SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.19Nameless heroes: representations of rural and urban spaces, rural schools, teachers and students (Uberlândia-mg, 1950 - 1980)The National Campaign for the Education of the Blind: a reading from the journalistic press of the 1960s and 1970s author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Share


Revista Brasileira de História da Educação

Print version ISSN 1519-5902On-line version ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.19  Maringá Jan./Mar. 2019  Epub Mar 01, 2019

https://doi.org/10.4025/rbhe.v19.2019.e050 

Artigo Original

Educação de surdos pelo professor surdo, Ferdinand Berthier: encarando desconcertantes paradoxos e longevas lições

Deaf education by deaf educator Ferdinand Berthier: facing baffling paradoxes and long-standing lessons

Educación de sordos por el profesor sordo Ferdinand Berthier: encarando desconcertantes paradojas y longevas lecciones

Aline Lima da Silveira Lage* 
http://orcid.org/0000-0001-7786-5529

Celeste Azulay Kelman1 
http://orcid.org/0000-0002-6633-8931

1Instituto Nacional de Educação de Surdos, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.


RESUMO

Resumo: A atuação de professores surdos na educação de seus pares é um fenômeno mundial antigo, mas pouco assentado no Brasil. O professor surdo, Berthier (1803-1886), iniciou sua carreira em 1829, no Instituto de Surdos-Mudos de Paris. Trazemos aqui narrativas dele e sobre ele. Por meio dele, estão presentes durações de outros surdos, na história da sua educação. Em pesquisa bibliográfica realizada, percebemos que seu mestre, Auguste Bébian, estava disponível para imergir no ambiente de língua de sinais. Isso impulsionou Berthier à carreira docente e ao desejo de aglutinar e organizar outros surdos. Algumas de suas análises e preocupações quanto à educação de seus pares permanecem na atualidade, embora também reconheçamos que importantes avanços aconteceram, como conquistas dos movimentos sociais dos surdos.

Palavras-chave: história da educação; educação de surdos; professor; Ferdinand Berthier

ABSTRACT

Abstract: The participation of deaf teachers in the education of deaf students is an old global phenomenon, although poorly established in Brazil. We will depict deaf educator Berthier (1803-1886) who started his career in 1829, at the Institute for the Deaf in Paris. We bring here some of his narratives and others about him. Through him, other deaf durations are present in their educational history. After a bibliographical research, we bring some narratives about his professor Auguste Bébian who began to show up with sign language. Due to this fact, Berthier got motivated to begin a docent career and to gather deaf students. Some of his analysis and concerns about education of deaf people still remain, although we also recognize that there has been significant progress, like the achievements made by the deaf social movements.

Keywords: deaf education; education history; educator; Ferdinand Berthier

RESUMEN

Resumen: La actuación de profesores sordos en la educación de sus pares es un fenómeno mundial antiguo, pero poco asentado en Brasil. Retrataremos el profesor sordo Berthier (1803-1886) que inició su carrera en 1829, en el Instituto de Sordos de París. Traemos acá relatos de y sobre él. A través de él, están presentes duraciones de otros sordos, en la historia de su educación. En investigación bibliográfica realizada, percibimos que su maestro Auguste Bébian estaba dispuesto para ponerlo en el ambiente de la lengua de señas. Eso le impulsó a Berthier a la carrera docente y al deseo de aglutinar y organizar a otros sordos. Algunos de sus análisis y preocupaciones en cuanto a la educación de sus pares permanecen en la actualidad, aunque también reconozcamos que importantes avances se pasaron, como conquistas de los movimientos sociales de los sordos.

Palabras clave: historia de la educación; educación de sordos; profesor; Ferdinand Berthier

Introdução

A formação de estudantes surdos é fortalecida quando eles têm oportunidade de interagir com seus pares surdos. Quando filhas de pais ouvintes, as crianças surdas, geralmente, não são enculturadas nas referências surdas em casa, o que é agravado pelo convívio limitado ou inexistente com adultos surdos (Woodward & Markowicz, 1982), e elas se sentem isoladas em suas famílias. Por essa razão, o contato com crianças surdas de pais surdos e crianças surdas mais velhas é relevante durante o processo de enculturação (Woodward & Markowicz, 1982), assim como o contato com educadores surdos. Este artigo pretende divulgar a narrativa de um professor surdo e, por meio dela, afirmar a atuação de pessoas surdas como docentes.

Na educação brasileira, verifica-se progressivo aumento da presença de pessoas surdas lecionando. Contribuiu para tal a criação do Curso de Letras Libras oferecido como licenciatura e bacharelado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na primeira turma de licenciandos, em 2006, 90% dos estudantes eram surdos. Foram 767 licenciados de 16 Estados brasileiros (Quadros, 2015). Rebouças (2009) identificou 85 instituições de ensino superior oferecendo a disciplina de libras. Isso não corresponde ao número de estudantes surdos no segmento, mesmo diante do incremento expressivo1 desse perfil, mas o fenômeno indica que houve melhora na formação de professores de surdos. A disciplina de libras, se não permite a fluência na língua, subsidia conhecimentos sobre o perfil dos seus usuários. Suspeitamos que seja ainda modesta a atuação de surdos como professores de estudantes surdos na educação básica.

A atuação de professores surdos na educação de seus pares é um fenômeno antigo. Ao menos no período entre 1780 e parte do século XIX, quando o uso de língua de sinais na instrução era usual, “[...] vários surdos conseguiram representar e colher significância em meio aos espaços acadêmicos na Europa” (Perlin, 2003, p. 87).

Apresentamos aqui um professor surdo que lutava pela melhoria da educação de seus pares. Suas reflexões nos desconcertam, por serem reivindicações antigas e tão atuais- eis nosso desconcertante paradoxo. No Brasil, o INES, à época, Imperial Instituto de Surdos-Mudos de Ambos os Sexos, procurou acompanhar o Instituto de Surdos-Mudos de Paris, designando surdos em função docente atuando como repetidores. Sua atuação animava os alunos, como observado pelo diretor Tobias Rabello Leite em relatório de 1871, ao avaliar as lições do repetidor Flausino José da Gama. Os alunos, “[...] vendo um surdo-mudo educado n’este Instituto exercer as funções de Professor, tem a maior prova de proficuidade do ensino” (INES, 1871 apud Rocha, 2007, p. 43).

Na França do século XIX, os professores surdos alcançavam outros patamares. Os surdos já falam por si há muitos séculos, disputando espaço nos debates sobre as formas de comunicação que deveriam desenvolver - falar com o aparelho fonador, ouvir com leitura labial, falar por meio de sinais, como ensinar a ler e escrever, desenvolver e divulgar escrita de sinais. Tais convicções ancestrais são apontadas por Nascimento (2006) ao apresentar a biografia do Abade L’Épée, escrita por Ferdinand Berthier, pela qual nos concede diferentes narrativas de seus pares.

A narrativa é a forma mais antiga de transmissão de conhecimento (Grohs, 2015), ela permite acesso às sequências de eventos não canônicos, inesperados e a avaliação sobre o que provocou a contação de uma história (Bruner, 2001).

