9838-0934

Neilton de Sousa Ferreira Junior1 
http://orcid.org/0000-0002-4610-1021

Katia Rubio1 
http://orcid.org/0000-0002-5632-6494

1Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil


RESUMO

Em cem anos de história no movimento olímpico, o Brasil foi representado por 52 atletas que nasceram em território estrangeiro. Nenhum deles nasceu no continente africano. Em Jogos Paralímpicos, porém, o país contou em 2016 com a presença do jogador Maurício Dumbo, nascido em Angola e naturalizado brasileiro. Este artigo tem como objetivo apresentar a história de vida de um desses imigrantes, mostrando qual o papel que o esporte teve na integração dele à sociedade brasileira. Como metodologia, optou-se pelas narrativas biográficas. Como resultados, vê-se que ainda existe preconceito e diversas barreiras na integração de migrantes vindos da África para o Brasil, todavia, percebe-se que o esporte foi um fator importante na construção de uma rede de socialização de Dumbo e que a adoção da nacionalidade brasileira não significou um rompimento com a sua origem angolana.

PALAVRAS-CHAVE: Jogos paralímpicos; Imigração e emigração; Identidade étnica, Diáspora africana; Futebol de 5

ABSTRACT

In a hundred years of history in the Olympic movement, Brazil was represented by 52 athletes who were born abroad. None of them was born on the African continent. In Paralympic Games, however, the country counted in 2016 with the player Maurício Dumbo, born in Angola and naturalized Brazilian. This article aims to present the life story of one of these immigrants, showing the role that sport played in his integration into Brazilian society. As a methodology, biographical narratives were chosen. As a result, it can be seen that there is still prejudice and several barriers in the integration of migrants from Africa to Brazil, however, it is clear that sport was an important factor in the construction of a social network of Dumbo, who the adoption of Brazilian nationality did not mean a break with his Angolan origin.

KEYWORDS: Paralympic games; Imigration and emigration; Ethnic identit; African diaspora; Footbal-five-a-size

RESUMEN

En cien años de historia en el movimiento olímpico, Brasil estuvo representado por 52 deportistas que nacieron en el extranjero. Ninguno de ellos nació en el continente africano. En los Juegos Paralímpicos el país contó en 2016 con el jugador Maurício Dumbo, nacido en Angola y naturalizado brasileño. Este artículo tiene como objetivo presentar la historia de vida de uno de estos inmigrantes, mostrando el papel que jugó el deporte en su integración a la sociedad brasileña. Como metodología se eligieron narrativas biográficas. Como resultado, se puede ver que aún existen prejuicios y varias barreras en la integración de los migrantes de África a Brasil, sin embargo, es claro que el deporte fue un factor importante en la construcción de una red social de Dumbo con los brasileños, quienes la adopción de la nacionalidad brasileña no significó una ruptura con su origen angoleño.

PALABRAS-CLAVE: Juegos paralímpicos; Inmigración y emigración; Identidad étnica; Diáspora africana; Fútbol 5

INTRODUÇÃO

Em cem anos de participações olímpicas, o Brasil foi representado por mais de dois mil atletas. Desse contingente, 52 nasceram em território estrangeiro e se tornaram brasileiros por questões de ancestralidade, ou naturalização (ALMEIDA; RUBIO, 2018). Nenhum deles nascido no continente africano. Isso não significa que as relações entre Brasil e África não existem. Elas têm início no século XVI, quando os africanos sequestrados pelas expedições coloniais europeias foram trazidos para as Américas para serem submetidos a trabalho escravo. O tráfico de escravizados africanos só foi interrompido três séculos depois, mas não a dominação racial derivada da escravaria e colonialismo. O século XIX é o momento em que o estado brasileiro passa a estimular a migração, não de africanos, mas de europeus, materializando uma política de embranquecimento da população pautada nas teses de “degeneração inata da raça negra” (AZEVEDO, 1987; SCHWARCZ, 1996).

Ao citar a entrada de migrantes por nacionalidade no Brasil entre os anos de 1894 e 1933, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) faz a seguinte divisão: alemães, espanhóis, italianos, japoneses, portugueses, sírios e turcos e “outros”. A última é a categoria na qual estão incluídos todos os africanos. No período seguinte, entre 1933 e 1959, a lista é dividida entre alemães, espanhóis, italianos, japoneses e “outros”. O “outro” é representado, portanto, como uma espécie residual, dejeto, excedente, pertencente a um “outro mundo”. O “outro”, assim, é representado em território brasileiro como indesejável. Em outras palavras, a formação social do Brasil produziu a sua falsa medida, sua alucinação, o seu próprio “outro”. A partir da segunda metade do século XX, no entanto, a emergência de contestações profundas a esta estrutura social, cujo limite se expressa no genocídio da população afrodescendente, ganha novos contornos (FERNANDES, 1989; LARKIN NASCIMENTO, 2003).

Os expedientes e espaços dessa contestação são os mais diversos, e o campo esportivo não escapa à regra. As campanhas olímpicas brasileiras nunca contaram com imigrantes africanos naturalizados brasileiros. Isso só ocorreu em campanha paralímpica mais recente, quando à delegação nacional foi integrado o paratleta Maurício Tchopi Dumbo. Nascido em Angola, em de 1989, Dumbo defendeu a seleção brasileira de Futebol de 5, campeã nos Jogos realizados no Rio de Janeiro, em 2016.

Este artigo tem como objetivo discutir o papel desempenhado pelo esporte no processo de construção identitária de Maurício Dumbo como brasileiro, além de problematizar, de forma interdisciplinar, a questão das migrações esportivas no Brasil. Como metodologia, além da revisão sobre teorias que relacionam migração e esporte, propomos uma análise da narrativa biográfica do atleta.

Apresentamos um histórico sobre o Futebol de 5 no Brasil. Em seguida, detalhamos a metodologia utilizada, delineando o processo de construção de narrativas biográficas seguido da teorização do tema migração esportiva internacional. Na segunda seção detalhamos as conexões históricas entre Brasil e África, chegando a um debate sobre o cenário atual dessas migrações; momento em que estabelecemos diálogo entre a narrativa biográfica de Dumbo e o processo de migração para o Brasil. Nas conclusões, construímos nossa argumentação sobre a relevância do esporte na construção identitária de Dumbo, demonstrando que a adoção de uma nova nacionalidade, em um mundo transnacional, não significa necessariamente o corte de vínculos com o local de origem. Sua identidade se constitui em trânsito, na esteira da construção de uma carreira atlética, formação universitária, e dilemas transnacionais que ora o distanciam, ora o aproximam da nacionalidade brasileira. Conforme nos sugere (HALL, 2003) na Diáspora, a análise de trajetórias como é importante, uma vez que representa as ondas de migrações das antigas colônias - processo responsável pela emergência de novas reflexões sobre as possibilidades e limites teóricos e políticos da cultural nacional. A narrativa biográfica, nesse caso, se apresenta como fonte privilegiada de captura das interconexões entre o particular, o histórico e o institucional.

