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História da Educação

versión impresa ISSN 1414-3518versión On-line ISSN 2236-3459

Hist. Educ. vol.24  Santa Maria  2020  Epub 30-Nov-2020

https://doi.org/10.1590/2236-3459/97334 

Artigos

PRÁTICAS DE LEITURA NO CENTRO PSYCHICO DE CAETITÉ, BAHIA, BRASIL (1905-1930)

PRÁCTICAS DE LECTURA EN EL CENTRO PSYCHICO DE CAETITÉ, BAHIA (1905-1930)

READING PRACTICES IN THE CENTRO PSYCHICO DE CAETITÉ, BAHIA STATE (1905-1930)

PRATIQUES DE LECTURE AU CENTRE PSYCHICO DE CAETITÉ, BAHIA (1905-1930)

Joseni Pereira Meira Reis* 
http://orcid.org/0000-0003-3147-8106

Ana Maria Oliveira Galvão** 
http://orcid.org/0000-0001-9063-8267

*Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Guanambi/BA, Brasil.

**Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte/MG, Brasil.


Resumo

O artigo analisa as práticas de leitura ocorridas no Centro Psychico de Caetité, Bahia, nas primeiras décadas do século XX. As fontes documentais utilizadas- atas, cartas, cartões, livro de manifestação dos espíritos - encontram-se no arquivo da instituição. O Centro mantinha intensa prática de leitura/audição de múltiplos objetos em seu cotidiano, revelando que o ato de ler cumpria papel ativo na construção da própria identidade do “ser espírita”. Tal leitura ocorria de modo coletivo, oralizado, gestualizado, mediado e controlado.

Palavras-chave: práticas de leitura; instância religiosa; espiritismo; século XX.

Resumen

El artículo analiza las prácticas de lectura que ocurrieron en el Centro Psychico de Caetité, Bahía, en las primeras décadas del siglo XX. Las fuentes documentales utilizadas - actas, cartas, tarjetas, libros de manifestación espiritual - se encuentran en el archivo de la institución. El Centro mantuvo una práctica intensa de lectura/escucha de múltiples objetos en su vida cotidiana, revelando que el acto de lectura desempeñó un papel activo en la construcción de la identidad propia del "ser espiritista". Dicha lectura ocurrió colectivamente, oralmente, gestualizada, mediada y controlada.

Palabras clave: prácticas de lectura; instancia religiosa; espiritismo; siglo XX.

Abstract

The paper aims to analyze the reading practices in the Centro Psychico de Caetité, Bahia State, in the first decades of the 20th century. The main sources used in the research - minutes, letters, cards, spirit manifestation books - can be found in the institution's archive. The Center maintained intense practice of reading / listening of multiple objects in its daily activities, revealing that the act of reading played an active role in the construction of the identity of the “spiritist self”. Such reading occurred collectively, orally, gestualized, mediated and controlled.

Keywords: reading practices; religious instance; spiritism; 20th century.

Résumé

L´article analyse les pratiques de lectures qui se sont passées au Centre Psychico de Caetité, à Bahia, pendant les premières décenies du XXième siècle. Les sources documentaires utilisées - actes, lettres, cartes, livre de manifestation des esprits - se trouvent aux archives de l´institution. Le Centre maintenait une intense pratique de lecture/audition de plusieurs objets au quotidien, démontrant que l´acte de lire avait un rôle actif dans la construction de la propre identité “de l´être spirite”. Telle lecture se passait de façon collective, orale, mesurée et controlée.

Mots clés: pratiques de lecture; instance religieuse; spiritisme; xxième siècle.

Introdução

Neste artigo, que é parte de uma pesquisa mais ampla, buscamos reconstruir as práticas de leitura no Centro Psychico de Caetité, Bahia, identificando quem era o leitor-mediador autorizado, que tipos de leituras eram realizados e os sentidos e os usos a elas atribuídos. O período do estudo situa-se entre 1905 e 1930 e refere-se às décadas iniciais de funcionamento da instituição, fase marcada por tensões, desafios e avanços que contribuíram para o seu reconhecimento junto à comunidade regional.

Fundamentados em estudos realizados nos âmbitos da História Cultural, da História da Cultura Escrita e da História da Educação (CHARTIER, 2001, 2002; GALVÃO, 2007, 2010), pressupomos que a leitura somente pode ser compreendida quando inscrita em contextos específicos, em sua historicidade. Não se trata, portanto, de uma prática universal e a-histórica. Nesse sentido, buscamos identificar, a partir das proposições feitas por Darnton (1990), o que se lê, como se lê, quem lê e o modo de ler na instituição investigada. Mapear os elementos das práticas de leitura propiciou-nos os “indícios sobre a natureza de sua experiência” (DARNTON, 1990, p. 56).

As relações entre religiosidade, alfabetização e cultura escrita na história têm sido objeto de vários estudos, realizados nas últimas décadas, em diversos países do mundo (FRAGO, 1993; FURET; OZOUF, 1977; MAGALHÃES, 2001). No entanto, enquanto algumas denominações religiosas têm sido amplamente pesquisadas, como é o caso do protestantismo em suas diferentes vertentes, outros pertencimentos ainda não foram suficientemente estudados. Esse é o caso do Espiritismo. Embora seja considerada uma doutrina fundamentada na leitura, poucos trabalhos se dedicaram a compreender melhor essas relações, sobretudo no caso brasileiro.

No campo da História da Educação, por sua vez, embora existam vários trabalhos que tematizam o Espiritismo, eles tendem a se concentrar no estudo de práticas educativas escolares, na análise de trajetórias de intelectuais (BRETTAS, 2006; OLIVEIRA, 2007; LODI-CORRÊA, 2009) ou enfatizam o processo de implantação das instituições, os sujeitos e os fazeres que as caracterizam como, por exemplo, o assistencialismo, evidenciando as orientações religiosas disseminadas por essas instâncias que se organizaram para educar, especialmente, as crianças pobres e desamparadas (BIGHETO, 2006; FUCKNER, 2009; GIL, 2013).

