Introdução

Ao longo destes 20 anos da existência da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE), os estudos historiográficos da educação se ampliaram significativamente. São cada vez mais recorrentes investigações que interpretam o passado educacional, sob uma polifonia de escrita de pesquisadores de várias regiões do Brasil e que contribuíram para a consolidação da história da educação, sobretudo, nos Programas de Pós-graduação em Educação. Do Oiapoque ao Chuí, os grupos de pesquisas foram problematizando questões educacionais, dando significados e sentidos aos estudos historiográficos da educação brasileira, afirmando uma identidade ao campo, destacando vários tipos de fontes, cenas cronotópicas (tempos e espaços), teorias, práticas culturais, políticas educacionais, metodologias e análises.

Segundo ^{Catani e Ferreiro Filho (2002}), ^{Gondra (2005}), ^{Ferro (2005}), ^{Araújo (2005}), ^{Vieira (2011}) e ^{Cury (2013}), o desenvolvimento de estudos e pesquisas na área da história da educação no Brasil se deu por várias razões, mas o fortalecimento da Pós-Graduação em Educação no país se configura com um dos principais aspectos. A partir da década de 1990, com a expansão dos Programas de Pós-Graduação em Educação por todo o território nacional, as pesquisas em história da educação foram gradativamente se ampliando em diferentes concepções teórico-metodológicas. Ampliaram-se também espaços de socialização e divulgação da produção dos pesquisadores em história da educação como Congressos Ibero-Americanos (1992), Congressos Luso-brasileiros de História da Educação (1996), Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE) (1996) e Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) (1999).

Para ^{Warde (1990}), a ampliação da Pós-graduação em Educação contribuiu para o desenvolvimento da história para a educação e favoreceu fortemente o crescimento quantitativo de produção de trabalhos na área da educação. ^{Vidal e Faria Filho (2003}) apontam que foi o surgimento dos Programas de Pós-graduação em Educação da PUC-Rio, em 1965, e da PUC-SP, em 1969, que impulsionou, nos anos 1980, a criação do Grupo de Trabalho ‘História da Educação’, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, e, nos anos de 1984, do Grupo de Estudos e Pesquisas ‘História, Sociedade e Educação no Brasil’ (HISTEDBR), em 1986. ^{Orso (2012}) também destaca que o crescimento do campo da história da educação no Brasil se deu após a criação dos Programas de Pós-graduação em Educação.

É certo que em algumas regiões o avanço dos estudos no campo da história da educação se deu por várias razões, uma delas a criação de Programas de Pós-graduação em Educação nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, como ressaltam ^{Cavalcante (2009}, ²⁰¹³), ^{Warde (2011}), ^{Xavier (2009}), ^{Alves (2009}) e ^{Mendonça (2009}). As outras regiões, incluindo a Norte, tiveram mais tardiamente a implantação de Programas de Pós-Graduações em Educação, o que contribuiu para o surgimento de pesquisadores no campo da história da educação ainda pouco conhecidos.

O Estado do Pará teve sua expansão no início deste século, pois parte dos pesquisadores das universidades federais e estaduais estava em processo de formação em programas de pós-graduação em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais; alguns poucos pesquisadores fazendo mestrado e doutorado em programas de pós-graduação no Nordeste e no Sul. Foi justamente com o retorno em massa desses pesquisadores que as universidades do Pará começaram a se articular para a implantação de Programas de Pós-Graduação em Educação, inicialmente com o mestrado e depois com o doutorado¹. Atualmente, há um número expressivo de produções de trabalhos de mestrado e doutorado no campo da história da educação na Amazônia paraense (^{Costa; Moraes, 2018}).

