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Revista Exitus

versión On-line ISSN 2237-9460

Rev. Exitus vol.9 no.4 Santarém oct./dic 2019  Epub 15-Mayo-2020

https://doi.org/10.24065/2237-9460.2019v9n4id1012 

Dossiê

PEDAGOGIA DAS ENCRUZILHADAS Exu como Educação

PEDAGOGY OF THR CROSSROADS Exu as Education

PEDAGOGÍA DE LAS ENCRUCIJADAS Exu como educación

1CEFET/PPRER. Doutor em Educação (UERJ), realiza Pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em Relações Étnico-raciais. Pesquisador associado do LECCC-UFF, Laboratório de Etnografia e Estudos em Comunicação, Cultura e Cognição. E-mail: luizrfn@gmail.com


RESUMO

Exu na cultura ioruba e nas suas múltiplas inscrições na diáspora africana emerge como princípio explicativo de mundo sobre o acontecimento, comunicação, linguagem, invenção, corporeidade e ética. Nesse sentido, considerando que os domínios do orixá são também comuns ao fenômeno educativo, podemos, a partir de um giro enunciativo, perspectivar uma educação referenciada por ele. Assim, na emergência de processos educativos e proposições curriculares antirracistas e decoloniais é que lanço mão da Pedagogia das Encruzilhadas, um projeto político/epistemológico/ético que tem Exu como fundamento teórico/metodológico. Dessa maneira, entendendo que a decolonialidade se constitui enquanto ação e demanda outras presenças, conhecimentos e gramáticas, este artigo investe na crítica às obras coloniais que regimentam a educação não como prática emancipatória, mas como forma regulação. A reflexão também investe no apontamento de outras possibilidades de problematização da educação, a partir de referenciais éticos/estéticos historicamente produzidos como não credíveis pela razão dominante e suas políticas de conhecimento.

Palavras- chave: Exu; Pedagogia das Encruzilhadas; Educação

ABSTRACT

Exu in the Yoruba culture and its multiple inscriptions in the African diaspora emerges as a world explanatory principle about event, communication, language, invention, corporeity and ethics. In this sense, considering that the domains of the orixá are also common to the educational phenomenon, we can, from an enunciative spin, envision an education referenced by it. Thus, in the emergence of educational processes and anti-racist and decolonial curricular propositions, it is the hand of the pedagogy of the crossroads, a political/epistemological/ethical project that has Exu as a theoretical/methodological foundation. Thus, understanding that decoloniality constitutes itself as an action and demands other presences, knowledge and grammars, this article invests in a critique of the colonial works that regiment education not as emancipatory practice, but as a way regulation. The reflection also invests in the appointment of other possibilities of problematization of education, from historically produced ethical/aesthetic benchmarks as not credible by the dominant reason and its knowledge policies.

Abstract: Exu; Pedagogy of the Crossroads; Education

RESUMEN

Exu en la cultura yoruba y sus múltiples inscripciones en la diáspora africana emerge como un principio explicativo del mundo sobre el acontecimiento, la comunicación, el lenguaje, la invención, la corporeidad y la ética. En este sentido, considerando que los dominios de los Orixás son también comunes al fenómeno educativo, podemos, desde un giro enunciativo, imaginar una educación referenciada en él. Así, en el surgimiento de procesos educativos y proposiciones curriculares antiracistas y decoloniales, es que de la mano de la pedagogía de la encrucijada, se lanza un proyecto político/epistemológico/ético que tiene a Exu como fundamento teórico/metodológico. De esta manera, se entiende que la decolonialidad se constituye como una acción y exige otras presencias, conocimientos y gramáticas. Este artículo se centra en la crítica a las obras coloniales que reglamentan la educación no como práctica emancipadora, sino como una forma de Regulación. La reflexión también invierte en el nombramiento de otras posibilidades de problematización de la educación, a partir de referencias ético/estético históricamente producidas como no creíble por la razón dominante y sus políticas del conocimiento.

Palavras clave: Exu; Pedagogía de la Encrucijada; Educación

INTRODUÇÃO: Abram-se caminhos para o senhor do movimento

A educação é um fenômeno plural, inacabado e dialógico. Dessa forma, os processos educativos são vividos das mais diferentes maneiras revelando inúmeras presenças, conhecimentos, gramáticas e contextos possíveis. Desde que nascemos, estamos lançados à educação enquanto experiência, cultura e modo de sociabilidade. A mesma está fundamentada na condição do ser e no exercício de sua existência, sendo ela um labor que se constitui de forma polifônica e comunitária. Reconhecer a pluralidade de formas de praticar a vida nos faz lembrar que a educação configura-se com um ato de responsabilidade. Assim, esse ato nos lança no movimento de sermos interpelados e convocados a dar respostas ao outro, que mesmo sendo diferente habita em mim e dá o acabamento do que sou e da travessia que faço no tempo. Refletindo sobre a educação na interlocução com o pensamento de Bakhtin (2010, 2011) e de Amorim (2004), a circunscrevo como sendo um acontecimento humano, imbricado entre as dimensões da vida, arte e conhecimento.

A reflexão que proponho é que sendo a educação uma questão pertinente à vida (dimensão ontológica e ética), à arte (dimensão ética e estética) e ao conhecimento (dimensão epistemológica), por que grande parte da população ao ser questionada sobre educação, principalmente no que tange à escola, tem tendência em utilizar argumentos conservadores que credibilizam ações pedagógicas que operam em prol da redução das experiências sociais? Nesse sentido, a educação, que a princípio está radicalizada na diversidade do ser acaba se inscrevendo como política de produção de um modo dominante. Essa lógica totalitária investida e mantida ao longo de séculos tem pautado a educação, não como uma prática emancipatória, mas sim como forma de regulação. Essa lógica travestida de educação revela-se como mais uma face das ações assentes no empreendimento colonial, que tem na raça/racismo/gênero/heteropatriarcado/capitalismo os seus fundamentos.

Dessa maneira, o mais plausível é que ao invés de falarmos em educação, como modo único, possamos falar em educações, atentando que a mesma palavra pode agrupar sentidos opostos. Nessa perspectiva, devemos lembrar que na experiência social se educa para os mais variados fins. Considerando que a educação é em sua radicalidade um ato de responsabilidade, o projeto colonial sendo um espectro de mentira e violência como mencionou Césarie (2008), vem ao longo de séculos praticando atos irresponsáveis. Assim, podemos considerar que o colonialismo empregou ao longo do tempo investimentos na formação dos seres. Esse padrão, que podemos problematizar como uma espécie de educação a serviço da dominação forjou imaginários, repertórios, subjetividades e manteve o ser/saber sobre o regime discursivo da política colonial. Assim, esse padrão formativo de atos contrários à diversidade, é também contrário à vida e por isso produtor de injustiças cognitivas/sociais. Nesse sentido, o combate e a transgressão às obras e efeitos do colonialismo/colonialidade são demandas de caráter educativo enquanto prática de liberdade (FREIRE, 1996), pois têm como emergência o reposicionamento dos seres diante a tragédia colonial.

Nessa perspectiva, destaca-se a necessidade de uma agenda política que denuncie os vínculos e impactos da colonialidade na educação e proponha formas de transgressão a esse modelo. Assim, ressalto três pontos emergenciais: o primeiro é a defesa de que a problemática da política do conhecimento é também étnico-racial, o segundo é o fortalecimento de um modo de educação intercultural e o terceiro são as elaborações de pedagogias decoloniais. Na busca por atar esses três pontos em uma proposta educativa é que lanço a Pedagogia das Encruzilhadas (Rufino, 2018) como projeto político/poético/ético. Essa pedagogia busca trazer questões e pluriversalizar (RAMOSE, 2011), a educação no contexto da colonialidade, desde a formação dos profissionais até a produção de questionamentos sobre as práticas pedagógicas exercidas na escola. A principal força desse projeto é trazer Exu como disponibilidade, matriz/motriz política/ética/estética/epistemológica/teórica/metodológica. Nesse sentido, ressalto que Exu foi ao longo do tempo invisibilizado/descredibilizado por parte da colonialidade/modernidade-ocidental, pois é um princípio que confronta suas lógicas de dominação e violência.

Sendo Exu o princípio, domínio e potência referente à linguagem como um todo, não restrita às formas discursivas, mas como a própria existência em sua diversidade. Sendo ele o dono do corpo, suporte físico em que é montado por experiências, cognições e memórias e sendo ele o princípio da imprevisibilidade e do inacabamento do mundo, venho dizer que Exu é também a força motriz que concebe a educação e as práticas pedagógicas. Assim, reivindicando ele como forma de educação, ele também estará a questionar sobre como responderemos aos outros nesse labor que deve primar pela ética e coletividade. Em um dos caminhos de Ifá, Exu é aquele que destrona a arrogância dos sábios, fiscaliza os atos e compromissos firmados com a comunidade e celebra a vida proporcionando alegrias aos justos. Uma educação, pedagogia, escola ou currículo que busque firmar compromisso com a diversidade e combater as injustiças cognitivas/sociais haverá de abrir caminhos para Exu passar.

Axé e Exu: o menino querido de Olorun, aquele que carrega o fundamento da vida

Olorun é o ser supremo; todas as existências, as já criadas e as que ainda estão por vir, emanam de suas vibrações. Orunmilá, ‘testemunho do destino’e porta-voz de Olorun na terra, nos ensina que em determinado momento os orixás recorreram a ele rogando por poderes. Os orixás ainda não dotados de todas as potências que hoje conhecemos viviam junto aos humanos, dos quais não se distinguiam, e a toda necessidade reportavam-se aos conselhos de Orunmilá (Ifá).

Porém, Orunmilá andava angustiado com o apelo dos orixás. O grande senhor do conhecimento tinha por todos o mesmo apreço e não podia privilegiar uns com mais poderes que outros. Assim, ele se recolheu e se colocou a refletir. Certa vez, caminhando solitariamente e pensando sobre o dilema que vivenciava, encontrou com Agemo, o camaleão. Agemo o interpelou sobre o que lhe causava preocupação. Orunmilá dividiu com Agemo suas angústias acerca do pedido dos orixás, que o camaleão ouviu atentamente. Agemo sugeriu, então, a seu amigo que talvez o melhor fosse deixar a distribuição dos poderes, que os orixás tanto pediam, lançadas à sorte de cada um. Sugeriu que Orunmilá avisasse a todos o dia, a hora e o local de distribuição dos poderes e que, com todos ali presentes, eles fossem lançados para que os orixás pudessem recolhê-los. Orunmilá agradeceu e bendisse o nome de Agemo, o camaleão.

Assim, o senhor do destino e da sabedoria seguiu os conselhos de seu amigo e, no dia marcado, cumpriu o combinado. Diferentes potências foram lançadas, os orixás correram para todos os lados, cada um buscando recolher o máximo de poderes que conseguia. Ogum, Okô, Xango, as Yabás, Obaluaiê... todos ali estavam jogando com a sua própria sorte, porém, Exu foi um dos mais persistentes e não hesitou em empurrar aqueles que estavam à sua frente. Com toda a sua habilidade, artimanha e ginga, Exu foi o que conseguiu apanhar grande parte dos poderes, entre eles o de ser o guardião do axé de Olorun. Assim, como guardião do axé, Exu passou a ser aquele que é respeitado e temido pelos seres humanos e demais orixás1.

Na cosmogonia iorubá e consequentemente nas invenções paridas nos cruzos (RUFINO, 2018) transatlânticos, Exu resguarda e dinamiza os poderes divinos com os quais Olorun criou o universo. O axé se imanta, se guarda, se transmite e se multiplica via as suas operações, atos que definem a sua própria existência/condição enquanto ser/acontecimento múltiplo e inacabado. Nas palavras de Abimbola (1975), ele é o administrador do universo, o princípio da ordem, da harmonia e agente de reconciliação. Assim, o conceito de axé enquanto energia vital, tanto na cosmogonia iorubá, quanto nas cosmopercepções traçadas da diáspora, está estritamente vinculado a Exu.

Ressaltar os vínculos entre o axé e Exu é fundamental para a credibilização da encruzilhada como disponibilização conceitual que aponta outras possibilidades de problematização da vida, da arte e dos conhecimentos. Assim, a educação, como um fenômeno atado entre essas três dimensões, emerge como uma problemática não somente humana, mas também como uma questão inscrita nos termos do axé. Isso se dá uma vez que ‒ enquanto experiência ‒ a mesma só é possível a partir da mobilização das energias vitais encarnadas nos seres e nas suas respectivas práticas.

Retornemos aos princípios explicativos assentes na cosmogonia iorubá e nas experiências afro-diaspóricas. O axé, enquanto elemento que substancia a vida, só é potencializado, circulado, trocado e multiplicado, a partir das operações de Exu. É o orixá primordial, que corre mundo cruzando as barras do tempo dinamizando as energias que encarnam e vitalizam tudo o que é criado. Ainda nesse sentido, me cabe dizer que a função de Exu, enquanto portador do axé é crucial para a compreensão dos conceitos de vida e morte na cultura ioruba e consequentemente nas negras em diáspora. Axé e Exu são conceitos fundamentais, que nos possibilitam giros epistemológicos em torno de noções que sofreram intensa supressão ocidental. O axé compreende-se como a energia viva, porém não estática. É, a rigor, a potência que fundamenta o acontecer, o devir. Assim, na lógica negro-africana, o axé é transmitido, potencializado, compartilhado e multiplicado. Essas dinâmicas de condução do axé se dão por meio de diferentes práticas rituais, e o axé é imantado tanto na materialidade, quanto no simbólico, expressando-se como um ato de encante.

Dessa forma, sendo um elemento dinâmico que pode vir a ser conduzido para a potencialização do ser/saber por meio de sua circulação, troca e multiplicação, o axé também pode sofrer desencante, perda de potência. Como todo elemento vivo, também ele necessita de mobilidade para se manter pujante. É nesse sentido, que Exu emerge como um poder fundamental à dinâmica do axé e das existências/experiências.

A relação Exu e axé nos lança como perspectiva um campo de possibilidades pautadas nas dimensões do encante e desencante. Esses dois termos são fundamentais, pois rasuram a oposição vida e morte. Tomando como base os fundamentos de Exu e axé, a vida pode se tornar morte, e a morte vir a ser vida. Essas noções, que em uma leitura ocidentalizante aparecem em oposição, lançadas na encruzilhada, tendem a transgredir os limites impostos. Isso se dá, pois, onde opera o encante, opera o movimento contínuo e inacabado da vida. Enquanto a vida se inscreve como possibilidade, ciclicidade e continuidade consagradas pelos ritos, a concepção de morte se inscreve como a dimensão do esquecimento, do desencanto.

O projeto colonial compreende-se como um projeto de morte, que opera na produção sistemática de desvio ontológico perpetrado pelos contratos raciais (Mills, 2013), que regem o Novo Mundo. Outra face dessa lógica produtora de mortandade são epistemicídios (Carneiro, 2008). Ou seja, o colonialismo produziu a credibilidade e a edificação do Ocidente europeu em detrimento da pilhagem de corpos negro-africanos, ameríndios e suas práticas de saber. Esse massacre corresponde à descredibilidade existencial/epistemológica incutida às populações não brancas. Porém, a continuidade da vida enquanto possibilidade é produzida pelas populações que foram subordinadas a esse regime a partir das vias do encante. Assim, emergem as dimensões de morte como uma espiritualidade, o culto à ancestralidade, à metafísica e às tecnologias da ciência do encante (Rufino e Simas, 2018), que forjam um arsenal de ações decoloniais que vitalizaram/vitalizam as formas de invenção e continuidade nas frestas.

Em outra perspectiva, a redução de possibilidades centradas somente em uma credibilização da materialidade, ser vivo enquanto peça produtiva engendra o ser na condição permanente de desencante. A desigualdade, o trauma, o banzo, o desarranjo das memórias, o desmantelamento cognitivo são efeitos do contínuo de desencante operado pelo colonialismo. As sabedorias de terreiro da afro-diáspora, em um sentir/fazer/pensar para além da fixidez na concretude, já versariam que os elementos despotencializadores do ser são contra-axés. Assim, em uma perspectiva em encruzilhadas, que mira outros caminhos, salta em fuga e ganha terreno praticando rolês epistemológicos (Rufino, 2018), eu digo: o substantivo racial e as suas derivações são os contra-axés do Novo Mundo.

Raça, racismo e todas as suas reverberações são efeitos castradores da vida em sua diversidade. A lógica colonial atenta contra a vida, uma vez que desperdiça as experiências possíveis e propaga a escassez. Sendo elemento de vitalidade transmitido, trocado, compartilhado e multiplicado, o axé emerge como o fundamento que rasura a lógica perpetrada Ocidente-europeu/branco/heteropatriarcal/capitalista. Ainda, dinamizado por Exu, sendo ele o seu portador e aquele que permite o devir, outras lógicas se inscrevem a partir de sua atuação. Dessa forma, onde há desperdício, se cruza a pluralização, onde há ausência, se cruza a mobilidade, onde há conformidade, se cruza a rebeldia, onde há normatização, se cruza a transgressão, onde há escassez, se cruzam as possibilidades.

A encruzilhada mundo em que vivemos lança a nós uma questão: como combater o desperdício, a escassez e o desencante propagado por um regime contrário à vida? Como já dito, reafirmo mais uma vez, a encruzilhada é o lugar onde se engole de um jeito para cuspir de maneira transformada. Assim, lançando mão de uma Pedagogia das Encruzilhadas, projeto político/poético/ético que tem Exu como fundamento teórico/metodológico e compreende uma série de conceitos comprometidos com ações político/epistemológicas antirracistas/decoloniais, e ampliando a noção de terreiro para pensarmos o mundo, eu digo: a educação é axé que opera na vitalização dos seres; contudo, assim como o fundamento do axé, necessita das proezas de Exu, movimentos e cruzos.

Cabe-me dizer que a educação como axé que reivindico não é necessariamente um modelo de experiências/aprendizagens codificadas estritamente em contextos de práticas culturais afro-religiosas. O que é comumente chamado pelas comunidades de terreiro como educação de axé compreende-se como os processos educativos vividos nos cotidianos dessas populações, uma espécie de habitus experienciado no tempo/espaço dos contextos afro-religiosos. Essas formas de educação praticadas nesses contextos educativos redimensionam a problemática educativa em relação à diversidade, revelando modos de educação como cultura.

A educação de axé reivindicada pelos praticantes das comunidades de terreiro opera como uma espécie de educação intercultural, que vincula a experiência social do terreiro, balizada em suas tradições, com o restante do mundo. Nesse sentido, essas experiências revelam um modelo de educação, modo de sociabilidade orientado pela organização comunitária. O que lanço como proposta intitulada educação como axé inspira-se nessas experiências, dialoga com as mesmas, mas mira o alargamento do terreiro para pensar o mundo. Ou seja, não é necessariamente trazer as formas já codificadas nos terreiros como opções, mas reivindicar a disponibilidade conceitual do axé para a produção de outros caminhos, esses encruzados.

O elemento axé é um princípio da vida, assim como Exu e diferentes outros conceitos assentes na cosmogonia iorubá nos permitem a exploração de outros caminhos, outras possibilidades. A proposição de uma Pedagogia das Encruzilhadas nos permite ler as gramáticas dos terreiros cruzadas a tantas outras e adentrar esses outros caminhos. As encruzilhadas versam acerca da pluralização, e seu caráter decolonial, que nessa proposta assumo como ato de transgressão e resiliência advêm dos cruzos, da reivindicação da não pureza, dos efeitos de Enugbarijó (Boca que tudo come) e das sabedorias de frestas, aquelas que operam nas fronteiras e nos vazios deixados pelo poder colonial. O cruzo como conceito integrante da Pedagogia das Encruzilhadas, é a rigor um efeito de mobilização do axé.

Assim, ao pensar educação como axé, minha proposta é de considerarmos o fenômeno educativo, em sua radicalidade, como um fenômeno oriundo da existência e da dinâmica das energias vitais (axé). A educação enquanto um fenômeno radicalizado no humano emerge como uma problemática filosófica que nos interroga sobre diferentes questões em torno do ser, do saber, do poder, do interagir e do aprender. Esse fenômeno está diretamente vinculado à experiência com o outro, tem como natureza radical a sua condição dialógica, diversa e inacabada. Por não ter fuga, inscrevendo-se como um ato de responsabilidade, a educação é logo uma problemática ética, pois está implicada à dinâmica inevitável de tessitura de experiências com o outro.

Assim, o conceito de axé emerge como uma perspectiva para inscrevermos a educação. Dessa maneira, lançamo-nos mais uma vez em um rolê epistemológico para também praticarmos um ebó epistêmico (Rufino, 2018). A codificação de uma pedagogia montada por Exu, projeto antirracista/decolonial pluriversalista, só é possível a partir de uma educação que opere como axé. Ou seja, um fenômeno parido de nossas energias vitais, que se lance em cruzo, que circule e se multiplique de forma inacabada, produzindo encantamento, potencialização da vida em toda a sua pluralidade.

Exu, como portador do axé de Olorun, é também o fiscalizador da ordem das existências. Exu pratica a ordem fazendo desordem, é o caos criativo. Assim, o seu caráter enquanto fiscalizador está diretamente implicado naquilo que concebemos como uma ética responsiva. A meu ver, a interdição de Exu pelo projeto mundo ocidental é um dos principais fatores para a produção de experiência humana (educação) calçada no monoculturalismo, na escassez e na miséria. A educação que nos é ofertada como modo dominante no Novo Mundo deve ser lida como parte da agenda curricular do colonialismo. Essa forma descomprometida com a vida, pois é contrária à diversidade, à imprevisibilidade e às possibilidades, é fiel à produção de seres acomodados na semântica colonial.

Se o fundamento do axé está a cargo de Exu, como bendizer o humano e seus feitos destituindo aquele que é a mola de toda e qualquer existência? Ah, camaradinhas, isso nós já conhecemos bem. O estatuto de humanidade edificado pelos arquitetos da gramática colonial vai de encontro às potencialidades de todo e qualquer ser. Ata-se a condenação colonial, lance-se o verso da “humanidade desumana”. Destituir Exu é destituir a vida, posto que, sem ele, o axé (energia vital) não pode ser dinamizado. Assim, reafirmo algo já dito anteriormente, uma educação que não considera Exu, suas operações e efeitos é, em suma, uma educação imóvel, avessa à vida, às diversidades e às transformações.

A Pedagogia das Encruzilhadas opera diretamente no alargamento de possibilidades explicativas de mundo e consequentemente no cruzo dessas possibilidades. Direi uma única vez para que não caiamos nos assombros da mentira: a escolarização de Exu não é a pauta desta proposição. O encante desse feitiço é a reinvenção dos seres a partir dos cacos despedaçados, da resiliência, transgressão e sabedorias de frestas praticadas durante mais de cinco séculos nas margens de cá.

Se por um lado há a vigência de um modelo monológico que é um contra-axé da diversidade, pois impele os movimentos, as trocas e as multiplicações, por outro, uma perspectiva caótica e fronteiriça emerge nos vazios deixados, serpenteia na espiral do tempo o encantamento que possibilita a potencialização do axé ‒ eis Exu o poder invocado para riscar uma educação outra.

A Pedagogia das Encruzilhadas rasura a lógica de um mundo cindido. O antirracismo presente nessa potência encruzada reivindica uma nova dimensão para o humano. A encruzilhada de Exu é campo de possibilidades, inacabamento e invenção. É lá que se acende a vela e se vela a vida. É lá que a oferta atirada hoje acerta o desejo de ontem. Na encruzilhada é que vadeia o moleque travesso que guarda o segredo da vida, o sopro do ser supremo, o axé de Olorun.

EDUCAÇÃO POR EXU: Pra que e pra quem?

Para o que e para quem é lançada a Pedagogia das Encruzilhadas? Desatemos uns nós para atarmos outros. A pedagogia riscada nas potências de Exu é verso encarnado, o mesmo corpo que pratica a esquiva é também o corpo que desfere golpes, a mesma boca que cospe a palavra que bendiz é também a que amaldiçoa, amarra e desata, encanta e desconjura. Contudo, ainda que a dinâmica seja ambivalente, tanto a esquiva quanto o golpe, a defesa ou o ataque, na lógica das encruzilhadas, só é possível a partir da ginga. Os saberes em encruzilhadas, efeitos das operações de Exu, são saberes de ginga, de fresta, de síncope, são mandingas incorporadas e imantadas nos suportes corporais, manifestações do ser/saber inapreensíveis pela lógica totalitária. A pedagogia das encruzas é parida no entre, no viés, se encanta no fundamento da casca da lima, é um efeito de cruzo que provoca deslocamentos e possibilidades, respondendo eticamente àqueles que historicamente ocupam as margens, e arrebatando aqueles que insistem em sentir o mundo por um único tom.

Assim, radicada no movimento que precede toda e qualquer construção, a Pedagogia das Encruzilhadas não se fará de rogada, a mesma é invocada e encarnada como operação de transgressão dos parâmetros da colonialidade. Aliás, a colonialidade, a que chamo de marafunda e carrego moderno ocidental, atravessam os tempos, as existências e as suas respectivas formas de interação. A marafunda colonial (Rufino, 2018) é o termo que reivindico para dimensionar os efeitos do colonialismo como uma espécie de trauma não tratado. Assim, meus camaradinhas, o trauma corre em aberto, a produção de violências por parte dessa maldição, nada mais é do que as operações e o lastro da presença da colonialidade.

O projeto de uma pedagogia encarnada por Exu não é meramente uma ação que se resume na compilação de experiências ou formas de ensino/aprendizagens assentes nas invenções negro-africanas em diáspora. O projeto aqui riscado se lança como uma ação de encantamento e responsabilidade com a vida frente às violências operadas pelo regime do racismo/colonialismo. Exu, por ser um signo que epistemiza as noções acerca da vida, é totalmente contrário às formas de castração, escassez, controle, vigilância, encarceramento e monologização.

Nesse sentido, me cabe uma breve problematização em torno da noção de pedagogia, uma vez que venho a propor essa “tal” encarnada pelos poderes ‒ princípios e potências ‒ de Exu. Assim, me cabe dizer que a noção de pedagogia aqui proposta se vincula diretamente à emergência de novos seres/saberes, esses paridos pela dinâmica encruzada e conflituosa das travessias transatlânticas. A pedagogia como a reivindico compreende-se como um complexo de experiências, práticas, invenções e movimentos que enredam presenças e conhecimentos múltiplos, e se debruça sobre a problemática humana e suas formas de interação com o meio. É nessa perspectiva que a educação, fenômeno humano implicado entre vida, arte e conhecimento, torna-se uma problemática pedagógica.

Assim, o fenômeno educativo emerge para além daquilo que se apresenta como único caminho, investido e alçado pela lógica dominante. Nessa perspectiva, me cabe ainda dizer que pedagogias antirracistas e decoloniais estão a ser inventadas/inventariadas secularmente nas experiências de luta das populações subalternizadas pelo colonialismo. A educação, enquanto política curricular propagada pelo Estado Colonial, assente em uma mentalidade monorracional é contrária ao pluriversalismo (Ramose, 2011) é um modo investido há séculos pela tríade raça/igreja/Estado-nação, que tem cara e cor definidas. Sua presença, tomada por uma espiritualidade totalitária ao ser lançada em cruzo com outras formas e possibilidades, se desnuda e se revela tão parcial e local quanto às outras tantas formas existentes.

A educação é um fenômeno que, além de tão diverso quanto às formas de ser, estar e interagir no mundo, por ser demasiadamente humano, está implicado a uma dimensão ética de responsividade/responsabilidade com o outro. Ao longo da expansão do colonialismo, modus de gerenciamento da vida foram codificados, perpetrados e propagados por aqui. Esse modus forjou mentalidades, linguagens, regulações, traumas, dispositivos de interação social e trocas simbólicas. Assim, podemos dizer que, ao longo de mais de cinco séculos, se produz um modelo de educação que atende às demandas desse regime de ser/saber/poder.

Dessa forma, a agenda política/educativa investida pelo colonialismo europeu ocidental praticou e continua a praticar, ao longo de séculos, desvios ontológicos e epistemicídios. Uma educação antirracista/decolonial, resiliente e transgressiva, que rasure os parâmetros impostos por esse modelo haverá de despachar essa marafunda/carrego com uma resposta responsável. Para o lançar dessa resposta, terá como caminhos a necessidade de parir novos seres sem que a credibilidade desses se construa em detrimento da dos outros. A emergência de produzir novos homens, como defendido por Césarie (2008), terá a responsabilidade de enfrentar as demandas produzidas pelo substantivo racial, terá de mirar o desencarne do homem de cor, como citado por Fanon (2008).

A partir da perspectiva das encruzilhadas, a transgressão daquilo que Fanon chamou de colonialismo epistêmico emerge como um ato emancipatório, que produz o arrebatamento tanto dos marcados pela condição de subalternidade (colono), quanto dos montados pela condição de exploradores (colonizadores). A prática das encruzilhadas como um ato decolonial não mira a subversão, a mera troca de posições, mas sim a transgressão. Assim, responde eticamente a todos os envolvidos nessa trama, os envolve, os “imacumba” (encanta), os cruza e os lança a outros caminhos enquanto possibilidades para o tratamento do trauma chamado colonialismo.

Fanon é o caboclo de lança que abre caminho para entendermos como o colonialismo produziu, ao longo do tempo, uma espécie de educação, modo gerado de ver e interagir com o mundo, que opera como uma forja de produção de mentalidades/corpos bestializados. Assim, inspirados por ele, haveremos de dar alguns saltos. A problemática que encruza educação e colonialismo está para além daquilo que conhecemos enquanto escola. O “x” do problema centra-se no ser. A escola é somente mais uma marca produtiva da agenda curricular desse empreendimento maior, e pode vir a ser reificada pelas lógicas assentes na agenda política/educativa colonial ou transgredida, tudo dependerá do corpo que será montado e performatizará a escrita de mundo.

O verso que lanço não olha a escola com desprezo, mas cisma com os discursos que a miram de maneira desencarnada. Um amplo debate poderia ser feito aqui, escarafunchando as questões vinculadas às problemáticas do currículo e da história da educação, a fim de revelar os vínculos entre as instituições escolares e o Estado Colonial. Porém, a minha mirada são os seres, suas potências, suas formas de sentir/fazer/pensar, suas espiritualidades em termos mais amplos. Essa aposta se dá principalmente por crer que centrar as forças no ataque à colonialidade já implica uma resposta responsável à educação.

Assim, a Pedagogia das Encruzilhadas busca o tempo certo da rasteira, por isso invoca Exu como aquele que fundamenta, epistemiza e enigmatiza o humano. Tudo que é criado ganha força à medida que o rito o encanta, seja para sua transcendência ou para perda de energia vital. A educação como agenda curricular colonial perpassa pela anulação da diversidade. Para o ser incutido de desvio existencial, os caminhos de civilidade que se abrem só são possíveis a partir da calcificação dessa anulação. Sopra-se uma demanda de má sorte: você só existe à medida que sua não existência é cada vez mais evidenciada. O rito iniciático na metrópole é um nó que estrangula, asfixia, deforma e mutila. O evoluê (Fanon, 2008), simulacro existencial, é a condição desviante do ser sublinhada pelos marcadores e enfeitada com os apetrechos coloniais.

Freire, Fanon e Memmi inspiraram Walsh (2009), no que ela vem a propor como uma pedagogia decolonial. Walsh (2009), por sua vez, destaca uma dimensão da colonialidade que deve ser problematizada com atenção: é aquela que incide sobre o caráter cosmológico. A meu ver, o ato decolonial é um ato em defesa da vida, assim reivindico que as ações de transgressão à colonialidade se permitam o arrebate por outros princípios explicativos. É exatamente isso que se posta na Pedagogia das Encruzilhadas

Assim, essa pedagogia exusíaca (Rufino e Simas, 2018) é fiel às suas potências primordiais de movimento, cruzo, rasura, despedaçamento, transmutação, invenção e multiplicação. Esse projeto, assente no signo Exu, não reivindica um estatuto de verdade ou titularidade. Não cairia bem ao mesmo. Exu veste a carapuça que bem entende. Ele opera na ginga, no sincopado, no viés, nas dobras da linguagem, expande o corpo e suas sapiências como princípio ético/estético. Nesse sentido, essa pedagogia, como um balaio tático de ações de fresta, não se reduz à nenhuma forma criada, mas cruza tudo que existe e os refaz.

Modos de educação praticados em terreiros de candomblé, umbanda, macumbas cruzadas, ruas, esquinas e rodas. Sabedorias de jongueiros, capoeiras, sambistas, sujeitos comuns praticantes do devir cotidiano. Em cada contexto, formas de educação próprias. A educação é tão diversa e ampla quanto às experiências sociais produzidas ao longo do tempo. Esses outros modos, marcados pelo crivo da subalternidade, revelam outras gramáticas e outras aprendizagens. A educação como ato de responsabilidade com a vida, implicada às lutas contra as injustiças cognitivas e sociais produzidas pelo racismo/colonialismo nas margens de cá desde que os primeiros indivíduos afetados por essas lógicas de opressão aqui pisaram.

A Pedagogia das Encruzilhadas não é um projeto que marca oposição absoluta aos modos de ser/saber ocidentais. O que digo é que não firmo um projeto absolutista que busca subverter um modo totalitário por outro também assente em bases essencialistas. A pedagogia proposta tem sua marca política em seu nome, encruzilhada. Dessa maneira, é um modo fiel ao movimento, ao cruzo e à transgressão. A pedagogia tomada por Exu não nega a existência de múltiplas possibilidades, assim, combate a reivindicação de uma forma como sendo a única credível. Nessa perspectiva, a mesma opera como Yangí, se reconstruindo a partir dos cacos despedaçados, e também como Enugbarijó, engolindo tudo que há para restituir de maneira transformada. A Pedagogia tomada por Exu segue a máxima de uma educação como axé, que não é necessariamente aquela que está fixada a um único substantivo negro-africano, mas a que opera como movimento de troca e acúmulo de força vital.

E, assim, arma um fuzuê. Além de um balaio tático que comporta uma série de conceitos assentes em Exu e nas sabedorias encruzadas da diáspora africana, o riscado dessa pedagogia nos permite outras inúmeras virações. A problemática ontológica do devir negro (MBEMBE, 2014), é cruzada por Yangí, despedaçamento e reconstrução, resiliência e transgressão. Os termos epistemológicos conservados e nutridos pelo política do conhecimento assente no Ocidente-europeu são atravessados por outras gramáticas, a condição dos saberes se pluriversaliza nos caminhos enquanto possibilidades de Obá Oritá Metá. A epistemologia é engolida por Enugbarijó e cuspida de volta em forma de poética. O corpo, linguagem primeira do ser, suporte de saberes, campo de possibilidades e encante, mandingas, rasura a lógica imposta pelo encarceramento racial para se lançar como princípio e potência de Bara e Elegbara.

A educação, aqui reivindicada como princípio ético/estético, ato de responsabilidade e prática emancipatória (autonomia, liberdade, ternura e utopia), emerge como uma força de Exu. Assim, os elementos que integram e fundamentam o orixá como um SIM2 vibrando no mundo estão diretamente ligados à radicalidade do fenômeno educativo.

Na relação com o empreendimento colonial, seja nas Américas ou em África, Exu é lançado a inúmeras violências, formas de regulação, castração e desencante. É em meio as suas travessias, cruzos e reinvenções que se destaca como uma potência resiliente e transgressora. Na diáspora, Exu se reinventa a partir dos cacos despedaçados. Senhor das gingas, dribles e esquivas, absorve os golpes sofridos e os refaz como força vital, engole tudo que há e os vomita de maneira transformada. As múltiplas faces de Exu, mais do que demarcar as violências sofridas no trânsito, o enigmatizam como um poema encantado que versa acerca das possibilidades de invenção nas frestas e na escassez. Assim, as noções de Yangí, Okotó, Obá Oritá Metá, Igbá Ketá, Enugbarijó, Onã, Oloójá, Bara, Elegbara e Povo da Rua se enredam e se imantam na encarnação de um balaio tático, poético/político/ético, a que chamo de Pedagogia das Encruzilhadas.

As encruzas cotidianas nos indicam os nós atados pelo colonialismo, o assombro, a má sorte e as perdas de potência devem ser devidamente despachadas. Eis a obsessão provocada pelo substantivo racial. Nas batidas policiais, os suspeitos são majoritariamente negros. O negro, ao entrar em um ônibus, provoca reações, olhares, pessoas se levantam, outras se escondem nas carteiras; ainda, ao entrar em uma loja, comumente recebe tratamento distinto, descrédito, invisibilidade. A mulher negra é investida de considerações prévias que a desqualificam, coisificada, está lançada ao imaginário e às práticas que forjam a mentalidade de uma nação fruto do estupro e herdeira do escravagismo que articula os aspectos das relações raciais às lógicas do sistema patriarcal.3 A criança negra na escola é menos abraçada, e, silenciada pela ausência de referenciais estéticos, é deslocada à solidão, sendo rejeitada como par nas festas.4 Em todos esses casos e em muitos outros, qual é o texto impresso sobre esses sujeitos e suas práticas? Quais são os discursos que habitam os corpos negros e as suas simbologias?5

Dessa forma, as linguagens operantes sobre as lógicas do racismo interpenetram práticas, mentalidades, corpos, discursos e instituições diversas. As classificações raciais compreendidas como uma das ortopedias do sistema colonial operam de forma estrutural e estruturante. Ou seja, são base de uma organização societária e se expandem produzindo efeitos nas mais diversas formas e arranjos da experiência social.

É a partir das contribuições de Fanon (2008, 1968) que venho a considerar que o racismo/colonialismo está subjetivado nas relações, imaginários, práticas e nas mais diferentes ordens da vida na sociedade brasileira. Nesse sentido, a política colonial não somente nos proporcionou uma experiência que está imbricada a esse fenômeno, como também nos educou sobre as “razões” dos discursos que o conservam, o fortalecem, o mantêm, o vigoram e o naturalizam. A afirmação de que ninguém nasce racista, mas é educado a partir de ideologias racistas é oportuna para pensar as experiências paridas, a partir do devir negro no mundo, em especial aqui, no que tange às especificidades da sociedade brasileira.

Venho, assim, corroborar a ideia de que educamos/formamos para os mais diferentes fins. Orientamos nossas práticas e tecemos nossas formações para salientarmos o inconformismo, a rebeldia, buscamos uma educação como liberdade. Porém, na contramão desse fluxo, há esforços mantenedores de educações que tendem a fortalecer mentalidades e práticas conservadoras, antidemocráticas, contrárias ao reconhecimento e credibilização da diversidade de saberes e ao compromisso com a justiça social/cognitiva.

A educação não deve ser absolvida de uma crítica antirracista/decolonial, ao mesmo tempo em que indica a necessidade do debate no âmbito dos processos educativos, sejam eles experienciados nas instituições escolares ou em outros contextos. O racismo/colonialismo esteve/está estrategicamente presente nos modos de educação praticados pelas instituições dominantes, seja nas formas concretas ou simbólicas de violência inferidas aos grupos historicamente subalternizados. A evidência ressaltada são os efeitos do colonialismo/racismo epistemológico/cognitivo e o fortalecimento de práticas pedagógicas que contribuíram para o fortalecimento do ideário colonial.

É nessa esteira que se costuram as urgentes reivindicações por outras educações e consequentemente pedagogias antirracistas/decoloniais que combatam a incidência das violências praticadas nos cotidianos. Os desafios enfrentados pela Pedagogia das Encruzilhadas são basicamente aqueles que enlaçam as questões em torno dos fenômenos do racismo e das educações. Por mais que reivindiquemos a educação como prática emancipatória e intercultural, reconhecemos também que há modos de educação forjados intencionalmente para a consolidação da dominação colonial. Se no Brasil a educação, enquanto um projeto institucional comungou ‒ e em certa escala ainda comunga ‒ de ideais de civilidade pautados na agenda colonial, o que é aqui proposto enquanto emergência é a produção de um projeto poético/político/ético que se oriente pelo cosmopolitismo de práticas/saberes dos modos produzidos como subalternos, inspirado na transgressão e no inacabamento de Exu.

Assim, a Pedagogia das Encruzilhadas encarna os domínios e princípios de Exu para transgredir as intenções monoculturais, monorracionais, tempo-lineares e de escassez das possibilidades produzidas pelo colonialismo. A pedagogia aqui apresentada reconhece, através da dominação e vigilância do paradigma moderno ocidental, a incidência de um colonialismo/racismo epistemológico e seus impactos nas dimensões pedagógicas no que concerne à formação das mentalidades, às políticas educacionais, à legitimação e à autorização dos conhecimentos vigorados no cerne das instituições educacionais. Os cânones de ensino e os referenciais de saber e civilidade são majoritariamente os que fundamentam a compreensão de mundo a partir do Ocidente. A eficácia desse domínio é tão efetiva que esses conhecimentos ‒ que são somente parte da diversidade de conhecimentos presentes no mundo ‒ são defendidos e outorgados nas instituições educativas como conhecimentos universais.

Dessa forma, uma das questões a serem destacadas, e que vem a justificar a emergência de uma pedagogia transgressiva e resiliente montada por Exu, é a consideração de que as formas de educação institucionais na sociedade brasileira herdam relações profundas com as formas de conversão e expansão da fé e dos dogmas cristãos. Ou seja, ao longo da história, a Igreja exerceu o papel de instituição formadora e promoveu, por meio de uma política civilizatória a serviço do Estado Colonial, uma série de equívocos, violências e produções de não existência. Essas ações forjaram mentalidades, subjetividades, sociabilidades e parâmetros ideológicos que são vigentes nos discursos e práticas educativas fomentados em espaços escolares até os dias de hoje. Por mais que reivindiquemos uma laicidade ‒ nos espaços escolares públicos ‒ enquanto direito adquirido, nos revelamos ‒ na trama idiossincrática do cotidiano ‒ socialmente cristãos, refletindo os investimentos feitos pelo colonialismo.

Ressalto que a crítica não incide sobre o direito à orientação e manifestação religiosa livre de cada grupo, mas sobre a edificação de um modo como teologia política. Esses são modos de conceber a intervenção da religião, como mensagem divina, na organização social e política da sociedade. Talvez um dos pontos críticos das ações operadas pelas instituições religiosas no Brasil seja a difusão da noção de que somente através da conversão, ou seja, da salvação do espírito o indivíduo seria capaz de ser reconhecido como dotado de inteligência. Fora disso, o restaria a condição de selvagem, desalmado, débil, potencial maléfico, em suma, desumanizado ao ponto de ser coisificado.

Ainda problematizando este ponto, continuo a ressaltar a marafunda atada entre religião, conhecimento e colonialismo. Por mais recorrente que sejam os discursos que deslocam os campos da ciência do da religião, devemos considerar que, nos contextos coloniais, ambas estiveram a serviço do projeto de dominação por parte do Ocidente-europeu. Assim, como sistemas de caráter ideológico, ambas mantiveram-se empenhadas na vigilância e na regulação de outras epistemologias/poéticas. A transfiguração de Exu em Diabo e a identificação dos sujeitos que praticam Exu ‒ ou qualquer outro referencial que se distingue dos ideais hegemônicos ‒ os produziram como filhos, adoradores ou servos do Diabo. Ser enquadrado em uma dessas categorias, vivendo sobre a colonialidade e o poder das teologias políticas cristãs, é ser mantido na condição permanente de subalternidade.

O poder do nó atado ‘religião, conhecimento e colonialismo’ ‒ considerando que esses aspectos se interpenetram e não se desassociam ‒ é formador de subjetividades que advogam acerca de uma determinada moral e ética cristã. A meu ver, os princípios que advogam a favor da moral e ética cristã estão a ser difundidos nas mais diferentes formas de sociabilidade e são formadores do ethos social brasileiro. Porém, ressalto a sua presença e seus efeitos na educação escolar e em outras formas de representação institucional. Creio que, para avançarmos nos debates que venham a problematizar essas questões, devemos considerar também a nossa relação com os conhecimentos, já que parte dos nossos desconhecimentos, ignorâncias estão situados naquilo que rejeitamos por sermos nós mesmos demonizados.

Dessa forma, parte dos desperdícios de experiências (Santos, 2008), epistemicídios (Carneiro, 2005) e as limitações dos nossos saberes estão diretamente ligadas às concepções forjadas em noções religiosas que fortalecem a dicotomização do mundo, ampliando a clivagem e a radicalização entre perspectivas de conhecimentos distintos. A ação desses efeitos está, por exemplo, na representação de Exu, que, ao ser investido como demônio pela política colonial, mas do que se tornar um oposto ao ideal de bondade cristã, é violentado enquanto possibilidade epistêmica. Porém Exu, enquanto princípio de mobilidade, inventividade e possibilidade, vem a corromper esta lógica, sucateando as estratégias e intenções coloniais.

É nas infinitas facetas de Exu que me apoio, e é através da sua capacidade mobilizadora e inventiva que nos é permitido trazê-lo para as questões educativas, partindo do pressuposto de que Exu é o que antecede e gera toda e qualquer possibilidade de linguagem e comunicação. Assim, a educação é sempre uma atividade de caráter polifônico e dialógico (BAKTHIN, 2011), e está diretamente ligada às atividades de significação e de comunicação entre o eu e o outro.

Parto da premissa de que há inúmeras formas de educação e de que os processos educativos não emergem exclusivamente de um único modo ou contexto. Aproximo a minha compreensão acerca dos processos educativos da noção de conhecimento para Bakhtin, que se tece sempre em um campo tenso e múltiplo. A diversidade é elemento constituinte do pensamento, e não secundário como nos ensina Amorim (2004, p.12).

Uma educação que busca a emancipação deve estar comprometida com o outro. Assim, ela parte do reconhecimento da diversidade e da busca contínua pelo diálogo entre as diferenças. É uma educação pluralista e dialógica. Em uma perspectiva bakhtiniana, que também é fundamentalmente exusíaca, ter o outro como prioridade é um princípio do agir ético, é a resposta responsável que eu o concedo.

Nesse sentido, a Pedagogia das Encruzilhadas dialoga também com os diálogos que cruzam a educação a obra de Bakhtin, já que na perspectiva das encruzilhadas, a partir das potências e domínios de Exu, também assume agir ético a partir de uma resposta responsável. Exu emerge tanto na cultura iorubana, quanto nas culturas da diáspora africana como aquele que funda uma ética entre os homens e os demais seres, materiais e imateriais. É ele quem proporciona aos homens o poder de enunciar e de se comunicar, e é também o encarregado por estabelecer todas as formas de troca, seja entre os próprios homens ou com os ancestrais e divindades-orixás. Assim, é Exu que estabelece, proporciona e media toda e qualquer forma de relação, sejam elas materiais ou simbólicas.

É através dos princípios de Exu encarnados nos homens, nos demais seres, nas relações estabelecidas e no universo como um todo que somos afetados pelo fenômeno da experiência, vindo assim a produzir memórias, conhecimentos e aprendizagens. A tessitura dessas experiências e as suas circulações alinhavando uma infinita rede de significações e aprendizagens é o que conceituamos como educação. Assim, a educação é um agir ético, é uma resposta que deve ser responsavelmente cedida ao outro. A Pedagogia das Encruzilhadas, além de ressaltar uma educação a partir dos princípios e potências de Exu, revela também bases de uma teoria social e do fenômeno educativo assentados no signo Exu.

Um elemento que é caro tanto para Bakhtin, quanto para Exu, é a palavra. Para Bakhtin, a palavra nunca é minha, é sempre do outro, e é nesse sentido que ela é também um ato de responsabilidade. Uma vez que ela é sempre uma ponte entre o eu e o outro, a palavra é a resposta que concedo como se fosse a própria vida. A palavra se encarna de muitos outros sentidos, é polifônica e polissêmica, é materializável, torna-se carne.

Esses princípios presentes no pensamento de Bakhtin estão também nas noções pertencentes a Exu. Aí está que não me engano sobre a fidelidade de nosso pensador para com nosso compadre. A Exu é concedido o título de senhor da comunicação, a ele é concedida não só a capacidade da criação como forma de enunciação, como também a de restituição enquanto forma de ressignificação. Assim, é Exu que cria e recria o mundo de forma infinita e constante. Esse entendimento é tanto pelo seu caráter enquanto protomatéria criadora, quanto pelo seu caráter procriador. Dessa forma, Exu é tanto a matéria da criação, quanto a atividade geradora da mesma. Exu é a palavra que constrói.

Dessa maneira, por ter o domínio acerca da palavra, Exu é popularmente conhecido como mensageiro. A noção de mensageiro como alguém que apenas media informações reduziria a complexidade do signo Exu. Contudo, essa atribuição é dada uma vez que é ele que proporciona toda e qualquer forma de linguagem e de comunicação, seja através da palavra ou do não dito. Nesse sentido, o seu caráter de mensageiro é permeado de tensões, polifonias e ambivalências. Exu é a resposta enquanto dúvida, questionamento e reflexão.

É nesse sentido que, sob seus efeitos, a palavra emerge como um ato de responsabilidade, já que, nos é concedida a partir da ação de Exu. Assim, a palavra deve estar comprometida com uma ética, pois, se usada de forma indevida, o seu poder comunicável pode gerar equívocos, confusões e turbulências. Como nos versa uma das máximas dos terreiros: Exu coloca e tira palavras da boca. Esse colocar e tirar refere-se às dinâmicas mobilizadas pelo poder de Exu. As palavras trocadas de boca em boca ou as narrativas não verbais, pontes de comunicação, são operadas sob a lógica das trocas, que são sempre mediadas pela intervenção de Exu.

As mais variadas formas de educação consistem em atos de comunicação, enredamentos e produções de conhecimentos através das experiências. Dessa forma, sempre vincularão o eu e o outro, de modo que, para que opere orientada por ideais emancipatórios, deve prezar por um agir ético e uma orientação plural. A Pedagogia das Encruzilhadas é antes de qualquer coisa uma resposta responsável. Enquanto atividade de conhecimento, busca se desenvolver apoiada em referenciais historicamente subalternizados, cuspindo uma crítica aos efeitos do colonialismo e do monologismo exercido pela racionalidade moderna ocidental. Enquanto atividade político/pedagógica busca ressaltar elementos de conhecimento presentes em noções/práticas não visibilizadas/credibilizadas como caminhos possíveis, estabelecendo relações dialógicas com outros conhecimentos.

A pedagogia montada por Exu atravessa os modos dominantes de conhecimento com outros modos subalternos. Esses cruzos provocam efeitos mobilizadores para a emergência de processos educativos comprometidos com a diversidade de conhecimentos e com o combate às injustiças cognitivas/sociais. No atravessamento, marcam-se as zonas de conflito, as zonas fronteiriças propícias às relações dialógicas, de inteligibilidade e coexistência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: por um acabamento provisório

Exu é um princípio explicativo de mundo, assim, conhecer e compreender suas inscrições são parte fundamental para produzirmos um reposicionamento histórico e justiça cognitiva/social com o seus praticantes. Praticar Exu é mais do que meramente um sentido restrito ao contexto religioso, mas sim uma perspectiva gnoseológica negro-africana transladada e multiplicada na diáspora. Assim, reconhecer que o mesmo é um saber praticado cotidianamente e que integra presenças, conhecimentos e linguagens que diferem do regime totalitário exercido pela colonialidade é parte do trabalho na reconstrução dos seres traumatizados/condenados por esse sistema. A educação, talvez seja um dos principais efeitos responsáveis pela formação dos seres. Assim, considerando que Exu emerge como disponibilidade filosófica/conceitual/pedagógica para a educação, por que não praticarmos ações orientadas por essa esfera de saber e focadas no combate ao racismo/colonialidade?

Sobre esse questionamento é que a Pedagogia das Encruzilhadas vem a se debruçar, propondo não somente um giro político/epistemológico, mas o encruzar de múltiplas perspectivas, a coexistência e a integibilidade mútua reivindicando outras presenças e gramáticas. Exu transformado no diabo judaico-cristão, talvez seja um dos principais símbolos de interdição e subordinação produzidos pela política colonial. Não coincidentemente, o mesmo é o princípio da linguagem e de todo e qualquer acontecimento. Dessa maneira, haveremos de romper com a interdição e regulação de um modo de racionalidade racista disseminado/mantido no Novo Mundo que insiste em gerar mais escassez do que emancipação do conhecimento.

Ao longo dos argumentos aqui expostos retomo a ideia de uma educação como axé, prática implicada com a vida em toda sua diversidade e imanência. Dessa forma, educação como política de potencialização dos seres, fortalecimento comunitário, liberdade e autonomia. Exu, sendo por excelência o portador do axé de Olorun e o responsável pela dinamização de todos as energias vitais existentes e por isso é peça fundamental na elaboração de um mundo novo. Nesse sentido, devemos nos ater a proposta de Exu não como mero fetichismo conceitual, mas como saber praticado, ação pedagógica comprometida com uma ética antirracista/decolonial.

A Pedagogia das Encruzilhadas se lança na proposição e na atuação da tessitura desse mundo novo. Reivindicando Exu como gnose, esfera de conhecimento e costurando um balaio conceitual assente em seu signo a pedagogia firma ponto no campo da educação, do antirracismo e da crítica ao colonialismo. Nessa perspectiva, o que busca uma política, escola ou currículo que não se quer ser a última verdade das coisas? A breve resposta ratifica o que foi dito ao longo desse texto e é dada como acabamento provisório para o mesmo. Ou seja, busca ser como Exu, dinâmico, plural, inacabado e possível de ser lido, enunciado e praticado em qualquer esquina e dobra desse mundo.

REFERÊNCIAS

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1Essa narrativa é parte do corpo literário de Ifá, sistema que compreende mitos iorubás e a base explicativa dessa cultura, que tem como uma de suas principais marcas as aprendizagens via tradição oral.

2Ver Fanon (2008).

3Sobre esse aspecto, cabe a leitura dos capítulos IV e V - “O escravo negro na vida sexual e de família do brasileiro” - da obra Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre. Nos dois capítulos, estão expostos pensamentos que subsidiaram uma importante e indispensável crítica à obra e aos seus desdobramentos e presença na mentalidade da população brasileira. Cabe, nesse embate, ressaltar o importante e virtuoso protagonismo dos movimentos sociais negros liderados por mulheres e intelectuais negras no Brasil, responsáveis por parte considerável das críticas e pela mobilização dos debates que articulam as questões entre gênero e raça.

4Um importante estudo que aborda os efeitos do racismo na escola e, em específico, na Educação Infantil, é o desenvolvido por Eliane Cavalleiro na obra Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na Educação Infantil. Os resultados da pesquisa são impressionantes e mostram as inúmeras situações de racismo experienciadas na escola.

5Um caso trágico que aqui é lembrado em diálogo com as questões expostas no parágrafo é o assassinato do jovem Alan de Souza Lima, 15 anos, pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Alan foi assassinado enquanto brincava com mais dois amigos na comunidade da Palmeirinha, subúrbio da cidade. Os policiais alegaram que os jovens teriam participado de um confronto contra eles, porém foram desmentidos pelas gravações feitas pelo celular da própria vítima. No registro, foi captado o som do diálogo em que um dos policiais pergunta aos garotos por que eles correram, ao que um dos rapazes responde: “A gente tava brincando, senhor”.

Recebido: 28 de Fevereiro de 2019; Aceito: 27 de Agosto de 2019

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