Diante dessas constatações, acreditamos que o estudo pode trazer contribuições para os campos da História da Cultura Escrita e da História da Educação no país, uma vez que, tradicionalmente, as pesquisas tendem a analisar a escola como o principal - e às vezes - único espaço de mediação entre os sujeitos e o mundo da palavra escrita (GALVÃO, 2010). Além disso, auxilia a compreender, de modo mais amplo, o papel de instâncias não escolares na formação da população.

Para a realização da pesquisa, foram utilizados como principais fontes documentais as atas, cartas, cartões, livro de manifestação dos espíritos produzidos na própria instituição e por ela preservadas em acervo localizado em Caetité, Bahia. Foram utilizadas, ainda, outras fontes, como documentos da Federação Espírita Brasileira e obras clássicas do Espiritismo. A partir dos referenciais teórico-metodológicos propostos por Certeau (1982) e com base no intenso contato com a empiria - sua leitura e releitura -, elaboramos categorias temáticas e realizamos os movimentos de descrição, inferência e interpretação (BARDIN, 1977).

O artigo está dividido em duas partes. Na primeira, discutimos o papel do leitor-mediador no cotidiano das práticas de leitura do Centro, principalmente do diretor ou de outro membro da diretoria portador de uma leitura autorizada. Embora as leituras realizadas na instituição estivessem orientadas pela Federação Espírita Brasileira (FEB), pressupomos que esses leitores-mediadores imprimiam nelas os sentidos, os usos e as apropriações reconhecidos como legítimos à interpretação considerada correta - de acordo com os princípios doutrinários - dos textos lidos.

Em seguida, identificamos os tipos de leitura e como eram realizadas. Para isso, elencamos quatro grupos de leitura/audição: ordinárias; fundantes da doutrina; indicadas pela FEB; e as literárias. Observamos a importância que assumiam no contexto de surgimento e de prática da Doutrina Espírita em Caetité.

O LEITOR-MEDIADOR “AUTORIZADO”

Para mapear quais e como eram realizadas as leituras no Centro Psychico, partimos do princípio de que elas “[são] sempre uma prática encarnada em gestos, em espaços, em hábitos” (CHARTIER, 1994, p. 13); ou seja, os elementos que fazem parte do ritual estável do grupo praticante nos dizem muito sobre as condições históricas em que foram produzidos, assim como da sua comunidade de leitores. Vários elementos interferem na recepção e apropriação dos textos. Nos textos religiosos, em especial, a liberdade de interpretação dos sujeitos é controlada pela modalidade partilhada do ler, visto que as leituras realizadas na comunidade são feitas em voz alta e, principalmente, pela figura do leitor-mediador, que busca lhes imprimir um sentido “autorizado” (BOURDIEU, 2008).

No Centro, as sessões ordinárias ocorriam às terças e sextas-feiras e eram divididas em alguns momentos: em um primeiro momento, o presidente, na figura de dirigente, era o responsável pela abertura da reunião e pela condução dos trabalhos. Ele saudava os presentes e em seguida fazia uma oração em voz alta, que era acompanhada pelo grupo em silêncio. Depois, acontecia a leitura da ata da reunião anterior, que também era feita em voz alta para a coletividade, seguida de sua aprovação. Faziam-se então os comunicados e a leitura “das manifestações da sessão passada e aquelles pontos mais essenciais à obtenção da boa ordem e a união entre todos os socios” (ACTA, 03/04/1906). O presidente do Centro era o responsável por conduzir os trabalhos e, na sua ausência, o vice-presidente ou segundo secretário assumia o cargo. A função de leitor-mediador autorizado permite-nos questionar o que a constituía e quais os requisitos necessários para o seu desempenho. Esse papel restringia-se apenas às pessoas com elevado nível de letramento? Quais as especificidades dessa função no Centro Psychico?

As atas, o jornal Lux e o Livro de manifestação dos espíritos demonstraram que, em casos excepcionais, por meio da mediunidade, pessoas com baixos níveis de letramento podiam também desenvolver a função de leitor e expositor, a exemplo de Virgílio Cotrim. Uma evidência dessa ocorrência refere-se à leitura de um capítulo do Livro dos médiuns, “o qual foi explicado por um dos nossos guias que falam pelo médium Virgilio, com frases, como sempre, repassadas de amor e carinho. Convida-nos a fazermos a nossa regeneração; arrancando de nossos corações os vicios e torpezas” (ACTA, 10/03/1922). Inferimos que essa leitura teve um significado relevante para o grupo, pois foi explicada por um “guia do Centro” através do médium (falante). Logo, a mensagem oral emitida pelo médium Virgílio, que se dizia analfabeto, possuía forte poder de persuasão, na medida em que se acreditava vir de um “espírito superior”, detentor de autoridade. Portanto, ela demandava, de certa forma, respeito por parte dos adeptos. A partir disso, percebe-se que, no Centro, a sociabilidade em torno da leitura possibilitou, de forma peculiar, que pessoas consideradas pouco letradas tivessem contato mais intenso com a cultura escrita, ocupando a função de leitor-mediador com “competência” e “autoridade”.

Para formar o leitor/ouvinte espírita, fazia-se necessário instituir, entre os participantes, um clima amistoso e de colaboração mútua. Orientava-se a formação de “aulas de philosophia em proveito dos iniciados na crença, para que se fortaleça na fé, pois não comprehendem a nossa crença”. A sugestão apresentada para a criação de aulas de filosofia denota a relevância atribuída ao aspecto da formação dos adeptos para a “adequada” recepção dos textos da doutrina. Isso nos remete à ideia de Certeau (2001, p. 267), que analisa o “sentido literal” das leituras como produto de uma elite social. Na sua perspectiva analítica, a leitura fica circunscrita a uma relação de forças na qual apenas as pessoas “autorizadas” estão capacitadas a decifrar os segredos contidos nos textos, na medida em que elas são consideradas os “verdadeiros intérpretes”. Para o autor, o sentido “literal” revela o poder e o efeito social de uma elite, torna-se uma lei, pois legitima o poder atribuído à interpretação de determinadas classes de profissionais e de clérigos socialmente autorizados. No Centro Psychico é visível a tensão entre a prática de uma fé raciocinada e o controle feito pela figura do leitor-mediador, como pode ser observado ao se proporem aulas de Filosofia: visava-se, particularmente, assegurar aos adeptos as condições necessárias para uma interpretação “correta” dos textos, consonante com os preceitos da doutrina.

