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Revista Brasileira de História da Educação

versão impressa ISSN 1519-5902versão On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.20  Maringá  2020  Epub 01-Ago-2020

https://doi.org/10.4025/rbhe.v20.2020.e116 

ARTIGO ORIGINAL

O rádio cativo nas escolas radiofônicas: um artefato cultural de ensino para os caboclos ‘ingênuos’ na Prelazia do Guamá, Amazônia paraense (1961- 1971)

La radio cautiva en las escuelas radiofónicas: un artefacto cultural de enseñanza para los caboclos ‘ingenuos’ en la Prelatura de Guamá en la Amazonía paraense (1961-1971)

Rogerio Andrade Maciel1 
http://orcid.org/0000-0003-1673-5215

1Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil.


Resumo:

O presente artigo analisa os sentidos e significados do rádio cativo para os caboclos ingênuos nas escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá, Amazônia paraense (1961-1971). Para isso, a metodologia utilizada foi a abordagem da Nova História Cultural. As fontes foram identificadas no Tribunal de Contas da Diocese de Bragança com seus respectivos ‘livros de tombo’, dentre outras. Desse modo, foi diagnosticado que o rádio cativo operava enquanto um objeto de consumo e ensino para alfabetizar e escolarizar os caboclos ingênuos, jovens e adultos. Assim, a partir dos resultados, é fato que o funcionamento do rádio cativo nas escolas radiofônicas está associado a outros artefatos culturais, tais como as antenas, as castanhas, os fios de cobre e os transmissores.

Palavras-chave: rádio; cultura material escolar; sentidos da recepção auditiva

Resumen:

Este artículo analiza los sentidos y los significados de la radio cautiva para los caboclos ingenuos en las escuelas de radio de la Prelatura de Guamá, en la Amazonía de Pará (1961-1971). Para esto, la metodología utilizada fue el enfoque de Nueva Historia Cultural. Las fuentes fueron identificadas en el Tribunal de Cuentas de la Diócesis de Bragança con sus respectivos ‘libros tombo’, entre otros. De esta manera, se diagnosticó que la radio cautiva funcionaba como un objeto de consumo y enseñanza para enseñar y educar a los ingenuos caboclos, jóvenes y adultos. Por lo tanto, a partir de los resultados, es un hecho que la operación de la radio cautiva en las escuelas de radio está asociada con otros artefactos culturales, como: antenas, castañas, cables de cobre y transmisores.

Palabras clave: radio; cultura de útiles escolares; sentidos de recepción auditiva

Abstract:

This article analyzes the senses and meanings of captive radio for naive caboclos in radio schools in the Prelature of Guamá, in the Amazon of Pará (1961-1971). For this, the methodology used was the New Cultural History approach. The sources were identified in the Audit Court of the Diocese of Bragança with their respective ‘tombo books’, among others. In this way, it was diagnosed that the captive radio operated as an object of consumption and teaching to teach and educate naive caboclos, young people and adults. Thus, from the results, it is a fact that the operation of captive radio in radio schools is associated with other cultural artifacts, such as: antennas, chestnuts, copper wires and transmitters.

Keywords: radio; culture school material; meaning of auditive reception

Introdução

O uso do rádio educativo para alfabetizar os jovens e adultos no Brasil em 1958, acontece, após uma série de experiências e propostas já lançadas no Brasil ao longo de quase 30 anos. A exemplo, a experiência de Jannuzzi, em Valença no Estado do Rio de Janeiro que, em 1950, organizou um curso de alfabetização de adultos pelo rádio, servindo de referência para outros cursos de alfabetização pelo sucesso que obteve, conforme anuncia Fávero (2006).

Segundo Scocuglia (2006) e Fávero (2006), a matriz principal sobre o uso dos rádios educativos para alfabetizar os jovens e adultos em escolas radiofônicas iniciou-se com as experiências de mons. Salcedo Guarin, em Sutatenza, na Colômbia em 19471. No final de 1950, as escolas radiofônicas tinham sete transmissores e aproximadamente 50 mil receptores cativos, rádios que sintonizavam uma única emissora e possibilitaram a alfabetização de mais de 800 mil jovens e adultos.

A aquisição dos rádios/receptores cativos para as escolas radiofônicas no Brasil foi realizada pelo regime de convênio instituído pelo presidente Jânio Quadro se firmado como dispositivo na forma do decreto presidencial 50.370, em 1961, com o Movimento de Educação de Base (MEB)2, criado pela Igreja Católica por meio da Conferência Nacional dos Bispos (CNBB) que, em parceria com o governo federal, implantaram um programa de educação de base, cuja finalidade foi expandir uma rede de emissoras com suas respectivas escolas radiofônicas nas zonas rurais das áreas subdesenvolvidas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, de acordo com Horta (1972) e Fávero (2006).

A análise dos sentidos e significados sobre o rádio cativo3, presente nas escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá, Amazônia paraense, é identificado pela produção, à circulação; aquisição e a apropriação dos materiais4 de comunicação e escolares, organizados pelos Comitês Paroquiais do Sistema Educativo Radiofônico de Bragança5 que estão interligados à produção da cultura material escolar.

O rádio, enquanto um artefato cultural, expressa significações que permitem constituir a cultura material escolar e os sentidos sobre a educação nessa instituição de ensino. Dessa forma, Gaspar da Silva e Petry (2012) mencionam que o enfoque sobre os artefatos culturais e a produção de cultura material pode imprimir diversas interpretações ou sentidos sobre as materialidades de cada projeto educativo porque existem os intermediários no cotidiano escolar, os sujeitos escolares6.

Conforme Frago (1995), os objetos escolares, enquanto elementos da cultura material escolar, devem ser analisados para além de sua função e composição técnica, visto que estabelecem as marcas da própria cultura escolar nas instituições escolares, quer sejam nas diversas manifestações instauradas nas práticas escolares, na produção e circulação de saberes, na organização, nas condutas, no pensar, nas mentes e corpos, entre outras especificidades.

As discussões e reflexões sobre o uso do rádio cativo, enquanto um elemento da cultura material escolar, são incipientes no âmbito da literatura nacional e internacional. Dessa forma, propomos o seguinte questionamento: como a produção, a circulação, o uso e as apropriações do rádio cativo, visto como um artefato cultural de ensino, produziu os sentidos da recepção auditiva no cotidiano das escolas radiofônicas na Prelazia do Guamá, Amazônia paraense, no período de 1961-1971?

Metodologicamente, o estudo faz parte da abordagem da Nova História Cultural e está diretamente correlacionado com a compreensão das práticas culturais e os sentidos dos sujeitos escolares com os artefatos culturais. As representações de Chartier (1990) são importantes para análise dos objetos culturais, principalmente os atrelados à história cultural de objetos de leitura-livro, dos impressos, das mais variadas formas de leitura que operam em um determinado mundo do texto (como bens culturais relacionados aos praticantes ordinários-seus consumidores)7.

As fontes identificadas sobre as escolas radiofônicas estão articuladas a uma circularidade cultural de materiais históricos que apresenta similitudes e diferenças em seu cotidiano. Assim, o corpus desta pesquisa foi identificado no Tribunal de Contas da Diocese de Bragança com seus respectivos ‘livros de tombo’: Histórias do SERB (1957-1980); Prelazia do Guamá (1971-1979), Figuras diversas (1972), Prelazia (1947-1964)e o de Exames supletivos (1976-1981). Além disso, utilizamos os acervos digitais sobre a história do rádio no site da Philips e nos arquivos dos relatórios do MEB/Nacional, no Centro de Documentação Científica Professor Casemiro dos Reis Filho.

Durante o levantamento dos objetos nos espaços investigados, encontramos dois técnicos8 que trabalharam na rádio e obtivemos algumas conversas informais que foram acrescentadas a esta pesquisa. Com fins de manter a ética, criamos pseudônimos e os identificamos neste trabalho como a Técnica 1-T¹ e Técnico 2-T²9. As conversas informais nos permitiram compreender as práticas cotidianas dos sujeitos como rádio cativo, visto que, conforme Minayo (2001), as conversas informais apontam para os aspectos rotineiros, as relevâncias, os conflitos, os rituais, bem como a delimitação dos espaços público e privado onde o sujeito se encontra.

As representações metodológicas dos três eixos indissociáveis, em Roger Chartier (1990), serviram de base para a análise do artefato cultural (o rádio cativo) no interior das escolas radiofônicas, são eles: a história do objeto em sua materialidade quanto a sua forma, afrequência, ao dispositivo e estrutura que apontam o tipo de dispositivo projetado para os objetos de consumo. O segundo refere-se à história das práticas nas suas diferenças, problematizando: o que os sujeitos fazem com os mesmos objetos que são impostos? E o terceiro eixo apresenta a história das configurações dos dispositivos nas suas variações históricas, este que se intercruza com os dois primeiros eixos, considerando as formações sociais, as estruturas psíquicas e as armaduras conceituais em meio a estratégias e táticas utilizadas pelos sujeitos no cerne das instituições, conforme mencionam Nunes e Carvalho (2005). Nesse sentido, o texto apresenta um diálogo entre o consumo dos rádios cativos enquanto um artefato cultural de ensino que produz os sentidos da recepção auditiva no cerne da sala de aula das escolas radiofônicas.

