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Acta Scientiarum. Education

Print version ISSN 2178-5198On-line version ISSN 2178-5201

Acta Educ. vol.41  Maringá Jan. 2019  Epub Oct 01, 2019

https://doi.org/10.4025/actascieduc.v41i1.48131 

HISTÓRIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Manuscritos escolásticos do físico Pedro Hispano (século XIII)

Manuscritos de la Escolástica del físico Pedro Hispano (siglo XIII)

Dulce Oliveira Amarante dos Santos1 
http://orcid.org/0000-0003-4885-7890

1Programa de Pós-Graduação em História, Faculdade de História, Universidade Federal de Goiás, Av. Esperança, s/n, Campus Samambaia, 74690-900, Goiânia, Goiás, Brasil.


RESUMO.

O presente texto busca problematizar a educação e a formação dos físicos nas faculdades de Medicina dos Estudos Gerais urbanos, no século XIII. A metodologia de ensino era comum à todas as quatro áreas do conhecimento universitário, Artes, Teologia, Direito Canônico e Romano e Medicina. Consistia em leitura pelos escolares e comentários e questões pelos mestres acerca dos textos das autoridades antigas e medievais. Em três bibliotecas nacionais europeias encontram-se as fontes manuscritas e edições impressas dos comentários e questões escritos pelo físico português Pedro Hispano (?1220-1277), quando atuou como mestre na Faculdade de Medicina de Siena entre 1246-1252. São elas: a da França, a de Espanha e a do Vaticano.

Palavras-chave: Estudos Gerais; Articella; Medicina; físico; Paris; Siena

RESUMEN:

El artículo trata de investigar, em lo siglo XIII, la educación de los físicos em las Escuelas de Medicina en los Studia Generalia, localizados en los centros urbanos. La metodologia llamada escolástica era um razgo común a las quatro áreas del conocimiento, Artes, Teologia, Derecho Canonico y Romano. El método incluya la lectura (lectio), los comentários y las quaestiones de los textos de las autoridades antiguas y medievales por los maestros. Hay fuentes manuscritas de los comentários y quaestiones escolásticas del físico Pedro Hispano em tres bibliotecas europeas: Biblioteca Apostólica Vaticana, Biblioteca Nacional de España y Biblioteca Nacional de Francia.

Palabras clave: Studia Generalia; Articella; Medicina; físico; Paris; Siena

ABSTRACT.

This paper discusses the education of physicians in the Schools of Medicine of the urban Studia Generalia in the 13th century. The Education methodology was the same for all four fields of knowledge: Arts, Theology, Roman and Canon Law and Medicine. It included reading by the scholars and scholastic commentaries and questions elaborated by the masters, The manuscript sources and print editions of the writings of the Portuguese physician Petrus Hispanus (?1220-1277), when he taught at Siena (1246-1252) are in the National Libraries of France and Spain and the Vatican Apostolic Library.

Keywords: Studia Generalia; Articella, Medicine, physician; Paris; Siena

Introdução2

Com o advento dos Estudos Gerais (Studia Generalia), instituições de ensino urbanas estabelecidas no Ocidente latino, entre os séculos XII e XIII, houve a ruptura em relação à educação médica no período anterior. De um lado, antes havia centros de estudos de prática médica em mosteiros beneditinos e de cônegos agostinianos com bibliotecas de manuscritos médicos da Antiguidade e Alta Idade Média. Havia também espaços internos terapêuticos, a saber, as enfermarias (domus infirmorum), boticas e jardins com plantas Medicinais. Em áreas externas, os hospitais de caridade eram os locais de acolhimento de pobres, desvalidos e enfermos da região. Muitas vezes esses monges e cônegos atendiam igualmente à população do entorno da comunidade religiosa, além de serem chamados para exercer a função de físicos em cortes régias de reinos europeus ou na corte pontifícia. Por outro lado, havia a educação informal de práticos (barbeiros, sangradores, curandeiros etc.), que ocorria geralmente no interior da família, de pai para filho ou de mãe para filha (parteiras).

O primeiro passo para a individualizar a Medicina como área de saber com características específicas ocorreu no séc. XI quando, o tradutor do árabe para o latim, Constantino o Africano, originário do Norte da África, estabeleceu-se como monge do mosteiro beneditino de Montecassino, no sul da Itália. Esse mosteiro ficava próximo da Escola de Medicina de Salerno, o primeiro centro de ensino médico na Europa, que influenciou os Estudos Gerais posteriores. Constantino traduziu do árabe para o latim obras médicas gregas e árabes, o que permitiu rastrear, por seu intermédio, o legado da Medicina antiga grega. Essas traduções constituíram-se no ato de nascimento da individualidade da Medicina na Europa ocidental devido ao estabelecimento de um corpus básico de ensino, a partir do qual se constituiu a base doutrinal sobre a qual se pode fundar e desenvolver a escolástica médica do XIII. Bernardino de Salerno, no final do século XII foi um dos primeiros a implantar o gênero do comentário no ensino médico.