Vislumbramos compreender essas narrativas sobre a surdez sem nos confinar ao presente, dialogando com o passado e questionando o “[...] olhar cronocêntrico” (Rocha, 2009, p. 124). Entendemos o tempo como duração (Figura 1). Tempo vivido e que envolve consciência e memória. Duração como compartilhamento e a intuição de que somos parte de um todo indivisível que nos atravessa (Bergson, 2006 apud Carvalho, 2012).

Fonte:Barreto (2007), p. 164).

Figura 1 Concepção bergsoniana de percepção do tempo 

Nossa ilusão é considerar realidade apenas o que está próximo de nós (representado acima na linha horizontal) e que o presente percebido (ponto ‘I’) é o único ponto verdadeiro das lembranças (a linha vertical). Essa ilusão acontece porque os objetos ao nosso redor representam as ações que realizaremos sobre eles ou que deles sofreremos. Entretanto, também sofremos ações dos objetos mais distantes, ainda que em graus menores (Barreto, 2007).

Outra ilusão seria desconsiderar nossas lembranças escalonadas no tempo (semirreta vertical), como se só o presente (I) fosse real. Fomos habituados a buscar no passado apenas o que interessa à ação imediata, esquecendo todas as outras que não parecem úteis. Porém, nosso passado está latente em nosso presente. A conclusão das duas ilusões é que nossa duração é limitada. Somos ‘pontos’ na existência. Nossa percepção está limitada aos objetos próximos, e, ao invés de onipresentes, deixamos ‘rastros’ ao percorremos o mundo (Barreto, 2007).

Ademais, concepções historicistas costumam descrever a temporalidade como sequência de eventos em evolução e encerrados atrás de nós. Aceitando o convite de Konder (1988, p.105) ao diálogo com Benjamin, afastamo-nos dessas perspectivas. Considerando que “[...] o passado acena para nós, de longe [...]”, aproveitemos a “[...] riqueza das energias humanas encerradas nele [...]” não com arrogância de saber, mas dispostos “[...] a assimilar todas as experiências vividas pelos homens de maneira enriquecedora, todos os sonhos generosos” (p. 106). Seguimos a pista de Nascimento (2006) e retomamos a história da educação de surdos da perspectiva do Sr. Prof. Ferdinand Berthier e apresentamos concisamente seus ‘rastros’.

A história da educação de surdos em Ferdinand Berthier - os professores surdos

Sobre a história dos surdos e sua educação há um conjunto importante de pesquisas (Sacks, 1998; Skliar, 1998; Lacerda, 1998; Silva, 2006; Campello, 2008; Strobel, 2008; Tuxi, 2009; Lobo, 2015). Tais descrições se organizam por contexto, território ou acontecimentos. Apostamos, porém, nas memórias e narrativas pouco visíveis em tais esforços, como a narrativa do professor Berthier, do Instituto de Surdos-Mudos de Paris. Entre as fontes há trabalhos de pesquisadores surdos como Campello (2008), que lista nominalmente seus pares surdos reconhecidos em diferentes áreas como artes, ciências, dentre outras.

Esse debate é relevante porque há disputas sobre como contarmos a história das concepções sobre a surdez. Os movimentos sociais surdos contemporâneos denunciam a patologização da sua diferença linguística, reivindicando uma concepção socioantropológica (Campello, 2011; Rangel & Stumpf, 2012; Rezende, 2012; Brasil, 2014; Campello & Rezende, 2014; Perlin & Souza, 2015). Concordamos com Perlin (2003, p. 79) quando este diz que “[...] o historicismo2 não poupou o povo surdo [...]”, expresso na representação da invalidez.

Nascimento (2006) divulgou a versão de um surdo do século XIX sobre a história de seus pares. Sua fonte principal foi The deaf experience, na qual Harlan Lane e Franklin Philip traduziram, para a língua inglesa, textos originais de surdos (Sacks, 1998). Nascimento (2006) destacou Les sourds-muets avant et depuis l'abbé de L’Épée. Nele, Ferdinand Berthier, em 1840, enalteceu o fundador da primeira escola para surdos em Paris, e seu professor, o abade L’Épée, apresentou críticas ao método de educação empregado e discordou da forma como era narrada a história da educação de surdos na Era Moderna. É “[...] interessante observar que a história da educação dos surdos traz informações inovadoras quando narrada por um surdo” (Berthier, 1840, p.258). A autora destacou uma avaliação de Berthier: “[...] que muitos desses homens aclamados pela história como heróis são por ele considerados plagiadores e outras vezes charlatões” (Berthier, 1840, p. 258). Berthier também contesta as visões sobre os surdos da sua época. Reconhecendo a importância do livro, localizamo-lo na internet. Na tradução livre, mantivemos os termos das fontes, para nós estranhos, como surdo-mudo de nascimento, entre outros.

Pela obra, Berthier recebeu, em 26 de março de 1840, a medalha de honra da Sociedade de Ciências Morais, Letras e Artes de Seine-et-Oise. Os discursos pronunciados foram traduzidos por um aluno “[...] surdo-mudo como ele” (Berthier, 1840, p. viii), Claudius Forestier. Usando um quadro, discursou:

A imensa honra que me foi concedida preenche os desejos mais ardentes do meu coração; e minha gratidão não consegue encontrar expressões fortes o suficiente para agradecer. A recompensa que acabo de receber será o meu novo alento; muito honrado eu posso continuar o trabalho do Abade L’Épéevoss o famoso compatriota e um dos filhos mais ilustres de Versailles (Berthier, 1840, p. viii)

Berthier afirmou apresentar dados históricos das medidas que melhoraram a condição moral e social dos surdos-mudos por meio da instituição moderna; supomos que se referia à escola. Agradeceu a homenagem ao abade L’Épée e alertou ter feito com imparcialidade o julgamento das obras que manuseou. Criticou a postura de outros especialistas da área:

Deus me livre que, sobre uma falsa aparência de modéstia, eu venha a me colocar a vossos olhos como esses charlatões da humanidade que, exageram seus próprios méritos, carregando de cores fictícias o quadro da condição dos surdos-mudos mesmo antes e após sua emancipação (Berthier, 1840, p. 3).

Berthier (1840, p. 4) interpela: Que categoria os surdos-mudos ocupavam no corpo social? Destacamos sua resposta: “O quadro de estar à parte, nomeados com desprezo, empregado como algo tão dilacerante que a alma não o pode encarar sem horror”. Denunciava que, em plena metade do século XIX, estariam os surdos-mudos ainda relegados às categorias de idiotas e alienados, proscritos, degredados, cuja educação era rejeitada. Reconhecemos que a interpelação de Berthier conduz nosso presente a uma situação crítica (Konder, 1988).

Berthier (1840) retoma ‘rastros’ e eventos para fundamentar sua crítica. Alude a Aristóteles e Santo Agostinho, seguindo a história de La Trappe - ordem religiosa austera, cujos integrantes não falavam, empregando a língua dos gestos desde a sua fundação. Cita civilizações que destinavam lugares para surdos-mudos (romanos, turcos, egípcios e pensamento cristão). Berthier (1840, p. 9) chama a atenção ao grau de degradação moral imposto aos surdos-mudos e pede aos leitores atenção a um apelo do abade Sicard:

[...] o que um surdo-mudo de nascimento considerava sobre si mesmo - se é que ele questionava segundo um discurso preliminar a sua instrução - antes de uma educação qualquer, como começou a se ligar à grande família que, por sua forma exterior, ele pertence? Este é um ser perfeitamente nulo na sociedade, um autômato vivendo, uma estátua, tal como Charles Bonnet (biólogo e filósofo suíço) apresenta, e depois dele Condillac; uma estátua na qual é preciso abrir, um após outro, dirigir seus sentidos, e compensar no que ele é infelizmente privado. Limitado apenas ao movimento físico, ele nem sequer, antes que tenha rasgado o envelope no qual sua razão permanece enterrada, o instinto segura.

