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Revista Brasileira de História da Educação

versión impresa ISSN 1519-5902versión On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.21  Maringá  2021  Epub 01-Ago-2021

https://doi.org/10.4025/rbhe.v21.2021.e190 

Editorial

A RBHE a um passo do Bicentenário da Independência e no início de uma nova década

Alicia Civera Cerecedo1  * 
http://orcid.org/0000-0003-0021-2911

Ana Clara Bortoleto Nery2 
http://orcid.org/0000-0001-6316-3243

Cláudia Engler Cury3 
http://orcid.org/0000-0003-2540-2949

Evelyn de Almeida Orlando4 
http://orcid.org/0000-0001-5795-943X

José Gonçalves Gondra5 
http://orcid.org/0000-0002-0669-1661

1Centro de Investigación y de Estudios Avanzados del Instituto Politécnico Nacional, Cidade do México, México.

2Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Marília, SP, Brasil.

3Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil.

4Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

5Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.


Introdução

2021 é um ano singular para a História da Educação no Brasil. Ele representa uma transição, uma mudança de ciclo que se concretiza com o último ano antes de completarmos o bicentenário de nossa independência política, coincidindo com o início de uma nova década. Trata-se de um momento muito apropriado para pensarmos a história que nos trouxe até aqui, enquanto somos provocados pelas questões que se apresentam e hoje se impõem a nós professores e pesquisadores. De fato, esse é um movimento já iniciado na RBHE em 2020, quando, por meio de um dossiê, a revista inaugurou uma série de debates sobre essa temática.

Em meio aos acontecimentos do tempo presente, em que vivemos uma pandemia que mudou nossa vida em todas as suas dimensões, a cruel pedagogia do vírus da covid-19, como disse Boaventura Sousa Santos (2020), tem nos imposto a necessidade de alguns enfrentamentos em caráter de urgência, mas ela não é a única. No plano político e científico, somos desafiados a repensar nossas práticas, estratégias, táticas e fazeres, ampliando saberes tanto do ponto de vista de sua produção, quanto de sua divulgação. Podemos dizer que nunca o conhecimento científico circulou tanto quanto neste momento, quando a vida nos levou a mudar nosso espaço de debates, extrapolando as fronteiras da academia, em uma escala bem mais ampliada, por meio das tecnologias virtuais.

Nesse entrecruzamento entre o passado vivido e o novo que se anuncia no horizonte, podemos olhar para os diferentes projetos de nação em disputa e para o lugar da educação nesses projetos, buscando perceber suas (re)configurações ao longo da história.

Se, como pesquisadores, temos tentando compreender esse passado que configurou os vários sentidos e significados de Brasil em seus 200 anos de independência, como docentes, temos lutado nos diferentes espaços que ocupamos em nossos cotidianos para defender o direito à educação e promovê-la como potência emancipatória para nossa população. Muito avançamos nessa luta, nesse projeto, mas a compreensão da história como processo nos coloca hoje diante de um recuo de 200 anos, como sinaliza Carlos Roberto Jamil Cury (2019). Nesse sentido, as políticas de desmonte, tanto na educação quanto na pesquisa, recorrentes na sociedade brasileira, têm nos feito retroceder séculos de conquistas. Ainda assim, seguimos resistindo bravamente e produzido conhecimento neste momento tão inédito para o Brasil e para o mundo.

O alerta que se soou no mundo na esteira da pandemia de Covid 19 trouxe um momento complicado da vida, entre incerteza, medo da morte e da doença, luto, consequências econômicas, políticas de isolamento, os debates em torno de vacinas e as lutas para sua obtenção e aplicação. O alcance da desagregação dos espaços públicos em geral, das formas de cuidado e da escola, em particular, não possuem precedentes, assim como a sua contrapartida: a mudança abrupta da vida privada.

As formas com que nos relacionamos e construímos uma vida em comum têm-se mobilizado a uma velocidade difícil de assimilar. Assim, temos que lidar com a ausência dos encontros fortuitos e das reuniões presenciais que eram seladas pela palavra, na presença dos corpos e dos gestos. Com espaço limitado e tempo liquefeito, vivenciamos as tensões entre trabalho e cuidado familiar. Esse avanço da vida virtual veio para ficar e temos a urgente necessidade de reduzir a grande brecha digital existente, para que a desigualdade não se torne ainda mais aguda e todas as pessoas possam contar com o acesso aos meios digitais.

Embora os encontros face a face sejam insubstituíveis, durante esse tempo houve um intercâmbio internacional muito rico no campo da história da educação: mesas, conferências, cursos, webinars e congressos são mais acessíveis e econômicos. Além disso, podemos vê-los de acordo com nossa disposição de tempo. A oferta desse tipo de conteúdo é imensa e certamente terá efeitos positivos na abertura de caminhos para a comunicação entre colegas de todo o mundo.

Os resultados dessa troca ainda serão avaliados, mas, nesse contexto, o trabalho das revistas é fundamental. No turbilhão de mudanças e atividades virtuais, as revistas científicas dão continuidade ao trabalho iniciado e sustentado há anos - com um ritmo e rigor que garantem avaliação, dedicação e reflexão -, bem como trazem um formato que permite captar o conhecimento produzido e mantê-lo visível e seguro na web.

As consequências da pandemia sobre os modos de vida e trabalho dos historiadores da educação ainda não foram vistas. Já há relatos, porém, de que a produtividade das mulheres acadêmicas tem sido mais afetada do que a dos homens devido à sua maior dedicação aos cuidados familiares. Ainda é cedo para ver se isso surtiu efeito nos artigos recebidos pela Revista Brasileira de História da Educação.

