SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.9 número2QUE MATEMÁTICA PARA FORMAR O FUTURO PROFESSOR? História do saber profissional do professor que ensina matemática índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Revista Exitus

versão On-line ISSN 2237-9460

Rev. Exitus vol.9 no.2 Santarém abr./jun 2019  Epub 19-Jul-2019

https://doi.org/10.24065/2237-9460.2019v9n2id851 

Editorial

EDITORIAL

Profa. Dra. Maria Lília Imbiriba Sousa Colares1 

Iran Abreu Mendes2 

Wagner Rodrigues Valente3 

1Coordenadora da Revista Exitus. Universidade Federal do Oeste do Pará.

2Organizador do Dossiê. Universidade Federal do Pará.

3Organizador do Dossiê. Universidade Federal de São Paulo.


Nesta segunda edição de 2019, a Revista Exitus traz as contribuições em seu dossiê temático sobre a educação matemática. Ao se definir este tema, considerou-se a necessidade científica e política de oferecer aos leitores, uma discussão sobre a temática no contexto nacional e internacional, assim, os oito primeiros artigos deste número compõem o dossiê temático intitulado “História da Educação Matemática”, coordenado pelos professores Doutores Iran Abreu Mendes e Wagner Rodrigues Valente, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Pará e da Universidade Federal de São Paulo, respectivamente.

Os professores Iran Abreu Mendes e Wagner Rodrigues Valente submeteram a proposta do dossiê, instigando pesquisadores da área a apresentar resultados de pesquisas realizadas em suas universidades, para compor um conjunto de artigos sobre a história da educação matemática. Como resultado do trabalho, oito artigos pautam o tema do dossiê, trazendo a abrangência e à diversidade geográfica.

É sabido que o campo profissional e de pesquisas Educação Matemática, instituído desde os finais da década de 1980, no Brasil, organiza-se por um conjunto do que ficou conhecido por “Tendências da Educação Matemática”. Tais tendências reúnem vertentes de trabalhos didático-pedagógicos e de pesquisas variadas. Exemplos delas são o uso das tecnologias no ensino de matemática, a modelagem matemática, a etnomatemática, dentre outras. Também está presente nesse rol, uma vertente relativamente recente, intitulada “História da Educação Matemática”. Apesar de mais recente, tal via de formação profissional e de pesquisas no âmbito da Educação Matemática tem se revelado muito promissora, considerando-se os inúmeros congressos realizados nacional e internacionalmente, que abordam a Educação Matemática, numa perspectiva histórica. Some-se, ainda, a criação da revista HISTEMAT - Revista de História da Educação Matemática, no âmbito da Sociedade Brasileira de História da Matemática. Atente-se, também, para o surgimento de uma nova rubrica curricular, nos cursos de licenciatura em Matemática, denominada “História da Educação Matemática”, em diferentes universidades do país. Tais exemplos mostram o vigor dessa perspectiva de trabalho profissional e de investigações científico-acadêmicas.

A publicação pela revista Exitus, do Dossiê “História da Educação Matemática”, reafirma o crescimento do interesse e da produção de conhecimento no campo da Educação Matemática, dos estudos que analisam o ensino e a aprendizagem da Matemática em perspectiva histórica.

Que matemática para formar o futuro professor? História do saber profissional do professor que ensina matemática é o título da conferência proferida por Wagner Rodrigues Valente, da Universidade Federal de São Paulo. O Dossiê tem início com a publicação do texto do professor Iran Abreu Mendes, abordando sínteses do inventário que o autor elaborou, a partir da produção na área, durante uma década. Em seu estudo - História para a Educação Matemática: apontamentos sobre as pesquisas brasileiras - Mendes interrogou essa produção, buscando encontrar respostas para o trato epistemológico desses estudos, suas metodologias e temáticas consideradas e possibilidades didáticas. O texto advoga a elaboração de uma agenda de trabalho para a formação dos professores, tendo em vista as respostas obtidas na pesquisa.