O presente artigo tem como intenção construir uma cartografia das produções sobre a história da educação, a partir das teses e dissertações defendidas nos Programas de Pós-graduação em Educação no Pará. Optamos por abranger, da região Norte, apenas o Pará pelas seguintes razões: primeira, pela abrangência de artigos referentes às produções acadêmicas de história da educação em revistas e livros publicados por pesquisadores do Pará; segunda, pelas produções de dissertações e teses no campo da história da educação; e a terceira e última razão, a ampliação de pesquisadores envolvidos com pesquisas sobre a história da educação do Pará com a criação de Programas de Pós-graduação em Educação. Sendo assim, levantamos as seguintes questões: O que se tem produzido sobre história da educação no Pará? Que temáticas no campo da história da educação são apresentadas? Em que linhas de pesquisa e eixos temáticos são produzidos os trabalhos acadêmicos? Que período histórico e sujeitos são pesquisados? Quais cenas cronotrópicas (tempo e espaço) são produzidas nos trabalhos?

O corpus foi constituído de dissertações e teses defendidas por integrantes dos dois maiores programas de Pós-graduação em Educação do Pará: o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Pará (PPGED-UFPA) e o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará, entre os anos de 2005 a 2018. Os critérios utilizados para o levantamento das dissertações e teses no campo da história da educação foram os seguintes: (a) identificar nos títulos das dissertações e teses o período histórico; (b) ler os resumos das dissertações e teses, mapeando objetivos, campo teórico e metodologia do trabalho; (c) destacar as linhas de pesquisa dos programas no qual o trabalho foi desenvolvido; (d) apontar, a partir do título e do resumo das dissertações e teses, em que eixos temáticos da Sociedade Brasileira de História da Educação os trabalhos se articulam.

O artigo está estruturado em três seções. Na primeira realizamos uma contextualização da historiografia da educação no Pará nos Programas de Pós-graduação em Educação. Em seguida, fizemos uma discussão dos Programas de Pós-graduação, especialmente do PPGED, da UFPA, e PPGED, da UEPA. E, por fim, elaboramos uma cartografia das produções de teses e dissertações nos Programas de Pós-graduação em Educação.

Historiografia da educação no Pará

O que se destacam nestes programas (PPGED-UFPA e PPGED-UEPA) são novos e promissores grupos de docentes pesquisadores envolvidos numa proposta de produção do conhecimento, sua difusão e aplicação no campo da história da educação. Os avanços nesse campo são relativamente expressivos no Pará a partir deste século. Isso se constata pelas produções de pesquisas e estudos sistemáticos, como exemplifica o grande número de teses e dissertações nos dois PPGED’S do Pará que possuem grupos de pesquisas e linhas vinculadas à história da educação. Essa concentração pode ser entendida como fruto das mudanças ocorridas nos programas com o retorno de pesquisadores dos seus doutorados articulados na história da educação ou em fronteira a este campo. Trata-se de um fenômeno bastante interessante, uma vez que parte destes programas não tem uma linha específica de história da educação.

Ainda que quantitativamente se tenha avançado nas pesquisas no campo da história da educação no Pará, indubitavelmente, não há como compararmos com as regiões Sudeste e Sul. A concentração quantitativa de pesquisadores e de programas de pós-graduação nestas regiões demonstram as desigualdades que se enfrentam para se debater e produzir pesquisas em história da educação no norte do Brasil. Somente há pouco mais de uma década que os ‘ventos desta maré’ sopraram a favor dos pesquisadores da região Amazônica. Foi possível vislumbrar as oportunidades de avanços de pesquisas em história da educação e animar os pesquisadores na participação de eventos, estimulando as publicações de artigos e produção de livros.

Os fatores que contribuíram para o fortalecimento e expansão das pesquisas em história da educação no Pará, foram (1) as parecerias de pesquisadores locais e pesquisadores de outros Estados, inclusive em produções coletivas: (2) trabalhos amplamente divulgados em eventos nacionais como Congresso Brasileiro de História da Educação (CBHE), Encontro Norte Nordeste de História da Educação (ENNHE) e Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação (COLUBHE). Ademais, outros eventos nacionais também proporcionaram a participação de pesquisadores da história da educação: ANPEd e EPENN. Contudo, constatamos que ainda há pesquisadores com produções fragmentadas e invisibilizadas em história da educação.

A aprovação de Programas de Pós-Graduação em Educação nas universidades do Pará proporcionou também uma motivação na produção de trabalhos de dissertações e, posteriormente, de teses e livros sobre a história da educação na Amazônia como forma de suprir a lacuna no campo de pesquisa da história da educação do Pará.

