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Revista Exitus

versão On-line ISSN 2237-9460

Rev. Exitus vol.10  Santarém  2020  Epub 28-Mar-2022

https://doi.org/10.24065/2237-9460.2020v10n0id1144 

Artigos

IDENTIDADE DOCENTE: representações de professores/as em narrativas ribeirinhas do Rio Quianduba em Abaetetuba-Pa

TEACHER IDENTITY: representations of teachers in riverine narratives of the Quianduba River in Abaetetuba-Pa

IDENTIDAD DOCENTE: representaciones de profesores/as en narrativas ribereñas del Rio Quianduba en Abaetetuba-Pa

Maria Francisca Ribeiro Correa1 
http://orcid.org/0000-0001-6932-0983

Waldir Ferreira de Abreu2 
http://orcid.org/0000-0002-0245-9072

Damião Bezerra Oliveira3 
http://orcid.org/0000-0002-8247-880

1Doutoranda em Educação pela UFPA/PPGED, Mestra em Educação e Cultura pela UFPA/PPGEDUC, Especialista em Educação da rede Estadual de Ensino – SEDUC/Pa. E-mail: francisca.rc24@gmail.com

2Pós-Doutor em Ciências da Educação, Professor do PPGED/ICED-UFPA. E-mail: awaldir@ufpa.br

3Doutor em Educação, Professor do PPGEDUC e PPGED/ICED-UFPA. E-mail: damiao.bezerra@ufpa.br


RESUMO

O artigo apresenta os resultados da pesquisa sobre Identidade Docente: Representações de Professores/as em narrativas ribeirinhas do Rio Quianduba em Abaetetuba. O objetivo foi analisar as representações de Professores/as construídas e veiculadas na oralidade dessa comunidade, considerando a relação com a prática docente no cotidiano escolar. Adotou-se como lócus de investigação a Comunidade do Rio Quianduba no Município de Abaetetuba, Pará. As bases conceituais da pesquisa seguiram as orientações e abordagens de teóricos como Ciampa, Arroyo e Nóvoa, com os quais sustentamos as discussões e análises sobre identidade e representação; Williams é usado como referência para trabalhar a concepção de cultura enquanto meio de produção da existência. A metodologia de pesquisa pautou-se nas concepções e orientações do Materialismo Histórico Dialético com realização de Pesquisa de Campo e a utilização das narrativas orais como fonte de investigação.

Palavras-chave: Identidade; Representação; Cultura

ABSTRACT

The article presents the results of the research on Teacher Identity: Representations of Teachers in riverine narratives of Quianduba River in Abaetetuba. The objective was to analyze the representations of Teachers built and transmitted in the orality of this community, considering the relation with the teaching practice in the school’s daily routine. The community of the Quianduba River in the Municipality of Abaetetuba, Pará, was adopted as a locus of investigation. The conceptual bases of the research followed the orientations and approaches of theoreticians such as Ciampa, Arroyo and Nóvoa, with which we sustain the discussions and analyzes on identity and representation; Williams is used as reference in order to work on the conception of culture as a way of producing existence. The research methodology was based on the conceptions and orientations of the Dialectical and Historical Materialism, with Field Research execution and the use of oral narratives as source of investigation.

Keywords: Identity; Representation; Culture

RESUMEN

El artículo presenta los resultados de la investigación sobre Identidad Docente: Representaciones de Profesores / as en narrativas ribereñas del Río Quianduba en Abaetetuba. El objetivo fue analizar las representaciones de Profesores / as construidas y vehiculadas en la oralidad de esa comunidad, considerando la relación con la práctica docente en el cotidiano escolar. Se adoptó como locus de investigación la Comunidad del Río Quianduba en el Municipio de Abaetetuba, Pará. Las bases conceptuales de la investigación siguieron las orientaciones y enfoques de teóricos como Ciampa, Arroyo y Nóvoa, con los que sostenemos las discusiones y análisis sobre identidad y representación; Williams es usado como referencia para trabajar la concepción de la cultura como medio de producción de la existencia. La metodología de investigación se basó en las concepciones y orientaciones del Materialismo Histórico Dialéctico con realización de Investigación de Campo la utilización de las narrativas orales como fuente de investigación.

Palabras clave: Identidad; Representación; Cultura

1 INICIANDO O DIÁLOGO

Vivemos em tempos de profundas transformações, rupturas e (des) continuidades que impelem aos sujeitos o questionar-se sobre o sentido da existência e da própria natureza humana. Nesse cenário, é imprescindível destacar os aspectos culturais, sociais e políticos, que necessariamente, perpassam pela condição humana, e consequentemente, pelas relações de trabalho, enquanto produção da vida material. Nesse sentido, a representação da docência – aqui entendido, como atividade que faz parte da vivência de Professores/as, que no contexto ribeirinho, provavelmente, é marcada por especificidades da cultura local, dos modos de viver e ocupar as margens dos rios, da relação homem – natureza - cultura, bem como das próprias condições em que o processo educativo se desenvolve nas escolas, considerando ainda, os aspectos inerentes à trajetória docente nessas comunidades – que pode ser compreendida a partir das condições históricas, culturais, sociais, políticas e econômicas em que os/as professores/as concretizam sua atividade no chão da escola.

Este diálogo surge da necessidade de dar continuidade a análise realizada junto aos sujeitos que (com) partilham vivências e experiências na Comunidade do Rio Quianduba, no Município de Abaetetuba, Pará. Desse modo, a análise das representações de Professores/as, a partir das narrativas orais, parte do princípio de que a identidade do/a professor/a pode ser pensada não como um dado adquirido, uma propriedade, um produto, mas como uma construção sócio histórica, política econômica e cultural, compreendendo-as como processo dinâmico, lugar de lutas e conflitos, um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão, formada e transformada nas/pelas relações sociais, (re)produzidas no interior dos contextos socioculturais.

A maneira como cada um/uma se sente e se diz professor/a, se apropria do sentido da sua história pessoal e profissional, é um processo que se refaz continuamente nos espaços escolares e fora deles, produzindo uma identidade flexível e sensível às continuidades, descontinuidades, mudanças, inovações, rupturas, sendo produzido no interior das relações sociais. Assim o artigo tem como objetivo analisar as representações de Professores/as construídas e veiculadas na oralidade dessa comunidade, considerando a relação com a prática docente no cotidiano escolar.

