Introdução
A formação inicial e continuada, do(a) professor(a) da educação infantil, têm sido debatidas em termos de que saberes e conhecimentos são relevantes à mesma.
Neste estudo, apresenta-se uma pesquisa do tipo Estado da Arte, com vistas a responder a uma problemática voltada ao campo da formação do professor da educação infantil, ou seja, se há pesquisas que abordam a mesma na modalidade a distância.
Viu-se, nas últimas décadas, após a homologação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - nº 9394/1996, a educação a distância ser reconhecida como modalidade de ensino. Desde então, surgiram documentos oficiais e políticas de formação que tiveram, nesta modalidade, a via de difusão do conhecimento e formação docente.
Teve-se como foco na discussão teórica, de que o curso de Pedagogia EaD atende a uma demanda de professores que buscam a continuidade de sua formação. E, neste, encontra-se a área da educação infantil, sendo uma das etapas a serem atendidas em termos formativos para a docência com crianças pequenas, o que exige uma proposta que articule fundamentos da área e práticas integradas a diferentes linguagens ou campos de experiência da educação das crianças.
Observa-se que, a modalidade a distância tem sido ampliada no campo da formação continuada dos(as) professores(as) da educação infantil, voltada ao atendimento de discussões teórico-práticas e metodológicas pontuais, em especial nas redes de ensino municipais. Também, emergem propostas de formação continuada em projetos extensionistas, os quais integram professores pesquisadores das universidades e professores em exercício na educação infantil, o que exige por parte dos envolvidos a discussão conjunta, mobilização de conhecimentos, pesquisas em diversas fontes, mediação por meio da tecnologia, planejamentos diferenciados, além de análises e avaliações das ações desenvolvidas nas instituições de ensino.
A formação do professor da educação infantil: aspectos gerais
Abordar a formação do professor da educação infantil envolve uma área que possui a sua especificidade, considerando o atendimento de crianças de 0 a 5 anos que demandam em seu atendimento ações de educação, cuidado e brincadeiras.
As crianças que estão na etapa da educação infantil possuem necessidades diferenciadas das crianças dos anos iniciais do ensino fundamental: ainda estão descobrindo a fala e o andar; o interagir com outras crianças; querem mais atenção; necessitam que as atendam em situações de higiene, sono e alimentação.
Nesse contexto, compreender que essa criança é inventiva, sujeito social, que possui uma história e convive com outros sujeitos sociais aprendendo nessa relação é ponto preponderante para que, o(a) professor(a), dessa etapa, contemple em sua formação saberes e conhecimentos variados, atendendo às peculiaridades da docência com crianças pequenas.
No que tange aos espaços de formação docente, muitos são os cursos de formação continuada que trazem temáticas do trabalho pedagógico na educação infantil, promovidos pelas Secretarias Municipais de Educação, pelo Governo Federal por meio do Ministério da Educação (MEC). No que se refere à educação infantil, o “Pacto Nacional para a Alfabetização na Idade Certa” incluiu a formação continuada para docentes que atuam nesta etapa, com materiais que abordam o que é ser docente na educação infantil, ser criança, discussões sobre currículo e linguagem, e a linguagem oral e escrita. Estes materiais trazem, em seus volumes, um enfoque quanto a relevância da leitura de histórias para as crianças, numa vertente dialógica e interativa, além de critérios para os(as) educadores(as) selecionarem materiais adequados para a faixa etária com a qual trabalham.
Quanto a formação inicial, em nível de Ensino Médio, o MEC possui o Programa “ProInfantil”, que realiza-se na modalidade a distância, com o objetivo de que os profissionais, atuantes em instituições públicas e privadas sem fins lucrativos, que não possuem o mínimo exigido pela legislação, preconizado no Artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB nº 9394/1996), possam realizar a mesma. O curso possui duração de dois anos e estrutura-se em áreas que atendem a demandas de conhecimentos do ensino médio, bem como fundamentos da educação e a ação docente na educação infantil.
No que se refere a formação em nível de graduação, o curso de Pedagogia, na modalidade a distância (EaD), contempla em uma de suas áreas de formação a docência na educação infantil e tem sido um espaço bastante ampliado em termos de matrículas. No âmbito das Instituições Públicas de Ensino Superior, os cursos de Pedagogia EaD estão vinculados à Universidade Aberta do Brasil (UAB), com aberturas de turmas para professores da rede pública, seja como primeira ou segunda licenciatura, para atender a uma formação específica do campo de atuação destes, o que está vinculado ao Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR/MEC). Conforme dados da Sinopse da Educação do Ensino Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP,2016), este curso chegou a 379.738 matrículas no total, sendo que destas, 354.030 estão no setor privado (67%), e no setor público 25.738 (33%).