O compromisso dos pesquisadores da educação de investir em estudos numa perspectiva histórica vem assumindo a pauta dos programas de Pós-Graduação em Educação na região. São cada vez mais recorrentes trabalhos de dissertações e teses que têm se dedicado às investigações de questões educacionais da região Amazônica em contextos históricos.

Contextualizando os programas de Pós-graduação em Educação no Pará

O norte do Brasil tem atualmente um total de 12 Programas de Pós-Graduação em Educação: (PPGED/UEPA, PPGE/UFAM, PPGE/UFOPA, PPGED/UFPA, PPEB/UFPA, PPGE/UFT, PPGE/UNIR, PPGEE/UNIR, PPGEDUC/UFPA), PPGE/UERR/IFRR, PPPGE/UFT, PPGED/UNIFAP). É sabido que na região Norte a Pós-graduação em Educação teve início relativamente tardio. Embora tenha atingido, nos últimos anos, um crescimento expressivo, ainda assim sua concentração é muito modesta em relação às outras regiões, sobretudo, em razão da sua expansão territorial. Percebemos que a oferta ainda apresenta um déficit na região que precisa ser ampliada nos próximos anos com recursos e investimentos para novos cursos de Pós-graduação em Educação na região Norte.

Há hoje Programas de Pós-graduação em Educação espalhados por vários Estados da região Norte: Amazonas, Pará, Roraima, Acre, Rondônia, Tocantins e Amapá. O Pará é o Estado que mais concentra Programas de Pós-graduação em Educação em instituições federais e estaduais, são ao todo seis programas: Programa de Pós-graduação em Educação (UFPA), Programa de Pós-graduação em Currículo e Gestão de Escola Básica (UFPA), Programa de Pós-graduação em Educação (UFPA-Campus Cametá), Programa de Pós-graduação em Cidades, Territórios e Identidades (UFPA-Campus Abaetetuba), Programa de Pós-graduação em Educação (UEPA), Programa de Pós-graduação em Educação (UFOPA). Contudo, os programas mais antigos e que já estão consolidados são dois: o Programa de Pós-graduação da UFPA (PPGED-UFPA) e o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (PPGED-UEPA).

O mestrado acadêmico no Programa de Pós-graduação em Educação da UFPA foi aprovado e homologado em 2003. Na avaliação de 2003, o mestrado recebeu conceito 4. Nos processos avaliativos subsequentes houve manutenção da nota e, em 2008, ocorreu aprovação da proposta de doutorado. O projeto até então aprovado definia duas grandes linhas de pesquisa: ‘Políticas Públicas Educacionais’ e ‘Currículo e Formação de Professores’. O projeto original contava com um corpo docente composto de 11 professores; em 2008, cinco anos depois, já contava com 18 professores; em 2013, com 24 professores. Em 2011, após avaliação da CAPES, foi sugerida a criação de uma nova linha a partir do desmembramento da linha ‘Currículo e Formação de Professores’, surgindo, então, a linha de ‘Educação, Cultura e Sociedade’, de ‘Currículo e Formação de Professores’, que passou a ser denominada de ‘Educação: Currículo, Epistemologia e História’.

Desde a sua implementação, o PPGED-UFPA estabeleceu como meta o compromisso social com a Amazônia. Embora com todas adversidades da região amazônica, sobretudo das condições tão pouco favoráveis de investimento econômico numa região rica em biodiversidade, o PPGED da UFPA tem, ao longo de seus anos, assumido um lugar de grande importância para a formação e consolidação do professor-pesquisador em educação, o que subsidiou sua mudança de conceito de 4 para 5.

O PPGED-UFPA tem não somente atendido às demandas internas regionais, mas também em nível nacional e internacional. Seu projeto de internacionalização tem recebido alunos estrangeiros de mestrado e doutorado da Colômbia (15 D; 23M); México (01D e 3M); Peru (01D e 04 D); República Dominicana (01D); Honduras (02M); Equador (01M); Belize (01M) e Venezuela (01M). O PPGED-UFPA tem estabelecido intercâmbios acadêmico-científicos com outras instituições, visando promover o diálogo entre pesquisadores, pós-graduandos e grupos de pesquisa em torno das investigações e seus produtos, originários das práticas investigativas e formativas realizadas nos programas associados.

Atualmente, o programa conta 25 professores (pedagogos, psicólogos, sociólogos, filósofos, licenciados em Letras, Educação Física, Matemática etc.), distribuídos em 19 grupos de pesquisas que dão origem às produções de dissertações e teses interligadas com os pesquisadores. Até o ano de 2018, foram defendidas 324 dissertações e 110 teses de doutorado.

O Programa de Pós-Graduação em Educação da UEPA iniciou suas atividades nos anos de 2005, ofertando 15 vagas. Face à demanda da região que se avolumou nos últimos anos, ampliou-se para 30 o número de vagas. O programa conta no momento com aproximadamente 90 mestrandos matriculados. De 2007 a 2016, foram defendidas 215 dissertações de mestrado. Os discentes, em sua maioria, são professores da rede pública de ensino, alguns do ensino superior de universidades públicas e outros de instituições particulares, incluindo docentes da própria Universidade do Estado do Pará.

A formação dos discentes é diversificada, constituída por pedagogos, biólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, licenciados em Letras, Educação Física, Matemática e História, sociólogos, entre outros. Há discentes oriundos de municípios do Pará e de outros Estados, entre os quais, Amazonas, Fortaleza e Maranhão. O corpo docente do referido programa é constituído por 20 professores com doutorado em programas reconhecidos e consolidados no Brasil por sua produção científica: PUC/SP, UNICAMP, UNESP, UFRN, USP, UFC, UFPA, UFRJ, UGF, UNB, UFCG e UFSCAR. Parte do corpo docente realizou estágios pós-doutorais em universidade nacionais e estrangeiras.

Os docentes do programa lideram e/ou participam de nove grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, nos quais se integram alunos e docentes da graduação e do PPGED, a saber: 1) Formação de Professores; 2) Currículo e Tecnologia Educacional; 3) Educação e Meio Ambiente; 4) Cognição e Educação Matemática; 5) Infância, Cultura e Educação; 6) Sociedade, Ciência e Ideologia; 7) História da Educação na Amazônia; 8) Grupo de Estudo Linguístico e Práticas Educacionais na Amazônia e 9) Ressignificar - Experiências Inovadoras na formação de professores. O programa também está vinculado a dois núcleos que possuem vínculo com o Programa de Pós-graduação em Educação da UEPA: o Núcleo de Educação Popular Paulo Freire - NEP - e o Núcleo Cultura e Memórias Amazônicas - CUMA.

Estes dois programas têm atraído a cada ano um número significativo de candidatos nas suas seleções. O PPGED, da UFPA, a cada processo seletivo tem atraído uma média de 450 candidatos não somente do Pará, mas também outros Estados da região Norte, assim como do Nordeste. Já o PPGED, da UEPA, tem se consolidado por ser um dos programas no Brasil mais concorridos, chegando a ter aproximadamente 69 candidatos por vaga. Segundo ^{França (2018}), na seleção de 2017 inscreveram-se 1.922 candidatos para 30 vagas nas linhas de Formação de Professores e Práticas Pedagógicas e Saberes Culturais e Educação na Amazônia.

As produções acadêmicas sobre história da educação nos programa de pós-graduação em educação no Pará (2005-2018)

Dessa forma, apresentamos, inicialmente, na Tabela 1, a distribuição das dissertações de mestrado defendidas de 2005 a 2018 com o nome dos autores, título do trabalho de dissertação, ano de defesa, linha de pesquisa e, por fim, o eixo temático das dissertações no campo da história da educação, de acordo com os eixos apontados pela Sociedade Brasileira de História da Educação.

Das 325 dissertações defendidas no período de 2005 a 2018, no Programa de Pós-graduação em Educação na Universidade Federal do Pará, constatamos que 53 (16,5%) das dissertações estão vinculadas ao campo da história da educação, sendo 26% no eixo temático de políticas e instituições educativas; 17% em educação profissional; 11,5% em formação e profissão docente; 9,5% em educação e gerações; 9,5% em intelectuais e projetos educacionais; 7,5% em teorias da história e historiografia da educação; 7,5% em educação, movimentos sociais, etnias e gênero; 5,5% em imprensa e impressos educacionais; 4% em processos educativos e práticas não escolares;e 2,0% em disciplinas escolares.

Com relação às linhas de pesquisas verificamos que 34% das dissertações no campo da história da educação foram produzidas em Políticas Públicas Educacionais; 24% na linha de Currículo e Formação de Professores; 21% na linha de Educação, Cultura e Sociedade e em Pesquisa Educação: currículo, epistemologia e história, respectivamente. Contudo, é importante frisar que, embora a linha de Políticas Públicas Educacionais apareça com maior quantitativo de dissertação em história da educação, as linhas Educação, Cultura e Sociedade e Educação: currículo, epistemologia e história, juntas, somam 42% de dissertações. Esse percentual é extremamente importante visto que os docentes e discentes das duas linhas pertenciam à linha de Currículo e Formação de Professores até 2013, quando houve reestruturação na linha após avaliação da Capes, que apontou ser necessária a criação de uma nova linha que deu origem, então, ao surgimento da linha Educação, Cultura e Sociedade. A linha de Currículo e Formação de Professores passou a se denominada Educação: currículo, epistemologia e história.

Dentre os temas de maior investimento temático, destacamos o currículo, formação de professores, infância e juventude, educação ambiental e desenvolvimento sustentável, políticas para a educação básica, políticas de ensino superior, trabalho e educação, trabalho docente, gestão e financiamento da educação, educação do campo, democratização da escola e cultura escolar.

É interessante destacar que grande parte dos trabalhos na área da história da educação evidencia investigações sobre políticas de financiamentos da educação e reformas do ensino no Pará na linha de pesquisa Políticas Públicas Educacionais como vemos nas dissertações 9, 12, 14, 26, 29, 34, 37 e 50.

Destaca-se que parte dos trabalhos dão contribuições para a educação do Estado e proposições para melhorar os indicadores que foram avançando lentamente. As dissertações se concentram preponderantemente naeducação básica, ainda que exista no interior do programa um grupo de pesquisadores que investigam o ensino superior e o financiamento da educação na Universidade Federal do Pará e na Universidade do Estado do Pará, como constatado nas dissertações 5, 25,43,44,47 e 48.

Sobre a temática formação de professores, há nas dissertações uma discussão sobre a modalidade de formação continuada de professores da educação básica e ensino médio, estabelecidos pela política governamental durante o período cognominado ‘Novo Pará’, nos anos de 1995-2006. Com relação especificamente à política para a educação básica municipal, há um número expressivo de dissertações que tratam da contribuição e limites da implementação do Projeto Escola Cabana em Belém no período de 1997 a 2004, como verificamos nas dissertações 17, 45 e 46.

Com relação à educação de jovens e adultos e educação em espaços não escolares,há uma concentração de trabalhos que trazem à baila dados referentes às políticas municipal, estadual e federal da região e seus impactos no projeto da educação básica, formação de professores, relação entre práticas culturais e práticas escolarescomo nas dissertações 16, 19, 20, 22, 30 e 51.

Os dados apontam também uma produção de dissertações referentes às populações da região amazônica. Os trabalhos destacam uma diversidade de sujeitos envolvidos nas pesquisas como ribeirinhos, indígenas, quilombolas e camponeses no Estado do Pará como constatamos nas dissertações 19,20 e 30. Os dados sinalizam para uma discussão sobre as práticas culturais e educativas dessas populações que constituíram a Amazônia paraense. É curiosa também a dissertação 52 que aborda apolíticas ambientais para a região amazônica, principalmente quanto à preservação da sua biodiversidade.