BRASIL, O PAÍS DO FUTEBOL (DE CEGOS)

O futebol de 5 faz parte do programa dos Jogos Paralímpicos desde a edição de Atenas-2004. Muito antes disso, porém, desde a década de 1950, a modalidade era praticada no Brasil. (FONTES, 2006) descreve que os primeiros jogos de futebol entre pessoas cegas no país foram realizados em diversas instituições: Instituto Santa Luzia, em Porto Alegre; Instituto Padre Chico, em São Paulo; Instituto Benjamim Constant, no Rio de Janeiro; entre outros. De acordo com o autor

A primeira competição de que temos conhecimento entre institutos, associações ou entidades data de 1974: um torneio realizado em Porto Alegre com a participação de equipes do Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso. Depois disso, em 1978, ocorreram participações da modalidade de futebol entre cegos nas Olimpíadas das APAEs realizadas na cidade de Natal, Rio Grande do Norte. (Fontes, 2006, p.13).

Morato et al. (2011) relata que a unificação das regras da modalidade só ocorreu por volta de 1994, o que possibilitou a realização de competições internacionais. Desde então, o Brasil firmou-se como a principal potência do mundo na modalidade. Um levantamento no site oficial da Confederação Brasileira de Desportos para Deficientes Visuais (CBDV) aponta que o país venceu todas as edições dos Jogos Paralímpicos (2004, 2008, 2012, 2016), cinco campeonatos mundiais (1998, 2000, 2010, 2014 e 2018), quatro edições dos Jogos Parapan-Americanos (2007, 2011, 2015 e 2019) e seis edições da Copa América realizada pela Federação Internacional dos Desportos para Cegos (IBSA) (1997, 2001, 2003, 2009, 2013 e 2019).

Em nível paralímpico, são considerados aptos para a prática do futebol de 5 jogadores cegos, que recebem a classificação B1 (sendo a letra b representante de “blind”, cego em inglês). Existem torneios realizados entre atletas com baixa visão, classificados nas categoras B2 e B3, mas estes não disputam os Jogos Paralímpicos. As equipes são formadas por cinco jogadores, sendo que o goleiro enxerga. Além de defender, ele acumula a função de orientar os jogadores de defesa. Na posição central da quadra a orientação é feita pelo treinador e atrás do gol para o qual a equipe ataca fica um assistente técnico, popularmente denominado de “chamador” no Brasil, responsável por orientar os jogadores no terço final da quadra. Além de contar com as ajudas do técnico, goleiro e chamador, os atletas se orientam pelo barulho da bolha, que contém um guizo. Para os Jogos Paralímpicos, cada seleção convoca dez jogadores, sendo dois goleiros e oito que atuam na linha. Para além dos aspectos históricos e técnicos, uma modalidade esportiva compreende a congregação de interesses individuais, coletivos e institucionais que encontram na figura dos atletas a condição de mediação principal. A experiência esportiva e, mais especificamente, a experiência paralímpica, traduzem-se por meio de vivências entre expedientes e deslocamentos, antagonismos e conquistas que só podem se representar pela memória individual e coletiva dos seus protagonistas.

METODOLOGIA: AUDIÇÃO ATENTA

No futebol de 5, a audição é a principal ferramenta dos atletas. A percepção dos espaços em quadra, da localização da bola e dos companheiros, faz toda a diferença para obtenção do sucesso. Semelhantemente, a pesquisa com narrativas biográficas também exige audição apurada, pois o sucesso e rigor de uma pesquisa nestes termos depende fundamentalmente da atenção do pesquisador, não somente às palavras, mas à ênfase que o narrador dá à aspectos de sua fala por meio da entonação vocal, pausas, suspiros e ritmo que imprime à narrativa. Conforme nos advertiu (POLLAK, 1989, p. 6), dentre os múltiplos significados do silêncio sobre o passado, destaca-se o papel do esquecimento, que longe de se reduzir à mera negação da história, pode se referir “à resistência que uma sociedade civil impotente opõe ao excesso de discursos oficiais”, ao mesmo tempo em que busca transmitir “cuidadosamente as lembranças dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da verdade e da redistribuição das cartas políticas e ideológicas”. Em outras palavras, a atenta do pesquisador das memórias não se restringirá à fala apenas, mas se estenderá à compreensão sobre as condições históricas, espaciais e institucionais de produção da memória e narrativa, cujo “limite” também pode significar “espera”.

Ao discorrer sobre o trabalho com narrativas de atletas, Rubio conceitua que

A importância da discussão sobre as histórias de vida se dá em função dos relatos orais terem se constituído como uma técnica qualitativa por excelência. A história de vida não está obrigada pelo ritmo e acontecimento da história cronológica. É uma forma particular de história oral, que interessa ao pesquisador por captar valores que transcendem o caráter individual do que é transmitido e se insere na cultura do grupo social ao qual o ator social que narra pertence. Emergem dessa narrativa os acontecimentos considerados significativos na trajetória de vida pessoal ou do grupo ao qual o indivíduo pertence, cabendo ao pesquisador perceber o que ultrapassa o caráter individual do que é relatado e o que está inscrito na coletividade à qual o narrador se insere. (Rubio, 2014, p.99).

Deste modo, mais que buscar a simples confirmação de um fato ou dado, o exercício da audição atenta capacita o pesquisador a trabalhar com elementos constitutivos da humanidade dos atletas, rompendo com discursos padronizados - muitos dos quais popularizados pelo senso comum - que não raro revelam mais o viés e individualidade do entrevistador. Não se trata, portanto, de um exercício de juízo sobre a trajetória do sujeito histórico, e sim uma disposição teórica frente a necessidade de amplificação da complexidade da trajetória e identidade em questão. Por estas razões, os trabalhos com metodologias calcadas em narrativas biográficas tendem se utilizar de entrevistas mais abertas, tal como a realizada com Maurício Dumbo.