A área da educação infantil, no curso de Pedagogia EaD, trata dos fundamentos, políticas e práticas para a inserção profissional nas instituições que atendem crianças nessa primeira etapa da educação básica. A exigência mínima para que o docente atue nessa área está determinada na LDB nº 9394/1996, em seu Artigo 62:
Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco) primeiros anos do ensino fundamental, é oferecida em nível médio na modalidade normal (BRASIL, 1996, p. 19)2
Diante do exposto, o curso de Pedagogia assumiu a função da formação do professor da educação infantil em nível superior, fato este reforçado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia (2006):
Segundo as atuais Diretrizes do Curso de Pedagogia, a formação do professor para atuar na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental é de responsabilidade do curso de Pedagogia quando define, em seu artigo 2º, que as diretrizes para o curso de Pedagogia ‘se aplicam à formação inicial para o exercício da docência na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, nos cursos de ensino médio, na modalidade Normal, e em cursos de educação profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos’. A base da formação do pedagogo segundo as diretrizes curriculares é a docência, mas, além disso, prevê a formação para diversas áreas do ensino (Romanowski, 2012, p. 188).
Pelo fato das Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Pedagogia (2006) determinarem demandas variadas em termos formativos, compreendendo desde a educação infantil ao ensino médio, além da gestão. No que tange a educação das crianças menores, esta é atendida em poucas disciplinas e mencionada em outras que atentem aos aspectos da psicologia do desenvolvimento, políticas educacionais e metodologias de ensino (Pinheiro e Romanowski, 2010).
Romanowski (2012) comenta que as análises indicam que há uma formação limitada nestes cursos, pois existe, no máximo, um semestre de estágio supervisionado com crianças de 0 a 5 anos, e uma disciplina voltada aos fundamentos ou metodologia de ensino da educação infantil. Este é um elemento importante de ser observado em cursos de Pedagogia EaD, haja vista que a mediação professor-alunos e conteúdos dá-se pela via da tecnologia, o que pode ser, ainda, um limitador a mais, dadas: as dificuldades de compreensão de muitos estudantes; o não aprofundamento das leituras propostas nas disciplinas; e a ausência de participação em chats programados com os mesmos; bem como a pouca reflexão em fóruns, os quais deveriam ser espaços de troca acerca do que se está estudando.
Para a atuação docente na educação infantil, necessário se faz que muitos saberes e conhecimentos possam ser mobilizados e, para tanto, uma formação mais sólida é o fim a ser atingido. Nisto, há uma busca incessante para que o profissional que atua nesta etapa não seja aquele(a) considerado pajem, monitor(a), cuidador(a), entre outros termos que eram (e ainda são) utilizados para definir este profissional.
Tais termos utilizados durante décadas deve-se ao fato de que, para atuar com crianças, não era necessária uma formação específica, exigência esta recente em termos históricos. Mas, pode-se ressaltar que para atuar na educação infantil, em termos pedagógicos, a educação, o cuidado e a brincadeira são eixos que norteiam as ações. Isto necessita ser trabalhado desde a formação inicial dos profissionais.
Na formação docente, há saberes relativos às disciplinas específicas, fundamentos da área, saberes pedagógicos e saberes experienciais. Nesse processo de aprender, está presente o sujeito professor em constituição - aquele que vive, sente e reflete sobre o seu entorno e, portanto, constitui-se entre idas e vindas, na relação com o conhecimento, com a realidade que o circunda e com os pares.
Então, para se pensar o que seja a especificidade do ser professor(a) de crianças pequenas, “[...] é necessário levar em consideração: o seu perfil profissional, a sua formação, o sistema educacional no qual está inserida, como também as suas ações e relações nesse contexto social” (Garanhani, 2010, p. 192). Elementos estes que podem ser norteadores para um projeto de formação.
Os(as) alunos(as) de cursos de Pedagogia EaD necessitam conhecer conceitos básicos nas disciplinas que tratam da educação infantil, os quais abordam desde o conceito de criança/infância, aspectos da história da educação infantil, políticas vigentes que orientam as propostas pedagógicas das instituições, bem como conceitos relativos à avaliação e acompanhamento nessa etapa. Todos os elementos citados possuem seus desdobramentos, os quais vão sendo discutidos, refletidos, ao longo do curso, integrados também a outras disciplinas ligadas ao campo didático/metodológico, histórico/político, entre outras.
