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História da Educação

versão impressa ISSN 1414-3518versão On-line ISSN 2236-3459

Hist. Educ. vol.27  Santa Maria  2023  Epub 20-Maio-2023

https://doi.org/10.1590/2236-3459/121633 

Artigo

MARIANA COELHO: O USO DO PREFÁCIO COMO ESTRATÉGIA DE LEGITIMAÇÃO DE SUA TRAJETÓRIA

MARIANA COELHO: EL USO DEL PREFACIO COMO ESTRATEGIA DE LEGITIMACIÓN DE SU TRAYECTORIA

MARIANA COELHO: THE USE OF THE PREFACE AS A STRATEGY FOR LEGITIMIZING HER TRAJECTORY

MARIANA COELHO: L’UTILISATION DE LA PRÉFACE COMME STRATÉGIE DE LÉGITIMATION DE SA TRAJECTOIRE

* Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa/PR, Brasil.

** Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Ponta Grossa/PR, Brasil.


Resumo

Este artigo trata do uso do prefácio como estratégia de reconhecimento da escritora Mariana Coelho (1857-1954) no ambiente cultural e intelectual de Curitiba e da capital brasileira (Rio de Janeiro). Esta análise far-se-á a partir do prefácio de duas de suas obras, a saber: O Paraná mental (1908) e A evolução do feminismo: subsídios para sua história (1933). Apoia-se nas discussões de Pierre Bourdieu (1987, 1996a, 1996b, 2004, 2007) e Jean-François Sirinelli (1996) a fim de explicitar como se deu o uso do prefácio, entre um conjunto de estratégias, no processo de inserção de Mariana Coelho no universo literário paranaense e no campo intelectual feminista brasileiro.

Palavras-chave: Mariana Coelho; Prefácio como estratégia; Redes de sociabilidade

Resumen

Este artículo trata sobre el uso del prefacio como estrategia de reconocimiento de la escritora Mariana Coelho (1857-1954) en el ambiente cultural e intelectual de Curitiba y de la capital brasileña (Río de Janeiro). Este análisis se basará en el prefacio de dos de sus obras, a saber: El Paraná mental (1908) y La evolución del feminismo: subsidios para tu historia (1933). Se basa en las discusiones de Pierre Bourdieu (1987, 1996a, 1996b, 2004, 2007) y Jean-François Sirinelli (1996) para explicar cómo el prefacio fue utilizado, entre un conjunto de estrategias, en el proceso de inserción de Mariana Coelho en el universo literario de Paraná y en el campo intelectual feminista brasileño.

Palabras clave: Mariana Coelho; Prefacio como estrategia; Redes de sociabilidad

Abstract

This article deals with the use of the preface as a recognition strategy for the writer Mariana Coelho (1857-1954) in the cultural and intellectual environment of Curitiba and the Brazilian capital (Rio de Janeiro). This analysis will be based on the preface of two of her works, namely: The Paraná mental (1908) and The evolution of feminism: subsidies for Its history (1933). It is based on the discussions of Pierre Bourdieu (1987, 1996a, 1996b, 2004, 2007) and Jean-François Sirinelli (1996) in order to explain how the preface was used, among a set of strategies, in the process of insertion of Mariana Coelho in the literary universe of Paraná and in the Brazilian feminist intellectual field.

Keywords: Mariana Coelho; Preface as a strategy; sociability networks

Résumé

Cet article traite de l’utilisation de la préface comme stratégie de reconnaissance de l’écrivain [écrivainne] Mariana Coelho (1857-1954) dans l’espace culturel et intellectuel de Curitiba et de la capitale brésilienne (Rio de Janeiro). Cette analyse s’appuie sur la préface de deux de ses œuvres, à savoir : O Paraná mental (1908) et A evolução do feminismo : subsídios para sua história (1933). Elle s’appuie également sur Pierre Bourdieu (1987, 1996a, 1996b, 2004, 2007) et Jean-François Sirinelli (1996) afin d’expliquer comment l'utilisation de la préface, parmi un ensemble de stratégies, s’est développée dans le processus d’insertion de Mariana Coelho dans l’univers littéraire du Paraná et dans le champ intellectuel féministe brésilien.

Mots-clés: Mariana Coelho; Préface comme stratégie; Réseaux de sociabilité

Introdução

Este texto tem o objetivo de discutir o uso do prefácio como estratégia1 de reconhecimento da escritora Mariana Coelho (1857-1954)2 no ambiente cultural e intelectual de Curitiba e da capital brasileira (Rio de Janeiro). Esta análise far-se-á a partir do prefácio de duas de suas obras, a saber: O Paraná mental (1908), A evolução do feminismo: subsídios para sua história (1933)3. Todas elas estão inseridas em momentos distintos da trajetória4 dessa personagem5. A primeira liga-se aos anos iniciais no Brasil, quando ainda buscava afirmar-se entre os letrados da capital paranaense. A segunda foi publicada num contexto de intensa articulação com o movimento feminista no Brasil, notadamente com o grupo liderado por Bertha Lutz.

A ideia é explorar o uso dessa estratégia como um dos fatores para inserir-se e ser aceita entre o grupo de literatos de Curitiba e entre integrantes do campo intelectual feminista brasileiro. O caso de Mariana Coelho apresenta algumas particularidades, pois, além de ser estrangeira, pretendia inserir-se num meio dominado pelo gênero masculino. Portuguesa de origem, transitou de Vila Real - interior de Portugal - a Curitiba, chegando à capital paranaense no ano de 1892. Tão logo chegou, passou a atuar na vida pública, usufruindo das relações sociais que estabeleceu e dos vínculos de amizade que firmou, via capital social de seu tio que já vivia na capital do Paraná (TOMÉ, 2020). A princípio, com a mediação de sua família, começou a publicar alguns de seus textos em periódicos locais; posteriormente, já inserida no meio literário paranaense, dedicou-se à escrita de seus livros, firmando-se como escritora de uma grande obra sobre o feminismo. Além disso, participou e atuou em organizações femininas e outras instituições, como a maçonaria, que no período congregava uma grande parte do grupo letrado, favorecendo e sustentando a criação de uma ampla rede de sociabilidade com representantes de um reduzido círculo do Paraná e Brasil. Tornou-se, assim, uma figura conhecida e reconhecida no cenário cultural e público curitibano. Por meio de estratégias aplicadas ao mundo social, após ter estabelecido importantes laços de amizade, e até certa animosidade, ela conquistou algum reconhecimento no espaço literário e campo intelectual.

A organização deste artigo dialoga com as discussões de Pierre Bourdieu (1987, 1996a, 1996b, 2004, 2007) e Jean-François Sirinelli (1996) a fim de explicitar como se deu o uso do prefácio, entre um conjunto de estratégias, no processo de inserção de Mariana Coelho no universo literário paranaense, marcadamente masculino, e no campo intelectual feminista, absolutamente dominado por mulheres das principais cidades brasileiras, notadamente por Bertha Lutz. Assim, a hipótese é que por meio da rede de amizade que teceu com o grupo dos escritores paranaenses, o prefácio foi um recurso utilizado, seja consciente ou não, para ser aceita e reconhecida entre suas confreiras e seus confrades.

