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Acta Scientiarum. Education

versão impressa ISSN 2178-5198versão On-line ISSN 2178-5201

Acta Educ. vol.41  Maringá jan. 2019  Epub 02-Jan-2019

https://doi.org/10.4025/actascieduc.v41i1.41304 

História e Filosofia da Educação

Trapaças em avaliações escolares: uma análise estatística do comportamento humano

Cheat in school exams: a statistical analysis of human behavior

Trapacciones en evaluaciones escolares: una análisis estadística del comportamiento humano

Everton Diniz dos Santos1 
http://orcid.org/0000-0003-0809-6695

1Centro Universitário de Volta Redonda, Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, 1325, 27240-560, Volta Redonda, Rio de Janeiro, Brasil.


RESUMO.

Trapacear em avaliações se revela um problema educacional com efeitos deletérios ao indivíduo e ao país. Os meios para se inibir este comportamento são pouco eficientes e se baseiam apenas em medidas de repressão, como punições, e profiláticas, como limitação do número de itens portados em avaliações. Desse modo, este estudo propõem identificar o perfil comportamental de estudantes que trapaceiam em exames, para auxiliar na elaboração de estratégias adequadas a redução da frequência desta transgressão nas escolas e concursos. Para tanto se realizou uma pesquisa acerca do comportamento de indivíduos que declararam trapacear, ou não trapacear, em exames escolares. Os resultados destacaram que a postura de um indivíduo perante a transgressão em exames, se diferencia significativamente entre os gêneros, posicionamento religioso, nível de estudo entre outros elementos. Os resultados desta pesquisa foram empregados no delineamento do perfil comportamental humano perante ao hábito de ‘colar’, para auxiliar o docente na elaboração de estratégias eficazes para coibir esta transgressão, e suas consequências para a sociedade.

Palavras-chave: cola; comportamento; avaliações; estudante; ensino-aprendizagem

ABSTRACT

ABSTRACT. Cheating in exams is a great educational problem which cause bad effects both for the people than for the country. This behavior is usually inihibited by repression and prophylactic ways, such as punishment and the limitation of the number of items carried during the exams respectively. Thus, this study proposes to identify the behavioral profile of students to assist in the elaboration of appropriate strategies to reduce the frequency of cheating in exams. To perform this study was made a popular research which inquired about the behavior of persons who cheatings during exams, and others who never cheated in any exam. The results highlight the importance of to know who are the students in class to establish a correct teaching-learning process because the acts of cheatings differs significantly between groups of persons with different genres, religious options, level of study, and other elements elucidated in this study.

Keywords: cheating in exams; behavior; exams; student; teaching-learning

RESUMEN.

Trampas en evaluaciones se revela un problema educativo con efectos deletéreos al individuo y al país. Los medios para inhibir este comportamiento son poco eficientes y se basan sólo en medidas de represión, como castigos, y profilácticas, como limitación del número de artículos portados en evaluaciones. De este modo, este estudio propone identificar el perfil conductual de estudiantes que trampen en exámenes, para auxiliar en la elaboración de estrategias adecuadas para reducir la frecuencia de esta transgresión en las escuelas y concursos. Para ello se realizó una investigación sobre el comportamiento de individuos que declararon engañar, o no engañar, en exámenes escolares. Los resultados destacaron que la postura de un individuo ante la transgresión en exámenes, se diferencia significativamente entre los géneros, posicionamiento religioso, nivel de estudio, entre otros elementos. Los resultados de esta investigación fueron empleados en el delineamiento del perfil comportamental humano ante el hábito de ‘collar’, para auxiliar al docente en la elaboración de estrategias eficaces para cohibir esta transgresión, y sus consecuencias para la sociedad.

Palabras-clave: cola; comportamiento; opiniones; estudiante; enseñanza; aprendizaje

Introdução

Determinar o limite entre o certo e o errado é uma tarefa essencialmente importante na evolução das sociedades, pois valores morais orientam a noção dos indivíduos e seus julgamentos acerca do que consideram correto (Johansen, 2014). Transpondo este conceito para a realidade escolar, as consequências de condutas imorais como furtar ideias e respostas alheias durante avaliações, ato popularmente conhecido como ‘colar’, implicam em problemas como o desperdício da oportunidade de o aluno desenvolver conhecimentos, comprometimento da eficiência do planejamento das aulas, e formação de profissionais sem conhecimento verdadeiramente atestado. Os desdobramentos da ‘cola’ afetam também ás políticas do Ministério da Educação e Cultura (MEC), posto que são baseadas em índices de desempenho escolar parcialmente adulterados em função do conjunto de estudantes que ‘colam’ (Barros & Franco, 2004; Silva, Rocha, & Yves, 2006; Ioschpe, 2017).

Inobstante as razões supracitadas, há problemas exclusivamente individuais relacionados ao ato de ‘colar’, tais como: o estudante que ‘cola’ limita sua capacidade de solucionar problemas de forma eficiente, se valendo apenas de meios honestos (Balbinot & Luz Ramos, 2014); quanto mais uma pessoa utiliza de meios desonestos para lograr êxito, e neste contexto se insere o ato de ‘colar’, mais tolerante a desonestidade ela se torna (Azevedo Barbosa & Caldas, 2012); sua moral se torna relativizada de modo que o conceito de certo passa a ser atribuído a tudo que lhe coloque em uma posição de vantagem em detrimento dos demais (Oddie, 1998); devido ao fato de frequentemente alcançar êxito por meio de trapaças, o indivíduo que ‘cola’ sucessivas vezes compromete a credibilidade que possui em seu meio. Por intermédio da ‘cola’, sobretudo aquelas que os professores e inspetores não detectam, o estudante aprende a desonestidade intelectual e a subornar e aceitar suborno, o que confere em si a base da corrupção (Virues‐Ortega, Hurtado‐Parrado, Cox, & Pear, 2014). Corrobora ainda com estas informações um estudo realizado pela UNESCO em 2016, o qual demonstrou que em países onde há mais ‘cola’ nas escolas, também há maior índice de desonestidade (Azevedo Barbosa & Caldas, 2012).

‘Colar’ tem se demonstrado um sério problema educacional brasileiro. As consequências desta transgressão causam malefícios tanto para o indivíduo quanto para o país. Os meios frequentemente empregados para se reprimir esta transgressão são pouco eficientes, e se valem unicamente da detecção do ato, por inspetores e professores, e pela limitação do número de itens portados no decurso da avaliação. Tendo em vista a ineficiência dos métodos de repressão, posto que de acordo com as estimativas deste estudo 7 em cada 10 alunos ‘colam’, este trabalho propõem identificar o perfil comportamental humano perante ao hábito de ‘colar’, para compor uma ferramenta capaz de contribuir com a elaboração de estratégias docentes para coibir o ato de ‘colar’, a curto e médio prazo.

Metodologia

Esse estudo se iniciou com a elaboração do questionário, empregado nas entrevistas, no software ‘Google Formulários’. As questões contemplaram os seguintes temas: (1) gênero, pois a sociedade se apresenta com distinção entre homens e mulheres e isto pode influenciar o comportamento humano perante a ‘cola’; (2) motivação para a ‘cola’, esta questão objetiva identificar as causas mais frequentes desta transgressão; (3) posicionamento em sala de aula, esta questão fornece dados para verificar a correlação entre as regiões da sala de aula e o hábito de ‘colar’; (4) disciplina que sofreu maior número de ‘colas’, esta questão objetiva verificar se as transgressões são específicas ou generalizadas; (5) nível de popularidade dos entrevistados, esta questão objetiva verificar se a ‘cola’ é condicionada pelo meio social que o transgressor integra; (6) religião e nível de seriedade com que praticam a religião que seguem, pois os credos compõem importantes fundamentos para a base moral dos indivíduos, e esta variável pode influenciar o comportamento humano perante a ‘cola’; (7) reprovações escolares e universitárias, o objetivo desta questão é prover dados para verificar a existência de correlações entre ‘colas’ e reprovações/aprovações; (8) predileção musical, considerando que muitos gêneros musicais transmitem ideologias, estilos de vestimenta, concepções políticas e posicionamento perante as religiões e instituições do estado, e que isto define o meio social especialmente de jovens, esta questão objetiva prover dados para correlacionar predileção musical e ‘colas’; (9) participação em ‘trotes’ universitários, o objetivo desta questão é verificar se há correlação entre a prática de ‘trote’, popularidade e o hábito de ‘colar’; (10) faixa salarial e nível de satisfação salarial, esta questão objetiva comparar a aceitação do mercado de trabalho correspondente aos indivíduos que ‘colaram’ e que não ‘colaram’ durante sua formação; (11) hábito de dormir regularmente em um mesmo horário, esta questão objetiva verificar a correlação entre sono regular, índice de reprovação, e ‘colas’; (12) grau máximo de educação formal, esta pergunta objetiva prever se indivíduos que ‘colam’, em comparação com os que não ‘colam’, se qualificam igualmente por meio da educação formal; (13) orientação política, o objetivo desta pergunta é colher dados necessários para testar a hipótese de o ato de transgredir em exames se desdobrar das políticas nacionais da educação implementadas por governos eleitos pela população. O link do questionário (https://goo.gl/forms/dINl81Iuh1ljte4g2), gerado pelo próprio software, foi disseminado por redes sociais por todo o país. Os dados oriundos das entrevistas foram organizados em tabelas de frequência simples e acumulada, ambas expressas em porcentagem. As hipóteses propostas para este estudo foram testadas estatisticamente pelo teste T de Wilcoxon, e as correlações foram determinadas pelo teste de correlação para postos de Spearman. A única exceção se deu com relação a variável popularidade, a qual apresentou uma distribuição normal e em face disto foi submetida ao teste t-student não pareado.

Como esta pesquisa decorreu de uma amostragem aleatória simples sobre variáveis categóricas, o tamanho amostral mínimo foi estimado em 195 entrevistas para prover resultados com significância mínima de 0,05 (probabilidade de erro de 5 %), e pelo menos 95% de confiança. No entanto foram obtidas 284 participações, das quais 232 se originaram de residentes do estado do Rio de Janeiro, ou de indivíduos que receberam sua educação formal neste estado embora residam em outra unidade federativa. Em razão destes números, o estado do Rio de Janeiro foi tomado como objeto de estudo. Os resultados das entrevistas foram divididos em dois grupos de 112 indivíduos segregados pelo gênero sexual que apresentaram. Cada um destes grupos foi novamente segregado em dois grupos de 56 componentes, em função da postura que adotaram perante ao hábito de ‘colar’. Os grupos foram nomeados da seguinte forma: Masculino ‘colou’, Masculino não ‘colou’, Feminino ‘colou’ e Feminino não ‘colou’.

Resultados e discussão

Concluída a etapa de coleta, análise e processamento dos dados das entrevistas, descrita anteriormente na sessão 2, foi observado que as características individuais da população variaram bastante em razão do hábito de trapacear em exames. Dentre as eventuais causas desta transgressão, os entrevistados elencaram a insegurança no próprio conhecimento, o despreparo pessoal para a avaliação, a dificuldade elevada das questões, e problemas pessoais que comprometem o aprendizado da matéria, como principais agentes motivadores. Em meio a população que ‘colou’ somente em um exame, 67% dos indivíduos do sexo masculino elegeram o despreparo como principal motivo, seguido por 33% que acusaram dificuldades pessoais no processo de aprendizado como causa principal desta transgressão. Por outro lado, embora a população feminina correspondente a este critério também tenha eleito o despreparo como principal motivador para a ‘cola’, a proporção com que este fator foi reconhecido pelas entrevistadas foi menor, da ordem de 42%, seguido por 25% desta população que reconheceu tanto a dificuldade elevada da avaliação quanto a insegurança como principais causas do hábito de ‘colar’. Somente 8% das entrevistadas reconheceram a dificuldade de aprendizado como principal fator para ‘colar’. Com respeito a população que ‘colou’ em vários exames, 42% dos entrevistados reconheceram o despreparo como principal motivo para ‘colar’, seguido por 29% que reconheceram a insegurança, 21% que reconheceram a dificuldade da avaliação, e 8% que reconheceram dificuldades pessoais no aprendizado. A população feminina correspondente a este critério apresentou o seguinte perfil: 37% reconheceram a insegurança como principal causa da ‘cola’ seguido por 35% que reconheceram o despreparo, e 14% que reconheceram tanto a dificuldade da avaliação quanto as dificuldades pessoais no processo de aprendizado (Figura 1).

Figura 1 Principais causas do hábito de ‘colar’ elencadas pelos entrevistados. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os resultados expostos na Figura 1 revelaram que o principal motivo para ‘colar’é o despreparo do estudante no momento da avaliação, visto que este fator foi eleito o principal por todos os grupos estudados. A cadeia de eventos que culmina no despreparo perante uma avaliação, é bastante longa, ramificada, e ainda apresenta correlações com os demais fatores elencados nas entrevistas como motivos preponderantes para ‘colar’. Por exemplo, a mera declaração de um indivíduo que justifica sua ‘cola’ em seu despreparo, pode decorrer da cultura da procrastinação (Sampaio, Polydoro, Silva Mercuri, & Rose, 2011), indisciplina (Endo & Constantino, 2012), dificuldades organizacionais (Monteiro, Vasconcelos, & Almeida, 2005), problemas pessoais (Santos & Marturano, 1999), e problemas de saúde (Rotta, 1975). Além disto, segundo D’Avila (2003), o despreparo, a ansiedade -maior nas mulheres que nos homens - e a insegurança, estão interligadas e se retroalimentam, contribuindo para o fracasso do estudante, fracasso das formas de se avaliar, e o fracasso das escolas. Sejam motivados por problemas pessoais, de saúde, ou meramente por procrastinação, o professor deve ponderar que uma parcela expressiva da turma não seguirá conforme suas orientações em aula. Considerando este fato, o docente deve propor atividades, em aula, capazes de preparar os alunos para as provas. Uma boa alternativa é empregar exercícios técnicos/científicos, que também contemplem a incursão de conhecimento empírico. Questões desta natureza asseguram que o professor detecte quando o aluno copia respostas de outras fontes, pois isto eliminaria a subjetividade esperada de uma questão parcialmente empírica, e permitiria ao professor reorientar o aluno em tempo para a prova.

Continuando a análise das características singulares da população, dentre o grupo de entrevistados que ‘colou’ somente em um exame, 67% dos indivíduos do sexo masculino não praticavam a religião que declararam, enquanto que o restante desta população (33%) foi constituído por ateus. Na população feminina correspondente a este critério, a maior proporção da amostra também se identificou como não praticante (58%), ou ateu (25%), mas também surgiu nesta categoria um grupo correspondente a 17% das entrevistadas, que se identificaram como tendo algum credo e o praticando. O grupo de indivíduos que ‘colou’ em vários exames seguiu a mesma tendência para ambos os sexos, contudo o grupo de indivíduos que nunca ‘colou’ apresentou duas distinções significativas: 1º - A proporção de indivíduos religiosos praticantes foi a maior tanto para o gênero masculino quanto para o feminino; 2º - a população feminina correspondente a esta variável foi a única que apresentou a proporção de praticantes religiosos (23%), maior que a proporção de ateus (9%) (Figura 2).

Sob a perspectiva das crenças religiosas, os resultados demonstraram que a proporção de indivíduos que ‘colam’ é pouco afetada pelo gênero do entrevistado. Contudo, a população feminina pratica razoavelmente mais sua religião do que a masculina. De acordo com os dados deste experimento, a crença e a prática religiosa sugerem que o posicionamento do indivíduo se inclina no sentido de quem não ‘cola’ em avaliações. Esta observação corrobora e complementa o estudo de Cunha, Rios-Neto e Oliveira (2014), que demonstrou indistintamente com relação ao gênero, que estudantes não praticantes de religião apresentam pior desempenho escolar.

No entanto, a correlação entre estas variáveis não afeta, e nem é afetada, nitidamente pela postura da população entrevistada perante ao hábito de ‘colar’. Assim sendo, os índices de reprovação, tanto escolar quanto no ensino superior de entrevistados do sexo masculino que nunca ‘colaram’, foram respectivamente 27% e 21% inferiores aos índices observados em indivíduos que ‘colaram’ uma ou mais vezes. Com a população feminina estes índices foram maiores, alcançando cerca de 30 e 34% respectivamente (Figura 3).

Figura 2 Posicionamento religioso dos entrevistados. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 3 Posicionamento dos entrevistados relativo ao habito de ‘colar’; índices de reprovação escolar e universitária; hábito de dormir em um mesmo horário. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

À primeira vista este resultado apoia Cunha et al. (2014), ao ratificar a correlação entre religião, hábito de ‘colar’ e desempenho na escola, mas a leitura minuciosa destas variáveis sob o prisma dos entrevistados que ‘colaram’ apontam incongruências com a lógica proposta, pois os índices de reprovação escolar e no ensino superior são relativamente maiores em indivíduos que ‘colaram’ uma única vez, 20% e 33% para o sexo masculino respectivamente, do que em indivíduos que ‘colaram’ várias vezes. Com respeito a população feminina, durante o período escolar o efeito foi inverso em 20%, mas durante o ensino superior estudantes que ‘colaram’ em vários exames apresentaram um índice de reprovação 54% superior ao das estudantes que ‘colaram’ uma única vez. Evidentemente este resultado é incongruente quando comparado a população que nunca ‘colou’, visto que o resultado esperado - Índice de ‘cola’ crescer proporcionalmente ao índice de reprovação - não foi confirmado, em contrapartida demonstrou que estudantes que ‘colaram’ uma única vez não alcançam o mesmo nível de sucesso que os estudantes hábeis nesta prática. Ao se considerar os resultados já apresentados na Figura 1, é bastante razoável admitir que um estudante despreparado se sinta motivado para ‘colar’ pela primeira vez, mas por não saber ao certo o que ‘colar’ e nem como o fazer, acaba não sendo prolífico neste ato. Sendo assim, o baixo índice de reprovação dos indivíduos que ‘colaram’ várias vezes reflete a grande proporção de indivíduos que são aprovados no sistema de ensino brasileiro por meio de ‘colas’, e que não detém o conhecimento que deveriam para aprovação, resultando nos baixos índices observados na Prova Brasil (Silveira & Domeniconi, 2015) e ENEM (Uemura, Comini, Amorim, Comini, & Passador, 2016). Com relação ao hábito de dormir regularmente em um mesmo horário, o presente estudo não constatou qualquer correlação que afete diretamente a postura do aluno perante a ‘cola’. Porém, conforme indicado anteriormente, o despreparo e a dificuldade no aprendizado são dois grandes agentes motivadores desta transgressão, e neste contexto a rotina de sono bem estabelecida favorece o aprendizado e o preparo do aluno (Pereira & Louzada, 2012). Consequentemente, por silogismo é possível deduzir que estudantes que dormem regularmente em um mesmo horário são inclinados a não ‘colar’, sendo a rotina de sono uma medida ‘profilática’ para a ‘cola’.

O efeito do hábito de ‘colar’ sobre o apreço que o grupo nutri pelo transgressor pode ser medido por meio da popularidade declarada pelo entrevistado. Com respeito a esta variável, o presente estudo encontrou índices estatisticamente iguais entre os gêneros, mas distintos entre as categorias.

Para ambos os gêneros os indivíduos que nunca ‘colaram’ e os que ‘colaram’ várias vezes apresentaram índices respectivamente iguais a 3,2 em valor absoluto, enquanto que os indivíduos que ‘colaram’ uma única vez apresentaram índices absolutos menores: 3,0 para homens, e 2,9 para mulheres. Diferentemente do perfil de popularidade escolar delineado, com relação ao ensino superior houve expressiva flutuação entre as categorias e os gêneros. Com respeito ao grupo que ‘colou’ em apenas um exame, o índice de popularidade se manteve igual ao do período escolar para ambos os gêneros, já o grupo que ‘colou’ em vários exames apresentou uma redução de 6,5% para o gênero masculino, e um aumento de 18% para o gênero feminino. O grupo de entrevistados do gênero masculino que nunca ‘colou’, não apresentou desvio relativo aos valores encontrados no período escolar e no ensino superior, mas com respeito ao gênero feminino foi constatado uma redução em 3,3%. Para o gênero masculino os indivíduos que ‘colaram’ frequentemente, também constituíram o grupo dos mais populares tanto no período escolar quanto no ensino superior, já para o gênero feminino o efeito foi o mesmo com a única exceção de que a popularidade de mulheres no ensino superior que ‘colam’ ser a menor em relação a todos os demais cinco grupos estudados. Não foram observados desvios significativos, para ambos os gêneros, entre os valores relativos aos índices de popularidade no ensino superior, dos grupos que ‘colaram’ em um exame, e dos grupos que nunca ‘colaram’ (Figura 4). A Figura 4 também contempla a predileção musical e o índice de participação em ‘trotes’ universitários de cada grupo estudado, e revela que estes parâmetros crescem de maneira inversamente proporcional para ambos os gêneros. Com respeito aos grupos do gênero masculino, os entrevistados que ‘colaram’ em um exame apresentaram respectivamente índices iguais a 7% para a variável ‘predileção musical’, e 100% para a variável ‘participação em ‘trotes’ universitários’. Com respeito ao gênero feminino os valores encontrados foram respectivamente iguais a 9 e 44%. Os grupos de indivíduos que ‘colaram’ em vários exames e que nunca ‘colaram’, apresentaram respectivamente os seguintes índices para a variável ‘predileção musical’: 57 e 54% para o gênero masculino; 45 e 51% para o gênero feminino. Com respeito a variável ‘trotes universitários’, os índices encontrados foram: 38 e 34% para o gênero masculino; 38 e 27% para o gênero feminino. Os índices de popularidade relativos aos grupos para ambos os gêneros, tanto no ensino superior quanto no período escolar, são coerentes com o crescimento das curvas relativas ao índice de predileção musical, pois indivíduos musicalmente ecléticos são capazes de interagir com mais nichos do que indivíduos seletivos (Fernandes & Pulici, 2016). Como o objetivo dos ‘trotes’ é promover a integração dos calouros com os veteranos (Rios & Bastos, 2010), quanto menor o for a especificidade de posições e gostos de um indivíduo, maior será a sua aceitação por um ou mais nichos, e isto favorece ao ganho de popularidade conforme indica o perfil delineado para os grupos que ‘colaram’ em apenas um exame.

Independentemente das variáveis discutidas até o presente momento, o hábito de trapacear em exames apresentou uma incidência bastante elevada com relação as disciplinas da área de exatas, cerca de 70% ± 5% para todos os grupos de ambos os gêneros. A única exceção ocorreu com o grupo de indivíduos do sexo masculino que ‘colou’ em apenas um exame, visto que para este grupamento 33,3% dos entrevistados relataram dificuldades em exatas, outros 33,3% em humanas, e outros 33,3% relataram não ter dificuldades com qualquer disciplina. Com respeito a disciplinas da área das biológicas, apenas os grupos de indivíduos que nunca ‘colaram’ as reconheceram como as de maior dificuldade no processo de aprendizado, sendo 9% para o gênero masculino e 2% para o gênero feminino (Figura 5).

Figura 4 Índices médios de popularidade escolar/universitária, de predileção por estilo musical, e de participação em ‘trotes’ universitários. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 5 Índices médios de dificuldade por grandes áreas do conhecimento. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os resultados expressos na Figura 5 corroboram com trabalhos do MEC produzidos desde o início dos anos 90, os quais têm sempre demonstrado um problema estrutural no ensino e aprendizagem das disciplinas de exatas (Blando & Becker, 2015). Nos últimos ENEMs, a disciplina de matemática e suas tecnologias apresentou, em média, um índice de aproveitamento 0,9% inferior as demais disciplinas, e apenas 15% acima da nota mínima requerida pelo MEC para conferir o certificado de conclusão do ensino médio (Notas médias no Enem..., 2018). Contudo, é preciso destacar que a educação básica tem demonstrado um cenário menos desfavorável com relação ao aprendizado das disciplinas em geral. Mesmo assim, menos de um terço das escolas dos anos iniciais do fundamental atingiram a meta nacional para 2021, estipulada em 2005 pelo governo federal com base na nota média de países desenvolvidos (Moreno, 2017). Este panorama chama a atenção para o vício dos atuais agentes transformadores da educação brasileira, de atribuir a culpabilidade pelo fracasso escolar unicamente a escola, aos professores, ao governo, ao curriculum (Patto, 2004), elidindo deste julgamento duas variáveis independentes de fundamental importância: o comprometimento do aluno com as orientações que recebe na escola, e o comprometimento da família com a educação do aluno no período extra escolar (Firmo & Mendonça, 2013). No último censo escolar realizado pelo IDEB, do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental os alunos apresentaram desempenho escolar razoável, sobretudo em comparação aos anos seguintes, pois alunos do sexto ao nono ano foram piores, e alunos do ensino médio apresentaram índices ainda mais baixos que os da segunda fase do ensino fundamental (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [IDEB], 2016). Sem dúvida alguma, dentre todas as conclusões desdobradas deste censo a mais evidente é a correlação entre a idade dos estudantes e o rendimento escolar. Este quadro sugere que tanto as escolas vão se tornando obsoletas a medida que os alunos crescem, quanto os alunos vão se tornando menos aptos a absorver o que as escolas têm a ensinar. Contudo, a noção da iminência por uma reforma escolar não é atual, tem sido discutida a pelo menos duas décadas (Burgos & Canegal, 2011; Quadros Souza & Marin, 2005), e resultou na implantação do ‘novo ensino médio’ (Trindade & Chaves, 2004), ‘novo Enem’ (Santos Oliveira & Molina, 2013), mudança do ensino seriado para o anual (Carvalho, Pazello, Feres, Fernandes, & Pazello, 2014), todas táticas que objetivam ao menos solucionar parte deste problema. No entanto, pouco se tem discutido a respeito da reforma cultural do estudante, algo que reflete no modo de se pensar o aluno, e que também precisa ser feita para que, conjuntamente com as reformas estruturais da escola e da educação, possa refletir num ganho de qualidade de ensino/aprendizagem no Brasil. Deste modo, não bastaria o ambiente escolar se tornar mais personalizado e acolhedor (Freire, 2005), se os alunos não se dirigirem a ele com comprometimento (Uemura et al., 2016). Neste contexto, se deve buscar pelo rompimento com a cultura da procrastinação (Sampaio et al., 2011), com a inversão de valores desdobrada da tendência de valorizar aulas informais, que casam entretenimento e informação, em detrimento da qualidade assertiva das aulas expositivas, sob o único pretexto de que os alunos somente aprendem com facilidade aquilo que os diverte (Oliveira, 2018). Estas correntes pedagógicas de grande aceitação (Lemos & Zuin, 2015), que visam transformar as escolas em espaço de entretenimento, tem contribuído com a fluidez no caráter apresentada pelos estudantes que ‘colam’, ao desprepara-los para lidar com situações de estresse, como nas avaliações, conforme discussão decorrente dos resultados apresentados na Figura 1.

O ambiente escolar simula a infraestrutura de uma sociedade, visto que indivíduos de distintas origens e condições de vida, convivem por várias horas durante anos. Naturalmente, por vezes conflitos surgem e o jovem pode encontrar nesta experiência a oportunidade para desenvolver aptidões para solucionar problemas inerentes a vida adulta. Ainda seguindo este raciocínio, dentro de uma sala de aula há regiões selecionadas em função dos estigmas que os alunos carregam, como por exemplo: bons alunos se sentam mais à frente da sala, próximos ao quadro e ao professor; maus alunos se sentam somente ao fundo da sala, onde o professor não vê o que fazem; alunos desordeiros se sentam mais ao meio da turma, onde estão circundados por todos com quem interagem (Vieira & Maciel, 2009). Ainda em função disto, é muito comum que professores costumem fixar os olhos mais ao fundo da sala, para evitar ‘colas’ durante as avaliações, do que a frente da turma, no entanto os resultados do presente estudo demonstraram que este julgamento é bastante equívoco, pois: dos indivíduos do gênero masculino que se sentaram à frente da sala de aula, 34% ‘colaram’ frequentemente e outros 34% ‘colaram’ apenas uma vez, enquanto que 25% nunca ‘colaram’, ou seja, a maioria dos estudantes do gênero masculino que ‘colam’, se sentam a frente da turma no momento da avaliação. Com respeito ao gênero feminino, os valores encontrados foram respectivamente: 37, 25 e 37%, indicando que a proporção de alunas que ‘colam’ e que se sentam a frente da turma é aproximadamente igual ao número de alunos que nunca ‘colaram’. Esta mistura observada na população feminina acaba por favorecer o mimetismo dos estudantes transgressores. Ao meio da sala de aula, a maioria dos estudantes do gênero masculino que nunca ‘colaram’ ocupam posições nesta região (Figura 6).

Com respeito aos dados referentes a Figura 7, foi observado que os indivíduos do sexo masculino que ‘colaram’ em um exame apresentaram 100% de seus representantes detendo apenas o 1º grau completo. O perfil feminino delineado deste grupo apresentou 100% de seus integrantes detendo tanto o 1º quanto o 2º grau completos, 67% declararam ter concluído o ensino superior, e 17% declararam deter título de pós-graduação. Com respeito aos entrevistados que ‘colaram’em vários exames, o gênero masculino apresentou respectivamente os seguintes índices: 100% detendo tanto o 1º quanto o 2º completos, 88% concluíram o ensino superior, e 28% são pós-graduados. O gênero feminino desta categoria de entrevistados apresentou os seguintes índices: 100% detendo o 1º completo, 95% detendo o 2º completo, 56% concluíram o ensino superior, e 12% são pós-graduadas. Já o grupamento de 15 indivíduos que nunca ‘colaram’ apresentaram para o gênero masculino índices iguais a: 100% detendo o 1º completo, 95% detendo o 2º completo, 75% concluíram o ensino superior, e 27% são pós-graduados. O gênero feminino desta categoria apresentou os seguintes índices: 100% detendo tanto o 1º quanto o 2º completos, 82% concluíram o ensino superior, e 32% são pós-graduadas.

O crescimento desta variável está de acordo com o nível de formação educacional da população brasileira, o qual demonstrou redução do número de analfabetos, e aumento do número de indivíduos com 1º, 2º, ensino superior e pós-graduação - especialmente mestrado e doutorado - nos últimos anos (Brasil teve aumento de 80%..., 2017). No entanto, com respeito ao hábito de ‘colar’, foi observado que indivíduos do sexo feminino que nunca ‘colaram’ alcançaram níveis de educação formal mais elevados que os demais grupos deste experimento. Com respeito ao gênero masculino, o perfil delineado para o grupo que nunca ‘colou’ não desviou significativamente do perfil do grupo que ‘colou’ várias vezes, mas sim do grupo que ‘colou’ uma vez, o qual apresentou o menor grau de educação formal desta pesquisa. Estes resultados corroboram com a hipótese de indivíduos que ‘colam’ uma vez se preocuparem menos com o desempenho escolar do que as demais categorias presentes neste estudo. No entanto, com respeito a presente variável, o gênero feminino se mostra um exceção.

Figura 6 Posicionamento em sala de aula ocupado pelos entrevistados durante avaliações. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 7 Índices máximo de educação formal dos entrevistados. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Com respeito aos dados referentes a Figura 8, foi observado que os indivíduos do sexo masculino que ‘colaram’ em um exame ganham salários em torno de R$ 2.000 mensais, sendo que 50% deste grupo manifestou ser satisfeitos com seus ganhos. Considerando o gênero feminino desta variável, observou-se que os ganhos médios giram em torno de R$ 1.125 mensais, sendo que 14% deste grupo declarou ser satisfeito com o rendimento que possui. Com respeito aos indivíduos do sexo masculino que ‘colaram’ várias vezes, os ganhos salariais e o nível de satisfação com o que receberam alcançaram índices aproximadamente iguais a R$ 2.100 e 58%, enquanto que os índices alcançados pelo gênero feminino foram respectivamente iguais a R$ 761 e 42%. Por fim, os índices de ganhos salariais e nível de satisfação com o que receberam, alcançados pelos grupos de entrevistados que nunca ‘colaram’, foram respectivamente iguais a R$ 2.309 e 42% para o gênero masculino, e R$ 1.928 e 55% para o gênero feminino.

Indivíduos do sexo masculino apresentaram rendimentos salariais tecnicamente empatados entre os grupos que ‘colaram’ uma vez e grupos que ‘colaram’ várias vezes. Contudo o grupo que nunca ‘colou’ apresentou rendimento salarial quase 20% acima dos demais grupos. Com respeito ao gênero feminino, o grupo que nunca ‘colou’ apresentou um ganho ainda maior, cerca de 35% com relação aos demais grupos. Estes resultados demonstram que indivíduos que ‘colam’ são profissionalmente menos valorizados do que indivíduos que nunca ‘colaram’ mas isto não implica necessariamente que estes indivíduos são menos realizados profissionalmente que os demais, até mesmo porque o nível de satisfação salarial masculino do grupo que nunca ‘colou’ foi o menor dentre todos os grupos de ambos os gêneros. Com o gênero feminino o efeito foi inverso, visto que o grupo de entrevistadas que nunca ‘colou’ apresentou o maior índice de satisfação salarial de todo o experimento considerando ambos os gêneros. Este perfil sugere ainda uma hipótese que explica a diferença entre o nível salarial de homens e mulheres, sendo em média cerca de 20% menor para as mulheres que nunca ‘colaram’ e 35% menor para as mulheres que ‘colaram’, posto que por serem expressivamente menos satisfeitos com seus rendimentos, indivíduos do sexo masculino que nunca ‘colaram’ têm um fator motivador a mais para buscarem melhores salários do que as mulheres que nunca ‘colaram’. Este mesmo fenômeno se repete de forma inversa com relação ao grupo de indivíduos que ‘colaram’ uma vez, os quais apresentaram para ambos os gêneros os piores salários, posto que o gênero feminino é pouco contente com o que ganha quando comparado ao gênero masculino desta categoria.

Com respeito aos dados referentes a Figura 9, foi observado que 33,3% dos entrevistados do gênero masculino que ‘colaram’ em um exame apresentaram orientação política voltada para a direita, esquerda ou não apresentaram orientação política alguma. Quanto ao gênero feminino deste grupo, 8,3% das entrevistadas se identificaram como voltadas a direita ou ao centro, enquanto que 25% se identificaram como de esquerda e 58,3% se identificaram como não tendo orientação política alguma. Quanto ao grupo de indivíduos que ‘colaram’ em vários exames foi observado que, 28% dos entrevistados do gênero masculino apresentaram orientação política voltada para a direita, 36% apresentaram orientação política voltada para a esquerda, 16% apresentaram orientação política voltada para a o centro, e 20% não apresentaram orientação política alguma.

Figura 8 Relação entre o índice de satisfação salarial e a remuneração mensal dos entrevistados. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

O gênero feminino desta categoria teve que, 13,9% das entrevistadas se declararam de direita, 20,9% se declararam de esquerda, 11,6% se declararam de centro, e 53,5% declararam não possuir orientação alguma. Quanto ao grupo de indivíduos que nunca ‘colou’, o gênero masculino apresentou o seguinte perfil: 41,4% dos entrevistados se declararam de direita, 26,8 se declararam de esquerda, 10,7% se declararam de centro, e 21,4% declararam não possuir orientação política. O gênero feminino desta categoria apresentou a seguinte representatividade: 26,7% das entrevistadas se identificaram como de direita, 8,8% se identificaram como de esquerda, 25% se identificaram como de centro, e 39,3% declararam não possuir orientação política alguma.

Da observação dos resultados presentes na Figura 9 decorreu que os indivíduos do gênero masculino se mostraram em média 30% mais preocupados com a política do país, do que indivíduos do gênero feminino. Esta notória disparidade, observada a décadas pelos poderes da república, motivou a criação da Lei nº 13.165, de 29 de setembro de 2015 (Reforma Eleitoral), para incentivar a participação feminina na política do país (Barros, 2016). A análise destes resultados contempla ainda que para ambos os gêneros, indivíduos que ‘colaram’ em um exame se mostraram menos interessados em política que os demais grupos. O grupo de indivíduos do gênero masculino que ‘colaram’ em vários exames, se mostrou pouco mais interessado em política - cerca de 2% - que os indivíduos que nunca ‘colaram’. Com respeito ao gênero feminino, o grupo que nunca ‘colou’ apresentou interesse político maior, que o das entrevistadas que ‘colaram’ várias vezes, em cerca de 15%. Dentre os entrevistados de ambos os gêneros que assumiram certo posicionamento político, se observou: maiores frequências de indivíduos de direita nos grupos que nunca ‘colaram’, e maiores frequências de indivíduos de esquerda nos grupos que ‘colaram’ várias vezes. Os indivíduos que manifestaram orientação central foram a minoria em todos os grupos, exceto no grupo de indivíduos do gênero feminino que nunca ‘colou’, no qual a orientação a esquerda foi a menos citada nas entrevistas. Naturalmente o posicionamento político de uma pessoa é norteado por diversos fatores sociais e culturais, contudo de acordo com de Oliveira (2013), a diferença fundamental entre direita, esquerda e centro se dá no campo dos valores, atitudes e crenças singulares de cada grupo. Consequentemente estes conceitos norteiam a postura ética adotada por uma pessoa nas mais variadas situações cotidianas, seja na hora de votar em seus representantes, seja na hora de escolher entre transgredir ou não em avaliações. Este resultado evidência a importância de se considerar a hipótese de uma cadeia de eventos cíclica, que culmina nos baixos índices da educação brasileira, e nas elevadas taxas de ‘colas’ em avaliações, se desdobrar das políticas institucionais do MEC. É preciso considerar que todo e qualquer ministério do governo é liderado por um ministro indicado pelo presidente da república, que por sua vez foi eleito pela população.

Portanto, considerando que todo o governo é eleito por seu viés ideológico - seja de direita, centro ou esquerda - que representa os posicionamentos da maioria da população num determinado momento histórico, é bastante razoável admitir que o ministério da educação seguirá a proposta ideológica deste governo e que isto impactará nos bancos das escolas, no fazer docente, no compreendimento do discente, e nos valores éticos. A presente argumentação concorda com Frigotto (2017), Ribeiro, Pontes e Moreira (2016), autores que julgam que todos os tipos de conhecimento são ideológicos, posto que derivam de um contexto social, político, econômico, histórico e cultural.

Figura 9 Posicionamento político dos entrevistados. 

Fonte: Elaborado pelo autor.

Conclusão

‘Colar’ tem se demonstrado um sério problema educacional brasileiro. As consequências desta transgressão causam malefícios tanto para o indivíduo quanto para o país. Considerando a ineficiência dos meios empregados para se reprimir esta transgressão, o presente estudo propôs identificar o perfil comportamental humano perante ao hábito de ‘colar’, para compor uma ferramenta capaz de contribuir com a elaboração de estratégias docentes para coibir o ato de ‘colar’, a curto e médio prazo.

Em face disto conclui-se que:

- Indivíduos que não se preparam adequadamente para as avaliações - especialmente de exatas -, não seguem com seriedade à algum credo religioso, não dormem habitualmente em um mesmo horário, não apresentam predileção por estilo musical, participam de ‘trotes’ quando ingressam na universidade, são repetentes de alguma disciplina, se sentam à frente da sala no momento da avaliação, e apresentam popularidade elevada, são mais inclinados a ‘colar’ do que indivíduos que delineiam um perfil oposto;

- Indivíduos que ‘colam’ uma vez apresentam desempenho escolar inferior aos que ‘colam’ várias vezes ou que nunca ‘colaram’, e logram atividades profissionais menos rentáveis que os demais grupos. Quando do gênero masculino são mais satisfeitos com o rendimento que possuem do que os demais grupos. O gênero feminino apresenta efeito contrário. Indivíduos que ‘colam’ em um exame, são menos interessados em política, menos populares e também se qualificam menos que indivíduos dos demais grupos.

Naturalmente todas as variável trabalhadas neste estudo oscilam em função de acontecimentos que modificam a cultura nacional em seu âmago. Deste modo, em razão da efemeridade humana e de suas sociedades, o perfil sugestivo para estudantes que hoje ‘colam’ habitualmente, poderá ser diferente no futuro. Sendo assim, o presente estudo não tem a pretensão de ser a solução final para o problema da ‘cola’ no Brasil, entretanto este trabalho revela um importante retrato da sociedade em sua atualidade, servindo como ferramenta docente para contribuir com a elaboração de estratégias capazes de eliminar a transgressão da ‘cola’ de maneira estrutural, a curto e médio prazo.

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Recebido: 17 de Janeiro de 2018; Aceito: 25 de Junho de 2018

E-mail: everton.santos@foa.org.br

INFORMACIÓN SOBRE LOS AUTORES Everton Diniz dos Santos: graduado em Biomedicina pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP - 2010), especialista em metodologia do ensino na educação superior (UNINTER - 2016), mestre em ciências biológicas (UNIVAP 2019), doutor em engenharia biomédica (UNIVAP - 2016). Atua profissionalmente como professor no curso de bacharelado em odontologia e educação física, e também no curso de licenciatura em educação física do Centro Universitário de Volta Redonda-RJ (UNIFOA). Pesquisador nas áreas de estatística, voltada a análise de comportamento humano/animal, e de ciências dos materiais. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0809-6695 E-mail: everton.santos@foa.org.br

NOTA: Declaro ter sido o único responsável pela concepção, análise e interpretação dos dados; redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito e ainda, aprovação da versão final a ser publicada.

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