Apesar de carregar traços da historiografia, o trabalho com memória carrega diferenças. Não se trata de uma simples reprodução das falas dos narradores, mas de um exercício de compreensão do contexto no qual ela ocorre e dos fatores históricos e sociais que incidem sobre ala, uma vez que são os corpos os alvos principais da política, da guerra, da luta por sobrevivência, do fazer esportivo. (MELO, 2014, p. 99) argumenta que uma das vantagens da pesquisa sobre e com memórias está na possibilidade de acesso à compreensão de “como o passado se torna parte do presente e como as pessoas se utilizam dele para interpretar suas vidas e o mundo ao seu redor”. Não se trata, portanto, da busca pela “verdade”, mas de uma forma de conceber os desdobramentos políticos e sociais do império de determinadas verdades ao longo do tempo, e de localização dos sujeitos históricos nesse contexto.

Nesta mesma linha, (FERREIRA JUNIOR, 2014) analisa que, para muitos atletas, a lembrança da experiência esportiva implica a emergência das mais diversas emoções acerca do significado de participar de um evento histórico de tamanha proporção. Ao recordar, o atleta se vê como parte da história, ao mesmo tempo que desafiado a dar sentido a uma experiência que não se permite reduzir aos termos bom ou ruim. Protagonizar um megaevento, participar de um projeto dessa magnitude não é possível sem uma trajetória esportiva anterior, por regra precária e sem garantia alguma de sucesso. Em outras palavras, aquilo a que denominamos esporte, não se refere a um espaço-tempo isolado das contradições e dilemas sociais. Pelo contrário, em alguma medida, o esporte compreende um prolongamento de sistemas de dominação próprios à formação da sociedade de classes, com suas hierarquias de gênero e raça. De modo que não é possível falar de esporte sem ao menos ter em mente que este se trata de um fenômeno que, ao seu modo, espelha uma dada sociabilidade (BROHM, 1982; BROHM, JEAN-MARIE, PERELMAN, MARC, VASSORT, 2004). Ao prefaciar uma obra sobre olimpismo, a atleta de rugby Isadora Cerullo detalha

Em um ciclo olímpico, são 2.548 horas de treino. A minha modalidade nos Jogos Olímpicos prevê que o máximo de tempo que um atleta pode passar em campo em toda competição é de cerca de 90 minutos, ou seja, 1 hora e meia. Isso quer dizer que, no melhor dos cenários, arredondando para cima, considerando que eu nunca saia de campo durante os Jogos Olímpicos, a atuação de uma atleta de rugby sevens nos Jogos corresponderia a 0,06% do seu trabalho em um ciclo olímpico. E é a partir desses 0,06% que o público se sente confortável para formar sua opinião sobre quem nós somos, sobre quanto valor temos, sobre o teor real da nossa história. (Cerullo, 2019, p.12).

Os dados compilados pela atleta não deixam dúvidas de que, para conhecer a realidade dos competidores de um grande evento esportivo, é preciso ir além do momento da disputa. A abertura para a escuta aos atletas compreende um primeiro passo à compreensão acerca do que ocorre no cotidiano da formação, desenvolvimento e encerramento da carreira atlética (FERREIRA JUNIOR, 2014).

É recomendável a esse tipo de abordagem que os encontros sejam realizados presencialmente, como resultado de uma aproximação que possibilita ao narrador conhecer em profundidade as razões e os fins da entrevista proposta. A isto se somará o reconhecimento, por parte do pesquisador, de que ele não é o único observador, mas também o observado, a pessoa que fala em nome de uma instituição, mas que também precisa se apresentar como sujeito constitutivo da horizontalidade necessária a uma proposta que pretende ser - mais que uma entrevista - uma jornada sem roteiro por terrenos da memória conhecidos e desconhecidos. O resultado da narrativa biográfica dependerá ainda de uma relação de confiança entre narrador e pesquisador que não se estabelece de imediato. (ALMEIDA, 2016) pondera sobre o papel das novas tecnologias de comunicação, que longe de ser um mecanismo substitutivo, possibilitam encontros sem prejuízo às dimensões de confiança e horizontalidade cruciais à experiência narrativa. Esta foi justamente a alternativa que encontramos para colher a narrativa biográfica de Maurício Dumbo. Devido à pandemia de COVID-19 que assolou o mundo nos primeiros meses de 2020, o contato presencial e as viagens não foram possíveis. Diante destas circunstâncias, o encontro que deu origem à presente pesquisa se deu de modo virtual, por meio do aplicativo Google Meet. Devidamente autorizado pelo narrador, esse encontro foi gravado e posteriormente transcrito. Material que apresentamos parcialmente, trazendo recortes cujo conteúdo nos permite dimensionar, realçar e dialogar com os subtemas contidos na transcrição original.

RESULTADOS E DISCUSSÃO: das relações entre esporte e migração

Diversos autores se debruçam sobre a questão das relações entre migração e esporte. Dentre os quais podemos destacar (MAGUIRE, 2007; HOULIHAN, 2010; RYBA; STAMBULOVA; RONKAINEN, 2016; JANSEN; OONK; ENGBERSEN, 2018; VAN BAKEL; SALZBRENNER, 2019; ALMEIDA; RUBIO, 2020). O que eles têm em comum refere-se à compreensão de que as migrações não ocorrem de maneira uniforme e que são resultado de causas e consequências distintas. (MAGUIRE, 2007) classifica os atletas migrantes em cinco tipologias, a saber: os residentes, os pioneiros, os nômades, os mercenários e os retornados. Os residentes são aqueles que migram, independentemente das relações com o esporte, mas acabam desenvolvendo uma carreira atlética. Pioneiros são atletas responsáveis pela inserção de uma modalidade em um novo local, ou pelo acréscimo técnico à mesma. Nômades são competidores que aproveitam das facilidades abertas pela carreira atlética para circularem por diferentes pontos do globo. Os mercenários migram em busca de melhores ofertas financeiras. E, finalmente, há os retornados, aqueles que após um período no exterior, voltam à nação de origem.

A migração de atletas é fruto de um processo de globalização do esporte, bem como da sua “mais recente” transnacionalização, isto é, quando o expediente esportivo globalizado passa a se sobrepor às estruturas estatais (HOULIHAN, 2010). Os fundamentos desse processo histórico se encontram justamente na globalização esportiva que, segundo o autor, segmenta-se em cinco vertentes: internacionalização, liberalização, universalização, americanização e desterritorialização. A internacionalização pode ser exemplificada por atletas em circuitos internacionais (comuns no tênis, Fórmula 1, e judô). Já a liberalização é vista em medidas tomadas por governos e instituições que facilitam o fluxo de pessoas e mercadorias entre diferentes países. O caso mais ilustrativo é a lei Bosman, que facilita o trânsito de jogadores de futebol dentro da Europa. Ainda segundo Houlihan, a universalização: produz uma homogeneização da cultura - os Jogos Olímpicos, por exemplo, abrangem de um modo semelhante vários pontos do mundo, com a participação de atletas e cobertura midiática. O processo de Ocidentalização/Americanização é caracterizado pela expansão de estrutura social, valores e ideias do ocidente pelo mundo. No esporte, os critérios científicos de identificação de talentos e a especialização de profissionais, ilustram essa situação. A desterritorialização, por fim, ocorre quando a organização social ultrapassa os limites do território e muda-se dramaticamente as percepções de tempo, espaço e distância, como a formação de comunidades de torcedores em locais distantes das equipes. Cabe ressaltar que estes fenômenos ocorrem de maneira concomitante, não sendo excludentes entre si.(RYBA; STAMBULOVA; RONKAINEN, 2016 e também VAN BAKEL; SALZBRENNER, 2019) alertam que a análise de migrações de esportistas deve ser feita com cuidado, tendo em vista que em muitos casos elas estão ligadas a circunstâncias especiais, como é o caso de migrantes que deixam seus lugares de origem de maneira involuntária, seja por questões relacionadas a guerras, extrema pobreza e ou busca de oportunidades de subsistência por meio do esporte.

Grande parte dos estudos focados na migração de atletas privilegia o grupo migrantes voluntários, que fazem uso de sua qualidade técnica excepcional para negociar valores mais vantajosos de venda de sua força de trabalho. São atletas que, com relativa facilidade, recebem convites para mudar de país e, não raro, se tornam nômades ou “mercenários” do trabalho esportivo (MAGUIRE, 2007), para os quais a liberalização do esporte representa o melhor dos mundos (HOULIHAN, 2010). Há ainda trabalhos sobre a circulação de pioneiros de modalidades, os quais contribuem, em grande medida para uma popularização que, na maioria dos casos, também se expressa como projeto de ocidentalização do esporte pelo mundo. Nesse sentido, (ALMEIDA; RUBIO, 2018) pontuam que fazer um julgamento das migrações apenas como boas ou ruins pode levar a abordagens precipitados, bem como à desconsideração de aspectos afetivos e materiais determinantes à participação esportiva. Por isso mesmo é que a análise sobre as trajetórias de vida deve sempre tentar traduzir a complexidade histórica e cultural que as constituem, de modo que a carreira esportiva não seja o único aspecto definidor do sujeito que a protagoniza.

Tal como os sujeitos que o protagonizam, o fenômeno esportivo é complexo. De modo que mesmo a migração de esportistas que se encaixam na classificação residentes, pode suscitar controversas e debates, mostrando como este fenômeno sociocultural está longe de ser trivial ou se encerrar. A aproximação teórica à trajetória de Maurício Dumbo se dá à luz deste cenário histórico e teórico, o qual continuaremos a explorar em diálogo com a narrativa biográfica do atleta. Suas memórias reafirmam uma noção muito cara à teoria social e política do nosso tempo, segundo a qual as fronteiras entre o global e o local, o passado e o presente, tornam-se cada vez mais sinuosas, exigindo dos seus observadores não apenas novas categorias de análise, mas novas gramáticas que possibilitem repensar o nacional, o universal, as identidades culturais e os sujeitos históricos na sua dinâmica, totalidade e possibilidades.

ÁFRICA, BRASIL E MAURÍCIO TCHOPI DUMBO: entre laços de sangue, memória e de luta por emancipação

Eu cheguei em 2001, ganhei uma bolsa do governo angolano, para fazer um intercâmbio aqui no Brasil, ser alfabetizado, aprender o braile, que é uma escrita que o deficiente visual usa, ter a independência de morar sozinho, aprender a cozinhar e tal. Porque Angola passou por guerra civil por quatro décadas, então o ensino pra deficiente, em geral - físico, visual, surdo, e outros mais, ainda é bastante precário [...] Chegando aqui no Brasil, a gente passou um tempo em Minas Gerais, Juiz de Fora, numa associação. Infelizmente, não fomos muito bem recebidos. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020)

As migrações africanas contemporâneas coincidem com a dissolução (formal) do colonialismo europeu e a emergência de crises político-econômicas. Os conflitos nos territórios africanos que no passado recente reivindicaram sua independência têm origens distintas e especificidades regionais complexas. Se fosse possível condensar esses fenômenos num só, a melhor explicação estaria relacionada ao fato de que a tarefa de reconstrução nacional das ex-colônias deixou “em aberto” não só a questão sobre o tipo de sistema político que passaria a vigorar, mas quais frentes de luta locais assumiriam o poder do estado. A isto se deve acrescentar que o período das guerras independentistas africanas coincide com as disputas entre estados nacionais representantes dos sistemas capitalista e socialista. Disputas que influenciaram direta e decisivamente a forma como as frentes de libertação nacionais passaram a se organizar e disputar poder.

Maurício Tchopi Dumbo é herdeiro da luta de libertação nacional, mas também da guerra civil angolana. Herança que não se permite “desfrutar” porque, conforme o próprio atleta nos diz, está longe de representar riqueza e possibilidade de longevidade. Tanto é, que sua sobrevivência e vontade de ser e estar no mundo dependeram de uma difícil tomada de decisão que o levou a cruzar o Atlântico com apenas onze anos de idade. O contexto dessa história, contudo, não se permite resumir em algumas páginas, tampouco se trata aqui de imprimir um rigor metodológico “atento aos documentos”. Trata-se de um olhar sobre uma trajetória e itinerário que, em escalas maior ou menor, se repete e se inscreve entre os mais importantes fenômenos contemporâneos, cuja descrição em um artigo seria no mínimo pretensiosa. Por isso mesmo, restringimo-nos ao estabelecimento de um diálogo com sua narrativa biográfica, por meio da qual revisitamos o contexto histórico de sua jornada, bem como os aspectos sociais e geopolíticos que a atravessaram.

Se fosse possível destacar os principais aspectos definidores da trajetória em foco, destacaríamos a sua condição de mediação cultural, de construção de uma identidade como devir e de consciência acerca da estruturalidade e especificidade da questão racial. O hoje advogado, atleta paralímpico e “angoleiro”, compreende em profundidade a sua condição diaspórica, os desdobramentos políticos-diplomáticos do seu deslocamento e a natureza da sua identificação com o Brasil, a despeito das contradições próprias do país sul-americano. Tudo isso, conforme o narrador nos sugere, parece mais inteligível do que a guerra.

[...] a guerra, infelizmente só deixa destruição, coisas tristes. Uma situação engraçada: quando cheguei no Paraná, o time Athlético Paranaense [de futebol profissional masculino] foi campeão, em 2001. Soltaram muitos foguetes. Me lembro de estar brincando sozinho, jogando bola, e pensar que aquilo era guerra. Pensei ser um tiroteio, larguei a bola e fiquei procurando canto pra esconder [...] isso aconteceu com vários de nós [migrantes angolanos]; viam um foguete e se escondiam em baixo da cama, achando que era guerra [...] Infelizmente, guerra só traz tristeza, essas lembranças, mas é claro, ajuda. Uma coisa que me ajuda a valorizar pequenas coisas. Hoje em dia estou almoçando, tem arroz, feijão e ovo, pra mim já tá ótimo. Pra que já ficou dias e dias sem comer, na época em Angola, porque a gente vivia muito da plantação. O que a gente plantava, a gente comia. Quando chegava a guerra e tinha que largar tudo, largar as plantações de feijão, de banana, de mandioca e tudo, quando ia para outro lugar, tinha de recomeçar tudo de novo. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

Angola se inscreve entre os principais países africanos ao qual a política diplomática brasileira dirigiu o olhar, muito embora a relação Brasil-Portugal-África enfrentasse impasses geopolíticos decisivos. Estabelecido desde 1933, o regime ditatorial salazarista português (1933-1974) não só estendia sua influência aos países africanos de língua portuguesa, como fez com que o então presidente do Brasil, Jânio Quadros, declinasse de votação em favor da independência de Angola na ONU em 1961. À época, o estado brasileiro preferira assumir posição “neutra”, a despeito da emergência de revoltas que, anos mais tarde, consolidariam o protagonismo de organizações independentistas na luta contra a dominação colonial, bem como o fim do regime salazarista.

Indiscutivelmente, os anos de colonialismo e regime ditatorial português - tema cujo aprofundamento foge ao escopo desta reflexão - são os principais responsáveis por fazer de Angola o “elo mais fraco” da relação Brasil-Portugal-África. Condição que se agravou com o estouro de uma guerra civil ao fim da ditadura, tendo como principal razão as divergências no interior dos próprios movimentos independentistas. A Luta de Libertação Nacional e a Guerra Civil, segundo (AGOSTINHO, 2011), compreendem duas fases históricas distintas em que, na primeira, a questão nacional e do nacionalismo anti-colonial angolano ganha preponderância, ao passo que na segunda fase, os conflitos orbitarão em torno dos destinos da nação agora “independente”.

[...] guerra civil é, vamos dizer: a direita contra a esquerda, mas quem mais sofre é a população, que acaba ficando sem hospital. (comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

Os quase vinte anos de resistência à dominação portuguesa deram origem à três grandes frentes de luta independentista, a saber: a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e, mais tarde, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Sustentando divergências ideológicas irreconciliáveis, esses movimentos que outrora atuaram conjuntamente na luta pela independência nacional, estavam agora diante da tarefa de reerguer o país e reestabelecer o seu sistema político. A guerra se tornou, por isso mesmo, a expressão física de um impasse político que duraria de 1975 a 2002. Ocorre que esse conflito esteve longe de se limitar ao território angolano, uma vez que o novo sistema político da ex-colônia interessava a outros países, bem como às organizações internacionais. A força que esses movimentos independentistas foram adquirindo ao longo da guerra, sinalizava tanto para a consolidação de uma frente pan-africana de solidariedade anti-colonial quanto para a polarização ideológica que se seguiu após a II Guerra Mundial. Por isso mesmo é que a história da guerra civil angolana não pode ser contada ou compreendida sem a interferência das potências imperialistas da segunda metade do século XX, a saber, os Estados Unidos e a então União Soviética.

As tensões da Guerra Fria não só influenciaram como, em grande medida, condicionaram os conflitos africanos aos termos do dualismo capitalismo versus socialismo, de modo que os próprios regimes capitalista e socialista acabaram se fazendo representar por meio das frentes de libertação nacional (CORREIA, 2016). Cabe ressaltar que esses movimentos estão fundamentalmente enraizados à cultura e história de grupos étnicos locais, por tanto, a guerra civil angolana não se trata de uma simples extensão da Guerra Fria. Fundada em 1954, a FNLA tem por origem os Bacongos, grupo oriundo do norte de Angola, do qual derivará o Partido Democrático de Angola (PDA), um posicionamento mais à direita do espectro político e maior proximidade aos interesses estadunidenses, além da relação um tanto ambígua com governo brasileiro, posto que em plena ditadura brasileira é que se reconheceu a legitimidade de um partido angolano de orientação marxista, o MPLA. O MPLA também nasce em meados dos 1950, em Luanda, como resultado da unificação com o Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola (PLUA), grupos nacionalistas independentes, e Partido Comunista Angolano (PCA). Seu grupo étnico de origem se denomina Mbundo, cuja organização se dividiria com parte da pequena burguesia, de setores do operariado angolano e de correntes socialistas internacionais (AGOSTINHO, 2011). A UNITA, por fim, nasce da dissidência de membros da FNLA em meados de 1966. Sob forte influência dos EUA e África do Sul, se estabelece ao centro liberal do espectro político, e passa a liderar a oposição política e armada ao MPLA, com o qual protagonizaria, até 2002, a Guerra Civil. Nesse período, as relações diplomáticas entre Brasil e África Lusófona são intensificadas, rumo à criação de um Acordo de Parceria Estratégica, que se estenderia às mais diferentes áreas, tendo como ênfase o intercâmbio educacional, do qual participaria Maurício Dumbo.

[...] eu vim com um grupo de 24 angolanos. Uns tinham deficiência visual, outros, deficiência na perna, ou foi amputado por conta da guerra. [...] indiretamente, nós todos fomos afetados pela Guerra Civil. Eu acabei perdendo a visão por conta do sarampo [...] como angola estava em guerra civil, tinha muita mina terrestre e não se podia sair para procurar hospitais, médicos, enfermeiros. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

Fortemente influenciado pela conjuntura global, o Brasil dos anos 1950 se caracterizava em grande medida pela perseguição a uma identidade nacional (oficial) que refletisse não só a sua paisagem multicultural, mas o distinguisse dos nacionalismos raciais europeu e das políticas de segregação sul-africana e estadunidense. Nesse contexto, a África se tornará, ainda que sob noções bastante ambíguas, um lugar de reconciliação do Brasil com suas origens. Transcritas em jornal, as discussões que se seguiram em território brasileiro acerca da independência de Angola, Moçambique e Guiné Bissal, muitas das quais analisadas em artigo do afro-brasilianista Anani Dzidzienyo (1970), nos sugerem um Brasil “anti-colonialista” em pleno alvorecer de uma ditadura empresarial-militar. Posicionamento em parte amparado por representações oficiais de uma identidade nacional ancorada no mito da democracia racial, em parte amparada por movimentos político-culturais da sociedade civil que reforçavam laços históricos mais profundos entre Brasil e África (LARKIN NASCIMENTO, 2003; DOMINGUES, 2007)

Angola passou por guerra civil de quatro décadas. Então o ensino pra deficiente, em geral - físico, visual, surdo, e outros mais, ainda é bastante precário. Por isso que o governo fez esse intercâmbio de nos trazer para o Brasil, pra gente estudar, aprender a informática, o braile. Praticamente nos trouxe como refugiados de angola, nos dando uma chance de escapar da guerra. Eu nasci na guerra e, quando saí de Angola, a guerra ainda estava acontecendo. Saímos em 2001. Em 2002 a guerra civil cessou. Muitos até suspeitaram que era eu quem estava fazendo a guerra [risos]. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

A política diplomática que o Brasil passou a estabelecer com África consistiu tanto de identificações mais objetivas, relacionadas à língua e ao fato de o Brasil ser composto pela maior população negra fora de África, quanto de identificações ancoradas em dimensões e dilemas histórico-cultural mais relacionados acionados à questão do reconhecimento, da diferença cultural, da reparação e da restituição. Identificações que ficarão ainda mais patentes no pós-ditadura e sobretudo a partir da ascensão do Partido dos Trabalhadores ao poder (FERNANDES, 1989; SCHWARCZ, 1996; LARKIN NASCIMENTO, 2003; SILVA, 2019)

[...] cheguei em Juiz de Fora com onze anos. A gente morava numa instituição onde tinha vários deficientes visuais brasileiros. A maioria era já de bastante idade, 40, 50 anos. Nós éramos os únicos jovens. Então o presidente, na época da associação, tinha preconceito de cor, vamos dizer assim, não contra cego, porque a associação era para cegos. Então, por conta disso, ele chegou até a bater em alguns de nós, como eu falei, principalmente nas meninas. Ele as colocava de castigo, ajoelhadas no milho. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

A diáspora africana no Brasil contemporâneo, por isso mesmo, não pode ser compreendida como mera “celebração”, tampouco como um processo histórico que depende dos atores individuais. Trata-se, pelo contrário, de arranjos geopolíticos que se constituem ao longo de anos e que tem por protagonismo as aspirações coletivas de luta que em determinado momento ganharão representatividade político-institucional. O papel dos indivíduos nesse processo não é menor. Conforme Dumbo demonstra, a legitimidade política da sua presença no Brasil é algo que se constrói horizontalmente, na dinâmica das relações interinstitucionais que o sujeito estabelece. Basta lembrar que o esporte esteve longe de ser o fator da sua migração, embora compreenda um dos itinerários de sua trajetória.

Trata-se ainda de um movimento humano que não apenas constrange a compreensão corrente do que vem a ser “o nacional”, como torna ainda mais complexa, para não dizer inconclusiva, a discussão sobre o que é e como é ser o outro num país constituído de outros, muitos dos quais considerando-se “mais brasileiros” que aqueles. Conforme adverte (DZIDZIENYO, 1970, p. 80), “enquanto os portugueses no Brasil podem relacionar-se com a mãe pátria, ter clubes e sociedades que lhe asseguram uma ligação sempre presente, os descendentes de africanos não possuem tais meios”.

Todas essas questões interpelaram, como ainda interpelam, a trajetória e identidade de um sujeito que, embora assuma a condição de um duplo, “angoleiro” de formação, também tem muito a dizer sobre os laços que o mantêm conectado à Angola, sobre a dificuldades de habitar um país que, por vezes, se por vezes revela um “não lugar”, impondo-lhe a condição de sujeito entre mundos, entre fronteiras, entre estados nacionais (HALL, 2003).

Em 2009 eu recebi o primeiro convite para jogar na seleção, mas como eu era menor de idade ainda - acho que já era até maior de idade - não ficava com a minha documentação. O consulado angolano a retia, com receio da gente se naturalizar e eles nos perderem. Até que chegou em 2014, quando eu vim jogar pelo time aqui do Rio Grande do Sul, onde estou morando agora. Eles me abraçaram, correram atrás da documentação, eu também. Estava estudando direito, então já estava entendendo mais. Já era maior de idade, que eu já tinha meus direitos de ficar com os meus documentos. Então eles abraçaram a minha causa, custearam uma advogada, tudo saiu por conta da Agafuc [Associação Gaúcha de Futebol de Cegos]. Também comecei a estagiar no tribunal de justiça do Paraná [...] Quando comecei a estudar direito eu vi que principalmente quem vem de país que fala a mesma língua, que é a nossa língua portuguesa, tinha, vamos dizer, uma “bonificação”. Isso também ajudou a facilitar. No início de 2016 saiu a minha naturalização, e logo em seguida já fui chamado a fazer parte da seleção. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

Ater-se à fração esportiva de sua experiência diaspórica, longe de representar uma apologia ao esporte, é buscar identificar o grau de importância e influência que essa agenda exerceu em sua trajetória. A sociabilidade esportiva, no caso de Dumbo, cumpriu papel decisivo no processo de legitimação da sua cidadania por se tratar de um expediente que tem no encontro e na construção de vínculos uma de suas mais importantes características. Além de compreender uma espécie de “anteparo” contra os efeitos deletérios de uma sociabilidade metropolitana isenta de política, o esporte também se constitui espaço de representação do nacional. Obviamente, a conquista da condição de representante esportivo não isenta Dumbo das formas mais cotidianas de racismo. Ele continua, como qualquer outra pessoa do seu grupo social, conforme descreveria (DU BOIS, 1999, p. 6), sujeito a um estado permanente de dupla consciência, “dois pensamentos, dois embates irreconciliáveis, dois ideais conflitantes, num corpo negro, impedido, apenas por um obstinado esforço, de bipartir-se”. Quando fala sobre si, das suas experiências, fala de uma África contemporânea cuja extensão se estabelece num Atlântico que não das rotas marítimas, mas da produção de uma concepção de identidades culturais cada vez fluidas, inacabadas, ao mesmo tempo que suficientemente fortes para contestar e subverter os discursos racista, os nacionalismos absolutistas. Dumbo ensina, em outras palavras, que o século XXI não representa um “tempo de abertura” e sim a inviabilidade cada vez mais patente das fronteiras nacionais rígidas, a construção de saídas a partir das fendas que se abrem por meio da disputa política. Não se trata com isso de exaltar a Guerra ou a política diplomática brasileira em relação à África, mas de reconhecer que esses processos, a despeito de suas incongruências, ambiguidades e equívocos, fazem parte de um mesmo movimento planetário de contestação dos particularismos nacionais e étnicos que se expressa nos corpos e nos encontros (GILROY, 2001).

A diáspora de Dumbo pode ser compreendida, num primeiro momento, como expressão ou “efeito” de uma conjuntura histórica que deu cabo da própria ressignificação do substantivo Negro e do papel de África no mundo (MBEMBE, 2017). Trata-se também da forja de uma dupla consciência sobre si e sobre o estado das coisas. As referências dessa dupla consciência se anunciam ao longo de toda narrativa biográfica do atleta. Dumbo não reivindica uma “dupla nacionalidade”. Ele a celebra no neologismo “angoleiro” e na descrição do acolhimento que recebeu por parte da Agafuc, ao mesmo tempo que reconhece do racismo brasileiro na sua forma sistêmica e mais peculiar, quando entende que este racismo se encontra nas pequenas coisas

[...] às vezes, até sem querer a pessoa é preconceituosa [...] às vezes o cara vai procurar um emprego e coloca [no currículo] que mora no Capão Redondo. Então o chefe que vê esse bairro já vai ter preconceito, do bairro, sem mesmo conhecer [o candidato], se é negro ou branco. Mas é claro que ele, vendo “Capão Redondo”, já vai pensar que deve ser alguém menos favorecido ou, provavelmente, negro. Então, assim, eu acho que o preconceito surgiu por conta de tudo isso, de antigamente, pela escravidão, e hoje em dia ainda perdura porque a gente [negros] está aos poucos conquistando o nosso espaço [...] acho que é uma questão de oportunidade, de abrir as portas, vamos dizer assim. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

MAURÍCIO DUMBO: “ANGOLEIRO”, GRAÇAS AO ESPORTE

A narrativa biográfica de de Maurício Dumbo foi desencadeada mediante um pedido: “nos conte sua história de vida”. Momento em que o atleta, já nas primeiras palavras, nos apresenta uma identidade fundida, tal como define (HOULIHAN, 2010), quando diz

“Sou angolano. Hoje em dia naturalizado brasileiro também; até brinco que eu sou angoleiro, né, uma mistura de angolano com brasileiro, já estou aqui no Brasil há 19 anos” (comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

No Brasil, o primeiro destino foi a cidade de Juiz de Fora, no interior de Minas Gerais, onde morou em uma instituição, junto a outros angolanos atendidos pelo mesmo programa. A adaptação, porém, foi problemática, conforme já demonstrado. Distantes do país de nascimento, os angolanos radicados no Brasil conviviam com grandes mudanças, mas também com pequenas adaptações que geravam conflitos. Os hábitos alimentares, por exemplo. Em Angola, não há o hábito de consumo de café pela manhã, mas sim de chá. A dificuldade em adaptação com mudanças aparentemente simples era um dos motivos que levava os imigrantes a serem castigados.

Após um dos atendidos pelo intercâmbio fazer uma denúncia, o grupo foi levado para o Instituto Paranaense de Cegos, em Curitiba, no Paraná. Os traumas da guerra civil e do mau acolhimento na primeira instituição foram superados aos poucos.

Fomos bastante acarinhados, fomos muito bem acolhidos. Lá é onde começou a nossa educação. Eles tiveram a paciência de se aproximar da gente, como a gente tava saindo de uma guerra civil em Angola, fomos numa instituição que não fomos bem recebidos, então a gente ficou numa defensiva. As pessoas vinham, como o povo brasileiro é muito carismático, as pessoas vinham, queriam abraçar, dar colo, então. Só que como a gente passou por esse trauma, de guerra e dessa associação lá em Minas Gerais, nós ficávamos muito receosos, muito contraídos, a se soltar. Mas com o passar do tempo o povo paranaense, curitibano, foram nos acolhendo, a gente foi se entregando a esse carinho e então foi ali que começou toda a nossa história, educação. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

A educação citada por Dumbo passa pelos aspectos formais (ensino do Braile, conclusão dos ensinos fundamental, médio e superior em direito), mas também por aspectos informais. Foi no Instituto Curitibano que o futebol de 5 passou a fazer parte da vida de Dumbo, como ferramenta de socialização com os outros internos. (VAN BAKEL; SALZBRENNER, 2019) apontam que na América do Sul e Europa o modelo que combina o esporte ao sistema educacional não é comum. Todavia, quando nos referimos ao paradesporto, é possível perceber tal aproximação. Ao investigar os elementos de socialização de pessoas com deficiência no Brasil, reitera que o esporte é uma ferramenta relevante

Eles “viviam” o futebol juntos, jogando nos intervalos ou em qualquer tempo ocioso que tinham no instituto. União potencializadora da criatividade, na invenção de jogos e brincadeiras e adaptação de materiais e regras. Parceiros também na dedicação aos treinos, na influência para a iniciação na equipe do instituto e no incentivo seletivo para a continuidade da prática aos que se apresentavam mais hábeis. (Morato et al., 2011 p.55).

O que começou como um processo de integração aos companheiros ganhou ares de seriedade, devido à qualidade técnica de Dumbo. Em 2009 ele recebeu o primeiro convite para treinar com a seleção brasileira, mas teve de declinar por ser angolano. Como integrava um programa oficial do governo de Angola, Dumbo não ficava com os próprios documentos, e não sabia detalhes sobre a possibilidade de iniciar o processo de naturalização. Essa realidade só mudou quando ele, estudante de direito, começou a compreender melhor os processos legais brasileiros. Além disso, Dumbo passou por outra mudança de cidade: foi para Porto Alegre, contratado para jogar pela equipe da Associação Gaúcha de Futebol para Cegos (AGAFUC) que deu todo o suporte necessário.