O consumo dos rádios cativos nos comitês paroquiais das escolas radiofônicas na Prelazia do Guamá

No Sistema Educativo Radiofônico de Bragança existiam dois tipos de Comitês com seus agentes sociais: O Comitê Central, localizado no município de Bragança, onde funcionava o Sistema Educativo Radiofônico de Bragança (SERB) com os professores- locutores, técnicos da rádio, bispo local e padre vigário10, ambos coordenadores do SERB. Já os comitês paroquiais estavam localizados em 11 municípios da Prelazia do Guamá11 na Amazônia paraense12, onde se estavam os monitores que eram os líderes das comunidades escolhidos para orientar os alunos para obterem habilidades de leitura e escrita.

Nesse âmbito, o Sistema Educativo Radiofônico de Bragança foi projetado pela doutrina filosófica dos Barnabitas13 como terra de missões e evangelização pelo bispo dom Eliseu e padres para civilizar os caboclos ingênuos nas comunidades da Amazônia paraense, mediante a alfabetização e escolarização, utilizando como fio condutor o rádio cativo no interior das escolas radiofônicas.

A adjacência caboclos ingênuos surgiu a partir das fontes identificadas. Nos relatos de dom Eliseu Maria Corolli é encontrado o referido termo, atribuído aos sujeitos, jovens e adultos que constituem a Prelazia do Guamá. É preciso destacar que falamos de um bispo italiano da Congregação dos Barnabitas que veio para Bragança, Sede da Prelazia do Guamá, no intuito de implantar o Sistema Educativo Radiofônico de Bragança14 a fim de obter mais adeptos para a Igreja Católica e evangelizar os caboclos da Amazônia.

Os caboclos ingênuos - jovens e adultos do SERB-eram pescadores, ribeirinhos, pequenos comerciantes, colonos, domésticas, marisqueiros, umbandistas, espíritas, protestantes, pajé se indígenas, sujeitos da Amazônia paraense que procuraram o SERB para aprendizagem. Por isso, suas identidades eram designadas pelo bispo como caboclos. Para Rodrigues (2006)15, o termo caboclo na Amazônia é entendido como uma condição relacional da superioridade de um grupo sobre o outro, vistos como rústicos e, em meio à modernidade, logo, associado a um estereótipo negativo.

Essa representação religiosa na Amazônia, no século XX, produz percepções de superioridades de um grupo e inferioridade de outro - a ponto de eles serem vistos como não civilizados, descendente de indígena, analfabeto e mestiço (índio, negros e branco). Portanto, os padres utilizavam esse termo para alcançar uma estratégia de imposição sobre o aumento de suas atividades pastorais em toda Prelazia do Guamá por meio das práticas culturais para alfabetizar e escolarizar os caboclos jovens e adultos.

No que se refere ao refinamento teórico de estratégias e táticas, dialogamos sob a perspectiva de Certeau (2014) que as considera como um estudo das práticas de consumo cultural, vistas como interdependentes. Suas distinções estão nos esquemas de operações formulados nos espaços institucionais, onde as estratégias são capazes de produzir, mapear e impor, ao passo de que as táticas podem utilizá-las, manipulá-las, não obedecendo determinada lei que atua num lugar.

Demonstramos a seguir a implantação dos sistemas educativos radiofônicos, por Estados e municípios, onde ocorreu o consumo dos rádios cativos nos mais variados Estados brasileiros, entre o período de 1961 a 1965, conforme o Mapa 1 e a Tabela 1.

Mapa1 Consumo de rádios cativos nos sistemas e escolas radiofônicas do Brasil. 

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (1960) 16.

No mapa é apresentada a aquisição e o consumo dos rádios cativos nos primeiros cinco anos dos trabalhos desenvolvidos pelo Movimento de Educação de Base (MEB), com os sistemas rádios educativos no Brasil. O consumo desses rádios circulava para além da sede central de cada Estado, pois eram nas comunidades de cada município e de cada Estado que eles foram utilizados, lugares, onde o acesso à informação era crucial para as populações rurais do Brasil. Para Certeau (2014), o conhecimento dos objetos de consumo nos permite compreender as representações e os comportamentos de uma sociedade, pois o ato de operar que os grupos exercem com os objetos de consumo fazem com que as práticas dos consumidores revelem as semelhança se as diferenças sobre esses objetos a partir da produção do lugar.

Conforme os documentos legais-apostila 1/Série a-Fundo MEB, acervo CEDIC (1961-1965) 17. No ano de 1961, foram implantadas no Brasil sete escolas

radiofônicas nos seguintes Estados: Goiânia, Pará, Natal, Pernambuco, Alagoas, Aracaju, Bahia, além dessas sete escolas, identificamos nove escolas radiofônicas, constituídas na capital e no interior dos Estados. Em1962, além das sete escolas que foram implantadas, existiam mais cinco escolas no Maranhão, Piauí, Ceará, Mato Grosso e Minas Gerais, totalizando 31 escolas nesse período. Em 1963, além das 12 escolas em funcionamento surgem mais duas escolas, uma no Estado do Amazonas e outra no Estado da Paraíba, que totalizam 59 escolas.

Em 1964, das 14 escolas em funcionamento foi implantada mais uma escola no Estado de Rondônia totalizando 54 escolas em 15 Estados que variavam para o ano seguinte com 51 escolas em 14 Estados. A seguir demonstramos, na Tabela 1 a implantação do Sistema Radiofônico de Bragança na Amazônia paraense, onde o consumo dos rádios ocorreu nos primeiros cinco anos de trabalho do Movimento de Educação de Base:

Tabela 1 Implantação e números de sistemas por Estados e municípios (1961-1965) 

Estado (s) 1961 1962 1963 1964 1965
Pará Bragança Bragança Conceição do Araguaia Bragança Conceição do Araguaia Belém Bragança Conceição do Araguaia - Belém Santarém Bragança Conceição do Araguaia -Santarém

Fonte: Centro de Documentação e Informação Científica [CEDIC-PUC-SP]. (1961-1965).

Conforme os dados na Tabela 1, observamos que o Sistema Educativo Radiofônico de Bragança foi o primeiro a ser implantado no Estado do Pará e, conforme a análise dos dados, em toda região Norte do Brasil, no ano de 1961, em conexão com mais seis escolas radiofônicas de outros Estados brasileiros18. Outro ponto a ser analisado, conforme a Tabela 1, é que no interior do Pará e na capital, a escola radiofônica de Bragança continua sendo a referência em um ensino via rádio, visto que, em 1962, é implantada a escola radiofônica de Conceição do Araguaia-PA.

Em 1963, essas escolas servem de experiências para as escolas radiofônicas da capital, em Belém do Pará. No ano de 1964, é implantada a escola radiofônica de Santarém e, em 1965, as escolas radiofônicas da capital são extintas pelo regime ditatorial. E a única escola que permanece vigente com seus trabalhos é a escola radiofônica de Bragança na Prelazia do Guamá. Para Coimbra (2003), em toda região da Amazônia paraense existia um coordenador do Movimento de Educação de Base Estadual para acompanhar tanto a implantação quanto a prática educativa das escolas radiofônicas, no sentido de identificar os processos de alfabetização pelos rádios. No Estado do Pará, o padre Aloísio da Silva Neno19 foi um dos principais coordenadores, que atuaram no período de 1960 até 1964.

Assim, é possível dizer que o SERB, localizado na Prelazia do Guamá, é um lugar de produção cultural e social. Certeau (2010, p. 65) diz que “[...] meu patoá representa minha relação como lugar [...]”, as questões da particularidade do lugar não se distanciam das questões globais, mas, é na compreensão sobre um determinado lugar, combinadas as práticas populares, política e socioeconômica, que se circunscreve a produção cultural do lugar e das atividades humanas, operadas pelos sujeitos. Eis a relevância dos rádios/receptores cativos em toda Prelazia do Guamá.

Na própria Amazônia paraense, existia, por meio das escolas radiofônicas, uma ação missionária de educação para os inúmeros fiéis que participaram desse ensino, aqui, entendemos que o Estado e a igreja caminhavam juntos para coibir o conjunto de ausências das políticas públicas sobre o analfabetismo, a escolaridade, a saúde, as organizações de associações e cooperativas e a constituição de líderes enquanto representantes para o desenvolvimento das comunidades, conforme Coimbra (2003), foi com esses objetivos que foi planejado e executado o ensino pelo rádio receptor nas escolas radiofônicas no território da Prelazia do Guamá. Assim, a partir desse mapa, identificamos algumas comunidades, onde houve o consumo dos receptores cativos e o funcionamento das escolas radiofônicas, no período de1960 a1971.