Das 53 dissertações, identificamos uma frequência de investigações sobre instituições educativas e as políticas educativas na capital do Pará, nas dissertações 3,7,32,35 e 42. Nos resumos dessas dissertações, há análises sobre os processos de criação, institucionalização, expansão e cessação das instituições educativas para a infância no Pará, no período do império à república, principalmente das ações de políticas educacionais realizadas durante e depois da expansão econômica da comercialização da borracha na Amazônia, de acordo com as dissertações 2,8, 53.

Na análise da Tabela 1, merecem destaque dois pontos. O primeiro se refere às dissertações 6,15,23, 24 e 41, defendidas principalmente na linha de Educação, Cultura e Sociedade que enveredam sobre história dos intelectuais regionais e nacionais que se entrecruzaram com projetos educacionais de intelectuais na América. O segundo se refere à produção de trabalhos no campo da história da infância na Amazônia paraense e as políticas de assistência, proteção e educação à infância desvalida nos séculos XIX e XX como, por exemplo, as dissertações 2, 27, 28, 36 e 49.

Entre as temáticas sobre as políticas para a educação infantil, destacamos a dissertação 22, assim como o tema da violência escolar na dissertação 38. Com relação ao período histórico dos trabalhos, há uma concentração nos séculos XIX e XX, mas são expressivas as pesquisas sobre políticas educativas no Pará a partir das últimas décadas do século XX e início do século XXI.

A pulverização de temáticas tratadas no campo da história da educação, produzidas pelos alunos da Pós-graduação em Educação da UFPA, conforme demonstrado na Tabela 2, está diretamente vinculada aos grupos de pesquisa dos professores, o que permite supor que há uma polifonia discursiva. O reflexo dessa diversidade de temáticas está diretamente articulado com a pluralidade de grupos. O PPGED-UFPA abriga no momento 19 grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, que articulam o fenômeno educacional com as seguintes áreas do conhecimento: política pública, sociologia, antropologia, psicologia, história e filosofia. Enfim, o programa, em todos esses anos de investimento na pós-graduação stricto sensu,a contar da primeira turma de mestrado (ofertada em 1993), e nos seus anos de credenciamento pela CAPES, procurou avançar em direção à consolidação da Pós-Graduação em Educação na UFPA e, sobretudo, em atender aos desafios educacionais da região amazônica nas últimas décadas. Porém, é relevante destacar que o perfil dos grupos de pesquisa dos 19 professores dá caminho para a existência de temáticas de dissertações que não se encontram efetivamente vinculadas ao campo da história da educação, mas que foram produzidos em um espaço histórico e temporal.

O levantamento identificou que, do total de 119 teses defendidas no Programa de Pós-graduação em Educação da UFPA, período de 2005-2018, 25 (21%) estão no campo história da educação. Constatamos ainda que há predominância de 44% teses na linha de pesquisa Educação, Cultura e Sociedade; 36% na linha Educação: currículo, epistemologia e história; 20% na linha de Política Públicas Educacionais.Com relação ao eixo temático do total de 25 teses, foram identificados 20% das teses no eixo temático Formação e Profissão Docente; 16% em Políticas e Instituições Educativas; 16% em Educação e Gerações; 12% em Intelectuais e Projetos Educacionais; 12% em Imprensa e Impressos educacionais; 12% em Educação Profissional; 8% em Educação, Movimentos Sociais, Etnias e Gênero; 1% em Disciplinas Escolares e Ensino de História da Educação.

Os dados indicam que as teses produzidas no PPGED-UFPA se distribuem de forma mais equacionada com relação aos eixos temáticos em comparação com as dissertações. Podemos identificar que, com relação aos estudos sobre formação e profissão docente, as teses 3, 4, 8, 19 e 24 apresentam pesquisas que abordam os riscos da profissão docente e os processos de adoecimento que, ao logo da carreira, acometem os professores, acarretando em uma crise de identidade com a profissão. No conjunto dessas teses, há também uma discussão sobre a política de valorização docente no Pará, destacando a relação com a implantação do PARFOR no Estado do Pará e o trabalho docente no projeto de interiorização da UFPA nas décadas de 1980 e 1990, que repercutiu na valorização do ensino superior e da profissão docente, além de discussões sobre currículo e formação e profissão docente.