Pensava-se que os surdos-mudos não teriam meios de se comunicar sem signos, com raciocínios fixos e limitados. No aspecto moral, não seriam capazes de suspeitar mesmo sua existência, reportando-se apenas a si mesmos, rendendo-se à violência.

O espanto aumenta quando vemos um professor de surdos-mudos, cujo dever de todos os dias deveria ser convencido do contrário, persistir em perceber seus discípulos ignorantes, abaixo dos animais mais estúpidos, e acumular paradoxos sobre paradoxos a fim de demonstrar uma proposição também falsa (Berthier, 1840, p. 11).

A opinião segundo a qual sem a fala era impossível desenvolver ideias abstratas era tão enraizada “[...] que a multidão viu passar impassível os procedimentos mais ou menos exitosos de Pedro de Ponce e de Bonnet na Espanha, de Gregory e de Wallis na Inglaterra, de Amman na Holanda, de Pereire3 e do Abade Deschamps na França” (Berthier, 1840, p. 14).

Pedro de Ponce (1520-1584), beneditino do mosteiro espanhol d’Ona, foi reconhecido como o primeiro a educar surdos-mudos. Berthier (1840) lembrou que outras pessoas, isoladas entre si, tentaram tal feito, nomeando Jean Pasck (que formou dois filhos e não difundiu seus métodos) e Girolamo Cardano (1501-1576). Este, reconhecido como “[...] uma das maiores cabeças de sua época” (Berthier, 1840, p. 15), apresenta um exemplo, exposto na obra Paralipomenon, no capítulo 3, tomo XVI da Coleção das Obras de Cardano, de como fazer surdos-mudos “[...] ouvir a leitura e conversar por escrito” (Berthier, 1840, p. 15): para provocar o pensamento da palavra ‘pão’, escrevê-la e mostrar o objeto ao mesmo tempo; sua memória retém essa significação; “[...] ele contempla com seu espírito a imagem das coisas” (Berthier, 1840, p. 15). Assim como os diversos sons emitidos pela voz humana são convencionados, os diversos caracteres traçados por escrito podem receber, também pelas convenções, um valor similar. Ao admitir que o surdo-mudo deveria aprender a ler, e nesse método, embora o considerasse difícil, Cardano, do séc. XVI, se soma às críticas sobre ensino da escrita para pessoas surdas em bases logofonocêntricas (Quadros, Strobel & Masutti, 2011; Simões, Zava & Kelman, 2011) e reconhece as línguas de sinais.

Exprimir um grande número de ideias por sinais [...[. As mímicas romanas são um exemplo. Conta-se de um rei bárbaro, [que] impressionou com uma verdadeira linguagem por gestos, exigindo ao imperador dois dos seus estados [...]. A escrita se associa à palavra falada e essa ao pensamento; mas a escrita pode também traçar novamente e de forma direta o pensamento sem intermediação da palavra falada, testemunham as escrituras hieroglíficas, cujo caráter é inteiramente ideográfico [...] (Cardano apud Berthier, 1840, p.16).

A seguir, Berthier (1840) descreve o trabalho de Pedro Ponce, apontado como um dos criadores da arte de desvendar a língua dos surdos-mudos. Seus alunos tinham instrução elevada, eram dois irmãos e uma irmã do connétable4 de Velasco. Eles discursavam em público sobre astronomia, física e lógica. Após a morte de Pedro Ponce, assumiu quem Berthier denominou Pedro Bonnet, ou Juan Pablo Bonnet (1573-1633). Secretário do mesmo condado, encarregou-se de instruir surdos e publicou, em 1620, Arte para ensenar a hablar à los mudos5, apresentando alfabeto manual, descrição dos movimentos dos órgãos vocais aptos para emissão de sons e alfabeto labial, que parecia secundário. Após isso, Berthier observa:

Contudo, ‘não podemos nos abster de um sentimento de surpresa em ver atribuir-se o mérito desta descoberta, mérito que poderia reivindicar a título justo à Ramire de Carion’ (Manuel Ramirez de Carrion), seu concorrente. ‘Este era surdo-mudo de nascimento, bem-sucedido’, segundo o julgamento dos avaliadores de sua época, num evento no qual concorria para mostrar se seria capaz de educar Emmanuel Philibert, Príncipe de Carignan, surdo-mudo. Esse não se mostrou menos hábil que seu mestre para ler e pronunciar um pequeno número de palavras. Seu livro, que me foi revelado nove anos após o de Bonnet, teve por título Maravillas de naturaleza, en que se contienen dos mil secretos de cosas naturales, 1629 (Berthier, 1840, p.18, grifo nosso).

Ele sugere que tentaram obliterar o trabalho de um de seus pares. Manuel Ramirez de Carrion (1579-1652), surdo, era mestre e secretário do marquês de Priego. Seu livro não tratava de educação, oferecia “[...] mil segredos de coisas naturais, dispostas na forma de aforismas, e recolhido de lições de diversos e grandes autores” (Carrion, 1629, p. xviii). Mas o aspecto da natureza que mais desenvolveu foi a sordez da página 127 até 130. Ao contrário de outros verbetes, Carrion esmiúça-o em seis páginas, apoiado em seus próprios conhecimentos, pelo uso do termo Expertus (Carrion, 1629, p. xxiii).

A princípio, não compreendemos a contestação de Berthier. Porém, na seção A La curiosidad del lector, Carrion afiança ter desenvolvido seu trabalho ao longo de muitos anos. Suplica-nos não o condenar por mentiroso, pois “[...] julgar por impossível o que não alcançamos é uma imprudente presunção de pensar que sabem, até onde chegam ao final da possibilidade, querendo estabelecer com ela os limites do verdadeiro e do falso” (Carrion, 1629, p. xviii-xix).

Quem acreditaria, antes de tê-lo visto, que num conjunto de somente vinte e quatro letras, que contém o alfabeto (não é este o lugar de disputar se deveriam ser mais) puderam falar os mortos com os vivos, os passados com os presentes, e os que estão em Madri, com os que habitam as províncias mais remotas? [...] Do primor da imperfeição? [...] E porque não, poderíamos enumerar entre os maiores (ainda que seja em causa própria) na Arte de ensinar a ler, escrever e falar vocalmente aos mudos? Aos que tenham nascido surdos, aos que ensurdecem na infância por algum acidente, de cujo ensino eu aprecio tanto, e tenho bastantes e qualificados exemplos (Carrion, 1629, p. xix-xx).

Ele cita seus alunos: o marquês de Priego, a quem ensinou desde pequeno, fazendo-o falar, ler e escrever com perfeição; o marquês de Frexno, irmão do Condestable de Castella, de “[...] cujo ensinamento me ocupei por quatro anos, e ainda que tenha havido intervalos nesse, que me deixaram apenas alcançar os três, leu, escreveu, fala e discursa com tanto acerto que não se reconhece outro impedimento se não a surdez” (Carrion, 1629, p. xx-xxii); donJuan Alonso de Medina, desde 18 meses de idade; don Antonio Docápo; e Benaudes Cavallero. Outros alunos faleceram ou eram ausentes, ainda que com manifesta demonstração de verdadeira arte.

Pois não é de passar em silêncio outra iniciativa minha, que não estimo de menos, que é ter reduzido o modo de ensinar a ler num método tão fácil, e ter ao término já breve, para levar um menino em quinze dias a aprender a ler um texto, que em outros lugares chamam de decorar, com a perfeição como se tivera apreendido dois anos pela forma que comumente se ensina nas escolas (Carrion, 1629, p. xxvi).

Carrion foi indagado sobre seu método e pediu licença para não o divulgar. Ele garantia que o propósito do livro não era ganhar nobreza e que divulgaria seus métodos após os juntar, pois parecia que curiosos e interesseiros queriam tirar proveito do seu trabalho. Ou seja, seguiu a tendência ao sigilo, tal como seus coetâneos. Considerava válido preparar escolas maiores.

Carrion insinuava seu método quando afirmava que a língua dos surdos estava livre para articular e que os principais exemplos estavam entre os surdos a quem se ‘ensinou a falar com a arte’, meios extraordinários para informar a língua. Ao final do verbete, afirmou que

Os mudos (como tenho provado com a razão e a experiência) têm a língua livre e articulam o que lhes se ensina, os quais antes de ser ensinados não falam e deveriam falar a linguagem natural, pois que se encontraram atrapalhados com ela na pronúncia; vemos que não o fazem; logo segue-se que a natureza lhes deu senão a disposição para aprendê-la e o instrumento que é a língua para o exercitar (Carrion, 1629, p. 130).

Logo, por Berthier (1840) conhecemos Carrion. Surdo e professor de surdos, desenvolvendo técnicas próprias e que havia ensinado aos jovens relacionados a Bonnet. Como estava ainda organizando a divulgação de seu trabalho, poderia estar se referindo à língua de sinais quando aludia à ‘linguagem natural’? Esta poderia ter sido transmitida a Bonnet, uma vez que teve contato com alunos de Carrion? Por ora só podemos especular.

A maior parte da história que Berthier narra acompanha o conteúdo das fontes atuais (Sacks, 1998; Skliar, 1998; Lacerda, 1998; Silva, 2006; Campello, 2008; Tuxi, 2009; Lobo, 2015) ou vice-versa. Berthier (1840) descreve outras iniciativas.

Pedro de Castro, médico espanhol, contemporâneo de Carrion, foi exitoso na educação do filho do príncipe Thomas de Savoie. John Wallis, professor da Universidade de Oxford, considerado o primeiro inglês a se consagrar com essa ‘obra da humanidade’, autor de Grammatica lingæ anglicanæ, na qual reuniu o que se conhecia, percebendo o uso incorretoda linguagem dos gestos. Berthier inicialmente notou que Beverly (Transactions philosophiques de Londres, 1698), citado por Wallis, adotava sinais na sua atividade, mas percebeu que se tratava de uma ferramenta para a compreensão de letras que usava o movimento dos dedos. Tal avaliação se aproxima do que Lacerda (1998) retrata acerca da Comunicação Total difundida nos anos de 1980. Esse método de educação utilizava os sinais apenas como auxiliares da fala, oferecendo acesso ilusório uma vez que alunos não aprendiam uma verdadeira língua.

Berthier (1840) menciona outros ingleses que ensinavam a fala articulada (Jean Bulwer, William Helder, Degby e Gregory), cita o holandês Van Helmot e o suíço Conrad Amman, cujas ideias influenciaram a educação de surdos na França, em especial as publicadas em 1692 (Surdus loquens), ampliadas em 1700 (Dissertation sur la parole), interessando a muitos, incluindo ao abade L’Épée.

Da Alemanha, Berthier (1840) refere-se aos professores Kerger, Georges Raphael, Othon-Benjamin Lasius, Pasteur Arnoldi. Este, “[...] partidário do desenho, insistia no emprego da linguagem mímica para facilitar a tarefa do professor e garantir o sucesso do aluno” (Berthier, 1840, p. 21) e cuja obra, em 1777, teve “[...] o mérito de divulgar sábios conselhos, instruções úteis, observações certíssimas sobre as disposições naturais dos surdos-mudos” (p. 22). Enfim, aponta Heinicke, diretor da escola de surdos-mudos de Leipzig, de base oralista, fundada em 1778.

Acerca dos professores franceses, Berthier destaca que, antes de L’Épée, “[...] diversos professores tanto franceses quanto estrangeiros que se sucederam com ou mais sucesso, todos, se desviaram do objetivo e os louros recolhidos devem ser depositados aos seus pés, como lhe é de direito” (Berthier, 1840, p. 22). Antes de L’Épée, na metade do século XVIII, Padre Vanin (ou Famin) e a senhora Santa-Rosa, religiosa da Cruz do Subúrbio de Saint-Antoine, iniciaram o trabalho de caridade - um por meio de impressões relatando os principais fatos da História Sagrada, o outro por meio do alfabeto manual e de sinais naturais. Berthier alude ao judeu6 português Jacob Rodrigue Pereire. Em Paris, Pereire “[...] atribui a si próprio o mérito de ter demonstrado a primeira arte de fazer falar esses infortunados” (Berthier, 1840, p. 23), apresentando o jovem d’Azy d’Étavigny, seu primeiro aluno, em 7 de junho de 1750, à Academia de Ciências. Apresentou o mesmo aluno ao rei Luís XV que o interrogou por sinais e por escrito e, satisfeito, acertou com Pereire uma pensão de 800 francos, “[...] independente do título de seu secretário intérprete para a língua dos surdos-mudos” (Berthier, 1840, p. 23). Percebemos que o discípulo põe suspeita sobre um grande oponente de seu mestre.

Berthier indaga se a leitura e a escrita pela dactilologia - “[...] este é o nome grego que Pereire designa ele mesmo a linguagem dos dedos” (Berthier, 1840, p. 24) - combinam-se num sistema ou se a pantomima é tratada como um recurso estranho. Ernaud, outro interessado na educação de surdos, também obteve aprovação e título da Academia de Ciências, expondo método apoiado no alfabeto gutural. Berthier avalia que eles copiavam Wallis, Bonnet e Amman, cujas obras teriam visto, ao contrário do abade L’Épée (p. 38). Seriam eles charlatões da humanidade? Berthier nos apresenta seu apelo:

‘Longe de nós a pretensão que a mímica tenha sido levada até seus últimos limites! Mas ela só precisa, para chegar lá, dos esforços reunidos de todos os diretamente interessados’. Contudo, à distância onde se encontram uns dos outros os professores das diversas escolas de surdos-mudos, em meio da indiferença geral que acolhe os saberes dos estudiosos que se entregam a este ensinamento que acreditamos tão limitado e que é assim, como alcançar o ponto de conseguir fixar os sinais mímicos no seu papel, como conseguir estabelecer os sinais de aritmética e de álgebra? ‘Tal trabalho não é impossível, mas oferece grandes dificuldades’. [...] uma obra, se interessante, não deixará de provocar, cedo ou tarde, meditações e pesquisas, que irão refletir de volta para esclarecer acerca do estudo do entendimento humano e sobre uma série de questões observadas até hoje como sendo de uma dificuldade insuperável (p. 31-32, grifo nosso).

No século atual, resultado das conquistas dos movimentos surdos, o interesse pelas línguas de sinais aumentou. Além da sua divulgação e ampliação da atuação de tradutores intérpretes, criaram-se recursos tecnológicos para facilitar a comunicação, embora atentemos à diferença entre comunicação para informar e comunicação para instruir (Paschuini, 2015). Como previsto por Berthier (1840), a comunidade científica mundial contemporânea compõe glossários e estratégias de ensino pelos quais procura suprir a deficiência comunicacional com os surdos. No Brasil, Barral,Pinto-Silva e Rumjanek (2017) representam um exitoso exemplo.

Berthier (1840, p. 32) nos mostra “[...] um filão precioso que vai me compensar todo o meu trabalho [...]” e pede-nos licença para falar do abade Deschamps e do Cours élémentaire de l’éducation des sourds-muets, publicado em 1779. Nele, concebia que os alunos ampliariam suas ideias se aprendessem a pronunciar as palavras sem falhas, corrigindo-as e combinando-as, como as crianças comuns. Mas Berthier mostrou uma crítica ao estabelecimento da pronunciação no primeiro período e do ensino e da mímica no segundo,

[...] uma crítica judiciosa, um duro combatente no surdo-mudo Desloges, pobre encadernador, estudante de pantomima, como ele mesmo diz, um surdo-mudo de nascimento, italiano na nacionalidade, funcionário da casa de um escritor da Comédia italiana, não sabe ler nem escrever (Berthier, 1840, p. 33-34).

O professor surdo contrastou o autor à narrativa de Desloges que ensurdeceu após contrair varíola aos sete anos de idade.

Os dois acidentes da surdez e do mutismo ocorreram ao mesmo tempo, e por isso digo, sem que eu percebesse. Durante o decurso de minha doença, que durou quase dois anos, meus lábios estavam tão relaxados, que eu não podia firmá-los sem um grande esforço que não colocando a mão. Eu também perdi quase todos os meus dentes: principalmente a essas duas causas que eu atribuo meu mutismo.

No início de minha enfermidade, e como eu não convivia com surdos-mudos, eu não tinha outro recurso para me fazer entender que a leitura ou minha pronúncia ruim. Eu não me servia senão de sinais dispersos, isolados, sem sequência e sem ligação. Eu não sabia que a arte de os reunir poderia formar imagens distintas pelas quais nós podemos representar diferentes ideias, transmitindo-as aos semelhantes, conversar com os mesmos em discursos sequenciados e com ordem. ‘O primeiro que me ensinou esta arte tão útil foi um surdo-mudo de nascimento, italiano, que não sabia ler nem escrever’; ele era empregado na casa de um autor da Comédia italiana. Ele serviu depois muitas grandes casas, e notadamente a casa do Sr. Príncipe de Nassau. Eu conheci esse homem aos vinte e sete anos, e oito anos após que eu fixei residência em Paris (Desloges, 1779 apud Berthier, 1840, p. 34-35, grifo do autor).

O livro de 1840 confirma a importância das línguas de sinais e nos interpela. A vida de muitos surdos ainda tem sido marcada por desolação e invisibilidade, em especial, salas de aula inclusivas do século XXI (Kelman & Buzar, 2012). Precisamos acompanhar o professor Berthier, citando um trecho da carta que um trabalhador surdo-mudo encaminhou à redação do Journal Encyclopédique de Bouillon, de fevereiro de 1780. Impressiona a semelhança das histórias:

Várias pessoas, ele diz, parecem surpresas que eu seja dado como o epíteto de um autor estrangeiro de natureza singular. Eles ignoram que nunca escreveria numa situação parecida com a minha. Eu os faço juízes, senhores. Surdo-mudo após a idade de sete anos, abandonado a mim mesmo e não tendo recebido nenhuma instrução depois dessa época onde eu sabia somente ler e escrever um pouco; vim à Paris aos vinte e um anos, fiz-me aprendiz contra a vontade e a opinião de meus pais que me julgavam incapaz de aprender; obrigado a encontrar um trabalho para subsistir; sem apoio, sem proteção, sem recursos; internado duas vezes no hospital, faltoso no trabalho; forçado a lutar sem cessar contra a miséria, a opinião, o pré-julgamento, as injúrias, as provocações ofensivas dos meus pais, de amigos, de vizinhos, de irmãos que me tratam por besta, imbecil, de louco que afirma ter mais espírito do que eles, mas que será colocado algum dia na Petites-Maison7, eis, senhores, a situação do estranho autor surdo-mudo; eis os incentivos, os conselhos que recebeu. Estas são as circunstâncias, as ferramentas em uma mão, a pena da outra, que compôs essas observações (Berthier, 1840, p. 35-36).

O restante do livro é muito interessante por aprofundar o trabalho do abade L’Épée. Sua pesquisa foi realizada no século XIX e é provável que tenha acessado levantamentos presentes no Instituto de Surdos-Mudos de Paris, tais como o realizado pelo barão de Gérando (Berthier, 1840, p. 17) ou por Bébian, seu professor e o primeiro a estudar sistematicamente a língua de sinais francesa, defendendo-a de argumentos dos oralistas (Quartararo, 2002). Contudo, indagamos se as escolas atuais oferecem condições às pessoas surdas para realizar, mesmo com recursos tecnológicos, obra semelhante.

Destacamos que essa versão da história envolve surdos na situação de mestres e/ou de críticos das propostas educacionais em voga. Impressiona-nos que esses não sejam citados na maior parte das cronologias. Poucos surdos são citados como profissionais exitosos na educação de seus pares. A seguir, apresentamos melhor Berthier, autor de obras que impressionaram seus pares e contemporâneos, como o escritor Vitor Hugo.

Trajetória de Ferdinand Berthier

Ferdinand Berthier: surdo-mudo, decano dos professores do Instituto Real de Surdos-Mudos de Paris, cavaleiro da Legião de Honra, presidente da Sociedade Central de Surdos-Mudos.

INJS (2018), p. 164).

Figura 2 Foto de Ferdinand Berthier 

Em seus livros eram apresentadas atividades e congratulações alcançadas por Berthier (Figura 2) entre surdos-mudos e na comunidade científica. Surpreendemo-nos ao saber que o professor teve laços com o Brasil, como a capa a seguir (Figura 3) indica:

INJS (2018), p. 164).

Figura 3 Capa do livro de Ferdinand Berthier (1840

Berthier foi correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB). Na 25ª sessão do IHGB, de 30 de outubro de 1839 (Figura 4), presidida por José Feliciano Fernandes Pinheiro, foi apresentada uma lista de candidatos a colaboradores, enviada da França por Monglave e proposta pelo 1º secretário perpétuo, o conde Le Peletier d’Aunay, presidente do Instituto Histórico da França. Entre eles, consta Ferdinand Berthier (surdo-mudo). Duas décadas antes de haver escola de surdos, o Brasil nomeou um cidadão francês e professor surdo de surdos para um posto científico.

Fonte: Brasil (1908, p. 284)

Figura 4  Ata da 25ª sessão em 30 de outubro de 1839  

Ferdinand Berthier era surdo-mudo de nascimento. Iniciou sua formação no instituto em 1811, aos oito anos, tendo nascido na cidade de Louhans. Vivenciou o intenso desenvolvimento urbano do país, destacando-se o período de 1799 a 1814, quando Paris tornou-se capital do Império Napoleônico (Quartararo, 2002). O estabelecimento dirigido pelo abade Sicard (de 1800 a 1822) contava com uma pequena equipe de professores que cuidavam da educação de 60 estudantes de ambos os gêneros (ibidem). Encontrou Berthier no mestre Auguste Bébian (1789 - 1839) -ouvinte, afilhado do diretor e chegado ao instituto nove anos antes - alguém disponível para imergir no ambiente de língua de sinais.

Berthier pôde se identificar com dois surdos: Jean Massieu (1772-1846) e Laurent Clerc (1785-1869). Destacados alunos, ajudavam na divulgação do trabalho pedagógico do instituto. Massieu foi nomeado para exercer um cargo de ensino em 1794, e, no livro sobre Sicard (Instituto Nacional de Educação de Surdos [INES], 2012), Berthier reproduziu fragmentos das memórias do colega:

Na quarta-feira de 7 de janeiro de 1795, nós fomos nos apresentar à Convenção Nacional para pedir verba. Permitiram-nos entrar na sala. Eu fui nomeado, por decreto, repetidor dos Surdos-Mudos de Paris. A convenção me deu uma pensão de 1200 libras (INES, 2012, p.170).

Massieu auxiliou a formação de Clerc. Este, por sua vez, acompanhou Thomas Gallaudet para assumir um posto docente nos Estados Unidos - que originaria a Gallaudet University, universidade de surdos, hoje situada no Estado de Maryland. Em publicações, Berthier explicita sua admiração pelo mestre Bébian que lhe sugeriu seguir a carreira docente. Este publicou Mimographie, ou Essai d’écriture mimique, propre a régulariserle langue dessourds-muets, em 1825, no qual argumenta que a língua dos surdos-mudos deveria ser usada em sala de aula “[...] e que os professores deveriam ser surdos” (Tuxi, 2009, p. 6). Em 1829, Ferdinand Berthier foi o primeiro surdo intitulado professor no Instituto de Surdos-Mudos de Paris (Stinckwich, 2006).

Na primeira metade do século XIX, os jovens franceses de baixa renda só exerciam atividades braçais, sendo os surdos ainda mais marginalizados. Apenas um seleto grupo era iniciado em atividades como sapataria, impressão ou construção. A missão do Instituto de Surdos - importada também para o caso brasileiro - era preparar os alunos de ambos os sexos para se sustentarem nessas ocupações quando retornassem para seus locais de origem. Bébian (Tuxi, 2009) criticava essa baixa expectativa. Berthier conseguiu subverter a lógica de um ambiente que favorecia as habilidades práticas em detrimento do pensamento abstrato (Quartararo, 2002).

Como já vimos, Berthier foi biógrafo de professores de surdos e de colegas seus e zelava pela manutenção dos rastros de seus antecessores. Contextos adversos parecem ter provocado o ativismo de Berthier.

As grandes mudanças políticas da França constituíram um período desafiador para o professor e o instituto: Bébian foi forçado a sair porque contestava as condições precárias de atendimento aos alunos, por causa da administração, chegando ao confronto físico com o professor Paulmier, em 1821. Em 1830, Berthier acompanhou um grupo de alunos que reclamaram sobre o novo diretor, o abade Borel, ao ministro, por ser muito rígido e severo. No mesmo ano, com o professor Alphonse Lenoir, pediu uma audiência ao rei Luís Felipe e defendeu que as pessoas surdas precisavam “[...] partilhar dos benefícios da […] instrução” (Berthier, 1830 apud Quartararo, 2002, p. 187). Berthier tentou tirar proveito do momento conturbado para formar professores para a causa das pessoas surdas da França, sem êxito (Berthier, 1830 apud Quartararo, 2002).

A segunda motivação para o ativismo de Berthier (de 1820 a 1830) envolveu o debate sobre o ensino de línguas. O oralismo ganhou novos adeptos influenciados pelos experimentos de fala articulada conduzidos por Jean-Marc-Gaspard Itard (1774-1838) e que contribuíram -e ainda contribuem - para a produção de discursos e práticas que patologizam a surdez (Rezende, 2012).

Itard foi médico chefe residente do Instituto de Paris de 1800 até 1838 (Stinckwich, 2006). Victor de Aveyron foi encontrado na floresta e, por ordem do governo, Itard, o atendeu no Instituto e em sua residência, sob a tutoria de Mme. Guérin. Em outubro de 1800, o Instituto de Paris foi obrigado, por regimento, a ter no seu quadro um oficial de saúde. As tentativas de ‘educar’ o menino não lograram êxito e o médico voltou-se para a surdo-mudez (LANE, 1984). Ele convenceu muitos colegas médicos que seria possível curar a surdez. A situação ficou mais crítica quando um novo diretor, Désiré Ordinaire, incorporou a pedagogia médica de Itard num novo currículo para o qual os professores não estavam preparados (Stinckwich, 2006).

Os professores surdos que não oralizavam e usavam língua de sinais instruíam apenas os alunos considerados inaptos à nova metodologia. Assim, professores como Berthier e Lenoir testemunharam um efetivo rebaixamento em seus status de trabalho (Quartararo, 2002). Após a morte de Itard, em 1838, e a posse de um novo diretor mais afeito à língua de sinais, Berthier pôde retomar seu ativismo entre os surdos de fora do instituto (Quartararo, 2002).

Os banquetes que organizava permitiam aos surdos troca de ideias, difusão da língua de sinais e mútuo apoio. A presença dos surdos ausentes da história oficial “[...] foi descobrindo nos banquetes improvisados para os encontros onde entre surdos se falava muito de política evidenciando inclusive o aspecto passa despercebido como povo surdo e nação surda” (Perlin, 2003, p. 81). Reunia uma elite masculina, não havia um discurso único e os textos revelam alto nível discursivo voltado às prioridades da comunidade, contemplando princípios identificáveis ente os surdos menos literatos (Perlin, 2003). O primeiro ocorreu em 30 de novembro de 1834, recordando o nascimento do abade L’Épée. Tais eventos ganharam visibilidade em Paris, incentivando o associativismo (Schmitt, 2008). A associação francesa de 1838 estimulou a fundação da associação argentina, em 1912, por don José Antorio Terry. Armando Melloni foi à Argentina e trouxe o modelo para o Brasil, em 1954 (Schmitt, 2008).

Berthier foi um intelectual notável. Encontramos dez obras suas publicadas desde 1836 até 1873. Além das já citadas, destacamos a que refuta as opiniões de Itard sobre as faculdades intelectuais e qualidades morais dos surdos-mudos (Traité sur lês maladies de l’oreille et de l’audition de 1837).

Surl’opinion de feule Docteur Itard relative aux facultes intellectuelles et auxqualités Morales des sourds muets (1852) é fruto de um dossiê entregue pelo professor em 1840, dois anos após a morte de Itard, à Academia de Medicina, de Ciências Morais e Políticas da França. Nele, Berthier denuncia o isolamento imposto aos surdos, fato que a sociedade deveria deplorar por acarretar consequências terríveis e fatais. Declarou ser falso e exagerado atribuir ênfase na fala e na audição. Afirmou que a mímica era o meio para superação do isolamento e que os prejuízos sofridos pelos surdos-mudos decorriam do fato de serem considerados “[...] como formando uma raça à parte, distinta da raça humana, à qual nenhum lugar está destinado” (Berthier, 1852, p. 49). A academia avaliou o dossiê, fez observações, recomendando a publicação, se houvesse a segunda edição do livro de Itard, e assim foi feito em 1852.

Berthier não denunciou abertamente os experimentos e procedimentos médicos praticados no instituto. Todavia, garantiu que os alunos relatavam sofrimentos ao serem tratados por Itard e que ficavam muito tempo na enfermaria (Berthier, 1852). A denúncia seria realizada pelo médico Prosper Ménière, solicitado para continuar o trabalho de Itard. Aquele estudou a nova ciência otológica e descobriu que as crianças eram sujeitas à terapia “[...] a mais dolorosa, a mais bárbara, a mais absurda e das mais inúteis” (Ménière, 1853 apud Lage, 2016, p. 26). Compreendeu que precisava proceder diferente. O modelo de Itard só poderia ser justificado no empirismo mais cru ou em “[...] terrenos de propriedade privada, mas que a consciência desaprova” (Ménière, 1853 apud Lage, 2016, p. 26).

Sob diferentes ângulos, Berthier estava à frente do seu tempo, enfrentou um ambiente hostil e conseguiu ir além dos limites impostos. O professor faleceu em 1886.

Considerações finais

“O que interessa a surdez da orelha, quando a mente ouve. A verdadeira surdez, a surdez incurável, é a da mente” (Vitor Hugo para Ferdinand Berthier)8.

Aprendemos com o professor que a história dos surdos pode ser sempre revisada, tendo por perspectiva a narrativa dos surdos. Tal história permanece aberta e desconcerta mentalidades cristalizadas. Não se trata de “[...] eterna repetição do mesmo” (Konder, 1988, p. 104), mas de luta por singularização, pela dignidade humana, atravessando todos os tempos.

As invisibilidades e estereotipias permanecem? Conjecturamos se tratar de processos de inviabilização e de estigmatização, portanto, elas se atualizam. A progressão da visibilidade foi obliterada, todavia, a contrapelo, tem-se modificado isso. Os surdos de tempos idos deixaram seus rastros. Seus pares dos tempos atuais têm divulgado as histórias dos antecessores em pesquisas acadêmicas (citamos aqui algumas) e em diferentes plataformas na internet, como o canal que Antonio Abreu mantém no YouTube9. Os rastros têm potencial para desconsertar cânones.

Por fim, percebemos que o mestre mais próximo de Berthier, Auguste Bébian, estava disponível para imergir no ambiente de língua de sinais dos seus alunos, ou seja, disponível a fazer surgir e ensinar a língua de sinais a seus alunos surdos, e isso o impulsionou à carreira docente e ao desejo de aglutinar e organizar outros surdos. Surdos precisam ser educados privilegiando a língua de sinais. Continuaremos a defender isso. Parece recente, mas é pleito antigo, continua novo. Eis o nosso dilema: Por que afirmar o que já fora afirmado? [Pleonasmo mantido] Por que ainda é preciso afirmar a presença de professores surdos na educação de surdos?

Referências

Ata da 25ª sessão em 30 de outubro de 1839 do Instituto Histórico e Geográfico do Brazil. (1908). Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brazil (3a ed., Tomo I). Rio de Janeiro, RJ: Imprensa Nacional. [ Links ]

Barral, J., Pinto-Silva, F. E., & Rumjanek, V. M. (2017). Vendo e aprendendo. In T. Lebedeff (Org.), Letramento visual e surdez (p. 95-127). Rio de Janeiro, RJ: WAK. [ Links ]

Barreto, M. (2007). O anacronismo do tempo: um debate atual entre Einstein e Bergson (’de Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Campinas. [ Links ]

Berthier, F. (1840). Les sourds-muets, avant et depuis l’abbé de L’Épée. Paris, FR: Ledoyen. Recuperado de: http://www.biusante.parisdescartes.fr/histoire/medica/resultats/?cote=67658&do=pagesLinks ]

Berthier, F.(1852). Sur l'opinion de feu le Docteur Itard relative aux facultés intellectuelles et aux qualités morales des sourds muets.Paris, FR: Michel LévyFrères. [ Links ]

Brasil. (2014). Relatório sobre a política linguística de educação bilíngue: língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Brasília, DF: MEC/SECADI. Recuperado de: https://goo.gl/dhxCUyLinks ]

Bruner, J. (2001). A cultura da educação. Porto Alegre, RS: Artmed. [ Links ]

Campello, A. R. S. (2008). Aspectos da visualidade na educação de surdos (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. [ Links ]

Campello, A. R. S.(2011). A Constituição histórica da língua de sinais brasileira: século XVIII a XXI. Mundo & Letras, 2, 08-25. [ Links ]

Campello, A. R., &Rezende, P. L. F. (2014). Em defesa da escola bilíngue para surdos: a história de lutas do movimento surdo brasileiro. Educar em Revista, ed. esp., 71-92. [ Links ]

Carrion, M. R. (1629). Maravillas de naturaleza, en que se contiene dos mil secretos de cosas naturales. Montilla, ES: Imprensa Marquês de Priego. Recuperado de: https://goo.gl/NpDxcj. [ Links ]

Carvalho, R. F. (2012. Entrelaçamentos entre Bergson e Prigogine: tempo, ciência e natureza. Revista História, 1(1), 103-118. [ Links ]

Esdras, D., & Galasso, B. (2017). Panorama da educação de surdos no Brasil: ensino superior. Rio de Janeiro, RJ: INES. [ Links ]

Foucault, M. (1979). Microfísica do poder. Rio de Janeiro, RJ: Graal. [ Links ]

Grohs, A. C. C. P. (2015). Em busca de (novas) narrativas na universidade. In Anais do 1º Congresso Internacional de novas narrativas: encontro de narrativas de comunicações e artesdo Grupo de Estudos de Novas Narrativas (p.681-692). São Paulo, SP. [ Links ]

Institut National de Jeunes Sourds de Paris [INJS]. (2018). Ferdinand Berthier (1803-1886). Recuperado de:http://www.injs-paris.fr/page/ferdinand-berthier-1803-1886Links ]

Kelman, C. A., &Buzar, E. A. S. (2012). A (in)visibilidade do aluno surdo em classes inclusivas: discussões e reflexões. Espaço, 37, 04-13. [ Links ]

Konder, L. (1988). Walter Benjamin: o marxismo da melancolia. Rio de Janeiro, RJ: Campus. [ Links ]

Lacerda, C. B. F. (1998). Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Caderno CEDES, 19(46), 68-80. [ Links ]

Lage, A. L. S. (2016). O implante coclear no processo de medicalização e produção de subjetividades surdas. In Comissão de Psicologia e Educação do CRP-RJ (Org.), Conversações em psicologia e educação. Rio de Janeiro, RJ: CRP 5ª Região. Recuperado de:https://goo.gl/39HtJN. [ Links ]

Lane, H. L. (1984). When the mind hears: a history of the deaf. New York, NY: Random House. [ Links ]

Lobo, L. F. (2015). Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Lamparina. [ Links ]

Nascimento, L. C. R. (2006). Um pouco mais da história da educação dos surdos, segundo Ferdinand Berthier. Educação Temática Digital, 7(2), 255-265. [ Links ]

Paschuini, E. A. (2015). A infoinclusão de alunos surdos na educação de jovens e adultos utilizando o aplicativo Hand Talk em sala de aula (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Paraná, Curitiba. [ Links ]

Perlin, G. T. T. (2003). O ser e o estar sendo surdos: alteridade, diferença e identidade. (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. [ Links ]

Perlin, G., & Souza, R. M. (2015). Política inclusiva e acesso ao ensino público: resistência e espaços de negociação. Revista Digital de Políticas Linguísticas, 7(7), 52-71. [ Links ]

Petites Maisons. (2018). In Wikipédia. Recuperado de: https://fr.wikipedia.org/wiki/Petites_MaisonsLinks ]

Quadros, R. M., Strobel, K., & Masutti, M. L. (2011). A formação da primeira turma de letras/libras. In Anaisdo 10º Congresso Internacional;16º Seminário Nacionaldo Instituto Nacional de Educação de Surdos (p.152-162). Rio de Janeiro, RJ. [ Links ]

Quadros, R. M. (Org.). (2015). Letras libras: ontem, hoje e amanhã. Florianópolis, SC: UFSC. [ Links ]

Quartararo, A. T. (2002).The life and times of the French deaf leader, Ferdinand Berthier: an analysis of his early career. Sign Language Studies, 2 (2),182-196. [ Links ]

Rangel, G. M. M., & Stumpf, M. R. (2012) A pedagogia da diferença para o surdo. In E. Fernandes, A. C. B. Lodi & A. D. B. Melo (Org.), Letramento, bilinguismo e educação de surdos (p.113-125). Porto Alegre, RS: Mediação. [ Links ]

Rebouças, L. (2009). A prioridade dos docentes surdos para ensinar a disciplina língua brasileira de sinais (Libras) nas instituições de ensino superior após o Decreto 5.626/2005 (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal da Bahia, Salvador. [ Links ]

Rezende, P.L.F. (2012). Implante coclear: normalização e resistência surda. Curitiba, PR: CRV. [ Links ]

Rocha, S. (2007). O INES e a educação de surdos no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: INES . [ Links ]

Rocha, S. (2009).Antíteses, díades, dicotomias no jogo entre memória e apagamento presentes nas narrativas da história da educação de surdos: um olhar para o Instituto Nacional de Educação de Surdos (1856/1961) (Tese de Doutorado).Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. [ Links ]

Sacks, O. (1998). Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo, SP: Companhia das Letras. [ Links ]

Schmitt, D. (2008). Contextualização da trajetória dos surdos e educação de surdos em Santa Catarina (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis . [ Links ]

Silva, V. (2006). Educação de surdos: uma releitura da primeira escola pública para surdos em Paris e do Congresso de Milão em 1880. In R.M. Quadros (Org.), Estudos surdos I (p. 14-37). Petrópolis, RJ: Arara Azul. [ Links ]

Simões, E. S., Zava, D. H., & Kelman, C. A. (2011). Menos do mesmo: a pedagogia visual na construção da L2. In Anais do 6º Congresso Brasileiro Multidisciplinar de Educação Especial (p.3608-3616). Londrina, PR. [ Links ]

Skliar, C. (1998b). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre, RS: Mediação . [ Links ]

Stinckwich, M. B. (2006). L’Institut National de Jeunes Sourds de Paris. Paris, FR: Recuperado de: http://www.injs-paris.fr/page/lhistoriqueLinks ]

Strobel, K. L.(2008). Surdos: vestígios culturais não registrados na história (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis . [ Links ]

Tuxi, P. (2009). A atuação do intérprete educacional no ensino fundamental(Dissertação de Mestrado).Universidade de Brasília, Brasília, DF. [ Links ]

Woodward, J., & Markowicz, H. (1982). Language and the maintenance of ethnic boundaries in the deaf community. In J. Woodward (Org), How you gonna get to heaven if you can’t talk with Jesus: on depathologizing deafness (p.29-37). Silver Spring, MA: T.J. Publishers. [ Links ]

1 Esdras e Galasso (2017) mapearam a inserção das pessoas surdas no nível superior de educação no período de 2010 a 2015. Observou-se um crescimento de 35% de instituições desse nível educacional com alunos surdos, sendo que 73,46% dos alunos eram de instituições privadas. Em 2015, 107 surdos estavam em cursos de Pedagogia.

2Certa maneira de organizar a história pelos historiadores que pretendem tudo julgar supõe “[...] uma verdade eterna, uma alma que não morre, uma consciência sempre idêntica a si mesma” (Foucault, 1979, p. 26).

3Jacob Pereira é o nome de origem do professor português. Mantivemos a forma francesa porque é usada pelos seus descendentes franceses, defensores da oralização dos surdos nos congressos internacionais sobre educação de surdos.

4O máximo representante militar do rei, na ausência do mesmo.

5Mantivemos a grafia apresentada por Berthier (1840).

6Notemos que Berthier (1840) inicia o parágrafo nomeando dois religiosos católicos, mas não informa a religião de pessoas citadas em outros trechos.

7Petites Maisons era o nome de um asilo de alienados próximo de Paris, criado em 1557 (Petites Maisons, 2018).

8Escrito em 25 de novembro de 1845 (Lane, 1984, p. ix).

9Inscrito em 17 de maio de 2010.

Recebido: 10 de Março de 2018; Aceito: 18 de Dezembro de 2018

*Autor para correspondência. E-mail: alinelimaines@gmail.com

Aline Lima da Silveira Lage é Doutora em Educação pela UFRJ. Professora de Psicologia do Departamento de Ensino Superior do Instituto Nacional de Educação de Surdos (DESU-INES) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre Surdez (GEPeSS FE-PPGE/UFRJ). E-mail: alinelimaines@gmail.com

Celeste Azulay Kelman é Graduada em Psicologia pela UFRJ (1972), mestre em Educação pela UERJ (1995) e doutorado em Psicologia pela UnB (2005). Foi professora da Faculdade de Educação da UERJ e da UnB, atuando na Graduação e na Pós-Graduação. É Professora Associada da UFRJ. Coordena a linha de pesquisa Inclusão, Ética e Interculturalidade e o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Surdez, do DGP/CNPq. É autora de 8 livros. Tem 35 capítulos em livros e mais de 25 artigos com temas na área de Educação Especial/Inclusiva e surdez, com três artigos publicados em periódicos estrangeiros. É parecerista ad-hoc de várias publicações nacionais e uma internacional. E-mail: celeste@kelman.com.br

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons