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Revista Exitus

versión On-line ISSN 2237-9460

Rev. Exitus vol.7 no.3 Santarém set./dic 2017  Epub 03-Jun-2019

https://doi.org/10.24065/2237-9460.2017v7n3id347 

Editorial

Editorial: Exitus v7n3

Solange Helena Ximenes Rocha1 

1Professora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação do ICED da Universidade Federal do Oeste do Pará


Os textos reunidos nesta edição da Revista Exitus apresentam uma preocupação recorrente no campo educacional que diz respeito à formação docente. Este tema é transversal no Programa de Pós-graduação em Educação da UFOPA, tem sido objeto de estudo de diferentes pesquisadores no Brasil e no exterior e aparece explicitamente ou como pano de fundo nas discussões apresentadas nesta edição. Nesse sentido, os autores abordam a formação docente na relação com o ensino de física, avaliação, educação superior, educação matemática, ensino de química, educação de jovens e adultos, além de uma profícua discussão sobre os paradigmas de formação de professores de ciências.

Os artigos foram agrupados em três seções: Concepções e Práticas Docentes; Política Educacional e Outros Temas em Educação. Integram ainda a edição uma Conferência e uma Resenha. Esta divisão é meramente didática já que os textos têm vinculação entre si porque retomam questões atuais acerca da problemática educacional brasileira em diferentes contextos.

A Conferência que abre este número é de Elizabeth Antonia Leonel de Moraes Martines e é intitulada “Formação de professores de Ciências: velhos e novos modelos”. A autora apresenta uma discussão instigante que elucida as relações que se estabelecem entre cada momento histórico, principalmente com o desenvolvimento das ciências, e os modelos de formação de professores, as principais características da identidade docente e os currículos. Para a autora as transformações no mundo moderno afetam as instituições ligadas à produção e disseminação do conhecimento, apresentando profundas implicações para as universidades, especialmente quanto à formação de professores de um modo geral, e, particularmente, para a área de ensino de ciências.

Abre a seção Concepções e Práticas Docentes o artigo de Sérgio Choiti Yamazaki e Regiani Magalhães de Oliveira Yamazaki. “Experimentos no ensino de física: um olhar de viés epistemológico” é uma pesquisa empírica que objetivou identificar concepções dos alunos de uma turma de primeiro ano do curso de licenciatura em Física com relação ao uso de experimentos e de suas relações com o ensino e aprendizagem de Física, sob um olhar epistemológico. A pesquisa foi motivada pela necessidade de discussão sobre os aspectos que permeiam o laboratório didático, tendo em vista a congruência entre as concepções espontâneas de estudantes encontradas na literatura da área e as opiniões dos alunos iniciantes no curso de Física. Os autores fundamentam a análise na analogia feita por Fernando Becker, que diz respeito às relações existentes entre as concepções sobre o fazer ciência e aquelas relacionadas ao ensino aprendizagem, e na epistemologia crítica de Bachelard. Os resultados apontam para a presença de concepções epistemológicas ambíguas entre os estudantes, o que remete à necessidade de reformulação no que tange aos cursos de formação de professores de Física. Concluem o texto apontando sugestões para os cursos de licenciaturas em Física, com o objetivo de minimizar a formação ou manutenção do senso comum sobre essa ciência e seu ensino aprendizagem.

O segundo artigo “A influência da relação professor-estudante na aprendizagem discente: percepções de professores de ciências e matemática” objetiva identificar e compreender as concepções de professores da área de Ciências da Natureza e Matemática acerca da influência da relação entre professor e estudante sobre a aprendizagem. Os autores Deise Nivia Reisdoefer, Eliana Maria Mallmann Teixeira e Maurivan Güntzel Ramos coletaram depoimentos de 17 professores integrantes de um Programa de Pós-graduação na referida área, procederam a uma análise textual discursiva que originou três resultados: a relação entre professor e estudante influencia na aprendizagem discente; as atitudes dos estudantes influenciam na sua aprendizagem; as atitudes do professor contribuem para a aprendizagem dos estudantes. Constataram ainda que os participantes da investigação entendem que a afetividade e a boa relação entre professor e estudante favorecem significativamente a aprendizagem deste, e os professores enfatizam a necessidade de atitudes dos estudantes como a confiança, a autodisciplina intelectual e o compromisso como favorecedoras da aprendizagem.

“Concepções de matemática que forjam o ensino médio Programa Nova EJA” de Eliane Lopes Werneck de Andrade e Maria Cecilia de Castello Branco Fantinato, apresenta parte dos resultados de uma pesquisa na qual buscou-se discutir como são vivenciados os processos de aprendizagem em matemática no ensino médio no Programa Nova EJA. O contexto em que as autoras desenvolvem o estudo é a política pública de aceleração e aprendizagem, denominada Nova EJA, implementada no Rio de Janeiro desde 2013. Estudos teóricos em educação e educação matemática fundamentaram a pesquisa qualitativa que ampliou a percepção destas sobre os discursos contidos nos documentos oficiais e nas políticas educacionais, direcionadas às pessoas jovens e adultas. A análise dos dados permitiu deduzir que a concepção que perpassa o método de ensino oferecido, inclusive, no material disponibilizado aos docentes e discentes, pode levar os professores a pensar os alunos do programa de modo infantilizado e como sujeitos marginalizados das próprias práticas sociais.

O quarto artigo da seção foi escrito por Jean Paulo Loiola Lima, Maristela Cortez Sawitzki e Edward Frederico Castro Pessano e aborda temas como Cidadania, Ensino de Química e Formação docente. “Investigação das práticas de ensino de química no ensino médio e a percepção dos educadores e estudantes sobre a formação do indivíduo em uma perspectiva cidadã” investigou a abordagem e as práticas de ensino de química nos terceiros anos do ensino médio da rede pública estadual em Uruguaiana na perspectiva da formação da cidadania. Os autores mapeiam estudos que se debruçam sobre a possibilidade de o ensino de ciências extrapolar a visão conteudista e tecnicista na formação do egresso, capacitando-o para tomadas de decisões em temas tangentes à química. Resultado de um estudo exploratório quantitativo e qualitativo o estudo buscou discutir se a abordagem conceitual do professor de química nos terceiros anos relaciona-se com o discurso ético, comprometido com a formação cidadã e com os valores coletivos. Segundo os autores o trabalho demonstra que muito ainda é necessário avançar para que o ensino de química adote uma postura que contemple tanto a formação cognitiva dos sujeitos quanto a sua contribuição na formação cidadã.

“Percepções sobre os conhecimentos prévios em Matemática nos anos iniciais e possíveis caminhos”, escrito em parceria por Zulma Elizabete de Freitas Madruga, Mônica da Silva Gallon e Carla Melo da Silva, analisa como um grupo de estudantes de Pedagogia na modalidade EaD compreende os conhecimentos prévios em Matemática nos anos iniciais e possíveis estratégias para seu mapeamento. A pesquisa qualitativa teve por base 83 respostas para um questionamento proposto em um fórum online, integrante de uma disciplina do referido curso que foram submetidas a uma Análise Textual Discursiva. Segundo as autoras a investigação apontou a importância do diagnóstico para identificar os conhecimentos de Matemática pré-existentes nas crianças, a relevância do professor refletir sobre o que o diagnóstico inicial aponta e sobre a sua prática de sala de aula, para que nesse processo de ação reflexão, contemple as necessidades de aprendizagem dos estudantes. Os resultados também sugerem a utilização de jogos e materiais concretos como facilitadores da aprendizagem e na construção do diagnóstico.

O artigo elaborado por Camila Laranjeira Costa de Oliveira, Maria Cilene Freire de Menezes e Olívia Maria Pereira Duarte aborda “O ensino da teoria da evolução em escolas da rede pública de Senhor do Bonfim: análise da percepção dos professores de ciências do ensino fundamental II”. Resultado de uma pesquisa qualitativa objetivou investigar a abordagem do ensino da teoria da evolução por professores de ciências dos anos finais (6º ao 9º ano) do ensino fundamental da rede pública do município de Senhor do Bonfim – Bahia. Buscou identificar as concepções dos professores sobre a temática e levantar os possíveis obstáculos ao ensino da teoria da evolução no ensino fundamental. Segundo as autoras os resultados demonstraram limitações no ensino da teoria evolutiva, relacionadas à formação inicial dos docentes; à existência de barreiras para o entendimento da teoria da evolução diante de concepções criacionistas e à falta de entendimento acerca do sistema de teorias evolutivas por parte dos docentes. As autoras indicam que o ensino da teoria da evolução no ensino fundamental é deficiente e pode contribuir para a formação de concepções equivocadas acerca do tema.