O segundo artigo - O ensino de número na escolar primária: transformações lidas em manuais didáticos (1888-1965) - integrante do Dossiê, trata de tema fundamental para o ensino de matemática, na escola primária. A professora Maria Célia Leme da Silva analisa livros didáticos, de diferentes épocas históricas, buscando evidenciar as mudanças ocorridas, nas propostas didático-pedagógicas, para o ensino de número. Com isso, intenta ultrapassar a ideia comum de que, o ensino de matemática e o ensino de número nos primeiros anos escolares é “sempre o mesmo”.

Cintia Schneider e David Antonio da Costa contribuem com o Dossiê, abordando “A importância dos jogos para o ensino de aritmética em manuais de autoria de Theobaldo Miranda Santos”. Analisando obras de Santos, os autores mostram que, apesar do posicionamento não claro do autor dos manuais, é possível considerar que, para Theobaldo Santos, os jogos possibilitam à aritmética, ser mais interessante, divertida e contextualizada, para o ensino nos primeiros anos escolares.

Segue o Dossiê, o artigo intitulado “O professor leigo que ensinava matemática no sul de Mato Grosso (década de 60 no século XX): história da sua formação”. Seus autores, os pesquisadores Alessandra Cristina Furtado, Edvonete Souza de Alencar e Rômulo Pinheiro de Amorim investigam a formação de docentes, no município de Dourados, em meados do século XX. Para tal, destacam a trajetória de uma professora leiga que fez o Curso de Regentes, no Centro de Treinamento do Magistério de Cuiabá, no ano de 1969. O estudo revela a presença do Movimento da Matemática Moderna na formação de professores leigos.

“Formação de professores no século XIX e a aritmética de Condorcet: espectros de vozes em revistas da instrução pública” é o título da contribuição ao Dossiê, escrita pelos professores Kátia Sebastiana Carvalho dos Santos Farias, Anna Regina Lanner de Moura e Antonio Miguel. No estudo, os autores problematizam o uso privilegiado do Manual de Aritmética de Condorcet, intitulado Meios de aprender a contar seguramente e com facilidade, divulgado no Brasil, no século XIX, em revistas da instrução pública, discutindo ao mesmo tempo as potencialidades de fontes constituídas por revistas de cunho pedagógico, desse período, que tratam da prática escolar da Aritmética e da formação de professores primários.

A professora Waléria de Jesus Barbosa Soares apresenta estudo sobre Roberto Antonio Moreira, maranhense, professor e autor de livros de matemática, que viveu na cidade de São Luís, no século XIX. Soares defende a importância de estudos sobre histórias de vida, pois eles possibilitam um entendimento de como se construiu o ensino de matemática no local e tempo investigados - contribuindo, portanto, para compor um quadro do ensino no Brasil.

O tema do “elementar” em matemática é tratado pelas pesquisadoras Edilene Simões Costa dos Santos e Denise Medina França. Em específico, o texto analisa o que são “saberes matemáticos nos anos iniciais”, entendidos como os primeiros passos, a base inicial de conhecimentos em matemática organizada para ser ensinada aos alunos dos primeiros anos escolares, como proposto por Irene de Albuquerque no manual intitulado Metodologia da Matemática (1951). Os resultados encontrados apontam que os saberes matemáticos propostos por Albuquerque, são considerados como rudimentos, ou seja, são conhecimentos atrelados à vida prática, indicando as mudanças dos saberes elementares matemáticos, em consonância com a vaga pedagógica da Escola Nova.

Encerrando o Dossiê, tem-se a pesquisa realizada com cinco estudantes integrantes de projeto do PIBID - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência pelos autores José de Aquino Santos e Larissa Pinca Sarro Gomes. Fazendo uso da História Oral, os pesquisadores concluem que as ações realizadas no âmbito desse programa, proporcionaram aos estudantes a mobilização e produção de saberes docentes, a partir do estudo de diferentes metodologias, para o planejamento de materiais didáticos, dos momentos de reflexão, a respeito da trajetória educacional dos estudantes, do trabalho realizado em sala de aula, com os alunos da Educação Básica e da divulgação de suas experiências.

Além do dossiê temático, os treze artigos, incluindo os textos submetidos em demanda contínua, que são disponibilizados para leitura e estudos nesta edição, são frutos de estudos realizados por pesquisadores de instituições de distintas regiões do Brasil: Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade do Vale do Taquari (UNIVATES), Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), a resenha Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) e a experiência internacional da Universidad de la Habana - Cuba.

A seção Outros TEMAS EM EDUCAÇÃO inicia com o artigo intitulado FILOSOFÍA DE LA TECNOLOGÍA: actitudes ante los avances tecnológicos en la Educación Física y Deportes, de Eduardo Francisco Freyre Roach, Adolfo Ramos Lamar e Fabio Zoboli, analisa as atitudes de professores, treinadores, atletas, pesquisadores, formuladores de políticas, comunicadores e espectadores de eventos esportivos diante da introdução de novos avanços tecnológicos em Educação Física e Esportes (EFD). Relatam a identificação de conteúdos destinados a promover uma atitude humanista, ponderada em relação aos avanços tecnológicos no campo da EFD. Sua aplicação prática é contemplada não apenas nas atividades de sala de aula, mas também, na projeção de pesquisa e no trabalho de extensão, na universidade e na comunidade.

A contribuição de Helena de Lima Marinho Rodrigues Araújo e Aline Cristina Clemente Braga, com o artigo A ESCOLA DE TODAS AS CORES: o papel do gestor escolar no combate ao racismo, destaca o papel do gestor escolar, no combate ao racismo nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Demonstram que o tema racismo é tratado com o diálogo e que há a participação da gestão para a resolução de problemas, tendo-se ciência dos recursos disponíveis para trabalhar o tema. Identificam ainda no texto, pouca desenvoltura, no tocante às leis e aos trabalhos com projetos nas escolas que abordem o racismo de forma mais constante como parte do currículo escolar.

O artigo de Marcos Vinicius Pereira Monteiro e Vera Helena Ferraz de Siqueira, O ATAQUE À LIBERDADE DOCENTE E A DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO E DIREITOS HUMANOS NA EDUCAÇÃO. O MULTICULTURALISMO COMO PROPOSTA DE RESISTÊNCIA discute o ataque à liberdade docente. Apresentam reflexão acerca das propostas aprovadas ou em discussão em diferentes casas legislativas no Brasil que visam limitar a liberdade docente, e identificamos os movimentos de resistência que se opõem a estes ataques, principalmente juridicamente. Abordam a relação entre construção identitária, gênero e multiculturalismo, como um referencial importante para subsidiar processos de resistência que contribuam para minimizar o impacto da censura prévia no chão de escola. Discutem o que este cerceamento de liberdade implica para a pedagogia e para a educação, argumentando sobre o papel político do professor, e sobre a importância da pluralidade de ideias no ambiente escolar, conforme concebida a partir de uma determinada visão de multiculturalismo, essencial para garantir relações mais simétricas na sociedade.

O artigo intitulado A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE O USO DE WEBQUEST NO DESENVOLVIMENTO DA LEITURA HIPERTEXTUAL, de José de Ribamar Carvalho Júnior e Silvana Neumann Martins, identifica a leitura com hipertextos digitais na internet, requerendo habilidade e muito foco. Destacam as percepções de alunos do Ensino Médio sobre a utilização da ferramenta metodológica Webquest no desenvolvimento da leitura de hipertextos digitais. Demostram que a metodologia Webquest é relevante e viável como ferramenta de ensino para desenvolvimento da leitura de hipertexto, pois agrega em sua estrutura uma dinâmica com práticas que fomentam a motivação e despertam o interesse em abrir os hiperlinks, acessar outros textos e aprofundar a leitura, colaborando para que o leitor não se disperse e abandone o texto.

Finalizando as contribuições reflexivas deste número da Revista Exitus apresentamos a resenha intitulada LETRAMENTO CRÍTICO NA SOCIEDADE DIGITAL, escrita por Cleisiane de Sousa Silva, sobre o livro Letramentos na Sociedade Digital: navegar é e não é preciso.

O conjunto de textos deste número, incluindo a conferência e a resenha, oferece um panorama instigante do debate sobre a educação. Assim, a expectativa é que este dossiê e o conjunto de textos, como um todo, possam contribuir para o amadurecimento do debate educacional no contexto brasileiro.

A Revista Exitus deseja boa leitura!

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons