Introdução:
“Una società senza scuola è come un corpo senza anima” escreveu o presidente da Società Italiane Riunite em uma carta do ano de 1906 aoSignor Commendatore. Essa pequena frase, extraída de uma correspondência, sintetiza a tipologia das escolas italianas existentes no município de Pelotas, ou seja, aquelas ligadas às Sociedades de Mútuo Socorro. Estas:
(...) eram associações que assumiram, em diferentes contextos, funções de intermediação e preservação dos laços com a pátria de origem através de festividades cívicas - italianità, foram espaços de auxílio mútuo em caso de doença, morte ou sinistro, e muitas também assumiram atividade de ensino (LUCHESE, KREUTZ, 2010, p. 25).
Assim, o presente artigo tem como objetivo analisar as escolas étnicas italianas no município de Pelotas (RS), no final do século XIX. O quadro teórico-metodológico da pesquisa é sustentado pelas recentes investigações na área da história das escolas étnicas e, em específico, das escolas étnicas italianas. Desta forma, o artigo procura entrelaçar a produção histórico-educativa brasileira e a italiana, a partir de uma perspectiva sustentada pela verificação empírica documental (BARAUSSE, 2015, 2016; LUCHESE eBARAUSSE, 2017; BARAUSSE 2017; BARAUSSE e LUCHESE, 2018). Neste sentido, busca-se, por um lado, aprofundar as análises que se mantiveram genéricas (SALVETTI, 2002); ou para superar, por outro lado, os limites de análises que já estão ultrapassadas, como os que ainda são amplamente utilizados (FLORIANI, 1974), mas pouco úteis para uma total compreensão "do significado e do papel confiados a escolas italianas no exterior” (CIAMPI, 1998, p. 115, Tradução nossa)3.
No corpus documental, utilizam-se, principalmente, documentos consulares. Estes estão salvaguardados no Arquivo Histórico Diplomático do Ministério das Relações Exteriores (l’Archivio storico diplomatico del Ministero degli Affari Esteri) em Roma, Itália, e auxiliam a reconstruir as origens e os desdobramentos das escolas italianas em Pelotas, assim como em outras regiões do Brasil e em outros países4. Ainda, utiliza-se um relatório produzido no final do século XIX por Carl Otto Ullrich5 e algumas notícias de periódicos que circulavam no município de Pelotas.
O presente texto justifica-se pela ausência de estudos sobre a escolarização do grupo étnico italiano no município de Pelotas (RS)6. Desta forma, este estudo contribuirá para a História da Educação no município de Pelotas, preenchendo uma lacuna existente, que são os estudos sobre as escolas italianas na região.
Italianos em Pelotas: um breve panorama
A imigração italiana no estado do Rio Grande do Sul foi intensa durante o final do século XIX e o início do XX. Partiram da Europa milhares de italianos, os quais procuravam melhores condições de vida, devido à situação econômica da Península Itálica. Para Franzina (1995, p. 05), “a emigração para o Brasil, em outras palavras, é apenas um capítulo na grande história das migrações transoceânicas italianas" (Tradução nossa)7. No Brasil, os italianos, e seus descendentes, instalaram-se em diversos estados8. A imigração italiana para o RS atendeu a interesses do Brasil e da Itália. Esta procurou acompanhar a imigração através dos serviços consulares instalados nos países para onde os italianos instalaram-se, e, desta forma, foram produzidos relatórios (IOTTI, 2001).
Franco Cenni (2011) ressalta a diferença entre a imigração e a colonização. A primeira refere-se ao fenômeno imigratório em si, a segunda diz respeito aos imigrantes que foram colonizar, especificamente, um lote de terra, normalmente em regiões com baixa, ou nenhuma, densidade populacional. No estado do Rio Grande do Sul, a grande parte da imigração italiana ocorreu na forma de colonização, mas, os centros urbanos, também, receberam imigrantes. Estes dedicaram-se a várias atividades profissionais. Os italianos no Rio Grande do Sul, entre os anos de 1882 e 1914, representavam 43% da imigração no estado (CENNI, 2011). Esta foi intensa, sobretudo, a partir nos anos de 1870. Desta forma, é necessário analisar a imigração e as escolas italianas à luz do contexto brasileiro nessa época, como observa Emilio Franzina:
(...) a chave interpretativa dos fenômenos migratórios de massa tanto ontem quanto hoje reside na constante interação entre a estrutura econômica e social existente neste lado e além do oceano e a dinâmica dos interesses capitalistas facilitada e apoiada por políticas públicas precisas (...) (FRANZINA, 2014, p. 18,tradução nossa)9.
Nesta mesma linha de raciocínio, Barausse (2017) disserta sobre os impactos da imigração italiana nos dois países, Brasil e Itália:
O processo de mobilidade internacional em massa, envolveu numerosos grupos de italianos à partir da segunda metade do século XIX e, da maneira como nasceu, cruzou de um lado o desenho das classes dominantes brasileiras, tensionadas em individualizar soluções alternativas para a substituição de mão de obra após a escravidão, e de outro, alguns grupos dominantes de italianos empenhados em assegurar opções alternativas aos grupos populares, diante de problemas ligados ao atraso sócio-econômico e a crise do país (BARAUSSE, 2017, p. 44).
No Rio Grande do Sul, a colonização dos italianos, assim como a dos alemães, fez parte de uma política do governo imperial brasileiro com o objetivo de povoar as regiões com baixa densidade populacional. Os imigrantes, entre outros afazeres, colonizaram localidades afastadas do meio urbano, dedicando-se à produção em pequena escala, nos núcleos coloniais. Além disso, o processo imigratório, teve como objetivo a substituição do trabalho escravo (SANTOS, 2010)10 e estava dentro da mentalidade de uma tentativa de branquear o país (MACHADO, 2011). No Brasil, o trabalho escravo foi oficialmente extinto no ano de 1888.
Nesse contexto, muitos imigrantes estabeleceram-se em diversas cidades do estado do Rio Grande do Sul, entre elas, Pelotas, onde a imigração italiana apresenta algumas características peculiares em relação às outras regiões italianas no Estado. Os imigrantes italianos chegaram a Pelotas no momento em que a cidade já estava constituída, ou seja, não foi formada a partir da imigração, diferente, por exemplo, dos municípios da chamada Serra Gaúcha. Além disso, uma característica da imigração italiana em Pelotas foi o fato de ter sido, majoritariamente, urbana. A partir dessas considerações, é importante contextualizar historicamente o município pesquisado, brevemente.
Pelotas surgiu a partir da construção de capelas e do povoado ao seu entorno, ambos construídos em 1813 (POMATTI, 2011). Em 1832, a freguesia atinge a posição de vila, e, desta forma, emancipa-se do município vizinho de Rio Grande. No ano de 1835, a vila eleva-se à condição de cidade e passa a chamar-se Pelotas, e não mais São Francisco de Paula (MAGALHÃES, 1993). A indústria saladeiril11 foi o segmento econômico que possibilitou o seu desenvolvimento. Economicamente, equiparava-se à capital do Estado, Porto Alegre (CONSTANTINO, 2008). Em meados do século XIX, Pelotas ocupava uma posição de destaque no Rio Grande do Sul, com o auge do desenvolvimento em vários setores (POMATTI, 2011). E essa condição econômica atraiu a atenção dos imigrantes de várias nacionalidades, como italianos, franceses e alemães, principalmente (CONSTANTINO, 2008). Estes estabaleceram-se tanto na cidade quanto na área rural12. Essas características foram percebidas pelos viajantes italianos da época, como, por exemplo, o professor italiano G. P. Malan, que visitou a cidade no ano de 1886 e observou a consolidação de uma sociedade urbana "sólida"(MALAN, 1885, p. 14-15). Em 1889, o vice-cônsul em Pelotas Enrico Acton, também escreveu sobre os italianos no espaço urbano:
[...] A colônia urbana, se assim posso chamar, compõe-se de indivíduos e famílias que chegaram na América em diferentes épocas, em diferentes circunstâncias e que depois de vários eventos, seja nas Repúblicas vizinhas seja no Império, vieram e se estabeleceram em Pelotas; da mesma forma que outros, por conveniência, instalaram-se em outras cidades (ACTON, 1889, p. 173, tradução nossa)13.
É importante registrar que os italianos e seus descendentes organizaram outras iniciativas em Pelotas, como, por exemplo, sociedades de mútuo socorro, sociedades musicais. Estas não serão analisadas neste texto. Ademais, houve hotéis fundados por italianos. O mais emblemático deles, o Hotel Aliança, foi fundado em 1843 por dois italianos de classe média que vieram para Pelotas: Santiago Pratì e Gaetano Gotuzzo. Outrossim, registrou-se a presença de profissionais ligados à arte14 e à arquitetura15. A partir destes dados, é possível notar que os imigrantes italianos em Pelotas chegaram a região de Pelotas ainda antes de 1875, ano considerado como o início do grande fluxo imigratório para o Brasil. O professor G.P. Malan, em sua breve visita a Pelotas, identificou, somente no contexto urbano, a presença de mais de trezentos italianos e, não por acaso, Malan encontrou os representantes mais dinâmicos da vida econômica e cultural italiana, como o proprietário do Hotel Aliança e o pintor Federico Trebbi (MALAN, 1885).
O objetivo deste texto, como mencionado anteriormente, é olhar para as escolas italianas em Pelotas especificamente. Entretanto, não é possível entendê-las sem inseri-las no contexto da imigração italiana do município analisado e, também, dos dois países envolvidos.
Escolas italianas em Pelotas: origem e primeiro desenvolvimento
No Rio Grande do Sul, a presença das escolas étnicas foi marcante em decorrência do fluxo de imigrantes no Estado (ROSOLI, 1998) e à reforma das escolas italianas no exterior (SALVETTI, 2002), operada pelo governo Crispi, desejoso em construir um estado forte e relançar a política colonial italiana (LEVRA, 1992; DUGGAN, 2000). Durante os anos de 1875 a 1915, os imigrantes deram vida às escolas italianas no exterior, algumas destas receberam apoio do governo italiano16, sobretudo, após a reforma das escolas introduzida por Francesco Crispi (BARAUSSE, 2017). Conforme o autor:
Muitas destas escolas foram sustentadas financeiramente, pelo governo italiano, através do consulado, que fornecia o material escolar e o dinheiro. Estes espaços escolares asseguravam o início do processo de escolarização, que tinha como objetivos, a difusão do sentimento de italianidade, junto à primeira forma de alfabetização e civilização (BARAUSSE, 2017).
Para Barausse, “as primeiras formas de educação destinadas aos colonos italianos foram promovidas já nos primeiros quinze anos de colonização, durante a última fase do regime imperial brasileiro” (BARAUSSE, 2017, p. 206, tradução nossa)17. Conforme Luchese e Kreutz (2010), na Região Colonial Italiana, houve as escolas mantidas pelas comunidades rurais, as que se formaram em torno da capela e as criadas e mantidas pelas Sociedades de Mútuo Socorro ou de beneficência. A criação das escolas étnicas, esteve em consonância com a situação em que encontrava a Província do RS no que se refere ao número de escolas, ou seja, desprovida de escolas que atendessem às demandas (LUCHESE, 2010). Decerto que essas instituições não foram criadas somente pela falta de escolas públicas. Aspectos identitários também influenciaram nessa conjuntura. Os imigrantes organizaram as suas iniciativas de assistência através das Associações de Mútuo Socorro, como, por exemplo, a que foi criada em 1877 na capital do estado, Porto Alegre (LE ASSOCIAZIONI, 2000; BARAUSSE, 2017). No município de Pelotas, as sociedades italianas foram os locais que impulsionaram as escolas italianas. A partir dos documentos históricos consultados, percebeu-se que estas existiram na área rural e na urbana.
As fontes apontam para a existência de uma escola italiana situada na Colônia Maciel18. Conforme o cônsul Brichanteau (1893), havia, nessa localidade uma pequena escola italiana, de forma improvisada. Ullrich (1984) faz algumas anotações sobre esta colônia:
[...] Maciel, colônia do governo emancipada. 50 lotes coloniais; 300.000 m2 de área por lote colonial; nenhum lote de campo devoluto; nenhum lote com mato; 56 lares; 1 escola do governo, salário do professor R. 1:200$000 anual, 1 escola da comunidade (italiana) [...] (ULLRICH, 1894, p. 04, grifos nossos).
O autor do relatório sinaliza a existência de uma escola da comunidade italiana. Além disso, é interessante perceber a quantidade de famílias italianas no local (56), um número significativo que explicaria, até mesmo, a existência de uma escola italiana. Também, a partir dessa citação, nota-se que havia, na Colônia Maciel, uma estrutura de povoado, com cinco casas comerciais e nenhum lote devoluto. Da mesma forma, percebe-se a coexistência da escola italiana e de uma escola do governo. Na comunidade da Maciel e entorno havia famílias de outras descendências, inclusive de origem lusa, e isso pode explicar a existência de duas escolas na localidade.
Outra forma de escolas italianas em Pelotas foi aquela ligada às Sociedades Italianas. As escolas de Pelotas, assim como as de outros contextos urbanos (Porto Alegre, Rio Grande e Bagé) foram promovidas pelas sociedades de beneficência19 (BARAUSSE, 2017; CINQUANTENARIO, 2000, p. 392). O cônsul Legrenzi, em seu relatório do ano de 1895, escreve sobre a presença de cinco sociedades em Pelotas: Unione e Filantropia (1872 - Mútuo socorro); Bellini (1894 - divertimento); Infantile (1892 - divertimento); Cristoforo Colombo (1892 - Mútuo socorro) e Corale Savoia (1894 - beneficência) (CASTRO e WEIDUSCHADT, 2018). Nas fontes consultadas, percebe-se, com nitidez, uma tensão entre as diversas associações italianas pelotenses, tensões essas que se refletiram, também nas escolas.
Nos periódicos pelotenses, há notícias sobre esses tensionamentos entre as sociedades. Em 1886, o jornal A Discussão publicou uma notícia sobre o regresso do cônsul Pasquale Corte a Porto Alegre, o qual viajou a Pelotas em uma tentativa de resolver uma divergência entre os membros da colônia italiana. Porém, conforme o periódico:
(...) Infelizmente porém o que sinceramente lamentamos, S. S. Não conseguiu vencer a divergência que existe em uma parte dos membros da colônia. Do emprego de sua delicada e patriotica intervenção, nao surtiu, por ora,como deveria e era de esperar, o desejado effeito. É o que lamentamos, repetimos. (A DISCUSSÃO, 16/10/1886, p. 1).
Assim, compreende-se que essas tensões extrapolavam os limites locais do município e envolviam a estrutura consular italiana no Brasil. Por conseguinte, influenciavam as escolas italianas.
A partir das fontes mobilizadas para este estudo, constata-se que a primeira escola italiana em Pelotas foi fundada em 1872, pela Sociedade Italiana Unione e Filantropia, ainda antes do grande fluxo imigratório para o RS. A Sociedade Italiana criou, naquele ano, uma escola sem qualquer forma de apoio econômico das autoridades consulares italianas. A escola era dirigida pelo professor Ettore Gori Mazzoleni e funcionou até 1880, ano do falecimento do professor. Mazzoleni, em junho de 1877, dirigiu-se diretamente ao Ministério da Educação na Itália para pedir ajuda financeira para a sua escola. Uma iniciativa completamente desconhecida pelas autoridades ministeriais, as quais solicitaram ao Ministério das Relações Exteriores informações sobre o professor ea escola, com o objetivo de assegurar um subsídio e, também, o envio de livros didáticos. Para isso, foram consultadas as repartições consulares de Porto Alegre e de Pelotas20.
Em 1885, as duas associações existentes: A Unione e Filantropia e a Circolo Garibaldi uniram-se para fundar a Società Italiane Riunite21. Foi nesta ocasião que o projeto de criação de uma escola italiana, para os filhos de imigrantes italianos, foi retomado. A partir do jornal Echo do Sul, encontra-se a notícia da inauguração de uma escola da comunidade italiana: “foi inaugurada, no edifício da sociedade italiana reunida Unione e Filantrophia e Circolo Garibaldi, a escola gratuita para ensino dos filhos dos subditos italianos residentes em Pelotas” (ECHO DO SUL, 21/09/1887). Essa escola teve um funcionamento regular, tanto que, após uma visita do chefe da legação do Rio de Janeiro, Ernesto Martuscelli (Annuario Diplomatico, 1887, p. 198-199), foi concedido um subsídio anual de 500 liras à escola. Os cronogramas de pagamento de subsídios concedidos às escolas no Rio Grande do Sul, durante os anos de 1888-1889 e 1889-1890, mostram uma contribuição financeira à escola frequentada por vinte alunos22. Esta, no entanto, como sinalizou o cônsul de Porto Alegre, Marefoschi, passou por algumas dificuldades23, permanecendo fechada por um período de tempo. No ano de 1890, foi reaberta após uma decisão da sociedade de mútuo socorro. O vice-cônsul de Pelotas, Enrico Acton, escreveu, ao cônsul Marefoschi, uma breve nota afirmando que “cuidado não foi poupado para estabelecer, desta vez, a escola em bases sólidas” (Tradução nossa)24. De fato, durante a reunião do dia 22 de maio de 1890, a diretoria da Società Italiane Riunite decidiu abrir, em junho do mesmo ano, uma escola primária em língua italiana. A escola era anexa e dependente da sociedade e foi colocada sob “a supervisão direta do Régio Representante e de quatro membros do Conselho diretivo” (Tradução nossa)25.
A organização interna da escola era a seguinte: funcionava todos os dias, exceto domingos e feriados brasileiros e italianos; o horário de abertura era de manhã das 9h às 12 horas e, à tarde, das 13h às 15h. Às quintas-feiras à tarde, a escola não abria, conforme a tradição italiana da época. A organização das aulas foi distribuída da seguinte maneira: na parte da manhã, aulas de língua italiana (leitura, redação, gramática, composição etc.), elementos de aritmética, geografia e história. No entanto, a comissão também poderia estender o programa escolar e introduzir “onde fosse necessário” (Tradução nossa)26”, outras disciplinas, tais como “A ginástica ou o desenho” (Tradução nossa)”27. À tarde, os alunos deveriam candidatar-se ao “cumprimento das suas funções supervisionadas por um repetidor” (Tradução nossa)28. As escolas, de acordo com os artigos 4º e 6º do regulamento, aceitavamos filhos masculinos de italianos até os 14 anos e estudantes do sexo feminino até os 12 anos. Cada estudante pagava uma taxa mensal de mil réis, mas aqueles que estavam em uma condição de vulnerabilidade, certificados pelo consulado, poderiam recebar a insenção desse pagamento. De qualquer forma, para evitar, talvez, formas de peculato, o professor foi explicitamente proibido de receber o dinheiro diretamente. O professor e o repetidor foram escolhidos pela diretoria da sociedade, a qual previa o pagamento de um salário mensal de trinta mil réis e vinte mil réis, respectivamente. Particularmente significativas, as funções e o perfil do professor foram estabelecidos pelos regulamentos. Para a elaboração dessas funções, foi decisiva a influência do vice-cônsul, Acton. Os deveres do professor e do repetidor foram definidos da seguinte forma:
a) garantir que o ensino seja rápido na prática e conservar sempre o caráter nacional; b) manter entre os alunos a disciplina e incentivá-los ao estudo da pátria de origem; c) manter um registro no qual será marcada a frequência dos alunos e seu progresso com pontos de mérito; d) relatar a Comissão escolar qualquer ocorrência anormal e solicitar reparo imediato [...] (Regulamento interno para as escolas italianas de Pelotas,Tradução nossa)29.
O vice-cônsul, Acton, comunicou ao cônsul de Porto Alegre que o número de alunos inscritos, todos do sexo masculino, era de 30, mas estava prevista a duplicação deste número assim que a escola pudesse dispor de dois professores. Naquele momento, a escola tinha somente um professor, Antonio Lorenzini, “um professor muito capaz, e que goza de muita estima e confiança na colônia [italiana]” (Tradução nossa)30 e um repetidor, Giuseppe Sgrillo, “por ser jovem e inteligente” (Tradução nossa)31, mas não havia uma professora e os pais de família não pareciam inclinados a “misturar [as meninas] com os meninos” (Tradução nossa)32. Por estas razões, os membros eram apenas homens, 25 alunos de 7 a 12 anos. Acton, no entanto, expressou um forte otimismo, e não parecia ter dúvidas em argumentar que a escola italiana pelotense poderia “em um futuro próximo estar entre as melhores deste estado” (Tradução nossa)33. Por esse motivo, Acton solicitou um subsídio de 62,50 liras por mês, correspondendo a 750 liras por ano, e um subsídio extraordinário de 1000 liras para a reabertura da escola34. Esse pedido de contribuição financeira foi concedido pelo cônsul Marefoschi, cuja magnitude foi expandido a 1500 liras, após o cônsul Compans de Brichanteau ter verificado o forte compromisso dos pais de família, os quais assinaram um compromisso financeiro, de 12.500 liras, para construir uma sala especial para a escola35. A ampliação de escolas nos contextos urbanos esteve entre os objetivos mais pretendidos pela estratégia geral das autoridades consulares italianas da época (BARAUSSE, 2017). Além disso, em Pelotas houve um movimento de fortalecimento das escolas, assim como em Porto Alegre e em Rio Grande, em relação às dificuldades emergentes nas rurais onde a situação não pareceu “muito fácil, já que os pais de família não mandam seus filhos para a escola pelo espaço de dois ou três anos" (MAREFOSCHI, 1889, tradução nossa)36.
Essa escola em Pelotas funcionou ao longo do segundo semestre de 1890 com 28 alunos e o vice-cônsul mostrou-se satisfeito com o trabalho realizado. Naquela época, os professores dedicaram seu tempo “a italianizar [...] a educação que a maioria dos alunos já adquiriu nas escolas locais" (Tradução nossa)37. Enrico Acton retomou as suas considerações de outras circunstâncias e lamentou que: "o hábito fatal das famílias italianas de educar seus filhos de acordo com os costumes do país, fazendo com que aprendam exclusicamente o português, tanto que em muitas casas quase se abandonou por completo a pátria de origem" (Tradução nossa)38. Durante os exames realizados em setembro, Acton mostrou-se satisfeito com a capacidade dos alunos de “aplicar a leitura e a escrita da nossa língua, noções previamente adquiridas” (Tradução nossa)39. Precisamente por este motivo, ele preferiu não falar “sobre a insuficiência das várias partes do ensino” (Tradução nossa)40, as quais influenciavam a expansão das inscrições41.
No entanto, o entusiasmo despertado pela reabertura da escola foi de curta duração. Durante o ano posterior à reabertura da escola, as autoridades consulares precisaram intervir para enfrentar as tensões existentes nas associações italianas em Pelotas. As razões por trás das divisões da colônia italiana são, provavelmente, complexas e necessita-se um maior aprofundamento a partir de estudos sobre a rede de sociabilidade étnica de Pelotas. Há traços significativos que poderiam explicar a luta interna da comunidade de colonos italianos, como o papel do agente consular, a distribuição de caráter regional entre os colonos de origem vêneta e os colonos de origem meridional. Essas tensões, no interior da comunidade italiana de Pelotas, parecem ter influenciado a decisão do vice-cônsul regente Lencisa, sucessor de Enrico Acton, de interromper temporariamente o subsídio às escolas42. Posteriormente, o Cônsul Compans di Brichanteau decidiu reduzir o montante do financiamento. Em suas palavras:
Por ocasião da minha passagem em Pelotas em 30 de outubro do ano passado, não deixei de visitar esta escola e fiquei pouco satisfeito do progresso da mesma - Os alunos não entenderam a minha pergunta e pediram explicações ao professor, eu tive que confessar que, embora os estudantes sejam todos filhos de italiano, falavam, em suas respectivas famílias, o brasileiro, de modo que a escola tinha que usar a língua portuguesa para se fazer entender pelos alunos em suas explicações para ensinar nossa língua. Apesar da paciência e a discreta instrução do professor, não se pode esperar grande proveito dessa escola e isso se deve aos próprios pais que negligenciaram sua linguagem para adotar a do país [Brasil]. O relatório do professor enviado a mim em dezembro passado confirmou plenamente minha opinião sobre a escola italiana de Pelotas e, por isso, reduzi o subsídio de 350 liras por semestre para apenas 150 liras pelos dois semestres de 1891, alertando a Sociedade que eu as suprimiria totalmente se a escola não melhorasse (BRICHANTEAU, 1892, tradução nossa)43.
Entre os anos 1892 e 1893, a escola voltou a receber um financiamento maior e, por um curto período de tempo, Pelotas registrou a presença de duas escolas: aquela criada pelaSocietà Italiane Riunite, na qual lecionava o professor de Turim Giuseppe Marchiaro, e, a segunda, no interior de outra sociedade, tinha como professor Lorenzini e possuía apenas 18 alunos. Era uma escola mista e recebia um subsídio de 50 liras, mas na segunda metade ?, interrompeu suas atividades44.
Pouco tempo após o desenvolvimento da escola italiana de Pelotas, o cônsul Pio di Savoia decidou regulamentar, de modo radicalmente diferente, os subsídios: a partir disso, apenas a presença de certas condições permitiria a distribuição de subsídios, os quais foram fortemente reduzidos em tamanho e concentrados, sobretudo, na distribuição de materiais escolares (BARAUSSE, 2017). Vários foram os motivos que levaram o cônsul a tomar esta decisão, a partir de uma visão diferente do papel das comunidades imigrantes urbanas em relaçãoàs rurais, a ponto de revelar a ausência de uma vontade real das autoridades consulares de garantir um desenvolvimento mais orgânico da rede de escolas étnicas em nível urbano. As de Porto Alegre e de Pelotas, segundo o cônsul Pio di Savoia,“não mereceriam qualquer consideração” (Tradução nossa)45, mas, para estes grupos, as escolas foram mecanismos importantes para o propósito de “uma influência moralizante” (PIO DI SAVOIA, 1894, Tradução nossa)46. As características das comunidades urbanas eram as de uma imigração não relacionada com o vínculo da propriedade, mas com“comércios e pequenos negócios” (Tradução nossa)47. A sua importância reside no potencial de desenvolvimento que representaram para o desenvolvimento das relações comerciais. Por estas razões, a contribuição econômica continuou a ser considerada uma ferramenta importante, mas em um suporte mais orgânico: “Não é sequer o caso de pensar em lançar as bases de uma verdadeira organização escolar [porque] temos que lidar com um elemento excessivamente móvel, indisciplinado, sem qualquer orientação” (Tradução nossa)48. As conclusões do cônsul não se referiam somente à ampliação do auxílio financeiro, mas, sim, para:
Voltar atrás e fazer pelos nossos conterrâneos mais do que fizemos até agora, de fato é necessário voltar atrás e dar à contribuição do governo o caráter que deveria ter, aquele de subsídio que agora modificou-se completamente para assumir aquele de apenas manutenção” (PIO DI SAVOIA, 1894, tradução nossa)49.
As escolhas do cônsul tiveram consequências pesadas, os representantes dos colonos manifestaram-se insatisfeitos com as novas regras. Com isso, o cônsul Legrenzi precisou intervir junto ao ministério para solicitar a introdução de novas medidas (BARAUSSE, 2017). Em Pelotas, essas escolhas do cônsul acentuaram as tensões existentes dentro das associações. Assim como, na capital do estado, a maior parte da colônia italiana estava dividida em dois grupos, cada um referia-se a uma associação mútua e a professores diferentes (LEGRENZI, 1894)50. O grupo reunido em torno da Società Italiane Riunite atribuía as responsabilidades de tensão à ação conjunta do agente consular de Pelotas, Federico Alberto Trebbi e do professor Giuseppe Marchiaro. Segundo o presidente da Società Italiane Riunite, o cônsul Pio di Savoia, o qual estava mal informado por Federico Alberto Trebbi e de qualquer outro, “comediante partidário por assuntos provincianos (quase que os italianos do sul não seriam [italianos] como os do norte)” (Tradução nossa)51, decidiu suspender o pagamento do subsídio. As autoridades consulares, apoiadas pelo agente e pelo professor Giuseppe Marchiaro, anteriormente expulso da escola da Società Italiane Riunite, apoiaram a criação, em abril de 1894, de uma escola dentro de uma nova sociedade de beneficência, a Cristoforo Colombo, com a intenção de fechar a existente dentro da Società Italiane Riunite. De acordo com Mignone (1898), esta escola teve, de fato, uma curta duração e um mau funcionamento. O presidente da Società Italiane Riunite dirigiu-se diretamente ao primeiro-ministro italiano, Francesco Crispi, para ilustrar a história e apresentou uma forte crítica ao comportamento da autoridade consular. Acusou-a de agir em contradição com a circular emitida em 1894 e de contestar o funcionamento da escola com 54 inscritos e apoiar um professor que, em vez disso, fundou uma nova escola com apenas 7 alunos, e que não era muito confiável, tanto que foi demitido de um colégio brasileiro52. Segundo o presidente da associação, a discriminação contra a escola foi, também, manifestada pela disponibilidade diferenciada de material educativo: “O professor é obrigado a traduzir do brasileiro, Geografia, História Pátria e Aritmética, para fazer, então, fazer os alunos estudarem os manuscritos, enquanto o outro professor tem tudo em abundância” (Tradução nossa)53.
O compromisso dos expoentes mais sensíveis ao desenvolvimento dos processos de escolarização dos grupos étnicos urbanos italianos de Pelotas também potencializou uma nova iniciativa. Em maio de 1894, alguns professores decidiram estabelecer uma escola noturna para adultos na sala da escola italiana na Rua Andrade Neves 219, a fim “de cooperar no bem intelectual dos italianos desta colônia, para que o artista, o operario e o comerciante possam melhorar na materia que se adapta à sua condição” (Tradução nossa)54". Foram ensinadas disciplinas como: Desenho da figura, desenho de ornamento, italiano e composição, aritmética prática, contabilidade e caligrafia. Os professores foram,respectivamente: Federico Alberto Trebbi, Rodolfo Astolfi, Carlo Cantalupi e Giuseppe Marchioro55. A iniciativa reuniu não apenas o consenso e o entusiasmo do cônsul regente, Legrenzi, o qual se comprometeu a financiar o curso caso a colônia respondesse de maneira positiva, mas, também, do ministério, através do subsecretário Adamoli56.
Todavia, entre o final de 1894 e os primeiros meses de 1895, as tensões fortalecem-se entre as sociedades. Cada sociedade agiu sobre a autoridade consular para obter seu apoio, o que gerou um forte embaraço ao sucessor do Pio di Savoia, Angelo Legrenzi. O cônsul lamentou os desentendimentos entre os pelotenses, quando havia problemas mais graves em outras regiões do estado. Para exemplificar, ele escreve que, caso houvesse a ocupação dos federalistas, a comunidade poderia ficar mais compacta.
No final de novembro, o cônsul confirmou a suspensão de subsídio. Este retornaria com uma trégua entre os desentendimentos e o compromisso de designar um novo professor, através da publicação de um concurso específico que aconteceria em janeiro de 1895, sob a condição de que as duas sociedades encontrassem um acordo sobre o professor a ser escolhido. Conforme o cônsul:
Em colônias numerosas como estas e sem os exemplos do ambiente em que vivem, entre as quais o Cônsul não tem outra força além de seu prestígio (sic!) pessoal. É absolutamente necessário que medidas ou reformas radicais ocorram gradualmente(LEGRENZI, 1894,tradução nossa)57.
Após os relatórios recebidos de Porto Alegre, o Ministério italiano aprovou as escolhas do cônsul e apoiou a decisão de que os subsídios para as escolas do meio rural não deveriam ser cancelados e, ao mesmo tempo, confirmou a suspensão temporária dos subsídios destinados à escola de Pelotas58. Não se pode excluir, com base nas avaliações do cônsul, que, no interior dos dois grupos, também, poderiam existir preocupações políticas. Para ele, a associação Cristoforo Colombo parecia ser “mais tranquila e menos combativa" (Tradução nossa)59 enquanto a outra era “mais barulhenta e inquieta, porque era composta apenas por trabalhadores fáceis de conduzir e liderados por um jovem ambicioso e ousado” (Tradução nossa)60”, conforme o cônsul: “Naquela época, quando o Régio vice-cônsul [Acton] partiu de Pelotas, a regência ficou a cargo daquele jovem, chefe das sociedades reunidas e, entre os membros deles foi escolhido o professor subsidiado que despertou a aversão da Cristoforo Colombo"(LEGRENZI, 1894, tradução nossa)61.
Para resolver as tensões, as autoridades consulares designaram Federico Trebbi como agente consular, considerado: “homem de comprovada honestidade, pai de oito filhos e que dá toda garantia para o bom desempenho daquele Régio ofício [consular], embora talvez não tenha a energia excessiva" (Tradução nossa)62. Naquele momento, também, o subsídio do governo para a escola foi atribuído a um professor (Marchiaro) da sociedade Cristoforo Colombo, o que ocasionou fortes reações da outra associação:
A luta, trocada de endereço, foi sempre mais pressionando ao ponto que dá notícias que chegaram há pouco, são que o professor subsidiado ficou hoje sem local para a escola e acredita que em breve ficará, também, sem alunos, pois tão e tais foram as brigas da Società italiana que o pobre homem foi afastado de casa em 24 horas sem razões justificáveis e os alunos, de setenta e mais que eram, iniciaram a retrair dia a dia” (LEGRENZI, 1894, tradução nossa)63.
Por esta razão, o cônsul chegou à conclusão de suspender o fornecimento do subsídio a partir de janeiro de 1895, na esperança de que tal decisão favorecesse uma reconciliação, mas, também, para impedir o financiamento de uma iniciativa escolar fortemente enfraquecida64. O agente consular Trebbi concordou com essa decisão do Cônsul e assumiu a responsabilidade de formalizar a decisão, justificando-a como uma ordem do ministério italiano, a fim de evitar outras formas de protesto. Para compreender, de forma mais aprofundada, o que estava acontecendo em Pelotas, o cônsul Legrenzi enviou o vice (prestes a ir como regente para Vitória, no Estado do Espírito Santo) à cidade65. O advogado Dall'Aste Brandolini, depois de ter ido à Pelotas no dia 27 de abril, escreveu um breve relato entusiasta sobre a condição física e material da escola de Pelotas, instalada na sede daSocietà Italiane Riun ite. No interior da sede, havia a sala onde as aulas eram realizadas, naquela ocasião, para 35 alunos entre 8 e 13 anos. Na realidade, a aula gerida pelo professor Lorenzini tinha um número duplo de membros, conforme evidenciado pelos registros submetidos ao exame do vice-cônsul. Escreveu o cônsul: “Eu interroguei alguns meninos e descobri que eles demostravam uma instrução bem conduzida, então eu examinei muitos ditados e composições, especialmente dos maiores, e fiquei espantado com a facilidade em compô-los e a elegante caligrafia” (Tradução nossa)66.
O relatório de Dall'Aste Brandolini reforçou a convicção do cônsul Legrenzi em manter a suspensão do subsídio para a escola de Pelotas, aguardando que o conflito entre as associações melhorasse. Em particular, Legrenzi considerou essencial esperar: “que desaparecesse do campo de ação o turbulento Garbini e o [professor] Marchiaro” (Tradução nossa)67.
Neste momento, a confiança no trabalho do agente consular de Pelotas, Federico Trebbi, diminuiu, pois este era considerado “ótima pessoa, mas partidário da [sociedade] Cristoforo Colombo” (Tradução nossa)68. Entretanto, “para não danificar a instrução italiana naquela colônia” (Tradução nossa)69, o cônsul pretendia repassar alguns materiais escolares para a escola dirigida pelo professor Lorenzini “e, além disso, não como um subsídio anual fixo, que fomentaria ciúmes, mas somente como uma recompensa ou um presente feito pelo governo de vez em quando" (LEGRENZI, 1895, tradução nossa)70. Apesar da suspensão do subsídio, a escola continuou a existir nos anos que acompanharam o final do século, conforme documentado pelo cônsul Dall'Aste Brandolini em seu relatório de 1898.
A partir das fontes mobilizadas para esta pesquisa, é evidente, portanto, que as questões de escolaridade relacionadas às formas de sociabilidade urbana em Pelotas foram objeto de tensões e fricções dentro das comunidades urbanas de imigração italiana.
Considerações finais
O objetivo deste texto foi apresentar a origem e o desenvolvimento das escolas italianas no município de Pelotas (RS) durante o final do século XIX. Foram utilizados, sobretudo, documentos consulares para o seu desenvolvimento. As fontes consultadas permitiram perceber uma relação entre as escolas italianas em Pelotas e as sociedades italianas. As primeiras funcionaram, substancialmente, atreladas às segundas, as quais tiveram fortes tensionamentos entre elas e as escolas, por sua vez, sentiram os efeitos dessas tensões. Conforme se demonstrou, inclusive os subsídios às escolas foram interrompidos, durante um período de tempo, devido aos desentendimentos entre as sociedades.
A imigração italiana no município de Pelotas foi numericamente menor do que em outras regiões do estado do Rio Grande do Sul, porém foram criadas diversas instituições italianas no município. A presença italiana em Pelotas é sentida juntamente com outras etnias, como, por exemplo, franceses, alemães e, sobretudo, lusos. Pelotas, como já mencionado, não foi um município criado a partir da imigração. Seja no espaço rural seja no urbano, um fator interessante de observar é a presença de vários grupos étnicos; a maioria das colônias rurais recebeu mais de um grupo étnico. Certamente, houve colônias com predominância maior de determinada etnia, mas, de forma geral, vários grupos étnicos conviveram no mesmo espaço territorial. Assim, ao pensar as escolas italianas, objeto desta investigação, pontua-se que essas não existiram, ou deixaram de existir, por um isolamento dos italianos, ou pelo não contato com outras etnias, mas, sim, por considerarem que era uma instituição importante para seus descendentes aliada a uma política específica do governo italiano sobre as escolas italianas no exterior. Esse contato entre as etnias possibilitou negociações de identidade, ou seja, alguns elementos foram incorporados e outros foram mantidos como uma forma de afirmação de identidade. Decerto que ainda a muito há se pesquisar sobre as escolas étnicas italianas no município de Pelotas, sobretudo, sobre a cultura escolar dessas instituições. Entretanto, novas fontes de pesquisas devem ser individualizadas para compreender a organização interna dessas instituições. No entanto, este artigo, escolhido para apresentar uma visão panorâmica das escolas italianas, auxília a compreender, por exemplo, as tensões existentes na comunidade de origem italian. Visivelmente, havia dois grupos no município e as escolas estiveram, também, no centro dessas divergências.