SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.42A invenção de si na escrita autobiográfica de pessoas idosasPolítica social: de sua gênese ao contexto brasileiro índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Acta Scientiarum. Education

versão impressa ISSN 2178-5198versão On-line ISSN 2178-5201

Acta Educ. vol.42  Maringá  2020  Epub 02-Jan-2020

https://doi.org/10.4025/actascieduc.v42i1.44598 

História e Filosofia da Educação

A Escola de Vigotski e suas contribuições para uma práxis revolucionária

La escuela de Vigotski y sus contribuciones para una práctica revolucionaria

Ruth Maria de Paula Gonçalves1  * 
http://orcid.org/0000-0003-0070-4123

Betânea Moreira de Moraes1 
http://orcid.org/0000-0001-8760-0380

Francisca Maurilene do Carmo1 
http://orcid.org/0000-0003-0635-040X

Maria das Dores Mendes Segundo1 
http://orcid.org/0000-0003-2105-3761

1Universidade Estadual do Ceará, Av. Dr. Silas Munguba, 1700, 60714-903, Fortaleza, Ceará, Brasil.


RESUMO.

O ensaio teórico em tela senta alguns elementos da Escola de Vigotski, alicerçado nos fundamentos do marxismo, que traz uma

contribuição ímpar ao entendimento do psiquismo humano e suas múltiplas determinações. Tomando como basilares as ideias de Vigotski e seus colaboradores diretos, Luria e Leontiev, representantes da psicologia soviética, o artigo destaca a proximidade de Vigotski com Marx, quando elege a centralidade do trabalho como ato-gênese do ser social, o que possibilita relevantes implicações na edificação do complexo categorial da psicologia histórico-cultural. Desse modo, assevera-se haver uma estreita relação entre psicologia e filosofia, fundamentada na perspectiva teórico-metodológica de Vigotski, apontando para a transformação socialista do homem. Dessa forma, este artigo busca contribuir para a construção de um edifício categorial para o entendimento de como nos tornamos humanos, situando o homem em meio as suas relações sociais.

Palavras-chave: Vigotski; psicologia; história cultural; transformação socialista

RESUMEN.

El ensayo teórico presenta algunos elementos de la Escuela de Vigotski, basada en los fundamentos del marxismo, que trae una contribución singular al entendimiento del psiquismo humano y sus múltiples determinaciones. Se toma como base las ideas de Vigostski y sus colaboradores más próximos, Luria e Leontiev, representantes de la sicología soviética, el artículo destaca la proximidad de Vigotski con Marx, cuando elige la centralidad del trabajo como acto-génesis del ser social, lo que posibilita relevantes implicaciones en la edificación del complejo categorial de la psicología histórico-cultural. De este modo, se afirma que existe una estrecha relación entre sicología y filosofía, fundamentada en la perspectiva teórico-metodológica de Vigotski, apuntando a la transformación socialista del hombre. De esta forma, este artículo busca contribuir a la construcción de un edificio categorial para el entendimiento de cómo nos volvemos humanos, situando al hombre en medio de sus relaciones sociales.

Palabras-clave: Vigotski; psicología; história cultural; transformación socialista

ABSTRACT.

The theoretical essay presents some elements of the School of Vygotsky, based on the foundations of Marxism, which brings an unique contribution to the understanding of the human psyche and its multiple determinations. Drawing on the ideas of Vygotsky and his direct collaborators, Luria and Leontiev, representatives of Soviet psychology, the article highlights the proximity of Vygotsky to Marx, when he selects the centrality of work as the genesis of social being, which allows relevant implications in the construction of the categorical complex of historical-cultural psychology. Thus, there is a close relationship between psychology and philosophy, based on the theoretical-methodological perspective of Vygotsky, indicating the socialist transformation of man. In this way, this article seeks to contribute to the construction of a categorial building for the understanding of how we become human, placing man in the midst of his social relations.

Keywords: Vygotsky; psychology; cultural history; socialist transformation

Introdução

A Psicologia soviética, alicerçada nos fundamentos do marxismo, traz uma contribuição ímpar ao entendimento do psiquismo humano e suas múltiplas determinações. Diferenciando-se qualitativamente dos demais sistemas teórico-metodológicos, desde sua base, considera a centralidade do trabalho como ato-gênese do ser social, possibilitando relevantes implicações na edificação do complexo categorial da Psicologia Histórico-Cultural. Desse modo, a relação entre psicologia e filosofia objetiva-se em seus delineamentos teórico-metodológicos na perspectiva da transformação socialista do homem.