Encerra a seção, o artigo “Currículo: a teia dos arranjos sociais na educação de jovens e adultos” de autoria de Cristiane Alves da Silva, Diene da Silva Oliveira e Sônia Maria Alves de Oliveira Reis. Nele as autoras buscam verificar como o currículo escolar pode influenciar ou ser determinante na inclusão e/ou na exclusão dos educandos que precisam de Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Educação de Jovens e Adultos (EJA). E concluem que as dificuldades de aprendizagem que os jovens da turma de EJA possuem provavelmente não serão superadas se as práticas pedagógicas dos professores e a forma como estes concebem o currículo (formal e ação) não forem repensadas. Os resultados identificados mostram que os jovens da EJA questionam o currículo e pedem uma reconfiguração curricular que atenda a suas particularidades para aprender.

Compõem a seção Política Educacional dois artigos que guardam estreita vinculação entre si porque abordam os desafios educacionais na região norte do Brasil. “Educação do campo e desafios amazônicos: o PRONERA no Estado do Amapá” de Heliadora Georgete Pereira da Costa e Roni Mayer Lomba objetiva analisar os resultados da pesquisa sobre os programas de Educação do Campo no Estado do Amapá, dentre estes o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Adotando uma abordagem qualitativa de caráter descritivo e interpretativo, que utiliza a pesquisa bibliográfica para subsidiar a revisão de literatura e a coleta de dados realizada a partir da análise documental, os dados revelam todo o processo de materialização do programa e a sua relevância no atendimento educacional aos trabalhadores dos assentamentos da Reforma Agrária no Estado do Amapá.

O artigo de Maria Raimunda Santos da Costa intitulado “Contextualizando expansão e interiorização no campo da educação brasileira” analisa como os fenômenos expansão e interiorização são percebidos no campo da educação e como têm influenciado na educação superior pública brasileira. Resultado de pesquisa desenvolvida no período de 2010 a 2014, a autora afirma que expansão e interiorização são fenômenos presentes e observados em todas as sociedades humanas, estando presentes na estrutura organizacional interna e externa das diferentes organizações e instituições sociais. No campo da educação, tratam-se de movimentos presenciados tanto no sistema educacional como um todo, quanto em cada parte de sua composição. Constata ainda que têm servido à busca por educação escolarizada em todos os níveis, ocorrendo em lugares e contextos diferentes, produzindo efeitos ao mesmo tempo comuns, diferenciados e diferenciadores. Conclui afirmando que a interiorização da educação superior pública, em alguns lugares do país, ainda hoje, representa a única possibilidade de cidadãos e trabalhadores poderem cursar uma graduação.

A seção Outros Temas em Educação é composta por seis artigos. O primeiro de autoria de Amisley Guale Araujo e Lilian Coroline Urnau é um recorte de uma dissertação de mestrado cuja análise das informações produzidas revelou a existência de duas modalidades de violência na escola: uma nomeada/sentida e outra não percebida como tal. “Um percurso pelas marcas invisíveis da violência em uma escola pública amazônica” investiga a violência invisível de uma unidade escolar de periferia urbana da região amazônica, a partir dos significados e sentidos atribuídos por seus integrantes, cuja localidade de seu entorno geográfico é marcada pelo estigma da violência, à luz da Psicologia Histórico-Cultural. Os resultados indicam que muitas práticas presentes no cotidiano escolar são promotoras de alienação, repercutindo em sofrimentos psicológicos/simbólicos, em perda da autonomia dos agentes e da instituição como um todo, em sentimentos de fracasso diante da precariedade de condições mínimas de ensino e aprendizagem, mas não são significadas como violências sofridas e/ou exercidas pela escola. No entanto, segundo as autoras, o sentido da violência escolar, visto como indisciplina ou crime, transfere exclusivamente aos indivíduos a responsabilidade pelo fenômeno, isentando a escola, suas ações e seus agentes de participação no que ali se produz e, fundamentalmente, da autoria dos atos de violência, a chamada violência da escola.

Ana Paula Teixeira de Amorin Rodrigues e Valdenildo dos Santos no artigo intitulado “Interface metacognição e semiótica para a leitura de textos sincréticos” descrevem estudo realizado junto a alunos de duas escolas públicas de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul no qual descobriu-se que o gênero textual preferido foram as Histórias em Quadrinhos. Os autores selecionaram uma HQ da turma da Mônica, cujo autor Maurício de Sousa faz uma crítica à economia do país e pediram que os alunos escrevessem uma primeira interpretação de forma livre sobre o que entenderam do texto. O material coletado serviu de base para a comprovação das hipóteses de que havia problemas de falta de motivação, leitura crítica e escrita de acordo com a norma padrão. Neste artigo os autores apresentam a utilização da semiótica sincrética e sua importância como ferramenta para a abertura da percepção quanto ao sentido de enunciados que acoplam a linguagem verbal e não verbal.

Em “A atualidade da educação freireana”, Analice Assunção de Souza Nunes apresenta uma reflexão instigante sobre a sociedade contemporânea e as dinâmicas marcantes do papel da educação segundo uma ótica emancipadora representada pelas obras de Paulo Freire. A autora propõe em seu texto uma análise dos conteúdos das obras Freireanas que dialogam com as características pós-modernas da sociedade ocidental, sob as perspectivas econômica e ambiental. Privilegia a obra inicial de Freire “Educação & Atualidade Brasileira”, de 1959. A metodologia utilizada para o trabalho foi bibliográfica e documental. Ao propor uma reflexão sobre a atualidade da educação Freireana a autora postula a sua adoção nos dias atuais, objetivando a emancipação dos educandos e a formação de coletivos preocupados em encaminhar relações sociais que sejam justas e igualitárias, em movimentos que demandem ações sustentáveis e solidárias.

Por meio de um estudo sobre a avaliação da aprendizagem na última fase da Educação Infantil, a pré-escolar II, Josélia Gomes Neves, Ana Paula Salgado Beleza de Oliveira e Gisele Caroline Nascimento dos Santos apresentam o texto “Avaliação na educação infantil: desafios e perspectivas”. A partir de estudos bibliográficos das concepções de avaliação descritas em documentos oficiais, na perspectiva legal, além de uma abordagem teórica de pesquisadores que se dedicam à temática, as autoras observam a importância da avaliação mediadora para essa primeira fase da Educação Básica, compreendendo-a como recurso para que os docentes tenham uma visão ampla dos processos de desenvolvimento, de ensino e de aprendizagem, como suporte para realizar suas propostas de atividades e acompanhar como seus alunos as realizam.

“Identidade, condições de trabalho e realização profissional do professor do aluno com deficiência no interior da Amazônia paraense” de Lídia Alves de Oliveira e José Roberto Heloani é resultado de uma investigação que objetivou compreender as condições de trabalho do professor que atende o aluno com deficiência, em escola regular, na Amazônia Paraense e a relação com a constituição identitária desse docente. A coleta de dados foi realizada com cinco professoras através da técnica de Grupo Focal. Segundo os autores e conforme o depoimento das informantes, ficou claro que estas sentem-se realizadas tanto no plano pessoal quanto profissional, mesmo se consideradas as imposições do modelo neoliberal e as dificuldades naturais, políticas, econômicas e sociais amazônicas.

Finaliza a seção, o artigo “Origen y evolución del término Guajiro” de autoria de Juan Carlos Rodríguez Cruz, Luiz Bezerra Neto e Carlos Antonio Córdova Martínez. O texto discute os principais aspectos da família linguística arahuaca, uma língua que era amplamente falada em toda a América quando da chegada dos espanhóis, sobretudo, na área em que se situa hoje o território cubano. Os autores informam que tanto as línguas castelhanas quanto outras línguas utilizadas na América se apropriaram de muitas palavras das línguas indígenas, sobretudo as de tronco Arawak, como exemplo, destacam a palavra Guajiro cujo significado designa uma posição social que significa cacique em Tierra Firme. Os autores reforçam as contribuições das línguas indígenas na formação de palavras e nomes da flora e faunas e apresentam no texto um pouco destas contribuições, sobretudo para se compreender sua importância para o campesinato na América Latina.

Na seção Resenha, Debora Cristina Jeffrey em “A educação integral: problematizando conceitos, legislação e experiências”, analisa a recente obra “Educação Integral: concepções e práticas a luz dos condicionantes singulares e universais”. Organizada por Sinara Almeida da Costa e Maria Lília Imbiriba Sousa Colares, a obra reúne artigos produzidos no âmbito de um projeto interinstitucional cujo objetivo é apoiar projetos conjuntos de pesquisa entre Programas de Pós-Graduação consolidados e em consolidação. Da análise dos artigos conclui que, de forma crítica, os mesmos apontam o descompasso existente entre a política nacional de educação integral, a legislação que a embasa e o processo de indução da medida pelo Governo Federal, nos últimos anos.

Com este número a equipe editorial da Revista Exitus encerra o ano de 2017 e espera que as discussões apresentadas ao longo do ano tenham contribuído significativamente com os debates realizados em diferentes contextos e ambientes, oportunizando reflexões que promovam a construção de uma sociedade mais justa e democrática para todos.

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