REDES DE AMIZADE E ESPAÇOS DE SOCIABILIDADE EM CURITIBA

Mariana Coelho chegou à capital do Paraná no final do século XIX, passando a vivenciar um ambiente que começava a delinear uma esfera pública com ares de vida agitada. Segundo Paulo Cezar Maia (2006), vinte anos após o seu processo de emancipação (1853), começava a se estabelecer uma elite letrada, no Estado do Paraná. Foram essas personagens, que no final do século XIX e no advento da República, assumiram o papel de condutores de uma ideia de reforma, autoproclamando-se agentes de uma genérica noção de modernidade e de civilidade. Nesse período, conforme Névio de Campos (2006, p. 25), havia uma intensa discussão entre os grupos dirigentes sobre a modernização do estado e da capital, que se expressava, sobretudo, num processo de transformação “[...] dos modos de pensar, de sentir e de ser dos indivíduos”6.

Com a divulgação de tais ideias, Curitiba começava a ensaiar hodiernos padrões de comportamento, compatíveis com a nova configuração cultural e modernização que se apresentava. Os espaços públicos transformavam-se em verdadeiros lugares de encontro, na tentativa de mimetização do que se falava e se vivia nos grandes centros europeus. Conforme mostra Elizabete Berberi (1996) e bem observava Mariana Coelho, poder viver naquela Curitiba,

[...] implicava em tomar contato com novas experiências que se apresentavam e com expectativas que se projetavam de um grau de civilização desejado. Vive-se em meio às modificações que são elaboradas por seus dirigentes, e sonhadas por seus intelectuais, no intuito de colocá-la a altura de uma capital (BERBERI, 1996, p. 1).

Foi nessa atmosfera, permeada pela noção de progresso que, de aordo com Tomé e Campos (2022), alguns importantes espaços de sociabilidade e pontos de encontro frequentados por grupos curitibanos foram criados, como o Club Curitybano, livrarias, centros culturais, jornais, revistas, cafés, teatros e parques foram criados, frequentados por pequenos grupos. Muitos desses espaços estavam relacionados à vida literária e intelectual, tendo em vista que muitos deles serviam como lugares de leitura e interatividade, onde muitos se reuniam para discutir sobre suas ideias e seus pontos de vistas. Estes espaços ganharam destaque e importância, em especial por se configurar como lugares de encontro entre uma certa elite letrada que se estabeleciam como precursores da cultura, das letras e de certo clima de erudição.

Essa atmosfera mais específica estava associada ao processo modernizador e à formação cultural pela qual passava a sociedade brasileira do final do século XIX e início do século XX. Segundo Maia (2006), aquele ambiente era marcado pela presença de escritores, jornalistas, artistas e intelectuais que passaram a defender a necessidade de uma ação reformadora, visando remodelar a estrutura social, política e cultural dos Estados. De acordo com Nicolau Sevcenko (1983), o resultado desse processo de modernização foi a tentativa de ligar as principais cidades do país aos grandes centros cosmopolitas, oxigenadas por uma produção cultural, artística e literária. A liderança desse movimento integrava os grupos das letras, cujo horizonte consistia numa mudança cultural, política, econômica e social. A fim de elevar o nível cultural e material da população, “[...] esses literatos postavam-se como os lumes, ‘os representantes dos novos ideais de acordo com o espírito da época’, a indicar o único caminho seguro para a sobrevivência e o futuro do país” (SEVCENKO, 1983, p. 82). Este movimento no cenário nacional, assinalado pela ampliação das atividades intelectuais e literárias, assim como pelo alargamento do mercado editorial, estendeu seus efeitos a vários cantos do país.

A partir dos novos modelos de sociabilidade, pautados por um novo ideal de modernidade e progresso, Mariana Coelho se inseriu no campo literário e intelectual paranaense, por intermédio de suas atividades de escritora, permeadas, sobretudo, pelas relações e redes de sociabilidade que estabeleceu com os personagens que compunham esse universo. Dentro desse cenário, torna-se importante esclarecer que o campo literário e intelectual, como qualquer outro campo “[...] é um espaço de lutas, uma arena onde está em jogo uma concorrência ou competição entre os agentes que ocupam diversas posições” (LAHIRE, 2017, p. 65). E “[...] essas lutas que visam a conservar ou transformar a relação de forças instituídas no campo de produção têm, evidentemente, o efeito de conservar, ou de transformar, a estrutura do campo das formas que são instrumentos e alvos nessas lutas” (BOURDIEU, 1996a, p. 63). Guardadas as particularidades, é possível dizer que na Curitiba daquele momento existia um conjunto de espaços, como livrarias, cafés, clubes, bibliotecas, que expressavam uma certa atmosfera da vida cultural. É importante afirmar que, em sua grande maioria, os confrades e as confreiras não viviam dos ganhos materiais dessa intensa atividade literária, artística. Ainda era necessária uma conciliação entre vida intelectual e outros tipos de ocupação, como se deu com Mariana Coelho que dividia sua vida entre ser escritora e ser professora ou diretora de escola.

Existiam instituições e personagens que se diziam agentes do que se pode chamar meios literários e culturais (SIRINELLI, 1996) ou de campo literário ou cultural (BOURDIEU, 1987, 1996a, 1996b, 2004). Sem dúvida que não existia um campo literário na capital do Paraná, tal como descreve Bourdieu a respeito do século XIX francês. Mas se ensaiava um conjunto de lugares que congregava homens e mulheres que partilhavam horizontes comuns (BEGA, 2013). Mariana Coelho, por sua vez, respirava esse clima. Aliás, ela chegara de Portugal já ambientada com o universo da leitura e da escrita (TOMÉ, 2020), cujo desafio consistia no ingresso e na conquista de posições e reconhecimento nesses meios da capital paranaense. As primeiras mediações se deram via familiar, isto é, pelo capital social de seu tio que já integrava o Club Curitybano e outros meios culturais e religiosos, como a maçonaria. Sem dúvida, tratava-se de um importante ponto de partida. Mariana Coelho já detinha uma forte relação com o domínio da escrita, o que contribuiu para potencializar sua aparição na imprensa curitibana. Sua ambientação não foi tão simples assim, pois iniciou com uma coluna tipicamente destinada às mulheres - etiqueta social - projetada por um meio marcadamente cindido pela divisão sexual de papeis sociais. Ela não se deteve a desenvolver apenas uma tarefa que se esperava de uma mulher. Ao contrário, adicionou outros debates no interior das próprias colunas de etiqueta social, como mostram Dyeinne Tomé (2020) e Alexandra Bueno (2010). Ao adentrar nesse universo da literatura, partilhava um conjunto de crenças (illusio) nas regras específicas dos meios culturais. E ali ela empreendia estratégias para ser reconhecida como escritora e intelectual paranaense, aproveitando os espaços abertos para se inserir cada vez mais e tecer assim a sua teia de relações. Segundo Bourdieu (1996a, p. 61), é “[...] no horizonte particular dessas relações de força específicas, e de lutas [...] que se engendram as estratégias [...]”. De modo consciente ou não, a estratégia incorporada por Mariana Coelho - que se refere à ideia de ação como produto do habitus, funciona como princípio que organiza a relação dos agentes nos vários espaços do mundo social -, representa as práticas e a tentativa de ajustamento da agente às estruturas na qual pretendia ser produto (BOURDIEU, 1987).

Assim, tão logo chegou a Curitiba, Mariana Coelho passou a se dedicar aos deveres de escritora, e a estabelecer vínculos e relações com os agentes que compunham o universo das letras. Com um ano de estadia na capital paranaense, publicou seu primeiro trabalho, uma pequena poesia intitulada Madrigal para a Revista Azul, de cunho artístico e literário, destinada, sobretudo, às leitoras. A revista era propriedade e dirigida por Julio Pernetta; e contava com a redação de Dario Vellozo, figuras estas que, além de futuros confrades da escritora, eram conhecidas na Curitiba dos letrados. Além de compor um dos primeiros grupos de literatos paranaenses, foram responsáveis por firmar os encargos para o nascimento de um campo de produção cultural bastante frutífero, com uma geração de letrados, cujo seu principal meio de manifestação era a imprensa, como sublinha Maia (2006, p. 34-35):

Na última década do século XIX, a imprensa passa a ser o espaço essencial para informação e formação dos valores, comportamentos e gostos da sociedade paranaense, concentrada basicamente no território que vai de Curitiba ao litoral. É pelos jornais e revistas que a sociedade paranaense é orientada quanto aos acontecimentos políticos do país, aos cuidados sanitários, aos comportamentos éticos, quanto aos valores sociais, ideológicos e morais.

Em Curitiba, conforme Berberi (1996), além de reunir o grupo dos intelectuais e literatos mais ilustres, os periódicos eram encarados como verdadeiros veículos destinados a disseminação de ideias e discussões sobre os acontecimentos da época. Ademais, serviam como espaço aos que ainda estavam debutando no universo da escrita, como ocorrera com Mariana Coelho. Maria Tarcisa Bega (2013) acrescenta que eram os homens de letras, os grandes financiadores desses jornais e revistas.

As revistas e os jornais tinham como principal objetivo “[...] dirigir o gosto literário do público local, difundir a literatura local e definir uma identidade literária justamente pela ação direta sobre o público e sobre quem pretendesse apresentar-se como literato paranaense [...]” (MAIA, 2006, p. 35). Nesse movimento, ganhavam visibilidade personagens como Dario Vellozo, Silveira Neto, Julio Pernetta, Rocha Pombo, Emiliano Pernetta, Euclides Bandeira, Leôncio Correia e Romário Martins. Esse grupo, de acordo com Natália Vicente (2004), firmou-se por um tipo de jornalismo militante. Tal atitude foi fundamental para a divulgação de seus pensamentos, “[...] pois era ali que eles revelavam suas ideias, [...] geravam debates, faziam críticas sociais, além de publicar textos literários e de ordem esotérica e maçônica” (VICENTE, 2004, p. 32). Desta forma, este grupo acaba assumindo uma postura que era, segundo Berberi (1996, p. 63), “[...] entendida como uma missão. Realmente, o literato se vê como agente capaz de lançar luz às trevas, de indicar, apontar soluções, de contribuir para o avanço e o aprimoramento da sociedade”.

Mariana Coelho, que tinha como objetivo integrar-se nesse grupo, passou a atuar em seus espaços de debates e manifestação, bem como a estabelecer relações profissionais, laços de amizade e até confrontações com alguns de seus representantes. No entanto, apesar dos novos padrões culturais de comportamentos atribuídos às mulheres, adequado ao novo modelo de convívio social caracterizado pelo processo de modernização, ela sentiu as dificuldades e resistências enfrentadas por aquelas que - assim como ela - pretendiam frequentar espaços públicos da intelectualidade. Estes ambientes eram considerados, por muitos, como redutos masculinos. Em caráter de protesto, ela denunciou em seu livro O Paraná mental, o que chamava de “opinião retrógrada”, apresentada por um comportamento social de “segunda classe” (COELHO, 2002b, p. 93).

Apesar da crítica feita por Mariana Coelho e da postura demonstrada por muitos intelectuais acerca da visão sobre o papel que as mulheres deveriam assumir na sociedade, a escritora compreendia a importância de assegurar um vínculo amistoso de convivência com esses dirigentes, sobretudo, pela ligação deles com a imprensa e com o meio cultural e político. Ou seja, ela passou a estabelecer vínculo com estes agentes, por perceber a posição ocupada por eles dentro do campo literário e intelectual. A compreensão acerca da força política e cultural crescente deste grupo, que detinha o controle de boa parte dos periódicos que circulavam na capital na última década do século XIX, fez com que ela passasse a firmar uma rede de sociabilidade, em especial por compreender a intensa força para o ingresso nos meios literários e intelectuais que esta aproximação poderia proporcionar (TOMÉ, 2020).

Os primeiros contatos de Mariana Coelho com esse grupo se deram por meio de suas publicações, que ocorreram no final do século XIX. Além da revista Revista Azul, para a qual publicou sua primeira poesia, a revista O Cenáculo e Club Curitybano - periódico da associação do Club Curitybano que leva o mesmo nome - também foram escopo de suas publicações. Sendo estes os espaços de sociabilidade por excelência da elite letrada, a escritora passou a inserir-se, por meio de sua escrita sentimental, no incipiente campo literário paranaense.

Com o objetivo de expandir e firmar sua rede de sociabilidade como estratégia sistematizada de ingressar e integrar o grupo de literatos e intelectuais, outro espaço de sociabilidade que possivelmente Mariana Coelho frequentou foi a biblioteca do Club Curitybano. De acordo com Cláudio Denipoti (1998), esta biblioteca, que podia ser utilizada somente por seus membros, funcionava como um dos grandes atrativos para os sócios, ou para aqueles que pretendiam se associar, pois representava um importante ponto de encontro de leitores e escritores que consultavam seu acervo. Assim, a biblioteca do Club Curitybano desempenhava um importante papel dentro da sociedade paranaense, sobretudo, por divulgar as ideias expressas por sua elite letrada, como é possível observar em declaração feita por um jornal que afirmava ser o Clube: “[...] a mais util sociedade litteraria de todas as que entre nós existe” (CLUB CURITYBANO, GALERIA ILUSTRADA, 30/04/1889, p. 2).

Sergio Miceli (2001) avalia o contexto nacional, com base nas circunstâncias da época, no qual a atuação dos grupos dos letrados era potencializada por meio de trunfos políticos, desfrutando, portanto, desse capital social para intervirem nas instâncias de produção cultural, sobretudo nos jornais. No caso paranaense, foi em torno do ambiente criado por este círculo de indivíduos que se caracterizava não somente como movimento literário, mas, sobretudo, por ocupar outros espaços sociais e culturais, que Mariana Coelho passou a se estabelecer, a criar seus vínculos e amizade, e até mesmo de animosidades, principalmente por nem sempre compactuar de todos os ideais defendidos pelo grupo. Uma ilustração disso foi o episódio que ocorreu entre a escritora e Julio Pernetta (contenda em torno da imigração), retratado nas páginas de dois jornais da capital, Diário da Tarde e O Commercio (TOMÉ, 2020; BUENO, 2010). Nessa confrontação, Mariana Coelho não estava sozinha, pois seu amigo Rocha Pombo, segundo Bega (2013), considerava a imigração como sinônimo de progresso e civilização. Assim como a maioria dos intelectuais, de acordo com Campos (2006, 2008), Rocha Pombo defendia uma sociedade livre e republicana, entretanto, de modo diferente de seus pares, via a vinda de migrantes europeus, que supririam a mão de obra escrava, de forma positiva, porque seriam eles que auxiliariam na modernização e no avanço do Estado.

Diante deste contexto, podemos dizer que o grupo destes homens de letras paranaenses não era homogêneo; apesar das visões de mundo similares, nem todos compartilhavam das mesmas ideias e crenças. Assim, é possível afirmar que Mariana Coelho não estava sozinha ao discordar de alguns dos princípios defendidos pelo movimento. Todavia, apesar de sua postura forte e marcante, é possível notar na escritora, um certo senso do jogo, de que não seria vantajoso investir em animosidades com integrantes da elite letrada paranaense. Deste modo, tais diferenças e incompatibilidades, com o tempo, foram se diluindo e se desfazendo, sendo substituídas, posteriormente, por relações de trabalho, admiração, apreço e amizade.

O grupo formado pela elite letrada paranaense, conforme assinala Bega (2013, p. 154), mais do que grupo, representava uma verdadeira confraria, “[...] nas quais a admiração mútua extravasava os limites da literatura, tornando-se irmandades”. Vicente (2004) acrescenta que os literatos paranaenses, ao mesmo tempo que manifestavam seus ideais, por meio da circulação de jornais, revistas e atuação em espaços públicos e de sociabilidades, conduziam reuniões fechadas por ordens e grupos secretos, frequentados somente por membros devidamente iniciados, como ocorria na maçonaria.

Ao compreender as posições deste grupo na sociedade letrada paranaense, Mariana Coelho se associou à maçonaria, instituição esta que congregava uma parte da elite letrada daquele período. Ela, juntamente com outras mulheres, instituiu uma loja maçônica feminina de adoção chamada Filhas da Acácia. Segundo o documento de sua criação, a loja foi fundada no dia 15 de dezembro de 1901. De acordo com Etelvina Trindade (1996), a maçonaria representou um elemento significativo na sociedade curitibana, em especial entre os integrantes do recente campo cultural. “Desde o final do século XIX, inúmeras lojas maçônicas ocupam espaços na cidade [...]” (TRINDADE, 1996, p. 107). No entanto, as lojas maçônicas femininas, para funcionar e ser reconhecidas, deveriam estar ligadas a uma loja masculina, que deveria adotá-las, o que explica o termo “Loja de adoção”. A Loja Filhas da Acácia, no caso, estava associada à Loja Acácia Paranaense. Revela Trindade (1996) que as lojas femininas poderiam exercer práticas de beneficência, consideradas compatíveis com o sexo de suas participantes, sendo impedidas de acompanhar sessões magnas e de ritos diferentes.

Os laços que Mariana Coelho estabeleceu com a maçonaria se deram, em princípio, por meio de sua família. A rede que ela formou em Curitiba, em especial com o grupo dos literatos ligados à ordem maçônica, foi herdada, essencialmente, de seu tio José Natividade Teixeira de Meireles e seu irmão mais velho, Thomaz Alberto Teixeira Coelho, que já vivia no Brasil há 21 anos. De acordo com Leonardo Ribeiro (2015), o tio José Natividade Teixeira de Meireles fez parte da Benemérita Loja Perseverança em Paranaguá e foi fundador da Loja Estrela de Antonina. Seu irmão mais velho, Thomaz Alberto Teixeira Coelho, foi membro da mesma loja maçônica, frequentada por seu tio, em Paranaguá.

Porém, conforme nos situa Trindade (1996), o advento da República trouxe consigo uma base oligárquica e paternalista de sociedade, na qual as mulheres continuavam a ter dificuldades para ocupar seus espaços de conquista. Apesar de sentir e compreender aquelas heranças históricas, Mariana Coelho percebeu ali um ensejo de compartilhamento e intercâmbio de ideias com o meio literário paranaense, que de uma forma ou de outra seria capaz de mover seus interesses. Desta forma, pertencer a esta irmandade, não correspondia apenas a se relacionar com o grupo dos literatos e intelectuais paranaense, mas representava estar vinculada aos movimentos de defesa dos princípios liberais e republicanos expressos no período, ou seja, a uma rede de sociabilidade muito mais ampla. O “[...] pertencer à ordem maçônica era justamente propugnar pelo liberalismo, especificamente na manifestação da livre consciência, justificando, ao mesmo tempo, a necessidade da maçonaria no mundo moderno” (MARCHETTE, 1996, p. 50). Assim, a fundação de lojas maçônicas tinha como objetivo a prática dos ideais e das crenças comungadas por uma elite letrada que sonhava por uma Curitiba moderna e desenvolvida.

Portanto, a adesão de Mariana Coelho aos espaços de sociabilidade da capital paranaense se deu a partir de diversas frentes, consubstanciadas nas heranças sociais (papel do seu tio) e heranças culturais (domínio da leitura e escrita). Essas heranças são potencializadas por essa personagem, ao utilizar-se de diferentes estratégias, notadamente do poder simbólico de seus confrades para a legitimação de sua trajetória, como veremos no item seguinte.

DOIS CONFRADES PREFACIADORES

Ao lermos o vocábulo “prefácio” podemos pensar em um texto que tem como propósito, apresentar uma obra, ou até mesmo, fornecer informações que facilitem a leitura ou a compreensão de determinado livro. Esta ideia pode estar associada, conforme esclarece Monteiro (2014), aos significados a ele atribuído, que admite as seguintes especificações: “a ação de falar no princípio”, “texto preliminar de apresentação”, “texto que precede ou introduz uma obra”. Entretanto, tal concepção indica apenas um dos possíveis propósitos para este gênero textual, que muitas vezes, pode revelar interesses mais profundos. É neste sentido que direcionamos nossa interpretação. Elegemos para isso, os prefácios publicados em duas obras de Mariana Coelho, O Paraná mental de 1908 e A evolução do Feminismo: subsídios para sua história de 1933. Por meio de uma observação mais apurada é possível perceber como Mariana Coelho utilizou-se, conscientemente ou não (nos termos de Bourdieu), desse recurso narrativo e performativo como estratégia para divulgação de seu nome, ampliação da sua rede de sociabilidade em nível nacional, inserção, aceitação e grau de pertencimento ao grupo de intelectuais.

Para além da ideia de introdução e apresentação, consideramos o prefácio como um espaço privilegiado para exaltação de um autor e sua obra. Seguindo o ponto de vista de quem o escrevia, sabemos que o texto prefacial acabava transferindo o reconhecimento, o nome e a validação de uma dada autoridade sobre determinado trabalho, tornando-o autorizado aos olhos do público a que se destinava. Herlander Cruz (2010, p. 4) chama atenção para esta relação de proximidade estabelecida pelo gênero textual e a obra em si:

[...] vizinho do texto. A sua contiguidade, a sua proximidade derivam da predicação que aquele exerce sobre este. É certo. Mas também da natureza física que os faz partilhar do mesmo objecto físico, o livro. E essa existência física não é de desprezar; separados pela página branca, executam esse secreto e permanente fascínio que os faz debruçar, ora um, ora outro, sobre a outra presença permanente e, tantas vezes, necessária.

Face a esta categorização, Cruz (2010, p. 6) acrescenta que o prefácio não se trata apenas “[...] de abrir uma porta; é, antes, um olhar primeiro por entre frestas”. Diante de tais definições, identificamos que o prefácio corresponde a um universo rico de informações, que fornece um vasto campo de trabalho e, portanto, merece uma atenção mais apurada.

Com isso, entendemos que o prefácio traz um significado que vai além do “[...] guiar o leitor pelo caminho desconhecido do texto (MONTEIRO, 2014, p. 27)”. Buscamos explorar os prefácios, nas obras de Mariana Coelho enquanto estratégia de validação e credibilidade. Com isso, coadunamos com a ideia expressa por Cruz (2010, p. 7) ao afirmar que “[...] com alguma regularidade assiste-se à construção prefacial como artifício, não para além ou paralelamente ao texto, mas como factor de validação e mecanismo narrativo da narrativa em si”. Acrescentaríamos que o prefácio assume um sentido mais performativo do que narrativo ou descritivo.

Nesta mesma linha de compreensão, Bourdieu (1987) esclarece que a marca de um prefácio para uma obra, deixada por seu prefaciador, é o valor das relações objetivas entre a respectiva posição ocupada pelo autor (prefaciador) e o escritor, no caso deste artigo, a escritora. Mariana Coelho, que tinha como intuito se inserir, ser aceita e reconhecida dentro do campo literário e intelectual, compreendia que o prefácio feito por intelectuais já reconhecidos e renomados e com uma rede de sociabilidade consolidada, poderia contribuir para a divulgação e o enaltecimento de sua obra e de sua figura.

Bourdieu (1987) afirma ainda, que cada uma das posições na hierarquia dos graus de consagração, sobretudo, no início de uma carreira intelectual, está relacionada a uma relação ambiciosa ou resignada com o campo a que se pretende se associar. Neste caso, Mariana Coelho demonstrou uma atitude ambiciosa ao buscar respaldo junto a Rocha Pombo, Dario Vellozo e Leôncio Correia, cujas posições por eles ocupadas e suas redes de sociabilidade, os colocavam em uma disposição globalmente favorável, sobretudo, como intérpretes privilegiados de qualquer produto digno de revelação. Conforme enfatiza Bourdieu (1987, p. 160), as “[...] aspirações subjetivas tendem a ajustar-se às oportunidades objetivas”. Mariana Coelho aproveitou a oportunidade objetiva de laços de amizades travados com estes homens de letras do Paraná para pôr em prática sua estratégia em resposta a uma situação estruturada. Exibindo assim, em duas de suas mais importantes obras, os prefácios feitos por estes intelectuais.

Conforme indica Monteiro (2014), o prefácio pode admitir diversos sinônimos e denominações que foram sendo atribuídos a ele ao longo da história, tais como prólogo, proêmio, prolegômenos, prólogo, introdução, aviso, advertência, carta ao leitor, introito e, até mesmo posfácio, quando este se apresenta nas últimas páginas da obra. Além das várias nomenclaturas que o prefácio pode receber, o autor adverte que por não possuir uma forma fixa e definida, o padrão considerado adequado adotado para sua escrita acaba ficando a critério do prefaciador. Devido a isso, é comum textos introdutórios no formato de carta, de entrevista, de depoimento, entre outros. No livro O Paraná mental, o prefácio, sob o título de proêmio, escrito pelo intelectual Rocha Pombo, assume o formato de relato pessoal, no qual o prefaciador faz questão de evidenciar sua proximidade com a autora da obra e sua família. No livro A evolução do feminismo, o prefácio foi editado no modelo de cartas aos leitores, uma delas escrita por Rocha Pombo, e outra por Dario Vellozo.

Em relação ao seu conteúdo, Monteiro (2014) afirma que o prefácio quase sempre traz considerações sobre o livro e dados biográficos do autor, porém, muitas vezes, revela informações que evidenciam uma relação de proximidade entre autor e prefaciador. Proximidade essa bastante presente no prefácio da obra O Paraná mental, sobretudo quando Rocha Pombo afirma: “[...] fui eu, se não dos primeiros, ao menos dos mais solícitos em aplaudir a inteligência e o coração de D. Mariana Coelho, no momento em que, sua aparição, ela surpreendeu aos intelectuais do Paraná” (POMBO, 2002a, p. 11). Assim, percebamos que o prefaciador estava, muitas vezes, imbuído não apenas da tarefa de expor publicamente uma obra ou exaltá-la; seu encargo ia além, em muitos casos buscava angariar disposição afetiva para a obra.

Logo que Mariana Coelho chegou a Curitiba, Rocha Pombo se tornou, conforme as pistas deixadas pelo próprio autor no proêmio de O Paraná mental, um grande amigo e companheiro de letras. Além disso, deixou evidente que tal apreço também se estendeu à família da escritora. Afeição esta que fez questão de explicitar no prefácio da própria obra, reportando-se a cada um de seus irmãos da seguinte maneira:

[...] Teixeira Coelho, homem de letras, poeta e prosador, que não é um desconhecido lá no velho reino. No Paraná tem feito jus às simpáticas e à alta estima das boas rodas [...]. O outro irmão é o Thomaz Coelho, uma das criaturas mais estimáveis que já conheci entre esses ntes que se diria passarem pelo mundo como a esgueirar-se da grande luz, preferindo sempre a doce e consoladora penumbra dos que se resignam na luta tremenda (POMBO, 2002a, p. 11-12).

Sobre a irmã, Rocha Pombo (2002a, p. 12) deu a entender que mantinham uma relação de confiança: “A irmã, a meiga confidente, e companheira dos mais belos dias - está hoje, como os dois irmãos, casada”.

Rocha Pombo, no período em que Mariana Coelho passou a estabelecer vínculos de amizade e profissionais, já era considerado uma figura pública de destaque. De acordo com os estudos realizados por Campos (2006, p. 23), ele teve uma trajetória marcada pela atuação em diversos espaços, “[...] como o exercício do magistério, a atuação na área do jornalismo, na esfera política, principalmente no legislativo, na literatura, enfim, numa série de instituições culturais e políticas do Paraná e do Brasil”. Bega (2013) situa Rocha Pombo7 como um jornalista que combinava militância política e vanguarda em prol de ideias que fortalecessem seu projeto de modernidade, apoiado na ciência, na racionalidade e no ideário liberal.

Apesar de Mariana Coelho ser naquele momento uma figura pouco conhecida e reconhecida dentro do campo literário e intelectual, foi convidada a escrever um livro de crítica literária, produzido em comemoração ao centenário de abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Assim, em 1908, Mariana Coelho publicou O Paraná mental, obra impressa pela conhecida Typographia da Livraria Econômica, fundada em 1894. Segundo Denipoti (1998), tal estabelecimento além de ser responsável pela publicação de parte da produção editorial curitibana, como o popular anuário Almanack do Paraná, também chamava a atenção pela gama de obras disponíveis para aquisição e leitura, assim como pela qualidade dos serviços.

De acordo com Adélia Woellner (2007), a obra O Paraná mental foi a primeira a elaborar uma reflexão sobre a literatura no Paraná, além de representar o primeiro trabalho de catalogação crítica feito por uma mulher. Em seu livro, analisou três gerações no domínio da vida intelectual, cultural, artística e literária paranaense. Mônia Silvestrin (2009) assevera que, além de uma homenagem pessoal, o livro representou um dos meios de participação do estado na Exposição Nacional de 1908, que ocorreu no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da chegada da Família Real ao Brasil.

Com base nas articulações que pretendia estabelecer junto às lideranças do círculo literário paranaense, Mariana Coelho viu uma possibilidade de agir estrategicamente ao ter o prefácio de sua primeira obra escrito por um de seus representantes já consagrados. Pois, desta forma, seu livro poderia alcançar maior aceitação e credibilidade. Assim, tal tarefa ficou a cargo do declarado amigo, Rocha Pombo, que fez questão de deixar registrada a competência com que a autora realizou tal trabalho: “[...] não era possível, atentas as circunstâncias em que aparece este livro, dar uma análise mais completa e uma informação mais precisa de todos os intelectuais do Paraná” (POMBO, 2002a, p. 15).

Sobre a postura assumida por Mariana Coelho, Ívia Alves (2005) acrescenta que a exposição de uma produção literária por uma escritora seria melhor assegurada ou legitimada pela aprovação de um escritor ou intelectual conhecido e reconhecido entre seus pares. Na ocasião, ter uma obra autorizada e recomendada por Rocha Pombo, que já era um escritor consagrado, possibilitaria uma ampliação de sua rede de sociabilidade, - que até o momento estava marcada, sobretudo, por seus laços familiares e sua associação a ordem maçônica - bem como seu reconhecimento dentro do campo literário. Essa ampliação de sua teia de relações seria fundamental para sua adesão e participação na vida pública e no restrito círculo literário e intelectual da capital paranaense.

No prefácio do livro, o escritor fez questão de deixar registrado, não somente observações elogiosas acerca da obra: “Neste trabalho ela resume um dos aspectos da nossa vida; assinala traços gerais, mas com perfeita fidelidade [...]” (POMBO, 2002a, p. 14); mas, também, exaltar o respeito e a deferência que nutria pela escritora: “[...] além de se impor pela sua lúcida inteligência e pela sua cultura, esta senhora se impôs ao respeito e estima geral por um conjunto de qualidade que realmente a destacam como um nobre tipo de mulher do seu tempo [...]” (POMBO, 2002a, p. 13). Ao dialogarmos com Bourdieu (2004), podemos dizer que tal prática se trata de transferência de capital, em que um autor consagrado faz um comentário elogioso a uma jovem autora desconhecida ou pouco conhecida, transferindo a ela, parte de seu capital simbólico, tendo em vista as relações de força que se impõem a todos os agentes, inclusive aos novatos.

O livro de Mariana Coelho, além de representar um composto de homenagens, foi uma reação ao escrito de Sampaio Bruno (pseudônimo de José Pereira Sampaio), intitulado de O Brasil mental, publicado em 1898 em Portugal. A obra trata-se de uma provocação do autor que afirmava não haver sinais de vida intelectual notável no Brasil (RIBEIRO, 2015). Com sensibilidade em considerar-se tanto portuguesa quanto brasileira, ela quis mostrar com sua publicação, que havia no Brasil, sobretudo no Paraná, uma fecunda e vigorosa manifestação intelectual e literária, da qual intuía fazer parte. A este respeito a autora manifestou-se da seguinte forma: “Sendo verdade indiscutível que o desenvolvimento crescente das belas artes marca o grau de progresso na civilização de um povo, este belo Paraná é já mais que suficiente distinto para merecer uma carinhosa apreciação analítica dos povos mais adiantados” (COELHO, 2002b, p. 31). Em consonância com o posicionamento da autora, Rocha Pombo fez questão de deixar claro, no proêmio da obra, seu consentimento em relação à defesa feita por ela, sobretudo, ao enfatizar a grandiosidade do povo do Paraná: “É isso o que somos, nós paranaenses: povo que nasce amando o grandioso, estremecendo de aspirações para as alturas, como as flores da lenda, procurando a luz e seguindo o sol” (POMBO, 2002a, p. 15). Observa-se que esse empreendimento da autora estava profundamente associado aos projetos daquela geração que se movia em torno de um conjunto de ideias e projetos, sem deixar de portar um comprometimento com uma certa ideia de identidade regional, como bem expressa o movimento paranista (PEREIRA, 1996).

Outro intelectual renomado com quem Mariana Coelho estabeleceu vínculos profissionais e amizade foi Dario Vellozo. Em declarada afeição ao literato, Mariana Coelho chegou a anunciar: “Não faço, precisamente, uma apreciação deste mimo literário porque a minha escrupulosa consciência me insinua que não cabe tal arrojo a quem apenas tateia vacilante, humilde e ansiosa, os nobilíssimos umbrais da Arte” (COELHO, 2002b, p. 36, grifo da autora). Dario Vellozo foi um dos responsáveis, juntamente com Rocha Pombo, por prefaciar sua obra de maior envergadura, A evolução do feminismo: subsídios para sua história, publicada em 1933, pela Editora Moderna S. A. do Rio de Janeiro. Era desejo da escritora que seu livro fosse impresso por uma editora do Rio de Janeiro. Em carta escrita à Bertha Lutz, Mariana Coelho explicava que esta era a orientação que seus amigos lhe faziam. Segundo ela, todos “[...] acreditam que o livro deve nascer no Rio ou S. Paulo” (COELHO, 05/06/1926, p. 2). A publicação de sua obra contou com o auxílio do amigo Rocha Pombo, que além de prefaciador, ao que tudo indica, acabou assumindo a responsabilidade pelas negociações com a editora.

No final do século XIX, o campo intelectual da capital paranaense, segundo Berberi (1996), buscava um caminho para sua estruturação e uma das figuras de grande destaque foi Dario Vellozo. No ano de 1891, atuou como escritor e diretor da revista Club Curitibano, periódico da associação que levava o mesmo nome. Logo atraiu a atenção de outros jovens literatos, que passaram a se reunir em sua casa, que acabou se tornando um tipo de ponto de encontro da elite intelectual e literária curitibana. De acordo com Denipoti (1998), dessas reuniões resultou a publicação da revista O Cenáculo, de 1895 a 1897, que levava em seu nome os ideais artísticos do grupo. Antes disso, em 1893, eles também publicaram a Revista Azul, de cunho artístico e literário, voltado preferencialmente às leitoras, em que Mariana Coelho publicou, no mesmo ano de sua criação, sua primeira poesia intitulada Madrigal. Possivelmente, tenha sido nesse momento que ela estabeleceu seus primeiros contatos com Dario Vellozo e demais confrades.

Além de escritor, conforme revela Denipoti (1998), uma das outras ocupações de Vellozo era o ensino. Em 1899, começou a trabalhar como professor no Ginásio Paranaense, atuação esta que foi complementada pela função de colaborador, redator ou editor de revistas voltadas ao ensino, como A Escola (1906-1910), Pátria e Lar (1912-1913) e Brazil Civico (1918-1919). Também foi autor de vários livros, dentre eles dois de natureza didática que foram muito utilizados pelas escolas curitibanas. Ademais, Dario Vellozo sofreu forte influência da literatura simbolista e esotérica vindas da Europa, chegando a fundar em 1909, o Instituto Neopitagórico, onde se realizavam discussões sobre obras literárias e se cultivavam valores helenísticos. Em 1918, foi inaugurado o Templo das Musas, que passou a ser a sede do Instituto. Também foi, segundo Denipoti (1998), membro da maçonaria, tornando-se um de seus principais líderes na cidade8.

Dario Vellozo exerceu um papel de liderança cultural na Curitiba de então, aspecto importante para compreender sua participação no prefácio da nova obra. O livro A evolução do feminismo: subsídios para sua história é acompanhado de um prefácio escrito, no formato de duas cartas escritas por Vellozo e Rocha Pombo. É interessante anotar que este livro deveria ser prefaciado por Bertha Lutz, companheira do movimento feminista. Em sua tese, Tomé (2020) revela um conjunto de correspondências trocadas entre elas, em que se percebe um forte desejo de Mariana Coelho que esta obra contasse com uma apresentação da principal liderança do feminismo no Brasil. Apesar de todo desejo e esforço, este manuscrito não contou com essa transferência de capital simbólico, que era tão esperada pela escritora luso-brasileira. Diante dessa contingência, mais uma vez recorreu aos velhos e valorosos confrades das terras do Paraná. Desta forma, compreendendo a posição de destaque ocupada por Dario Vellozo e Rocha Pombo, Mariana Coelho publicou duas cartas como prefácio em sua obra de maior fôlego. Uma foi escrita por seu padrinho intelectual Rocha Pombo, em 1927; outra, por seu conselheiro Dario Vellozo, em 1926.

Mariana Coelho, após tornar públicas sua posição e postura diante do papel que as mulheres deveriam exercer na sociedade e contando com o apoio e amizade de outras intelectuais feministas que militavam pela mesma causa, escreveu A evolução do feminismo: subsídios para sua história, publicado em 1933, vinte e cinto anos após o livro O Paraná mental. A análise feita por Raquel Prado 9 (1934) retratou bem a dificuldade de Mariana Coelho em conciliar suas atividades de magistério com sua vida de escritora, o que nos leva a crer que este pode ser um dos motivos pelo longo intervalo entre as duas obras.

O livro foi o resultado de um longo processo de estudo e pesquisa. A produção contou com o auxílio de uma ampla rede de contatos e amizades que estabeleceu com várias(os) intelectuais do Paraná e do Brasil. Dario Vellozo (2002), no prefácio da obra, não deixa estes aspectos passarem despercebidos:

Seu livro, como as obras dos escritores gregos, tem a mais o mérito de haver sido longamente pensado. Fruto de anos de pacientes pesquisas, exigiu ainda numerosas cartas de informações, toda uma correspondência intensa que a relacionou com o alto mundo feminista, e despertou em dezenas de pessoas o desejo de conhecer seu trabalho (VELLOZO, 2002, p. 27).

Assim, além de seu próprio esforço e dedicação, Mariana Coelho também contou com o apoio prestado por estes companheiros das letras que, por meio de suas indicações, colaboraram para sua publicação, divulgação junto à elite letrada. Como forma de chamar atenção para a obra da escritora que cada vez mais ganhava reconhecimento nos meios sociais e intelectuais da capital paranaense, declarou Rocha Pombo (2002b, p. 25): “Todo o seu livro é novo e empolgante”; nesta mesma linha, completou Dario Vellozo (2002, p. 27): “Não conheço, no gênero, obra tão completa, de tão rica documentação”.

Além de seus prefaciadores, Mariana Coelho também recebeu a aprovação de vários representantes e dirigentes ligados à esfera pública, dentre eles o escritor Leôncio Correia, que em seu texto publicado no periódico A Patria, do qual era redator, além de explicitar sua profunda admiração e reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pela escritora, fez questão de demonstrar sua anuência com os prefaciadores da obra.

Em sua alentada obra, de cerca de 600 paginas, a ilustre escriptora, em estylo sempre agradável e escorreito, estuda profundamente o problema, desde os mais recuados tempos até os dias que correm. Póde-se mesmo affirmar, que a talentosa artista da palavra esgotou o assumpto. Difficilmente se poderá avançar no caminho por ella explorado, percorrido e minuciosamente esquadrinhado. Para se avaliar do bom quilate do trabalho, basta citar o que dele disseram o glorioso autor da “Historia do Brasil” - Rocha Pombo, e o eminente Professor Dario Velozo. Disse o primeiro: “Julgo que este é um trabalho que tem de ficar na nossa historia literaria; todo o seu livro é novo e empolgante”. E o segundo: “A obra tem um valor que lhe é próprio, particular: dá idéia do movimento feminino em todos os países civilizados. Na parte relativa ao Brasil e Portugal, preenche uma lacuna” (CORREIA, 1940, p. 130).

Em suas palavras, Leôncio Correia apenas lamentava o fato de o livro não ter alcançado, até aquele momento, o devido reconhecimento que tanto considerava merecido:

Se alguma coisa há a lastimar com a publicação deste vigoroso trabalho, num momento em que o feminismo se agita em todos os sectores da actividade espiritual, é a falta de repercursão que elle tem tido, e deveria ter, em todos os núcleos pensante do paiz. Mas, se é exacto que a justiça tarda, mas não falta, a brilhante escriptora Mariana Coelho, que conseguiu fazer obra resultante de longos estudos e séria meditação - terá a consagração nacional, como já desfruta e gosa da estima e admiração de todo o Paraná, onde reside há muitos anos, e onde prepara, com carinho e competencia, para as lutas de amanhã, as crianças de hoje (CORREIA, 1940, p. 130).

Possivelmente, a limitada repercussão inicial do livro, da qual protestava Leôncio Correia, fosse também devido a dificuldades que envolveram a produção da obra. Mariana Coelho que pretendia publicar o seu livro no momento de efervescência dos debates acerca do voto feminino, quando pode editá-lo, em 1933, as mulheres já tinham conquistado o sufrágio fazia um ano. Entretanto, o atraso em sua publicação não retirou a importância que o escrito representou para o campo intelectual paranaense e brasileiro, especialmente ao movimento feminista. Devido a isso, Dario Vellozo (2002, p. 28) não deixou de enaltecer, em seu prefácio, o valor que o livro agregava.

A obra tem um valor que lhe é próprio, particular: dá idéia do movimento feminino em todos os países civilizados. [...] A obra não tem apenas um valor de ocasião; pois tendo a autora estudado a questão feminista e o trabalho intelectual feminino, como dados mais positivos colhidos durante anos, a obra traduz o estado atual do feminismo no orbe, e será sempre, em qualquer tempo, uma obra de consulta.

Em seu prefácio, Rocha Pombo mantem o mesmo senso de distinção acerca da relevância alcançada pelo livro:

[...] não posso reprimir a minha satisfação ao reconhecer o valor desta obra, em que V. Ex.ª. revela ainda uma vez as suas qualidades de escritora, a sua erudição histórica, e a segurança com que versou o seu assunto. Julgo que é este um trabalho que tem de ficar em nossa história literária (POMBO, 2002b, p. 25).

As referências elogiosas da obra e sua autora, expressas nos prefácios por estes importantes agentes do campo intelectual, foram de fundamental relevância para o reconhecimento de Mariana Coelho como escritora e intelectual, uma vez que foi a partir de tais indicações positivas que ela passou, efetivamente, a ser vista por seus pares, como agente deste universo do qual almejava tanto fazer parte. Assim, com a mediação destes intelectuais, um ano após a publicação da obra, Mariana Coelho recebera menção na imprensa do Rio de Janeiro, o que indica que seus escritos e sua articulação com o movimento feminista reverberavam nos espaços do mundo social. Reconhecimento este narrado pela própria escritora, em carta que escreveu à amiga Bertha Lutz, em 1934. Mariana Coelho, que havia estado no Rio de Janeiro naquele ano, mencionou que sua presença na capital do país tinha sido noticiada por alguns jornais: “Os jornais cariocas ‘Jornal do Brasil’, ‘Diário Carioca’ e ‘Sentinela’ deram notícia da minha vinda ao Rio” (COELHO, 10/07/1934, p. 1). Segundo um deles:

Vinda do Estado do Paraná, encontra-se entre nós, a consagrada educadora d. Mariana Coelho, membro brilhante do Centro de Letras daquelle Estado sulino, ornamento da alta sociedade paranaense e autora do livro “Evolução do Feminismo”, que tem despertado grande interesse entre os intellectuaes desta capital (PROFESSORA MARIANA COELHO, 07/07/1934, p. 7).

Deste modo, é possível perceber que neste momento da trajetória de Mariana Coelho, com o devido apoio recebido de seus confrades, sobretudo, ao indicarem sua obra e exaltarem sua grande capacidade intelectual e talento ao manejar a pena, a escritora que já contava com uma ampla rede de sociabilidade e com reconhecida posição de pertencimento ao grupo das letras, conseguiu que mais um de seus escritos fossem elevados aos patamares da prestigiosa esfera literária e intelectual. Portanto, esses dois prefácios, escritos por importantes intelectuais do período, contribuíram de forma indelével para que Mariana Coelho alcançasse o seu reconhecimento no espaço literário e intelectual paranaense e brasileiro.

Conclusão

A personagem Mariana Coelho tem sido objeto de algumas pesquisas acadêmicas, conforme já indicamos. Nesse movimento, este texto privilegiou um aspecto bastante específico, a saber: o uso do prefácio como estratégia à inserção dessa figura nos meios literários da capital paranaense, assim como no espaço das escritoras feministas. O processo de inserção de um escritor ou uma escritora nos seletos grupos de letrados é caracterizado por inúmeros fatores, tais como origem social, domínio de capital cultural, gênero, idade, capital social, etc. Tudo isso constitui os elementos para compreender a aceitação ou a rejeição de personagens nos ambientes culturais.

Este texto presumiu grande parte de tais aspectos para tratar de Mariana Coelho, pois buscou enfatizar o que corresponderia ao capital social, isto é, ao conjunto de relações estabelecidas nos mais variados grupos sociais. De modo particular, inventariamos uma parte das interações dessa personagem com os meios letrados da Curitiba da virada do século XIX e das primeiras três décadas do século seguinte. A pretensão foi mostrar como no contexto curitibano se organizava uma diversidade de lugares em que se inseriam inúmeras personagens que compartilhavam um certo habitus cultural, notadamente a crença (illusio) no poder da escrita.

Tais confrarias ou irmandades funcionavam como verdadeiras formas de catalisação de novas(os) integrantes, assim como de perpetuação do prestígio dos mais antigos e dos fundadores. Os principais líderes desses espaços eram detentores de capitais cultural, social, político, econômico e simbólico. Havia uma grande simbiose entre todos esses capitais, pois os escritores mantinham elos ou mesmo integravam os grupos da administração política do Paraná, das áreas de produção econômica, mas acima de tudo, utilizavam-se dos capitais políticos, sociais e econômicos para estabelecer espaços específicos do campo cultural. Eram instituições variadas, que iam dos cafés às bibliotecas, às irmandades religiosas ou espirituais e aos clubes, consubstanciando verdadeiros mecanismos de pertencimento e distinção social.

Nesse ambiente, Mariana Coelho ingressou tão logo chegou a Curitiba. Manejou os elementos considerados fundamentais à sua inserção, sofrendo resistências próprias ao gênero feminino, mas também encontrou muita empatia. Sua adesão ao grupo representava o compartilhamento de um conjunto de crenças, sem implicar na concordância absoluta. Ao mesmo tempo, simbolizava o reconhecimento entre seus pares, como indica a transferência de capital simbólico por meio dos prefácios de suas duas obras, em que Rocha Pombo e Dario Vellozo avalizaram seus escritos perante os integrantes do campo cultural e intelectual. Em 1908, no momento da publicação de O Paraná mental, Rocha Pombo teve um papel fundamental, pois Mariana Coelho buscava se afirmar no espaço das letras, majoritariamente dominado pelo gênero masculino. Em 1933, já reconhecida nas cercanias paranaenses, desejava projetar-se nas duas principais capitais brasileiras (São Paulo e Rio de Janeiro), ação apadrinhada pelo dileto amigo Rocha Pombo ao mediar a publicação da obra A evolução do feminismo: subsídios para sua história, na Editora Moderna. Além disso, na ausência de um prefácio escrito pela principal representante do feminismo brasileiro (Bertha Lutz), esse beneplácito contou com a participação de seus antigos confrades paranaenses.

Portanto, com sua atuação marcante e contando com um conjunto de estratégias, Mariana Coelho foi conquistando posições dentro desses meios culturais e reconhecimento entre seus pares. Para isso, utilizou-se da rede de amizade que forjou com o grupo de literatos e intelectuais paranaenses, valendo-se de prefácios como uma das estratégias para acúmulo de capital simbólico.

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1Utilizamos estratégia no sentido desenvolvido por Pierre Bourdieu: “ela é produto do senso prático como sentido do jogo, de um jogo social particular, historicamente definido, que se adquire desde a infância, participando das atividades sociais” (BOURDIEU, 2004, p. 81).

2Mariana Teixeira Coelho nasceu em Portugal, em 10 de setembro de 1857; e faleceu em Curitiba, em 29 de novembro de 1954. Ela chegou ao Brasil no dia 21 de agosto de 1892. É importante assinalar que este texto se inscreve no conjunto de produção acadêmica que trata dessa personagem, notadamente uma dissertação e duas teses: (TOMÉ, 2020; BUENO, 2010, KAMITA, 2005).

3Do ponto de vista metodológico, essas obras são problematizadas a partir das categorias de rede, meios literários e culturais (SIRINELLI, 1996), assim como de campo literário/cultural (BOURDIEU, 1987, 1996a, 1996b, 2004). Além disso, apoia-se em: BOURDIEU (2008).

4“Diferentemente das biografias comuns, a trajetória descreve a série de posições sucessivamente ocupadas pelo mesmo escritor em estados sucessivos do campo literário, tendo ficado claro que é apenas na estrutura de um campo, isto é, repetindo, relacionalmente, que se define o sentido dessas posições sucessivas, publicação em tal ou qual revista, ou por tal ou qual editor, participação em tal ou qual grupo etc.” (BOURDIEU, 1996a, p. 72-73).

5Acrescentamos três obras importantes de sociologia dos intelectuais: Bourdieu (1989, 1996b e 2013). Para uma síntese dessa discussão de Bourdieu, consultar Campos (2022).

6Consultar também em formato de livro (CAMPOS, 2008).

7Mais informações sobre Rocha Pombo, consultar Maria Tarcisa Bega (2013).

8Mais informações de Dario Vellozo, sugerimos consultar Cláudio Denipoti (1998) e Maria Lúcia Andrade (2002).

9Rachel Prado foi o pseudônimo utilizado por Virgília Stella da Silva que nasceu em Curitiba no ano de 1891, filha de Joaquim Antônio da Silva, fundador do jornal A República. Em 1909, mudou-se para o Rio de Janeiro com sua família, cidade onde se estabeleceu até seu falecimento em 1943. Foi uma figura bastante atuante, líder feminista, escritora, jornalista além de fundadora da Editora Ravaró, em 1934 (KAMITA, 2005).

Recebido: 17 de Janeiro de 2022; Aceito: 22 de Julho de 2022

E-mail: dyeinnetome@gmail.com

E-mail: ndoutorado@yahoo.com.br

DYEINNE CRISTINA TOMÉ é Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestra em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Especialista em Gestão Escolar pela Universidade do Centro-Oeste (UNICENTRO) e em Educação Especial pelo Instituto Paranaense de Ensino. Graduada em Ciências Sociais e Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Integrante do Grupo de Pesquisa História, intelectuais e educação no Brasil e no Paraná de oitocentos e de novecentos - GEPHIED. Professora do Quadro Próprio do Magistério da SEED PR.

NEVIO DE CAMPOS é Pós-Doutor em Sociologia dos Intelectuais no Centro Europeu de Sociologia e Ciência Política - Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais - EHESS - (2019-2020), Paris, sob supervisão de Gisèle Sapiro. Pós-Doutor em História Intelectual e dos Intelectuais na Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob supervisão de Renato Lopes Leite. Doutor e Mestre em Educação, na Linha de Pesquisa de História e Historiografia da Educação pela UFPR, sob orientação de Carlos Eduardo Vieira. Bacharel e Licenciado em Filosofia pela UFPR (1999). Professor do Programa de Pós-Graduação em História e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Editora Responsável:

Tatiane de Freitas Ermel

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