2 ASPECTOS CONTEXTUAIS DO OBJETO DE PESQUISA

O estudo situa-se na Comunidade do Rio Quianduba, Município de Abaetetuba, Pará, no Assentamento da Ilha Quianduba, o qual foi criado em 2005 após vários anos de luta do MORIVA4 pela regularização fundiária, o que remonta à década de 80 como o movimento das CEB’s5 na busca pela garantia do direito à posse das terras ocupadas pelos ribeirinhos. Nesse processo, várias comunidades foram, geograficamente, agrupadas em torno de ilhas, afim de que pudessem organizar-se em associações agroextrativistas6.

Nesse contexto elucidamos nossa problemática de investigação sobre quais são as representações de Professores/as construídas e veiculadas na oralidade da Comunidade do Rio Quianduba e suas relações com o contexto da prática docente no cotidiano escolar?

Para isso partimos do pressuposto de que, historicamente a representação de Professores/as, nessa comunidade, especificamente no cotidiano da Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, provavelmente, esteja pautada pela representação dualista do “bom” e do “mau” professor, por isso há um esforço em possibilitar o aparecimento de novas representações identitárias construídas/reconstruídas no contexto dessa comunidade.

Além disso, observamos que, ao longo de sua trajetória e em todos os tempos e espaços, a atividade docente passa por transformações que o próprio ofício lhes impõe, mas, ao mesmo tempo também influencia e é influenciada pelas condições sociais, econômicas, políticas, culturais e pela interação com o meio social onde se materializa enquanto prática entre sujeitos. E ainda, o profissional docente recebe as marcas do seu tempo, de suas histórias e das histórias de outros sujeitos que interpelam o seu próprio ser e desse modo vão constituindo parte de sua identidade pessoal e profissional.

A Comunidade do Rio Quianduba possui diversos espaços físicos que lhes confere características bem específicas. Atualmente possui 02 escolas mantidas pela rede municipal que atendem desde a educação infantil ao ensino médio, sendo que esta modalidade de ensino é de responsabilidade da rede estadual, mas funciona no prédio escolar da prefeitura municipal, uma vez que não existem escolas (prédios) estaduais nas Ilhas de Abaetetuba; possui ainda 04 igrejas evangélicas e 01 católica, salões de festa, diversos campos de futebol, e o rio, principal meio de lazer dos ribeirinhos dessa comunidade, sendo muito utilizado para as viagens diárias de barco, rabeta7 ou rabudos8 que transportam os ribeirinhos e a produção de açaí e manga para a sede do município, assim como para outros municípios do estado e também para a capital, Belém.

3 PERCURSOS METODOLÓGICOS: as narrativas orais como possibilidade para conhecer o outro

A trilha percorrida por esta pesquisa seguiu as orientações do Materialismo Histórico Dialético, por acreditarmos que a dialética marxista é uma das abordagens possíveis de interpretação da realidade educacional, principalmente na educação do campo, posto que se caracteriza pelo movimento do pensamento através da materialidade histórica da vida dos homens e mulheres em sociedade. É na vivência concreta que mulheres e homens (re) produzem seus modos de viver e (re) constroem os processos históricos de suas lutas e embates diários. Neste caminho lógico, movimentar o pensamento significa refletir sobre a realidade partindo do empírico – da realidade presente, do objeto, assim como se apresenta, para chegarmos à compreensão do que há de essencial em nosso objeto de estudo - que é sempre um objeto síntese de múltiplas determinações, concreto, pensado.

A dialética marxista entende que a relação de construção da realidade é motivada pelas contradições sociais quando defende que “não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é o seu ser social que, inversamente, determina sua consciência” (MARX, 1998, p. 35), reforça com isso, a necessidade de entendimento dos fenômenos sociais a partir da luta de classes, neste caso, de um embate em que o movimento de educação do campo defende um projeto de educação construído à partir das necessidades e perspectivas dos sujeitos campesinos. Dessa forma, o homem tanto cria suas relações sociais quanto por elas é criado, por isso o materialismo também é histórico, uma vez que a transformação da sociedade depende da ação concreta dos homens no tempo e no contexto sociocultural onde estão imersos.

Diante desse movimento, necessário à prática da investigação, a pesquisa foi realizada no período de janeiro a dezembro de 2015, foram entrevistados 40 membros da comunidade escolar divididos em grupos de 10 pessoas de acordo com suas categorias: Pais, Professores/as, Alunos/as e Servidores de Apoio Pedagógico. Para a realização das entrevistas utilizamos a Técnica do Grupo Focal que possibilitou a reunião dos entrevistados em seus devidos grupos. Além disso, também foram realizadas coletas de dados a partir das observações e registro.

Entendida como percurso metodológico e caminhos possíveis para esta pesquisa, as narrativas orais, apontam para as inúmeras possibilidades de uso dos relatos orais como fontes que permitem ao pesquisador coletar, analisar e interpretar dados a partir de situações de entrevista, onde os rastros, os sinais, as pistas devem ser procuradas com rigor e responsabilidade técnica, ética e social, considerando que este é um terreno não sedimentado, plural, dinâmico, e que, portanto, se move constantemente.

Assim, os sujeitos trazem em suas narrativas seus autos relatos, porém constituído por um discurso embaçado e imerso numa trama imbricado ao longo de suas trajetórias, o qual permite captar a riqueza de detalhes dos significados referentes às vivências e experiências humanas, reconstruindo-as e refletindo sobre o vivido, dando novo significado ao sucedido.

A construção da narrativa constitui-se como uma experiência formadora para Josso (2004), possibilita ao sujeito aprendente questionar suas identidades a partir de recordações que vão surgindo no decorrer dos relatos. Nessa perspectiva,

A narrativa de um percurso intelectual e de práticas de conhecimento põe em evidência os registros da expressão dos desafios de conhecimento ao longo de uma vida. Esses registros são precisamente os conhecimentos elaborados em função de sensibilidades particulares em um dado período. [...] (JOSSO, 2004, p. 43).

Por isso, as narrativas não são estáticas, elas são a tradução das experiências vividas pelos sujeitos em seu cotidiano e estão sempre abertas a novas ressignificações e interpretações. Através das narrativas orais podemos perceber elementos importantes presentes nos discursos, termos, simbologias ou até mesmo metáforas que expressam, significativamente, as experiências do vivido e as histórias não contadas e não escritas sobre o “outro”, que são ressignificadas, a partir de seu contexto sociocultural.

Para Josso (2004) nas narrativas estão inscritas as geografias socioculturais, profissionais, relacionais ou afetivas que apresentam as condições ideais para que a pessoa possa fruir do seu ser-no-mundo. Ao desenrolar os fios da narrativa a vida apresenta-se como um cenário que vai se moldando, construindo e reconstruído a partir das condições sociais estabelecidas no contexto da produção da existência humana.

Considerando tal premissa, Agnes Heller, ao tratar sobre a estrutura da vida cotidiana diz que:

A vida cotidiana é a vida do homem inteiro; ou seja, o homem participa na vida cotidiana com todos os aspectos de sua individualidade, de sua personalidade. Nela, colocam-se “em funcionamento” todos os seus sentidos, todas as suas capacidades intelectuais, suas habilidades manipulativas, seus sentimentos, paixões, ideias, ideologias [...] (HELLER, 2004, p. 17).

As narrativas possibilitam observarmos como cada sujeito tece o seu cotidiano, a sua realidade, o caminho da sua existência na relação com uma constante procura de saber-viver, ou melhor, na busca do “ofício de viver”, a partir de um contexto. Por isso, é preciso atentar para o fato de que toda narrativa é produzida num determinado contexto cultural. Nossas identidades são interpeladas e reveladas na trama do real. As narrativas oferecem em si a possibilidade de análise, se concebermos a análise como produção de significados que se inicia quando, o autor/ator/leitor/ouvinte de uma narrativa escrita, se apropria do texto, de algum modo, tecendo significados que são seus, e constrói uma narrativa que será compartilhada, ouvida/lida/vista por outros, também narradores e produtores de narrativas.

4 A RELAÇÃO ENTRE CULTURA, IDENTIDADE E SABERES DOCENTES

As abordagens acerca da identidade docente precisam considerar a construção das representações de Professores/as na ótica do atravessamento de diferentes conceitos e concepções, partindo do entendimento de que a representação começa a se definir pela posição social que os sujeitos ocupam, nos diferentes grupos socais, em diferentes contextos históricos.

As representações de Professores/as são construídas e veiculadas segundo as visões e concepções de outros sujeitos, os modelos identificados nas políticas públicas educacionais, bem como, o olhar presente ou ausente sobre a identidade desses profissionais que vai sendo construída e transformada ao longo de suas trajetórias e experiências vividas, tanto no exercício da profissão, quanto nas experiências partilhadas em outros contextos de suas vivências, considerando ainda, o aspecto pessoal envolvido nesse processo.

O conceito de identidade trazido por Ciampa (2001) 9, como metamorfose, trata dos processos de construção das diferentes e diversas identidades assumindo a perspectiva de que a identidade é formada e transformada no interior das relações sociais mediante o contexto e as circunstâncias históricas do momento “[...] a identidade passa a ser também uma questão política, pois ela está imbricada tanto na atividade produtiva de cada indivíduo quanto nas condições sociais e institucionais onde esta atividade ocorre [...]” (p.10). Logo, a identidade docente é movimento e analisá-la no contexto das narrativas ribeirinhas significa compreendê-la enquanto produção material, onde o trabalho docente constitui-se enquanto atividade e terreno de produção da identidade. A sala de aula, transforma-se no espaço por onde perpassam o processo de construção da representação da identidade docente, é nesse contexto que professores e alunos, mutuamente, formam e transformam suas múltiplas identidades.

A identidade também é uma questão política, de acordo com Ciampa (2001), isso se traduz no sentido de possibilitar a reflexão sobre os espaços e possibilidades que nós nos permitimos, tanto para nós quanto para os outros, que sendo nós mesmos, nos transformarmos e nos (re) criarmos. Sua reflexão toma como pressuposto a análise da identidade como um processo dialético, uma vez que ela se realiza na interação social, implicando necessariamente, uma concepção de identidade que migra no espaço e no tempo histórico.

Ciampa (2001) compreende o homem como um ser produzido historicamente, é essencialmente um ser social, portanto, é produtor e produto das relações sociais, e desse movimento, na tessitura social a identidade vai se formando e transformando num processo que o autor chama de metamorfose.

Estamos a todo o momento sendo identificados pelo olhar “alheio”, o outro nos representa sempre em relação ao que ele não é, imprimindo em nós a sua marca. Esse significado é produzido por meio de processos de diferenciação, tomando como suporte a relação entre aquilo que é e aquilo que não é. Tal concepção é movida pela operação de poder que está envolvida nessa definição nos posicionando de diferentes formas, em diferentes lugares, provocando diferentes efeitos nas sociedades ou grupos com os quais convivemos. Identidade e diferença são interdependentes e inseparáveis, são criadas por meio de atos de linguagem. É pela fala, pela oralidade que a identidade e a diferença são instituídas enquanto criações sociais e culturais. Contudo tanto a identidade quanto a diferença são indeterminadas assim como a linguagem que as narra, elas estão, portanto, estreitamente relacionadas e conectadas com as relações de poder que definem e marcam a identidade e a diferença no contexto sóciocultural.

É pela cultura que os indivíduos se identificam, ela carrega valores e se constitui enquanto instrumento de dominação, por isso ela também é um espaço de poder. A cultura onde nascemos constitui-se em uma das principais fontes de construção da identidade, nela e com ela partilhamos nossas vivências e experiências, neste caso, os valores de uma sociedade capitalista, postulados por ideais de uma ordem que se expressa através de um modelo de Estado regulador, que de uma forma ou de outra, controla, influencia e manipula os sujeitos de acordo com os interesses do mercado, mercantilizando e marginalizando as relações socioculturais.

Nesse sentido, rompendo com velhas posições que pensavam a cultura apenas sob a ótica da reprodução, Williams (2011), formulou uma outra interpretação de cultura como processo de produção material e social, sendo a linguagem um dos meios sociais de sua produção tornando-se assim uma prática consciente. Desse modo, a cultura é uma teia de relações que o homem tece produzindo sua existência, atribuindo significados que são impregnados de valores vividos e experenciados por uma determinada comunidade ou grupo de pessoas.

Os processos de representação das identidades docente são formados ao longo da trajetória profissional, sobre isso, encontramos em Nóvoa (1992) uma perspectiva interessante para compreendermos os processos de construção das representações da identidade docente. Para ele o formar-se “[...] implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os percursos e projectos próprios, com vista à construção de uma identidade, que é também uma identidade profissional” (p. 25). Isso implica em que, colocar-se em formação significa, primeiro, envolver-se num movimento contínuo; segundo, compreender que esse processo é parte constituinte de nossa identidade pessoal/coletiva e profissional. Por isso é necessário pensar o currículo e os processos de formação de professores considerando que esses sujeitos, enquanto profissionais são pessoas e como pessoas são profissionais, e essas “identidades” se interpelam num movimento dinâmico e complexo.

O processo de formação de professores deve ser um lugar para além da aquisição de técnicas e conhecimentos, devendo, portanto, constituir-se em um momento crucial de socialização e da configuração profissional, posto que, ao se inserirem nos processos de formação inicial os/as professores/as trazem consigo valores profissionais, sociais, conhecimentos e competências sobre o universo da profissão e o contexto cultural ao qual pertencem.

O/A Professor/a é um ser em permanente construção, possui um acervo vivencial que contribui para a sua constituição enquanto sujeito sociocultural, o qual é concebido por Juarez Dayrell (1986) como ente dotado de: corporeidade, vivências, sociabilidade, linguagens múltiplas, espacialidade, concreticidade, pluralidade, ética e ação, sendo que, a distinção entre o sujeito sociocultural e o sujeito sociocultural professor é regida pela relação professor-aluno, pelas marcas da escola, na condição professor, e pelo determinante tempo em sua vida.

Tardif (2002) aponta os traços que remetem a uma identidade docente, reconhece os professores como sujeitos do conhecimento, ao considerar que estes possuem, utilizam e produzem saberes que são específicos ao ofício da docência, pois ocupam uma posição fundamental e privilegiada no espaço escolar, em relação aos demais membros da escola, pois “[...] em seu trabalho cotidiano com os alunos, são eles os principais atores e mediadores da cultura e dos saberes escolares [...]” (p. 228). Por se constituir como mediação, através da qual os seres humanos garantem a continuidade de seu caráter histórico, a educação, ao propiciar a apropriação dos instrumentos culturais, torna-se imprescindível ao desenvolvimento humano.

A sala de aula, espaço onde a atividade docente se materializa, é também um espaço de produção de saberes, de produção de identidades, os quais, são abordadas por Tardif (2002), no sentido de mostrar a relação entre eles e a identidade docente - que consideramos - não é apenas uma identidade profissional, mas uma identidade pessoal que define o ser “Professor” como um sujeito que possui identidades diversas e plurais.

A prática pedagógica revela muito da identidade docente, é no chão da escola - a sala de aula - onde podemos encontrar maneiras de representar a docência. Nesse ambiente se materializa parte da produção da vida do professor, da profissão docente e, por conseguinte, a produção da escola como local de desenvolvimento organizacional. Entretanto, assim como pensa Cunha (1989), é importante compreender que existem outros saberes que podem ser observados no/a professor/a que são resultantes da apropriação que ele/a faz de sua própria prática assim como dos saberes histórico-sócio-culturais que vai adquirindo ao longo da vida.

Seguindo a lógica dos saberes que constituem a docência Pimenta (2005, p. 26) destaca que;

[...] Os profissionais da educação, em contato com os saberes sobre a educação e sobre a pedagogia, podem encontrar instrumentos para se interrogarem e alimentarem suas práticas, confrontando-as. É aí que se produzem saberes pedagógicos, na ação [...].

Os saberes docentes se materializam no cotidiano da prática docente -quando exercidos em sua plenitude no firmamento das intuições que lhe garantem espaço e tempo contextualizados à realidade social que os circundam - os mesmos visam a construção de novos conhecimentos que contribuem para a reflexão da própria prática, e desse modo, atenda às especificidades próprias dos processos de ensinar e aprender, reconhecendo que seus limites estão para além da sala de aula.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos a partir da pesquisa apontam diversas representações de Professores/as que são construídas e veiculadas na oralidade da Comunidade de Quianduba, onde ainda, encontramos a figura do/a Professor/a enquanto agente social de mudança. Observamos que a religiosidade é um elemento marcante na comunidade, uma vez que, todos os Professores estão envolvidos com atividades religiosas, com grupos de crianças, adolescentes e jovens, tanto na igreja católica quanto na igreja evangélica, assim como, nas associações e movimentos sociais existentes na localidade.

O tempo/espaço da docência ribeirinha também se constituem em aspectos relevantes na construção das representações de Professores/as, já que, no lócus da pesquisa existem alunos que dependem dos horários das marés para chegar e sair da escola. Para isso há uma cumplicidade entre Professores e a equipe escolar, assim como há uma sensibilidade na adequação do tempo no atendimento desses alunos. Esses tempos da docência ribeirinha possuem especificidades que estão diretamente relacionadas com o tempo da natureza. Há uma relação intrínseca entre os marcadores de tempo da comunidade e as atividades pedagógicas desenvolvidas durante o tempo letivo, ou seja, o calendário de atividades escolares e o tempo do mato10, tempo do rio11, das águas, dos períodos de chuva.

Na Comunidade de Quianduba, os/as Professores/as carregam consigo os tempos da escola, as marcas e os elementos que materializam a atividade docente para os demais espaços sociais. Esses tempos são atravessados por inúmeros outros tempos desses sujeitos, uma vez que, não há como separar os tempos da docência dos tempos ligados à vida pessoal e familiar dos/as professores/as, o que pode ser evidenciado em Arroyo (2003, p. 27),

[...] Os tempos de escola invadem todos os outros tempos. Levamos para casa as provas e os cadernos, o material didático e a preparação das aulas. Carregamos angústias e sonhos da escola para casa e de casa para a escola. Não damos conta de separar esses tempos porque ser professoras e professores faz parte de nossa vida pessoal. É outro nós.

Quanto a profissão docente verificamos, a partir das entrevistas realizadas com Professores/as, que, para a maioria de nossos entrevistados, esta, se caracteriza como meio de sobrevivência, oportunidade de emprego rápido e fácil, na maioria dos casos, Ser Professor/a foi a única maneira para ingressar no mercado de trabalho;

[...] a principal razão, foi a oportunidade, porque não tinha [...] as outras áreas eram mais difíceis da gente arrumar emprego, o magistério não, tinha uma gama de oportunidade, que não se tinha tantos professores formados. Tanto é que nessa época tinham muitos professores leigos, então eu vi ali uma oportunidade de, [...] emprego, também (PROFA. 1).

Existem relatos que apontam para a influência da família e de outras pessoas na escolha da profissão docente, nestes casos, as narrativas revelam o fascínio e o compromisso das/os professoras/es com o trabalho em sala de aula, que passa a ser visto pelos mesmos não apenas como tarefa, mas uma atividade onde ambos, professores e alunos, se formam e transformam. É nas experiências cotidianas da sala de aula que muitos desses Professores/as vão aprendendo a “Ser” Professor (a).

Outra característica marcante que surgiu nas representações de Professores/as é a relação de afetividade construída tanto junto aos alunos/as quanto junto à comunidade escolar, percebemos que os processos de produção de significados e sentidos do trabalho docente são atravessados por representações que destacam o caráter afetivo dos/as Professores/as. Para os/as Alunos/as o/a Professor/a não é simplesmente alguém que está ali (na sala de aula) como um figurante interpretando um papel, eles/elas são presença viva e marcante no cotidiano das/os alunas/os.

O/A Professor/a é referência, enquanto pessoa e profissional, ainda é uma figura exponencial, que assume um status, até mesmo como liderança na Comunidade, como revela a pesquisa, vários sujeitos pesquisados que são professores/as, assumem outras funções como líderes de grupos nas igrejas e associações presentes na localidade. Essas figuras ganharam destaque e prestígio, são respeitados e muito bem conceituados pelo trabalho que desempenham, como pode ser observado na seguinte narrativa: “Eu vejo os Professores como pessoas muito especiais. Eles têm compromisso com nossos filhos, são responsáveis, meus filhos, tem aprendido [...]” (PAI 10).

As representações que alunos, pais e demais membros da comunidade escolar fazem dos/as Professores/as, em Quianduba, é explicada pela Psicologia Social como uma construção coletiva que se dá na relação com os “outros”. É na relação com esses outros “eus”, diferentes de si e entre si, que o sujeito se reconhece enquanto um outro “eu”. Logo, o processo que envolve a formação e transformação das identidades envolve uma pluralidade de ações, de acordo com os papéis que exerce e o comprometimento com o contexto sociocultural em que vive. Dessa forma o indivíduo pode agir de determinado modo em um ambiente social e de modo diferente em outro. Isso não ocorre por inautenticidade, mas porque somos um e somos muitos, assim como o “Severino” de Ciampa (2001), a representação dos/as professores/as vai se construindo pelas “severinidades” da profissão docente. O ambiente, o contexto, as rotinas, a trajetória profissional e o fazer pedagógico na Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro narram as representações de professores/as a partir de posições assumidas pelos sujeitos envolvidos nesse processo, que também se circunscreve no campo das relações afetivas na escola.

5.1 A representação de Professor/a pelas relações afetivas na sala de aula

Conforme a análise das narrativas e das observações coletadas durante o contato com o grupo de alunos/as e professores/as da Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental da Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro na Comunidade de Quianduba, os processos de representação de Professores/as, apresentam aspectos relevantes que nos ajudam a pensar as representações de suas identidades, construídas e veiculadas na oralidade ribeirinha, como apresenta a narrativa abaixo;

[...] eu vejo assim não só como Professor, mas eles são amigos das crianças, eles são carinhosos, claro que na hora que tem que chamar atenção de um pai ou uma mãe, eles vão chamar, não porque eles são... por exemplo eu seja amiga de alguns deles que eles vão passar a mão na cabeça da minha filha, não, eu não vou chamar a tua mãe. Não, tem que chamar sim. Então tem pais que não gostam, aí já acham que o Professor é chato, o Professor é isso, não, mas na verdade, todos são responsáveis, são competentes, mas [...] eu gosto da maneira deles porque eles sabem ouvir [...] (SERVIDORA DE APOIO 5).

No contexto acima, a representação de Professores/as aparece atrelada às relações afetivas presentes na prática pedagógica e na própria vivência no cotidiano escolar. Palavras como “legal”, “importante”, “paciente”, “amiga”, “carinhosa” são muito presentes na oralidade dos sujeitos da pesquisa. Os/as servidores/as de Apoio Pedagógico conseguem expressar uma representação que ressalta o/a professor/a como um profissional responsável e competente no seu fazer. Neste caso, é pelo fazer pedagógico que os/as professores/as são analisados pelos seus pares. Essas representações de professores/as são ideias, imagens, concepções de mundo que os demais atores sociais da Comunidade de Quianduba possuem sobre os docentes, estando estas, ligadas às práticas sociais de seus saberes e fazeres profissionais, mas também às relações de afetividade que marcam a prática docente.

Observamos que cada grupo social elabora representações de acordo com a posição que ocupam no seio da comunidade, essas representações emergem de interesses específicos, olhares pontuais e da própria dinâmica de organização e vivências do cotidiano desses sujeitos. As crianças, por exemplo, expressaram de maneira própria e com muita facilidade a representação que elas têm de seus Professores/as. Essa representação surge a partir da convivência estabelecida em sala de aula. O/A Professor/a é visto pelos alunos/as como:

O meu Professor é legal, eu gosto muito dele (ALUNO 9).

O meu Professor é importante para mim (ALUNA 4).

A Professora é minha amiga (ALUNO 6).

Eles nos ajudam (ALUNA 1).

Eles têm paciência (ALUNA 3).

Nas narrativas infantis podemos observar que cada aluno ressaltou um aspecto relevante na personalidade do/a professor/a que, primeiro, é uma pessoa, e enquanto pessoa, sendo professor/a possui características específicas. Cada aluno/a demonstrou preferências por determinado docente. Essa opção, por um ou outro professor/a, aparece atrelada às relações afetivas – que permeiam o processo ensino aprendizagem – pelos gestos de carinho, acolhimento, dedicação e reconhecimento da figura do/a professor/a em outros espaços sociais da Comunidade. Mas também sabem discernir entre seus preferidos, ou seja aqueles/aquelas que marcaram positivamente na sala de aula, assim como os que são lembrados, nas narrativas, como “[...] aquela que gritava muito” (ALUNA 1).

Diante de tais constatações encontramos em Arroyo (2013) essa mesma perspectiva de imaginário da representação de professores/as, onde ressalta que;

[...] O ofício de mestre faz parte de um imaginário onde se cruzam traços sociais afetivos, religiosos, culturais, ainda que secularizados. A identidade de trabalhadores e de profissionais não consegue apagar esses traços de uma imagem social, construída historicamente. Onde todos esses fios se entrecruzam. Tudo isso sou. Resultei de tudo (p. 33).

Essa representação é parte da constituição da individualidade e da singularidade dos sujeitos, que parte das relações sociais, num processo que envolve elementos que se convergem e divergem, aproximando e afastando os homens uns dos outros.