Vigostki e seus colaboradores diretos, Luria e Leontiev, representantes da psicologia soviética, construíram um edifício teórico cujas contribuições incidiram no entendimento de como nos tornamos humanos, situando o homem em meio as suas relações sociais. Desse modo, entre os anos de 1920 - 1930 a Escola de Vigotski elaborou hipóteses e realizou experimentos convergiram para o fortalecimento do campo teórico-prático de uma nascente psicologia de base marxista.

Neste artigo apresentamos, inicialmente, dados sobre o trabalho de Vigotski, a partir de escritos de Leontiev. Em seguida, buscamos situar as bases ontológicas da psicologia histórico cultural, de acordo com os estudos da troika1, especialmente, no que se refere às categorias trabalho e consciência. Nesse sentido, destacamos questões da centralidade do trabalho na formação do ser social, além de discutirmos o papel da consciência como mediadora no intercâmbio entre homem e natureza. Por fim, trazemos para o debate as querelas entre gnosiologia e ontologia, procurando aclarar a inadequada articulação entre teoria e prática que circundava a psicologia nos anos de 1920, calcadas tanto no idealismo como no materialismo mecanicista; apontando, ainda de modo breve, as contribuições de Vigotski e seus colaboradores, com vistas à transformação socialista do homem.

A genialidade de Vigotski: breve incursão em seu trabalho criativo

Leontiev (1999), ao escrever sobre o trabalho criativo de Vigotski, mostra com clareza que, em sua curta e produtiva existência, o psicólogo soviético demonstrou a sua erudição marcada por uma ampla e complexa formação. O jovem de Gomel iniciou sua atividade científica ainda quando cursava simultaneamente, Direito na Universidade de Moscou e História na Faculdade de História e Filologia na Universidade A. L. Chaniavski. Circulando por diversos campos do conhecimento, Vigotski escreveu resenhas teatrais, coordenou círculos de História, voltados para alunos das classes superiores da escola em Gomel, fazendo participações exemplares no campo da economia política, em seminários dessa temática. Com o mesmo rigor teórico-metodológico estudou filosofia, especialmente a filosofia clássica alemã. Desses verdes anos, data a sua aproximação com o marxismo (1913-1917).

O marxismo compreendido por Vigotski abrange uma leitura do mundo que faz a mediação do ser social, construto da relação do homem com a natureza, no âmbito da totalidade, historicidade e singularidade. Nesse contexto, datado pelo modo da produção capitalista, sua análise acerca das relações sociais revela na esteira de Marx o estranhamento do ser, a determinada propriedade privada e a coisificação das relações entre os homens, trocadas no formato de mercadoria.

As preocupações das pesquisas vigotskianas traziam estudos sobre trabalho, atividade, consciência, atenção, percepção, memória, pensamento e linguagem, sentido e significado, arte, educação, defectologia etc. Desse quadro de temáticas científicas, o interesse pelo campo da arte norteia seus estudos, inicialmente para a crítica literária, o que ocorre objetivamente em 1915 com a análise de Ana Karenina e Hamlet. Situando a arte no âmbito da objetividade e da subjetividade, Vigotski (2001) preocupa-se com o seu significado sociopolítico, ou seja, com o exame do liame da obra e a paisagem sociopolítica de seu tempo, bem como, e em que medida, a obra literária toca o leitor, isto é, a forma como o conteúdo da obra impacta a singularidade do indivíduo. Nas palavras de Leontiev (1999, p. 433), o autor buscava traçar “[...] tanto uma análise objetiva da obra literária quanto uma análise objetivo-materialista das emoções humanas que surgem ao ler uma obra. Este trabalho monumental de Vigotski foi publicado apenas em 1968”.

O período referente a 1920 - 1924 efetiva-se precisamente como a transição dos estudos centrados no campo da arte para a ciência psicológica, cuja crise enfrentada àquela época, torna-se o norte para o manuscrito monumental de Vigotski intitulado O significado histórico da crise da psicologia (1999b), com qual fazemos algumas interlocuções ao final do artigo. Ao lado do informe ‘Metodologia da investigação reflexológica e psicológica’ e do artigo ‘A consciência como problema da psicologia do comportamento’ este bloco de produções vigotskianas formam o conjunto inicial de sua obra, como identifica Leontiev (1999).

Para Vigotski, a consciência não era considerada a rainha absoluta das funções psíquicas superiores, [...] mas como uma realidade psicológica de enorme importância em toda a atividade vital do homem e merecedora de um estudo específico” (Leontiev, 1999, p. 435).

É oportuno salientar que Vigotski foi o primeiro psicólogo a questionar as teses elaboradas sobre consciência, nos anos de 1920, sentindo, portanto, a “[...] necessidade de realizar um estudo psicológico concreto da consciência como realidade psicológica concreta” (Leontiev, 1999, 434-435). Consentâneo com o que nos diz Marx e Engels (2006, p. 51):

No ato do trabalho, manifestado a partir de uma necessidade, o homem planeja na sua consciência alternativa que tem um fim, de transformar a natureza, para satisfazer as suas necessidades na objetivação do seu pensamento. O homem neste ato, constrói o novo e se torna um ser diferente do que era antes, a prévia-ideação é um ato planejado que se objetiva na transformação da natureza.

A consciência nunca pode ser outra coisa que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. E se, em toda ideologia, a humanidade e suas relações aparecem de ponta-cabeça, como ocorre em uma câmara escura, tal fenômeno resulta de seu processo histórico de vida, da mesma maneira pela qual a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico.

Retomando os passos da trajetória de Vigotski, consideramos que a viragem, assim podemos dizer, ocorreu durante o II Congresso Nacional de Psiconeurologia em Leningrado, durante o qual suas brilhantes intervenções e as comunicações apresentadas, assim como a exposição de seu informe ‘O método de investigação reflexológica e psicológica’- (Leontiev, 1999) repercutiram de forma tão impactante que Kornilov o convida a trabalhar no Instituto de Psicologia. Com a mudança de Vigotski de Gomel para Moscou inicia-se “[...] a criação propriamente psicológica de Vigotski [...]” como assinala Leontiev (1999, p. 431).

O tempo que tocou a Vigotski viver reverberou nas suas elaborações teórico-metodológicas. Com efeito, a Revolução Socialista de Outubro demandou mudanças radicais na ciência psicológica diante de um país destroçado pelas guerras. Nesse sentido, a primeira exigência objetiva foi a de analisar problemas de aplicação prática. Daí a necessidade da reconstrução da psicologia soviética, mais que isso, esta devia estar calcada no materialismo histórico dialético, uma vez que a psicologia introspectiva da consciência individual, baseada no idealismo filosófico ocupava lugar central.

Importante registrar que no I Congresso Nacional de Psiconeurologia, conforme Leontiev (1999, p. 428), Kornilov ao apresentar a comunicação ‘A psicologia e o marxismo’, marcou o prelúdio dessa reestruturação. Com efeito, Leontiev (1999) chama a atenção para o fato de que, nesta exposição, algumas teses de princípio marxista receberam destaque como: a consciência como propriedade da matéria organizada e o caráter social do psiquismo humano. Diante dos fundamentos apresentados, a decantada reestruturação da ciência psicológica não foi uma tarefa fácil, posto que os psicólogos de formação idealista não a aceitaram de pronto, considerando inclusive que suas teses eram paradoxais.

Diante dessa empreitada Vigotski e seus colaboradores , A. Luria e N. Leontiev, lançaram-se com ardor revolucionário àquele projeto, tendo na genialidade do pensador russo, o esteio para suas pesquisas futuras, vislumbrando a consolidação dos fundamentos teórico-práticos de uma psicologia verdadeiramente nova.

A psicologia histórico-cultural e as bases para a revolução socialista do homem: trabalho e consciência em debate

Preocupado com as concepções teóricas que fundamentavam os estudos sobre consciência, as quais eram conduzidas tanto pela chamada ‘velha psicologia’ - introspectiva, como pela ‘nova psicologia’ - o behaviorismo, Vigotski (1999a) defende que os fenômenos da vida psíquica do homem, dentre os quais estava a consciência, só encontrariam suporte teórico-metodológico procedente tendo como norte a letra de Marx.

Ademais, sua crítica contundente aos estudos sobre consciência considerados marxistas, à época, apontava que as teses de Marx eram utilizadas apenas como anexos aos resultados de uma teoria psicológica qualquer. O psicólogo soviético reconhecia que todas as teorias psicológicas têm uma base filosófica, ora oculta, ora claramente expressa, daí ser necessário uma reestruturação de seus fundamentos, tendo em vista a psicologia que buscavam construir.

A contraposição a esses fundamentos foi destacada de forma inconteste no célebre e atual manuscrito que tem por título O significado histórico da crise da psicologia, no qual Vigotski (1999b) expõe pontos nevrálgicos existentes na ciência psicológica dos anos de 1920. A epígrafe que abre o texto aparece propositalmente aqui, de modo a aclarar questões profundas referentes à relação entre teoria e prática, objetividade e subjetividade, espírito e matéria, gnosiologia e ontologia.

Com efeito, ao citar o trecho do Evangelho “[...] a pedra que rejeitaram os construtores, essa veio a ser a pedra angular [...]” na abertura do texto a que nos referimos logo acima, Vigotski, como bem assinala Leontiev (1999, p. 437), explica que a ‘pedra’ tem duplo significado: por um lado, refere-se à teoria filosófico-metodológica de ‘nível intermediário’ e, por outro, à atividade prática do homem. Da rejeição dos construtores à pedra angular em seu duplo sentido, como ilustra Vigotski (1999b), denota-se a inadequada relação entre teoria e prática, assente à psicologia da época. Na raiz de tal desarticulação, a rigor, são engendrados a fragmentação do conhecimento, a opacidade na precisa apreensão do real em movimento, uma miríade de teorias esvaziadas de fundamentos, assim como práticas vazias de sentido.

Para o psicólogo soviético a análise da atividade prática, com vistas à psicologia de um novo homem era crucial. No entanto, este não era o entendimento que orientava a psicologia nos anos de 1920. O problema residia no fato de que esta atividade não era considerada em toda sua complexidade, mesmo para aqueles que se especializavam em psicologia do trabalho, como assinala Leontiev (1999).

O entendimento desses especialistas era de que as leis fundamentais que regem o psiquismo humano não podiam surgir através da análise da atividade laboral. A esse respeito, Shuare (1990) seguindo o pensamento de Vigotski, esclarece que para este, o tempo humano é história e para entender o processo de desenvolvimento da sociedade, é preciso entender o conceito de atividade, antes de tudo, da atividade produtiva do homem. A autora, complementando esse bloco de ideias concernentes às formulações vigotskianas, assinala que para o psicólogo soviético, “[...] qualquer ciência que estude o homem em qualquer aspecto e mais ainda, a psicologia; deve assumir como constitutivo de sua investigação o fato de que tem diante de si um objeto histórico-social” (Shuare, 1990, p. 60, tradução nossa)2.

Vejamos o que nos diz Vigotski (1999a, p. 223) sobre a relação entre o homem e a natureza mediada pelo trabalho:

Na verdade, a interpretação científica nada mais é do que uma forma a mais de atividade do homem social entre outras atividades. Por conseguinte, o conhecimento científico, considerado como conhecimento da natureza e não como ideologia, constitui um tipo de trabalho e como todo trabalho é, antes de mais nada, um processo entre o homem e a natureza. E, nesse processo, o próprio homem enfrenta a natureza enquanto força surgida no seu seio.

Nesse sentido, trazemos a concepção marxiana de trabalho, em seu sentido ontológico, como protoforma da atividade humana com o intuito de aclarar as bases ontológicas da psicologia de Vigotski. Para Marx (1983, p. 149):

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercambio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeças e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos na natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais.

No que diz respeito ao papel do trabalho na hominização, Luria (1991) reconhece com Vigotski que o trabalho social e o emprego de instrumentos de trabalho, somado ao surgimento da linguagem, constituem dois fatores primordiais, sendo fontes de transição da “[...] história natural dos animais à história social do homem” (Luria, 1991, p. 75). Destacando o trabalho como ato-gênese do ser social, Luria (1991) assinala que as teorias datadas da segunda metade do século XIX atestam que os primeiros sons que designam objetos surgiram no processo do trabalho conjunto.

Do mesmo modo, Leontiev (1978) no seu texto ‘O homem e a cultura’ destaca o papel do trabalho na hominização e na humanização, buscando responder a questões sobre a passagem da esfera da vida para a esfera do ser social, consequentemente sobre a transmissão das aquisições da evolução entre as gerações. O autor reconhece que estas aquisições se fixavam:

[...] não por herança biológica e sim por uma forma absolutamente particular, forma que só aparece com a sociedade humana: a dos fenômenos externos da cultura material e intelectual. Esta forma particular de fixação e de transmissão as gerações seguintes das aquisições da evolução das aquisições da evolução diferem dos animais, uma vez que os homens tem uma atividade criadora e produtiva, que é a atividade humana fundamental: o trabalho (Leontiev, 1978, p. 265).

Leontiev (1978) prossegue asseverando que os homens, por sua atividade maior, pelo trabalho como matriz de toda atividade humana

[...] modificam a natureza em função do desenvolvimento de suas necessidades. Criam objetos que devem satisfazer as suas necessidades e igualmente os meios de produção destes objetos. Constroem habitações, produzem suas roupas e os bens materiais. Os progressos realizados na produção dos bens materiais são acompanhados pelo desenvolvimento da cultura dos homens, o seu conhecimento do mundo circundante deles enriquece, desenvolvem-se a ciência e a arte (Leontiev, 1978, p. 265).

Com efeito, o entendimento dos psicólogos russos coaduna com o que já havia sido formulado por Marx e Engels (2006), ao reconhecerem que o ser dos homens é o seu processo de vida real e que a consciência, a produção de ideias, de representações estão em sua origem vinculadas à sua atividade material.

Consentâneo com tais formulações de Marx e Engels, Vigotski (1999a) em seu estudo sobre pensamento e linguagem identifica que a palavra é o microcosmo da consciência e, ao passo que a palavra cresce na consciência, modifica todos os demais processos. O próprio significado da palavra se transforma, em virtude da modificação da consciência.

Marx (1985), na sua celebre citação sobre o trabalho da abelha e do arquiteto, mostra que o arquiteto ao transformar a natureza a faz mediada pela capacidade teleológica que é possuidor. Afirma Marx (1985, p. 149-150):

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo na cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste já existiu na imaginação do trabalhador e, portanto, idealmente. Sendo, pois, o homem o único ser capaz de realizar trabalho, ele o faz pela capacidade teleológica, de relacionar o plano ideal com o concreto.

Marx demonstra que no atendimento das suas necessidades o homem, no processo de agir, planeja e objetiva, dentre as alternativas, a construção do novo. Ao fazer isto não só transforma a natureza como também se torna outro ser, com conhecimentos e habilidades que antes não possuía. Esta importante atividade produtiva, em que o homem transforma a natureza para garantir suas necessidades, expressam a compreensão da ontologia do ser social e sua história no contexto do processo de produção e reprodução social.

Luria (1991) tece considerações importantíssimas a respeito das diferenças entre a atividade consciente do homem e o comportamento dos animais, destacando que as características da forma superior de vida, próprias do homem, encontram suas origens na forma histórico-social de atividade referente ao trabalho social, com o uso de instrumentos e com o surgimento da linguagem.

Leontiev (1978) convergindo com os delineamentos anteriormente apontados busca demarcar a relação entre a atividade produtiva e a estrutura da consciência dos homens contrapondo-se “[...] às concepções metafísicas que isolam a consciência da vida real [...]”, como bem nos esclarece Asbahr (2011, p. 6). Ao examinar as condições de trabalho vigentes na sociedade primitiva, Leontiev (1978) identifica que os rebatimentos da forma de trabalho comunal nas consciências eram dados em uma direção diametralmente oposta às transformações sofridas pelo conjunto dos homens em decorrência da divisão social do trabalho. Uma vez que tudo é convertido em mercadoria às consciências passam a operar de forma a comprometer a relação entre sentido e significado, denotando a alienação engendrada pelo antagonismo entre capital e trabalho.

Com efeito, Leontiev (1978) ao se referir às condições da comunidade primitiva chama atenção para o fato de que tanto os meios quanto os frutos da produção encontravam-se sob a vigência da propriedade coletiva; consequentemente tais produtos eram refletidos na consciência tanto individual quanto coletiva. Vale registrar que os homens detinham os meios de produção e os frutos de seu trabalho não os colocava em posições opostas.

A transformação sofrida na estrutura interna da consciência ocorre a partir da divisão social do trabalho. A maioria dos produtores separa-se dos meios de produção e as relações entre os homens transformam-se cada vez mais em relações de coisas que se separam e se alienam do próprio homem. Assim, a atividade humana deixa de ser para o homem fonte de realização. A alienação passa a determinar sua formação e as condições concretas de sua existência que, pautadas na desumanização, acabam por descaracterizá-lo como ser social capaz de atividade plenamente livre e consciente.

Desse modo, erguem-se diante de nós problemas concretos cuja resolutividade opera no plano real. Adverte-nos Vigotski (1999a, p. 417, grifo do autor):

Não queremos diferenciar nossa escola da ciência, mas esta do não científico, a psicologia da não psicologia. [...] ser donos da verdade sobre a pessoa e da própria pessoa é impossível enquanto a humanidade não for dona da verdade sobre a sociedade e da própria sociedade. Ao contrário, na nova sociedade nossa ciência se encontrará no centro da vida. ‘O salto do reino da necessidade ao reino da liberdade’ colocará inevitavelmente a questão do domínio de nosso próprio ser, de subordiná-lo a nós mesmos.

Era esse, precisamente, o ponto de partida da Escola de Vigotski: reconstruir a psicologia no sentido de torná-la a ciência do homem novo e de uma nova sociabilidade.

