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Motrivivência

On-line version ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.33 no.64 Florianópolis  2021  Epub Oct 25, 2021

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021.e83265 

Artigo Original

Tradição e identidade: o Ticumbi de Itaúnas em cena

Tradition and identity: the Ticumbi of Itaúnas on stage

Tradición y identidad: el Ticumbi de Itaúnas en escena

Milainy Ludmila Santos Goulart1 
http://orcid.org/0000-0002-2796-2774

Leonardo Graffius Damasceno1 
http://orcid.org/0000-0003-4614-0570

Otávio Tavares1 
http://orcid.org/0000-0002-5893-4311

1Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil


RESUMO

O objetivo do estudo é apresentar uma narrativa interpretativa do Ticumbi de Itaúnas, evidenciando a sua estrutura e seus os significados. Para tal, realizamos um trabalho de campo tendo como método de coleta de dados a observação direta combinada com entrevistas semi-estruturadas em ocasiões da Festa de São Benedito e São Sebastião na Vila de Itaúnas/ES, nos meses de janeiro dos anos de 2018 a 2020. Compreendemos que o Ticumbi de Itaúnas é uma tradição que tem sido vivenciada e materializada dentro de um contexto comunitário e festivo que confere identidade a comunidades remanescentes quilombolas, apresentando movimentos que levam a continuidades e descontinuidades dentro da própria tradição.

PALAVRAS-CHAVE: Tradição; Identidade; Comunidade remanescente quilombola; Ticumbi de itaúnas

ABSTRACT

The aim of the study is to present an interpretive narrative of the Ticumbi of Itaúnas, showing its structure and meanings. To this end, we carried out fieldwork using direct observation as a method of data collection combined with semi-structured interviews during the Festa de São Benedito and São Sebastião in Vila de Itaúnas/ES, from January 2018 to 2020. We understand that the Ticumbi of Itaúnas is a tradition that has been experienced and materialized within a community and festive context that gives identity to remnant quilombola communities, presenting movements that lead to continuities and discontinuities within the tradition itself.

KEYWORDS: Tradition; Identity; Remnant quilombola community; Ticumbi of itaúnas

RESUMEN

El objetivo de la investigación es presentar una narrativa interpretativa del Ticumbi de Itaúnas, mostrando su estructura y significados. Para ello, realizamos un trabajo de campo utilizando la observación directa como método de recolección de datos combinada con entrevistas semiestructuradas durante la Festa de São Benedito y São Sebastião en Vila de Itaúnas / ES, de enero de 2018 a 2020. Entendemos que el Ticumbi de Itaúnas es una tradición que se ha vivido y materializado dentro de un contexto comunitario y festivo que da identidad a las comunidades quilombolas remanentes, presentando movimientos que conducen a continuidades y discontinuidades dentro de la propia tradición.

PALABRAS-CLAVE: Tradición; Identidad; Comunidad quilombola remanente; Ticumbi de Itaúnas

INTRODUÇÃO

Todos os anos no auge do verão acontece na Vila de Itaúnas, município de Conceição da Barra (ES), a tradicional Festa de São Benedito e São Sebastião. No final de semana próximo ao dia 20 de janeiro - dia de São Sebastião - a vila localizada há aproximadamente 265 km da capital do estado, Vitória, recebe vários grupos de manifestações populares que apresentam suas danças, cantorias, brincadeiras e dramatizações ao som de instrumentos de percussão.

Conhecidas como Alardo, Jongo, Reis de Boi e Ticumbi ou Baile de Congos, essas práticas são parte do patrimônio cultural imaterial1 de comunidades remanescentes quilombolas localizadas próximas à Vila. Segundo Maciel (2016, p. 75) “em consequência da concentração negra promovida pela escravidão, o Espírito Santo tem algumas regiões onde os traços da herança cultural africana afloram e expõem-se com mais definição”. Uma dessas regiões é conhecida como Sapê do Norte e compreende os municípios de Conceição da Barra e São Mateus que abrigam “[…] dezenas de comunidades, centenas de famílias unidas em torno de tradições, memórias, histórias e lutas ancestrais” (SCHIFFLER, 2017, p. 77).

Ao frequentarmos as Festas de São Benedito e São Sebastião nos meses de janeiro do ano de 2018 a 2020, notamos a participação de vários grupos de manifestações populares daquela região. Valendo-nos dos apontamentos de Maciel (2016) e Schiffler (2017) sabemos que essas manifestações populares trazem em si traços da herança cultural das comunidades que ali residem e podem assim ser interpretadas como tradições que conferem identidade a esses povos.

Nesse passo, Balandier (1997, p.37) discorre que a tradição é

[…] uma memória que o passado alimentou; estoca experiências (e da experiência), conserva modelos de ação, guarda saber, informação. Nesse sentido, é programável, é o meio de dar forma e sentido ao presente, de trazer resposta concreta aos problemas que este impõe.

Assim, a tradição se faz presente no processo de construção da identidade dos sujeitos e “[...] pode ser vista como o texto constitutivo de uma sociedade, texto segundo o qual o presente se encontra interpretado e tratado” (BALANDIER, 1997, p. 39).

Desta forma, a tradição está

[…] dissociada da mera conformidade, da simples continuidade por invariância ou reprodução estrita das formas sociais e culturais; a tradição só age enquanto portadora de um dinamismo que lhe permite adaptação, dando-lhe a capacidade tratar o acontecimento e de explorar algumas das potencialidades alternativas (BALANDIER, 1997, p. 38).

Entendemos, então, as tradições como elementos constitutivos da identidade das comunidades remanescentes quilombolas que trazem em si elementos do passado e do presente em diálogos constantes. Esses diálogos produzem movimentos de continuidades e de descontinuidades das formas sociais e culturais, caracterizando tais práticas pelo seu dinamismo e variância dentro dos seus contextos.

Assim, dirigimos nosso olhar para a manifestação popular conhecida como Ticumbi de Itaúnas como objeto de descrição e análise de identidade quilombola. Tal escolha se deu pela proeminência daquela manifestação no cenário cultural da região do Sapê do Norte.

Deste modo, a questão central deste trabalho reside na investigação da configuração da identidade da comunidade remanescente quilombola a partir da manifestação da tradição do Ticumbi de Itaúnas. Neste contexto, o objetivo desse artigo é apresentar uma narrativa interpretativa do Ticumbi de Itaúnas, evidenciando sua estrutura e seus significados.

O estudo de campo foi realizado tendo como método de coleta de dados a observação direta combinada com entrevistas semi-estruturadas, segundo os parâmetros de Gil (2008) e Jaccoud e Mayer (2008).

O trabalho de campo foi realizado nos meses de janeiro no período em que é realizada a Festa de São Benedito e São Sebastião na Vila de Itaúnas, nos anos de 2018 a 2020. Nesse sentido, estivemos na vila por três temporadas e também nas comunidades remanescentes quilombolas ao entorno, sendo elas: Linharinho e Angelim I. A seleção dos locais de observação teve como critério a busca por contextos que apresentassem fenômenos significativos relacionados ao nosso objetivo e ao objeto de pesquisa. Assim, as observações e entrevistas aconteceram na Vila de Itaúnas nas ocasiões das festas, percebendo que, os próprios sujeitos das comunidades remanescentes também estavam nas festividades. De forma direta, esse texto apresenta os dados de campo do ano de 2018 e os dados e experiências dos anos de 2019 e 2020 contribuíram para uma compreensão mais ampla do objeto investigado. Durante o trabalho de campo também identificamos informantes-chave que por meio de entrevistas e conversas informais nos possibilitaram a construção de uma ‘rede de sujeitos’, nos termos de Jaccoud e Mayer (2008).

A VILA, A FESTA E O TICUMBI DE ITAÚNAS

A Vila de Itaúnas localiza-se a aproximadamente 27 km da sede do município de Conceição da Barra. Afastada do centro da cidade e banhada pelo Rio Itaúnas, além da presença marcante das dunas e do mar, a vila é composta por moradores que se relacionam de alguma forma com as atividades de pesca e turismo da região.

Nos meses em que estivemos presentes na vila durante as festividades observamos aproximadamente 20 grupos de manifestações populares participantes da festa, entre grupos de Alardo, Reis de Boi, Jongo e Ticumbi, além de grupos de Congo, Pastorinhas e Roda de Capoeira.

Nesse sentido, podemos caracterizar a Vila de Itaúnas como um território de ocupação interacional nos termos de Leite (1991, p. 42-43). Segundo esta autora, tais territórios

Têm como características principais o fato de serem locais de encontro e troca, nem sempre fixos, permeados por códigos simbólicos de pertencimento, que os diferenciam dos demais. Não se baseiam no parentesco consanguíneo mas não o exclui. Acontecem a partir de um encontro marcado, com hora, local e data. Instituem certos tipos de prática: o comércio em mercados, praças e esquinas; o lazer em bares, galerias, praças, esquinas e clubes; a religião em igrejas, centros e terreiros; a política, em livrarias especializadas, reuniões em locais diversos.

O território de ocupação interacional tem como característica principal a interação entre sujeitos que podem estar ligados, ou não, por relações de parentesco. Em tempo e espaço específicos, esses sujeitos se reúnem para encontros e trocas de determinados elementos que podem abranger práticas de comércio, lazer, religião e política.

Dessa forma, a Festa de São Benedito e São Sebastião que acontece na Vila de Itaúnas caracteriza esse tempo e espaço de um território de ocupação interacional, no qual os sujeitos envolvidos podem usufruir de uma experiência compartilhada a partir do universo simbólico que envolvem das tradições que lá acontecem.

A ocupação interacional, nas palavras de Maria Amélia, integrante do Jongo de Santana, ganha significado e concretude na experiência compartilhada como uma “festança maravilhosa”. Segundo a jongueira, “[…] é muito bonito, quando a gente se junta, o grupo todo, nós somos uma irmandade só. Não tem separação”.

Dentre as diversas manifestações populares presentes na festa, nesse trabalho queremos dar visibilidade a tradição do Ticumbi, também conhecido como o Baile de Congos de São Benedito. Como justificam os entrevistados, o Ticumbi é

[…] muito importante, ele foi criado aqui na nossa região. A gente tem muito valor pelo Ticumbi. […] Na verdade, ele que representa Itaúnas. É uma história só. Então, não tem como desligar Itaúnas do Ticumbi. Se você vim até Itaúnas e não tiver o Ticumbi, você não tem a festa […]. Se não tiver Ticumbi em Itaúnas, não apresenta Itaúnas, nem Itaúnas apresenta sem o Ticumbi. Isso não pode sair nunca, não tem jeito de tirar. Tem Reis de Boi, tem Roda de Jongo, de Capoeira, tem tudo, mas o foco é o Ticumbi (Mestre Caboclinho, 77 anos, morador da Vila de Itaúnas e mestre do Ticumbi Santa Clara, 20/01/2018).

É muito daqui, representa, né. Você não pode contar a história de Itaúnas sem falar do Ticumbi. Não tem como. Por exemplo, eu chegar para uma pessoa e contar a história de Itaúnas e não falar do Ticumbi? Porque o Ticumbi é como se fosse a história de Itaúnas, entendeu?! Eu considero como se fosse a própria história de Itaúnas (Lucas, 27 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

A história da vila, tal como a sua representatividade está diretamente relacionada a tradição do Ticumbi de Itaúnas. Como o próprio nome atribui, há explícito um sentido de pertencimento da manifestação popular à vila: Ticumbi de Itaúnas. Nesse sentido, a tradição permeia a identidade da vila, da festa e dos sujeitos envolvidos pois, não é possível “desligar Itaúnas do Ticumbi” e, se “não tiver o Ticumbi, [...] não tem a festa”.

Esse entrelaçamento identificado entre identidade e território é semelhante ao encontrado em outros estudos (LIMA, 2016; CHATZKIDI, 2018; FELIPE; PELEGRINI, 2018), o que indica o caráter construído da identidade quilombola, indo bastante além de uma etnicidade biológica apenas.

No Ticumbi, o louvor a São Benedito e São Sebastião, santos que dão nome a festa em Itaúnas, se justificam pelo primeiro ser o santo de devoção dos grupos de Ticumbi da região, e o segundo, o santo padroeiro da Vila de Itaúnas.

Assim, o Ticumbi na essência mesmo, ele é devoto de São Benedito, mas como aqui em Itaúnas o padroeiro é São Sebastião, tem a devoção a São Sebastião também, né. Tanto que o dia de São Benedito aqui pra nós, é dia 19 de janeiro, um dia antes do dia de São Sebastião, que é 20 de janeiro. Porque o dia de São Benedito mesmo é dia 05 de outubro, mas aqui a gente comemora dia 19 pra fazer uma festa só (Lucas, 27 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

Como sabemos, a produção de identidades está mais relacionada a processos políticos que definem o significado e o lugar dos atributos possuídos pelos indivíduos e grupos do que por uma essência definida por características naturais. Assim, não é surpreendente esta vinculação entre identidade e religião como já demonstraram estudos como os de Oliveira (2016) e Chatzkidi (2018). A investigação de Chatzkidi (2018), por exemplo, destaca a estreita relação identitária da Festa de Santa Teresa com a comunidade quilombola de Itamatatiua no Maranhão. O festejo, que conta com a tradição do Batuque, faz com que o território seja caracterizado como “terras de Santa Teresa” e os sujeitos locais como “filhos da Santa”, fazendo com que a […] “relação com a Santa Teresa seja um aspecto intrínseco da identidade social e individual” (CHATZKIDI, 2018, p. 31).

Na esteira desta relação entre identidade e território, Lucas, um dos membros do grupo, acredita que a festa “[...] tem uns 200 anos pra lá. Só o Ticumbi do Bongado, que é o grupo mais antigo da vila, que surgiu lá em cima nos quilombos, dizem que ele tem uns 300 anos de existência”.

De fato, segundo Oliveira (2016, p. 216),

O baile dos congos para São Benedito, mais conhecido como ticumbi, é uma referência cultural ou celebração festiva afro-brasileira específica do Espírito Santo, embora mantenha relações e algumas semelhanças com outros bens culturais afro-brasileiros, como congos, congadas, cacumbis e cucumbis. Trata-se de uma dança que acontece, segundo a memória e a genealogia de seus integrantes, há mais de 200 anos na região norte do Espírito Santo. O baile é definido pelos dançantes como uma tradição cultural proveniente da África e que os africanos e seus descendentes teriam recriado nas senzalas, quilombos e, posteriormente, nas comunidades negras da vila de Itaúnas e da cidade de Conceição da Barra.

Segundo o autor, os próprios “dançantes” o definem como uma “tradição cultural”, tal como apontado em estudos de caráter semelhante por Maciel (2016) e Schiffler (2017). Nesse sentido, para Oliveira (2016), a manifestação foi “recriada” nas senzalas e quilombos e hoje aflora na Vila de Itaúnas e nas comunidades remanescentes quilombolas de Conceição da Barra. Deste modo, nos passos de Balandier (1997, p. 37) é possível interpretar que

Como se diz comumente, a tradição gera continuidade; exprime a difícil relação com o passado; impõe uma conformidade resultante de um código do sentido, e portanto de valores que regem as condutas individuais e coletivas, transmitidos de geração em geração. A tradição é uma herança que define e mantém uma ordem ao apagar a ação transformadora do tempo, só retendo os momentos fundadores dos quais tira a sua legitimidade e sua força.

Assim, a tradição do Ticumbi, mesmo passando por movimentos de recriação, apresenta uma continuidade em relação ao passado que resulta na manutenção de valores, sentidos e significados que orientam as práticas sociais dentro do contexto em que está inserida.

Por fim, é importante frisar que existem quatro grupos de ticumbis na região. O Ticumbi do Bongado, é o mais antigo da vila. Há também o Ticumbi de Conceição da Barra e o Ticumbi de Santa Clara, sendo este último por vezes referenciado como Ticumbi do Angelim, e, por fim, o Ticumbi de Itaúnas, foco central de atenção deste trabalho.

O TICUMBI DE ITAÚNAS: CENA I

No dia 18 de janeiro de 2018, iniciava em Itaúnas um dos atos mais significativos da Festa de São Benedito e São Sebastião: a fincada do mastro de São Sebastião, marcada para o fim da tarde daquela quinta-feira. A fincada do mastro acontece no centro da Vila de Itaúnas, onde se encontra a Igreja de São Sebastião. Localizada em uma grande praça quadrada no estilo das vilas antigas da região que vai do norte do Espírito Santo ao sul da Bahia, a praça é basicamente uma grande área descampada, em torno da qual está instalada a igreja e o casario principal da vila. Há ainda na praça alguns bancos e um velho tronco deitado, grande e oco, colocado ali em algum momento e que devido à sua imponência tornou-se um marco representativo do local.

Por ocasião da festa, havia também duas tendas enfeitadas com fitas coloridas em frente à igreja. Mais à frente havia postes de madeiras fincados com cartazes de grupos de manifestações populares da região, ligados um aos outros também por fitas de TNT coloridas e lâmpadas pequenas de várias cores. Outras tendas espalhadas pela praça serviam para abrigar um pequeno palco e barracas para exposições fotográficas relacionadas as festas anteriores e para as vendas de alimentos e artesanatos dos locais.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 1 Igreja de São Sebastião localizada na praça central da Vila de Itaúnas 

Durante aquela tarde, foi possível observar várias crianças que corriam e brincavam pela praça citando os nomes das pessoas que estavam estampadas nos cartazes. Tal fato demonstra aspectos relacionais entre as crianças da região e os brincantes2 das manifestações populares e pode ser interpretado a partir das noções de carisma (GEERTZ, 1997) e imitação prestigiosa (MAUSS, 2003).

Geertz (1997, p.182) explica que o carisma pode ser entendido como “uma certa qualidade que destaca o indivíduo, colocando-o em uma relação privilegiada com as origens do ser”. Tal qualidade diferencia o sujeito e o coloca em uma posição de destaque, fazendo com que ele seja reconhecido como uma autoridade dentro de determinado contexto. Nesse sentido, o sujeito carismático das manifestações populares, são aqueles que estão perto dos centros de poder que dão vida a sociedade. A esses sujeitos é atribuído um caráter simbólico de dominação que os levam a serem lembrados por outros pelo status social historicamente construído.

O caráter simbólico de dominação dos sujeitos relaciona-se com a “[…] noção de prestígio da pessoa que faz o ato ordenado, autorizado, provado, em relação ao indivíduo imitador, que se verifica em todo o elemento social (MAUSS, 2003, p. 405). Segundo Mauss (2003) as crianças brincam de imitar fatos ou acontecimentos do seu contexto a partir da imitação prestigiosa, que consiste em realizar hábitos, crenças, ou práticas que têm prestígio em determinada cultura.

A criança, como o adulto, imita atos bem-sucedidos que ela viu ser efetuados por pessoas nas quais confia e que têm autoridade sobre ela. O ato se impõe de fora, do alto, mesmo um ato exclusivamente biológico, relativo ao corpo. O indivíduo assimila a série dos movimentos de que é composto o ato executado diante dele ou com ele pelos outros (MAUSS, 2003, p. 405).

Desta forma, as crianças que brincavam e citavam os nomes dos sujeitos estampados nos cartazes tendem a imitá-los em suas práticas pelo prestígio que eles têm na Vila de Itaúnas e em seus grupos. Como lembra Lucas, “[…] eu desde criança, desde pequeninho, eu ficava admirado, né, ‘ah, eu tenho que entrar no Ticumbi um dia’”, relata o brincante.

No início da noite, porém com boa luz do sol devido ao horário de verão, aos sons de fogos de artifício, a praça começou a encher de turistas, crianças e moradores locais que esperavam ver a fincada do mastro de São Sebastião, momento que marca o início da grande festa.

A medida em que os fogos intensificaram, foi possível avistar o mastro sendo carregado por homens da região em direção ao centro da praça da vila. Atrás dele, o grupo Ticumbi de Itaúnas, grupo que é sempre o primeiro a chegar para festa e nos últimos anos detém o direito de fincar, ou enterrar, o mastro de São Sebastião em frente a igreja.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 2 Parte dos brincantes do Ticumbi de Itaúnas atrás do mastro de São Sebastião 

Os homens carregavam o mastro de São Sebastião, o Ticumbi de Itaúnas seguia atrás com os brincantes cantando e tocando seus pandeiros e uma viola: “Vamos enterrar o mastro de São Sebastião, vamos enterrar o mastro de São Sebastião, eeeeee”.

O mastro é carregado por devotos e simpatizantes que rodeiam o local da fincada para que todos na praça possam apreciar o ato. Após darem a volta, o mastro é fincado com ajuda da comunidade. Durante este tempo de fincada os brincantes do Ticumbi de Itaúnas bailam com giros, cantando e tocando ao redor do mastro.

Segundo Maciel (2016) em muitas regiões do Espírito Santo acontece a Festa do Mastro em comemoração a São Benedito. A maioria das festas dividem-se na cortada do mastro, momento reservado a preparação do mesmo, e na puxada do mastro, que acontece nas vésperas, ou no dia de São Benedito, em forma de cortejo com devotos e de Bandas de Congo que tocam, cantam e dançam.

Na Vila de Itaúnas, não se trata necessariamente da Festa do Mastro nos moldes descritos pelo autor, contudo, percebe-se que a fincada do mastro constitui um ato ritualístico de forte referência a São Sebastião, que é o padroeiro da vila e, na mesma esteira, os brincantes do Ticumbi também se declaram devotos de São Benedito. Maciel (2016, p. 163) discorre que “[…] por força da participação e ação popular, o culto ao Santo está crescendo e ganhando amplitude, principalmente por todas as regiões já conhecidas como de grande presença populacional negra”.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 3 Fincada do mastro de São Sebastião por devotos e simpatizantes no ano de 2018 

Após a finalização da fincada do mastro, o grupo segue para igreja cantando: “Nós já enterramos o mastro de São Sebastião, nós já enterramos o mastro de São Sebastião, eeeeee”. Sempre a frente, seguia a imagem de São Sebastião carregada por um homem e a imagem de São Benedito carregada por uma mulher. Uma menina criança também leva o estandarte com a imagem de São Benedito.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 4 Imagens de São Sebastião e São Benedito carregadas durante o ato 

Antes de entrar na igreja, embaixo das tendas montadas, o Ticumbi de Itaúnas continua louvando ao santo devoto com baile, cantorias e sons emitidos pelos pandeiros e viola. O grupo segue para dentro da igreja que se enche de devotos, turistas, curiosos e locais para acompanhar a finalização do ato.

Tal como percebemos na Vila de Itaúnas, Felipe e Pelegrini (2018) afirmam que as celebrações e festas das comunidades remanescentes quilombolas revelam a forte influência do catolicismo popular na vida comunitária dos sujeitos.

A maioria das celebrações consiste em festas dedicadas a homenagear santos padroeiros, nas quais ganham destaque as procissões, o hasteamento de mastros, a presença dos festeiros como provedores e organizadores da celebração e os bailes. São momentos de suspensão da vida cotidiana em que se atualizam as trocas de bens simbólicos e há espaço para a diversão e convivência espontânea (FELIPE; PELEGRINI, 2018, p.393).

Nesse sentido, os autores nos permitem compreender que nos momentos de suspensão da vida cotidiana, ao mesmo tempo que acontecem as homenagens ao santo padroeiro, a fincada do mastro, procissões e missas, também há a organização dos bailes, dos momentos de diversão e de convivência espontânea entre os festeiros e brincantes.

Percebemos assim, uma aproximação das dimensões do sagrado e do profano na tradição do Ticumbi. Ao mesmo tempo em o Ticumbi de Itaúnas apresenta uma dimensão sagrada relacionada a fé e devoção, a sua manifestação acontece em no tempo e espaço profano da festa. Há então uma relação dialógica entre a celebração religiosa e a festa popular que faz com que o sagrado e o profano se confundam nessas práticas ritualísticas (FELIPE; PELEGRINI, 2018).

Do mesmo modo, notamos que o Ticumbi dialoga com um possível sincretismo religioso pois Maciel (2016) explica que

A convivência dos negros com os portugueses modificou seus costumes e, nesse sentido, a influência da igreja católica foi grande, pois, impedidos de cultuar os Orixás, temerosos da repressão dos senhores, os negros também transferiram sua devoção religiosa para alguns santos católicos, reverenciando, por exemplo, Nossa Senhora do Rosário, Aparecida, da Conceição e São Benedito, cujo culto no Espírito Santo é um dos mais fervorosos até os dias atuais (MACIEL, 2016, p. 123-124).

A devoção religiosa aos santos católicos, como a São Benedito e São Sebastião, pode ser notada no próprio nome dado a festa, nos nomes dos grupos, tal como em suas cantorias, estandartes e imagens que são exibidas durantes as apresentações do Ticumbi. Tal devoção marca a tradição do Ticumbi a partir de um ritual, que sinaliza o início da festa e quiçá, a parte mais relevante para a comunidade participante, festeiros e brincantes - a fincada do mastro.

Os fogos de artifícios, simbolizam o convite para o espetáculo que já vai começar e a alegria do povo em poder festejar entre os pares os santos a quem devotam. Nos rituais há “um rápido fluir de emoções intensificadas, onde indivíduos sentem-se ao mesmo tempo envolvidos por um sentimento comum e livres de suas amarras sociais [...]” (GEERTZ, 1997, p. 46). Nesse sentido, o ritual marca a perspectiva da coletividade criando um “eu coletivo” em uma convenção simbólica e identitária. Como Balandier (1997) afirma, a tradição governa os indivíduos e a coletividade pela soma de saberes acumulados pelo grupo a partir e acontecimentos e princípios fundadores, como podemos visualizar no ritual da fincada do mastro. Tais práticas geram vínculos de pertencimento nos sujeitos, fazendo com que eles se reconheçam e sejam reconhecidos como pertencentes a determinada a determinado grupo (HOBSBAWM; RANGER, 2002).

Nesse grupo todos fazem o ritual acontecer por meio da encenação cotidiana de seus papéis (no sentido genuíno de viver fazendo e não viver fingindo, imitando): os que carregam e ficam o mastro, os que bailam e cantam com seus pandeiros e viola, os que carregam as imagens dos santos e os que presenciam o ato com seus olhares, aplausos, registros e atos de devoção.

Outro aspecto desse ritual são as relações de poder socialmente estabelecidas. O Ticumbi de Itaúnas é o grupo que detém o direito de fincar o mastro de São Sebastião. Há também na região outros grupos, como o Ticumbi de Santa Clara, o Ticumbi de Conceição da Barra e o Ticumbi do Bongado que não possuem tal privilégio. O Ticumbi de Itaúnas possui uma posição social que o leva a um capital simbólico (BOURDIEU, 2001) que atua como mecanismo de diferenciação entre os outros grupos, demonstrando assim, uma afirmação de distância a partir de um status distinto que legitima uma relação de autoridade estabelecida pela tradição.

Outra característica da tradição apontada por Hobsbawm e Ranger (2002) é socialização e inculcação de ideias que levam a padrões de comportamentos, como notado no trecho a seguir:

Eu entrei brincando, mas depois a gente vê que necessita ser devoto. Sei lá, o negócio é que tudo que você fizer na vida, se você não tiver, uma devoção, uma fé, nada vai pra frente. Qualquer coisa que você for fazer na sua vida você tem que ter fé, pra dar certo. Então a devoção é isso aí né, a gente querer sempre o bem pros companheiros, pra Vila, então você é obrigado a ser devoto. A partir do momento que você entra, você tem que ser devoto. E hoje posso falar que sou devoto porque eu não consigo mais viver sem participar dessa devoção do Ticumbi. Todo ano se passar janeiro, eu não tiver nos ensaios, nas brincadeiras, pra mim não tá bem não (Lucas, 27 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

No relato do brincante, compreende-se que a devoção é construída pela socialização nos grupos de Ticumbi. À medida que o sujeito participa da brincadeira percebe que a devoção a São Benedito é parte significativa da mesma. Para além do sujeito, a devoção torna-se uma prática construída coletivamente norteada por ideias e objetivos compartilhados pelo grupo em questão, no caso, torna-se essencial ser devoto de São Benedito.

O TICUMBI DE ITAÚNAS: CENA II

Na sexta-feira, logo no início daquela manhã do dia 19 de janeiro de 2018 os fogos mais uma vez anunciavam a missa que tão logo começaria. O barulho ressoava por toda a vila a fim de atrair o público. A missa se iniciou às dez horas da manhã, ao lado da capela de São Benedito, com a presença de um padre, devotos, turistas, curiosos e locais.

Figura 5 Capela de São Benedito do Ticumbi de Itaúnas 

Na primeira saudação feita pelo padre foi mencionado o finado José Batista, também conhecido como Juca, antigo brincante do Ticumbi de Itaúnas. Para além dele, outros amigos da comunidade local que também faleceram foram lembrados na ocasião, evidenciando o respeito comunitário pelos mais velhos. O brincante Lucas relata a importância do finado Juca para o grupo:

[…] O Juca ele era o guia do grupo, que é o que puxa a música na frente, né!? Aí ele morreu esse ano passado, de câncer, câncer no fígado. Aí estamos de luto. Ele foi uma pessoa muito importante no grupo. O guia puxa as músicas na frente, ele é o dono da brincadeira. […] Aí teve uma música lá dentro [da igreja] que a gente fez homenagem ao Juca que morreu. É…“nós perdermos nosso mestre, nós perdemos nosso guia” entendeu!? (Lucas, 27 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

O fenômeno observado na ocasião da festa ganha validade quando comparado aos achados dos estudos de Chaves e Dos Santos (2007) em uma comunidade remanescente quilombola localizada no norte da Bahia que evidenciam o respeito aos mais velhos e aos antepassados nestes contextos. Os autores afirmam que os mais velhos são concebidos como sábios, pois sabem do tempo passado. São experientes, conhecedores das histórias da comunidade, dos significados das práticas locais e ajudam os demais a estudarem a sua história. Para além disso, há também os laços relacionais que são estabelecidos entre os sujeitos, produzindo questões afetivas fundamentais para o convívio em grupo. Do mesmo modo, Schiffler (2017, p. 91) ao estudar o Ticumbi de Conceição da Barra conclui que “a ancestralidade é fonte de união e reconhecimento, marcando um lugar discursivo de autoridade e representação social” naquela comunidade. A perda de ‘seu’ Juca ainda aponta para outros aspectos importantes

Esse ano foi um ano muito difícil, por que o nosso guia mesmo, o cara que levava o grupo nas costas, o responsável, esse ano ele faleceu, o Juca, ele faleceu. Esse ano ele ia fazer a transição, ele e o outro guia, […] eles iam começar a fazer a transição. Não que eles iam abrir mão da guia, mas a gente já ia começar a ensaiar na guia, pra que dois, três anos, a gente assumir a guia. Só que por vontade de Deus a gente teve que assumir sem esse período da transição. E foi algo de surpresa, entendeu!? Eu já sabia que, quando ele tava doente, ele já tinha me falado que o guia seria eu, o mestre da brincadeira. […] A guia é muito difícil. Eu brinquei quatro anos atrás e no meu quinto ano eles me colocaram como contra-guia. Que é o segundo, é a mesma coisa que o Lucas faz hoje. Ele é contra-guia do cordão (Rafael, 21 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

Na fala do entrevistado, fica evidente a consideração que os brincantes tinham por aquele que ocupava a posição de “guia” da brincadeira. Como guia, Juca tinha a função de coordenar as músicas entoadas e os movimentos durantes os ensaios e as apresentações dos grupos. Com o seu falecimento, o período de transição da função de guia para outro brincante ficou comprometido, e a mudança ocorreu de maneira repentina

Fonte: arquivo pessoal

Figura 6 Foto e homenagem do Juca na ocasião da festa de 2018 

O período de transição para se tornar guia do Ticumbi, pode ser associado aos rituais de crise de vida, descritos por Turner (2005). Segundo o autor, esses rituais marcam a passagem de uma fase da vida ou de um status social para outro. “Estas cerimônias de ‘crise’ não dizem respeito apenas ao indivíduo que ocupa o lugar central nelas, mas também marcam mudanças nas relações de todas as pessoas ligadas a ele […]” (TURNER, 2005, p. 35).

Nesse sentido, ao mudar de status social assumindo a função de guia, Rafael passa a ser o “dono da brincadeira”, o “responsável por ela, como dito pelos entrevistados. Esse movimento da tradição é possível pois, o Ticumbi traz em si características próprias da tradição que

[…] requer mestres que a conheçam, que a mantenham viva e a comuniquem aos que nela se iniciam; recebem sua autoridade e sua eficácia por sua antiguidade, pelas ideias, pelos valores e modelos dos quais é herdeira, pelo segredo que a diferencia dos saberes comuns (BALANDIER, 1997, p. 95).

Entendemos, então, que no Ticumbi de Itaúnas, existem os brincantes, como o mestre e os guias, que têm a responsabilidade de manterem viva tradição, comunicando saberes, ideias, valores e modelos da brincadeira aos que nela se iniciam. Nesses movimentos, para além da transmissão de elementos práticos, como as formas de conduzir o cordão da brincadeira, há também a transmissão de autoridade por aqueles que são os mais antigos da brincadeira.

O cordão é formado por homens enfileirados, que um atrás do outro, fazem as evoluções da brincadeira. Comumente, são dois cordões e, cada um é conduzido por aquele que é denominado de guia, seguido pelo contra-guia, e, os demais são denominados de congos.

Sempre tem esse processo de transição, mas vai de acordo com o desenvolvimento da pessoa dentro do baile. Se os mais antigos veem que a pessoa tem condições, que a pessoa é boa mesmo naquilo, você sobe. Naturalmente você sobe. No meu caso eu fui subindo, eu nunca fiquei atrás. Não que atrás você não tenha responsabilidade, mas na frente você tem um deverzinho um pouco a mais (Rafael, 21 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

Os sujeitos que ocupam posições que tenham um “deverzinho” a mais na brincadeira são escolhidos pelos “mais antigos”, que são aqueles mais experientes do grupo e com maior conhecimento sobre a brincadeira. Como Balandier (1997, p. 95) aponta, a tradição “traz em si um núcleo de verdades fundamentais das quais os especialistas são os guardiões e os intérpretes; é, neste sentido, um conhecimento ‘de dentro’ que não é acessível a todos, e, por isso mesmo, necessariamente reservado”.

Esse conhecimento reservado é transmitido a partir do destaque dos brincantes. Esse movimento marcado pelo processo de transmissão se inicia nos ensaios, pois “[…] o Ticumbi é coisa muito séria, né, você não pode faltar ensaio [...]”, relata Rafael. Portanto, a medida em que há o comprometimento do sujeito com os ensaios e o “desenvolvimento da pessoa dentro do baile”, o brincante “sobe”. Para além de “subir” em termos espaciais dentro do cordão, o termo também se refere ao acesso do núcleo de verdades fundamentais da tradição, ao conhecimento “de dentro”, como afirma Balandier (1997).

A oratória do padre continuou com falas sobre a celebração da pessoa de São Benedito que se distinguiu das outras pessoas no tempo em que viveu. Nas palavras do padre em forma de cantoria: “São Benedito que é tão simples como nós, sabe quem somos e vai ouvir a nossa voz”. Continuando a sua fala, o padre se dirigiu ao Ticumbi de Itaúnas, dizendo:

Que vocês possam ser guardiões dessa cultura, guardiões dessa devoção, e continuar a caminhada histórica de vocês. Eu estou aqui, rezando, pedindo a Deus, para todos vocês, que vocês encontrem sempre animação e entusiasmo para poder fazer essa caminhada junto a São Benedito. Que Deus abençoe todos aqueles que doam seus tempos, doam suas vidas, para que essa cultura, essa devoção, continue em frente. Amém. (Diário de campo, 20/01/2018).

Na palavra proferida pelo padre, podemos reforçar mais uma vez, a aproximação das dimensões do sagrado e do profano. Para além dos hinos que foram cantados e da “leitura da Palavra do Senhor”, realizada por um dos sete brincantes trajados que estavam participando da missa; o padre elucida que os brincantes devem ser “guardiões da devoção”, ao mesmo tempo que, também devem ser “guardiões da cultura”. Nesse sentido, há uma relação dialógica entre a devoção, relacionada àquele ambiente de fé, e a cultura, relacionada a tradição do Ticumbi e da festa como um todo.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 7 Brincante do Ticumbi de Itaúnas participando da missa na capela de São Benedito 

Depois da missa, os brincantes se aprontaram terminando de vestir seus trajes e logo o grupo completo apareceu. Iniciou-se assim o Baile de Congos de São Benedito, o Ticumbi.

A CENA II CONTINUA: ALGUMAS DESCRIÇÕES

O Ticumbi, tradição que envolve música, dança e teatralizações, também é caracterizado como “[…] um cortejo real, no qual há uma Embaixada de Guerra, com representações de episódios de combates” (MACIEL, 2016, p. 154). A guerra simbólica é travada entre dois reinos: O Reino de Bamba e o Reino de Congo, que disputam a primazia de realizarem a festa em louvor a São Benedito em ação de graças pelo ano findado e em consagração ao ano vindouro.

Cada reino possui os personagens de um rei e um secretário. Esses são responsáveis por trocarem versos que se iniciam com “meu rei mandou dizer”. Há também a figura do violeiro e dos congos que levam seus pandeiros e, comumente, se apresentam em doze brincantes. De forma geral, a brincadeira envolve a média de dezessete participantes homens e, apenas uma mulher, incumbida de levar com muito apreço a imagem do santo devoto, o São Benedito.

Fonte: arquivo pessoal

Figura 8 Da esquerda para a direita, senhora que leva da imagem de São Benedito, violeiro, Rei de Congo e seu secretário do Ticumbi de Itaúnas 

O Ticumbi tem um enredo, que é desenvolvido longo e demoradamente, com bailados e cantos. Tudo composto por vários negros que representam o Rei de Congo ou “reis” de congo, o Rei Bamba ou “reis” de Bamba, seus Secretários e o corpo de baile ou “Congos”, que representam os guerreiros das duas “nações” (MACIEL, 2016, p. 154).

Notamos na foto e na narrativa de Maciel (2016) que o Ticumbi é uma manifestação popular tradicionalmente masculina. A presença feminina nos grupos dá-se na forma daquela quem carrega a imagem de São Benedito ou também o estandarte do grupo. Não há evidências muito claras sobre essa questão, contudo, segundo a mestre de Jongo Maria Amélia, a questão de gênero nessas manifestações populares se explica por uma possível promessa feita ainda no tempo da escravidão no Brasil:

Essa dança [o Jongo] foi nascida pelos escravos. A minha bisavó, a minha avó era africana, o meu avô era também. Então, quando eles estavam no tronco, a minha avó fez promessa: se eles fossem libertados, quando eles saíssem de lá eles iam formar o Jongo das mulher e o Ticumbi dos homem. Aí os homens é só Ticumbi, só homem (Maria Amélia, 65 anos, mestre do Jongo de Sant’Ana, 20/01/2018).

Nesse sentido, mesmo que não se elucide ao certo o motivo, os grupos de Ticumbi se configuram até os dias de hoje como uma manifestação popular tradicionalmente brincada por homens. Esses brincantes, como observamos na foto anterior, comumente apresentam-se trajados em uma composição de cor branca no tênis e nas calças cobertas por saiotes e camisas de botão com mangas longas.

Nos congos, no violeiro e na única mulher, a cor branca dá espaço as cores nas fitas coloridas de cetim se cruzam no peito e nas costas e que marcam a barra dos saiotes, também finalizados com rendas brancas. Já nas cabeças, cobertas por um pequeno lenço branco, o adereço toma a cena com fitas de cetim coloridas penduradas e flores de papel crepom pomposas.

Os reis e secretários carregam espadas centenárias que configuram o cenário de guerra e traduzem um “signo de pertença e autoridade” (SCHIFFLER, 2017) dentro do grupo. No peito, a simulação de um peitoral de armadura, com pedaços de espelho e papéis brilhantes e coloridos. Nas costas, capas longas de chitas floridas e, nas cabeças também protegidas por lenços, adereços brilhantes que simulam coroas e capacetes.

Uma das cenas que marcou o início a brincadeira aconteceu ao som dos pandeiros tocados pelos congos. Os dois cordões organizaram uma roda e os brincantes giravam de forma que, um a um, todos reverenciassem a São Benedito, segurado pela senhora que estava ao lado do violeiro.

Geralmente é assim, são dois reis, de Bamba e de Congo, que brigam o direito de festejar a São Benedito, de fazer a festa de São Benedito. Aí você vai fazer essa guerra, né?! Aí os dois contra-guias vão puxar uma marcha que chama ‘entrada de contra-guia’. Aí eles vão cantar essa guerra até chegar na metade e você vai agradecer o padroeiro, São Sebastião […] (Rafael, 21 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

Logo, o Rei de Congo trocou versos com seu secretário, bateram as espadas que carregavam, e ambos deram lugar aos congos que voltaram a bailar e cantar. Durante todo o bailado dos congos, os brincantes realizavam desenhos espaciais e movimentos como: círculos que abriam e fechavam, círculos em movimento anti-horário, fileiras com cumprimentos de ombros, trocas de posição, caracol, movimentos de pandeiros, meios giros em fileiras de forma a ficarem de costas um para o outro, entre outros.

Fonte: arquivo pessoal

Figura 9 Congos do Ticumbi de Itaúnas 

Os desenhos espaciais e movimentos realizados pelos congos eram acompanhados por um brincante que se destacou dentre todos - uma criança de aproximadamente 05 anos, como é possível observar na foto anterior. Tal como teorizado por Mauss (2003) ao tratar o conceito de imitação prestigiosa, o menino, neto de um dos brincantes, participa de um acontecimento de seu contexto que carrega prestígio dentro daquela cultura. Seu avô, assim como os outros brincantes, por meio da autoridade e prestígio que possuem, demonstram a ele atos ordenados e autorizados, do Ticumbi de Itaúnas, fazendo com que a criança queira imitá-los em atos bem-sucedidos.

Na sequência da brincadeira, o secretário do Rei de Congo foi até o secretário e Rei de Bamba. Os dois se enfrentaram por meio de versos e luta dançada. Os reis também trocaram versos e todo auto se fez em torno dos versos que soavam e se manifestam com ironias, humor, sátiras, críticas do cotidiano. O público interagiu reagindo ora com solenidade, ora risadas e aplausos.

O auto finalizou com a “roda grande” na qual os congos enquanto giravam, batiam seus pandeiros, e dentro da roda, os secretários guerreavam entre si, tal como o Rei de Congo e o Rei de Bamba.

[…] Depois você vai para o final da brincadeira que é mais a parte mais bailada do baile. Você fica mais solto, você não tem muita pressão. Você tem mais coisa de pé, essas coisas. E no final, você tem uma roda grande, que geralmente, pode ser de protesto com alguma coisa que aconteceu, […] é sempre um protesto a roda grande. Mas você pode ter também a roda grande tradicional, que nem a nossa, é do Ticumbi da Vila Antiga, né?! A gente faz referência ao porto, quando chegava navio, e tal, mas tem grupo que faz ainda. Ano passado a nossa roda grande foi sobre o asfalto. Aí o baile é assim (Rafael, 21 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

Nas trocas de versos, os reis e os secretários prezam por rimas, versos engraçados e também colocam em voga questões sociais, como uma forma de protesto, como declara o brincante Rafael. No mesmo pensamento, ao dizer que o Ticumbi “é uma grande brincadeira, mas uma brincadeira séria”, o brincante Lucas explica:

Na verdade, o Ticumbi ele é isso. Ele fala de tudo que for de interesse da Vila, da comunidade. Ele fala em forma de versos cantados, tipo como se fosse um jornal falado, um negócio assim. Por exemplo, a descida de canoa hoje nossa, falava, fazia referência ao rio. O nosso rio ele tá […], toda vida a gente teve um rio aqui limpo, mas o que tá acontecendo, essas empresas que tem em volta, de eucalipto, cana-de-açúcar, elas tão acabando com o nosso rio. Então o nosso rio tá secando e a gente tá com ele meio que poluído, né. Aí a gente fez o verso representando isso, né?! Falando sobre o rio que tá sujo. Foi a descida assim, né, “água que o povo usava hoje não dá pra beber, glorioso Benedito, o que nós vamos fazer”. É tudo de interesse da Vila, a gente canta no Ticumbi, não é só devoção, é tudo que interessa o povo ele vem trazendo. Tanto que na parte da embaixada dos reis, eles geralmente lançam versos ou desafiando os políticos, ou falando de algum fato que aconteceu na Vila, entendeu!? Tudo isso é muito rico, é uma coisa muito rica que só você vendo, acompanhando, pra você ver tudo, e você ainda não vê tudo ainda (Lucas, 27 anos, morador da Vila de Itaúnas e brincante do Ticumbi de Itaúnas, 18/01/2018).

Desta forma, a tradição do Ticumbi é uma brincadeira séria não somente pela religiosidade e devoção presentes, mas também por denunciarem problemas relacionados a Vila de Itaúnas e ao país. Como Balandier (1997) explica

[...] a tradição traduz-se continuamente em práticas; é aquilo pelo que a comunidade se identifica (tal como aparece diante de si mesma), se mantém em uma relativa continuidade, se faz de maneira permanente sempre produzindo as aparências de ser, agora, o que deseja ser. Na medida que permanece viva e ativa, a tradição consegue nutrir-se do imprevisto e da novidade [...] (BALANDIER, 1997, p.94).

A partir do pensamento do autor, compreendemos que a tradição se manifesta por meio de práticas que se mantêm em continuidade construindo novas aparências de acordo com o que a comunidade se identifica e deseja ser. Nesse sentido, o movimento da tradição acolhe o novo, fazendo com que ela permaneça viva e ativa dentro com contexto que está inserida.

No Ticumbi de Itaúnas, tal movimento se elucida a partir do momento em que a brincadeira “fala de tudo que for de interesse da Vila, da comunidade”. A medida em que o novo chega e é identificado como algo que se deseja ser, ele é acolhido fazendo com que a brincadeira permaneça viva e ativa.

Na oportunidade da cena que analisamos, por exemplo, os versos que fizeram referências ao contexto regional e brasileiro e, em tom de denúncia e crítica social, narraram: a pendência da assinatura governador Paulo Hartung da ordem de serviço para o início do asfaltamento dos 20 km da Rodovia ES-010 entre a Vila de Itaúnas e Conceição da Barra; o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff em 31 de agosto de 2016; a efetivação da Presidência da República do vice-presidente Michel Temer e a promessa de um novo governo que traria mudanças positivas para o país e o falecimento no ano anterior do brincante Juca, pertencente ao Ticumbi de Itaúnas com a devida homenagem póstuma também nas fardas3 dos brincantes por meio de uma fita preta pendurada na altura do peito ou no ombro.

Por mais que seja uma tradição datando mais de séculos, o Ticumbi de Itaúnas como uma herança cultural se atualiza no tempo presente apresentando enunciações contemporâneas. Como Balandier (1997, p.94) explana, “[…] sua ordem não mantém tudo, nada pode ser mantido por puro imobilismo; seu próprio dinamismo é alimentado pelo movimento e pela desordem, aos quais ela [a tradição] deve finalmente se subordinar”. Nesse caminho, o Ticumbi de Itaúnas não se caracteriza como uma mera imitação ou reprodução estrita do que aconteceu no passado pois, a brincadeira é atualizada de acordo com as demandas do contexto e dos sujeitos locais.

Ainda assim, mesmo com movimentos claros dessa tradição, podemos considerar que no Ticumbi de Itaúnas não é possível “vê tudo ainda”, como o brincante Lucas relata. Entre tudo que está explícito, ainda existe o implícito, tal como o dito e o não dito. O Ticumbi assim, é uma tradição muito “rica” que nos permite, então, continuar a busca por sua investigação e interpretação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao apresentarmos uma narrativa interpretativa do Ticumbi de Itaúnas, sua estrutura e seus significados, valemo-nos de autores que nos possibilitaram investigar a configuração da identidade da comunidade remanescente quilombola a partir da manifestação da tradição do Ticumbi de Itaúnas.

Por reunir dezenas de grupos de manifestações populares das regiões local e vizinhas entendemos a Vila de Itaúnas, no tempo e espaço da Festa de São Benedito e São Sebastião, como um território de ocupação interacional (LEITE, 1991). Ocorre nessas ocasiões festivas a manifestação de traços da herança cultural de grupos advindos em sua maioria de comunidades remanescentes quilombolas por meio da experiência compartilhada do universo simbólico que envolvem as manifestações populares. Como notamos nas entrevistas, a vila, a festa e o Ticumbi de Itaúnas se entrelaçam, construindo um sentido de pertencimento e identidade da tradição à vila: Ticumbi “de” Itaúnas.

Interpretando o Ticumbi como uma tradição a partir das contribuições de Balandier (1997), notamos que a brincadeira apresenta elementos do passado e do presente em diálogos constantes. A partir de uma estrutura e significados que dialogam com as dimensões do sagrado e do profano, o Ticumbi de Itaúnas de apresenta aspectos de fé e devoção, tal como de festejo popular.

Ainda, a partir das cenas analisadas destacamos os conceitos de carisma (Geertz, 1997) e imitação prestigiosa (Mauss, 2003), quando observamos os sujeitos que foram destacados e reconhecidos como autoridades dentro do contexto festivo. Schiffler (2017), Chaves e Dos Santos (2007) e Maciel (2016) também reforçam essa argumentação e nos permitem refletir sobre a ancestralidade e o protagonismo masculino presentes no Ticumbi de Itaúnas.

Também destacamos a fincada do mastro como um ato ritualístico coletivo que marca o capital simbólico (BOURDIEU, 2001) que o Ticumbi de Itaúnas possuiu pelo status distinto estabelecido pela tradição do privilégio que possuem de fincarem o mastro na ocasião da festa.

O Ticumbi de Itaúnas possibilita que os sujeitos vivenciem períodos de transição que estão relacionados aos rituais que marcam a mudança de fase da vida ou de status (TURNER, 2005). Nesse sentido, a posição dos brincantes, tal como a identidade que assumem dentro do grupo, podem passar por mudanças que geralmente se iniciam nas reuniões de ensaios de acordo com o comprometimento e envolvimento de cada sujeito.

Por fim, a partir da narração interpretativa do Ticumbi de Itaúnas, concluímos que a brincadeira tem sido vivenciada e materializada dentro de um contexto comunitário e festivo que dialoga com os movimentos da própria tradição. Por mais que seja possível notar aspectos da herança cultural que permanecem, como a brincadeira passa por movimentos que a levam as continuidades e descontinuidades dentro da própria tradição.

REFERÊNCIAS

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AGRADECIMENTOS Agradecemos aos participantes da pesquisa que colaboraram com o desenvolvimento desse trabalho

FINANCIAMENTO Não se aplica

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM Não se aplica

APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA Projeto de pesquisa aprovado pelo CEP/UFES no CAAE: 33058920.1.0000.5542 e número do parecer 4.131.421

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PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

EDITOR DE SEÇÃO Giovani De Lorenzi Pires

REVISÃO DO MANUSCRITO E METADADOS João Caetano Prates Rocha; Keli Barreto Santos, Juliana Rosário

1 Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o patrimônio cultural imaterial pode ser reunido em quatro categorias básicas, são elas: os saberes, conhecimentos e modos de fazer tradicionais, as festas e celebrações, as formas de expressão e as formas de expressão literárias, musicais, plásticas, cênicas ou lúdicas e os lugares ou espaços de concentração de práticas culturais coletivas (IPHAN, 2006).

2Brincante é o termo utilizado para referenciar os integrantes das manifestações populares da região

3 Farda ou indumentária é o nome dado a vestimenta do Ticumbi

Recebido: 09 de Agosto de 2021; Aceito: 22 de Outubro de 2021

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CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA

Não se aplica

CONFLITO DE INTERESSES

Não há conflitos de interesses

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