Em Ciampa (2001) a identidade de Severino também vai sendo representada sob diferentes aspectos e olhares, por vezes, o Severino é representado tomando como referência suas origens, sua terra, sua gente, o lugar de onde veio. Severino carrega em sua identidade as “geografias imaginárias” de seu pertencimento. O autor admite que é possível imaginar diversas combinações para configurar uma identidade na sua totalidade,

[...] Uma totalidade contraditória, múltipla e multável, no entanto uma. Por mais contraditório, por mais mutável que seja, sei que sou eu que sou assim, ou seja, sou uma unidade de contrários, sou uno na multiplicidade e na mudança (CIAMPA, 2001, p. 61).

As representações de Professor/a que são construídas e veiculadas na sociedade dependem do reconhecimento social e dos tempos da vida humana que formamos, dos contextos culturais aos quais pertencemos, do valor e do significado dado a esses tempos e lugares. Como pedagogos, nascemos historicamente colados à sorte da infância, a um projeto do seu acompanhamento, condução e formação. Temos os tempos da vida humana como nossos cúmplices. Afirmamo-nos profissionalmente no mesmo movimento que essas temporalidades vão se definindo, social e culturalmente. Somos representados por uma imagem que nos legaram, socialmente construída e politicamente explorados.

As representações da identidade docente, tem sentido, através da linguagem e dos sistemas simbólicos pelas quais são representadas, revelando que a formação e transformação da identidade é um processo relacional, marcado pela diferença. A identidade é construída na luta, na resistência, porque é resultado de uma construção simbólica e social. Com base em Oliveira et al (2014), a representação é por si mesma construída e veiculada no processo de comunicação social, portanto são produtos da ação humana que comunicam através de palavras, desenhos, pinturas as representações dos sujeitos sociais através de relações que ocorrem no interior e entre grupos sociais, de tal modo que;

As representações sociais envolvem uma relação de conhecimento entre sujeito (alguém) e o objeto (alguma coisa/pessoa), configurando-se como uma situação gnosiológica e de comunicação. Os sujeitos conhecem/representam e fazem comunicados sobre os objetos conhecidos/representados [...] (OLIVEIRA et al, 2014, p. 141).

Os sujeitos entrevistados demonstram, em suas narrativas, domínio de saberes e conhecimento sobre as vivências e as experiências que os/as Professores/as possuem, comunicam e expressam essa representação. Esses saberes são provenientes de um saber prático produzido a partir de experiências oriundas da relação existente entre os docentes, tanto como Pais, Alunos, Servidores, quanto como moradores da mesma localidade, que diariamente, se encontram pelas curvas do rio, no ambiente escolar, nas reuniões da escola, no encontro da igreja, nos barcos freteiros, nas viagens de madrugada para cidade. São “[...] Representações sociais que circulam, cruzam-se e se cristalizam incessantemente, através de uma fala, um gesto, um encontro, em nosso universo cotidiano” (OLIVEIRA, 2008, p. 65).

Esses encontros e cruzamentos são muito frequentes no cotidiano da Comunidade de Quianduba onde, todos os sujeitos participantes de nossa pesquisa, residem na comunidade, por isso, além de estarem em contato diariamente com os filhos/as do lugar, também são conhecidos dos moradores. Eles moram “[...] bem ali, do outro lado do rio”, “lá pra cima”12, o lugar é marcador das referências e das identidades dos sujeitos pesquisados. Os/As Professores/as são conhecidos, ou melhor, compartilham suas vivências com os demais moradores da comunidade, são vizinhos, são solidários nos momentos necessários, e esta é uma lição que se aprende na escola, junto com os outros e nos demais espaços sociais comunitários como evidenciamos na narrativa a seguir:

[...] essa nossa vivência de sala de aula, ela deixa marcas, [...] muitas é negativas, mas muitas positivas [...]. Muitas das vezes você nem sabe que você deixou, mas com o tempo, com os netos daquelas pessoas, os filhos, aí você vai descobrir que você deixou a sua marca, dentro do seu trabalho de anos e anos, eu vejo [...] que quando você começa você não tem aquela experiência e com os anos você vai adquirindo e vai passando pra outros professores [...] (PROFESSORA 2).

O processo ensino aprendizagem é marcado pelas relações afetivas que são construídas e vividas no cotidiano dos sujeitos envolvidos na pesquisa, as vivências e experiências da vida comunitária é compartilhada por sujeitos que se conhecem, e que ainda, conseguem (con)viver e sobreviver a muitos desafios presentes no contexto da escola ribeirinha na Comunidade de Quianduba. Essas vivências e experiências não estão restritas apenas ao espaço escolar, mas para além disso, extrapolam os limites da escola e continuam presentes na memória e nas práticas cotidianas desses sujeitos “Eu acho assim que ter carinho e afetividade é também uma coisa que marca muito na vida do Professor, e das crianças, muito mais ainda” (PROFESSORA 10).

A comunidade torna-se extensão da escola e, por sua vez, a escola é uma continuidade da comunidade. Um lugar de partilhar práticas, saberes, experiências, histórias e a própria memória comunitária.

Partindo das reflexões de Arroyo (2013) que trata do “Ofício de Mestre” compreendemos que nossas identidades não mais nos pertencem, as representações que nos identificam resultam de tudo que nos interpela, das relações e interações que estabelecemos com o meio social e com os sujeitos com os quais nos (des)encontramos. Nossas histórias e trajetórias são circunscritas, escritas e reescritas pelo contexto cultural que nos atravessa e que atravessamos também. Diz o autor “[...] Nem tudo o que somos nos pertence. Somos o resultado de tudo. Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou” (ARROYO, 2013, p. 36).

Também com os personagens de Ciampa - o Severino e a Severina – retoma-se a concepção de identidades como resultado de uma construção social, onde o significado atribuído as representações dessas identidades, é construído e veiculado socialmente, o que a define e legitima. “[...] a identidade se concretiza na atividade social [...] Uma identidade que não se realiza na relação com o próximo é fictícia, é abstrata, é falsa” (CIAMPA, 2001, p. 86). Para o autor, nesse processo, estão envolvidas três categorias principais que se complementam: identidade, atividade e consciência.

À medida que a identidade vai se transformando, concomitantemente, ocorrem mudanças na consciência, tanto quanto na atividade. De modo que o devir do ser do homem é também um devir da consciência. Assim como apresentado por Japiassu (2001) um devir enquanto síntese da dialética do ser e do não-ser, assumindo o sentido de que a identidade é produzida por relações de contradição, de luta, negociação e permanente reconstrução.

As representações da identidade docente, na Comunidade de Quianduba, se constituem a partir das relações sociais mediadas pela cultura e pela linguagem estabelecidas no cotidiano da escola e nas vivências locais. A sala de aula é o principal espaço sociocultural onde professores e alunos se encontram e formam e transformam suas singularidades e subjetividades.

É a partir das situações reais, da prática educativa, que as representações de Professores/as são construídas e veiculadas no contexto sociocultural da Comunidade. A narrativa a seguir traz elementos importantes para essa compreensão;

[...] eu vejo os nossos Professores como pessoas muito responsáveis, eu, todos nós somos diferentes, cada um tem uma personalidade diferente. Então cada Professor, ele é um ser diferente do outro. Ele tem atitudes diferentes dos outros [...] autoridade dentro da sala, eu acho que eles conseguem ter, e isso [...] a gente percebe nos filhos da gente o resultado do trabalho do Professor. Se é um bom Professor ou não [...] (MÃE 9).

A relação professor/a X aluno/a ultrapassa os limites da sala de aula, a mãe reconhece que a atividade docente não é uma ação solitária, compreende seu papel e sua participação no desenvolvimento da aprendizagem de seus filhos. Os pais se colocam como parceiros desse processo e assumem a responsabilidade pela educação de seus filhos. No momento em que fizemos a entrevista com o grupo de pais, exatamente nessa narrativa, este pai, demonstra uma profunda compreensão da árdua tarefa que os/as Professores/as enfrentam, diariamente, no cotidiano escolar. Nesse sentido, a construção da representação de Professores/as se dá pela relação com o trabalho docente e demarca essas novas identidades, que interagem entre si, e se contrastam no interior de suas ações e nos discursos produzidos e veiculados no cotidiano pelos sujeitos que estão envolvidos com as práticas educativas.

5.2 As representações de Professores/as a partir dos saberes docentes

A aprendizagem é uma atividade constante e contínua, nascemos humanos e nossa real humanidade nos imputa a necessidade de aprender. Aprendemos a ser filhos/as, sobrinhos/as, netos/as, primos/as, entretanto, todas essas aprendizagens ocorrem através de processos interativos entre os sujeitos e suas realidades. E continuamos crescendo e aprendendo, mas ao mesmo tempo ensinando o que temos aprendido para os outros.

Na cotidianidade da docência professores e alunos produzem saberes, o que Tardif (2002) considera que são os saberes produzidos no exercício da profissão docente, por exemplo, os/as Professores/as que atuam na Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, da Comunidade de Quianduba, sabem (ou deveriam saber) os conteúdos das áreas de conhecimentos com as quais trabalham, e ainda, sabem (ou deveriam saber/ ter) domínio de técnicas e metodologias adequadas a aprendizagem dos alunos. Mas,

[...] Aí tu vem crente que tu sabe as coisas, que [...] tá preparada, quando chega na sala de aula tu vê que não é nada disso, que [...] tem que ir aprendendo ali com eles, buscando outras formas, outros meios e crescendo junto com a turma (PROFESSORA 1).

A atividade docente assume caráter de apropriação e domínio de saberes tanto teóricos quanto práticos. É no dia-a-dia da profissão que os/as Professores/as aprendem a ser Professor/a. Afirmam que a formação inicial é importante, que atribui uma identidade profissional ao Professor/a, mas, os saberes docentes, assim como para Pimenta (1999), são produzidos por significados que justificam as complexidades teóricas e práticas elaboradas na materialidade do trabalho pedagógico. Assim sendo, os saberes se efetivam na sala de aula para referendar a identidade docente fundamentados pela articulação entre o pensar e o agir como necessidade permanente para a construção de uma práxis educativa. Tal perspectiva pode ser observada na seguinte narrativa;

[...] acredito assim que pra qualquer Professor por mais que ele estude, que ele venha da sala de aula, ele cursou o magistério, ah, agora dou conta de encarar uma turma, mas ele chegou ali, quando ele começa a aula que olha para os alunos a primeira impressão. Ah! Eu vou dar conta, e logo no decorrer da aula ele percebe que não está preparado pra aquela turma, que ele tem muito que aprender, que ele precisa ir buscar muito mais, que ele precisa passar [...] uma imagem para o aluno (PROFESSORA 8).

A práxis educativa, aqui é entendida, como ação-reflexão-ação dos homens sobre a realidade no sentido de transformá-la, portanto, uma posição que nega o homem abstrato, incapaz de interferir na realidade que o circunda. Ao contrário, postula uma concepção que considera homens e mulheres, Professores e Alunos como sujeitos concretos pertencentes a um contexto sociocultural, historicamente construído, pelas lutas e resistência engendradas no cotidiano dos processos educativos. Professores e Alunos assumem mutuamente a responsabilidade de compreender suas relações com o mundo, não mais como uma realidade estática, mas como realidade em processo de transformação, na medida em que, esses atores e autores, enfrentam essa realidade como sujeitos capazes de refletir e agir coletivamente.

O cotidiano docente na Comunidade de Quianduba, revelado pela pesquisa, mostra que o saber docente é constituído em constante interação com os demais saberes mobilizados pelos Professores/as, e assim, a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão dos conhecimentos já constituídos, mas consideram que estes são frutos de uma construção coletiva, de experiências compartilhadas, inclusive, mencionam os cursos de formação continuada como lugar privilegiado de construção/reconstrução e produção de novos saberes. O contato com outros colegas professores permite a troca de experiências e a avaliação da própria prática docente.

A prática docente integra diferentes saberes, com os quais mantém diferentes relações entre esses saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais.

É evidente nas narrativas expressas que os sujeitos da Comunidade de Quianduba compreendem que é pela reflexão da ação que a prática pode ser avaliada e redimensionada, mediante a observação e a análise que fazem sobre a importância dos saberes experienciais. Ou seja, a experiência é um campo fértil de afirmação e aquisição de novos saberes docentes, o chão da sala de aula, se transforma numa nova oportunidade para aprender e ensinar, para refletir e agir na reflexão.

A representação da identidade docente se dá na medida em que o/a professor/a, assume e reconhece sua condição de ensinante/aprendente, e esta característica apareceu nitidamente nas atitudes, expressões, posturas e narrativas dos sujeitos investigados na comunidade, os quais compreendem a atividade docente como uma construção diária e permanente de saberes e fazeres peculiares ao ofício. Para eles o Ser Professor/a é sempre alguém que precisa “estar sendo”. “[...] a cada dia, a cada ano, a cada nova turma vamos aprendendo mais e melhorando nossa prática, é uma aprendizagem constante, nós não sabemos tudo, nossos alunos nos ensinam muito [...]” (PROFA. 10). Nesse sentido, encontramos uma representação de Professores/as em busca de sua real identidade profissional e sem um saber específico de fato, ao tomar consciência das limitações de seus saberes docentes e da incompletude de seus conhecimentos, e de seu próprio” Eu”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo objetivou analisar as representações de Professores/as que são construídas e veiculadas na oralidade da Comunidade de Quianduba no Município de Abaetetuba. Tendo em vista, as discussões apresentadas sobre a construção, formação e transformação das identidades, considerando que as representações de professores/as são construídas e veiculadas no interior das relações sociais estabelecidas num determinado contexto sociocultural, consideramos que:

O processo de representação transita entre as diferentes dimensões do sujeito, sendo este entendido como um “ser social” e sua subjetividade com uma interface entre o psicológico e as relações sociais, e deste com a cultura. Neste sentido, o processo de interiorização da realidade pressupõe outro processo de superação e mediação, visto que a questão está na conversão de algo nascido no âmbito social que se torna constituinte do sujeito, permanecendo “quase social” e continua constituindo o social pelo sujeito, é sempre um sujeito em vias de transformação, de mutações, de metamorfoses.

É no cotidiano da sala de aula que as representações de professores e alunos se materializam e dividem experiências e práticas que estão para além das páginas do livro didático, da grade curricular, dos manuais e programas instituídos no ambiente escolar. Eles aprendem e ensinam lições sobre fraternidade, solidariedade, partilha, comunhão e, principalmente, sobre humanidade. Lições que marcam suas histórias e reforçam a visão que os pais, alunos e servidores de apoio pedagógico têm sobre a importância e o significado do trabalho do/a Professor/a na Comunidade.

Percebemos que o tempo da escola ribeirinha, mesmo apresentando sinais iniciais de ruptura com o tempo no calendário escolar, ainda é orientado pela lógica de um padrão que segue o modelo das escolas dos centros urbanos. O calendário de dias letivos adotado na Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é o mesmo que todas as escolas da rede municipal de Abaetetuba utilizam como referência para marcar os tempos de ensinar-aprender e aprender-ensinar.

As relações afetivas constituem- se como elementos importantes nos processos de representação. Na constituição dessas representações os sujeitos vão construindo e transformando o universo cultural e simbólico da profissão docente na comunidade. Na busca de um “lugar” social, os Professores/as constroem a si mesmos e o mundo que os cerca através das representações e identificações tecidas no cotidiano de luta, trabalho, lazer, família e sociabilidade no contexto comunitário. Nessa lógica de reconstrução social, cultural e simbólica, o eixo norteador de suas práticas e dos discursos produzidos é a materialidade das vivências e experiências da prática docente. Os saberes e fazeres docentes são elementos pertinentes à construção, formação e transformação da identidade docente.

Em síntese, as representações de Professores/as construídas e veiculadas na oralidade da Comunidade e Quianduba, indicam o resgate da valorização do/a Professor/a que ainda assume posição de destaque nessa localidade, é uma voz que ganha eco e ressoa com força no convívio comunitário. Os/As Professores/as assumem a posição de liderança nas igrejas, no engajamento nas Associações locais, influenciam,

significativamente, na relação familiar de seus alunos. Além de se tornar referência como pessoas e profissionais que aconselham, propõem, orientam e cobram a participação das famílias na vida escolar das crianças e adolescentes da comunidade.

Porém, ainda existem desafios a serem superados no cotidiano docente, da Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, como: a precariedade da formação inicial e continuada, especificamente no campo da utilização das novas tecnologias educacionais; existência de muitos Professores temporários - o que ocasiona um fluxo constante nas turmas -dificultando o vínculo do/a Professor/a com os alunos.

O uso das narrativas orais nos permitiram compreender que, por ser parte desse processo, também somos, fomos ou nos sentimos personagens. A Severina de Ciampa, ao narrar sua história é autora de sua própria narrativa, mas em seu caminho, outros atores/ autores, participaram do protagonismo de sua trajetória. Toda narrativa tem em sua constituição ator/autor e ouvinte, este último por sua vez, torna-se um/uma novo/a autor/a quando o produto das análises surge como uma nova narrativa. De modo que, o papel do/a pesquisador/a neste tipo de análise, é configurar os elementos dos dados contidos nas narrativas em uma história que os unifica e lhes dá significado, com o objetivo de, mostrar o modo como cada sujeito narrador interpreta e apresenta a sua representação de Professores/as na Comunidade de Quianduba.

4Movimento dos Ribeirinhos e Ribeirinhas das Ilhas e Várzeas do Município de Abaetetuba.

5Comunidades Eclesiais de Base, ligadas a Igreja Católica, que durante o período da Ditadura Militar no Brasil se configuraram como espaço de lutas por direitos sociais em favor dos pobres e oprimidos.

6Denominação atribuída a partir de 2005, por decreto presidencial, de Projeto de Assentamento Agroextrativista Nossa Senhora do Perpétuo Socorro- PAENSPS.

7Pequena embarcação, utilizada como meio de transporte pelos ribeirinhos da Amazônia, construído em madeira com motor de propulsão.

8É uma pequena embarcação, construída em madeira, com um motor acoplado na parte traseira, conduzido manualmente por eixo de alumínio com uma cauda longa, ou rabo grande. Facilita a locomoção nos rios, furos e igarapés da região.

9Professor e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação da PUC/SP, atuando no Núcleo Interdisciplinar do Programa de Psicologia Social desenvolvendo estudos que envolvem a questão da Identidade Social a partir de uma metodologia de pesquisa com bases nas concepções do Materialismo Histórico Dialético.

10Tempo do mato: é tempo da safra do açaí, da manga e do miriti. Produtos extrativistas muito abundantes na comunidade em diferentes épocas do ano.

11É o período da pesca do camarão, da gapuia, da tapagem de igarapé – práticas ainda muito comuns na Comunidade de Quianduba, mas também é o tempo da subida e da descida das águas no rio, o que dura cerca de 6 horas entre a enchente e a vazante.

12Faz referência a localização das residências que ficam na parte final do rio. Geralmente expressões como “pra cima” “pra baixo” significam a localização que toma como ponto de orientação a entrada e o final do rio.

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Recebido: 19 de Março de 2019; Aceito: 03 de Julho de 2019

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