O segundo passo no sentido da mudança no ensino ocorreu quando a Medicina se tornou uma das quatro áreas distintas de conhecimento contempladas na estruturação das faculdades nos Estudos Gerais: Artes, Teologia, Direito Canônico e Romano e Medicina. O vocábulo universitas, que originou a designação atual de universidade, representava o termo legal nos documentos oficiais para designar um corpo de mestres e estudantes dos recém fundados Estudos Gerais. Os escolares eram oriundos de diversas regiões da Europa em busca do conhecimento nas áreas acima citadas. Havia o corpo institucional vinculado diretamente ao papa, pois era o pontífice, que estabelecia uma doutrina de ensino a ser seguida pelos mestres universitários. Esses fundamentos garantiram a coesão interna entre essas escolas ou faculdades, e todas elas adotavam o método escolástico de ensino à sua maneira. A faculdade de Artes foi a responsável por manter a unidade metodológica da escolástica, uma vez que para dar continuidade ao estudo profissional - tornar-se teólogo, físico ou legista - era imperativo que os estudantes cursassem primeiro essa faculdade de saber filosófico predominante. Essa metodologia, em primeiro lugar, consistiu no estabelecimento do currículo com os textos canônicos de cada área do conhecimento, ou seja, no caso da Medicina as obras de autoridades da Antiguidade grega e da bizantina da antiguidade tardia e alto medievo, que deveriam ser lidas pelos escolares e comentadas pelos mestres. Portanto, os comentários tinham o objetivo conservar, transmitir e analisar os textos canônicos das respectivas autoridades (auctoritates). A técnica de se comentar seguia padrões lógico-linguísticos delimitados pelas obras de lógica formal reunidas no Organon (Instrumentos) de Aristóteles, cuja tradução do grego para o latim de Boécio (420-526) circulava no Ocidente. Dessa forma, independente da faculdade em que o mestre exercia o magistério, seu comentário deveria seguir uma fórmula comum a todos os outros cursos. Nesse sentido, os escolásticos transformaram-se em um corpo de comentadores. Até meados do século XIV, Paris, Montpellier e Bolonha foram os polos principais da escolástica médica e da formação de bacharéis e doutores oriundos de diversas regiões da Europa. Siena também se destacou por certo tempo e Pádua a partir de 1350 (Crisciani, 1999; Alessio, 2002).

Essa transformação no ensino possibilitou à Medicina universitária se firmar como estudo teórico-especulativo, embora iniciou-se também em Salerno com a associação entre Medicina e conhecimento científico. O teólogo Hugo de São Vítor (1096-1141) em seu Didaskalion separou a Física e a Medicina em dois ramos, a primeira como Filosofia ou ciência teórica e a segunda como arte mecânica, focando mais na prática cirúrgica. Assim a questão clássica levantada era sobre o caráter dessa área do conhecimento: ciência ou arte? Debate infinito que fazia da teoria uma ciência e da prática uma arte. Segundo Aristóteles, Medicina estava mais para a techné (ou ars), porque mesmo sendo uma ciência fundada em princípios universais, tem como objetivo o incerto, o particular, o que lhe confere o estatuto de arte, no saber fazer, na execução. Por outro lado, ela pode ser entendida como uma ciência, já que implica racionalidade, explicação causal, observação, indução e dedução, previsões e hipóteses. Techné pode ser compreendida como uma ciência prática fundamentada na experiência. Epistemé, um saber teórico com base em princípios universais. Assim, nesse debate estava em pauta, a razão e a experiencia na Medicina, ou seja, entre a parte teórica e a prática na formação dos físicos (Jacquart, 1995).

O manual escolar: a Articella

No curso de Medicina, sobretudo em Paris e Siena, havia o manual escolar, isto é, a coletânea de textos das autoridades médicas antigas e medievais a ser lida pelos estudantes e comentada pelos mestres. Em geral, segundo Monica Green (2019) essa antologia, Arte da Medicina (Ars Medicinae), foi estruturada inicialmente no mosteiro beneditino de Monte Cassino, no final do século XI pelo abade Desidério. A seguir foi utilizada na Escola de Medicina de Salerno com base nas primeiras cópias manuscritas por ela encontradas na Biblioteca Nacional de França (BNF). O número de títulos sofreu acréscimos ao longo do tempo e esse conjunto acabou por receber a denominação de Articella. Faith Wallis (2010) informa que ainda em Salerno, a primeira versão era composta por quatro escritos de autoridades greco-bizantinas, e que Bartolomeu de Salerno teceu comentários sobre todos:

Aforismos e Prognósticos (Prognostica), de Hipócrates 460-377 a. C., os quais circularam desde o mundo antigo, inclusive há manuscrito em latim do VII século em Ravena, mas são retraduzidos no século XI, o primeiro do grego e o segundo do árabe, provavelmente por Constantino. Esse fato reforça o interesse pela cultura grega na época.

Sobre os pulsos (De pulsibus) de Filareto (VII século), manual de diagnóstico bizantino traduzido diretamente do grego para o latim,.

Sobre as urinas (De urinis) de Teófilo (VII séc.), manual de diagnóstico bizantino

Introdução à arte de Galeno (Isagoge ad artem parvem Galeni), de Hunayn Ibn Isahq. Era um cristão nestoriano, que contribuiu muito, nos princípios do IX século, para o movimento de traduções do grego para o siríaco e para o árabe em Bagdá, de 129 obras de Galeno. O objetivo dessa obra era facilitar a leitura da Arte de Medicina de Galeno. Constantino, o africano efetuou a tradução para o latim, com adaptações e apelidou o autor com o nome latinizado de Johannitius. Tornou-se o texto modelo do ensino médico.

Acréscimos posteriores:

A Arte (Ars parva ou Tegni) de Galeno (II séc.), o texto mais curto da Arte da Medicina

Sobre as doenças agudas (De regimine acutorum) de Hipócrates

Viático ou Provisões para o viajante e nutrição para o estabelecido, de Abu Jazzar Ahmad traduzido do árabe para o latim por Constantino, o africano, no século XI3 na abadia de Monte Cassino. Conhecido pelo nome latino Viaticum peregrinantis.

Sobre as dietas universais (De Dietis universalibus), Sobre as Dietas particulares (De Dietis particularibus) e Sobre as urinas (De Urinis) de Ishaq Al Israili, conhecido pelo nome Isaac Judeu ou israelita.

Antidotário (Antidotarium) de Nicolau de Salerno (1110-1150), receituário de prática médica, com 115 fórmulas, organizado em ordem alfabética.

As obras enciclopédicas árabes foram introduzidas a partir de 1270, embora os mestres já as conhecessem e integrassem suas leituras:

Canon de Avicena (980-1037)

Livro da Compilação (Liber Continens) de Rhazes (865-925)

Correções (Colliget ou Correctiorum) de Averróis (1126-1198)

Esse conjunto de escritos gerou um grande número comentários e questões por parte dos mestres, que dialogavam entre si, pois cada um ao elaborar sua lição remetia-se aos comentários anteriores. Esses manuscritos estão espalhados por várias bibliotecas europeias.

Os escolares encomendavam esse manual aos estacionários (stationarius), isto é, livreiros juramentados (mercadores), que alugavam os textos (exemplaria) por partes ((pecia) para os copistas (artesãos). Houve, consequentemente, alteração na concepção do livro, que deixou de ser um tesouro, um objeto luxuoso e passou a ser considerado como livro-instrumento de ensino, dedicado à leitura e à multiplicação de cópias de estudo (Asúa, 1996).

A lição (lectio) era marcada pela oralidade. O primeiro momento era a etapa de leitura e interpretação de textos das autoridades, evitando qualquer opinião do mestre. O objetivo era retirar de sua análise todos os traços de subjetividade, a fim de alcançar uma reflexão metodicamente disciplinada. Outro modo de ensino diretamente relacionado à lição foi o gênero da quaestio (questão). Consistia-se em método subdividido em seis etapas: na primeira etapa o mestre (aqui ele assume uma condição de autor) deve elaborar uma série de questões que colocariam em xeque todas as máximas elaboradas pelos comentaristas que o antecederam no assunto; na segunda fase, na condição de um interlocutor imaginário, o mestre deve apresentar uma lista de argumentos contrários à sua tese, que são as ‘objeções’ (objectiones); na terceira fase apresenta a sua tese (sententia magistralis); na quarta fase defende sua tese das objeções; na quinta etapa desenvolve os argumentos que corroboram sua tese; na sexta e última fase refuta as objeções levantadas pelo interlocutor imaginário e as responde (responsio ad objectiones). O objetivo desse método é apresentar e resolver os argumentos contraditórios que a interpretação dos textos enseja (Alessio, 2002; Jacquart, 1995; Solère, 2002).

Em geral, nos cursos de Medicina com duração de quatro anos, havia as Lições ordinárias no período da manhã ministradas pelos mestres mais experientes. A tarde havia as Lições extraordinárias com mestres mais jovens. Em Bolonha, a Faculdade de Artes estava associada a Faculdade de Medicina e esse modelo foi seguido por Pádua e Florença e provavelmente Siena.

O gênero do comentário dos textos canônicos pelos mestres iniciou-se nos centros médicos de Alexandria no mundo antigo e chegou às correntes filosóficas ocidentais do século XII e XIII, sobretudo o aristotelismo árabe medieval. Além disso, essa didática dos comentários permitia grande flexibilidade ao possibilitar a introdução de novo material galênico e árabe e ampliar suas considerações. Por mais que esses textos-comentários tenham sido produzidos sob demanda específica, o fato de que ainda hoje existem muitas cópias manuscritas pode ser interpretado como indício de sua circulação nos meios universitários. Da parte dos estudantes de Medicina, eles adquiriam a habilidade de confrontar situações particulares de prática médica por intermédio da visão de um conhecimento científico baseado nas autoridades interpretadas pela razão (Salmón, 2000).

Na Faculdade de Artes, estabelecia-se o primeiro contato com a Filosofia natural aristotélica. As relações entre a Medicina e essa Filosofia remontam à Grécia antiga, mas no ensino universitário elas se estreitaram por intermédio da leitura e comentários dos livros naturais (libri naturales) aristotélicos. O acesso a essas fontes antigas ocorreu pela via da leitura árabe, que, por sua vez, gerou o assim chamado aristotelismo medieval. No princípio, quando os físicos subordinavam a Medicina à Filosofia natural, tratava-se da tentativa de compreensão do funcionamento do corpo humano a partir de princípios e teorias antigas. De um lado, os filósofos demandavam o direito de tratar os problemas médicos. Por outro lado, os físicos reclamavam os problemas relativos à saúde e à doença no interior de um campo intelectual próprio e partilhado com outros. Além disso, pleiteavam o tratamento racional e natural dos processos de vida e morte, das enfermidades com o auxílio do galenismo árabe da época. Os dois pensamentos se alimentavam entre si.

O Filósofo percebeu essa conexão entre os dois campos, já que a base física da natureza humana pode ser corrompida. Física explica as bases gerais da mudança natural ou movimento, evidenciando que os princípios gerais se tornam efetivos em séries de situações atuais, da cosmologia ao comportamento dos quatro elementos (água, ar, fogo e terra) e suas misturas. Nessa teoria os quatro elementos (ar, terra, água e fogo) se configuram como a origem de todas as coisas. O mundo sublunar está dividido em quatro esferas, cada uma relacionada a um dos elementos. Estes surgem de uma matéria primordial, cuja existência só pode ser percebida quando associada à certas qualidades, quente, frio, seco e úmido. Esse mundo sublunar é passível de geração e corrupção, isto é, sujeito às mudanças da matéria. Isso acontece com todos os seres vivos, susceptíveis à decomposição. Dessa maneira, saúde e enfermidade se tornaram processos naturais.

O Renascimento do século XVI, ao voltar-se para a cultura clássica, desqualificou toda produção intelectual do período anterior, a Idade Média. Assim, os comentários, como gênero textual, foram considerados simplesmente como exercícios de pura retórica. Esse (pré)conceito permaneceu por longo tempo até o século XX, quando os norte-americanos Lynn Thorndike e Pear Kibre (1937-1963), promoveram o levantamento e mapeamento de todos os incipits ou as primeiras palavras dos textos científicos em latim produzidos na Europa medieval, financiados pela Medieval Academy of America. Esse arrolamento permitiu fazer a atribuição de autoria dos escritos, na medida em que os incipits não se repetem entre os autores. Essa é a metodologia de manejo das fontes pertence à História do conhecimento científico medieval. A seguir, Thorndike (1934) compôs a obra monumental em oito volumes, A History of magic and experimental science, ou seja, o estudo metódico de todos os autores da Antiguidade até a contemporaneidade. Essa sistematização de bases documentais possibilitou o aparecimento de uma área interdisciplinar de pesquisa em História das ciências e depois, História da Medicina, primeiramente praticada por químicos, físicos, médicos, farmacêuticos e agora também por historiadores de formação. Favoreceu igualmente a ressignificação da produção do conhecimento científico na Idade Média, teórico e experimental, em seus diversos domínios: astrologia/astronomia, alquimia, botânica, física (Medicina), zoologia etc. Atualmente, a internet abriu caminho para outras formas de comunicação entre os medievalistas do mundo global. Nessa linha, uma iniciativa profícua foi a de Green (1990; 2019), professora de História da Medicina e pesquisadora do Center for Medieval and Renaissance Studies (ACMRS) da Arizona State University (EUA). É autora de uma série de obras sobre o mapeamento de manuscritos médicos em latim em bibliotecas de dois grandes escritores, Trótula, a sapiens matrona de Salerno e Constantino, o africano. Ela estruturou e gerencia o fórum de comunicação MEDMED-L, uma lista de pesquisadores e estudantes da História da Medicina medieval e renascentista. Esse rol com mais de 800 participantes espalhados por instituições de diversas regiões do mundo permite o intercâmbio de informações preciosas sobre o estado da arte, isto é, sobre bases de dados de acervos documentais on line, a biografia acadêmica dos participantes, publicações recentes, textos eletrônicos, além dos congressos e meetings internacionais. Ademais, promove contatos e intercâmbios acadêmicos entre os membros da lista com afinidades temáticas (Santos, 2010).

Na Biblioteca Nacional da França (BNF), em Paris, no sítio Richelieu, há um dos maiores acervos de códices de manuscritos médicos em latim medieval, muitos já digitalizados na Gallica (https://gallica.BnF.fr).

Os manuscritos dos comentários e questões médicas de Pedro Hispano

Há duas formas de acesso aos manuscritos das obras médicas atribuídas a Pedro Hispano. A primeira foi a de Meirinhos (2011), que em sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Letras (Filosofia) da Universidade do Porto, em 2002, realizou o levantamento das centenas de manuscritos atribuídos a ele, a partir das cidades europeias e suas bibliotecas. Essa produção que lhe é atribuída inclui textos basicamente de Filosofia e Medicina. A segunda maneira consiste no inverso, ou seja, os historiadores da Medicina no mapeamento realizado privilegiam os títulos das obras com seus incipits e a lista das bibliotecas, onde se encontram os manuscritos. Esse percurso foi iniciado com a obra de Thorndike e Kibre (1937-1967) já citada, depois seguido por outros pesquisadores como Schuba (1981) e Kristeller (1986).

Pedro Hispano integrou o primeiro grupo de físicos escolásticos que associou o saber científico e o ensino. Essa foi a característica marcante da escolástica médica do período. Esse grupo fez parte igualmente das cortes régias e pontifícias, além de fornecer respostas à demanda de assistência médica qualificada. Inclusive nesse momento questões médicas ocupavam espaços nas enciclopédias ou sumas, tais como a de Alberto Magno e Tomás de Aquino. Nascido em Lisboa (1215-1220), circulou pelos espaços culturais e políticos do século XIII: o Estudo Geral de Paris, onde fez seus estudos e o de Siena, onde foi mestre; a corte imperial de Frederico II, do Sacro Império Romano Germânico e do reino da Sicília, a qual hospedou muitos homens de saberes, a corte do rei de Portugal D. Afonso III (?) e a corte papal de Viterbo, onde encontrou rica biblioteca de manuscritos médicos. Sua trajetória culminou com sua eleição para papa João XXI (1276-1277), no período em que a formação no Estudo Geral de Paris consistia num requisito, que tornou possível a eleição de vários pontífices. Seu breve pontificado foi devido ao acidente na construção se seu escritório no palácio de Viterbo (Paravicini-Bagliani, 1995). Trata-se de um homem de saber que atuou em muitas frentes, mas o que nos interessa aqui é a produção do mestre escolástico (D’Ors, 1997; Meirinhos, 1996 e 2005; Tugwell, 1999).

Pedro Hispano, como físico, intérprete da natureza, necessitava da Filosofia natural aristotélica para ajudá-lo na composição de uma teoria médica universitária. Por outro lado, recorria às autoridades antigas e medievais para dar respostas aos desafios de seu tempo. Essa relação entre autor e autoridade no campo da Medicina evidencia o seu esforço para preencher as lacunas das explicações dos antigos. Assim, todo esforço de Pedro Hispano se dirigia no sentido da apropriação dos livros naturais aristotélicos em benefício da teoria médica. Por outro lado, adotou a noção galênica das qualidades (fria, quente, seca e húmida) dos quatro humores hipocráticos (sangue, bílis amarela, bílis negra), por ele revisados, e suas misturas, que denominou de compleição (complexio) ou temperamento.

Foi um mestre muito atuante dada a extensa produção de escolástica médica. O principal acervo dos manuscritos de seus comentários e questões em latim, encontra-se reunido no ms. 1877 da Biblioteca Nacional de Espanha, descoberto por M. Grabman, em 1927. A originalidade desse corpus do século XIII está na organização da antologia de comentários e questões de um único autor, apesar de estar incompleto com a ausência de algumas páginas e outras mutiladas. São manuscritos de dez títulos da lista preliminar e alguns acréscimos da Articella: Hipócrates (2), Constantino (1), Johannitius (1), Galeno (2), Isaac, o judeu (3) e Filareto (1). A exceção está na ausência de comentários ou questões de Sobre as urinas de Téofilo do primeiro rol, que foi substituído pelo texto atribuído a Isaac, o Judeu.

Além disso, colaborou na atribuição da autoria a Pedro Hispano. No início do ms encontra-se uma Tábua introdutória das questões (Tavola quaestiones librorum Petri Hispani) (ff. 01ra-23ra) para facilitar seu manuseio pelos leitores (Ver Figura 1, do fólio 1). Em outras bibliotecas, por exemplo, na Biblioteca Apostólica Vaticana (BAV), fundo Palatina Lat. os mss. estão dispersos em vários códices de Micelaneas de diversos textos médicos. Ocorre também essa dispersão nas antologias da Biblioteca Nacional da França (BNF, Lat.). Nessa linha, são evidencias da atuação como mestre no Estudo de Medicina de Siena (1245-1250?) e do programa de lições do curso de formação de físicos.

Figura 1 Cópia do Fólio 1 do ms 1877 da BNE, com a Tavola quaestionum librorum Petri Hispani

Fonte: Foto da autora.

A estrutura de cada comentário do autor em exame é Divisão (Divisio), Suma (Summa), Exposição (Expositio) e Questões (Quaestiones). Assim, cada um dos capítulos do comentário é resultado de uma lição (lectio), pois termina com uma ou mais questões principais ou subsidiárias. Cada problema faz parte de uma questão articulada (quaeritut utrum), na qual ele mostra a posição da autoridade selecionada, o filósofo Aristóteles ou outro (ad auctoritatem philosophi) e após uma posição contrária (ad oppositum dicendum est) de Galeno ou outra autoridade médica. Em seguida, apresenta suas considerações (nos autem dicimus) passo a passo (ad quartum, ad sextum) antes da resolução do problema inicial, sua conclusão ou sentença com soluções racionais e conciliadoras. A cada questão o autor lançava mão das autoridades passíveis de interlocução conforme o tema médico debatido.

Muitas vezes há manuscritos apenas de questões, que passaram na segunda metade do século XIII, a ser o método mais adotado, embora a lição continuasse coexistindo. Assim, ao invés de analisar o texto completo das autoridades antigas e medievais, buscava enfocar seus aspectos problemáticos discutidos na disputatio, sessão em que mestres e escolares os debatiam. Serviam igualmente na preparação para os exames (Teeuwen, 2003).

Muitos dos mss. das Questões apresentam a atribuição de autoria ora no Incipit, ora no Explicit, ou em ambos. Por exemplo, no mss. Lat. 7798 da BNF, a coletânea de Quaestiones naturales de vários mestres, no de Pedro Hispano (f. 80ra-82rb) o incipit informa CXXVIII questões segundo o mestre de Hispania4 e o explicit (f. 82v) repete a mesma informação. Na maioria do mss. da BAV acontece da mesma forma essa atribuição, sobretudo no final do escrito. No entanto, em seus outros tratados médicos, a atribuição da autoria aparece no prólogo que antecede o texto, parte em que o autor se apresenta e informa ao leitor a respeito da estrutura do escrito e seu conteúdo (Santos, 2018).

Não há até o momento qualquer estudo acerca desse conjunto de comentários e questões agrupadas no ms. 1877 da BNE, como existem sobre outras obras, que lhe foram atribuídas. Nesse sentido, a primeira investigação sistemática foi concretizada por Salmón (1998), com o apoio do Wellcome Institute for the History of Medicine. Realizou o levantamento de 1417 questões em latim de quatro comentários petrínicos iniciais desse ms.: sobre o Isagoge de Johannitius (287 questões), Tegni de Galeno (484), Regime das doenças agudas (Regimen Acutorum) (329) e Prognosticos5 (314), os dois últimos atribuídos a Hipócrates. Essas questões abarcam desde problemas de Filosofia natural até outros mais relacionados à Medicina, como por exemplo, diagnóstico, prognóstico e terapêutica a respeito de diversas enfermidades6.

O primeiro comentário tem como referência a Introdução à arte de Galeno (Isagoge) (BNE,1877, ff. 24-47, BAV Palatina, f. 1251), de Johannitius. Sua estrutura pertence à primeira fase inicial do processo de adoção do método da escolástica médica quando as questões não estavam ainda separadas da lição. O tema tratado consiste na controvérsia entre os filósofos e os físicos, muito debatido no período. No entanto, não estabelece qualquer hierarquia entre as autoridades selecionadas. Por exemplo, a erudição aparece na seleção dos filósofos Platão, Agostinho, João Damasceno, Boécio, Isidoro de Sevilha, Gregório de Nissa e Averróis. Entretanto, muitos filósofos árabes eram igualmente físicos, tais como, Averróis, Avicena e Rhazes. Já os médicos elencados são Hipócrates, Serapião, Galeno, Teófilo, Filareto, Rhazes, Constantino, o africano, Bartolomeu e Trótula de Salerno. Embora os árabes estejam presentes no comentário, esse fato indica a difusão desses escritos entre os mestres. Mas, nesse momento ainda não integravam a Articella. O texto com 45 capítulos, cada um com o início indicado pelo correspondente lemma. Segue a ordem do original de Johannitius. Cada um corresponde a uma lição ministrada.(Asúa, 2000).

O manuscrito mais extenso, Questões sobre o Viático de Constantino (Quaestiones super Viaticum Constantini (I-VII) refere-se à tradução do escrito científico de maior difusão do monge de Montecassino, composto por sete livros. Encontra-se na BNE, ms.1877 (ff. 142ra-205vb)7 (ver Figura 2, f. 142ra). Inicia-se com o incipit destacado sobre a alopécia dos cabelos, “O cabelo nasce do vapor grosso... (interno do corpo) [...], Acerca da alopecia duas são as questões”8“Capillus ex fumo” [...]), já que seguiu a mesma estrutura do texto constantiniano sobre o corpo humano, ou seja, da cabeça aos pés. No ms. da BAV 11669, f. 2ra, o título em cima do fólio é o seguinte: “Começam as questões de Pedro Hispano sobre o Viático de Constantino”, e em seguida o incipitDepois no final o explicit repete, “[...] terminam as questões de Pedro Hispano sobre o Viático de Constantino” (f.153vb). Assim, esclarece a atribuição da autoria do escrito ao mestre em análise. Geralmente consiste de questões disputadas (disputatio), com argumentos, contra-argumentos, solução e respostas aos primeiros.

Os outros escritos do ms. 1877 não foram ainda objeto de investigação para o estabelecimento de edição crítica. São eles, de Galeno, Glosas sobre a pequena Arte de Galeno (ff.8ra-109ra); Questões a respeito dos livros de Galeno, Sobre as crises (De crisi) e Sobre os dias críticos (ff. 248ra-250vb)10. De Hipócrates, Escritos sobre livros dos regimes agudos, Escritos sobre livros dos Prognósticos ou Glosas sobre os Prognósticos (ff.124ra-141vb)11; De Filareto, Glosas de Sobre os pulsos (ff.251ra-255ra)12. Outros tres restantes são os únicos comentários e questões acerca de textos de procedência judaica: Escritos e Questões sobre os livros Sobre as dietas particulares e Sobre as dietas universais (ff. 238ra-244vb)13, e Sobre as urinas (De Urinis) de Isaac Judeu ou Israelita’ (Meirinhos, 2011).