Eu também estava estudando direito, então já estava a entender mais, que já era maior de idade, que eu já tinha meus direitos de ficar com os meus documentos. Então eles abraçaram a minha causa, custearam uma advogada, tudo saiu por conta da Agafuc. Também comecei a estagiar no tribunal de justiça do Paraná, meus colegas também me deram uma grande orientação, uma grande força. Porque, como eu era desentendido, pra mim era muito, era praticamente impossível se naturalizar, pensava que tinha de ter muito dinheiro e tal. Mas daí quando eu comecei a estudar direito eu vi que principalmente quem vem de país que fala a mesma língua, que é a nossa língua portuguesa, que tinha, vamos dizer tinha uma bonificação, uns bônus vamos dizer assim, então isso também ajudou a facilitar. No início de 2016 saiu a minha naturalização, e logo em seguida já fui chamado pra fazer parte da seleção. (Comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

Vale ressaltar que a mudança de Curitiba para Porto Alegre está inserida dentro de um movimento comum no esporte brasileiro, que é a migração interna de atletas para cidades que abrigam equipes de referência em determinadas modalidades, fenômeno detectado por (RUBIO, 2017).

Com a documentação brasileira em mãos, Dumbo dependia de suas habilidades técnicas para chegar à seleção brasileira, o que não demorou a ocorrer. Todavia, o ciclo paralímpico já estava quase no final e havia uma base montada, com jogadores que atuavam juntos há muito tempo. Ele foi convocado, participou das fases de treinamento, mas foi cortado na convocação final. Apesar disso, ele manteve a rotina de treinos. Com a lesão de dois companheiros, foi convocado às vésperas dos Jogos Paralímpicos do Rio para compor a equipe. Dias depois, tornou-se campeão paralímpico pelo Brasil.

Após os Jogos, Dumbo recebeu um presente. O desembargador Vicente Misurelli, que havia o auxiliado durante o processo de naturalização, custeou uma viagem para Angola. Quinze anos depois, Dumbo voltou ao local de nascimento pela primeira vez, onde reencontrou a mãe e os irmãos - o pai havia falecido.

“Angoleiro”, Dumbo é nome constante das convocações da seleção brasileira de futebol de 5, e ainda pode participar de outras edições paralímpicas pelo Brasil. Mais que conquistas individuais, ele vê na possibilidade das conquistas uma forma de retribuição ao país que o adotou.

Eu acho que se o Brasil me deu tanta coisa, que hoje em dia eu procuro até fazer palestra nas escolas, contando a minha história, que é exatamente pra incentivar a molecada, os adolescentes, até nas empresas mesmo, que pra tudo tem jeito. É só a gente querer que tudo tem jeito. (comunicação pessoal, Maurício Dumbo, 2020).

CONSIDERAÇÕES

A abertura à escuta para a narrativa biográfica de Maurício Dumbo revela o processo de construção de identidade de um brasileiro, mas que também manteve conexões com seu país de origem, tendo em vista que todos os seus familiares continuaram vivendo em Angola. Apesar de complicada no início, a adaptação no Brasil foi realizada com o apoio de outros angolanos, que migraram anteriormente. (GOLGHER, 2004) indica que a existência de uma rede de apoio, com outros indivíduos que vivenciam um fluxo migratório semelhante, é essencial para o processo de adaptação de um migrante seja bem sucedido.

Conforme já elencado, são vários os estudos sobre migração esportiva, principalmente observados sob a ótica do profissionalismo e dos ganhos financeiros possíveis para atletas e outros agentes do mercado de trabalho relacionado ao esporte (os mercenários ou nômades, citados por Maguire). O exemplo de Dumbo, entretanto, mostra que há possibilidades de se buscar outras explicações e que, mesmo em migrações que inicialmente não estavam relacionadas ao esporte (a iniciação esportiva do jogador só ocorreu no Brasil), analisar a trajetória de atletas que passaram por um processo de migração internacional é importante, pois elucida as conexões socioculturais construídas pelo fenômeno esportivo. Além da lógica da globalização, calcada em questões econômicas, o esporte abre espaço para uma leitura transnacional, tendo em vista que as consequências das migrações também ocorrem no campo social.

Ressalte-se ainda que, apesar de crescente nos últimos anos, o número de estudos sobre o paradesporto ainda é baixo. É preciso ainda observar o esporte para pessoas com deficiência como um campo de várias conexões sociais, não limitando-o ao processo de inclusão das pessoas com deficiência, sem é claro, tirar o mérito deste viés. O esporte teve um papel fundamental no processo de socialização de Dumbo, e também foi um dos motivadores para que ele buscasse a naturalização brasileira.A trajetória do campeão paralímpico alerta também sobre as conexões entre Brasil e África, constituídas no seio de debates relacionados à independência e emancipação de ex-colônias. Processo no qual se inscreve o Brasil, salvo as distinções temporais, a relação histórica com Portugal e o papel do mito da democracia enquanto elemento orientador das primeiras políticas diplomáticas. A partir da redemocratização, as aproximações entre Brasil e Angola vão ser não só ampliadas, como qualificadas, resultando em acordo bilaterais para o desenvolvimento e intercâmbios que possibilitarão histórias como as de Maurício Dumbo. Além dos temas da dupla consciência e formação da identidade na diáspora afro-lusitana contemporânea, entendemos que o estudo de sua trajetória e do fenômeno da diáspora afro-lusitana no esporte, servem de referência ao desenvolvimento de políticas diplomáticas que concebam o esporte como campo do estabelecimento de relações cada vez mais ancoradas à perspectiva do reconhecimento, reparação e emancipação dos povos

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AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à equipe da Associação Gaúcha de Futebol de Cegos pelo apoio oferecido para a produção desse texto

FINANCIAMENTO Este artigo contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Este artigo faz parte da pesquisa Memórias Olímpicas por Atletas Olímpicos Brasileiros, aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa no processo 0052.0.342.000-09

LICENÇA DE USO Os autores cedem à Motrivivência - ISSN 2175-8042 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution Non-Comercial ShareAlike (CC BY-NC SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar com a mesma licença

PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

EDITOR DE SEÇÃO Juliana Silveira

REVISÃO DO MANUSCRITO E METADADOS João Caetano Prates Rocha; Keli Barreto

Recebido: 23 de Fevereiro de 2021; Aceito: 03 de Maio de 2021

jornalismo_william@yahoo.com.br

neilton.ferreirajunior@gmail.com

katrubio@usp.br

CONFLITO DE INTERESSES

Não há conflito de interesses

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