Tabela 2 Consumo dos receptores cativos (rádios) nos municípios e comunidades da Prelazia do Guamá 

Municípios da Amazônia paraense Algumas comunidades
Bragança Mocambo, Bôca de Induá; S. Pedro de Induá; Cajueirinho; S. Sebastião de Induá; Capitão Poço; Capuateua; Zeuarí; BoaVista; Cajueirinho; Nova Colônia; Timbó. Bragança - (Nova Canindé, A. Montenegro; Bragança, Bacuriteua; Acarajó; Camutá, Campos; Riozinho).
Augusto Corrêa
Ourém
Irituia
Capitão Poço
São Domingos do Capim
Santa Maria
São Miguel do Guamá
Viseu
Arquidiocese de Belém(1963)
BR 010 - BR316
Km 47 - Pará- Maranhão (1970)
KM48 - Pará -Brasília (1971)
Paragominas

Fonte: Prelazia do Guamá: livro do tombo (1971-1979), (n.d.).

Vale destacar que nem todos os municípios supracitados nesta tabela 2 formaram escolas radiofônicas desde o início do trabalho do SERB. Na primeira década de1960-Ourém; Irituia, Capitão Poço, Augusto Corrêa, São Domingos do Capim, Santa Maria, São Miguel do Guamá e Viseu foram os primeiros municípios a participarem da formação dos monitores e alunos com alfabetização de jovens e adultos pelo MEB. Enquanto na BR010 - BR316, KM47- Pará Maranhão, KM48 Pará-Brasília e Paragominas20 foram os municípios, onde a partir de 1970 foram instaladas escolas radiofônicas com outras formas de escolarização pelo MEB/SERB.

A partir de 1964, a maioria das escolas radiofônicas na região Nordeste foi fechada pela repressão do regime ditatorial no Brasil, conforme Fávero (2006). Na Amazônia paraense, as escolas foram se expandindo21 porque os bispos e os padres se tornaram coordenadores, ao denunciaram os militantes do Movimento de Educação de Base que atuavam à frente de suas instituições de ensino. Além disso, eles passaram a obter o apoio do governador Jarbas Passarinho, no Estado do Pará, para continuar as ações de alfabetização pela evangelização missionária nas escolas radiofônicas, segundo a assertiva de Coimbra (2003).

Assim, em cada município, constituído pela Prelazia do Guamá, existia um número de escolas e comunidades numa dimensão territorial, onde o deslocamento do bispo e dos padres era de difícil acesso, por isso, o consumo e a escuta rádio educativo tinha o intuito de elevar o desenvolvimento sobre as questões regionais, locais, de alunos e monitores, a partir do sentido de ouvir os conhecimentos transmitidos pelos professores-locutores do Comitê Central de Bragança.

O rádiocativo da philips: um artefato cultural de ensino para os caboclos ingênuos da amazônia paraense

O receptor cativo da Philips - o rádio Cativo tinha por finalidade transmitir os conteúdos advindos da voz dos professores-locutores do SERB para os alunos e monitores nas escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá. Esse artefato cultural de ensino foi fabricado pela empresa Philips Eletronics, também denominada de Philips, é uma empresa holandesa que dês de189122 produz materiais de consumo para o mercado mundial.

A circulação dos rádios nos mais variados países também chega ao Brasil em 1935, quando a Philips criou uma subsidiária da Royal Philips Eletronics da Holanda. No Rio de Janeiro, a empresa Philips foi se expandindo também pelo consumo de rádios nos primeiros anos de 1924, o que demarcou a influência das empresas internacionais e seus produtos de consumo de energia e eletrônica no Brasil. Em 1960, a Philips firmou um escritório em Recife, um dos Estados pioneiros na utilização dos receptores cativos (A história da Philips..., 2018) com incentivos fiscais da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), logo, surgia a Philips Eletrônica do Nordeste (PHILINORTE), destinada à fabricação de receptores que serviu também para aquisição e alfabetização e escolarização dos jovens e adultos nas escolas radiofônicas como MEB.

Conforme o técnico da Rádio 1 do SERB,

[...] a Philips fabricou estes rádios exclusivamente para o Movimento de Educação de Base, o MEB, por isto que é difícil de encontrar estes rádios aqui em Bragança. Deixa eu te contar uma coisa, este rádio ele era diferente, porque era do tipo transistorizados e tinha um Trimmer23 que modificava a sintonia. Ele tinha o transistor, ele veio depois daqueles rádios valvulados. Tu sabe NE que os rádios tem uma série e, em cada série vai se modernizando [...] (Técnico da rádio 1, informação verbal)24.

Para compreensão desse dispositivo de recepção radiofônica que aqui nomeamos como um artefato cultural de ensino, mostramos a seguir, o receptor cativo fabricado pela S. A Philips do Brasil:

Figura 1 Modelo de rádio cativo da Philips com transistor e trimmer. 

Fonte: Feitosa e Bitencourt (2014, p. 11)25.

Com base nas informações levantadas a partir dessa imagem (Figura 1) e das conversas informais com o técnico, propomo-nos a partir da cultura material escolar, presente nesse dispositivo, apontar os sentidos da recepção auditiva nas escolas radiofônicas. Para isso, foi exposta a estrutura externa e duas peças internas; as marcas na forma dos símbolos do rádio até identificar o símbolo do dispositivo em análise; e as estratégias de imposição e as táticas desviacionistas no uso desse receptor cativo da Philips. Nosso entendimento e tal qual o de Souza (2007) quando diz que os artefatos escolares estão vinculados a concepções pedagógicas, saberes, práticas e dimensões simbólicas, no cotidiano do universo escolar, atrelados ao aspecto significativo do espaço escolar - da cultura escolar.

Chartier (1990) menciona que as significações dos objetos produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas, culturais), que tendem a impor uma autoridade de um grupo em relação a outro. Tal imposição tem a intencionalidade de legitimar um projeto reformador para justificar aos indivíduos as suas escolhas e condutas nas mais variadas formas de ensino aos indivíduos.

Esse artefato cultural da Philips era revestido de Baquelite - uma resina externa resistente ao calor para melhor se adaptar aos espaços escolares das escolas radiofônicas, além disso, eram revestidos pelas cores bege na parte da frente e os lados com a cor preta. Ele pesava 2,5 kg e tinha as medidas de comprimento: 26 cm de largura e 15 de altura, assim, era viável manuseá-lo antes, durante e depois das aulas, seu peso era importante para que o monitor pudesse manejá-lo, pois alguns monitores não o deixavam na sala de aula, eles o levavam para suas residências e só o traziam no horário das aulas.

Na frente desse dispositivo existiam dois botões um de ligar e desligar e o outro quando era ligado já estava na sintonia, na frequência da emissora, que aparece embaixo entre os dois botões, aliás, a frequência era de uma única emissora. Além disso, era um receptor que funcionava na maioria das vezes com pilha, o que facilitava seu uso para as escolas radiofônicas, como as da Amazônia paraense, onde não existia energia elétrica.

No meio do rádio cativo da Philips, no SERB, identificamos um símbolo que indicava a marca da empresa Philips. O símbolo contido no rádio/receptor cativo da Philips, década de 1960 nas escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá, Amazônia paraense, eram constituídos pelas cores bege com a cor vermelha na mesma forma de escudo e ondas dos rádios e estrelas representando as lâmpadas, contendo, ainda, a palavra Philips no interior do escudo e fora do círculo (Mundo das Marcas: a história da Philips, 2006).

Outro ponto interessante refere-se a algumas peças que compõem a estrutura do receptor cativo da Philips objeto - o Transistor e o Trimmer. O transistor (Curso prático de eletrônica em geral, 2019), formado por cristais de silício, foi utilizado nos rádios cativos das escolas radiofônicas e fabricados na década de 1950. Ele tinha a função de aumentar e chavear os sinais elétricos - (tinha a capacidade de fazer amplificações e alternar sinais). É um componente do circuito elétrico do rádio e seu nome vem do termo transfer resistor ou seja, é um dispositivo de resistor de transferência de sinais. Ele é importante porque pode funcionar como amplificador de sinais e regulador de tensão.

Os transistores e o Trimmer são vistos, nesta pesquisa, como duas peças que compõem o rádio e estiveram presentes nas escolas e compunham a cultura escolar e material das escolas radiofônicas como modos de fazer e apropriações específicas que geraram uma cultura material. Por isso, estes dois utensílios podem ser vistos como “[...] um dos componentes ligados ao mundo da educação [...]”, conforme Souza (2007, p. 176).