Havia no Centro um grupo de leitores com uma bagagem mais intensa de leitura, em comparação com outro grupo formado pelos iniciantes, que careciam de um suporte maior que os auxiliasse na “correta” recepção das leituras. Entretanto, pode-se observar que, ao final, de forma coletiva, todos estavam submetidos a uma interpretação autorizada. A partir das considerações sobre a relevância da função do leitor/mediador para a doutrina, bem como as especificidades subjacentes ao seu processo, torna-se necessário identificar quais eram as leituras por ele mediadas.

AS LEITURAS REALIZADAS NO CENTRO

Partindo do mapeamento do corpus de livros, identificamos os tipos de leituras feitas no Centro Psychico e como elas se davam. Na tentativa de agrupá-las, estabelecemos quatro grandes categorias (Quadro 1).

Quadro 1 Classificação das leituras realizadas no Centro Psychico. 

TIPOS OBJETOS
Leituras ordinárias Orações, atas, cartas, cartões, não confessionais.
Leituras fundantes da doutrina (Pentateuco de Kardec) O Livro dos espíritos, O evangelho segundo o Espiritismo, O Livro dos médiuns, O gênesis e O céu e o inferno.
Leituras indicadas ou prescritas pela FEB Revista Reformador, mensagens mediúnicas, livros científicos, filosóficos/outros, Os quatro evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing e impressos variados.
Leituras literárias Romances/novelas e poesias.

Fonte: Elaborado pelas autoras com base nas seguintes fontes - livro de atas, cartas, cartões.

Passamos a identificar o que se lia e como se lia. Interessa-nos saber como se davam essas leituras no cotidiano do Centro e quais eram as suas funções.

Em primeiro lugar, identificamos as leituras ordinárias, definidas como aquelas que estavam inscritas nas ações cotidianas do Centro e que foram estabelecidas por normas gerais que definiam a dinâmica de organização e funcionamento das sessões. Portanto, nessa categoria se inscrevem as leituras feitas a partir das escritas manuscritas ou impressas produzidas no seu espaço, cujo conteúdo era posteriormente lido em voz alta durante as sessões, a exemplo das orações, atas, cartas, cartões e as não confessionais. Faziam parte também desse quadro os materiais impressos vindos de outros lugares, que foram publicados em jornais, revistas ou livros e que tinham como objetivo mais amplo formar e informar o leitor acerca da Doutrina Espírita.

A oração inicial, geralmente, era recitada. Fazia parte do ritual de abertura da sessão e normalmente era proferida pelo dirigente - o diretor ou vice-diretor -, acompanhada pelo público presente. No seu decorrer, podiam também ocorrer outros tipos de orações e, no encerramento, a oração final. Elas faziam parte das leituras ordinárias implícitas à doutrina, entretanto, havia ainda as que só eram oralizadas caso houvesse necessidade, considerando-se que se destinavam a situações específicas.

A leitura da ata era outro tipo de leitura ordinária, feita em voz alta. Tal condição era imprescindível para a sua aprovação, ocorrendo logo no início da reunião. O momento da leitura servia para relembrar e retomar os assuntos tratados na sessão/reunião anterior. A oralização do texto escrito e a sua confrontação com as lembranças da reunião passada permitiam fazer a reflexão sobre as falas. Esse procedimento mostra como as dimensões oral, escrita, gestual e de sensações estão interligadas, na aproximação da redação da ata aos acontecimentos da última reunião. A reiterada leitura das atas demonstra que havia uma ação deliberada para que os ouvintes pudessem pensar e refletir sobre as questões ali escritas. Isso torna evidente que, apesar das especificidades inerentes ao oral e ao escrito, essas dimensões não podem ser consideradas de modo dicotômico.

As cartas e os cartões constituíram outro objeto de leitura e de socialização em torno do escrito. As missivas eram um dos principais modos de comunicação utilizados pela instituição para manter contato com outras instituições ou com pessoas. Portanto, as cartas atendiam a diversas e variadas funções. Os cartões, por sua vez, traziam textos mais objetivos e concisos, dada a sua formatação e tamanho. Os assuntos neles tratados eram os mais diversos, mas, geralmente, informavam sobre algo que fora ou que iria ser realizado. Os cartões também se destinavam às ocasiões em que se pretendia felicitar, parabenizar, congratular, ou se solidarizar pela morte de alguém.

Por fim, identificamos as leituras não confessionais. Essa categoria engloba escritos sobre temas considerados externos à doutrina, mas que, pela necessidade, podiam ser lidos no decorrer das reuniões. Geralmente, essas leituras eram realizadas com o intuito de embasar algum posicionamento do Centro e tratavam de questões de ordem política, econômica e social, tanto em nível local como em nível estadual, nacional ou mundial, cumprindo uma função informativa e formativa.

Em segundo lugar, temos as leituras fundantes da doutrina, que se referem aos livros considerados básicos, que contêm os princípios filosóficos, doutrinários e religiosos do Espiritismo. Entre eles, destacam-se O Livro dos espíritos, O Livro dos médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Gênesis e O céu e o inferno, codificados por Allan Kardec e elaborados com a ajuda dos espíritos, conforme sua definição. Esse conjunto evidencia como a presença do livro e da leitura desses textos está fortemente imbricada na constituição da Doutrina Espírita.

Além desses livros, o Espiritismo utiliza diferentes tipos de textos impressos, recursos que servem para auxiliar os adeptos na compreensão dos seus preceitos. Conforme assinalado por Braga (1945), os livros servem para a preparação de uma nova cultura e de uma nova mentalidade e não se restringem apenas às obras fundantes. Segundo o autor, “precisa-se [...] de muitos, e sempre novos livros, porque o Espiritismo não fica estacionário em uma coleção de obras, nem mesmo as que apresentamos como fundamentais da doutrina [as obras de Allan Kardec]” (BRAGA, 1945, p. 14).

Eram recorrentes as referências às obras do Pentateuco, notoriamente porque a elas foram dedicadas reuniões exclusivas para o seu estudo: “Foram lidos alguns capitulos do livro dos Espiritos, com algumas explicações proveitosas pelo nosso primeiro Secretario, como o Presidente, [...]” (ACTA, 23/08/1907). Essas leituras eram realizadas de forma intensiva, especialmente o Livro dos espíritos e o Livro dos médiuns, visto que, nas atas, eram constantes as referências a esses livros. Isso sugere, portanto, que eram relidos. Dessa forma, a releitura dos textos colabora para que o texto seja apropriado por seus leitores, pois, de acordo com Chartier (1996), essa maneira de ler “assegura eficácia ao texto, graças ao trabalho de apropriação lento, atento e repetido” (CHARTIER, 1996, p. 88). Os livros que contêm os princípios e os fundamentos básicos de qualquer religião necessitam sempre ser retomados e relidos, já que a intensa repetição possibilita que eles sejam “guardados na memória”, pelo menos em suas partes principais, no intuito não apenas de atualizar e ampliar os ensinamentos, como também de fortalecê-los na crença dos fiéis.

Em terceiro lugar, temos as leituras indicadas pela FEB, que tinham como finalidade definir quais os livros e autores deveriam ser lidos, além de orientar a sua realização. Entre os materiais nomeados, destacam-se a revista Reformador, mensagens mediúnicas, livros científicos e filosóficos, Os quatro evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing, panfletos e outros. Essas indicações chegavam ao Centro Psychico por meio de panfletos, cartas e da revista Reformador.

A revista Reformador foi fundada em 1883, no Rio de Janeiro; é considerada um dos primeiros periódicos espíritas do Brasil e circula até os dias atuais. Inicialmente, circulou em formato de jornal, mas, após a criação da Federação Espírita Brasileira, foi transformada em revista (PRATA, 2016). O Reformador, como um órgão da Federação, de periodicidade mensal, tornou-se o principal canal de divulgação da doutrina, bem como das ações e atividades desenvolvidas pelos diversos centros espíritas a ela filiados.

Nas atas, diversas citações feitas à revista indicam que ela era um dos suportes mais lidos, depois dos livros do Pentateuco. Como forma de ampliar e manter o acesso dos adeptos às edições da revista, o Centro Psychico desenvolveu uma política de preservação e armazenamento dos materiais que compunham o acervo da hemeroteca, formado por jornais e revistas espíritas do início do século XX, publicados tanto no Brasil quanto no exterior. Há indicação de recebimento, assinatura e permuta de jornais entre as instituições. No conjunto desse material, a revista Reformador destaca-se com o maior número de edições. Ao final do ano, todas as edições desse periódico eram encadernadas em material de capa dura ou apenas costurados, formando, assim, um único volume. A prática de encadernar indica a preocupação em preservar o periódico, visto que as edições não eram descartadas pelo fenômeno da desatualização, dada a relevância dos seus textos para a compreensão dos princípios e valores que fundamentam a doutrina. Esse cuidado evidenciou que o periódico não era visto como uma produção efêmera, e isso permitiu estarem todos os seus números conservados nos presentes dias. As marcas de leitura feitas nos exemplares da revista por meio da escrita do nome do Centro, textos com orações, pedaços de papel, fragmentos de propagandas e a dedicatória assinada pela pessoa que fez a doação da encadernação foram algumas das sinalizações deixadas pelos leitores. Esses indícios corroboram a perspectiva do uso e valorização atribuída ao impresso. Revelam, também, a intensidade do seu uso, mostrando que seus textos eram lidos e possivelmente relidos, tanto de forma intensiva quanto extensiva. Assim, o Reformador apresentava como principais características a periodicidade de sua publicação, sua longevidade e seu uso intenso.

As leituras da revista Reformador cumpriam uma função proselitista, sobretudo porque buscavam instituir certa homogeneidade na compreensão dos fatos, assim como na atuação dos espíritas. Ana Soares (2016) destaca ainda que o impresso tinha a função de sistematizar e orientar as leituras dos adeptos, sobretudo porque era uma publicação oficial da Federação, portanto, divulgava os livros indicados para leitura em uma seção intitulada “Bibliografia”. A autora salienta ainda que, a partir de 1938, a Federação passou a publicar o Catálogo Livraria da Federação Espírita Brasileira, que foi uma das formas utilizadas para se fazer “propaganda” da variedade de materiais e de autores espíritas. Entretanto, nele “não só se divulgavam esses materiais, mas os enredavam numa dinâmica de prescrição e validação dos discursos” (SOARES, 2016, p. 24). No preâmbulo do Catálogo de 1939, o redator dirige-se ao leitor e destaca que, na então revista formada essencialmente por obras espíritas dos “autores mais autorizados, quer nacionais, quer estrangeiros, encontrará o leitor, além da facilidade da escolha, a certeza de adquirir em qualquer das obras inculcadas, elementos úteis à formação [...] de sua espiritualidade [...]”. Na indicação feita pelo redator, fica explícita a função da revista de recomendar ao leitor livros que estivessem coerentes com os princípios da formação na doutrina.

Essa ação evidencia que a FEB exercia controle sobre as leituras realizadas em suas filiadas espalhadas pelo Brasil ou mesmo por adeptos do Espiritismo em espaços privados, pois, como se indica no próprio Catálogo, o acesso do leitor podia acontecer de forma individual, haja vista que recebia e manuseava o impresso “no aconchego do lar, em momentos de lazer, as suas páginas apresentam à apreciação do leitor, em forma resumida, os assuntos tratados nos livros de que se compõe”. Isso revela, ainda, o seu poder ao instituir e legitimar quais eram as leituras consideradas adequadas e “autorizadas” para um leitor espírita. A ação de produzir um catálogo buscava também definir um corpus variado de leitura, de cunho formativo e pedagógico na doutrina, com a finalidade de uniformizar as práticas de leituras realizadas nos centros e entre os sujeitos vinculados à Federação.

As mensagens mediúnicas também constavam das leituras indicadas pela FEB e compunham o rol das práticas orais realizadas em quase todas as sessões ordinárias. Nessas sessões, liam-se as mensagens recebidas no próprio Centro, bem como as que eram publicadas pelos impressos espíritas. A prática da leitura das mensagens mediúnicas foi recorrente na instituição, sendo retomada sempre que necessário, conforme registro: “foram lidas as manifestações mais importantes obtidas na sessão passada e aquelles pontos mais essenciais à obtenção da boa ordem e união entre todos os socios” (ACTA, 03/04/1906). Vale dizer que as leituras de mensagens mediúnicas apresentavam caráter fundamental entre as demais leituras realizadas no Centro. Tal consideração se explica pela natureza da escrita que lhes dá origem - a psicografia -, que constituiu uma atividade inerente à doutrina e tem como uma de suas funções orientar e ordenar os trabalhos no Centro, bem como as ações dos sujeitos.

As leituras de cunho científico-filosófico constituem outra indicação feita pela Federação. Trata-se de livros que foram produzidos por autores como os franceses Léon Denis, o engenheiro-elétrico Gabriel Delanne, o astrônomo Camille Flammarion e o químico e físico inglês William Crookes. Eles tiveram uma vasta produção literária e foram, depois de Allan Kardec, os autores responsáveis pelas obras consideradas complementares e basilares da doutrina (SOARES, 2016). Portanto, esses autores contribuíram para divulgar e popularizar o Espiritismo. No Brasil, em fins do século XIX e início do século XX, foram comuns a circulação e a leitura de livros espíritas, em francês, ainda sem tradução (SOARES, 2016).

Em Caetité, por exemplo, era comum a leitura de livros em francês, sobretudo entre os adeptos da doutrina. No Centro, a oralização dessas obras era feita principalmente por João Gumes, que se encarregava de fazer a tradução do material, como destaca o registro em ata: “[...] sendo também lidas algumas bellas manifestações, das que vem publicadas na obra de Noeggerath, - La Survie, cujo texto em francez foi traduzido e lido pelo socio João Gumes” (ACTA, 08/01/1907).

Para a Doutrina Espírita, as leituras de cunho científico e filosófico foram relevantes para a sua divulgação e reconhecimento, sobretudo as obras dos autores que já desfrutavam de certo prestígio e destaque na área em que atuavam. Entre esses autores, ressalta-se o filósofo, médium e escritor francês Léon Denis. Algumas obras do autor foram utilizadas para estudo nas reuniões do Centro: Après la mort (1890); Jeanne d’Arc a médium (1910); Christianismo e Espiritismo (1889); No invisível (1903); O porquê da vida (1885); O problema do ser, do destino e da dor (1905).

As leituras dos livros de Léon Denis foram realizadas ao longo dos anos de 1909 a 1928, de forma que, para cada ano, lia-se uma (ou mais de uma) obra do autor, podendo, ainda, serem retomadas as obras já lidas. O livro No invisível aparece como lido nos anos de 1910, 1921, 1927 e 1928, classificada como “portentosa”, em uma das atas (ACTA, 27/12/1927). As indicações demonstram que os capítulos eram lidos de forma sequenciada, e a cada reunião era estudado um ou mais capítulos da obra: o “director deu começo a leitura ‘O por que da vida’ de Léon Denis” (ACTA, 12/03/1909).

Portanto, as reiteradas citações a esse autor e a outros, como Flammarion e Delanne, indicam, de alguma forma, que o Centro conferiu atenção ao estudo das obras de cunho científico-filosófico de autores reconhecidos mundialmente. Por sua vez, livros como Este mundo e o outro, de Robert Dale Owen, de 1900, Animismo e Espiritismo, de Alexander Aksakof, publicado em 1903, Phenomenos psychicos e ocultos, de Dr. Albert Coste, do mesmo ano, Physica transcendental, de Johann Carl Friedrich Zöllner, de 1908, além de outros com características semelhantes, também de autores reconhecidos, não aparecem como lidos nos registros das atas, mas faziam parte do corpus da sua biblioteca.

No Centro, a leitura desses livros seguia a mesma rotina estabelecida para os demais, ou seja, leitura em voz alta, seguida dos comentários por parte do leitor/mediador. Nessa instância também se liam outros títulos igualmente relevantes para a compreensão e reconhecimento da doutrina, como: A vida além do véu (1920-1921), do Reverendo George Vale Owen; O Paiz da Luz (1908), de Fernando Lacerda; Espirito Consolador, do Padre V. Marchal; Roma e o Evangelho (1874), de D. José Amigó Y Pellicer; O Espiritismo perante a ciência (1885) e A alma é imortal (1899), de Gabriel Delanne.

Nas leituras diversas temos ainda o citado livro Roma e o Evangelho, compilado por D. José Amigó Y Pellicer, em 1874. O autor defende que o Espiritismo reúne melhores condições de realizar uma leitura dos Evangelhos do que a Igreja Católica. Esse tipo de abordagem tinha como objeto de análise o catolicismo e os seus preceitos religiosos, o que era uma discussão presente na produção dos livros espíritas escritos tanto por autores médiuns, como por autores não médiuns. O objetivo dessas produções era apontar os aspectos negativos do catolicismo para, depois, rejeitá-los (SOARES, 2016).

Para Soares (2016), essa vertente interpretativa expressa que os adeptos do Espiritismo responsáveis pela produção dessas obras eram geralmente dissidentes do catolicismo. Indica, ainda, que a afirmação do Espiritismo passava também pela negação da religião Católica, na medida em que a nova doutrina teria surgido para suprir as falhas da religião dominante naquele momento. O romance Memórias do Padre Germano, de Amalia Domingo Soler, foi outro livro escrito nessa perspectiva interpretativa e fez parte, igualmente, das leituras realizadas no Centro.

A leitura de Os quatro evangelhos (1866), obra escrita pelo advogado francês Jean Baptiste Roustaing (1805-1879), também foi realizada no Centro. Na obra, o autor apresenta graves contradições doutrinárias em relação aos princípios do Espiritismo. No Brasil, o livro teve rápida acolhida no âmbito da constituição da FEB, principalmente em função das tensões internas que surgiram, provocando divergências entre os grupos (FREITAS, 2015). No Centro, a leitura da obra foi submetida pelo diretor para a apreciação da plenária, consultando “à Casa se concordavam em ler ‘Os Quatro Evangelhos’, de Roustaing; sendo unanimemente approvado” (ACTA, 12/07/1910). Assim, nesse período, a obra foi lida em várias reuniões destinadas ao seu estudo, sob a orientação do diretor. Anos depois, a FEB enviou novamente missiva à instituição, sugerindo a aquisição da referida obra: “Não tendo decidido os associados do Centro, resolveu o V. d. esperar mais quinze dias ficando a subscripção à disposição d’aquelle que quisesse assignal-a” (ACTA, 09/08/1918).

A hesitação dos membros em assinar a lista para aquisição do referido livro parece indicar que eles já tinham conhecimento das contradições existentes entre a abordagem feita pelo autor sobre o Espiritismo e a abordagem de Allan Kardec. No intuito de sanar tal impasse, “O espirito de St. Julia por meio do médium Virgilio, aconselhou a leitura do Evangelho de Roustaing” (ACTA, 09/08/1918). O guia justificava a relevância da sua leitura, afirmando que o “estudo criterioso dessa obra sublime é que trará o desenvolvimento do Espiritismo neste mundo” (ACTA, 09/08/1918). Posteriormente, outra manifestação, realizada por meio do médium falante Virgílio Cotrim, solicita aos membros: “[...] deveis meus bem amados filhos, ler e estudar os Evangelhos. Nos dias destinados ao estudo d’elles, não haverá comunicados, pois essa sessão será especialmente para o estudo dos Evangelhos” (ACTA, 15/05/1919). A mensagem informa também que essas reuniões seriam destinadas somente ao seu estudo e que pessoas da comunidade poderiam ser convidadas para delas participarem. Solicita, ainda, “paciência”, “perseverança” e “boa vontade” para com os outros que tenham dificuldades de compreensão da obra. Por fim, determina que o estudo deva continuar, ainda, nas reuniões ordinárias.

A FEB, cumprindo a política de promover a divulgação e a circulação da obra, além de indicar a sua leitura, enviava como cortesia um exemplar do livro às entidades que a ela estavam associadas, o que funcionava também como uma forma de estimular os membros a adquirirem o livro. Para realizar essa ação, a instituição baseava-se nas orientações contidas no Catálogo racional das obras para se fundar uma biblioteca espírita, de 1869. Essa publicação acompanhava a Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, ambos fundados por Allan Kardec. O Catálogo tinha como finalidade indicar e orientar as leituras que deveriam ser praticadas pelo leitor espírita ideal e definia o que se deveria ler. Além das “Obras fundamentais da Doutrina Espírita”, o material orientava os seus leitores a ler “Obras realizadas fora do Espiritismo” e “Obras contra o Espiritismo”. Ali constava, inclusive, a indicação do livro de Roustaing com comentário sobre a obra, destacando que ele se fundamentou na teoria “da natureza fluídica do corpo de Jesus”, que foi defendida por determinados grupos nos primeiros séculos da Era Cristã.

Todavia, o procedimento da Federação parece ter sido paradoxal, pois, sendo uma instituição que tinha por objetivo promover o “estudo”, a “prática” e a “difusão” do Espiritismo, incentivava a publicação e divulgação de uma obra que questionava um preceito central da doutrina - a encarnação e a reencarnação. Mas, como destacou Amorim (2007), a obrigatoriedade da leitura do livro de Roustaing resultou dos conflitos e disputas entre os grupos atuantes no interior da FEB.

Os membros do Centro, na medida em que seguiam um roteiro de leitura prescrito pela FEB, também mobilizavam outras estratégias para a leitura da referida obra. Exemplo disso é a leitura comparada com textos bíblicos: “[...] foi lida a Biblia em confronto com os Evangelhos de J. B. Roustaing” (ACTA, 11/11/1919). A sugestão do Centro coaduna-se com as proposições feitas pelo Livro dos médiuns, orientando aqueles que desejassem conhecer uma ciência a fazê-lo a partir do conhecimento de tudo o que sobre ela se tem escrito “ou, pelo menos, o que haja de principal, não se limitando a um único autor. Devem mesmo ler o pró e o contra, as críticas como as apologias, inteirar-se dos diferentes sistemas, a fim de poderem julgar por comparação” (KARDEC, [1861] 2003, p. 57). Partindo das orientações feitas por Kardec, pode-se concluir que, apesar de o livro Os quatro evangelhos propor uma interpretação contrária aos princípios kardecistas, a escolha dessa leitura não foi feita com a intenção de negar o pensamento de Kardec, mas, sim, para reafirmá-lo; nessa finalidade, estava implícita tal proposição, sobretudo porque a sua leitura acontecia no Centro de forma coletiva e mediada. Portanto, os sentidos e a apreensão que o leitor atribuía ao texto eram regulados e controlados.

As obras lidas no Centro faziam parte do acervo da biblioteca, cuja montagem podia acontecer através de doações, a exemplo das ofertas feitas pela Federação e por adeptos da Doutrina Espírita. Os livros tinham o carimbo da biblioteca e a forma de aquisição, o que podia ocorrer também por meio de compra pelo Centro, constando, nesse caso, o valor pago e a data. Caso fosse doação, constava o nome do doador. A doação de impressos dos mais variados suportes para a biblioteca evidencia que os seus membros colaboravam com a ampliação do seu acervo, assim como reafirma a relevância da leitura para os espíritas.

Por último, nas leituras indicadas pela FEB, incluem-se impressos como panfletos e folhetos, produzidos pela instituição ou por centros espíritas espalhados pelo Brasil ou no exterior. O conteúdo desses materiais era de cunho informativo, formativo e instrutivo. A sua leitura podia acontecer tanto no transcorrer das sessões ordinárias como nas reuniões de estudo.

A produção dos folhetos representava, portanto, uma forma direta e objetiva utilizada pela FEB para comunicar e instruir os seus associados. A Federação indicava ainda a leitura de artigos e folhetos sobre os autores espíritas do Brasil, sobretudo daqueles que estavam vinculados à instituição e colaboravam para a institucionalização da doutrina, como, por exemplo, Bezerra de Menezes. Na mesma direção, foram lidos também folhetos da “lavra de Bittencourt Sampaio sobre a constituição de grupos espiritas” (ACTA, 24/01/1922).

Por fim, identificamos, com base na leitura das fontes, as leituras literárias. A leitura de romances, novelas, poesias e opúsculos era, também, uma prática comum no Centro. Nas atas, é possível observar que esses objetos eram lidos por inteiro ou quase na sua íntegra, sendo destinadas reuniões seguidas para a leitura de um único material. Destacamos algumas obras citadas nas atas, como, por exemplo, Na sombra e na luz (1918) e Do Calvário ao infinito (1922), de Zilda Gama; Marieta (1912), de Daniel Suarez Artazu; Memórias do Padre Germano (1909), de Amalia Domingo Soler.

Dois desses romances, Do calvário ao infinito e Na sombra e na luz, são atribuídos à autoria espiritual de Victor Hugo (1802-1885), renomado escritor francês que aderiu à doutrina espírita. Zilda Gama foi a médium responsável pela psicografia dos livros, ainda no século XIX. Apesar de cada um desenvolver uma trama específica, neles são tratados os princípios e os valores inerentes ao Espiritismo, notadamente pela referência a temas como a encarnação, os sofrimentos vivenciados pelos personagens, a lei de causa e efeito, apresentando como objetivo principal trazer à tona a capacidade de regeneração dos sujeitos. O romance Marieta, considerado um clássico pelos espíritas, também aborda em seu enredo temas como “imortalidade da alma”, “reencarnação” e a “lei de causa e efeito”. Por sua vez, em Memórias do Padre Germano, psicografado por Amalia Domingo Soler em um centro espírita da Espanha, no final do século XIX, o espírito do padre descreve “o seu trabalho de sacerdote católico, desenvolvido durante a sua última encarnação terrena, toda ela consagrada à consolação dos humildes e oprimidos”. Um dos objetivos da obra é convencer o leitor de que somente através do dedicado “esforço pessoal” é que se atinge a “eternidade”.

Acreditamos que, na época, o romance espírita funcionava como um tipo de leitura que despertava o interesse e a curiosidade das pessoas, principalmente daqueles que não eram adeptos do Espiritismo, de forma que o contato mais ou menos intenso e as experiências poderiam formar o gosto por leituras desse gênero, conduzindo o leitor a outros tipos de leitura espírita. Essas obras eram produções com forte apelo emocional, marcadas pela presença do sofrimento, da dor e da regeneração moral na vida dos personagens.

O papel da literatura era considerado tão relevante na formação dos adeptos que a Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos, escrita por Allan Kardec em janeiro de 1867, dedicou uma edição especial aos romances espíritas. Inicialmente, a publicação do romance ocorria nos impressos confessionais em formato de folhetim, servindo, portanto, para divulgar a doutrina. No referido número da Revista Espírita, Kardec afirmou que o Espiritismo ainda é “muito pouco, ou melhor, muito mal conhecido pela literatura, para ter fornecido assunto a muitas obras deste gênero” (KARDEC, 1897, n.p.). Ele ressaltou também que, na época, Théophile Gautier publicou, sob o nome de Spirite, obra considerada de destaque; entretanto, o autor enfrentou críticas por ter-se afastado em vários pontos das ideias em que se pautava a doutrina. Kardec destaca ainda que, em alguns outros romances, o Espiritismo fornece apenas o tema de alguns episódios e afirma que “o tema da reencarnação é bastante profícuo aos romancistas, revela-se efeitos empolgantes e que não se afastam da vida material” (KARDEC, 1897, n.p.). Ao abordarem o Espiritismo na sua trama narrativa, os romances contribuíam para dar visibilidade ao tema, sobretudo colaborando no processo de divulgação, popularização e aceitabilidade da doutrina, que, no final do século XIX, ainda enfrentava fortes resistências para o seu pleno estabelecimento.

As condições de escrita e a produção autoral do texto psicográfico constituem elementos indispensáveis para compreensão da psicografia como prática letrada, principalmente no que se refere ao processo de circulação e recepção pelos leitores (SOARES, 2016). No final do século XIX e início do século XX, os autores espíritas tiveram certo destaque na autoria dos textos mediúnicos, em detrimento da figura do médium. Segundo Marion Aubrée (2012), a trajetória da literatura espírita vincula-se ao desenvolvimento histórico do Espiritismo, tanto no Brasil como no exterior. A autora considera que, nas décadas iniciais do século XX, o romance espírita publicado pela Federação Espírita Brasileira começou a ascender numericamente, sobretudo com a publicação dos livros de Fernando Lacerda, seguidos pelos de Zilda Gama, em 1917. Essas obras eram chamadas na época de “medianímicas”, e nelas aparecem tanto o nome do médium/instrumento como o nome do(s) Espíríto(s) considerado(s) pelos espíritas como autor(es) verdadeiro(s) da obra criada (AUBRÉE, 2012). Estudos atuais também corroboram semelhante compreensão em relação à questão da produção autoral dos textos mediúnicos. Para Lewgoy (2000), a produção da escrita mediúnica é resultado de um processo de partilha entre o "autor espiritual” e o “autor encarnado”, Lewgoy defende que a obra resulta de uma partilha de “autoria” entre o médium e o guia. Na mesma direção, Ana Soares (2016) também defende a possibilidade de autoria compartilhada. Isso nos remete à ideia de que a produção do livro envolve um circuito de comunicação nos termos propostos por Darnton (1990). O processo vai desde a produção, a circulação, até o consumo dos livros; nele ocorre a interferência dos sujeitos responsáveis por cada fase desse circuito; logo, não se pode afirmar que o livro é resultado de uma única autoria.

A poesia foi outro tipo de leitura presente no Centro, geralmente apresentada de forma recitada ou lida em sessões comemorativas ou extraordinárias. Zumthor (2010) destaca a função externalizadora que a comunicação vocal desempenha no grupo social, e a poesia é um dos modos que a sociedade utiliza para pronunciar o discurso sobre si mesma, com o intuito de assegurar a sua perpetuação. No caso do Centro, isso se deu através do proselitismo religioso. Além da dimensão pragmática da comunicação vocal, a poesia também pode, em algumas situações, suscitar sentimentos mais profundos como prazer, alegria e proteção (ZUMTHOR, 2010).

No Centro Psychico, as declamações de poesias podiam acontecer nas comemorações do Natal (25 de dezembro), do aniversário de Allan Kardec (3 de outubro), havendo também recitações dedicadas a “Maria, a mãe de Jesus”. Nessas datas, contou-se com a significativa participação de crianças: “[...] seguiu-se a recitação de lindas poesias analogas pelas crianças e senhoritas Elza, Nelsa e Celsina Castro, Affonso e Flavio Neves, Candida, Carmem e Eponina Gumes, [...]” (ACTA, 25/12/1915). Outra ocorrência de participação infantil nas declamações é a da sessão comemorativa dos 25 anos do Centro. As poesias ainda podiam ser lidas após o estudo de texto mais longo ou mesmo depois de proferida uma palestra por um membro da instituição.

Segundo Prata (2016), a poesia mediúnica surgiu movida pelo ímpeto da codificação das mensagens do “além” e assumiu um caráter simbólico em função do seu valor histórico e crítico. Portanto, no âmbito da literatura espírita, ela sempre teve lugar de destaque, visto que figurava na Revista Espírita, fundada por Kardec, ao lado da obra de codificação da doutrina. No Centro, recitavam-se também poesias de autoria dos seus membros, a exemplo de produções de Marieta Lobão Gumes, Huol Gumes, Antônio Neves, entre outros. Teve destaque a participação da professora Maria Neves Lobão, que utilizou o púlpito para falar e, após sua elocução, “leu uma bella e tocante poesia, intitulada - Jesus e a mulher adultera” (ACTA, 10/08/1930).

No Centro, a produção e os modos de exposição da poesia oral cumpriram a função de doutrinação, na medida em que foram utilizados diferentes modos de transmissão e socialização. A oralização da poesia e dos demais textos demonstrava que havia, de certo modo, como já discutido neste artigo, um controle coletivo dos sentidos. Na recitação da poesia oral, esse controle envolvia também a expressão corporal, que era diferente daquela da leitura silenciosa, como afirma Certeau (2001). Na leitura oral, o corpo do leitor se mantém preso ao texto, ou seja, acompanha a sua “configuração geográfica” (p. 272), pois o texto organiza e define a atividade do leitor, impondo, por exemplo, determinado ritmo à leitura, que pode ser feita de modo pausado e controlado para que o leitor/ouvinte possa acompanhar e absorver o conteúdo. Assim, a linguagem corporal do leitor expressa gestualmente as impressões acerca do texto. Vale ressaltar que, no Centro, esses modos de ler tinham uma abrangência intergeracional, na medida em que eram destinados tanto aos adultos, quanto às crianças que frequentavam as sessões, especialmente as comemorativas.

O predomínio da leitura dos textos espíritas em voz alta de certa forma reafirma o que outros estudos sobre a doutrina (AUBRÉE; LAPLANTINE, [1999] 2009) já demonstraram: uma intensa interação entre texto/discurso, visto que ambos coexistem e se relacionam mutuamente, e o sentido da sua adequada recepção vincula-se ao desempenho da função do leitor/mediador. Isso nos remete a Paul Zumthor (1993) quando argumenta que, na escrita medieval, a oralidade sustentava o texto. Podemos afirmar que a leitura espírita, como leitura religiosa, é sustentada tanto pelo texto e pela oralidade quanto por outras dimensões da linguagem, como a gestual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No artigo, buscamos evidenciar a existência de múltiplos objetos - atas, cartas, livros, revistas, mensagens psicografadas - e de diversas práticas de leitura que aconteciam no cotidiano do Centro Psychico de Caetité. Embora o ato de ler seja um aspecto inerente à Doutrina Espírita, a análise das práticas mostra sua inscrição em contextos históricos específicos e o papel ativo que desempenhavam na formação dos sujeitos e na construção da identidade do adepto do Espiritismo: ser espírita era ser leitor e constante estudioso das obras de Kardec e de outros autores que escreveram sobre o tema em uma perspectiva científico-filosófico-religiosa. Nesse sentido, as ações decorrentes da leitura definiam a própria condição de ser um espírita, sobretudo porque dessa leitura dependia o desempenho e o progresso moral e espiritual do adepto.

Tal leitura, no entanto, ocorria em situações e de modo bastante particulares, que nos remetem às próprias especificidades das práticas de letramento religiosas (STREET, 1984): coletiva e oralizada, gestualizada, realizada no interior de uma comunidade de leitores, mediada e controlada, na medida em que se tratava de uma leitura fundamentada em valores doutrinários.

A importância atribuída à leitura pelos espíritas pode ser percebida de maneira similar à forma como os protestantes da América dos séculos XVII e XVIII se relacionavam com ela. Para esse grupo religioso, a “fé e a leitura” estavam interligadas de maneira indissociável, o que define uma cultura vinculada à familiaridade com o texto bíblico (CHARTIER, 1991, p. 133), haja vista que o texto, antes de ser lido individualmente, era enunciado em voz alta no grupo familiar ou na comunidade de leitores por um mediador, que conferia ao escrito uma interpretação legítima. O diretor do Centro, ou um membro previamente designado para assumir a condição de leitor/mediador, era o portador de uma “linguagem autorizada” (BOURDIEU, 2008), não apenas no domínio da capacidade linguística e do conhecimento, na medida em que havia mediadores que não eram alfabetizados, mas especialmente como instrumento de poder que impõe um modelo de recepção, que confere um sentido controlado às leituras, vinculado aos preceitos da doutrina. Essa prática buscava assegurar que, entre os leitores, houvesse uma certa homogeneidade na interpretação dos textos.

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2ANA MARIA OLIVEIRA GALVÃO é graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é mestra e doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde atua na graduação e na pós-graduação. Realizou estágio-sanduíche no Institut National de Recherche Pédagogique (INRP), na França, e Pós-Doutorado/estágio sênior na Northern Illinois University, Estados Unidos. É autora de diversos capítulos de livros, artigos em periódicos e livros nas áreas de história da educação e história da cultura escrita. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.

Recebido: 11 de Outubro de 2019; Aceito: 18 de Março de 2020

E-mail: josenimeira@gmail.com

E-mail: anamariadeogalvao@gmail.com

JOSENI PEREIRA MEIRA REIS possui Graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. É mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É professora do Campus XII da UNEB e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura Escrita e do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão Paulo Freire (Nepe). Desenvolve pesquisas na área de história da educação e da história da leitura e da escrita.

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