A respeito das produções sobre instituições educativas, observamos, nas teses 1,9,10 e 23, pesquisas sobre a interfaces da história de instituições e a história da infância na Amazônia, em que se analisam os discursos sobre a assistência, proteção e educação da criança pobre, abandonada e órfão nas primeiras décadas do século XX, em Belém. É curioso ressaltar que apenas as teses 10 e 23 tratam de instituições exclusivamente escolares: o Orfanológico do Outeiro, para meninos de seis a 12 anos, e as práticas curriculares no Colégio Paes de Carvalho.

Pesquisas referentes ao eixo temático intelectuais e políticas educativas constataram, nas teses 5,6 e 11, a trajetória de educadores e educadoras que contribuíram para a implementação de políticas de assistência e educação à infância no Pará. Na tese 11, há a discussão do papel de duas mulheres na educação na América Latina e o processo de descolonização na região Amazônica. A ênfase aos estudos de impressos está presente nas teses 15 e 17. A primeira trata da discussão sobre a educação e o higienismo e sua relação com o processo de colonização a partir de análise de periódicos pedagógicos que circularam no Pará nos anos de 1889 e 1912. A segunda apresenta uma análise sobre o ‘Compêndio de Civilidade Cristã’ que circulou nos anos de 1880 a 1915, escrito pelo bispo D. Macedo Costa, para educar e civilizar meninos rudes e sem escolaridade no Pará.

Os dados sinalizam ainda uma produção de trabalhos no eixo temático da educação profissional, como vemos nas teses 12 e 14 sobre a avaliação de uma instituição federal e do Banco Mundial e a contrarreforma no ensino superior no período de 2003 a 2010 nas principais universidades da região, assim como referentes às políticas educativas ao governo do presidente Lula. Já as teses 2, 13 e 16 trazem aspectos sobre as práticas curriculares na busca de autonomia da criança na educação infantil no período de 1998 a 2012 no contexto da educação paraense. A tese 16 é um estudo que articula o discurso dos médicos em teses de doutoramento pela Faculdade de Medicina do Pará nas primeiras décadas do século XX, abordando a saúde, assistência e educação da infância pobre do Pará. Por fim, as teses 7 e 18 tratam aspectos sobre o ensino da matemática no Gynásio Paes de Carvalho no período da Primeira República no Pará e o estudo em relações raciais nas pesquisas de Pós-Graduação em Educação, respectivamente.

Os dados sinalizam ainda que a linha de Educação, Cultura e Sociedade tem o maior quantitativo de professores que trabalham com a história da educação em interfaces com políticas assistenciais e educativas nos séculos XIX e XX, história das instituições e de intelectuais que contribuíram para a educação no Pará e na América Latina. Há também as teses 2,13 e 16 no eixo temático Educação e Gerações. Já a linha Educação: currículo, epistemologia e história também desenvolveu teses em vários eixos temáticos da história da educação como imprensas e impressos educacionais.

Com base nos dados das produções (dissertações) do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA), apresentados na Tabela 3, percebemos que há uma contribuição significativa ao campo da história da educação no contexto amazônico, que reflete um substancial trabalho de pesquisa da linha ‘Saberes culturais e Educação na Amazônia’. Este dado mostra-se interessante, haja vista não haver uma linha específica de história da educação no referido programa.

Dentre os trabalhos 35 produzidos no período entre 2007 e 2017, concentram maior número nos eixos temático Saberes Educativos e Práticas de Sociabilidade-Não-Escolares, com 42%, Políticas e Instituições Educativas, com 31%, Educação, Movimentos Sociais, Etnia e Gênero, com 11%, Memória e Patrimônio Educativo, com 8%, Disciplinas Escolares e Ensino de História da Educação, com 5% e Imprensa e Impressos Educacionais, com 3%.

Do eixo temático Saberes Educativos e Práticas de Sociabilidade-Não-Escolares, identificamos que as dissertações 2, 8, 10, 13, 14, 15, 20, 23, 24, 29, 30, 32, 33, 34 e 35 trazem discussões relacionadas aos saberes, práticas culturais e educativas da região amazônica em espaços não escolares como terreiro de mina, casa de farinha, bandas de músicas, festividade do Sairé e Marujáda, aldeias indígenas, terreiro de candomblé, comunidades ribeirinhas, oficinas e festividades de carnaval do curro velho.Outro aspecto percebido nas referidas dissertações são os sujeitos envolvidos nas pesquisas. Há uma polifonia de sujeitos: ribeirinhos, quilombolas, trabalhadores ‘Sem Terra’, indígenas, marujos, camponeses, assentados etc.

No contexto do eixo Políticas e Instituições Educativas destacam-se as dissertações 4, 6, 7, 8, 10, 11, 16, 17, 22, 25 e 27 que tratam de histórias de instituições escolares, políticas educacional, saberes culturais e práticas educativas no Pará do século XIX e XX como Ophelinato Paraense, Colégio São José, Escola Cabana, Asilo Santo Antônio, Escola Radiofônica, Educandário Nogueira de Faria, Instituição Cristar Lar de Maria e Escola Doméstica Nossa Senhora da Anunciação. Com relação à Educação e Movimentos Sociais, Etnias e Gênero, as dissertações 1,21,31 e 36 abordam cartografias e saberes educativos em movimentos de trabalhadores sem-terra,comunidades quilombolas nos municípios de Cametá e São Benedito do Viseu e educação e inserção de mulheres em sistema prisional. Em menor quantidades aparecem os trabalhos 3,12 e 28 no eixo temático Memória e Patrimônio Educativo e que retratam os acervos históricos do museu da ilha de Marajó, sobretudo a educação, memórias e saberes dos vaqueiros marajoaras,memórias de idosos e seus processos educativos. Sobre o eixo Disciplinas Escolares,encontramos os trabalhos 5 e 19 que retratam a história da educação física no ensino primário no Pará no início da república. Por fim, constatamos apenas um trabalho (18) no eixo temático Imprensa e Impressos que aborda as práticas educativas na cultura alimentar na Amazônia colonial.

Considerações finais

No contexto dos dois programas de pós-graduação no Pará (PPGED-UFPA e PPGED-UEPA) é possível constatar que, embora não exista uma linha ou núcleo na área da história da educação, sem dúvida, há uma produção do campo com diferentes maneiras de compreender e escrever a história da educação na Amazônia. Emerge um movimento da história da educação no sentido de fortalecimento dos grupos de pesquisa e, principalmente, da criação de uma linha e/ou núcleo no campo da história da educação, em ambos os programas. As produções de teses e dissertações são importantes para a consolidação das pesquisas em história da educação no Pará.

Embora os pesquisadores do norte ainda não tenham alcançado o status devido no âmbito nacional, os dados apresentados indicam avanço significativo das pesquisas nas investigações em diversos eixos temáticos do campo da história da educação. As produções realizadas já legitimam que a história da educação no Pará é um campo fértil e promissor. A proximidade dos pesquisadores do norte com os de outras regiões durante o X CBHE, em setembro 2019, na cidade de Belém, possibilitará o reconhecimento e engajamento dos pesquisadores locais com os nacionais.

Em razão da ampliação dos cursos de Pós-Graduação em Educação e, consequentemente, na área da história da educação, a região Norte ampliou o número de sócios no SBHE nos últimos anos. Com a realização do X CBHE em Belém, haverá a expectativa de que o número de sócios venha a triplicar. Em especial, no Pará, somente os dois programas analisados (da UFPA e da UEPA) já formaram muitos pesquisadores com investigações sobre história de instituições educativas, intelectuais, impressos, história de processos e práticas educativas em espaços não escolares, história da infância luso-brasileira, história da instituições de assistência e proteção à infância, história comparada do pensamento latino-americano, história e memória na Amazônia, história da educação rural na Amazônia, história e política da educação paraense, história da educação do campo, história do livro e da leitura, cultura material escolar, história das populações tradicionais e movimentos sociais do campo na Amazônia etc.