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Motrivivência

versión On-line ISSN 2175-8042

Rev. Motriviv. vol.33 no.64 Florianópolis  2021  Epub 10-Mayo-2021

https://doi.org/10.5007/2175-8042.2021.e77592 

Porta Aberta

As brincadeiras de faz de conta nas produções acadêmico-científicas da Educação Física com a educação infantil

The make-believe games in the Physical Education academic-scientific productions with early childhood education

Los juegos de hace de cuenta en las producciones académico-científica de la Educación Física con la educación infantil

André da Silva Mello1 
http://orcid.org/0000-0003-3093-4149

Bianca Andreatta Scottá2 
http://orcid.org/0000-0003-3760-2091

Alexandre Freitas Marchiori2 
http://orcid.org/0000-0002-5919-5696

1Universidade Federal do Espírito Santo, Departamento de Ginástica, Vitória, ES, Brasil.

2Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.


RESUMO

Analisa o modo como as produções acadêmico-científicas no campo de Educação Física têm discutido as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil, identificando os autores de base, as áreas do conhecimento e os principais conceitos que subsidiam essas produções. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, do tipo Estado do Conhecimento, que utilizou como fontes o Catálogo de Teses e Dissertações e o Portal de Periódicos da Capes. O corpus do estudo é constituído por 15 produções. Os autores de base mobilizados pela Educação Física para discutir as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil são: Vygotsky, Piaget, Benjamin, Merleau-Ponty, Corsaro e Certeau. Por meio dos conceitos postulados por esses autores, as produções analisadas buscam reconhecer e valorizar as agências das crianças, as suas autorias e as suas produções culturais nas experiências que estabelecem com as brincadeiras de faz de conta no contexto da Educação Infantil.

PALAVRAS-CHAVE: Faz-de-conta; Educação física; Educação infantil

ABSTRACT

The work analyzes the way how the Physical Education academic-scientific productions have discussed make-believe games in the Children’s Education context, identifying the basic authors, areas of expertise and the main concepts that subsidize such productions. It is a bibliographic research, of the State of knowledge type, which used as sources the Thesis and Dissertation Catalogue and Capes’ Periodical Portal. The study corpus is constituted of 15 productions. The basic authors who were mobilized by Physical Education to discuss the make-believe playful activities within Children’s Education are: Vygotsky, Piaget, Benjamin, Merleau-Ponty, Corsaro and Certeau. Through the concepts postulated by those authors, the productions analyzed aim at acknowledging and valuing the children’s agencies, their authorships and cultural productions regarding the experiences established with the make-believe games inside the Children’s Education context.

KEYWORDS: Make-believe; Physical education; Early childhood education

RESUMEN

Analiza cómo las producciones académico-científicas en el campo de la Educación Física han discutido los juegos de hace de cuenta en Educación Infantil, identificando los autores de base, las áreas de conocimiento y los principales conceptos que sustentan estas producciones. Se trata de una investigación bibliográfica, del tipo Estado del conocimiento, que utilizó como fuentes el Catálogo de Tesis y Disertaciones y el Portal de Publicaciones Periódicas de Capes. El corpus de estudio consta de 15 producciones. Los autores básicos movilizados por Educación Física para discutir los juegos de fantasía en Educación Infantil son: Vygotsky, Piaget, Benjamin, Merleau-Ponty, Corsaro y Certeau. A través de los conceptos postulados por estos autores, las producciones analizadas buscan reconocer y valorar las agencias de los niños, su autoría y sus producciones culturales en las experiencias que establecen con los juegos de hace de cuenta en el contexto de la Educación Infantil.

PALABRAS-CLAVE: Hace de cuenta; Educación física; Educación infantil

INTRODUÇÃO

As brincadeiras de faz de conta têm se configurado como importante manifestação da cultura lúdica infantil sob as quais as crianças constroem as suas experiências nas instituições dedicadas à sua educação (BRASIL, 2010; 2018). De acordo com Callois (1990), na brincadeira de faz de conta está presente a imitação, a dramatização denominada mimicry, uma atividade lúdica em que predomina a fantasia, a turbulência e o improviso. Nela, a realidade objetiva é trocada por uma situação não-literal. Um cabo de vassoura, por exemplo, pode virar um cavalo e uma caixa de fósforos pode representar um carrinho. Não só com materiais a brincadeira de faz de conta se materializa, as crianças, com seus corpos em movimento, criam enredos e personagens que transformam o mundo, dando novas cores, formas e sentidos para ele. Na perspectiva de Kishimoto (2003, p. 39), “a brincadeira de faz de conta, também conhecida como simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária”.

Essas manifestações lúdicas potencializam os processos de apropriação e de ressignificação cultural por parte das crianças, permitindo que elas construam conhecimentos em suas experiências brincantes por meio de sua cultura de pares1. Nas brincadeiras de faz de conta, as crianças constituem-se como agentes de si, exercendo a sua autonomia, criatividade e práticas autorais em seus mundos de vida de acordo com os seus interesses, necessidades e expectativas. Essa perspectiva coaduna com a concepção de infância presente nos documentos orientadores da Educação Infantil no Brasil, que consideram a criança como sujeito ativo em seus processos de desenvolvimento e de socialização, rechaçando, dessa forma, a ideia de passividade e subalternidade em relação ao adulto.

Contudo, segundo Soares, Côco e Ventorim (2016), há uma secundarização das brincadeiras nos espaços e tempos das instituições infantis em detrimento das aprendizagens cognitivas e intelectuais. As autoras indicam que, de forma majoritária, as brincadeiras são utilizadas pelas instituições infantis como recurso didático-pedagógico ou como estratégia para ocupar as crianças nos momentos de planejamento das professoras. Ao criticar essa abordagem, elas acenam para a necessidade de “[...] refletir sobre o trabalho educativo com as crianças, compreendendo a brincadeira como atividade privilegiada de aprendizagem, de desenvolvimento e, sobretudo, de interação com o outro” (SOARES; CÔCO; VENTORIM, 2016, p. 104).

Buscando superar esse viés utilitarista, em que a brincadeira é apropriada apenas como meio, como estratégia metodológica para atingir determinados objetivos de ensino, ou seja, como uma espécie de “isca” para despertar os interesses dos infantis, estudos no campo da Educação Física têm discutido as brincadeiras de faz de conta como importante manifestação da cultura lúdica, capaz de assegurar o inalienável direito de brincar às crianças e de potencializar as suas agências2 em seus processos educacionais, ou seja, suas capacidades de pensar e agir por elas mesmas. São estudos que, ancorados em diferentes bases teóricas e epistemológicas, reconhecem e valorizam o protagonismo infantil, as autorias e as produções culturais das crianças em suas experiências brincantes nas instituições infantis.

Diante do exposto, este artigo tem como objetivo analisar o modo como as produções acadêmico-científicas no campo de Educação Física têm discutido as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil, identificando os autores de base, as áreas do conhecimento e os principais conceitos que subsidiam essas produções.

PERCURSO METODOLÓGICO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que produziu um Estado do Conhecimento acerca das produções acadêmico-científicas da Educação Física sobre as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil. Apoiados em Morosini e Fernandes (2014, p. 155), concebemos o Estado do Conhecimento como a “[...] identificação, registro, categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção científica de uma determinada área, em um determinado espaço de tempo, congregando periódicos, teses, dissertações e livros sobre uma temática específica”.

Utilizamos como fontes as produções veiculadas pelo Catálogo de Teses e Dissertações e o Portal de Periódicos, ambos da Capes. Inicialmente, definimos dois descritores para a busca no Portal de Periódicos: “Educação Física” e “Faz de Conta”. Contudo, no processo de busca, nos deparamos com uma diversidade de termos que remetem ao objeto desse estudo. Nesse sentido, operamos com o conceito ampliado do Faz de Conta, que abarca expressões como “jogo simbólico” e “papéis sociais”. Com a intenção de refinar a nossa seleção, posteriormente, estabelecemos os seguintes filtros: tipo de material (artigos); idioma (português); como também o campo em que o termo foi pesquisado, em relação à restrição de comparação (contém; é exato)3. No Portal de Periódicos da Capes, encontramos dez artigos, entretanto, quatro foram descartados, pois não dialogavam como o objeto deste estudo.

No Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, também utilizamos os mesmos descritores: “Educação Física” e “Faz de Conta”. Usamos como filtros a Grande Área do Conhecimento (Saúde) e a Subárea (Educação Física), que resultou em um quantitativo de 630 estudos. Ao refinarmos as nossas buscas nas áreas socioculturais e pedagógicas dos Programas de Pós-Graduação em Educação Física, o número de estudo reduziu para 185. Ao analisarmos os títulos e os resumos desses trabalhos, apenas nove contemplaram as dimensões focalizadas neste estudo: Faz de Conta; Educação Física; e Educação Infantil. Portanto, o corpus do artigo está circunscrito a 15 estudos (três teses, seis dissertações e seis artigos).

No processo de análise, elaboramos dois quadros para organização dos dados: no Quadro 1, identificamos o títulos dos trabalhos, autor(es), natureza da publicação, local da publicação, autores de base para a discussão do faz de conta e o ano da publicação. No Quadro 2, o foco de análise incide sobre os autores de base, identificando as áreas do conhecimento as quais eles se vinculam e os principais conceitos de suas formulações teóricas que foram mobilizados pelas produções acadêmico-científicas da Educação Física para discutir as brincadeiras de faz de conta no contexto da Educação Infantil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As 15 produções encontradas no Portal de Periódicos e no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, referentes às produções acadêmicas da Educação Física (EF) sobre as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil, foram organizadas no Quadro 1, apresentado a seguir:

Quadro 1 Produções acadêmico-científicas da EF sobre as brincadeiras de faz de conta 

Título Autoria Natureza Local Autores de Base Ano
Educação física infantil e o jogo de faz de conta como estratégia pedagógica Marcos P. V. C. Pereira et al Artigo Caderno de EF e Esporte Vygotsky 2019
Educação Física na Educação Infantil: da estruturação à implementação pedagógica Juliana Dias Boaretto Tese PPGEF/UEM-UEL Piaget 2019
Análise semiótica do vídeo “assim é ser criança”: o papel do jogo de faz de conta no protagonismo e autoria das crianças Victor Reis Mazzei Rodrigo L. D. R. Martins Raquel F. M. Barbosa André da Silva Mello Artigo Revista Motivivência Benjamin Certeau Corsaro 2018
Hibridismo brincante: um estudo sobre as brincadeiras lúdico-agressivas na Educação Infantil Raquel F. M. Barbosa Tese PPGEF/UFES Certeau Corsaro Vygotsky 2018
Mediação semiótica e jogo na perspectiva histórico-cultural em Educação Física escolar Rogério R. M. Grillo Tese PPGEF Unicamp Vygotsky 2018
Dinâmica curricular no cotidiano da Educação Infantil: um olhar a partir das práticas pedagógicas com a EF Vanessa Guimarães Dissertação PPGEF/UFES Certeau Corsaro Vygotsky 2018
Práticas corporais na Educação Infantil: análise dos procedimentos metodológicos das professoras polivalentes de uma escola do município de Recife-PE Paula R. P. Boulitreau Dissertação PPGEF/UPE Vygotsky Corsaro 2017
Formação continuada na Educação Infantil: interfaces com o brincar Letícia C. Soares Valdete Côco Silvana Ventorim Artigo Revista Holos Vygotsky 2016
Por uma perspectiva pedagógica para intervenção da Educação Física com a Educação Infantil Lívia C. de Assis Dissertação PPGEF/UFES Certeau Corsaro Vygotsky 2015
O Pibid e a formação docente em Educação Física para a Educação Infantil Rodrigo L. D. R. Martins Dissertação PPGEF/UFES Certeau Corsaro 2015
O brincar como diálogo/pergunta e não como resposta à prática pedagógica Heloisa dos S. Simon Eleonor Kunz Artigo Revista Movimento Merleau-Ponty 2014
Rodopiando com o Saci-Pererê: movimentos do brincar na Educação Infantil Fernando T. Roveri Artigo Revista Holos Vygotsy 2014
O lúdico e a violência nas brincadeiras de luta: um estudo do "se - movimentar" das crianças em uma escola pública de São Luís, Maranhão Mayrhon J. A. Farias Ingrid D. Wiggers Raimundo N. Viana Artigo Revista Holos Corsaro Merleau-Ponty 2014
O jogo na Educação Física da Educação Infantil: usos e apropriações em um Cmei de Vitória/ES Marcos V. Klippel Dissertação PPGEF/UFES Certeau Corsaro Vygotsky 2013
Brincar-e-se-movimentar e a imaginação da criança Heloisa dos S. Simon Dissertação PPGEF/UFES Merleau-Ponty 2013

Fonte: Os autores.

Os trabalhos selecionados foram produzidos entre 2013 e 2019. O ano de início das publicações (2013), pode estar relacionado à transição da concepção de infância presente nos documentos que orientam a Educação Infantil no Brasil. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - DCNEI (BRASIL, 2010; 2013) e a Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) migraram de uma perspectiva de infância ancorada, sobretudo, na Psicologia do Desenvolvimento4 para uma concepção pautada na Sociologia da Infância (MELLO et al., 2016), em que as crianças são consideradas como sujeitos ativos em seus processos de desenvolvimento e de socialização. Nesses documentos, as brincadeiras de faz de conta são consideradas como importantes manifestações lúdicas para o reconhecimento e valorização das agências infantis.

Outro fator que pode ter contribuído para que o período de publicação dos trabalhos analisados se localize entre os anos de 2013 e 2019 é a própria inserção da Educação Física no contexto da Educação Infantil no Brasil, que se acentuou, principalmente, a partir da década de 2010 (MARTINS, 2018). Apesar do crescimento da produção sobre as brincadeiras de faz de conta no campo da Educação Física, quando comparado a outras áreas do conhecimento (Pedagogia, Fonoaudiologia, Educação Especial, Sociologia e Filosofia), percebemos que essa produção ainda é incipiente.

Temos a hipótese de que a baixa produção, quando comparada às outras áreas do conhecimento, está associada ao paradigma desenvolvimentista e psicomotor, que ainda é hegemônico nas produções acadêmicas e nas práticas pedagógicas da Educação Física nessa primeira etapa da Educação Básica (MARTINS; TOSTES; MELLO, 2018). Nesse paradigma, as crianças encontram pouco espaço para manifestar as suas subjetividades e as suas práticas autorais, pois os movimentos são externamente orientados, pautados em sequências universais de desenvolvimento. As brincadeiras, nessa perspectiva, são utilizadas para diversificar e combinar habilidades motoras básicas ou para ampliar a vivência das capacidades psicomotoras.

Das nove teses/dissertações encontradas, seis são provenientes do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGEF/UFES), o que confirma os resultados encontrados na pesquisa de Farias et al. (2019), que analisou a produção do conhecimento sobre a Educação Física na Educação Infantil e constatou que esse Programa é o que tem o maior número de produções sobre o tema no Brasil. Desses seis trabalhos, cinco (uma tese e quatro dissertações) são de membros do Núcleo de Aprendizagens com as Infâncias e Seus Fazeres (NAIF), grupo de pesquisa que busca reconhecer a centralidade e o protagonismo das crianças em seus processos de ensino-aprendizagem com a Educação Infantil. Em um dos artigos selecionados, os autores também estão vinculados a esse grupo.

Das seis produções veiculadas em periódicos científicos, verificamos que três foram publicadas na Revista Holos, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Esse periódico, de escopo interdisciplinar, tem valorizado publicações que buscam superar o “olhar adultocêntrico” que, historicamente, a escola tem lançado sobre as crianças, enxergando-as apenas pelas suas ausências e incompletudes (SARMENTO, 2013). Para romper com essa visão, as publicações na revista referem-se às brincadeiras de faz de conta como possibilidade para que as crianças produzam cultura e tenham autonomia em seus mundos de vida.

As outras três publicações estão distribuídas em três importantes periódicos da Educação Física Brasileira: a Revista Movimento, publicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul; a Revista Motrivivência, publicada pela Universidade Federal de Santa Catarina; e o Caderno de Educação Física e Esportes, publicado pelo Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE). Esses três periódicos possuem escopo associado às áreas sociocultural e pedagógica da Educação Física e, em suas edições, apresentam pesquisas que criticam e problematizam métodos de ensino conservadores, centrados exclusivamente nos professores, que invisibilizam a participação das crianças nos processos de ensino-aprendizagem empreendidos pelas instituições infantis.

As 15 produções selecionadas mobilizaram seis autores de base para discutir as brincadeiras de faz de conta no campo da Educação Física, são eles: Lev S. Vygotsky, Jean Piaget, Walter Benjamin, Merleau Ponty, William Corsaro e Michel de Certeau. Esses autores, em oito produções, são utilizados isoladamente e, em sete estudos, aparecem articulados entre si. O Quadro 2, demonstrado a seguir, apresenta esses autores de base, as áreas do conhecimento em que suas produções estão vinculadas e os principais conceitos desses autores que foram utilizados por pesquisadores da Educação Física nas discussões sobre as brincadeiras de faz de conta.

Quadro 2 Autores de base, áreas do conhecimento e principais conceitos. 

Autores de Base Lev S. Vygotsky Jean Piaget Walter Benjamin Merleau-Ponty Willian Corsaro Michel de Certeau
Áreas do Conheci- mento Psicologia Sócio Histórica Psicologia Genética Filosofia Filosofia Sociologia da Infância História cultural
Principais Conceitos Separar objeto de significado Internalização de papéis sociais Formação Simbólica Mimeses Experiência Percepção Reprodução Interpretativa Cultura de pares Consumo Produtivo Tática e estratégia

Fonte: Os autores.

O faz de conta em Lev. S. Vygotsky

Nascido na Bielorrússia, Lev Semenovitch Vygotsky (1896-1934) é um autor associado à Psicologia Sócio-histórica, cuja base epistemológica está fundada no materialismo histórico e dialético. Vygotsky é considerado interacionista, pois pressupõe que o desenvolvimento ocorre na convergência dos fatores biológicos com os aspectos sociais e culturais. Entretanto, Vygotsky afirma que as dimensões sociais e culturais têm prerrogativa nos processos de desenvolvimento humano, sendo a relação entre pensamento e linguagem um dos principais focos de seus estudos. O autor assegura que as funções psicológicas superiores, ou seja, aquelas tipicamente humanas, como raciocínio lógico, memória, movimentos voluntários, dentre outras, são mediadas pelo signo5. O signo é o instrumento da atividade psíquica.

O signo, porém, não é inato. Não é algo biologicamente dado; é uma aprendizagem social. E é justamente sobre o desenvolvimento da capacidade simbólica de representar a realidade por meio de signos que estão localizadas as contribuições das brincadeiras de faz de conta para Vygotsky. Segundo o autor, esse tipo de brincadeira apresenta uma dupla função: separar objeto de significado e permitir que as crianças internalizem papéis sociais que estão além do seu nível de desenvolvimento real.

Para Vygotsky (2009), a brincadeira de faz de conta permite que a criança construa diferentes significados sobre os objetos e não opere com o objeto em si, contribuindo, dessa maneira, para que o seu pensamento trabalhe no campo das representações e das criações simbólicas. Por exemplo, ao brincar com o controle remoto da televisão como se fosse um carrinho, a criança não está operando com o significado real do objeto, ou seja, trocar os canais da televisão ou então aumentar ou diminuir o volume. Ao proceder dessa forma, a brincadeira de faz de conta contribui para que o pensamento infantil ganhe liberdade, potencializando, assim, a capacidade de representar simbolicamente a realidade.

A função de internalizar papéis sociais indica que as crianças estão operando, no plano simbólico, além do seu nível de desenvolvimento real. Ao brincarem de escolinha, por exemplo, as crianças irão agir com comportamentos típicos de uma professora, diretora, alunos, pais etc. Desse modo, as condutas assumidas nas brincadeiras possibilitam que as crianças se comportem de maneira mais avançada do que aquela habitual para a sua idade (VYGOTSKY, 2010). Nesse tipo de brincadeira de faz de conta, as crianças operam na zona de desenvolvimento proximal, pois a internalização de papéis sociais mais avançados auxilia como “molas propulsoras” para seu desenvolvimento real (ROSA, 2014, p. 17).

No campo da Educação Física, diferentes autores dialogaram com Vygotsky para pensar a mediação pedagógica com as brincadeiras de faz de conta no contexto da Educação Infantil. Rocha, Winterstein e Amaral (2009) discutem o papel dessas brincadeiras na promoção das interações sociais entre crianças na Educação Física, evidenciando as relações sociais estabelecidas entre elas por meio dos personagens assumidos durante o faz de conta. Rosa (2014) analisou como diferentes materiais não estruturados potencializam a imaginação das crianças nas aulas de Educação Física na Educação Infantil, permitindo que elas criem enredos, personagens e histórias em suas “engenharias brincantes” (BARBOSA, 2018).

Os resultados indicam que a abordagem histórico-cultural se constitui como referencial teórico profícuo nas relações da Educação Física com a Educação Infantil. Os conceitos de Vygotsky estão presentes em sete trabalhos encontrados nesta pesquisa (KLIPPEL, 2013; ASSIS, 2015; BARBOSA, 2018; GRILLO, 2018, GUIMARÃES, 2018; PEREIRA et al., 2019; SOARES, CÔCO, VENTORIM, 2016). Guimarães (2018, p. 109) afirma que “[...] convergimos com a DCNEI (2010) e com Vygotsky (1998) quando reconhecemos que o corpo que fala, participa desses processos de representação em uma relação de intimidade”. A autora pontua que a linguagem, quando materializada no corpo por meio de jogos, de brincadeiras e de interações entre os pares, permite se constituir como eixo de trabalho na produção de conhecimento com as crianças na Educação Infantil.

Grillo (2018), com base em Vygotsky, compreende que todo jogo, seja de faz de conta, protagonizado, de regras ou de estratégia, apresenta como característica a situação fictícia, entendida como uma espécie de atividade criadora, preponderante para que o jogo se efetive. Essa situação fictícia, em si, possui regras de comportamentos, mesmo que seja uma brincadeira de faz de conta ou protagonizada e não requeira um conjunto apriorístico de regras formuladas por convenção. Vygotsky (1991, p. 56) afirma que "[...] o jogo traz oportunidade para o preenchimento de necessidades irrealizáveis e, também, a possibilidade para se exercitar no domínio do simbolismo".

Segundo Pereira et al. (2019), o jogo de faz de conta é uma atividade lúdica e abstrata, que contribui para o processo de imaginação e de criação da criança. Essa atividade permite o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, com destaque para a imaginação e para a produção de sentidos e de significados culturais por parte das crianças, que emergem do grupo social em que elas estão inseridas.

O faz de conta em Jean Piaget

O biólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) é um dos principais expoentes da Psicologia do Desenvolvimento. As questões epistemológicas que moveram os seus estudos foram: como os seres humanos constroem conhecimentos? Como a inteligência se desenvolve? A inteligência, para Piaget, é a capacidade inata do indivíduo para se adaptar ao meio. O termo genética na psicologia piagetiana não tem a conotação de gene, de cromossomo, mas, sim, de gênese, de origem.

Piaget dedicou grande parte de seus estudos a investigar as contribuições dos jogos e das brincadeiras para o desenvolvimento humano. Ele classificou os jogos em três categorias: de exercício, de regras e simbólicos. A primeira categoria diz respeito aos jogos e brincadeiras que ocorrem no período sensório-motor e colaboram para acomodação de novas aprendizagens. As brincadeiras como forma de exercício são caracterizadas pela repetição de determinadas ações. Nessa modalidade, não há mediações simbólicas, pois as crianças encontram-se em um período denominado como “universo não representado”, em que prevalece a inteligência prática, ou seja, as ações são de natureza sensório-motora, sem a mediação do signo.

As brincadeiras de regras contribuem para a transição do pensamento egocêntrico para o socializado, como também para a passagem da fase heterônoma para a autônoma. No primeiro caso, as regras, por mais simples que sejam, exigem que as crianças se comportem na brincadeira a partir de determinadas convenções sociais (as regras) e não somente considerando os seus desejos e interesses. Caso contrário, os jogos e as brincadeiras coletivas seriam inviáveis. Já no segundo caso, que ocorre no plano do desenvolvimento da moral, as regras contribuem para a transição da heteronomia, período em que as normas são externamente orientadas, estabelecidas pelo poder da autoridade, para a autonomia, momento em que as crianças se constituem como legisladoras das regras dos jogos, ou seja, são sujeitos ativos na sua elaboração e modificação.

Os jogos e brincadeiras simbólicas se relacionam com a dimensão do faz de conta, pois pressupõem uma estrutura representativa, seja na capacidade de simular um objeto ausente ou uma situação fictícia. Essas atividades lúdicas contribuem para a consolidação dos esquemas das crianças, permitindo que a inteligência se estabeleça em patamares mais elaborados de organização6. Sobre esse contexto simbólico, Mello e Damasceno (2011) afirmam que o desenvolvimento da criança se caracteriza quando ocorrem algumas transformações na relação entre o significante e o significado, em um processo subjetivo no qual existe um predomínio da assimilação sobre a acomodação. Conforme os autores, “[...] a criança submete o real à sua interpretação, à aproximação da escolha de símbolos mais próximos da realidade (socialmente reconhecidos)” (MELLO; DAMASCENO, 2011, p. 42).

Na área da Educação Física brasileira, provavelmente, a obra mais expressiva na utilização dos pressupostos de Piaget é o livro Educação de corpo inteiro, de João Batista Freire (1997). Nesse livro, o autor destaca a importância das brincadeiras e jogos simbólicos, como os de faz de conta, na construção dos esquemas motores. Esquemas são formas singulares que os sujeitos utilizam para pensar e agir em diferentes situações. Por meio do faz de conta, as crianças inventam novas formas brincantes, dão significados às suas ações e afirmam as suas identidades, superando, dessa forma, a dicotomia entre corpo e mente. Segundo Freire (1997, p. 116), no campo simbólico “[...] pode-se fazer de conta aquilo que na realidade não foi possível”.

Pereira et al. (2019) afirmam que o jogo de faz de conta apresenta diversas contribuições pedagógicas no que se refere à interação entre seus praticantes, à valorização do conhecimento prévio das crianças, ao desenvolvimento e à ampliação das habilidades motoras e cognitivas exigidas pelas situações problemas que surgem durante o jogo, bem como à liberdade de escolha nas respostas e no exercício da criatividade.

O faz de conta em Walter Benjamin

O filósofo alemão Walter Benjamin, da Escola Crítica de Frankfurt, ajuda a compreender, por meio do conceito de mimeses, a importância da brincadeira de faz de conta. Schlesener (2009, p. 153) descreve a capacidade mimética como “[...] o talento de recriar relações, de configurar, de redefinir e repovoar os espaços, conforme a imaginação e os desejos [...]”. Nos processos miméticos, as crianças não reproduzem automaticamente as aprendizagens sociais. Elas transformam suas realidades, deixam suas marcas identitárias e produzem algo novo, que transcende à mera imitação, concedendo a elas a assinatura autoral. Nas palavras do próprio Benjamin (1995, p. 91), “[...] a criança que se posta atrás do reposteiro se transforma em algo flutuante e branco, num espectro. [...] E, atrás de uma porta, a criança é a própria porta; é como se tivesse vestido com um disfarce pesado e, como bruxo, vai enfeitiçar a todos que entrarem desavisadamente”.

Para Benjamin (1985, p. 108), a expressão mais fiel da capacidade mimética é a brincadeira infantil, que está impregnada “[...] de comportamentos miméticos que não se limitam de modo algum à imitação de pessoas”. Schlesener (2011, p. 130), afirma que “[...] a experiência infantil da brincadeira, da expressão mimética e lúdica, se constitui como o gérmen do novo que pode ser contraposto a experiência do adulto, adaptado as condições do mundo regido pelo modo de produção e de representação modernos”.

A experiência é algo fundamental para que a capacidade mimética possa se manifestar. Para Benjamin, experiência e vivência são duas dimensões distintas e, nos dias atuais, as experiências têm empobrecido, em que muitas coisas têm acontecido, mas poucas têm nos trazido experiências. Para as crianças, não é diferente. O estilo de “vida contemporâneo” tem limitado as experiências infantis, uma vez que as crianças, cada vez mais cedo, estão sendo submetidas a uma racionalidade adulta, voltada para a formação precoce: ballet, inglês, futebol, música, judô, reforço escolar, que fazem parte da rotina de muitas crianças.

A brincadeira de faz de conta se apresenta como um contraponto a essas vivências que anulam as experiências. Nos espaços-tempos das brincadeiras de faz de conta, as crianças têm a oportunidade, por meio da mimeses, de ressignificar a realidade, de imprimir as suas marcas identitárias aos padrões culturais estabelecidos pelos adultos. A própria Base Nacional Comum Curricular valoriza os campos de experiências das crianças na dinâmica curricular da Educação Infantil, considerando-os como uma oportunidade de interagir com pessoas, com objetos, com situações, atribuindo-lhes um sentido pessoal (BRASIL, 2018).

Mazzei et al. (2018), a partir de Walter Benjamin, compreendem que, nos processos miméticos, as crianças transformam suas realidades, deixam suas marcas pessoais e, constantemente, produzem algo novo, que transcende a mera imitação, concedendo a ela a assinatura autoral. No ato de brincar, expressam sua potência inventiva, assimilam os espaços de convívio, relações sociais, bem como as representações da vida ordinária. Conforme Benjamin (1984, p. 77), “se a criança não é nenhum Robinson Crusoé, assim também as crianças não se constituem nenhuma comunidade isolada, mas sim uma parte do povo e da classe de que provém”. Há um diálogo simbólico entre elas e a comunidade inserida.

Compreende-se, assim, que a criança está inserida socialmente e produz cultura conforme se apropria dos comportamentos e conhecimentos mediados pelos adultos. Ratifica-se a concepção de ator social e de sujeito histórico, uma vez que participa do cotidiano e interfere na sua própria história. É importante pontuar que tal reconhecimento não exclui a responsabilidade dos professores, mas reforça o compromisso ético para com as crianças.

O faz de conta em Merleau-Ponty

Maurice Merleau-Ponty nasceu no dia 14 de março de 1908, na França. Dentre suas produções, destacam-se A Estrutura do comportamento e Fenomenologia da Percepção, publicadas entre 1942 e 1945, ambas voltadas para a reflexão sobre o corpo e a consciência. Para Merleau-Ponty (1999), a percepção é o fundo sobre o qual todos os atos se destacam e ela é pressuposta por eles.

Conforme o autor, o mundo que nos é revelado por nossos sentidos e pela experiência de vida parece-nos, a primeira vista, o que melhor conhecemos. Contudo, não é possível confiar no que se apresenta diante dos olhos, pois não passa de uma falsa aparência. O autor pontua que o mundo corresponde ao meio natural e o campo de todos os nossos pensamentos e de todas as nossas percepções explícitas, em que o homem se constitui na relação com o mundo como um sujeito encarnado, uma vez que o homem está no mundo, constituindo-se como ser humano.

Para Merleau-Ponty, é através da linguagem que a criança aprende, pois a criança, ao nascer, apropria-se dos objetos culturais existentes e aprende a servir-se deles como os outros se servem, uma vez que o esquema corporal assegura a correspondência imediata entre aquilo que ela vê fazer e aquilo que ela faz. Todo esse processo é mediado pela linguagem. A partir dessa perspectiva, entende-se que a brincadeira de faz de conta é permeada pela narrativa, no diálogo com a criança e sua imaginação. Dessa forma, os objetos e as palavras ganham sentidos e significados para esse sujeito na relação com o outro, “[...] colaboradores em uma reciprocidade perfeita, nossas perspectivas escorregam uma na outra, nós coexistimos através de um mesmo mundo” (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 475).

No campo da Educação Física, Simon (2013) indica que as pesquisas e atividades sobre o movimento humano têm voltado seu foco para as crianças pequenas, especialmente para o processo de constituição desse ‘universo infantil’. Nessa aproximação, Merleau-Ponty tem se constituído um importante interlocutor, tendo em vista sua perspectiva de que criança vê o mundo de um modo diferente do adulto. Tais percepções possibilitam que se construa uma relação com o mundo em permanente diálogo com os adultos, mediada pela linguagem.

De acordo com Simon (2013), as experiências proporcionadas pela visão, pela imaginação com uma história ouvida ou lida (o faz de conta), pelo corpo com uma dança são experienciadas por inteiro, pela corporeidade, pela consciência intuitiva que pertence ao ser humano desde o nascimento. Tal afirmação encontra respaldo em Merleau-Ponty (2004), pois o autor afirmar que, na percepção primordial, as distinções do tato e da visão são desconhecidas até o momento em que a “ciência do corpo humano” ajuda a distinguir nossos sentidos. “A coisa vivida não é reconhecida ou construída a partir dos dados dos sentidos, mas se oferece desde o início como o centro de onde estes se irradiam” (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 130).

No campo de estudos do movimento humano, os modos de acontecimento da percepção, presentes no se-movimentar, têm, em Elenor Kunz, uma referência para a Educação Física. Simon e Kunz (2014) se debruçaram sobre as questões da imaginação, uma vez que consideram “esta capacidade pouco estudada ainda, e com grande potencial de liberdade, no que diz respeito ao movimento humano, e principalmente na compreensão do brincar-e-se-movimentar da criança” (SIMON; KUNZ, 2014, p. 55).

Conforme Simon e Kunz (2014), a atividade proposta pelo professor traz a sua intencionalidade e proporciona o encontro para que a experiência ocorra. Todavia há um transbordamento das aprendizagens, uma vez que o mundo vivido da criança e o que todos sentem ao viver a mesma vivência depende da percepção, ou seja, ocorre na relação entre o particular e o universal. Os professores "devem não só criar e exprimir uma ideia, mas ainda despertar as experiências que a enraizarão nas outras consciências" (MERLEAU-PONTY, 2004, p. 135).

O faz de conta é uma brincadeira que permite alcançar o universo infantil, colabora com o desenvolvimento integral da criança. De acordo com Farias, Wiggers e Viana (2014), a partir de Merleau-Ponty, o corpo é a condição primeira de “estar-no-mundo”, ou seja, trata-se de um sujeito encarnado. Na interação com o mundo, cada gesto é um objeto refracionário, são representações particulares e únicas, que ganham sentidos nas relações entre os sujeitos, na experiência compartilhada. Reforça-se a perspectiva da criança como ator social, um sujeito que participa na produção de cultura, produz sentidos e significados no se-movimentar, representado na relação homem-mundo.

O faz de conta em Willian Corsaro

William Arnold Corsaro é professor titular da Faculdade de Sociologia da Universidade de Indiana, Bloomington, nos Estados Unidos. Esse autor é um dos principais representantes do campo da Sociologia da Infância em sua corrente interpretativa. Para Mello et al. (2016, p. 134), esse campo “[...] busca superar a perspectiva da criança como um ‘ser-em-devir’, para focalizar as suas características como ‘ser-que-é’, na completude de suas competências e disposições”. Para Sarmento (2013), a Sociologia da Infância procura romper com a visão “adultocêntrica” de educação, que anula as potencialidades criativas e subjetivas das crianças. Esse rompimento, segundo Mello et al., 2016 (p. 134), “[...] pressupõe a análise dos mundos infantis a partir da sua própria realidade, da auscultação da linguagem da criança e da compreensão das suas culturas de pares”.

Um dos principais conceitos formulados por Corsaro foi o de “reprodução interpretativa”, que permite compreender as crianças sob um novo enfoque, tirando-as da condição subalternidade em relação aos adultos, que as veem como incapazes e incompletas, apenas pelas suas ausências. O autor compreende que o termo “interpretativa” abarca os aspectos inovadores da participação das crianças na sociedade, “[...] significa que as crianças não apenas internalizam a cultura, mas contribuem ativamente para a produção e a mudança social (CORSARO, 2009, p. 31).

É na brincadeira de faz de conta que a reprodução interpretativa encontra o seu maior espaço de expressão. Dentre as principais fontes que inspiram as crianças nesse tipo de brincadeira, destacam-se os contos infantis, as lendas populares e os desenhos animados veiculados pela mídia. As brincadeiras de lutinha, por exemplo, muitas vezes personificadas pelos heróis e vilões de desenhos animados, constituem formas singulares sob as quais as crianças produzem culturas. Criar e reconhecer as produções culturais infantis, em diferentes contextos sociais, sobretudo, na escola, perpassa pela valorização das brincadeiras de faz de conta.

No campo da Educação Física, a pesquisa de Barbosa, Martins e Mello (2017, p. 12) analisou a reprodução interpretativa das crianças em uma brincadeira de faz de conta em um Centro Municipal de Educação Infantil de Vitória/ES, localizado em uma comunidade marcada pela violência. Com base Corsaro (2011), os autores notaram que as crianças operaram com o contexto social e incorporaram, em suas brincadeiras de faz de conta, elementos do cotidiano, como armas, tiros, pessoas em conflito com a lei e comportamentos que representam as abordagens policiais.

Ao brincar com questões relacionadas à violência, proveniente do contexto onde a escola está inserida, as crianças foram acrescentando elementos lúdicos e fictícios na situação de faz de conta. Em um primeiro momento, pode parecer que esse tipo de brincadeira acaba contribuindo para a reprodução da violência. Contudo, concordamos com Jones (2004, p. 12) quando afirma que:

Explorar o que é impossível, perigoso demais ou proibido, para elas, em um contexto controlado e seguro, é uma ferramenta importante para que aceitem os limites da realidade. Brincar com o ódio é uma maneira valiosa de reduzir seu poder. Ser mau e destrutivo na imaginação é uma compensação vital para a loucura a que todos nós precisamos nos submeter se quisermos ser uma pessoa boa.

Corsaro (2011, p. 128) apresenta o conceito de cultura de pares como sendo um “[...] conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e preocupações que as crianças produzem e compartilham em interação com as demais”. Assis (2015) nos diz que, para efetivação de práticas centradas nas crianças, é necessário que o professor adote uma postura reativa (CORSARO, 2005), ou seja, que ele aguarde e observe as reações das crianças em relação à sua presença e aos encaminhamentos adotados nas aulas. A não observância dessa orientação inibe as manifestações espontâneas e criativas das crianças.

O conceito de reprodução interpretativa corresponde ao fio condutor das análises e discussões dos trabalhos encontrados (ASSIS, 2015; BARBOSA, 2018; GUIMARÃES, 2018; MARTINS, 2015; MAZZEI et al., 2018). No campo da Educação Física, na Educação Infantil, esse conceito permite reconhecer que as crianças e suas infâncias são afetadas pelas sociedades e culturas das quais são membros, que elas possuem a capacidade de receber a tradição cultural transmitida pela família e pela escola e em transformá-la, adequando-a a suas práticas sociais no âmbito das relações entre pares.

O faz de conta em Michel de Certeau

O historiador e filósofo francês Michel de Certeau (1925-1986) é um dos principais representantes da História Cultural, movimento que combina as abordagens da antropologia e da história para olhar as tradições da cultura popular e interpretações culturais da experiência humana. Embora Certeau não tenha escrito especificamente sobre as brincadeiras de faz de conta, o conceito de consumo produtivo, por ele proposto, tem sido utilizado pelas áreas da Educação e da Educação Física para compreender como os seres humanos ressignificam os bens culturais que lhes são ofertados.

Para esse autor francês, há uma estética da recepção que demarca formas particulares de apropriação cultural, ou seja, os seres humanos não assimilam passivamente as formas culturais que lhes são oferecidas: “Uma criança ainda rabisca e suja o livro escolar; mesmo que receba um castigo por esse crime, a criança ganha um espaço, assina aí sua existência de autor” (CERTEAU, 1994, p. 94). Nesse sentido, as crianças apresentam um modo peculiar de se apropriar dos bens culturais como sujeitos ativos nas relações sociais e produção de cultura.

A brincadeira de faz de conta, a partir de Certeau, tem ajudado a compreender as crianças como praticantes do cotidiano, como autoras de suas próprias vidas que reinterpretam, incessantemente, a cultura que estão inseridas. As crianças, com os seus corpos e com as suas ações sobre o mundo, desafiam cotidianamente o modelo de escolarização centrado nos adultos e encontram no faz de conta um terreno fértil para exercerem as suas inventividade e autorias. Mais do que uma atividade lúdica, com predomínio da fantasia e da não-literalidade, a brincadeira de faz de conta, ancorado em Michel de Certeau, tem se configurado como espaço/tempo de criação e de afirmação identitária das crianças.

No campo da Educação Física, as ideias de Certeau começaram a circular com mais intensidade a partir dos anos de 2000. Os Grupos de Estudos Proteoria7 e Naif8, localizados na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), têm se destacado no cenário nacional pela vasta produção de teses, dissertações, livros, capítulos de livros e artigos que dialogam com os postulados desse autor. Klippel (2013) analisa os usos e apropriações que as crianças fazem dos jogos e das brincadeiras nas aulas de Educação Física na Educação Infantil, constatando que as ressignifações das atividades lúdicas são mediadas, em grande parte, pelas situações de faz de conta. Martins (2015) investigou o papel dos jogos e brincadeiras de faz de conta no desenvolvimento do protagonismo das crianças na Educação Infantil. Já Barbosa (2018) discute o papel do faz de conta e da imaginação nas brincadeiras lúdico-agressivas que ocorrem no cotidiano da Educação Infantil.

Os trabalhos encontrados (ASSIS, 2015; BARBOSA, 2018; GUIMARÃES, 2018. MAZZEI et al., 2018) indicam, ainda, que outros conceitos de Certeau são mobilizados para compreender as artes de fazer desses praticantes da Educação Infantil. Mazzei et al. (2018, p. 158) entendem que “[...] a criatividade das crianças é mobilizada como tática para confrontar o estabelecido, agindo como um ato de resistência, ao ressignificar padrões culturais instituídos”.

As apropriações dos conceitos de Certeau pelos pesquisadores da Educação Física, sobretudo no que tange sua compreensão sobre a cultura e do homem ordinário, tem contribuído para o reconhecimento e a valorização das produções culturais das crianças nos cotidianos da Educação Infantil, de modo que elas sejam reconhecidas em suas inventividades, imaginações e autorias, principalmente aquelas manifestadas por meio das brincadeiras de faz de conta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Provavelmente, por conta das fontes escolhidas e dos descritores selecionados, muitas produções acadêmico-científicas da Educação Física que discutem as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil deixaram de compor este artigo. Não tínhamos a pretensão de esgotar todas as possibilidades, mesmo porque não caberia nos limites deste texto. Nossa intenção foi produzir, de maneira exploratória, um Estado do Conhecimento para compreender como as produções acadêmico-científicas da Educação Física têm dialogado com as brincadeiras de faz de conta no contexto da Educação Infantil. Para tanto, apresentamos os conceitos centrais dos autores que fundamentam as produções analisadas e, posteriormente, como cada trabalho discute as brincadeiras de faz de conta nas instituições infantis.

Mesmo com os limites já apontados, este estudo propiciou importantes reflexões para a compreensão do tema. A primeira delas, decorrente do período temporal em que os trabalhos analisados foram publicados, é a hipótese de que o interesse da Educação Física pelas brincadeiras de faz de conta ocorreu de maneira concomitante com as mudanças nos documentos orientadores da Educação Infantil, que passaram a considerar as crianças como sujeitos ativos em seus processos de desenvolvimento e de socialização. Nessa perspectiva, as brincadeiras, sobretudo as de faz de conta, não são concebidas apenas como meio, como recurso metodológico para a promoção de diferentes aprendizagens, mas como capital cultural lúdico capaz de potencializar as agências das crianças. Há necessidade de ratificar essa hipótese a partir de outras investigações sobre o tema.

Outra importante constatação é a pluralidade de autores e de conceitos mobilizados pelas produções acadêmico-científicas da Educação Física para abordar as brincadeiras de faz de conta na Educação Infantil. Apesar dessa diversidade, que consideramos salutar para a área, as produções analisadas compartilham em comum a ideia da brincadeira de faz de conta como atividade lúdica sobre a qual as crianças exercem as suas práticas autorais, produzem cultura e têm as suas subjetividades reconhecidas e valorizadas. Esses trabalhos sinalizam que, por meio das brincadeiras de faz de conta, é possível retirar as crianças da condição de anomia social e considerá-las como sujeitos sociais competentes, capazes de pensar e agir sobre si em seus mundos de vida.

A Educação Física, no contexto da Educação Infantil, pela natureza epistemológica do seu objeto de ensino, tem a responsabilidade no processo de difusão e de preservação das manifestações da cultura lúdica infantil, sobretudo daquelas relacionadas à cultura corporal de movimento. Nesse processo, as crianças não recebem passivamente os bens culturais que lhes são ofertados, pois há uma estética da recepção, em que elas ressignificam as brincadeiras mediadas pelas escolas/professores. Desenvolver uma escuta sensível e um olhar atento para os usos e apropriações que as crianças fazem dessas brincadeiras é condição imprescindível para que os direitos infantis saiam do plano teórico e se efetivem nos cotidianos das instituições infantis. Sinalizamos para a necessidade de as crianças se apropriarem dessas manifestações culturais como capital cultura lúdico, para que ampliem as suas possibilidades de brincar, de serem crianças e de viverem plenamente as suas infâncias.

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1 Segundo Corsaro (2011, p. 32), a cultura de pares se caracteriza como “[...] um conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e interesses que as crianças produzem e compartilham na interação com seus pares”.

2Para Muller e Hassen (2009), agência é a capacidade dos indivíduos para agir independentemente e fazer escolhas próprias.

3Foi utilizada a restrição de comparação “contém; é exato” pois a intenção foi encontrar artigos provenientes da Educação Física (contém), e que esses artigos abordassem as brincadeiras de faz de conta, por isso, utilizamos “é exato” a fim de encontrarmos o termo em específico.

4Perspectiva presente nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil - RCNEI (BRASIL, 1998), documento que antecedeu as DCNEI (BRASIL, 2010; 2013) e a BNCC (BRASIL, 2018).

5A grosso modo, signo é tudo aquilo que está no lugar de outra coisa. A palavra borracha, por exemplo, indica o objeto para apagar a escrita feita a lápis. Por meio dos signos, os seres humanos conseguem representar simbolicamente a sua realidade, não precisando da presença material dos objetos para operar com eles.

6Para Piaget, organização é a tendência do ser humano em criar sistemas cada vez mais complexos de conhecimentos, assim, a inteligência não é o acúmulo de informações, mas a maneira cada vez mais elaborada de lidar com elas.

7Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física.

8Núcleo de Aprendizagens com as Infâncias e seus Fazeres.

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LICENÇA DE USO Os autores cedem à Motrivivência - ISSN 2175-8042 os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution Non-Comercial ShareAlike (CC BY-NC SA) 4.0 International. Esta licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, desde que para fins não comerciais, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico desde que adotem a mesma licença, compartilhar igual. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico, desde que para fins não comerciais e compartilhar com a mesma licença

PUBLISHER Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Educação Física. LaboMídia - Laboratório e Observatório da Mídia Esportiva. Publicado no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade

EDITORES Mauricio Roberto da Silva, Giovani De Lorenzi Pires, Rogério Santos Pereira

EDITOR DE SEÇÃO Letícia de Assis

REVISÃO DO MANUSCRITO E METADADOS João Caetano Prates Rocha; Keli Barreto

Recebido: 06 de Outubro de 2020; Aceito: 05 de Maio de 2021

andremellovix@gmail.com

bia.andreatta3@hotmail.com

alexandremarchiori@yahoo.com

CONTRIBUIÇÃO DE AUTORIA Concepção do manuscrito: A. S. Mello, B. A. Scottá Coleta de dados: A. F. Marchiori, B. A. Scottá Análise de dados: A. S. Mello, B. A. Scottá, A. F. Marchiori Discussão dos resultados: A. S. Mello, B. A. Scottá, A. F. Marchiori Produção do texto: A. S. Mello, B. A. Scottá, A. F. Marchiori Revisão e aprovação: A. S. Mello

CONFLITO DE INTERESSES

Não há conflito de interesses neste trabalho

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