Os transistores na década de 1960 foram uma das invenções mais modernas para o rádio e no campo da eletrônica, porque ele substituiu as válvulas, esta que tinha também a capacidade de fazer amplificações, mas, seu custo, tamanho e o consumo de energia, eram maiores, por isso, o transistor a substituiu por ter menos custos para as empresas, foi fabricado em longa escala e passou a fazer parte dos circuitos de aparelhos eletrônicos.

O Trimmer é constituído por placas móveis que se encaixam em placas fixas quando se gira um eixo, sendo que ela se torna um capacitor de variável da sintonia. O Trimmer foi um componente elétrico que tinha uma fenda para os ajustes com chave e a sintonia das emissoras. Por ser um objeto pequeno, sua principal função era calibrar a sintonia do rádio no sentido de receber as ondas das estações advindas das emissoras, por isso permite variar sua posição correta e com volume alto. Esse dispositivo, fabricado para os rádios cativo das escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá e do Brasil, tinha a finalidade da escuta de uma única emissora, aqui, a sintonia do SERB.

A estratégia de aquisição do receptor cativo transistorizado, por parte dos padres, era de evitar as campanhas contra as ligas camponesas similares das escolas radiofônicas do nordeste brasileiro, pois,

[...] Infelizmente já estão sendo organizados no interior do Pará as ligas camponesas de orientação comunista, como as de Pernambuco. Se a nossa Província Eclesiástica obedecer a uma única diretiva, orientada por uma única emissora, fácil será promover organizações rurais sob o controle da igreja Católica. Para alcançar todas estas vantagens apresentamos, outros sim, a proposta vantajosa e menos dispendiosa de um único transmissor para toda referida região (Prelazia do Guamá: livro do tombo (1971-1979), (n.d.), p. 9).

Dois objetos de comunicação são correlatos para a propagação das aulas ministradas pelos professores-locutores do SERB, os transmissores26, da Sede Central de Bragança que reproduziam as ondas eletromagnéticas até o receptor cativo da Philips, onde as ondas sonoras do rádio chegavam no interior da sala de aula na forma de conhecimentos aos alunos. Nesse âmbito, as estratégias de imposição usada pelos padres para escolher o tipo de transmissor e receptor tinham como função retirar as idéias comunistas dos conteúdos propagados pelos professores (durante o contexto da ditadura militar) a fim de assegurar a escuta de uma única emissora.

Segundo Coimbra (2003), o controle da Igreja Católica na Amazônia paraense durante os primeiros anos do regime militar, tinha por finalidade garantir a ordem e a paz entre os sujeitos constituídos nas escolas radiofônicas, entretanto, existiam sujeitos formados por dirigentes que atuavam no MEB - monitores e professores que transmitiam informações de outras emissoras da região nordeste27, a respeito de uma educação crítica emancipatória, (vista como ligas camponesas de orientação comunista), para que a população se conscientizasse e, consequentemente, reivindicassem os seus direitos negados na estrutura social do Brasil. De certa forma, isso gerou inúmeros conflitos internos vistos como uma ação de hostilidade às autoridades militares. Logo, a estratégia para o SERB foi sendo redimensionada, a de mudar os sujeitos militantes e além do rádio cativo, deixar apenas um transmissor para organizar a educação rural sob o controle da Igreja Católica.

Com base no segundo eixo de análise, a história das práticas nas suas diferenças, cuja questão é o que os sujeitos fazem como mesmo objeto que lhe são impostos? (Nunes &Carvalho, 2005). Identificamos que na medida em que os padres efetuavam cursos de capacitação para que os monitores operacionalizarem com êxito a sintonia dos rádios, obtendo conhecimentos básicos de eletrônica, nas próprias orientações das escolas, advindas dos técnicos da rádio, eles passaram a obter conhecimentos sobre a estrutura externa e interna do receptor e, em meio a diversos diálogos (paralelos) com os técnicos, sem a presença dos padres, perguntavam: “[...] que peça no Rádio poderiam ser mexidas para escutar outras emissoras? Ao serem orientados, eles abriam o receptor e interligavam os fios até o Trimmer do rádio, passando a escutar outras emissoras como a Difusora do Maranhão e do Piauí” (Técnico da rádio 2, informação verbal)28.

Esse depoimento do técnico da rádio revela o que Escolano (2017) defende as práticas culturais desenvolvidas nas escolas não devem ser silenciadas pelas instituições, criadas pelo Estado moderno para normatizar o modelo de professor e alunos que se postulam(vam) na historiografia. É necessário construir não uma postura totalmente contrária a essas tradições discursivas, mas compreendê-las, explicá-las e interpretá-las a partir de uma referência da realidade, de uma cultura empírica da escola que valoriza a cultura da prática dos sujeitos escolares como uso dos objetos e suas representações no interior das instituições para reconstruir uma cultura da práxis no território da educação formal e valorizar a experiência educativa e a realidade sociocultural.

Outro ponto a ser destacado,

[...] alguns monitores não conseguiam efetuar a mudança de emissoras quando abriam os receptores cativos. Aí, eles traziam os rádios para oficina do rádio aqui em Bragança, e eu descobria, eu sabia que eles estavam mexendo para sintonizar outra emissora, mas eles diziam que era problema no aparelho. Quando os Padres descobriram o que eles estavam fazendo, nos mandou soldar o Trimmer, aí eles não tinham como interligar os fios nesta peça e ficavam impossibilitado de escutar outras emissoras (Técnico do rádio 2, informação verbal)29.

As estratégias dos padres para garantir a escuta de uma única emissora se fizeram presente com a descoberta das práticas culturais dos monitores. A partir de 1971, todos os receptores que chegavam no SERB eram abertos e soldados seu Trimmer e só depois seriam distribuídas às escolas radiofônicas, esta foi uma medida que os padres tomaram para evitar e minimizar abertura desse rádio nas escolas radiofônicas.

Desse modo, o receptor cativo era utilizado como estratégia para alfabetizar os jovens e adultos somente pela mensagem do evangelho com a restrição de uma única emissora. Por outro lado, as táticas de apropriação dos sujeitos do MEB com os monitores - orientadores dos alunos nas comunidades nos indicam que estes utilizavam táticas subversivas para escutarem as outras emissoras pelo rádio. Assim, a recepção desse mesmo objeto representava dois tipos de formações do controle por parte dos padres e técnicos e por práticas culturais de astúcias dos monitores.

Chartier (1990) diz que a produção do sentido sobre determinado objeto escolar está sempre colocada em um campo de competições e disputas, onde se legitimam em termos de poder e lutas. As lutas sobre os artefatos, sua fabricação, usos e apropriação trazem representações que estão para além da imposição de um determinado grupo dominante, visto que as representações coletivas e as categorias mentais dos sujeitos escolares demarcam a própria organização social de um grupo.

Ora, temos então um artefato cultural que coaduna como contexto histórico em tela, fomentar a alfabetização e escolarização de jovens e adultos, forjando uma consciência cívica, do progresso e ainda evangelizadora na forma da inculcação de saberes aos caboclos ingênuos, jovens e adultos, e a outra na escuta de outras emissoras.

Julia (2001) argumenta que a inculcação na forma de saberes forma os sujeitos sob o regime (as normas) de uma tutela preocupada com as finalidades pedagógicas, que aqui, a presenciamos pela cultura nacional do século XX, a de controlar e manipular as consciências dos sujeitos escolares pelos projetos pedagógicos, mantendo o controle do ensino, relações de poderes no interior das instituições educativas.

Para Vidal (2009), as relações de poder, constituídas nas instituições educativas para os sujeitos escolares, têm o intuito de moldá-los pelas inúmeras permanências pedagógicas no interior da sala de aula. Gaspar da Silva e Petry (2012) dizem que a fabricação, a aquisição e os sentidos e significados dos objetos, utilizado nas instituições educativas, controlam os corpos e mentes dos sujeitos no interior das escolas. É evidente que os sujeitos escolares traduzem as estratégias de imposição do sistema, entre suas normas, dispositivos legais, em práticas culturais de inovações pedagógicas que são compreendidas pelas apropriações com os usos efeitos dos materiais escolares, dos espaços da escola e de seus tempos, de acordo com Vidal (2009).

Escolano (2017) afirma que as práticas culturais dos sujeitos sobrevivem aos processos de controle e exclusão das instituições que os autorregulam, por isso, é preciso compreender os silêncios e códigos existentes na educação institucionalizadas. Nesse sentido, dependendo dos sujeitos padres, bispos, monitores, alunos, professores-locutores, o receptor cativo é um mediador cultural que transita entre valores cristãos, com base na emancipação, entre outros conhecimentos.

Diante da compreensão e análise do receptor cativo da Philips, enquanto um artefato cultural, identificamos também que este dependia de outros materiais para receber as ondas eletromagnéticas. Adiante, observamos as instruções de instalação do receptor com seus suportes, na forma de um aviso do SERB aos monitores do Curso de Suprimento e recuperação da Alfabetização Funcional para as escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá (Figura 2).

Figura 2 Orientação sobre o uso de suportes de rádio para o funcionamento do receptor cativo. 

Fonte: Livro de tombo exames supletivos (1976 -1981) (n.d.).

Esse documento revela que a instalação do receptor - rádio nos rádios postos deveria estar acompanhada por alguns objetos de suporte de instalação do receptor: as antenas, as castanhas e os fios de cobre. As antenas no formato de um T que deveriam ser instaladas acima dos telhados de palhas, em cada uma de suas pontas deveriam ser encaixadas duas castanhas. Assim, esse objeto, além de interceptar as ondas eletromagnéticas advinda dos transmissores, ela se tornava um condutor elétrico até os rádios cativos da Philips e as duas castanhas funcionavam como isoladores das antenas.

Os monitores ou técnicos deveriam obter o conhecimento específico de que “[...] 2- A antena deve ser instalada na direção de Bragança, podendo proceder da seguinte maneira: olhar a direção de Bragança abrir os braços e fazer a colocação da antena no sentido dos braços abertos” (Prelazia do Guamá: livro do tombo (1971-1979 ), (n.d.)).É preciso mencionar que todos os monitores das escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá em seus mais variados municípios, tinham o município de Bragança - Sede Central do SERB como referência para direcionar as antenas em uma determinada altura. Segundo a Técnica 1: “[...] a antena tinha um fio entre 04 a 10 metros de altura entre os telhados das escolas radiofônicas e o receptor cativo” (informação verbal)30. Assim, a antena era um dispositivo que tinha um fio de alimentação de descida para também captaras ondas eletromagnéticas até o receptor cativo.

Este saber de instalação da antena, castanhas e o fio de alimentação era primoroso porque permitia que as ondas eletromagnéticas dos transmissores chegassem com qualidade até as antenas instaladas em cada escola radiofônica na forma de frequência sonora para o receptor cativo da Philips. Tais práticas culturais orientadoras dos técnicos e padres do SERB perdurou por mais de 20 anos neste sistema de ensino. Para Souza (2007), o uso da tecnologia como elemento da cultura material escolar, amplia as discussões sobre os significados assumidos pelos objetos, particularmente, os sentidos que apresentam no interior das instituições educativas que podem até serem designados pela história das técnicas e da evolução científica do mercado industrial.

Além do fio da antena de descida, existia também (o terra)31, “[...] este não podia tocar nem na parede e nem no solo, colocava no ferro, era enrolado no ferro e este que ficava no chão” (Técnico1, informação verbal)32. Aqui o objeto de suporte do fio era importante porque ele era conectado na antena e descia até o receptor cativo que ficava localizado na sala de aula. Por isso, o fio terra também não poderia ser instalado em qualquer espaço, pois era preciso ter cuidado com as paredes e com os solos no cerne das escolas radiofônicas.

Como o próprio nome diz o fio (o terra), nome designado ao nosso planeta, este dispositivo é um condutor que tem a função de se conectar a terra e a outros dispositivos do rádio, evitando o escape de energia, tornando o local seguro, onde ela possa ser dissipada, seja por motivo de segurança em relação à descarga elétrica ou pela melhoria da acústica (do som do rádio) (Curso prático de eletrônica em geral, 2019). De certa forma, o fio terra contribui para o prolongamento de vida dos rádios.

O uso desses objetos de suporte de instalação do rádio, (antenas, castanhas, fios de descida, fio o[terra]), eram ensinados durante as formações dos cursos dos monitores, no Centro de Treinamento do SERB, onde eles recebiam capacitações de como manipular o rádio e esses suportes no interior da sala de aula. Além disso, por meio de documentos como este apresentado e pela própria rádio eram reforçadas as mesmas orientações pelos técnicos do SERB.

De certa maneira, o uso do receptor cativo da Philips, com os objetos de instalação do rádio no século XX, apontam para a utilização de uma tecnologia que tinha por finalidade educar os caboclos ingênuos, jovens e adultos. Para Souza (2007), os materiais escolares projetados pelo uso da tecnologia em pleno século XX foram aplicados ao ensino com princípios de uma pedagogia moderna, fundamentada nos avanços científicos da tecnologia educacional para uma comunicação em massa no interior das instituições educativas, por isso, os objetos devem ser definidos de acordo com seu uso, suas condições históricas e assim analisados como uma tecnologia da história da cultura material escolar.

Sobre o horário para o Curso de Suprimento e Alfabetização Funcional, a direção do SERB comunicava que seriam das18h às18h30 e 20h às 20h30 iria ser desenvolvido esse novo horário. Estas são algumas das informações e medidas que o SERB iria tomar para propagar as aulas para as escolas radiofônicas com seus respectivos caboclos jovens e adultos na Amazônia.

Diante do exposto foi possível compreender que as práticas culturais, desenvolvidas entre os sujeitos escolares, produziram no interior das escolas radiofônicas os sentidos da recepção auditiva, onde as ondas eletromagnéticas que vinham dos transmissores e chegavam até as antenas na forma de frequência, de onda sonora e cativa, para o receptor cativo da Philips possibilitar o ensino aos monitores e alunos que deveriam apreender os conhecimentos transmitidos pelos professores-locutores do SERB. Na Figura 3, apresentamos os sentidos da recepção auditiva, a partir da reconstituição de uma escola radiofônica na Amazônia paraense, em seu cotidiano, e os objetos de suporte do rádio no interior das salas de aulas, conforme as informações que foram alçadas nos documentos.

Figura 3 Reconstituição da sala de aula de uma escola radiofônica com os suportes de rádio e seu receptor cativo da Philips. 

Fonte: O autor.

A reconstituição deste espaço escolar33 foi possível de ser compreendida e projetada em virtude dos sujeitos escolares (alunos e monitores) que éramos principais agentes sociais para organizar a sala de aula; a posição do receptor cativo, entre seus suportes do rádio, como as antenas, fios e castanhas possibilitavam que este objeto de comunicação e escolar se transformasse em um artefato cultural de ensino, por meio da propagação das ondas sonoras advindas do rádio.

Tais sentidos da recepção auditiva só foram possíveis de serem constituidores de um refinamento teórico e metodológico quando utilizamos Chartier (1990) como forma de apontara produção, a circulação, o uso e apropriações em relação ao cativo no interior deste Sistema e Escolas Radiofônicas do SERB.

Desse modo, efetuamos o movimento de compreensão dos sentidos sobre o rádio cativo “[...] como dando a ver uma coisa ausente, o que supõe uma distinção radical entre aquilo que representa e o que é representado, por outro a representação como exibição de uma apresentação pública de algo ou de alguém” (CHARTIER, 1990, p. 20).

Assim, os sentidos da recepção auditiva nos espaços escolares das escolas radiofônicas, funcionando nas residências dos monitores, que se estabelecem nos Comitês Paroquiais da Prelazia, são constituidores das categorias de classificações de artefatos que produziram a cultura material escolar no interior das escolas radiofônicas da Amazônia paraense: os artefatos de suporte para instalação do rádio (as antenas, as castanhas, fios de cobre e os transmissores) e o rádio/receptor cativo da Philips- um artefato cultural de ensino que tinha por objetivo alfabetizar e escolarizar os caboclos ingênuos na Amazônia paraense.

Considerações finais

A aquisição dos rádios/receptores cativos nas escolas radiofônicas do Brasil foi realizada pelo regime de convênio firmado como dispositivo na forma de decreto 50.370, onde a Igreja Católica e o governo consolidam uma parceria entre o Movimento de Educação de Base e as escolas radiofônicas em 1961.

Vale mencionar que no Brasil e na Amazônia paraense, o contexto do século XX, o Estado e a igreja caminhavam juntos para diminuir o analfabetismo, a ausência de escolaridade, a saúde, as organizações de associações e cooperativas e a constituição de líderes enquanto representantes para o desenvolvimento das comunidades. Com esses objetivos foi planejado e implantado o Sistema Educativo Radiofônico de Bragança, utilizando o rádio para os sujeitos pescadores artesanais, ribeirinhos, comerciantes, colonos, camponeses, domésticas e alguns líderes de comunidades.

O receptor cativo da Philips, o rádio educativo foi fabricado exclusivamente pela empresa Philips da Holanda, cuja fabricação, no Brasil, era feita por uma subsidiária Philips do Rio de Janeiro, momento ímpar, demarcando a influência das empresas internacionais e seus produtos de consumo de energia e eletrônica no Brasil e a circularidade dos objetos.

Uma análise relevante com relação à estrutura externa desse rádio é que ele tinha uma caixa de Baquelite que o tornava resistente, sendo adaptado ao clima da Amazônia, e uma marca de símbolo da própria empresa que apresenta o uso desse recurso para identificar seus objetos de consumo que, no receptor cativo da Philips, era constituído pelas cores bege com a cor vermelha na mesma forma de escudo e ondas dos rádios e estrelas, representando as lâmpadas, contendo, ainda, a palavra Philips no interior do escudo e fora do círculo. Ele pesava 2,5kg, isto possibilitava seu deslocamento no interior da sala de aula, inclusive para instalação e tinha apenas dois botões um de desligar/ligar e o outro para a escuta de uma única sintonia.

E de consenso que a aquisição dos rádios cativos no SERB compartilhava as mesmas práticas culturais de algumas escolas radiofônicas no Brasil, da escuta de uma única emissora pela educação evangelizadora. Contudo, o uso do rádio pelos monitores no SERB indicava duas práticas culturais: quando os monitores obtiveram conhecimentos sobre a eletrônica e a estrutura do rádio cativo, eles reinventaram o lugar das peças do rádio (Trimmer) para a escuta de outras emissoras como a Difusora do Maranhão e do Piauí, efetuando táticas desviacionistas para defender a educação crítica, com base na conscientização de seus alunos. Dessa forma, a ideia de representá-los como caboclos ingênuos, foi questionada, pois eles foram vistos como subversivos pelos padres por fomentarem campanhas das ligas camponesas comunistas. Por isso, para manter o controle, os padres mandaram soldar, a partir de 1971, todos os Trimmer dos rádios que chegavam no SERB, impossibilitando aos monitores e alunos a escuta de outras emissoras.

Dessa forma, é preciso compreender, ainda, que o uso do receptor cativo da Philips dependia de outros objetos de suporte do rádio e algumas orientações de instalação: as antenas no formato de T, as duas castanhas, os fios de alimentação das antenas e o fio terra. As antenas eram instaladas acima dos telhados de palhas, em cada uma de suas pontas deveriam ser encaixadas duas castanhas que servia de isolamento das antenas; tanto a antena quanto as castanhas interceptavam as ondas eletromagnéticas advindas dos transmissores.

As orientações eram que os monitores ou técnicos deveriam obter o conhecimento que a antena com as castanhas era instalada na direção de Bragança. Para isso, utilizavam a prática cultural de abrir os braços e fazer a colocação da antena olhando na direção de Bragança, ou seja, o município de Bragança - Sede Central do SERB foi a referência para direcionar as antenas nas escolas radiofônicas.

O fio de alimentação e o fio terra também necessitavam de saberes específicos: o primeiro permitia que as ondas eletromagnéticas chegassem com qualidade ao receptor cativo da Philips. Já o fio da antena de descida do terra, além de não poder ser tocado parede e nem no solo, o conectavam a um pequeno ferro (enrolado) que ficava no chão, isto impedia uma descarga elétrica bem como melhorava a acústica (do som do rádio). Entendemos o uso das antenas, castanhas, fios de alimentação do rádio e fio de descida (o terra) como os objetos de instalação do rádio. No ato de operar, os monitores e os técnicos necessitavam obter um saber específico para o funcionamento dos receptores cativos no interior das escolas radiofônicas.

Desse modo, os artefatos culturais de comunicação e ensino no interior das escolas radiofônicas foram analisados pela fabricação, usos, circulação e apropriações que apresentaram as mais variadas estratégias de imposição e táticas de apropriação, subversão e adequação. Por isso, compreendemos o uso do receptor cativo pelos sentidos da recepção auditiva - onde as ondas eletromagnéticas que vinham dos transmissores e chegavam até as antenas na forma de frequência de onda sonora e cativa - para possibilitar o ensino aos caboclos na Amazônia paraense estavam permeadas pelas representações de educação evangelizadora e crítica no cerne das escolas radiofônicas. Tais sentidos, não foram restritos pela linguagem da eletrônica sobre a ‘transmissão radiofônica e a recepção radiofônica’, porque só foi possível de compreender e analisar os diferentes modos de fazer e ver como rádio cativo, pelos principais protagonistas desta experiência educativa: os sujeitos escolares que produziram os sentidos da recepção auditiva no SERB.

É possível dizer ainda que os estudos sobre a história da educação radiofônica na Amazônia paraense são raros. Eles poderiam ser operados, ainda, sob a ótica da educação a distância, das políticas públicas da EJA, de uma perspectiva de colonial porque se tem a igreja colonizando os sujeitos caboclos da Amazônia; um estudo sobre a educação rural no Estado do Pará e Brasil; é possível firmar, ainda, que este estudo converge com a história do tempo presente, pois, mesmo sendo no período de 1960 a 1971, são vivenciados os conflitos culturais de uma educação crítica e evangelizadora no atual governo e que no SERB existe uma educação que se diferencia da educação formal, de outras instituições, na metade do século XX.

Nesse âmbito, os sentidos da recepção auditiva foram constituídos pela principal chave de análise deste estudo, a cultura material escolar nas escolas radiofônicas, identificada no uso dos objetos de suporte para instalação do rádio (as antenas, as castanhas, fios de cobre e transmissores); e no artefato cultural de ensino (intitulado como receptor cativo da Philips - o rádio cativo). Eis o motivo pelo qual era necessário obter saberes sobre a eletrônica e comunicação para manusear esses objetos, cuja finalidade educativa era a de transmitir um ensino aos caboclos ingênuos jovens e adultos e monitores para os comitês paroquiais, onde funcionavam as escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá, Amazônia paraense.

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1Vale destacar que, desde 1947, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) estimulou a realização de programas nacionais de adultos nas regiões mais “atrasadas”, com dificuldades de serviços sanitários, organização familiar e educação. Nesse contexto, a educação de base tinha por finalidade desenvolver propostas sobre leitura, escrita, cálculos, oralidade, trabalhos agrários, formação técnica e profissional, desenvolvimento de habilidades domésticas, dentre outras formações, que propiciassem um ensino universal, gratuito e obrigatório para as populações mais carentes (Fávero, 2006).

2Nos primeiros dois anos do MEB havia, ainda, uma prática educativa de estreita colaboração com o Estado, somente em 1963, o MEB foi redefinindo seus objetivos e metodologia para desenvolver uma prática educativa com uma opção ideológica de alfabetização mais crítica, (sintetizada na conscientização), do que apenas evangelizadora (Fávero, 2006).

3Além do termo rádio cativo, encontrado nos documentos, identificamos outra nomeação a este artefato cultural, intitulado de ‘receptor cativo’. Assim, serão usados estes dois termos neste texto.

4Utilizamos os termos ‘objetos’, ‘artefatos’, ‘utensílios’, ‘materiais escolares’ e ‘elementos’ como sinônimos que identificam o conjunto dos objetos de comunicação e escolares no cotidiano dessa escola radiofônica.

5O Sistema Educativo Radiofônico de Bragança foi implantado com o objetivo de minimizar um conjunto de ausência de políticas públicas no interior da Amazônia, são elas: ausência de comunicação, transporte, de moradia, saúde, assistência socioeconômica e a ausência da alfabetização e escolarização para os caboclos da Amazônia Paraense, conforme oLivro de tombo: Histórias do SERB (1957-1980).

6Os termos: sujeitos escolares e agentes sociais, mencionado por Michael de Certeau (2014) tem como aporte teórico Pierre Bourdieu (2010) que analisa os agentes institucionais e as relações estabelecidas com a sociedade e as práticas-habitus no interior das instituições de ensino e nas estruturas dos sistemas.

7Por isso, tomamos de empréstimos seus conceitos para apontar os sentidos da recepção auditiva, utilizada pela principal chave de análise deste texto: o rádio enquanto um artefato cultural que produz cultura material escolar nas escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá.

8É preciso mencionar que encontramos inúmeras dificuldades para encontrar e conversar com os dois técnicos sobre suas participações nesta pesquisa, pois quando identificávamos as pessoas como, exemplo, alunos e monitores, eles não aceitavam participar deste estudo porque lembravam do regime ditatorial em que trabalharam no SERB e isto os bloqueavam para participarem das conversas informais.

9Vale destacar, ainda, à medida que houve as conversas informais, mostramos as imagens dos objetos de comunicação e escolares, tendo em mente os eixos das representações teóricas e metodológicas de Roger Chartier (1990) sobre os diferentes modos de ver e fazer com os objetos de consumo para compreender o ato de operacionalizar as análises desses utensílios.

10O bispo dom Eliseu e padre Maria Giambelli foram padres italianos da Congregação dos Barnabitas que se tornaram um dos primeiros coordenadores e diretores do Sistema Educativo Radiofônico de Bragança. Ambos foram os principais fundadores deste projeto educativo.

11Conforme o Prelazia: livro de tombo (1947-1964)), o termo prelazia refere-se a “[...] uma circunscrição eclesiástica, isto é, uma geografia territorial em que uma igreja particular atua na integração de diversos municípios para levar a mensagem do evangelho as comunidades mais longínquas”.

12Para este texto optamos em trazer especificamente os comitês paroquiais onde foi analisado o rádio no cerne das escolas radiofônicas na Prelazia do Guamá, Amazônia paraense.

13Os Barnabitas são conhecidos como Clérigos Regulares de SãoPaulo. Clérigos estão associados aos sacerdotes que constituem boa parte do clero; regulares são aqueles que vivem como missionários em comunidades, seguindo os fundamentos da castidade, pobreza e obediência; de São Paulo relaciona-se ao apóstolo como seu patrono com base no seguimento e na pregação de Jesus Cristo, pelo Caminho da Verdade e Vida. Assim, são considerados como ‘os Barnabitas’, cujo intuito é o de criar e contribuir com as obras apostólicas, sociais, assistenciais, religiosas e educativas para a população (Barnabitas do Brasil, 2003).

14A citada escola radiofônica teve sua origem em 27 de janeiro de 1960, quando os padres da Prelazia do Guamá, numa reunião plenária em que examinaram a necessidade de alfabetizar os jovens e adultos, aprovaram por unanimidade a organização do sistema. Após a implantação desse sistema educativo, no dia 17 de setembro de 1960, padre Giambelli compõe a primeira Equipe Central do SERB que se dedicou a organizar cursos para monitores nas várias paróquias da Prelazia (Maciel, 2015).

15 Rodrigues (2006) nos ajudou a compreender que o termo caboclo pode ser visto como o lugar de representação do outro, onde se constroem as identidades e não se restringem a um grupo social ou a um grupo étnico, e sim aos habitantes rurais da Amazônia que têm inúmeras práticas de trabalho, desenvolvidas pelos agricultores, pescadores, ribeirinhos, coletores de castanha, índio, que produzem cultura e uma resistência em meio às representações de dominação da modernidade.

16Foi inserida a imagem do rádio cativo no mapa para mostrar aos leitores onde foram consumidos os rádios que tinham por finalidade alfabetizar e escolarizar os jovens e adultos nos mais variados Estados brasileiros.

17Este documento digitalizado nos permitiu identificar a rede de sistemas e escolas radiofônicas no Brasil. Conforme Horta (1972), um Sistema Educativo Radiofônico é um conjunto formado por uma equipe treinada e equipada para radicação e supervisão de escolas radiofônicas, cada sistema conta com uma equipe local e as equipes locais de cada Estado são coordenadas por uma equipe Estadual. Em nível nacional existia uma coordenação e uma administração centralizadas no Rio de Janeiro pelo Secretário Nacional do MEB. Enquanto que as escolas radiofônicas deveriam funcionar em horário inteiramente adequado às populações a serem atingidas pelo sistema, formado por alunos e monitores.

18As primeiras escolas radiofônicas implantadas no Brasil, em 1961, foram nos seguintes Estados: Goiás, Natal, Pernambuco, Alagoas, Aracaju, Pará e Bahia (CEDIC, 1961-1965).

19A partir de 1964 o padre Aloísio Neno foi preso no aeroporto de Val- de- Cans, no dia 04 de abril de 1964, por uma patrulha de soldados da aeronáutica. Eles afirmavam que o religioso promovia uma obra “[...] perigosa, obra subversiva [...]” na orientação dos Sistemas Educativos Radiofônicos (Coimbra, 2003, p. 21).

20Como estes municípios foram inseridos na segunda década da pesquisa, em (1971), não os identificamos no mapa da prelazia do Guamá, onde se tinham as primeiras escolas radiofônicas.

21Conforme o Livro de Tombo da REB (n.d). Prelazia do Guamá (1971-1979) ao ser instaurada a conclusão do inquérito do Comando de Caça aos comunistas, também denominado de AI 5, em 1968, baixado pelo presidente Arthur da Costa e Silva, os professores, alunos e funcionários dos Sistemas Educativos na Amazônia paraense eram vigiados e punidos para não promoverem práticas subversivas durante o regime militar.

22Em 1891, Frederik Philips e o filho engenheiro Gerard compraram uma fábrica vazia em Eindhoven, Holanda. Lá, eles montaram um laboratório de pesquisa de física e química integrado com a indústria para produzir lâmpadas de filamento de carbono que durassem mais e outros produtos. Mas o negócio ficou competitivo nos anos seguintes, e, para sobreviver, Frederik incluiu outro filho, Anton, que cuidava da parte de negócios. Em 1908, nasceu a fábrica de lâmpadas da Philips e quatro anos depois, em 1912, ela inaugurou uma nova fábrica para os bulbos. Na época, a empresa abriu o capital e ganhou fama com encomendas internacionais, até do Palácio de Inverno, residência oficial do czar na Rússia (A história da Philips..., 2018).

23Encontramos inúmeras dificuldades de encontrar o modelo deste receptor-rádio cativo da Philips, fomos no Museu da Rádio e não o encontramos, no Memorial de dom Eliseu e nas casas dos colecionadores de rádio. E sempre descobríamos os rádios anteriores ou após a ele. Daí descobrimos com este técnico1que todos eles foram queimados pela coordenação do SERB, pois com a vinda da polícia em Bragança, esta era uma das ordens, de não deixar rastros, pois os delegados viam este aparelho como difusor do comunismo na época do regime ditatorial.

24Entrevista out. 2018.

25No texto de Feitosa e Bitencourt (2014) que trata sobre a história da educação a distância no sertão de Pernambuco: o rádio e o MEB, identificamos o modelo do rádio no Acervo da Emissora Rural de Pernambuco e sobre as estruturas com o ‘transistor e trimmer’, encontramos um manual sobre ‘Curso geral de eletrônica - apostila de eletrônica’, contendo 100 páginas de onde extraímos tanto as imagens quanto a função desses objetos, importantes para análise de nosso objeto e para facilitar a leitura do estudo.

26Os transmissores de cinco Kilowatts em Onda Tropical de 60 mts ficavam localizado no Comitê Central da Prelazia do Guamá eles tinham por finalidade “[...] irradiar a voz do professor locutor para os rádios cativos localizados em toda Prelazia do Guamá. [...] A firma ELINCO (Eletrônica, Indústria e Comércio LTDA) de Belém -PA, comprometia- se a fornecer e instalar os pequenos transmissores pelo preço de CR$350.000,00 cada objeto” [...] (Prelazia do Guamá: livro do tombo (1971-1979 ), (n.d.), p. 9).

27Na região Nordeste algumas escolas radiofônicas sobreviveram ao golpe militar de 1964 e a repressão dos anos seguintes pelo apoio da sindicalização rural e alguns integrantes do movimento da igreja que defendiam a educação popular, de base crítica Scocuglia (2006) e Fávero (2006).

28Entrevista out. 2018.

29Entrevista out. 2018.

30Entrevista out. 2018.

31Aqui falando de um Sistema Radiofônico que era coordenado por bispos, padres e irmãs da Igreja Católica e este, talvez, seja o motivo de ser destacado a palavra: o terra.

32Entrevista out. 2018.

33Há vários autores no campo da historiografia da educação que fazem a reconstituição de salas de aulas de instituições escolares, no entanto, não identificamos autores para fundamentar a reconstituição de espaços escolares radiofônicos na Amazônia. Assim, tal reconstituição só foi possível de ser registrada na forma de figura, quando tomamos como fonte histórica as informações contidas no Livro de tombo exames supletivos (1976 -1981), (n.d.)

67Como citar este artigo: Maciel, R. A. O rádio cativo nas escolas radiofônicas: um artefato cultural de ensino para os caboclos ‘ingênuos’ na prelazia do guamá, amazônia paraense (1961- 1971). (2020). Revista Brasileira de História da Educação, 20. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v20.2020.e116

68Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

70How to cite this article: Maciel, R. A. The captive radio in radio schools: a culture artefact of education to ‘naïve’ caboclos in the prelature of guamá, Pará’s Amazon (1961-1971). (2020). Brazilian Journal of History of Education, 20. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v20.2020.e116

71This paper is published under the Creative Commons Attribution 4.0 (CC -BY 4).

34Notice should be taken that, since 1947, the United Nations Educational, Scientific and Culture Organization (UNESCO) encouraged the execution of national programs for adults in the regions that are “overduo” with health services, family organization and education. In this context, the base education had as its aims develop suggestions about read, write, calculations, orality, agrarian work, technical and professional formation, development of domestic skills, among others formations, that provide a universal education, free of cost and mandatory for the poorest population (Fávero, 2006).

35In the first two years of MEB, there still was an education practice of close cooperation with the State, only in 1963, the MEB, was redesigned its objectives and methodology to develop an educative practice as ideological option of literacy more critical, (summarized in awareness), than only evangelizing (Fávero, 2006).

36Beyond the term captive radio, found in this document, we identified another nomination to this cultural artifact, named “captive receptor”. Thus, will be use these the two terms in this text.

37We used the term “objects”, artifacts, utensils, school material and elements as synonym that identify the set of communication objects and academic in the daily life of this radio school.

38The Educative radio system of Bragança was implanted with the objective of minimize a series of public politic absence in the countryside of Amazon, they are: absence of communication, transport, habitation, health, socioeconomic assistance and the lack of literacy and schooling for the caboclo from Pará’s Amazon, according to the Record book: Histórias do SERB (19957 -1980).

39The terms: school’s subject and social agents, mentioned by Michael de Certeau (2014) has as theoretical base Pierre Bourdieu (2010) who analyses the institutional agents and the relation stablished with a society and the practice-habitus, within the academic institutions and in the system structures.

40For this reason, we use their concepts to point out the senses of auditive reception, used by the main key to analyzes this text: the radio as a cultural artifact that produce cultural school material in the radio schools in the Prelature of Guamá.

41It’s necessary to mention that we found innumerous difficulties to find and talk with this two technicians about their participation in this research, since when we identified those people as, for example, students and monitors, they did not accept to participate of this study because they remember the dictatorship in which they worked in SERB and that blocked them to participate with the informal conversation.

42Notice should be taken that, still, the extent that there were the informal conversations, we showed the images of the object of communication and education, having in mind the axis of theoretical and methological representations of Roger Chartier (1990) about the different ways to see and do with the object of consumption to understand the act of operationalize the analysis of these tools.

43The Bishop don Eliseu and the father Maria Giambelli were Italian fathers from the Barnabites Congregation who became one of the first coordinators and directors of the Sistema Educativo Radiofônico de Bragança. Both were the primary founders of this educational project.

44According to Prelazia: livro de tombo (1947-1964), the term prelature refers to a “[…] ecclesiastical circumscription, it means, a territorial geography in which a particular church act in the integration of many counties to carry the gospel message to the most distant communities”.

45The Barnabites are known as the Regular Clerics of SaintPaul. Clerics are associated to the priests that represents a good part of the clergy; regulars are the one who live as missionaries in the communities, following the foundation of chastity, poverty and obedience; of Saint Paul are related to the apostles as their patron based on follow and preaching of Jesus Christ, for the Path of Truth and Life. So, they are considered ‘the Barnabites’ whose propose is to create and build with the apostolic, socials, assistances, religious and educative works for the population (Barnabitas do Brasil, 2003).

46The mentioned radio school has its origin in January 27th of 1960, when the priest from the Prelature of Guamá, in a plenary meeting in which they detected the necessity to literacy the young and adults, was unanimously approved the organization of the system. After the implementation of this educational system, in the date of September 17th of 1960, the priest Giambelli composed the first SERB’s Central Team who dedicated himself to organize courses for monitors in many parishes of the Prelature (Maciel, 2015).

47 Rodrigues (2006) helped us to understand that the term caboclo can be seen as the place of representation of the other, where identities are built and is not restrict to one social group or to one ethnic group, but to the rural residents of the Amazon who has numerous work practices developed for the farms, fishermen, riversiders, chestnut gatheres, indians, who produce culture and a resistance among the dominating representations of modern times.

48The radio image has been inserted to show the readers where were the consumed the radio that had the purpose to literacy and schooling the young and adults in the most variable brazilians States.

49This digitalized document allowed us to identify the systems network of the radio system and radio schools in Bragança. According to Horta (1972), an Educational Radio System is a group formed by a trained team to root and supervise the radio schools, each system has a local team and the local groups of each States are coordinated by a State team. In national level there was one coordination and one administration centralized in Rio de Janeiro by the National Secretary of MEB. While the radio schools should work at a time entirely appropriate to the population to be reached by the system, formed by students and monitors.

50The first radio schools implemented in Brazil in 1961, were in the following States: Goiás, Natal, Pernambuco, Alagoas, Aracaju, Pará and Bahia (CEDIC, 1961-1965).

51Since 1964 the priest Aloísio Neno was arrested in the airport of Val- de- Cans, in the date of April 4th in 1964, by a patrol of aeronautic soldiers. They claimed that the religious promoted a work “[…] dangerous, subversive work […]” in the orientation of the Educational Radio System (Coimbra, 2003, p. 21).

52As these counties were inserted in the second decade of the research, in (1971), we did not identify them in the map of the prelature of Guamá, where there were the first radio schools.

53According to the Record book of REB (n.d). Prelazia do Guamá (1971-1979) upon completion of the investigation of the Command of Communist Hunting, also known as AI5, in 1968, decreed by the president Arthur da Costa e Silva, the teachers, students and staff from the Education System in Para’s Amazon were spied and punished to do not promote subversives practice during the dictatorship.

54In 1891, Frederik Philips and son, the engineer Gerard bought an empty factory in Eindhoven, Holland. There, they built a physics and chemistry research laboratory integrated with the industry to produce filament lamps made of carbon that last longer than the other products. But the business got competitive in the following years, and, to survive, Frederick included his other son, Anton, who took care of the business part. In 1908, the lamp factory was born and in four years later, in 1912, it launched a new factory for the bulbs. At the time, the fabric company opened and gained fame with international orders, even from the Winter Palace, the official residence of czar in Russia (The history of Philips…, 2018).

55We found numerous difficulties in find the model of this receptor-radio captive from Philips, we went to the Museum of Radio and we did not find, in dom Eliseu Memorial and in the houses of the collectors of radio. And we always found the radios from before or after it. So, we found with the technician 1 that all of them were burned by the coordination of SERB, because with the arrival of the police in Bragança, that was one of the orders, to not let any trace, since the delegates seen this apparatus as a diffuser of communism in the dictatorship.

56Interview out. 2018.

57In the text from Feitosa e Bitencourt (2014) which is about the history of distance education in Pernambuco outback: the radio and MEB, identified radio model in the collection of the Rural Transmitter of Pernambuco and about the structres as “transistor and trimmer” we found a manual about the ‘Curso geral de eletrônica - apostila de eletrônica’, containing 100 pages from which we extract both the images and the function of these object, important for the analysis of our object and to facilitate the reading of the study.

58The transmitters of five Kilowatts in tropical waves of 196 ft placed in the Central Committee in the Prelature of Guamá had the purpose of “[…radiate the teacher announcer voice to the captive radio located in all Prelature of Guamá. […] state ELINCO (Eletrônica, Indústria e Comércio LTDA) in Belém -PA, committed to supply and intall the small transmitters by the price of CR$350.000,00 for each object” […] (Prelazia do Guamá: livro do tombo (1971-1979), (n.d.), p. 9).

59In the north region some radio schools survived the military coup in 1964 and the repression of the following years by the support of the rural unionization and some members of the church movement that defended popular education of a critical basis Scocuglia (2006) and Fávero (2006).

60Interview out. 2018.

61Interview out. 2018.

62Interview out. 2018.

63Here talking about a Radio System that was coordinated by Bishops, priests and sisters from the catholic church and that, may be, the reason to be point the term: the ground wire.

64Interview out. 2018.

65There are many authors in the field of historiography education that make the reconstitution of classrooms, however, we could not found authors to bases the reconstitution of the radio school space in the Amazon. Thus, such reconstitution was only possible to be designed in the form of a figure, when we take the information contained in the Livro de tombo exames supletivos (1976 -1981), (n.d.)

Recebido: 06 de Julho de 2019; Aceito: 27 de Abril de 2020

E-mail: rogeriom@ufpa.br

Rogerio Andrade Maciel é doutor em Educação pelo Programa de Pós- Graduação em Educação, na linha de Educação, Cultura e Sociedade (PPGED/ICED/UFPA/2019). Associado da Sociedade Brasileira de História da Educação - (SBHE). Líder do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em História da Educação e Currículo na Amazônia (NIPHECA). Pesquisador do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação de Jovens e Adultos e Diversidade na Amazônia - (GUEAJA). Membro Integrante do Núcleo de Estudos e Documentação em História da Educação e das Práticas Leitoras do Maranhão - (NEDHEL). E-mail: rogeriom@ufpa.br https://orcid.org/0000-0003-1673-5215

Rogerio Andrade Maciel has a PhD in Education from the Federal University of Pará (UFPA) Postgraduate Program in Education, in the field of Education, Culture and Society (PPGED/ICED/UFPA/2019). Associate of the Brazilian Society of History of Education (SBHE). Leader of the Interdisciplinary Research Group in the History of Education and Curriculum in the Amazon (NIPHECA). Researcher at the Study and Research Group on Youth and Adult Education and Diversity in the Amazon - (GUEAJA). Member of the Center for Studies and Documentation in the History of Education and Reading Practices of Maranhão - (NEDHEL). E-mail: rogeriom@ufpa.br https://orcid.org/0000-0003-1673-5215

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