Em termos de perspectivas temáticas e teórico-metodológicas, é provável que também ocorram mudanças. Em cidades pequenas, a possibilidade de consultar arquivos escolares ou locais, ou de fazer história oral, pode ter sido mantida, mas a maioria dos lugares teve que optar por acervos já organizados e digitalizados, que podem focalizar a atenção nas fontes hegemônicas e desviar a pesquisa das fontes estruturadas com menos recursos econômicos.

Isso também nos obriga a abandonar as formas usuais de buscar informações e analisar fontes. Talvez seja um momento para mais reflexão teórica ou análise estatística. Talvez o nosso olhar para o passado mude também à luz do que observamos hoje, quando dois dos eixos fundamentais da cultura escolar são perturbados: o tempo e o espaço. É muito cedo para saber os efeitos. Por enquanto, a Revista Brasileira de História da Educação sustenta seu trabalho com a publicação de artigos de autoria individual e coletiva. Em suas páginas, você pode ver a permanência de grandes temas e problemas que nunca são suficientemente discutidos: o papel da escola no colonialismo; a democracia; a desigualdade e exclusão por raça, gênero ou classe; a formação de crianças e jovens na leitura; línguas, matemática, medicina, sociologia e outros tópicos.

Percebe-se também a preocupação com campos sólidos da história da educação: a educação dos corpos, sensibilidades, educação física, educação sexual, educação prisional e outros. Os atores na escola, nas práticas educacionais, nos objetos, nos congressos, nas revistas e nas instituições educacionais são cada vez mais diversos e ocupam diferentes espaços geográficos e nações, desde a história cultural, social e política, aproximando-se, progressivamente, da história recente. São trabalhos que apoiam a pesquisa que vem ocorrendo há muito tempo e que se abre para o futuro além do tempo de sua emergência.

No bojo de tantas mudanças, chegamos ao nosso vigésimo primeiro volume. Nesta edição, publicamos 45 artigos nacionais e internacionais, submetidos de forma espontânea e em fluxo contínuo, duas resenhas e uma entrevista. Os artigos publicados são provenientes de investigadores vinculados a instituições das cinco regiões do Brasil: dois desses textos foram escritos em parceria com pesquisadores do Uruguai e outro possui um pesquisador da Argentina como coautor. Onze artigos também possuem versão em inglês.

Além desses, contamos com cinco artigos de pesquisadores de instituições estrangeiras: três da Argentina, um do México e um de Portugal. As duas resenhas são de autoria de investigadores brasileiros das regiões centro-oeste e sul, e a entrevista foi realizada por dois pesquisadores da região sul do Brasil com Eliezer Moreira Pacheco - historiador brasileiro, ex-presidente do INEP, que participou da Rede Federal de Educação Científica e Tecnológica e instituição dos IFES. Deste modo, buscamos contemplar a diversidade de regiões do país, assim como atender aos critérios de internacionalização colocados para os periódicos científicos.

O conjunto de trabalhos aqui reunidos nos permite olhar para o passado atentos às demandas do presente. No horizonte de mudanças possíveis já anunciadas, seguimos firmes na produção e na divulgação do conhecimento científico, agradecendo a cada um(a) pela colaboração, seja como autor(a), avaliador(a) ou leitor(a), e ensejando outras colaborações futuras.

Desejamos a todos(as) boas leituras desse novo número da RBHE!

Referências

Cury, C. R. J. (4 abr. 2020). A Educação nas Constituições outorgadas [Vídeo]. In XIII Seminário Anual Pensar a Educação, Pensar o Brasil. Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=EWEUxvnTtiwLinks ]

Santos, B. S. (2020). A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina. [ Links ]

6Como citar este editorial: Cerecedo, A. et al. A RBHE a um passo do Bicentenário da Independência e no início de uma nova década. Revista Brasileira de História da Educação, 21. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v21.2021.e190 Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4)

*Autora para correspondência. E-mail:malixa44@hotmail.com

Alicia Civera Cerecedo é licenciada em Pedagogia (Universidade Nacional Autônoma do México), mestre e doutora em Ciências com especialidade em Educação pelo Cinvestav (México). Atuou como professora de licenciatura e pós-graduação em diversas instituições do México e América Latina, além de ter realizado pesquisa na Espanha, Chile e Brasil. É editora da RBHE. E-mail: malixa44@hotmail.com https://orcid.org/0000-0003-0021-2911

Ana Clara Bortoleto Nery possui doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (1999). Atualmente é professor adjunto (livre-docente) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, atuando na Graduação e na Pós-graduação, cujo Programa foi coordenadora. É bolsista Pq/CNPq. É editora da RBHE. E-mail: neryanaclara@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-6316-3243

Cláudia Engler Cury é doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2002). Atuou como Tesoureira da Sociedade Brasileira de História da Educação nos biênios (2013-2015 e 2015-2017), professora associada IV do departamento de história da Universidade Federal da Paraíba. Membro efetivo dos Programas de Pós-Graduação em História e em Educação da UFPB. É editora-chefe da RBHE. E-mail: claudiaenglercury73@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-2540-2949

Evelyn de Almeida Orlando é doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora da Escola de Educação e Humanidades e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É vice coordenadora do GT de História da Educação da ANPUH/PR. É editora da RBHE. E-mail: evelynorlando@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-5795-943X

José Gonçalves Gondra é doutor em Educação (USP). Professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É bolsista produtividade de pesquisa do CNPq. É editor da RBHE. E-mail: gondra.uerj@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-0669-1661

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