SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.26PROFESORAS RIOGRANDENSES EN MISIÓN PEDAGÓGICA EN URUGUAY (1913-1914)“HERMOSA ESCUELA DE CIVISMO”: EL ESCOTISMO COMO ELEMENTO DE TRANSFORMACIÓN SOCIAL EN BRASIL índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Compartir


História da Educação

versión impresa ISSN 1414-3518versión On-line ISSN 2236-3459

Hist. Educ. vol.26  Santa Maria  2022  Epub 30-Nov-2022

https://doi.org/10.1590/2236-3459/117950 

Artigo

“[...] EL BRASILEÑO TAN CONOCIDO ENTRE NOSOTROS”: A CIRCULAÇÃO DAS OBRAS DE LOURENÇO FILHO NAS BIBLIOTECAS DO MÉXICO (1933 - 1963)

Rony Rei do Nascimento Silva* 
http://orcid.org/0000-0003-2195-9459

Ana Clara Bortoleto Nery** 
http://orcid.org/0000-0001-6316-3243

* Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), São Paulo/SP, Brasil.

** Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), São Paulo/SP, Brasil.


Resumo

Este texto tem por objetivo analisar a circulação das obras de Lourenço Filho nas bibliotecas mexicanas, entre 1933 - 1963. Analisa-se os títulos Tests ABC - de verificación de la madurez necesaria para el aprendizaje de la lectura y escritura, The training of rural school teachers e Educacion comparada. A presença dessas obras no México indica que fizeram parte dos acervos destinados à formação de professores normalistas, líderes de Educação Fundamental e gestores escolares, por oferecer aos leitores princípios da psicologia da educação, experiências de formação de professores rurais no Brasil e um panorama dos sistemas de ensino em escala global. Trata-se de um trabalho histórico com metodologia da História Conectada, centrada na pesquisa documental enquanto fontes de pesquisa. Pode-se concluir que a circulação das obras de Lourenço Filho nas bibliotecas mexicanas, se deve a uma rede de relações estabelecida por Lourenço Filho com intelectuais mexicanos, mediada pela Unesco e Crefal.

Palavras-chave: Lourenço Filho; México; Unesco; Crefal

Abstract

The text aims to analyze the circulation of the works of Lourenço Filho in Mexican libraries, in the period between 1933 and 1963. It is possible to affirm that the presence of these works in Mexico is indicative that they were part of the collections destined for the formation of normal schoolteachers, Primary Education leaders and school administrators, especially for offering readers principles of educational psychology, rural teacher training, experiences in Brazil and an overview of educational systems on a global scale. It can be concluded that the circulation of Lourenço Filho works in Mexican libraries is due to a network of relationships that he established with Mexican intellectuals, mediated by UNESCO and Crefal.

Keywords: Lourenço Filho; Mexico; UNESCO; Crefal

Resumen

El texto tiene como objetivo analizar la circulación de las obras de Lourenço Filho en las bibliotecas mexicanas, en el período entre 1933 y 1963. Es posible afirmar que la presencia de estas obras en México es indicativa de que fueron parte de las colecciones destinadas a la formación de maestros de escuela normal, líderes de Educación Primaria y administradores de escuelas, especialmente por ofrecer a los lectores principios de psicología educativa, formación docente rural, experiencias en Brasil y una visión general de los sistemas educativos a escala global. Se puede concluir que la circulación de las obras de Lourenço Filho en las bibliotecas mexicanas se debe a una red de relaciones que el estableció con intelectuales mexicanos, mediada por la Unesco y Crefal.

Palabras clave: Lourenço Filho; México; UNESCO; Crefal

Résumé

Le texte vise à analyser la circulation des œuvres de Lourenço Filho dans les bibliothèques mexicaines, entre 1933 et 1963. Il est possible d'affirmer que la présence de ces œuvres au Mexique indique qu'elles faisaient partie des collections destinées à la formation des enseignants des écoles normales, des responsables de l'enseignement primaire et des administrateurs scolaires, en particulier pour offrir aux lecteurs des principes de psychologie de l'éducation, la formation des enseignants ruraux, des expériences au Brésil et un aperçu des systèmes éducatifs à l'échelle mondiale. On peut conclure que la circulation des œuvres de Lourenço Filho dans les bibliothèques mexicaines est due à un réseau de relations qu'il a établi avec des intellectuels mexicains, médiatisé par l'UNESCO et Crefal.

Mots-clés: Lourenço Filho; Mexique; UNESCO; Crefal

Introdução

Lourenzo Filho, el brasileño tan conocido entre nosotros por sus magníficos libros difundidos. (EL NACIONAL, 1950, p. 3).

A epígrafe que abre este texto foi retirada do jornal mexicano El Nacional, em 1950 e é emblemática para o desdobramento de uma complexa trama histórica marcada pela circulação de livros, ideias, sujeitos, práticas, citações, referências, traduções e viagens. A referência feita aos livros de Manuel Bergström Lourenço Filho enquanto “magníficos“ é assinada pelo educador mexicano Jaime Torres Bodet, que à época era diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)16, o que confere legitimidade à produção do educador brasileiro.

Este texto17, portanto, tem por objetivo analisar a circulação das obras de Lourenço Filho nas bibliotecas mexicanas, no período entre 1933 - 1963. Parte-se do pressuposto inicial de que a presença dessas obras no México é indicativa de que fizeram parte dos acervos destinados à formação de professores normalistas, líderes de Educação Fundamental e gestores escolares e, isso se deve, em partes, ao bom trânsito desse educador brasileiro com a elite intelectual do seu tempo e a Unesco.

Nesse contexto, foi publicado no México o título Tests ABC - de verificación de la madurez necesaria para el aprendizaje de la lectura y escritura, em que Lourenço Filho (1933) ofereceu aos leitores princípios da psicologia da educação. Em The training of rural school teachers (1953), o autor apresentou as experiências de formação de professores rurais levadas a cabo no Brasil e, por fim, em Educacion comparada (1963), construiu um panorama dos sistemas de ensino em escala global.

As obras foram encontradas respectivamente na Biblioteca “Lucas Ortiz” do Centro de Información, Investigación y Cultura (Cediic) do Centro de Cooperación Regional para la Educación de Adultos en América Latina y el Caribe (Crefal), Archivo Histórico de la Benemérita y Centenaria Escuela Normal del Estado de San Luis Potosí (BECENE - SLP) e no Instituto de Investigaciones sobre la Universidad y la Educación (IISUE) do Archivo Histórico de la Universidad Nacional Autónoma do México (AHUNAM).

Ao longo deste texto, pode-se notar o quão é extensa e múltipla a produção de Lourenço Filho. É evidente o alcance de seus estudos, que se diversificam em cartilhas de alfabetização de crianças e adultos, série de leituras graduadas, manuais para a formação de professores; mais, ainda, estudos sobre assuntos diversos, como educação comparada, “[...] ensino primário, formação de mestres, escolas rurais, psicometria, psicotécnica, trajetória da psicologia no Brasil. Em face da repercussão, alguns estudos ganham tradução para o francês, inglês, espanhol e árabe” (MONARCHA, 2018, p. 19). O conjunto de sua obra foi sistematizado por Carlos Monarcha e Ruy Lourenço Filho (2001).

Em relação às opções teórico-metodológicas, este texto se pauta nos pressupostos da história conectada. Essa referência historiográfica consiste em teoria/método que estabelece conexões pela abertura do diálogo. Conforme aponta Prado (2005), a expressão “histórias conectadas” foi cunhada por Sanjay Subrahmanyan, historiador indiano radicado na França, que contestou à perspectiva tradicional da historiografia europeia sobre o mundo asiático. Serge Gruzinski (2003), em defesa dessa matriz interpretativa, tem enfatizado a incapacidade de a história tradicional identificar as especificidades permanecendo a divisão entre os diversos mundos. Por isso, para esse autor, a tarefa do historiador

[...] pode ser a de exumar as ligações históricas ou, antes, para ser mais exato, a de explorar as connected histories se adotamos a expressão proposta pelo historiador do império português, Sanjay Subrahmanyam. O que implica que as histórias só podem ser múltiplas - em vez de falar de uma História única e unificada com “h” maiúsculo. Essa perspectiva permite também a observação de que estas histórias estão ligadas e que se comunicam entre elas. Diante de realidades que convêm estudar sob diversos aspectos, o historiador tem de converter-se numa espécie de eletricista encarregado de restabelecer as conexões internacionais e intercontinentais que as historiografias nacionais e as histórias culturais desligaram ou esconderam, entaipando as suas respectivas fronteiras. (GRUZINSKI, 2003, p. 323).

Nesse sentido, tal mirada busca romper com as limitações das fronteiras nacionais e do etnocentrismo. Na medida em que, cabe ao historiador restabelecer “as conexões internacionais e intercontinentais que as historiografias nacionais desligaram ou esconderam” (SOUZA, 2016, p. 842). A metáfora do eletricista, encarregado de restabelecer as conexões internacionais e intercontinentais, é utilizada para conectar uma trama de relações sobre a circulação das obras de Lourenço Filho no México não como casualidade, mas como intencionalidade. Porém, operar com a História Conectada, “impõe limites e vantagens ao historiador” (SOARES; PLESSIM, 2019, p. 546), que necessita de vigilância epistemológica, pois está sujeito a riscos e armadilhas que se encontram dissimuladamente espalhadas pelos caminhos e trilhas abertos por este fazer histórico. Mesmo sabendo dos perigos que um estudo dessa natureza oferece, assume-se os riscos.

A partir disso, formulamos alguns questionamentos: Qual o lugar ocupado pelas obras de Lourenço Filho nas bibliotecas mexicanas? Por que e quais foram as condições de produção e tradução de suas obras no México? Como se estabeleceu a relação entre esse educador brasileiro e o mexicano Jaime Torres Bodet? Como a Unesco e o Centro Regional de Educación Fundamental para la América Latina [Crefal] propagaram essas obras?

“ESTAR AQUI, ESTAR LÁ”: A UNESCO E AS RELAÇÕES ENTRE LOURENÇO FILHO E JAIME TORRES BODET

Lourenço Filho (2004), em seu livro Educação comparada, discorreu sobre as condições de criação da Unesco. Essa instituição foi criada ao final da conhecida historicamente “Conferencia Preparatoria”, realizada entre 1 a 16 de novembro de 1945, no Instituto de Engenheiros Civis de Londres, como uma agência especializada da ONU. Com o propósito de fazer avançar, por meio das relações educacionais, científicas e culturais entre os povos do mundo: “[...] os objetivos da paz internacional, e do bem-estar comum da humanidade, para os quais foi estabelecida a Organização das Nações Unidas, e que são proclamados em sua Carta.” (UNESCO, 1998, p. 12).

Em torno da Unesco, que logo se instalou, e mais tarde veio a ter sede definitiva em Paris, “[...] deveria reunir-se os propósitos de estudo da Educação Comparada e os de propulsão de ação política internacional, através da educação, da ciência e da cultura.” (LOURENÇO FILHO, 2004, p. 28). Entretanto, vale destacar que como a Unesco surgiu após um grande conflito, os representantes dos países aliados, percebendo a importância e o alcance da cooperação intelectual entre os povos, decidiram criar uma organização para ser um sistema de “[...] vigilância e alerta, em defesa da paz, da solidariedade e da justiça” (UNESCO, 1998, p. 12, grifo do autor). Assim, a fundação “[...] de la UNESCO fue de gran importancia para la estandarización de proyectos educativos en todo el mundo, y la difusión de un modelo de educación rural en particular.” (CERECEDO, 2013, p. 2). Na esteira desta interpretação, a Unesco estava preocupada em projetar sua imagem enquanto um símbolo da paz, da segurança nacional e mundial.

No caso do Brasil, concomitantemente, foi criado no Rio de Janeiro, em 1946, o Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura (IBECC) como uma Comissão Nacional da Unesco. Em 1952, Lourenço Filho foi eleito presidente do IBECC e, naquela ocasião Jaime Torres Bodet, escreveu uma carta para parabenizá-lo pela conquista do novo cargo. Lourenço Filho recebeu cartas de sujeitos vinculados aos organismos internacionais apresentando, por exemplo, parecer sobre suas produções, informes gerais, convites para participar de eventos, proferir conferências e sobre outras questões relacionadas à educação rural. No conteúdo da correspondência de Bodet lê-se:

Tenho a honra de agradecer o recebimento da sua carta de 3 de maio, IBECC/7, na qual você me informou de sua eleição como Presidente do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura.

Gostaria de parabenizá-lo calorosamente pela sua nomeação para esses altos cargos, aos quais sua competência e dedicação à causa da Unesco fizeram uma menção especial. Aguardo com expectativa a sua presença no comando do IBECC, o que, tenho certeza, nos permitirá estabelecer laços cada vez mais estreitos com o seu país.

(BODET, 1952, p. 1)18.

Há que se considerar que as correspondências trocadas entre Jaime Torres Bodet e Lourenço Filho revelam a rede de relações estabelecidas entre sujeitos e, consequentemente, as relações institucionais e diplomáticas que envolvem Brasil e México, haja vista o tom de proximidade entre ambos.

A porta de entrada para o desenvolvimento deste texto foram as duas viagens Lourenço Filho ao México, inserido em um movimento de ideias e de sujeitos (políticos, educadores e intelectuais) em conferências, congressos, reuniões, comitês, impressos e documentos norteadores das políticas educacionais, levados a cabo pelos organismos internacionais.

Esse educador viajou por duas ocasiões ao México, cumprindo um plano de trabalho institucional, respectivamente na II Conferência Geral da Unesco, realizada no Palácio de Belas Artes da Cidade do México e na Escuela Nacional de Maestros, em 1947 e na Reunião do Comitê do Conselho Interamericano Cultural, realizada na Cidade do México, entre 10 e 25 de setembro de 1951.

O Tests ABC NA BIBLIOTECA DO CREFAL

Os antecedentes desta história residem no passado do México, que desenvolveu experiências outras em matéria de educação de adultos, que resultaram na criação da Secretaría de Educación Pública (SEP) em 1921 (MIRANDA, 2014). Com a tônica do social, construiu-se nesse país um modelo de educação, com características especialmente revolucionárias19, a partir de 1910. Essas condições históricas constituíram as bases para a construção de escolas rurais, missões culturais, escolas normais rurais e granjas-escolares, respaldadas no conceito de educação fundamental - recém-criado, à época, pela Unesco, especialmente com a criação do primeiro Centro Regional de Educación Fundamental para la América Latina [Crefal]20, em Pátzcuaro, Michoacán, México.

O Crefal foi criado poucos meses depois da Conferência de Elsinor, durante a IV Conferência Geral da Unesco, e seu surgimento seguia uma tradição: “[...] en la línea de la UNESCO y de los constructores de un gobierno mundial enfocado al logro de los derechos humanos, la cual tiene representantes en todos los países. Trabajan para lo mismo, van en la misma línea” (DÍAZ, 2020, p. 25). Esse centro abriu suas portas entre 9 de maio de 1951 e junho do mesmo ano, com a presença de Miguel Alemán Valdés (Presidente da República), Jaime Torres Bodet (Diretor-geral da Unesco) e Lucas Ortiz Benítez (primeiro Diretor do Crefal), entre outras personalidades. Em terras concedidas por Lázaro Cárdenas, o então presidente do México, o Crefal se instalou na cidade de Pátzcuaro, que “[...] ofrecía condiciones ideales como ‘zona de experimentación’ en tanto la ciudad estaba circunscrita por comunidades rurales indígenas con diversidade de problemáticas urgentes” (RODRÍGUEZ, 2020, p. 11).

No início do centro, “[...] con su visión latinoamericanista y su origen implicado en los movimientos sociales revolucionarios del magisterio rural” (DÍAZ, 2020, p. 23), objetivava basicamente ajudar os governos latino-americanos a atender a duas necessidades urgentes: fornecer treinamento a professores e líderes de Educação Fundamental e a preparação de materiais adaptados às necessidades, recursos e níveis culturais das comunidades, especialmente rurais. Os antecedentes históricos do México criaram as condições para a instalação do Crefal nesse país.

A rede do Crefal foi ampliada com mais quatro centros desse mesmo tipo, localizados na África, Ásia Meridional, Ásia Sul meridional e em Extremo e Médio Oriente (Egito, Tailândia, Ceilão [hoje Sri Lanka] e Coreia), estabelecendo com eles um programa de 12 anos para erradicar o analfabetismo em todo o mundo. A ideia de Jaime Torres Bodet era promover na Unesco uma rede de centros de Educação Fundamental em áreas rurais da América Latina. No entanto, “desafortunadamente, el único que funcionaba en la década de 1960 era el de México” (MIRANDA, 2014, p. 111).

Os objetivos do Crefal eram claros, no entanto, fazia-se necessário formular um conceito de Educação Fundamental e, assim, esse conceito foi formulado no âmbito da Unesco e amplamente debatido junto ao Crefal, especialmente em suas publicações e seminários. A Unesco buscou formular esse conceito em um número considerável de observações, sem, contudo, se afastar de uma definição teórica. Isso é afirmado categoricamente na primeira monografia da Unesco sobre o tema, em que o termo foi adotado pela Unesco: “[...] para abarcar un amplio número de actividades educativas que, sin embargo, presentan de un país a otro y de una a otra región, gran similitud en cuanto a los problemas enfocados y a los fines perseguidos” (CREFAL, 1952, p. 14).

Nesse contexto, o Crefal formava professores para alfabetizar as populações rurais da América Latina. Para cumprir com esse objetivo, a obra Tests ABC - de verificación de la madurez necesaria para el aprendizaje de la lectura y escritura (Buenos Aires: Kapelusz)21 fazia parte do acervo da Biblioteca “Lucas Ortiz” do Crefal. A tradução não foi realizada com a intenção de circular no México, originalmente, mas em países de língua espanhola.

A presença dos testes ABC nos cursos de treinamento de professores e líderes de Educação Fundamental mexicanos revela a circulação dos princípios da psicologia da educação desenvolvidos no Brasil a partir de estudos realizados também por Lourenço Filho. Nesse livro, o autor apresenta resultados de pesquisas com alunos de 1º grau (atual 1ª série do ensino fundamental22), que realizou com o objetivo de buscar soluções para as dificuldades de nossas crianças no aprendizado da leitura e escrita. Propõe, então, as oito provas que compõem os testes ABC, como forma de medir o nível de maturidade necessária ao aprendizado da leitura e escrita, a fim de classificar os alfabetizandos, visando à organização de classes homogêneas e à racionalização e eficácia da alfabetização. Segundo o autor, do ponto de vista da economia do aprendizado:

[...] e da organização de classes homogêneas para a leitura e escrita, consequência natural da moderna organização escolar, outro critério, pois, que não o da idade mental deve prevalecer. À luz das verificações dos mais eminentes pesquisadores, e da análise dos processos envolvidos no aprendizado, em termos funcionais, só uma hipótese restará de pé: a da classificação por níveis de maturidade. (LOURENÇO FILHO, 1934, p. 51-2)

O impacto nacional e internacional dessa obra é evidenciado pelo alcance de suas 12 edições, entre 1933 e 1974, totalizando 62 mil exemplares, tendo sido traduzida para o espanhol, sob títulos diversos23. A Figura 1 mostra a obra Tests ABC, com o carimbo da Biblioteca “Lucas Ortiz” do Crefal:

Fonte: Biblioteca “Lucas Ortiz” do Centro de Información, Investigación y Cultura (Cediic) do Centro de Cooperación Regional para la Educación de Adultos en América Latina y el Caribe (Crefal).

Figura 1 - Tests ABC - de verificación de la madurez necesaria para el aprendizaje de la lectura y escritura 

A publicação dessa obra no Brasil, em 1933, com o título Testes ABC para verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e escrita, estava inserida em um “movimento de testes”, pautado em meios científicos de prognóstico mediante a utilização de provas breves e objetivas. Para o contemporâneo do movimento na época, o eminente Antonio Carneiro Leão, os testes psicológicos concretizariam o “sonho dourado da pedagogia”, ou seja, “[...] a formação de classes homogêneas conforme velocidade de aprendizagem e de classes especiais para os então designados, retardados mentais e bem-dotados de inteligência” (MONARCHA, 2008, p. 7).

A obra foi amplamente divulgada por ocasião dos congressos internacionais promovidos pela Unesco. São ainda ressaltadas as inúmeras referências na bibliografia estrangeira24, que podem ser grupadas em duas categorias: “a de trabalhos que expõem, comentam e analisam os fundamentos dos Testes ABC; e a de outros [quase uma centena] que relatam sua adaptação e aplicação em duas dezenas de países.” (LOURENÇO, 1957, p.208).

Na primeira categoria, destacam-se, entre outras, as apreciações de: H. Piéron (Paris, 1931); H.Radecka (Copenhague, 1932); A. Ballesteros (Madrid, 1934); H. Ruiz (México, 1940); W. Gray (Paris, 1955); e E. Planchard (Coimbra, 1957). E, na segunda, os relatos de: A. Alanis (Argentina, 1941); E. C. Argento (Montevidéo, 1943); F. Olmo (Caracas, 1955). A essas devem-se acrescentar: as “recomendações para uso dos testes ABC nas escolas primárias”, presentes em “recomendações oficiais de vários países latino-americanos”; o verbete especial “Testes ABC” no Dicionario Enciclopedico de la Psique (Ed. Claridad, Buenos Aires, 1950); e a declaração do Bureau International D’Education de que “após inquérito feito por essa organização, ficou verificado que essas provas eram então as mais utilizadas nos países de língua latina, em igualdade com os testes Binet-Simon.” (LOURENÇO, 1957, p.209).

THE TRAINING OF RURAL SCHOOL TEACHERS NA BIBLIOTECA DO IISUE

As publicações da Unesco consistem em um espaço público, nos termos de Chamon e Faria Filho (2007), na medida em que os autores utilizam esse espaço para tornarem públicas suas experiências. Lourenço Filho produziu obras conjuntas pela Unesco, em 1953, que tratavam das experiências de educação rural desenvolvidas no Brasil, publicado com o título The training of rural school teachers (1953)25, em inglês (Figura 2) e La formation des maîtres ruraux (1953), em francês (Figura 3):

Fonte: Institutode Investigaciones sobre la Universidad y la Educación (IISUE).

Figura 2 - Capa do livro em inglês  

Fonte: Institutode Investigaciones sobre la Universidad y la Educación (IISUE).

Figura 3 - Capa do livro em francês 

Essa publicação tinha por objetivo reunir um conjunto de estudos e experiências sobre a formação de professores rurais no Brasil, Gold Coast, Índia e México, tendo em vista oferecer instruções para outros países necessitasse empreender políticas de formação de professores rurais no mundo. Nessa obra, Lourenço Filho dedicou seu capítulo a oferecer aos leitores um panorama das experiências de formação de professores rurais, levadas a cabo no país. Para tanto, montou um quadro estatístico da taxa de analfabetismo e a relação com a formação de professores rurais, utilizando dados numéricos e fontes documentais oferecidas pelas instituições de ensino. Os quatro estudos são considerados, na introdução da obra, suficientes para:

[...] mostrar a conexão íntima entre a expansão quantitativa das instalações de escolas primárias nas áreas rurais, o tipo de educação a ser oferecida pela escola rural, e a provisão de instalações de formação em medidas adequadas e de qualidade que atendam às necessidades das áreas rurais. A maioria das regiões do mundo onde há uma grande porcentagem de analfabetismo e oferta escolar inadequada é predominantemente rural. Conclui-se, portanto, que a questão da oferta e formação de professores rurais é importância primordial para a propagação da educação obrigatória. A discussão desse problema em todos os seus aspectos por educadores e administradores educacionais de várias partes do mundo pode dar uma contribuição significativa para o progresso da educação gratuita e obrigatória. (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 12, tradução livre).26

Lourenço Filho dedicou parte significativa do seu capítulo para fazer referência a duas experiências em curso no Brasil: primeiro ao curso de formação de professores rurais em Juazeiro do Norte, no Estado do Ceará (1934), e na Fazenda do Rosário em Betim, no Estado de Minas Gerais (1948).

De acordo com o censo de 1940, segundo esse educador, no caso brasileiro, a proporção geral de analfabetismo nos grupos de 10 anos e de maior idade foi de 57%. “Regionalmente, a proporção variou de 42% no Sul, através de 56% nos Estados do Norte, 58% no Sudeste, 67% nos Estados do Centro-Oeste, a um máximo de 72% por cento na região Nordeste” (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 17, tradução livre)27. O censo também mostrava que as áreas rurais consistam em mais de dois terços da população total. No caso da formação de professores, em 1951: “[...] havia 114 cursos regionais de formação de professores em funcionamento, em adição as escolas normais de formação de professores, 444 em número” (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 15, tradução livre)28.

Lourenço Filho, ao analisar a distribuição de cursos de formação de professores no Brasil, apontou as disparidades regionais enquanto fato alarmante. Parafraseando esse educador, há Estados do Sul e Sudeste em que a proporção de professores sem formação profissional é baixa, que chega a 10%. No entanto, em partes dos Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a proporção varia de 70% a 80% e, ainda ressaltou, que não somente em escolas primárias rurais carecem de professores formados, mas também escolas de cidades pequenas onde não há professores formados. Para Lourenço Filho, frente a essa realidade, fazia-se necessário um conjunto de medidas com vista à superação dos problemas mais pujantes no meio rural, a saber:

[...] reforma do sistema de posse de terras; expansão não somente dos serviços para a promoção da agricultura, mas para a provisão de crédito e proteção ao produtor; melhorias nos serviços de comunicação e bem estar, serviços de educação para adolescentes e adultos analfabetos, missões rurais utilizando técnicas modernas de informação de massa como cinema e por último a melhoria das instalações escolares, construção de casas para os professores e organizações de formação para professores com base regional e com especial referência aos requerimentos gerais da vida em cada ambiente. Em termos gerais, esse segundo grupo estava advogando um programa muito semelhante ao que a Unesco definiu desde então como educação fundamental. (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 19, tradução livre)29.

Esse conjunto de medidas estava em consonância com o que preconizava a Unesco para a política de educação rural, sobretudo pelo uso do conceito de Educação Fundamental, somadas as experiências mexicanas de missões culturais, cinema, construção de casas para os professores, entre outras iniciativas. Lourenço Filho, para a produção desse livro, utilizou referências nacionais como Os objetivos da escola primária rural, de Almeida Junior; O problema da Educação rural, de Fernando de Azevedo; A crise brasileira de Educação, de Sud Mennucci; A escola primária rural, de Ruth Ivote Torres de Silva, e também internacionais, como Observações e impressões sobre o ensino rural no Brasil, de Robert King Hall.

EDUCACION COMPARADA NA BIBLIOTECA DA BECENE

[...] sensación del deber cumplido; enseñar a vivir, inculcando en el que se educa un respeto humano, cordial y activo para los derechos de todos sus semejantes; enseñar a vivir en la libertad, pero procurando que cada alumno comprenda, sienta y cultive sus libertades con el afecto de los esfuerzos que ha de hacer para sustentarlos, sin detrimento de los demás; he ahí, sin duda, la gran misión que incube, en todas las aulas de la República, a los maestros dignos de comprenderla. (BODET, 1963, s/p).

A obra Educacion Comparada (1963), quando traduzida para o espanhol mexicano, ganhou a apresentação na quarta capa assinada por Jaime Tores Bodet. Lourenço Filho, por sua vez, já havia estabelecido uma rede de relações com Bodet nas duas vezes em que foi ao México (1947 e 1951), explicando de certa forma a participação desse mexicano no livro. A apresentação agregada ao livro ajudou a legitimar essa referência nos cursos de formação de professores, e nela o autor expressa o dever da República de educar seu povo, perpassando por valores como liberdade e justiça.

Partimos do pressuposto inicial de que a Educação Comparada foi originada na consolidação dos sistemas educacionais nacionais, este campo científico se situa a meio caminho entre a pesquisa científica e as ações reformadoras. “Com a consolidação destes sistemas nacionais a partir de 1945, ele ganhou novos interesses com a reestruturação do espaço internacional e a globalização.” (GOMES, 2018, p. 133). Nesta perspectiva, a Unesco animou esse campo de conhecimento em escala mundial, o que resultou em publicações equipes de peritos, conferências internacionais, projetos internacionais de pesquisa, entre outras iniciativas.

O livro Educação Comparada foi publicado no Brasil em 1961 e traduzido para o espanhol e publicado no México com o título Educacion comparada, em 1963, pelo Instituto Federal de Capacitacion del Magisterio e pela Biblioteca Pedagogica de Perfeccionamiento Professional da Secretatia de Educacion Publica. Foi especialmente utilizado nos cursos oferecidos pela Dirección General de Capacitación y Mejoramiento Profesional del Magisterio (DGCMPM), o que indica que se tratava de uma referência destinada à formação de professores normalistas mexicanos.

A obra foi encontrada no Archivo Histórico de la Benemérita y Centenaria Escuela Normal del Estado de San Luis Potosí (BECENE - SLP). A Escola Normal desse estado foi inaugurada em 14 de março de 1849, no edifício da Escola Principal Lancasteriana: “fue creada por el DECRETO No.41 expedido por el C. Gobernador Constitucional del Estado, que ordenaba en su artículo, el establecimiento de una Escuela Normal para profesores de ambos sexos” (BECENE, 2020, p. 1). A presença desta obra na referida Escola Normal pode indicar a relevância dela no cenário de formação docente no México.

El segundo ensayo considera igualmente una cuestión específica, pero en uno solo país, a través de los datos de su evolución histórica y social, y con más directa proyección en un proyecto intencionado de educar. Se trata de la educación rural en México, país el que autor visitó dos veces con el fin expreso de examinar este asunto. Tal vez pueda servir como esquema general para investigaciones monográficas de la materia.

Rio, noviembre del 1960 L F (LOURENZO FILHO, 1963, p. 12).

O termo Educação Comparada foi utilizado pela Unesco para “designar certo ramo de estudos que primeiramente se caracterizam pela vasta escala de observação de que se utilizam, por força de seu objeto” (LOURENÇO FILHO, 2004, p. 17). Nesse sentido, possibilitou a atuação de políticos, educadores e intelectuais em diversos países, sobretudo, para tratar de assuntos em matéria de Educação Rural. Como fruto desse movimento, viagens foram realizadas com a intenção de conhecer e avaliar as especificidades da educação rural em outros países.

As décadas de 1940 e 1950 serão lembradas pelo desenvolvimento industrial, que acentuou a mundialização do capital e a introdução de organismos internacionais no financiamento e na implementação de políticas voltadas à “recuperação total do homem rural”, a partir de uma ótica colonizadora. A mirada comparativa consistia em recurso fundamental nas atividades desenvolvidas pela Unesco. Por isso mesmo, os educadores o empregaram sempre quando desejavam esclarecer questões teóricas e práticas relativas aos sistemas nacionais de ensino, pois:

El examen comparativo no podrá ceñirse a las estructuras legislativas, ni tampoco a la expresión numérica de las estadísticas dispersas de cada país. No obstante ello, es de esos elementos de donde deberán partir, con el fin de que las demás expresiones de la vida social se relacionen y planteen un problema integral de la cultura al analizarse en forma objetiva.

Es el deseo de ofrecer una visión de los estudios comparativos, en todos sus aspectos, por lo que incluye aquí también dos ensayos de mayor profundidad. El primero se refiere a los programas de enseñanza primaria, en todos los países de América Latina, preparado por el autor por invitación de la UNESCO, como documento de trabajo de la II Conferencia Interamericana de Ministros de Derechos de Educación, reunida en Lima en 1956, y publicada por eso organismo, en inglés, francés y español, pero todavía no en lengua portuguesa. (LOURENZO FILHO, 1963, p. 11). no en portugués

Como já mencionado anteriormente, o método da Educação Comparada foi utilizado pela Unesco para possibilitar a atuação de Lourenço Filho e demais especialistas na análise dos sistemas nacionais de ensino. Segundo esse educador, em que pese a importância das estruturas legislativas e estatísticas de cada país, uma mirada comparativa não poderia se limitar a aspectos, pois esse tipo de análise deve incluir outras expressões da vida social e cultural. O interesse da Unesco e, consequentemente, desse educador brasileiro, convergiam para os programas de educação primária, em todos os países da América Latina. No entanto, Lourenço Filho parece se ressentir pelo fato de o Português não estar entre os idiomas oficiais da Unesco.

Entre as décadas de 1940 e 1960, Velarde (2000) detectou apenas três produções referentes à educação comparada: Educacion Comparada (1945), de Emma Pérez Téllez, de Cuba; Pedagogía comparada (1961), de José Manuel Villalpando Nava, no México, e Educação Comparada (1961), de Lourenço Filho, no Brasil. A Educação Comparada “[...] começa por descrevê-los e confrontá-los entre si, para assinalar semelhanças e diferenças quanto à morfologia e às funções, estejam estas apenas previstas em documentos legais ou alcancem efetiva realização” (LOURENÇO FILHO, 2004, p. 17). E continuou nas páginas seguintes, asseverando que a Educação Comparada toma os modelos educacionais:

[...] numa dada época, como objeto especial de indagação, admitindo que, a partir deles, as forças sociais possam ser caracterizadas, verificadas em seus nexos de dependência e, enfim, devidamente compreendidas numa estrutura orgânica. Dessa forma, vem a estabelecer hipóteses e a compor modelos, segundo os quais cada sistema especial, sistemas afins ou famílias dos sistemas possam ser melhor compreendidos e, afinal, explicados. (LOURENÇO FILHO, 2004, p. 18).

A obra foi especialmente utilizada nos cursos oferecidos pela Dirección General de Capacitación y Mejoramiento Profesional del Magisterio (DGCMPM), o que indica que se tratava de uma referência destinada à formação de professores normalistas mexicanos. De uma forma geral, a obra Educacion Comparada:

[...] por todos lados que reúne, ilustra muchos de los temas de “problemáticas de la educación”, presentados en la última parte de nuestra obra intitulada: Introducción al Estudio de la Escuela Nueva, en la forma ampliada de su última edición y por sus métodos comparativos, cuyo efecto ha sido el más fundado análisis de las cuestiones de filosofía de la educación y acción política actual, y cuya materia se imparte a través del examen de las condiciones de la enseñanza de cada nación. En esa virtud, apunta elementos de base inductiva, por los que puede confrontarse y discutirse en formas menos vaga los principios o proyectos de la administración y organización escolar. (LOURENZO FILHO, 1963, p. 9).

A Unesco desenvolveu suas ações de educação comparada em escala mundial, tendo em vista as mais diversas “problemáticas de la educación”. Nessa perspectiva, essa metodologia se originou na consolidação dos sistemas educacionais nacionais e esse campo científico se situa a meio caminho entre a pesquisa científica e as ações reformadoras. Segundo Gomes (2018): os primeiros comparatistas eram de fato mais “[...] cautelosos quanto à interdependência internacional e às dificuldades de transferência de ‘lições’ de um lugar para outro, considerando os respectivos contextos histórico-culturais, que geram as diferenças” (GOMES, 2018, p. 133-134). No caso do México, o autor apontou a relação entre as peculiaridades revolucionárias e a formação do sistema de ensino mexicano:

El estudio de la evolución educativa en México, ofrece un interés muy especial, por dos razones principales. La primera, por el hecho de haber constituido el país, como nación, con un contingente muy considerable de razas indígenas de origen cuya procedencia cultural no es uniforme. La segunda, por el hecho de su propia situación geográfica, que facilita diversas influencias, que dan lugar a que presente un escenario de contrastes culturales, sin contar con los efectos que pueda tener en la vida del país la vecindad de los Estados Unidos. De esta nación han aprovechado los mexicanos, los métodos de la moderna tecnología, aunque resientan, sin embargo, otras influencias de naturaleza política y económica. La historia de México consigna una serie de revoluciones, la mayor de las cuales ocurrió en el presente siglo, entre 1910 y 1920. Este último un movimiento reclamó la reforma agraria, el control nacional de los recursos minerales, la separación de Iglesia y Estado y la oportunidad de la educación a las masas populares. La primera de estas cuestiones se tradujo, en forma muy especial, en un movimiento en pro de la educación rural. (LOURENZO FILHO, 1963, 174-175).

As condições históricas de formação do sistema de ensino do México são substancialmente diferentes da formação do sistema de ensino no Brasil, pois, em que pesem as similaridades, no Brasil não houve uma revolução popular de dimensão nacional que, consequentemente, resultasse na formação de um sistema de ensino.

De maneira geral, esse livro congregava diversas experiências educativas em países como França, Alemanha, Itália, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Estados Unidos, México, Argentina, Japão e Índia, em que o autor detalha aspectos históricos, legais, organizacionais, estatísticos, entre outros elementos que compõem os sistemas ensino desses países.

O livro faz parte de uma coleção e conta com dois volumes, destinando-se especialmente aos estudantes dos cursos de Pedagogia, Didática, Ciências Sociais e Jornalismo, além de interessar “[...] a las personas que inscriben en los cursos de administración escolar de los institutos de educación, cuyos estudios exigen nociones de Educación Comparada” (LOURENZO FILHO, 1963, p. 9). A Figura 4 mostra a capa de Educación Comparada e a apresentação na quarta capa de Jaime Torres Bodet

Fonte: ArchivoHistórico de la Benemérita y Centenaria Escuela Normal del Estado de San Luis Potosí (BECENE-SLP)

Figura 4 - Capa de Educacion comparada (1963)  

Encontrar a obra Educacion comparada, no Archivo Histórico da Becene-SLP, consistiu em um indício da circulação das obras de Lourenço Filho nos cursos de formação de professores normais mexicanos. Segundo Nery (2019), as Escolas Normais na América Latina consistiram em centros irradiadores das novas práticas docentes. As bibliotecas das Escolas Normais, além de “[...] laboratório de aprendizagem prática sobre ser professor, é o lugar onde se procura estabelecer um corpo teórico-metodológico através de um conjunto de livros, periódicos e outros elementos gráficos que compuseram este espaço.” (NERY, 2016, p. 238).

A circulação de saberes pedagógicos, especialmente entre o final do século XIX e início do XX, passa a ser um fator de grande relevância nas escolas de formação de professores, o que viria a influenciar substancialmente o desenvolvimento da escola primária no México. Como um espaço destinado a reunir um conjunto de saberes, especialmente voltados à formação do professor, como é o caso das bibliotecas das Escolas Normais.

As bibliotecas escolares são frutos de uma concepção de divulgação, sistematização e circulação de ideias pedagógicas, teorias educacionais, cultura escolar ou pedagógica, que precisam ser legitimadas, seja pela sua relevância, seja pelas estratégias de implantação que vêm em forma de legislações, projetos ou novas ideias. Com isso, ao longo da história das bibliotecas escolares e de formação de professores, esses lugares são considerados espaços privilegiados de concentração e veiculação de saberes.

Para Nery (2008), tal biblioteca era pensada como uma forma de manter o professorado em constante contato com a “marcha evolutiva do ensino nos paizes mais adiantados”, estando atento ao movimento da moderna pedagogia (ANNUARIO DO ENSINO, 1911-1912, apud NERY, 2008, p. 5).

Por compreender a biblioteca como um espaço específico para produção, circulação e constituição de uma cultura pedagógica, Nery (2009), ao se debruçar sobre o caso brasileiro do acervo da antiga Escola Normal de Piracicaba, toma como objeto esse acervo considerado histórico e aponta para a importância deste tipo de estudo no sentido de perceber a cultura pedagógica constituída por meio das estratégias de implantação de uma biblioteca específica para uso do professor da Escola Normal e para a formação do aluno-mestre.

Sobre a composição de uma biblioteca específica para formação docente, Nery (2009, p. 123) indica que nela se agrega “[...] um conjunto de materiais, em especial, de livros que, destinados ao uso dos professores e à leitura escolar [...]”, tornam-se responsáveis por reunir e organizar determinada cultura pedagógica necessária à prática docente. Com isso, a biblioteca escolar instalada nas Escolas Normais pode ser considerada espaço privilegiado de atividades de formação do professor e do futuro professor.

[...] as bibliotecas de formação profissional podem ser tomadas como estratégias de circulação de impressos de formação na medida em que constituem repertórios, selecionam, classificam e dispõem diferentes materiais para a realização da formação de novos leitores especializados (NERY, 2009, p. 125).

A presença da obra de Lourenço Filho na Biblioteca da Becene-SLP revela que esse autor se constituiu como uma das principais referências educacionais do Brasil no exterior, principalmente no caso mexicano, na medida em que atuou num tempo em que a educação nacional era central na reflexão social brasileira.

Esse autor, portanto, constituiu-se como um dos principais educadores profissionais do país, atuando em um tempo no qual a educação nacional era central na reflexão social brasileira. Segundo Celeste Filho: “Em meados da década de 1960, sob novo ciclo autoritário, gradativamente, a educação deixa de ser o vórtice do pensamento social brasileiro e a produção intelectual de Lourenço Filho, não por acaso, também declina” (CELESTE FILHO, 2019, p. 6). A análise de seu estudo dedicado à educação comparada fornece a possibilidade de averiguarmos o ápice e, paradoxalmente, a despedida de um tipo de atuação intelectual representada exemplarmente pela trajetória de Lourenço Filho.

Conclusão

O trabalho do eletricista, enquanto metáfora histórica, faz perceber que é indispensável perspicácia em uma operação histórica dessa natureza. Na medida em que, a história conectada inaugura a ideia de "reconectar" histórias separadas, especialmente pelo estancamento produzido pelas historiografias nacionais. Para fazer essa connected history, assumiu-se o ofício de eletricista encarregado de instalar fios condutores adequados para estabelecer complexas conexões que perpassaram a circulação das obras de Lourenço Filho nas bibliotecas mexicanas.

Por fim, é possível afirmar que a presença das obras Tests ABC - de verificación de la madurez necesaria para el aprendizaje de la lectura y escritura, The training of rural school teachers e Educacion comparada no México é indicativa de que fizeram parte dos acervos destinados à formação de professores normalistas, líderes de Educação Fundamental e gestores escolares, especialmente por oferecer aos leitores princípios da psicologia da educação, experiências de formação de professores rurais no Brasil e um panorama dos sistemas de ensino em escala global.

Tais obras foram produzidas e traduzidas em um tempo de influência dos organismos internacionais nas concepções de Educação Comparada e Educação Fundamental. Em síntese, pode-se afirmar que havia uma relação precedente entre o Lourenço Filho e a Unesco e, consequentemente, com o então presidente Jaime Torres Bodet. Nesta perspectiva, a Unesco se constituiu no lugar onde a produção intelectual por ele feita ganha o selo de legitimidade e, consequentemente, por meio de publicações alcançou seus receptores no México.

Jaime Torres Bodet e Lourenço Filho, dadas às diferenças de cada um, foram sujeitos que atuarem em seus respectivos países frente às políticas nacionais e internacionais de formação de professores. Nesse sentido, houveram sínteses das lições aprendidas com Lourenço Filho, para levar as escolas mexicanas e, sobretudo, na formação de professores primários com o uso das obras tratadas ao longo deste texto. Nesse sentido, em certa medida, houve um intercâmbio de referenciais educacionais.

No caso brasileiro, Lourenço Filho se constituiu enquanto o principal intelectual a estabelecer relações com os organismos internacionais, entre os anos de 1950 e 1960. Nessa perspectiva, Unesco e Crefal se constituíram no lugar onde a produção intelectual por ele feita ganha o selo de legitimidade e, consequentemente, por meio de publicações e seminários alcançaram seus receptores em todo mundo.

Esperamos que esta reflexão possa, portanto, contribuir para estudos posteriores, ampliando a análise para circulação de toda a produção de Lourenço Filho no México. Com isso, almejamos que este texto possa levantar novos problemas de pesquisa relevantes para pensar a temática e conectar o debate com a historiografia educacional.

REFERÊNCIAS

BECENE. A Little History. Meritorious and Centennial Normal School of the State of San Luis Potosí, Mexico, 2020. Availble in: http://beceneslp.edu.mx/sitio/un-poco-de-historia . Access in: September 6th, 2020. [ Links ]

BODET, Jaime Torres. Presentation. In: LORENZO FILHO, Manoel Bergström. Comparative Education. Secretary of Public Education, Mexico, v. 1, n. 21. 1963. [ Links ]

BODET, Jaime Torres. [LETTER] June 9th, 1952, Paris [for] LOURENÇO FILHO, Manuel Bergström, Rio de Janeiro. 1f. 1952. [ Links ]

CERECEDO, Alicia Civera. The pilot educational projects of Unesco and the definition of fundamental education, 1945-1951. In: NATIONAL CONGRESS OF EDUCATIONAL RESEARCH. 12. 2013. Guanajuato Anais..., 2013. Availble in: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:3hF2ue_aObwJ:www.comie.org.mx/congreso/memoriaelectronica/v12/doc/0772.pdf+&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=mx&client=firefox-b-d . Access in: September 20th, 2019. [ Links ]

CELESTE FILHO, Macioniro. Brazilian rural education analyzed by Lourenço Filho in the early 1960s. History of Education Magazine (Online), Rio Grande do Sul, v. 23, 2019, p. 1-27. Availble in: https://seer.ufrgs.br/index.php/asphe/article/view/89570/pdf . Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

CHAMON, Carla Simone and FARIA FILHO, Luciano. Education as a problem, America as a destination: the experience of Maria Guilhermina. In: MIGNOT, Ana Chrystina Venâncio and GONDRA, José (org.). Pedagogical trips. São Paulo: Cortez, 2007, p. 39-64. [ Links ]

CREFAL. Regional Center for Fundamental Education for Latin America. Foundational Education: Ideario, Principios, Methodological Guidelines. Pátzcuaro, Michoacán. Mexico, 1952. Availble in: https://www.crefal.org/images/publicaciones/recientes/Ideario.pdf . Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

DÍAZ, Jorge Rivas. What do we call the School of Pátzcuaro? I decided. Knowledge for Action in Adult Education, n. 52, Pátzcuaro, January - April 2020, p. 22-28. Availble in: https://crefal.org/decisio/images/pdf/decisio_52/decisio-52-art04.pdf Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

EL NACIONAL. The Pedagogical Meeting of Montevideo. EL NACIONAL, Mexico, December 3rd, 1950, p. 3. [ Links ]

GOMES Candido Alberto. Me and the Others: UNESCO and the Comparative Education. Lusophone Education Magazine, Lisbon, n. 41, 2018, 125-138. [ Links ]

GRUZINSKI, Serge. The historian, the ape and the centaur: “cultural history” in the new millennium. Advanced Studies, São Paulo, v. 17, n. 49, Sep./Dec. 2003, p. 321. Availble in: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/9960/11532/ Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

LOURENÇO FILHO, Manuel Bergström. Tests ABC - to verify the maturity necessary for learning to read and write. São Paulo: Melhoramentos, 1934 (Education Library - v. XX). [ Links ]

LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström. The rural education in Mexico. Brazilian Journal of Pedagogical Studies. Brasília, v. 17, n. 45, p. 108-198, Jan/Mar. 1952. [ Links ]

LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström. Teaching in Mexico. In: LOURENÇO FILHO, Ruy; MONARCHA, Carlos (org.). Comparative Education. 3. ed. Brasília: MEC/Inep, 2004. Availble in: https://download.inep.gov.br/publicacoes/diversas/historia_da_educacao/educacao_comparada.pdf Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

LORENZO FILHO, Manoel Bergström. Comparative Education. Secretary of Public Education, Mexico , v. 1, n. 21. 1963. [ Links ]

LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström; GREEDY, L. A; PIRES, E. A; CASTILLO, Isidro. The training of rural school teachers (Problems in education, VII). UNESCO, 1953. [ Links ]

LOURENÇO FILHO, Manoel Bergström; GREEDY, L. A ; PIRES, E. A ; CASTILLO, Isidro . The training of rural teachers (Education issues, VII). UNESCO, 1953. [ Links ]

LOURENÇO, Maria Leda Silva. Lourenço Filho in foreign bibliography. In: BRAZILIAN ASSOCIATION OF EDUCATION (org.) A Brazilian educator: Lourenço Filho (Jubilee Book). São Paulo: Melhoramentos , 1957, p.204-15. (Complete works by Lourenço Filho - preliminary volume). [ Links ]

MONARCHA, Carlos. Lourenço Filho: the work of a life, life in a work. In: BATISTA, Eraldo Leme; ORSO, Paulino José; COSTA, Bruno Botelho. (org.). Intellectuals and the defense of Brazilian education. 1. ed. Uberlândia: Browsing Publications, 2018, v. 1, p. 13-26. [ Links ]

MONARCHA, Carlos Roberto da Silva. Testes ABC: origem e desenvolvimento. Boletim. Academia Paulista de Psicologia, v. 1-8, p. 7-17, 2008. [ Links ]

MONARCHA, Carlos; LOURENÇO FILHO, Ruy. (org.). By Lourenço Filho: a bibliography. Brasília: INEP, 2001. Availble in: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me0000323.pdf Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

MIRANDA, Federico Lazarín. Mexico, UNESCO and the Fundamental Education Project for Latin America, 1945-1951. Historical Signs, no. 31, Jan-Jun, 2014, 88-115. Availble in: https://signoshistoricos.izt.uam.mx/index.php/historicos/article/view/422/399 Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

NERY, Ana Clara Bortoleto. School Libraries in Normal Schools in Brazil. EDUCATION IN FOCUS (BELO HORIZONTE. 1996), v. 19, p. 235-251, 2016. Availble in: https://revista.uemg.br/index.php/educacaoemfoco/article/view/1886/1042 Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

NERY, Ana Clara Bortoleto. In search of the missing link: Oscar Thompson's reforming action and teacher training (1911-1923) 2009. Marília. Thesis(Free teaching) - Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009. [ Links ]

NERY, Ana Clara Bortoleto. Library of the Normal School of Piracicaba: constitution of the collection and pedagogical culture (1911-1920). In: BRAZILIAN CONGRESS ON THE HISTORY OF EDUCATION. 5. 2008. Aracaju, Anais..., 2008. Availble in: http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe5/pdf/438.pdf . Access in: September 7th, 2020. [ Links ]

PERES, Teresa González; PÉREZ, Oresta López. Rural education in Latin America: historical experience and construction of meaning. Madrid: Anroart, 2009. [ Links ]

PRADO, Maria Lígia. Rethinking the comparative history of Latin America. History Magazine, São Paulo: USP, n. 153, 2005, p. 11-33. Availble in: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/19004/21067 Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

RODRÍGUEZ, Carlos Acevedo. Fundamental Education: background and relevance of education for community development. I decided. Knowledge for Action in Adult Educations, n. 52, Pátzcuaro, January - April 2020, p. 8-15. Availble in: https://crefal.org/decisio/images/pdf/decisio_52/Decisio-52-completo-corregido.pdf Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

SILVA, Emerson Correia da. The appropriations and representations of Édouard Claparède in Brasil (1928-1973) 185 f. Thesis (Doctorate in Education) - Faculty of Philosophy and Sciences, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, 2013. Availble in: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/104834 Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

SOARES, Fagno da Silva; PLESSIM, Vinicius Kapicius. For a history of the history of education in Brazil: Diana Vidal between 20 years at SBHE and 22 years at NIEPHE, Brazilian Journal of History of Education [online], Maringa. v. 19, 2019, p. 1-24. Availble in: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/rbhe/article/view/46957/751375148429 Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

SOUZA, Rosa Fátima de. Crossing regional boundaries: rethinking the comparative history of education at the national level. Brazilian Journal of Education [online]. Maringa. v. 21, n. 67, 2016, p 833-850. Availble in: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/5qrdPzSWgXF9RrsQY83KtHn/?format=pdf&lang=pt Access in: October, 25th, 2022. [ Links ]

THE UNESCO COURIER. Fighters for literacy. THE UNESCO COURIER, March. 1958, p. 22-23. [ Links ]

UNESCO. Minutes of the First General Conference. Paris, Unesco, 1946. [ Links ]

UNESCO. UNESCO Brazil. Brasília, 1998. [ Links ]

VELARDE, Jaime Calderón López. Introduction. In: VELARDE, Jaime Calderón López (Ed.). Theory and development of research in comparative education. Mexico: Plaza y Valdes. 2000, p. 11-26. [ Links ]

16Jaime Torres Bodet foi diretor-geral da Unesco (1948 - 1952) e esteve à frente da Secretaria de Educação Pública do México duas vezes: 1º período (23 de dezembro de 1943 a 30 de novembro de 1946, durante a presidência de Manuel Ávila Camacho); 2º período (1º de dezembro de 1958 a 30 de novembro de 1964, durante a presidência de Adolfo López Mateos).

17Este texto descende de uma Tese de Doutorado e de um projeto de pesquisa que têm por finalidade analisar a difusão de bibliotecas escolares destinadas à formação de professores na América Latina e investir em questões que trazem identidade ao movimento de criação dessas bibliotecas. O ponto de partida é o conjunto de reformas educativas e de criação de bibliotecas escolares empreendidas no Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia e México, no século XIX e início do século XX, para compreender as formas pelas quais cada país se apropriou dos modelos culturais em circulação.

18Monsieur le Président, J’ai l’honneur d’accuser réception de votre lettre du 3 mai, nº IBECC/7, par laquelle vous avez bien voulu m’informer de votre élection comme Président de l'Institut Brésilien pour l’Education, la Science et la Culture. Je tiens à vous féliciter chaleureusement de votre nomination à ces hautes fonctions, auxquelles votre compétence et votre dévouement à la cause de l’Unesco vous désignaient tout particulièrement. Je me réjouis de pouvoir compter sur votre présence à la tête de l’IBECC, laquelle nous permettra, j’en suis sûr, d’établir des liens toujours plus étroits avec votre pays. (BODET, 1952, p. 1)

19A esse respeito, ver Peres & Pérez (2009).

20Esse centro passou por diversas mudanças de paradigma e nomenclatura, de Centro Regional de Educación Fundamental para la América Latina (Crefal) passou a ser denominado de Centro Regional de Desarrollo de la Comunidad en la América Latina, em 1961, Centro Regional de Alfabetización Funcional para las Zonas Rurales de América Latina, em 1969, Centro Regional de Educación de Adultos y Alfabetización Funcional para América Latina, em 1974, e, por fim, Centro de Cooperación Regional para la Educación de Adultos en América Latina y el Caribe (Crefal), a partir de outubro de 1990 até os dias atuais.

21A edição (quinta) encontrada foi traduzida por Jose D. Forgione e Alfredo M. Glioldi e contou com o prólogo feito por Enerto Nelson.

22Não deve ser confundido com Educação Fundamental.

23Para o espanhol, Tests ABC para primer grado (Buenos Aires: Kapelusz) e Tests ABC de verificación de la madurez necesaria para el aprendizaje de la lectura y escritura (Buenos Aires: Kapelusz), e para o inglês, The ABC Test, a method of verifying the maturity necessary for the learning of reading and writing, résumé of the book Testes ABC (Philadelphia: Temple University). Na Europa, os testes ABC foram divulgados por Radecka (1932) e por Piéron (1931), respectivamente com Les Tests ABC, pour la verification d’une maturité nécessaire à l’aprentissage de la lecture et l’écriture e Un essaid’organisation de classes selectives par l’emploi des Tests ABC (1931). A esse respeito, ver Monarcha (2008).

24 Silva (2013) traz indicativos de que Lourenço Filho também teve contratos com países europeus para a tradução de seus livros.

25Este livro é composto por quatro estudos nacionais sobre formação de professores rurais, escritos por especialistas de quatro países, familiarizados com a temática: Lourenço Filho, Brasil; L. A. Creedy, Gold Coast; E. A. Pires, Índia, e Isidro Castillo Pérez, México. O livro foi publicado pela Unesco como parte da 16.ª Conferência Internacional sobre Educação Pública, convocada conjuntamente pelo Bureau Internacional de Educação e pela Unesco (Genebra, julho de 1953).

26[...] show the intimate connexion berween the quatitative expansion of primary school facilities in rural areas, the type of education to be offered by the rural school, and the provission of training facilities in adequate measure ando of a quality that would meet the need of the rural areas. Most of the regions of the world where there is a large percentage of illiteracy and inadequate provision of schooling are predominantly rural. It follows, therefore, that the question of supply and training of rural teachers is of paramount importance to the spread of compulsory education. The discussion of this problem in all its aspects by educators and aducational administrators from various parts of the world may make a significant contribution towards the further progress of free and compulsory education. (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 12)

27Regionally, the proportion ranged from 42 per cent in the south, through 56 per cent in the northern States, 58 per cent in the eastern zone and, 67 per cent in the west central states, to a maximum of 72% per cent the northeastern region. (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 17).

28[...] there were 114 regional teachers’ training courses in operation in addition to the ordinary teachers’ training schools, 444 in number. (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 15).

29[...] reform of the system of land tenure; expansion not merely of the services for the promotion of agriculture but of others for the provision of credit and protection the of producer; improvements of communications and welfare services, adolescent and adult illiterates’ education services, rural missions using modern mass techniques of mass information such as the cinema, and lastly the improvement of school premises, building of housing organization of teachers’ training on a regional basis with special reference to the general requirements of life in each environment. In broad terms this second group was advocating a programme very similar to what Unesco has since defined as coming under the head of fundamental education. (LOURENÇO FILHO apud UNESCO, 1953, p. 19).

Recebido: 21 de Agosto de 2021; Aceito: 07 de Março de 2022

E-mail: rony.rei@unesp.br

E-mail: ana-clara.nery@unesp.br

RONY REI DO NASCIMENTO SILVA é Professor Assistente I da Universidade Tiradentes (Unit). Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista "Júlio Mesquita Filho"- Unesp, Campus Marília (2021). Mestre em Educação pela Universidade Tiradentes - Unit (2016). Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio Mesquita Filho"- Unesp, Campus Marília (2021) e graduação em Serviço Social pela Unit (2014). É membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração da Educação e Formação de Educadores (GEPAEFE).

ANA CLARA BORTOLETO NERY é Professora Titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), atuando na Graduação e na Pós-graduação. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. É líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração da Educação e Formação de Educadores (GEPAEFE). Autora do livro A Sociedade de Educação de São Paulo (1923-1931), Editora Unesp. É bolsista Pq/CNPq. É editora associada da RBHE e da Cadernos CEDES.

Editora responsável:

Tatiane de Freitas Ermel

Creative Commons License This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License