Figura 2 Cópia do Fólio 1 (142ra) do manuscrito das Quaestiones super Viaticum Constantini, Livro I, atribuído a Pedro Hispano. Ms 1877, BNE. Fonte: Foto da autora. 

Compõe ainda esse corpus do ms.1877 (ff. 256ra-290vb) o comentário frequentemente chamado de zoológico do texto,Sobre os animais (De animalibus) de Aristóteles. Outra cópia desse escrito foi localizada por Wingate, em 1931, o ms G.4853 do Fondo Conventi Soppressi, da Biblioteca Nacional de Florença, com questões também atribuídas a Pedro Hispano. Parece ser anterior ao manuscrito de Madri e contém notas de suas lições no magistério em Siena14. A trajetória desse escrito aristotélico não adveio pela via salernitana, pois não integrava a Articella, mas pela via árabe e depois pela Escola de Tradutores de Toledo. No século IX, Iahya Ibn el-Batric traduziu do grego para o árabe os três primeiros tratados analisados pelo autor em exame, Sobre a História dos animais, Sobre as partes dos animais e Sobre a geração dos animais15. Mais tarde, foi Miguel Escoto (1175-1235) quem realizou em Toledo, por volta de 1220, a primeira tradução latina desses três primeiros tratados. Os outros dois tratados desta obra Sobre o movimento dos animais e Sobre o progresso dos animais16 foram traduzidos diretamente do grego para o latim em 1260, por Guilherme de Moerbeke, a pedido de Tomás de Aquino. Fazia parte do currículo da Faculdade de Artes de Paris. Revela a circulação do corpus aristotélico no século XIII dada a existência de inúmeros comentários e questões de mestres filósofos e físicos da época.

O comentário está dividido em 19 livros ou capítulos. Mais uma vez demonstra erudição no manejo das fontes quanto relaciona a obra aristotélica com questões disputadas pela comunidade dos mestres de Medicina da época, a saber, localização, hierarquia, movimento, funções e partes dos principais órgãos, os cinco sentidos e outros temas correlatos17. Constitui-se ainda em indício de sua docência como mestre seja em Paris seja em Siena. Esse comentário presente no manuscrito de Madri conta com a primeira edição crítica primorosa e recente de Navarro Sánchez (2015), publicada no Reino Unido.

Os estudos sobre comentários e questões médicas ainda não investigaram o conjunto de um único autor, por ser obra monumental devido à extensão dos corpora. Em geral, o ponto de partida dos investigadores consiste em eleger uma enfermidade e em seguida buscar sua percepção e terapêutica nos textos escolásticos. Por exemplo, Wack (1990) elegeu os comentários de quatros mestres do século XIII, Gerardo de Berry, Gil de Santarém, Pedro Hispano e Bona Fortuna, sobre o Viático de Constantino. Buscou e transcreveu as partes a respeito do mal de amor (amor hereos). Esse sentimento e os sintomas provocados pela rejeição do amado, foi caracterizado como doença pelos árabes e depois incorporado e comentado a partir da obra de Constantino.

Considerações finais

Este artigo anuncia as primeiras aproximações ao conjunto pouco investigado dos manuscritos da escolástica médica de Pedro Hispano presentes nas três bibliotecas, Biblioteca Nacional de Espanha, Biblioteca Apostólica Vaticana e Biblioteca Nacional da França. O maior destaque foi dado ao ms. 1877 da BNE em virtude do agrupamento de um conjunto de comentários e questões atribuído ao autor em análise. Alguns já foram explorados parcialmente e outros isoladamente, mas há muito trabalho ainda a ser feito no futuro.

Os novos olhares contemporâneos sobre esses textos, sem os preconceitos anteriores, iluminaram a escolástica médica do século XIII e definiram seu papel na formação de um novo grupo social em ascensão, os físicos com formação nos Estudos Gerais. Portanto, esses comentários e questões foram a base de um novo saber médico escolástico.

Três características institucionais marcaram essa escolástica médica. Primeiro, a importância atribuída, além da lição oral, ao texto escrito do comentário e questões. Segundo, o papel desempenhado pelos textos das autoridades na definição do escopo e da identidade de uma disciplina e por último, a necessidade de confrontar a experiencia adquirida com esses textos canônicos e transformar tudo, por meio da escrita, em doutrina válida e transmissível. No caso do comentário, a natureza específica do conhecimento médico aparece na relação entre teoria e prática. Na visão dos autores mestres a tradição desordenada dos textos e doutrinas devem ser explicadas em profundidade e as obras reordenadas a luz do conhecimento de sua época.

A partir da perspectiva social, essa formação médica abria as portas para o exercício da profissão nas cortes régias, episcopais, pontifícias, para atender, além dos poderosos, aos pacientes das velhas e novas elites. Assim uma das atuações sociais aqui delineadas de Pedro Hispano foi enquanto escolar e depois mestre escolástico.

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2Este texto contou com o apoio das Chamadas públicas Universal do CNPq 2012 e 2016, que possibilitaram os estágios de curta duração na Biblioteca Apostólica Vaticana (BAV) e na Biblioteca Nacional da França (BNF) para pesquisa dos manuscritos não digitalizados das obras médicas de Pedro Hispano.

3Trata-se de um manual dedicado aos viajantes com conteúdo sistemático e abrangente. A obra é composta de sete livros que se destinam à exposição e tratamento de várias doenças seguindo o modelo da cabeça aos pés (a capite ad calcem).

4CXXVIII Quaestiones secundum magistrum de Yspania, Expliciunt CXXX [sic] questiones magistrum de Yspania.

6Infelizmente a investigação não teve prosseguimento.

7 BAV, Pal. Lat. 1085, ff. 68ra a 153vb, e excertos BAV Pal. Lat. 1225, ff.292r-294v.

8Traduções livres do latim da autora. Capillus ex fumo. Circa allopiciam duo sunt inquirenda.

9“Incipiunt quaestones petri hyspani Super Viaticum Constantini “ e [..] finisciunt questiones petri hyspani super viaticum Constantini.

10Glosae super Tegni Galeni, Quaestiones super libros Galeni De crisi et supe librum de diebus decretoriis.

11Scriptum super librum regiminis acutorum e Scriptum super librum Prognosticarum vel Glosae supra prognostica.

12Glosae super de pulsibus Philaretum, BAV, PAL. Lat. 1086, ff.25ra-28rb

13Scriptum et Quaestiones super libro de dietis particularibus, Quaestiones super libro de dietis universalibus;BAV, 4455, ff. 65ra-96ra.

14Há também esse escrito no ms.na BAV Lat. 6758.

15De historia animalium, De partibus animalium e De generatione animalium.

16De motu animalium e De progressu animalium.

39O sinal de que alguém sabe está em sua capacidade de ensinar (Aristóteles, Metafísica 1)

36NOTA: A Autora, Dulce Oliveira Amarante dos Santos foi responsável pela concepção, análise e interpretação dos dados; redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito e ainda, aprovação da versão final a ser publicada.

1Signum enim scientis possa docere.

18Signum enim scientis possa docere.

19The production of this article was supported by Public Calls for Proposals issued by the CNPq in 2012 and 2016 that made it possible to spend short periods in the Vatican Apostolic Library (VAL) and in the National Library of France (NLF) to research original manuscripts of the medical works of Peter of Spain not available in digital form.

20It is a handbook dedicated to travelers containing systematic, comprehensive information. The work consists of seven books presenting the treatments for various diseases in order from head to toe (a capite ad calcem).

21CXXVIII Quaestiones secundum magistrum de Yspania, Expliciunt CXXX [sic] questiones magistrum de Yspania.

22Comm. Hipocrates Prognostica BNF, Lat. 6956, f. 41ra.

23Unfortunately that research was discontinued.

24 VAL, Pal. Lat. 1085, ff. 68ra a 153vb,and excerpts VAL Pal. Lat. 1225, ff.292r-294v.

25Free translations from the Latin. Capillus ex fumo. Circa allopiciam duo sunt inquirenda.

26“Incipiunt quaestones petri hyspani Super Viaticum Constantini “ e [..] finisciunt questiones petri hyspani super viaticum Constantini.

27Glosae super Tegni Galeni, Quaestiones super libros Galeni De crisi et supe librum de diebus decretoriis.

28Scriptum super librum regiminis acutorum and Scriptum super librum Prognosticarum vel Glosae supra prognostica.

29Glosae super de pulsibus Philaretum, VAL, PAL. Lat. 1086, ff.25ra-28rb

30Scriptum et Quaestiones super libro de dietis particularibus, Quaestiones super libro de dietis universalibus; VAL, 4455, ff. 65ra-96ra.

31This text is also in a manuscript in the VAL Lat. 6758.

32De historia animalium, De partibus animalium and De generatione animalium.

33De motu animalium and De progressu animalium.

Recebido: 29 de Maio de 2019; Aceito: 19 de Setembro de 2019

E-mail: doas52@hotmail.com

Dulce Oliveira Amarante dos Santos: Professora titular da Faculdade de História da Universidade Federal de Goiás. Graduação em História (1971) e Doutorado (1997) em História social na Universidade de São Paulo. Bolsista Produtividade do CNPq desde 2003. Pós-doutorado em História da Medicina no Departamento de Humanidades Médicas na Universidade de Navarra em 2012 com bolsa Estágio Senior da CAPES. Estágios de curta duração na Biblioteca Apostolica Vaticana (2013) e na Biblioteca Nacional de França (2018), em busca de manuscritos médicos com apoio do CNPq. Tem publicações e experiencia na orientação de mestrado e doutorado na História medieval ibérica com ênfase na História da Medicina, mulheres e gênero e imaginário social. Integra desde 2006 o grupo luso-brasileiro, Raízes medievais do Brasil moderno, com encontros anuais em Portugal e no Brasil. ORCID: http//orcid.org/0000-0003-4885-7890 E-mail: doas52@hotmail.com

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