A área da educação infantil demanda ter a sua relevância desde a formação inicial, para que os(as) futuros(as) professores(as) possam reconhecer-se como profissionais. Assim, vai-se rompendo com o ciclo e a visão que secundariza o trabalho docente com crianças menores, pois em muitos momentos da história, a ausência de uma formação específica levou muitos profissionais a atentarem apenas a questões de cuidado, e com pouca ou nenhuma remuneração, pois
Considera-se que o trabalho do profissional de educação infantil necessita de pouca qualificação e tem menor valor. A ideologia aí presente camufla as precárias condições de trabalho, esvazia o conteúdo profissional da carreira, desmobiliza os profissionais quanto às reivindicações salariais e não os leva a perceber o poder da profissão (Kramer, 2005, p. 125).
A formação para a educação infantil no curso de Pedagogia a distância, pode ser este ambiente de construção da identidade profissional, de forma que os(as) alunos(as) ao terem mais aprofundada a aprendizagem quanto aos saberes necessários à atuação com crianças menores, terão maiores possibilidades de atuar de maneira mais efetiva.
Esta efetividade diz respeito aos profissionais terem objetivos claros quanto a sua prática e construção de uma profissão legitimada, com a busca por planos de carreira e ambientes melhores de trabalho em termos estruturais, desse modo, a continuidade dos momentos de análise e reorganização da prática e da profissão são essenciais.
A formação continuada dos professores, precisa fazer a diferença na escola, mediante o levantamento das necessidades que os docentes enfrentam no cotidiano e que necessitam ser articuladas a proposta de novo paradigma da ciência e da educação que influenciam diretamente na prática pedagógica, ou seja, um paradigma que propõe uma visão complexa, ampla e aberta às transformações do tempo presente. Com este propósito, pode se tornar significativo um processo educativo na formação das crianças para se tornarem cidadãs atuantes na busca de um mundo mais fraterno, solidário e humanizado (Behrens e Corrêa, 2017, p. 218).
A formação dos profissionais que atuam na educação infantil ocorre em diferentes momentos e espaços, pois acontece no agir intencional, quando se organiza o planejamento da prática pedagógica, na interação com as crianças e pares, nas ações conjuntas de formação continuada promovidas pelas secretarias municipais, na discussão de políticas educacionais e sua implementação, na busca solitária por referenciais teóricos que deem suporte a ideias e projetos que se pretende implementar. Todos estes aspectos pontuados dão base aos(às) professores(as) para sua evolução em termos teóricos, analíticos-reflexivos, e de superação de práticas repetitivas com as crianças, o que contribui para uma maior consciência profissional dos(as) educadores(as).
Caminhos metodológicos para o estudo
O estudo teve como questão inicial norteadora: Há pesquisas que abordam a formação de professores para a educação infantil, na modalidade EaD? Com esta problemática, buscou-se verificar se há trabalhos que abordam a formação docente para a educação infantil, suas lacunas e resultados apresentados, com vistas a demarcar um Estado da Arte acerca desta temática.
Romanowski e Ens (2006, p. 38-39) destacam que: “O interesse por pesquisas que abordam “Estado da Arte” deriva da abrangência desses estudos para apontar caminhos que vêm sendo tomados e aspectos que são abordados em detrimento de outros”. Desta forma, pode-se constatar que este tipo de pesquisa busca mostrar as produções já existentes e, demonstrar, se há temas ou vieses teóricos ainda não aprofundados.
As autoras indicam ainda que, para a realização do levantamento de trabalhos que compõem a base da discussão para se atingirem os resultados de uma pesquisa, há a necessidade de critérios estabelecidos pelo pesquisador em relação a busca de fontes, como: a definição de palavras-chaves; escolha dos bancos de coleta de fontes; a definição de critérios para a escolha das fontes; levantamento das temáticas, métodos de pesquisa e resultados obtidos com o material científico selecionado; e, a análise propriamente dita com a escrita de um relatório ou produção científica.
Neste caso, buscou-se realizar o levantamento dos dados no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no segundo trimestre de 2017. Ao todo emergiram na busca 217 trabalhos, os quais contemplavam artigos, livros, teses e dissertações. Contudo, para a análise neste estudo, selecionou-se apenas os artigos, os quais atendessem a alguns critérios, conforme indicação de Romanowski e Ens (2006): período de 2010-2016, pelo fato deste englobar pesquisas publicadas mais recentemente e, as palavras-chave: formação de professores, educação infantil e educação a distância. Isto foi efetivado a partir da leitura dos resumos e palavras-chave, para então proceder-se à leitura dos artigos na íntegra, com a finalidade de se analisar os mesmos quanto aos temas, metodologia dos trabalhos e suas inferências.
O estado da arte acerca da formação do professor da educação infantil, na modalidade EaD: algumas ponderações
O estado da arte compreendendo a busca de artigos no Portal de Periódicos da CAPES sobre a formação do professor da educação infantil, na modalidade a distância, no período de 2010-2016, obteve o seguinte aspecto quantitativo: 1 artigo no ano de 2010; nenhum artigo nos anos de 2011 e 2012; 2 artigos no ano de 2013; 1 artigo no ano de 2015; e, 4 artigos no ano de 2016. Então, totalizou-se 8 trabalhos acerca do tema e período em questão.
Os temas dos artigos selecionados versam sobre: Processo investigativo em disciplina de Fundamentos da Educação a Distância com professores da educação infantil e anos iniciais, com o objetivo de fazer emergir saberes desse processo formativo (Aragão e Pinheiro, 2010); Formação continuada de professores em exercício nas primeiras etapas da educação básica, oriundos de curso de Pedagogia EaD (Rinaldi, 2013); Formação continuada em TIC´s e análise dos diários de aula (Rigo e Vitória, 2013); Análise da formação de egressos em curso de Pedagogia, modalidades presencial e EaD (Bahia, 2015); Formação continuada em educação musical na modalidade EaD (Tomiazzi e Gitahy, 2016); Formação continuada para professores da educação infantil com foco no brincar (Soares, Côco e Ventorim, 2016); Docência e aprendizagem profissional com professores da educação infantil - trabalho cooperativo híbrido (Cardoso e Reali, 2016); Experiência de docência em curso de Pedagogia a distância, na disciplina de Educação Infantil II (Lopes, 2016).
Em relação à metodologia dos trabalhos e suas inferências, destacam-se os seguintes aspectos:
Um estudo qualitativo e com enfoque narrativo é apresentado por Aragão e Pinheiro (2010). Os dados emergiram de um curso de especialização de formação de professores-tutores de ciências e matemática, na disciplina de Fundamentos da Educação a Distância. Foram selecionados alunos deste curso, os quais atuam na educação infantil e anos iniciais, sendo 20 sujeitos participantes do estudo. O acompanhamento dos saberes elaborados no processo formativo deu-se por meio de Diários de Bordo e Memoriais produzidos pelos participantes, bem como anotações pessoais das pesquisadoras.
Aragão e Pinheiro (2010), ao realizarem este estudo com professores da educação infantil e anos iniciais, salientam que os dados revelados em Diários de Bordo, Memoriais e anotações pessoais das pesquisadoras traduzem uma possibilidade de que os sujeitos participem de sua formação, mobilizando seus conhecimentos profissionais, revendo-os, e analisando sua conduta no âmbito da tutoria na educação a distância:
Ampliado pela discussão de situações-problema simuladas da EAD e discussões coletivas, o processo de formação sob análise serviu-nos como via de reflexão sobre a própria prática docente dos sujeitos, gerando um mecanismo que permitiu, como quer Imbernón (2005), retomar suas experiências vividas, examinar suas atitudes, questionar e redimensionar sua prática profissional (Aragão, Pinheiro, 2010, p. 157, grifo das autoras).
As autoras indicam que, as vozes dos sujeitos envolvidos em processos formativos possam ser ouvidas como elementos indicadores das necessidades do contexto em que estes ensinam. Ressaltam, ainda, a interação e a troca de experiências como mobilizadoras de aprendizagens, e definidora de objetivos, atividades, ações, e práticas que reorientem o curso de formação.
Rinaldi (2013) retrata uma pesquisa de cunho qualitativo, num viés descritivo analítico, de uma experiência de parceria universidade-escola na formação de professores da educação infantil e anos iniciais, para estes docentes em exercício atuarem como formadores em curso de Pedagogia, na modalidade a distância. Esta proposta de formação deu-se na EaD, numa perspectiva colaborativa. Zeichner (2010) é um dos autores de expressão no artigo, pois destaca a formação híbrida dos profissionais, com a articulação universidade e escola, em ambientes e situações menos hierarquizadas, com a ideia de que os professores em exercício também produzem conhecimentos. Neste artigo está presente um conceito diferenciado, chamado Terceiro Espaço, que congrega a relação entre os conhecimentos, nem somente o conhecimento prático - nem somente o conhecimento teórico, com a ideia de uma formação que se aproxime mais da escola e da profissão docente. A autora Rinaldi (2013) salienta que a EaD pode ser um meio oportuno para a formação de professores, contudo, há que avaliar em que contextos a mesma se aplica. Os dados compõem-se de relatos individuais, fóruns, chats, organização de planejamentos e ações; com mais de 500 participantes do programa “Formação de Tutores Regentes para o curso de Licenciatura em Pedagogia UAB/UFSCar”.
Sobre as contribuições do programa “Formação de Tutores Regentes para o curso de Licenciatura em Pedagogia UAB/UFSCar” (2009-2013), Rinaldi (2013) destaca que foram muitas as aprendizagens, sobretudo pelo fato de que, a proposta de formação preconizada no programa dá voz aos professores da escola, aproxima os conhecimentos mais elaborados àqueles que mobilizam em suas ações, nas situações de ensino. Além disso, outras aprendizagens foram possíveis, como o uso das TIC´s para a interação entre os participantes; a análise conjunta entre os envolvidos; a colaboração necessária entre Universidade-Polos e Escolas; e, o estreitamento das relações entre professores formadores da Universidade e professores da escola. Ainda destaca,
Ao analisar as contribuições, nota-se que essa experiência de mudança na concepção da formação docente, a partir da qual o conhecimento acadêmico e o conhecimento dos professores das escolas públicas tem a mesma importância no processo de preparação profissional do licenciando, em que juntos pesquisadores e professores desenvolvem ações e práticas com um objetivo comum, pode ser compreendida como uma possibilidade de criação de espaços híbridos [...] (Rinaldi, 2013, p. 961).
Observa-se que na parceria entre Universidades-Escolas, a modalidade a distância pode servir como instrumento articulador da comunicação e diálogo, desde que a colaboração seja um elemento que permita o trabalho construído coletivamente, destacando singularidades, e propiciando com que os sujeitos da Escola sejam ouvidos no processo.
Rigo e Vitória (2013) apresentam uma pesquisa realizada a partir dos diários dos professores de educação infantil e anos iniciais, os quais participaram de uma formação continuada, na modalidade EaD, sobre Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC´s) Acessíveis. Portanto, os registros reflexivos realizados pelos sujeitos em foco serviram como dados para o estudo, e este teve a pesquisa qualitativa como abordagem. O Diário num Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é utilizado como uma ferramenta para o registro do aluno, em relação a vários temas propostos. Neste caso, o Diário era utilizado pelos professores cursistas como espaço para escreverem sobre seu desenvolvimento, leituras realizadas, pesquisas, a interação com os demais participantes do curso - ou seja, um espaço para autoavaliação. As autoras embasaram-se nos autores Zabalza (2004) e Weffort (1996) para a análise das descrições dos cursistas na ferramenta Diário.
Rigo e Vitória (2013), após análise de Diários de professores, em um curso de TIC´s na modalidade EaD, comentam que, os participantes revelaram em seus registros uma atitude reflexiva frente as atividades e proposta do curso, bem como foi um lugar de exposição sobre suas dificuldades pessoais: quanto ao uso da tecnologia, a inserção de conhecimentos do curso no cotidiano, dilemas sobre a escolha de caminhos a implementar, entre outros.
Assim, devidamente contextualizado podemos supor que o recurso “diário de aula” presencial ou virtual, traz à tona os conteúdos que foram trabalhados, possibilitando a apropriação de novos conhecimentos, consolidando o que se sabe e abrindo espaço também para o que ainda não se sabe ou para o que precisa ser pesquisado, estudado, pensado (Rigo e Vitória, 2013, p. 83).
Esta ferramenta possibilita, pelo que pode-se perceber, uma avaliação do contexto vivenciado, no qual os participantes realizam suas narrativas conforme as percepções do que aprendem e vivenciam, o que pode servir de ponto de partida para uma mudança conceitual, em termos de reorganização da proposta.
Bahia (2015) realizou um estudo com egressos de cursos de Pedagogia (modalidades presencial e a distância) e sua inserção como docentes. A autora comenta que, estudar o egresso que é oriundo de curso de Pedagogia a distância ainda é uma carência em termos de pesquisas, pois a formação continuada a distância possui maior aceitação em relação à formação inicial. Isto pelo fato da formação docente EaD obter críticas quanto ao aligeiramento e fragilização dos aspectos teóricos e práticos que compõem muitas propostas de cursos. A pesquisa contou com seis egressos do curso de Pedagogia (três oriundos da modalidade presencial e três da modalidade EaD), os quais são docentes na etapa da educação infantil e anos iniciais. Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados o questionário (levantamento de perfil) e entrevistas gravadas para posterior descrição. Para a análise destes, a autora buscou a Análise de Conteúdo (Franco, 2003).
Para Bahia (2015), a pesquisa realizada com egressos de um curso de Pedagogia, modalidades presencial e a distância, revela que os sujeitos participantes da coleta, professores na educação infantil e anos iniciais, concebem a escolha do curso por se identificarem com crianças e por sua “vocação”. No que diz respeito à modalidade EaD, esta permitiu, conforme os sujeitos, uma maior flexibilidade quanto à conciliação entre o estudo, trabalho e demais atividades, e o preço menor da mensalidade. A autora demonstrou, por meio dos dados, que os sujeitos relataram sentir preconceito por parte de colegas e familiares em virtude da escolha da carreira do magistério, e no caso de ser a distância o curso, ainda maior o mesmo. Os dados revelaram, também, que os egressos, em suas atividades profissionais, buscaram apoio em outros atores no cotidiano escolar, como professores mais experientes, que é necessário modéstia para pedir auxílio, diante de um contexto novo que traz inseguranças, independente da modalidade de formação inicial que se tenha. Especificamente sobre os egressos graduados no curso de Pedagogia a distância destaca-se como elemento presente a insegurança, mas que com o estudo de temas pontuais (estes não aprofundados no curso) aos poucos houve a superação.
Sobre os graduados no curso de Pedagogia presencial pontua-se, do mesmo modo, a insegurança para a intervenção junto às crianças, quanto a metodologias e teorias que os embase para lidar com situações mais específicas, como aquelas ligadas à inclusão. Com base na pesquisa efetivada, a autora sintetiza:
[...] pelo o que pudemos desvelar a partir das análises realizadas, podemos inferir que ‘a modalidade não importa’ para a obtenção de uma formação que dê conta de preparar os futuros professores adequadamente para o exercício profissional. Outras questões como a maturidade, a certeza pela escolha da profissão, o compromisso e a clareza sobre o papel docente e o envolvimento com as questões relacionadas ao cotidiano escolar, parecem ser definidoras para um bom desempenho profissional e para a construção da profissionalidade docente (Bahia, 2015, p. 311).
Já Tomiazzi e Gitahy (2016) relatam acerca de uma pesquisa realizada com seis professores da educação infantil, os quais realizaram um curso de aperfeiçoamento em linguagem musical na educação infantil, na modalidade a distância, para aquisição de conhecimentos teórico-práticos. Numa abordagem qualitativa de pesquisa, aplicaram questionários em etapas distintas do processo: quanto ao Referencial Teórico (conhecimento do tema), Questionário Perfil, e questionário voltado ao Saber Prévio e Saber Propriamente Dito. Este questionário buscou revelar o que os participantes do curso já conheciam sobre o tema, e como durante o mesmo foram modificando-se, em termos de aprendizado e suas visões.
Os autores Tomiazzi e Gitahy (2016) compreendem que a modalidade a distância, na formação continuada, torna-se um instrumento/meio para os professores buscarem recursos e aperfeiçoarem-se acerca de temas pertinentes ao contexto de trabalho pedagógico, conforme dados levantados com professores da educação infantil, os quais realizaram curso de aperfeiçoamento sobre a linguagem musical na educação infantil. Isto, sobretudo, pela flexibilidade de horários para o acesso aos conteúdos e atividades, bem como a possibilidade de que os professores possam buscar temáticas de formação que notam uma necessidade em suas práticas com as crianças.
Soares, Côco e Ventorim (2016)3 realizaram um levantamento de trabalhos científicos com foco na temática da formação continuada em articulação ao eixo do brincar, “[...]nos Grupos de Trabalho Educação de crianças de 0 a 06 anos (GT07) e Formação de professores (GT08) da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED), bem como no banco da Scientific Electronic Library Online (SciELO)[...]” (Soares, Côco e Ventorim, 2016, p. 92), tendo como referencial teórico-metodológico os determinantes da teoria de Bakhtin (2011). As autoras ressaltam que nem todos os trabalhos selecionados, ao todo dezoito, tinham como objetivo central tratar o tema pesquisado, o que permitiu dividir os trabalhos em dois grupos: um que abordou o tema de modo não específico e, outro mais diretamente (três dissertações: duas da região Nordeste e, uma da região Sul). Estes três trabalhos foram o destaque em termos de análise sobre o brincar e formação docente, bem como o aspecto teórico-metodológico dos autores. Nos vinte e nove textos selecionados do GT07 e GT08 da ANPED, não houve a vinculação do brincar à formação docente, o que resultou na análise destes temas em separado, não em sua articulação. Sobre isto, as autoras destacam que o brincar foi tomado nos trabalhos na perspectiva dos sujeitos, com filmagens, anotações em diário por exemplo, de momentos observados de brincadeiras; e em relação à formação, destacam que esta é mobilizadora da reflexão acerca do brincar nas práticas com as crianças. Nos periódicos da Scielo, encontraram um artigo com vinculação da formação e o brincar, e 21 artigos que abordaram o brincar e a educação infantil.
Para Soares, Côco e Ventorim (2016), os trabalhos científicos analisados, sobre a formação docente e o brincar, trazem a ideia de que o espaço lúdico e as brincadeiras têm que romper com a ideia do ensino de um conteúdo específico, pois é preciso reconhecer o espaço do brincar como algo crucial para proporcionar o desenvolvimento das crianças. A formação continuada poderia ser, então, espaço promotor para que as práticas brincantes pudessem ser debatidas e estimuladas aos professores que buscam essa formação e a compreendem em sua relevância. A formação, ressaltada pelas autoras, diz respeito a práticas pedagógicas brincantes, não apenas voltada à busca de um arsenal teórico quanto ao tema, e as mesmas alcançaram a seguinte percepção quanto ao brincar e a formação docente, a partir da pesquisa efetivada:
No conjunto dos textos, ganha destaque um conceito bastante abordado nos estudos da psicologia do desenvolvimento: a mediação. Essa incidência ocorre provavelmente devido à inserção das pesquisas num contexto de produção da área da Psicologia, em que a referência à brincadeira na interface com a mediação circunscreve uma perspectiva de desenvolvimento das crianças por meio do brincar. Nesse sentido, a preocupação com espaços para brincar, o incentivo à brincadeira e, mais ainda, a indicação de investimentos em propostas de formação de professores que propiciem estudos relacionados ao brincar demarcam as principais contribuições das pesquisas. Com isso, reiteramos um espaço para a produção de novos estudos que, além de propor um investimento na formação, situem a brincadeira na formação, buscando compreender como o brincar é abordado nos espaços formativos (Soares, Côco e Ventorim, 2016, p. 102-103).
O brincar é tomado como eixo articulador das propostas pedagógicas na educação infantil, e temática relevante para que seja abordada na formação inicial e continuada docente, com vistas a tratar o tema sob diferentes olhares teóricos e situá-los em contextos práticos, seja por meio da análise e reflexão crítica de pesquisas, nos estágios supervisionados, projetos extensionistas, projetos pedagógicos, ou como elemento constante do planejamento diário do professor.
Cardoso e Reali (2016) abordam um ambiente de formação híbrido, cujos sujeitos são pesquisadores, professores experientes e estudantes de um curso de Pedagogia EaD, tendo como instrumentos de coleta de dados as narrativas organizadas em um AVA, em função de uma pesquisa-intervenção na educação infantil. A docência é compreendida como um processo contínuo no espaço de trabalho com parceria universidade-escola, tendo como referenciais Mizukami et al (2002), Garcia (2002) e Zeichner (2010). O processo de inserção dos licenciandos nas instituições compreendeu o período de quinze meses, com professores mentores, e o planejamento organizado cooperativamente no Ambiente Virtual Terceiro Espaço, em quatro fases: construção das bases de intervenção colaborativa dos sujeitos envolvidos; definição de estratégias e experiências de ensino e aprendizagem; implantação da intervenção; e, elaboração de casos de ensino, resultado do processo de intervenção, o qual é base para outros contextos formativos, tendo como produto um material didático chamado de “Histórias de Professores”.
Sobre o projeto extensionista com pesquisadores, mentores e alunos de curso de Pedagogia EaD, em classes de educação infantil, Cardoso e Reali (2016) comentam que, cabe uma análise e discussão sobre o que os cursos de Pedagogia estão ensinando acerca dos saberes pedagógicos e de conteúdo para a etapa da educação infantil. Também, reflexionam, que se não há um espaço nos cursos de formação para essa particularidade, então as escolas estão assumindo essa formação “na prática” e questionam se, de fato, esta possui um viés colaborativo. Enfatizam que a experiência praticada colabora para uma formação mais aprofundada para a docência na educação infantil: “O trabalho de parceria escola-universidade, mediado por uma concepção híbrida de formação e com o auxílio de TDIC, mostra-se favorável para processos de aprendizagem e desenvolvimento profissional da docência. Principalmente quando o contexto da formação inicial é o da educação a distância [...]” (Cardoso e Reali, 2016, p. 229).
Lopes (2016) traz a experiência em um curso de Pedagogia EaD, na disciplina de Educação Infantil II. A partir das experiências como docente em disciplina EaD, membro de bancas com temas da Cibercultura, e projetos de extensão, a autora destaca que seu entendimento, em termos de educação a distância, é de que esta modalidade pode contribuir para o desenvolvimento da autonomia daqueles que buscam cursos com essa mediação, como também flexibiliza novas formas de aprender. Destaca a educação como um espaço de construção do conhecimento por meio das relações e formas de atuar na sociedade, sendo que as tecnologias imprimem uma cultura diferenciada nesse contexto. Tem como autores base: Schaff (2007), Mészaros (2005) e Morin (2001).
Para Lopes (2016), os cursos na modalidade a distância necessitam discutir aspectos ligados às políticas educacionais e políticas públicas de modo mais amplo, refletir sobre a democracia, haja vista o amplo alcance que a mesma possui em termos de cursos e matrículas de alunos. Para a autora o debate necessita existir nos cursos EaD, no intuito de humanizar as relações nestes, contribuindo para a construção da cidadania dos que se encontram em formação, os quais podem ser agentes na sociedade.
Algumas considerações para finalizar...
A formação inicial e continuada do(a) professor(a) da educação infantil não deve ser fragilizada e sem conexão com a realidade da prática docente. Muitos são os saberes e conhecimentos de cunho curricular, disciplinar, pedagógicos a serem trabalhados e discutidos nesse processo formativo. Tem-se em conta que, a formação inicial possui suas limitações quanto a essa amplitude de temáticas e abordagens a serem empreendidas no período dos cursos de Pedagogia por exemplo, mas a formação continuada pode abarcar questões que não foram aprofundadas e que emergem da atualidade, nas instituições que atendem as crianças na etapa da educação infantil.
Os trabalhados investigados trouxeram diferentes panoramas e vieses para a pesquisa e a formação do(a) professor(a) da educação infantil, contudo observa-se que a formação continuada foi mais explorada em termos de pesquisas no período contemplado, quando da escolha dos artigos científicos (2010-2016).
No cenário da modalidade a distância, surgem nos cursos outros instrumentos a serem analisados no âmbito da pesquisa, como diários de aula, memoriais, fóruns, conversas em chats, entre outros. Estes podem ser relevantes indicadores de como encontra-se o aprendizado dos sujeitos participantes dos cursos, no intuito de redimensionar as ações e propostas destes. Inclusive melhorando as taxas de desistências dos cursos EaD, que possuem, em muitos casos, grande evasão.
Foi notório que, os artigos que apresentaram experiências de formação incluindo pesquisadores de Universidades, professores experientes e licenciandos obtiveram resultados satisfatórios, possivelmente pelo fato de constituírem equipes que trabalham num viés colaborativo, no qual o diálogo vai se dando ao longo das atividades que são planejadas e avaliadas em conjunto. Nesses processos, as vozes ouvidas nas proposições geram possibilidades variadas e mais próximas da prática cotidiana das escolas.
Faz-se importante ressaltar, como destacado por Bahia (2016) que pesquisas com egressos do curso de Pedagogia, que realizaram sua formação na modalidade a distância, ainda é incipiente. É um indício de que é um campo que precisa ser explorado por estudos vindouros, abordando a inserção destes egressos, e avaliando aspectos dos cursos de Pedagogia EaD, com a perspectiva de aprofundar as questões relativas a qualidade dos cursos, proposições diferenciadas e ferramentas que possam trazer melhor interação entre professor-aluno e conhecimento.