Da crise da psicologia à transição de uma ciência psicológica a um novo homem

Leontiev (1999) reconhece que a Psicologia de Vigotski não foi aceita com facilidade pelos psicólogos soviéticos nos anos de 1920. Diante de tal fato enfrentar as concepções teóricas hegemônicas que se contrapunham aos fundamentos teórico-metodológicos defendidos por sua Escola consistia em um passo decisivo na construção de uma práxis revolucionária.

Ora, o empiricismo consistia em um dos entraves nesse percurso, uma vez que por defender a essência histórica do homem, Vigotski (1995) se punha contrário ao reino das aparências. O psicólogo soviético recorre a Marx e Engels, assinalando que: “[...] se a forma de se manifestar e as essência das coisas coincidisse diretamente, de nada importaria toda a ciência” (Vigotski, 1995, p. 103, tradução nossa)3. Fortalecendo essas ideias, Vigotski (1995) assevera que, em psicologia, duas ações podem ocorrer de forma semelhante em sua aparência externa e completamente distintas em sua origem, essência e natureza. Para tanto a análise científica se faz necessária no intuito de buscar descobrir o que há por trás da similitude da aparência externa: seu conteúdo interno, sua natureza e origem.

Coerente com o pensamento de Vigotski, Leontiev (1978, p. 178) também salienta que:

O mundo real, imediato, do homem, que mais que tudo determina a sua vida, é um mundo transformado e criado pela atividade humana. Todavia, ele não é dado imediatamente ao indivíduo, enquanto mundo de objetos sociais, de objetos encarnando aptidões humanas formadas no decurso do desenvolvimento da prática sócio-histórica; enquanto tal, apresenta-se a cada indivíduo como um problema a resolver.

Nesse sentido, outro entrave à psicologia como ciência do novo homem, no que se refere aos caminhos de apreensão do real em movimento, residia na relação entre objetividade e subjetividade. Com efeito, o percurso metodológico até então utilizado, mais distanciava-se, do que aproximava-se verdadeiramente das ricas e complexas mediações do mundo dos homens, com vistas à transformá-lo. Como assinala Vigotski (1999b), a crise da psicologia estava situada em problemas de ordem tanto objetiva quanto subjetiva, decorrentes do contexto pós-guerra; em uma Rússia destroçada em todos os sentidos. Diante disso, a demanda sobre a aplicabilidade da psicologia se mostrava urgente.

A querela entre gnosiologia e ontologia estava presente como um dos eixos centrais do problema e não deixou de ser contemplada pela crítica contundente de Vigotski (1999b). Ele reconhecia que os pressupostos subjetivos de onde partem os processos do conhecimento se manifestam nos modos de expressar as leis da natureza, bem como ao relacionar diferentes conceitos, devendo, portanto, serem considerados sempre como reflexo da dialética objetiva. Indo adiante, asseverava que a dialética devia se opor tanto a crítica gnosiológica quanto à lógica formal.

Em sua lúcida análise sobre os problemas teórico-metodológicos da psicologia, Vigotski (1999b) defende que a psicologia científica deve reconhecer os fatos da consciência, não ignorá-los. Ao buscar materializá-los, deve transcrevê-los para “[...] um idioma objetivo que existe na realidade e desmascarar e enterrar para sempre as ficções, fantasmagóricas e similares” (Vigotski, 1999b, p. 63).

Nesse sentido, o psicólogo reconhecendo o papel que a materialidade exerce nas subjetividades considera, no entanto, que as relações dinâmico-causais da forma social capital não se apresentam em sua totalidade de uma única forma, uma vez que a sociedade mesma é cindida em classes sociais. Na mesma linha de pensamento ele considera que em um determinado tempo histórico a composição das personalidades humanas não representa algo homogêneo, unívoco, uma vez que para o autor a história do psiquismo humano é a história social de sua constituição.

Diante de tais reflexões, vislumbrando a transição socialista, Vigotski (1998) assinala com propriedade que a psicologia, ao levar em conta o materialismo histórico-dialético, assevera que o indivíduo só existe como ser social, tendo como conclusão direta:

[...] confirmar o caráter de classe, a natureza de classe e as distinções de classe como responsáveis pela formação dos tipos humanos. As várias contradições internas, as quais se encontram nos diferentes sistemas sociais, encontram sua expressão acabada tanto no tipo de personalidade, quanto na estrutura do psiquismo humano de um período histórico determinado (Vigotski, 1998, p. 111, tradução nossa)4.

O pensador russo considerava que a dialética marxista abrangia tanto a natureza, quanto o pensamento e a história, deixando claro que a teoria do marxismo psicológico ou dialética da psicologia era verdadeiramente a psicologia geral. Convergindo com Vigotski quanto à supremacia da ontologia de Marx em relação a todas as concepções ontológicas anteriores, Lessa (2001, p. 94) identifica que:

[...] tanto a essência em Marx, quanto o fenômeno, consistem numa determinação inerente à história. Nesse sentido, não concebia a essência como eternamente fixa, a-histórica; enquanto ao fenômeno cabia a historicidade, a transformação. [...] Esta concepção permite a Marx postular que a essência humana é construto da história dos homens e que, no interior desta se distingue, enquanto categoria, por concentrar os elementos de continuidade do desenvolvimento humano-genérico e, jamais, por se constituir no limite intransponível da história humana.

O método onto-histórico marxiano, que se aproxima do real e vai além do fenômeno para desvelar a essência, retorna ao real com ricas determinações presentes em toda análise de Vigotski, relacionando subjetividade e objetividade, como elementos constituintes do ser social, cuja personalidade é historicamente datada.

Considerações finais

Vigotski (1998) identifica que a raiz da exploração do homem pelo homem em sua démarche histórica, desde a divisão social do trabalho às formas mais aviltantes de desumanização presentes no processo de industrialização, é a fonte da degenerescência do gênero humano. Assevera ainda que, se por um lado há um crescente domínio do homem sobre a natureza, denotando liberdade, por outro, a sua escravidão e dependência crescentes das coisas produzidas por ele mesmo são provas inquestionáveis da alienação no mundo dos homens.

Reconhecendo que o tempo humano é história Vigotski, Luria e Leontiev buscaram entender o homem em sua processualidade, situando o trabalho como atividade produtiva transformadora por excelência. Diante dos antagonismos decorrentes do trabalho explorado e certos de que a lógica do capital busca manter em seu interior uma pressão constante para a destruição do gênero humano, os representantes da troika se dedicaram de modo inconteste a traçar caminhos teórico-metodológicos com vistas à consolidação de uma psicologia de base marxista, a qual tinha como horizonte a transformação socialista do homem.

Com efeito, ao advertir sobre o desprezo dos construtores sobre a chamada pedra angular, Vigotski (1999b) se refere aos psicólogos diante da análise equivocada tanto da consciência como da atividade laboral, o que implicava em uma inadequada relação entre a teoria e a prática. Nesse sentido, critica os psicólogos pelo fato destes continuarem perseguindo os problemas em uma linha reta, uma vez que resultava estéril diante da complexidade com que se apresentavam. Diante disso Vigotski (1999a, p. 203) defendia que [...] para seguir adiante é preciso demarcar um caminho”.

Referências

Asbahr, F. S. F. (2014). Sentido pessoal, significado social e atividade de estudo: uma revisão teórica. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, 18(2), 265-272. Doi: 10.1590/2175-3539/2014/0182744 [ Links ]

Leontiev, A. (1978). O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa, PT: Livros Horizonte. [ Links ]

Leontiev, A. (1999). Artigo de introdução sobre o trabalho criativo de L. S. Vygotsky. In L. S. Vygotsky, Teoria e método em psicologia (p. 425-470). São Paulo, SP: Martins Fontes. [ Links ]

Lessa, S. (2001). Trabalho e proletariado no capitalismo contemporâneo. São Paulo, SP: Cortez. [ Links ]

Luria, A. R. (1991). Curso de psicologia (Vol. 1). Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira. [ Links ]

Marx, K. (1983). O capital . São Paulo, SP: Abril Cultural. [ Links ]

Marx, K. (1985). O capital: crítica da economia política. São Paulo, SP: Abril Cultural. [ Links ]

Marx, K., & Engels, F. (2006). A ideologia alemã. São Paulo, SP: Martins Fontes. [ Links ]

Shuare, M. O. (1990). La psicología sovietica, tal como yo la veo. Lisboa, PT: Editorial Progresso. [ Links ]

Valsiner, J., & van Der Veer, R. (1991). Vygotsky: uma síntese. São Paulo, SP: Loyola. [ Links ]

Vygotsky, L. S. (1995). Obras escogidas I. Madrid, ES: Visor Distribuiciones. [ Links ]

Vygotsky, L. S. (1998). La modificación socialista del hombre. In L. S. Vygotsky, La genialidad y otros textos inéditos (p. 109-125). Buenos Aires, AR: Almagesto. [ Links ]

Vygotsky, L. S. (1999a). Teoria e método em psicologia. São Paulo, SP: Martins Fontes. [ Links ]

Vygotsky, L. S. (1999b). O significado histórico da crise da Psicologia. In L. S. Vygotsky, Teoria e método em psicologia (p. 201-417). São Paulo, SP: Martins Fontes. [ Links ]

Vygotsky, L. S. (2001). Psicologia da Arte. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2001. [ Links ]

1 Expressão atribuída ao encontro e colaboração dos três teóricos soviéticos: Vigotski, Luria e Leontiev (Valsiner & van Der Veer, 1991).

2“ [...] cualquier ciencia que estudie al hombre en cualquier aspecto y más aún la psicologia debe asumir como constitutivo de su investigación el hecho de que tiene ante sí un objeto histórico social “.

3“si la forma de manifestarse y la essencia de las cosas coincidieran diretamente, sobraria toda ciência”.

4“[...] confirmar el carácter de clase [social], la naturaliza de clase y las distinciones de clase, que son las responsables de la formación de los tipos humanos. Las variadas contradicciones internas que se encuentram em los diferentes sistemas sociales encuentram su expressión tanto em el tipo de personalidade como el la estructura de la psicología humana de ese período histórico dado”.

13NOTA: Os autores Ruth de Paula, Betânea Moraes, Maurilene Carmo e Maria das Dores Mendes Segundo foram responsáveis pela concepção, análise e interpretação dos dados; redação e revisão crítica do conteúdo do manuscrito e ainda, aprovação da versão final a ser publicada.

5 Expression attributed to the meeting and collaboration of the three Soviet theorists: Vygotsky, Luria and Leontiev (Valsiner & van Der Veer, 1991).

6“[...] cualquier ciencia que estudie al hombre en cualquier aspecto y más aún la psicologia debe asumir como constitutivo de su investigación el hecho de que tiene ante sí un objeto histórico social”.

7“si la forma de manifestarse y la essencia de las cosas coincidieran diretamente, sobraria toda ciência”.

8“[...] confirmar el carácter de clase [social], la naturaliza de clase y las distinciones de clase, que son las responsables de la formación de los tipos humanos. Las variadas contradicciones internas que se encuentram em los diferentes sistemas sociales encuentram su expressión tanto em el tipo de personalidade como el la estructura de la psicología humana de ese período histórico dado”.

Recebido: 15 de Setembro de 2018; Aceito: 23 de Maio de 2019

* Autor para correspondência. E-mail: depaularuth@gmail.com

Ruth Maria de Paula Gonçalves: Professora do Curso de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (PPGE/UECE). Estágio Pós-Doutoral pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Doutorado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Mestrado em Educação pelo Instituto de Educação da Universidade de Londres/Universidade Estadual do Ceará (UECE); Graduada em Pedagogia e Enfermagem pela UECE. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa do Movimento Operário (IMO/UECE). Tem experiência nas áreas de Psicologia da Infância, Psicologia da Adolescência e Psicologia da Aprendizagem, Processos Psicológicos Básicos (Inteligência, Pensamento e Linguagem), Psicologia e Educação e Teorias Psicogenéticas. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0070-4123 E-mail: depaularuth@gmail.com

Betânea Moreira de Moraes: Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (PPGE/UECE). Professora do Curso de Direito e Psicóloga Técnica do Núcleo de Prática Jurídica cedida à Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA; Estágio Pós-Doutoral no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); Doutorado e Mestrado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduada em Psicologia pela UFC. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa do Movimento Operário (IMO/UECE). Tem experiência nas áreas de Psicologia, Trabalho e Educação, com ênfase nos estudos sobre aprendizagem, desenvolvimento humano e social, individualidade e formação humana. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8760-0380 E-mail: betaneamoraes@gmail.com

Francisca Maurilene do Carmo: Professora do curso de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (UFC). Estágio Pós-Doutoral em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Doutorado e Mestrado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Pesquisadora do Instituto de Pesquisa do Movimento Operário (IMO/UECE). Tem experiência em Didática, Ensino de Ciências, Fundamentos da Educação e Psicologia da Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0635-040X E-mail: fmcmaura@hotmail.com

Maria Das Dores Mendes Segundo: Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (PPGE/UECE) e do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE/UECE); Professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará (PPGEB/UFC). Estágio Pós-Doutoral pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Doutorado em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC); Mestrado em Economia Rural pela UFC; Graduada em Ciências Econômicas pela UFC. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa do Movimento Operário (IMO/UECE). Tem experiência na área de Economia e Educação, com ênfase em estudos sobre teorias e políticas educacionais; financiamento da educação e formação de professores. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2105-3761 E-mail: mariadores.segundo@uece.br

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons