SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.21Fundamentação da história da educação brasileira:o gesto pedagógico colonial, os processos para consulta e os regimentos, séculos XVII-XVIIIOs primeiros professores de língua inglesa do século XIX: lutas pela valorização do idioma índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Revista Brasileira de História da Educação

versão impressa ISSN 1519-5902versão On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.21  Maringá  2021  Epub 28-Jan-2021

https://doi.org/10.4025/rbhe.v21.2021.e163 

Artigo Original

A constituição de projetos formativos latino-americanos para a Educação Física(1944-1952)

The constitution of Latin American training projects for Physical Education (1944-1952)

La constitución de proyectos de formación latino americanos para la Educación Física (1944-1952)

Juliana Martins Cassani1  * 
http://orcid.org/0000-0001-6332-7930

Lucas Oliveira Rodrigues de Carvalho2 
http://orcid.org/0000-0001-9489-8795

Amarílio Ferreira Neto2 
http://orcid.org/0000-0002-3624-4352

1Faculdade Vale do Cricaré (FVC), São Mateus, ES, Brasil.

2Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES, Brasil.


Resumo:

A pesquisa analisa os dispositivos utilizados pela imprensa periódica de ensino e de técnicas para constituir projetos formativos para a Educação Física fundamentados nas especificidades culturais latino-americanas. Possui como fonte a Revista Brasileira de Educação Física (1944-1952) e utiliza como pressuposto teórico-metodológico o conceito de análise pela materialidade. As fontes acenam para as estratégias editoriais que ampliaram a circulação do periódico internacionalmente, materializando-o como espaço de intercâmbio entre os articulistas dedicados às problemáticas do campo da atuação profissional. A publicação de orientações didáticas, divulgações de Congressos, cursos de formação e oferta de bolsas de estudos consolidou a campanha de cooperação entre o Brasil e os países vizinhos.

Palavras-chave: historiografia; revista; América Latina; prescrição

Abstract:

The research analyzes the devices used by the periodic teaching and technical press to constitute training projects for Physical Education based on Latin American cultural specificities. It has as source the Revista Brasileira de Educação Física (1944-1952) and uses as a theoretical-methodological assumption the concept of analysis by materiality. The sources point to the editorial strategies that have expanded the circulation of the journal internationally, materializing it as a space for exchange between the writers dedicated to the problems of the field of professional performance. The publication of didactic guidelines, the dissemination of Congresses, training courses and the offer of scholarships consolidated the cooperation campaign between Brazil and neighboring countries.

Keywords: historiography; magazine; Latin America; prescription

Resumen:

La investigación analiza los dispositivos utilizados por la prensa periódica docente y técnica para constituir proyectos de capacitación en educación física basados en las especificidades culturales de América Latina. Tiene como fuente la Revista Brasileira de Educação Física (1944-1952) y utiliza como un supuesto teórico-metodológico el concepto de análisis por materialidad. Las fuentes señalan las estrategias que han expandido la circulación internacional de la revista, materializándola como un espacio de intercambio entre los escritores dedicados a los problemas del campo del desempeño profesional. La publicación de directrices didácticas, la difusión de congresos, cursos de formación y la oferta de becas consolidaron la campaña de cooperación entre Brasil y los países vecinos.

Palabras clave: historiografía; revista; Latinoamérica; prescripción

Introdução

O objetivo desta pesquisa é analisar dispositivos utilizados pela imprensa periódica de ensino e de técnicas para constituir projetos formativos para a Educação Física fundamentados nas especificidades culturais latino-americanas. O estudo está inserido em um projeto guarda-chuva, cujo objetivo é investigar as teorias que ofereceram suporte para a elaboração de projetos latino-americanos de formação humana, publicados na imprensa periódica educacional de seis países (Brasil, Argentina, Chile, México, Espanha e Uruguai)1.

Sob esse aspecto, temos acompanhado as iniciativas de pesquisadores em consolidar a história transnacional da educação como campo de estudos. Referimo-nos aos empreendimentos de pesquisa de Vidal (2018), que têm assumido os intercâmbios e as trocas de conhecimentos como potenciais para investigar as inovações produzidas por intelectuais e a sua materialização em artefatos culturais, saberes didáticos e científicos. Por meio deles, é possível captar uma história nacional imbricada e em constante relação com uma história internacional.

Esses estudos têm se desdobrado em outros objetos, dedicados a investigar: a) a circulação de intelectuais na América do Sul com o objetivo de divulgar teorias, modelos e práticas educacionais para professores e instituições de ensino, estabelecendo redes de colaboração por vezes associados a periódicos; e b) os processos de difusão dos conhecimentos inscritos em manuais pedagógicos, compreendendo-os como um tipo de suporte literário que é mobilizado para intermediar as bases teóricas escritas pelos intelectuais e os seus usos no contexto de sala de aula2.

Em um contexto de práticas de pesquisa que também articulam diferenciadas fontes, Gondra e Suasnabar (2016) analisam três revistas pedagógicas oriundas dos Estados Unidos da América (EUA), da Argentina e do Brasil, assumindo-as como suportes veiculadores de uma agenda de formação docente nos países das Américas, no século XIX. Os autores compreendem a imprensa educacional como repositório de informações, em que expressam os ‘discursos de convencimento’ em virtude de convenções legítimas presentes em um determinado momento histórico. Para Gondra e Suasnabar (2016), essas fontes apresentavam-se como dispositivos para a construção e regulação daquilo que pode e deve ser reconhecido como específico no âmbito educacional, constituindo ‘mecanismo de legitimação’ dos modelos pedagógicos “racionais” e dos projetos que conformavam o homem como ‘moderno’ e ‘civilizado’.

Com foco na educação do corpo, Oliveira e Beltrán (2013) analisaram o modo como as práticas corporais foram apropriadas no contexto ibero-americano, entre o final do século XIX e o início do século XX. No âmbito da Argentina, do Brasil e da Colômbia, elas demonstravam a conexão entre a educação do corpo e a formação dos bons hábitos, apresentando semelhanças em relação à valorização dos sentimentos morais e nacionalistas. Os autores acenam para uma história conectada entre esses países e a Espanha, especialmente pelas contribuições de intelectuais latino-americanos aos debates sobre a Escola Nova - ainda que eles tenham nascido na própria Europa.

No campo da historiografia da educação física, os estudos paulatinamente indicam caminhos para analisar os seus processos de escolarização no âmbito dos países latino-americanos. Dentre eles, Scharagrodsky (2004) investiga os escritos de Enrique Romero Brest relacionados com a criação de um método ginástico que contemplasse as características do povo argentino. Reconhecido como ‘porta-voz autorizado’ daEF naquele país, o articulista lançou as bases para a escolarização dos exercícios físicos na Argentina e, por meio da uniformização obtida pelo seu método, contribuiu para consolidar a formação dos futuros profissionais que atuariam com a EF na escola.

Se as teorizações dos métodos europeus foram aquelas que tiveram centralidade nas análises de Scharagrodsky (2004), vimos que o esporte também se configurou como prática que contribuiu para a consolidação da EF, especificamente no Uruguai. Nesse caso, Piovani, Rinaldi e Herold Junior (2019) analisam os processos com os quais o periódico Sportsman apresentou-se, no início do século XX, como elemento central na conformação de um pensamento social, cultural e político de uma ‘nação civilizada’, incentivada pelo esporte. Nesse processo de transição cultural, os articulistas em circulação no periódico divulgavam estrategicamente as práticas privilegiadas pelos anglo-saxões, com o intuito de ampliar os jogos e os costumes espanhóis até então valorizados no país, fruto da intervenção dos seus colonizadores.

O diálogo estabelecido com esses estudos mostra a potencialidade no uso dos periódicos como fontes que auxiliam a compreender as problemáticas educacionais presentes em países da América Latina. Ao retomarmos o objeto desta pesquisa, remetemo-nos a uma revista especializada em EF cujo perfil editorial voltava-se para a prescrição da prática e a orientação da formação dos professores. Ao assumir como missão a necessidade de cooperação entre os países da América Latina, projetou-se a circulação de articulistas de diferentes nacionalidades no interior do impresso, o que implicaria abordar as questões da EF de modo mais amplo, considerando, para isso, as especificidades culturais latino-americanas. Assim, para alcançarmos o objetivo do estudo, captaremos os processos com os quais as fontes foram elaboradas com o intuito de se constituir em um espaço de visibilidade e intercâmbio de experiências relacionadas com a EF latino-americana.

Teoria e método

Para examinarmos o objeto, tomamos como referência os estudos de Roger Chartier sobre a análise de impressos, centralizando-nos em seus contextos de circulação e produção. Ao considerarmos a complexidade das práticas que envolvem a publicação desse tipo de suporte, reconhecemos as intencionalidades daqueles que o produzem, bem como o papel que exercem para remodelá-lo, de acordo com os seus interesses. Nesse caso, ganha centralidade a atuação dos editores em atribuir formas linguística e gráfica, com formatos, paginações, tipografias e ilustrações, tornando permanente o seu lugar como aquele que “[...] interpreta [as matérias] de acordo com seus hábitos e suas preferências” (Chartier, 2011, p. 46), a fim de atender às necessidades colocadas pelos leitores.

O estudo também está fundamentado na análise do objeto em sua materialidade, pois esse modo de investigação explicita que “[...] não existe nenhum texto fora do suporte que o dá a ler, que não há compreensão de um escrito, qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele chega ao seu leitor” (Chartier, 2002a, p. 127). Ao compreendermos a intrínseca relação entre o texto escrito e as formas pelas quais ele chega ao leitor, remetemo-nos às diferentes estratégias utilizadas no processo de produção dos periódicos. Conforme sinaliza Chartier (2011), é preciso debruçar-nos à natureza de seu auditório (o público leitor), o modo de publicação (especificidades dos suportes materiais e seu perfil editorial), a estética de sua composição (formas utilizadas pelas revistas para orientar a prática pedagógica) e a relação estabelecida entre as palavras e as coisas (a articulação entre o conteúdo veiculado nos impressos com a sua materialidade).

Em apropriação a Anne-Marie Chartier (2002b), tomamos os periódicos como dispositivos, uma vez que consideramos as inventividades dos editores e articulistas em produzir os debates postos em circulação e a própria materialidade dos impressos. Sob esse aspecto, assumimos os impressos como fruto do entrecruzamento de diferentes interesses e assimilados por uma realidade representada e instituída. Ao fazê-lo, reconhecemos que os projetos formativos para a EF possuem relação com as práticas culturais dos editores e dos articulistas, “[...] [interrogando-nos] sobre seu valor de uso em contextos e conjunturas, isto é, em espaços e tempos muito diversamente delimitados” (Chartier (2002b, p. 26).

Assumimos como fonte a Revista Brasileira de Educação Física (RBEF) (1944-1952), um periódico específico que constituiu a imprensa periódica de ensino e de técnicas (Ferreira Neto, 2005)3, publicada em formato revista (tamanhos livro e A4), como objetivo de lutar pela formação profissional, por legislações específicas e pela incorporação da EF aos programas escolares, definindo métodos e práticas, com ênfase nas ginásticas e nos esportes. Para, Retz, Ferreira Neto, Cassani e Santos (2019), ela se caracterizava por fornecer bases teóricas, prescrições e programas de ensino, configurando-se dispositivos de uso didático-pedagógico que contribuíram com a inserção e a consolidação da EF nos currículos escolares.

Para procedermos à análise, tomamos como referência o mapeamento gerado em projeto de pesquisa anterior, que abrangeu todas as cinco revistas que compõem a imprensa periódica de ensino e de técnicas: Revista Educação Física (REF) (1932-1960), Revista Educação Physica (REPhy) (1932-1945), Boletim de Educação Física (BEF) (1941-1958), RBEF (1944-1952) e Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (AENEFD) (1945-1966). Selecionamos especificamente a RBEF, pois, conforme Oliveira, Santos, Schneider e Ferreira Neto (2015), o seu perfil editorial centralizava-se na divulgação de projetos formativos para a EF fundamentados nas práticas culturais dos países da América Latina.Com base nessa delimitação, a periodização das fontes justifica-se pelo próprio ciclo de vida do impresso, 1944-1952.

Posteriormente, elaboramos um banco de dados no softwareIBM® SPSS®Statistics - Version 22, onde inserimos: ano de publicação da RBEF, número, sessão do índice/sumário, autores, título e descrição do conteúdo. Também foi criado um banco de dados específico para o corpo editorial do impresso, contendo: nome do diretor, dos correspondentes, dos representantes e dos responsáveis pelas sucursais. Atribuímos variáveis para todas essas informações, a fim de procedermos ao cruzamento entre elas. Esse procedimento metodológico auxiliou-nos, também, na localização e no manuseio das fontes, favorecendo a compreensão de sua forma e de seu conteúdo.

Com base nesse banco de dados, selecionamos as publicações de acordo com as pistas (Ginzburg, 1989) deixadas pelos articulistas, no que se refere à especificidade do objeto: matérias em língua hispano falante ou traduzidas para o português;com autoria originária de países da América Latina hispano falantes; em seções4 específicas dos países;fragmentos de obras oriundas de países latino-americanos; editoriais; relatórios de Congressos; e orientações didático-pedagógicas características dos países da América Latina. Também recorremos a matérias que tratam especificamente das questões educacionais brasileiras, pois elas poderiam evidenciar aproximações com os outros países da América Latina.

Estratégias editoriais para acirculação da RBEF nos países latino-americanos hispanofalantes

Um olhar sobre o final da década de 1930 e início de 1940 faz-se profícuo para compreendermos o contexto onde os editores publicaram o primeiro número da RBEF. Sob o Regime do Estado Novo (1937-1945), criou-se em 1937 a Divisão de Educação Física, órgão do Ministério de Educação e Saúde (DEF/MES). Dirigida pelo major João Barbosa Leite, esse órgão era responsável por administrar todas as atividades relativas à área. Promulgou-se, no mesmo ano, a Constituição Brasileira, na qual se tornou obrigatório o ensino da EF em todas as escolas primárias, normais e secundárias. No campo da formação profissional, fortaleciam-se os cursos de preparação de profissionais para atuação em EF, impulsionando a criação de leis que delimitassem o trabalho de normalistas e instrutores (Marinho, 1945).

Em 1944, a área já apresentava certa trajetória em relação às revistas dedicadas à orientação didático-pedagógica e que buscavam contribuir com os processos de inserção e consolidação da EF nos currículos escolares. É o caso da REF e da REPHy, veiculadas a partir de 1932. Nesse cenário, a RBEF iniciou seu ciclo de vida sob a chancela de uma empresa comercial, a Editora A Noite, caracterizando-se pelo uso de dispositivos de leitura (como capas ilustradas e coloridas), pela divulgação publicitária (como medicamentos, serviços bancários e advocatícios, moda e literatura) e pela vulgarização de acontecimentos sociais (nascimentos, casamentos e viagens de parentes de pessoas ligadas à DEF/MES e à EF brasileira).

De modo semelhante à REF e à REPHy, ela publicava matérias caracterizadas pelo uso de fotografias, desenhos e ilustrações antropomórficas, com o intuito de oferecer modelos que orientassem a prática dos profissionais de EF (Cassani, Ferreira Neto, Carvalho & Santos, 2019). Concomitantemente, a RBEF dedicava-se à circulação dos atos normativos da DEF/MES, evidenciando suas aproximações com o perfil editorial do BEF, fruto da direção do major Barbosa Leite em ambos os periódicos (Cassani, 2018).

Ao mesmo tempo que os seus diretores se apropriavam das fórmulas editoriais daqueles que lançaram as bases para o desenvolvimento da imprensa periódica de ensino e de técnicas, também perceberam que as oscilações em seus ciclos de produção foram oportunas para apresentar a RBEF no mercado editorial. Em um contexto no qual a REF e a REPHy sinalizavam dificuldades em manter-se em circulação,5 os editores atribuíam à RBEFa responsabilidade ‘nova e segura’ de consolidar os debates anteriormente veiculados, sobretudo no que se refere à formação e atuação profissional em EF (Leite, 1944). É possível que a RBEF também tenha atuado no sentido de consolidar os atos normativos da DEF/MES, publicados primordialmente pelo veículo oficial do governo (o BEF). Já em 1946, a revista passou a ter como novo diretor Inezil Penna Marinho, com quem Leite já atuava no âmbito da DEF/MES.

Desde o seu primeiro número, o periódico demonstrou interesse em divulgar as iniciativas dos articulistas em discutir um programa de ensino que aproximasse os países da América Latina. Pela semelhança de suas problemáticas, seria importante o desenvolvimento de um projeto formativo mais amplo, que contribuísse com a consolidação da prática e da atuação do professor de EF. Atentamo-nos, nesse caso, para a análise da RBEF em sua materialidade, com o intuito de captarmos como o seu perfil editorial contribuiu para a sua circulação no âmbito da América Latina, projetando caminhos para a elaboração de um projeto formativo da EF.

Sob a direção de Leite6, a RBEF apresentou em todos os números as cidades brasileiras em que as suas sucursais estavam localizadas e, dentre elas, identificamos Buenos Aires, capital da Argentina.A partir do n. 3, foram indicados os seus correspondentes e as suas localizações no Brasil. Do n. 1 até o 53 (em 1948), os editores também apresentaram um Plano de Assinaturas de 12 meses para os países que compunham o Convênio Pan-Americano (Brasil, Países da América e Espanha).

A estratégia editorial de comercializar a RBEF por meio de um convênio com tal abrangência era um meio para divulgá-la como periódico que aproximaria os diferentes países da América Latina hispanofalantes. Essas iniciativas de Leite foram impulsionadas pelo próprio contexto do início da década de 1940, no qual articulistas da Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Guatemala, EUA, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai passaram a organizar Congressos com o objetivo de “[...] [intensificar] o mútuo conhecimento e os vínculos já tradicionais entre os Países dêste Continente” (Moção, 1944, p. 7).

Como fruto desses encontros de planejamento, realizou-se o 1º Congresso Pan-Americano no Rio de Janeiro (em 1943), em que já se discutia a necessidade de elaboração de uma revista técnica chancelada pelo Instituto Consultivo Pan-Americano de EF, com o intuito de contribuir para a promoção do intercâmbio de professores. Por meio dela, os leitores teriam acesso a todo movimento de “[...] colaboração dos distintos e cultos colegas panamericanos, para poder assim conhecerem mutuamente os valores técnicos e científicos [...]” (O que foi..., 1944, p. 18, tradução nossa)7.

Parece-nos que a presença de Leite como representante do Brasil nesse Congresso contribuiu para que ele projetasse a RBEF com essa finalidade. O que se pretendia era a inserção da RBEF nesse projeto formativo, divulgando as iniciativas dos articulistas em discutir uma identidade para a EF fundamentada na cultura de diferentes países latino-americanos, afinal “A difusão da cultura [era] o melhor meio de conseguir a unidade internacional, [...] [e] a Educação Física, em suas diversas manifestações, [seria] um dos meios modernos mais importantes e eficazes [para isso]” (Moção, 1944, p. 7).

Para materializar as iniciativas em prol dessa aproximação cultural, o uso do plano de assinaturas serviria para impulsionar a circulação do periódico em diferentes países latino-americanos desde o início do seu ciclo de vida. Por meio desse dispositivo, o editor estimularia a difusão e a aquisição da RBEF, apresentando-a como um impresso que corresponderia aos anseios dos articulistas em propagar esse movimento de cooperação cultural pela EF. O uso desses dispositivos de circulação contribuiria com a “[...] [criação de] laços de fraternal solidariedade e [eliminando] as diferenças de fronteira, língua e religião, que possam postergar ou retardar [...] a unidade espiritual do Continente” (Moção, 1944, p. 7).

Além disso, ao veicular o plano de “[..] [esboçar uma] projeção continental” (Leite, 1944, p. 1) para a EF, a RBEF colaborava com as resoluções firmadas por articulistas no âmbito dos Congressos, especificamente no que se refere à atuação “[...] internacional da ‘imprensa’ e dos serviços de rádio-difusão, para interessar com a propaganda organizada, sistemática e constante o maior número de povos” (Moção, 1944, p. 7, grifo nosso)8. Para constituir a RBEF como suporte que favoreceria a difusão desse projeto formativo, Leite potencializaria a sua circulação, abrindo inicialmente uma sucursal em Buenos Aires.

No entanto, esse primeiro formato, como sucursal, ainda caracterizava a tímida ‘autonomia’ daqueles que divulgariam a RBEF, pela relação de dependência estabelecida com a sua matriz9. Para consolidar a circulação do impresso em diferentes países da América Latina, seria necessário utilizar estratégias editoriais que ampliassem o seu “[...] renome e a popularidade [...], quer nos Estados e Territórios do Brasil, quer em todos os Países da América Latina e nos Estados Unidos, [...] [evidenciando] o inestimável serviço à causa nacional da Educação Física” (Marinho, 1946, p. 1).

Ao assumir a direção da RBEF, Marinho busca assegurar a repercussão da revista na América Latina, estabelecendo algumas mudanças em seu expediente10. Os dados sobre as sucursais e os correspondentes foram substituídos por representantes localizados em cidades brasileiras e latino-americanas. Embora encontremos oscilações em relação ao detalhamento dessas informações, a partir do n. 35 (em 1947), há um acréscimo de representantes nas capitais dos países da América Latina. Essa expansão pode ser vista no Quadro 1, organizado de acordo com os subcontinentes da América, os seus países e as respectivas capitais, quando informadas no expediente:

Fonte: Os autores.

Quadro 1 Relação de Países representantes da RBEF11.  

Os achados evidenciam o impacto pretendido por Marinho, no que se refere à representação da revista na América Latina: dos 12 países da América do Sul, em dez seriam encontrados representantes; e dos 20 países da América Central, em seis haveria representantes. Especialmente Buenos Aires, La Paz, Assunção e Montevidéu passaram a ser indicadas em novo item do expediente denominado ‘A Revista Brasileira de Educação Física pode ser encontrada nos seguintes locais’, com a identificação dos endereços em que os leitores poderiam comprá-la. Além disso, as capitais La Paz e Lima também foram apresentadas como aquelas em que a RBEF teria correspondentes.

As mudanças técnicas no corpo editorial do impresso profissionalizaram-no. O representante desempenharia e simbolizaria certo papel de ‘autoridade’ diante da comunidade estrangeira (Faria & Pericão, 2008). Já a presença do correspondente em alguns países lhes permitiria manter uma comunicação frequente com o editor, enviando-lhe regularmente notícias (Faria & Pericão, 2008). Essas implementações buscavam o reconhecimento do periódico no mercado editorial brasileiro e internacional e, de fato, elas possibilitaram avanços na circulação da RBEF: dos 156 assinantes, a revista passou a ser distribuída para mais de 1.000 pessoas, das quais no mínimo 300 eram de outros países - o que a constitua como “[...] uma das revistas nacionais de maior circulação fora do país” (Marinho, 1947a, p. 1).

Consolidados os dispositivos de circulação do impresso, também seria preciso elaborar estratégias editoriais que conformassem a produção da RBEF, isto é, não seria suficiente publicar apenas matérias que abordassem as problemáticas brasileiras sobre a EF. Para gerar identificação nos leitores estrangeiros, fazia - necessário veicular notícias, programas de ensino e prescrições didático-pedagógicas, que nos remetessem às suas especificidades culturais e às políticas educacionais de seus países. Vimos, aqui, o modo como os dispositivos de circulação passaram a moldar os processos de elaboração de um impresso: a partir do n.29, Marinho fez o lançamento de uma chamada para permutas de matérias, utilizando diferentes idiomas que alcançariam os leitores situados nos países em que a RBEF estaria representada: em português (Desejamos estabelecer permuta), francês (On désire établir l´échange), inglês (We wish to establish Exchange) e espanhol (Deseamos establecer permuta).

Todos esses dispositivos de circulação e de produção da RBEF buscavam “[...] [contribuir] para a maior aproximação entre os povos do novo Continente” (Marinho, 1947b, p. 1), significando “[...] um novo impulso para [situá-la] no verdadeiro lugar que lhe compete” (Marinho, 1947b, p. 1). O articulista referia-se à necessidade de colaboração entre os países com o objetivo de consolidar o campo de atuação profissional da EF- problemática comum para os professores latino-americanos. Uma análise do contexto educacional à época evidencia que as iniciativas dos articulistas em estabelecer redes de colaboração estavam inseridas em um cenário no qual já se discutiam os problemas educacionais e as condições sanitárias e higiênicas de todo o continente americano, em um movimento que anunciava um padrão cultural heterogêneo para os povos (Warde, 2000).

No que se refere às especificidades da EF, acenamos para o uso de dispositivos editoriais que privilegiou a circulação da RBEF em países latino-americanos, com o objetivo de constituir o impresso como referência para os leitores, um suporte por meio do qual eles encontrariam todas as informações relativas às redes de colaboração estabelecidas entre os intelectuais de distintos países. As fontes oferecem-nos pistas dos lugares políticos e educacionais ocupados pelos editores Leite e Marinho, pois, a sua presença em congressos e conferências contribuiu para que eles materializassem a RBEF como periódico inserido em um projeto latino-americano de formação humana para a EF.

Aproximações culturais: a troca de conhecimentos técnicos e científicos entre os países

Paulatinamente, as redes de colaboração entre os articulistas dos países latino-americanos intensificavam-se. A realização do 2º Congresso Pan-Americano de EF, no México (em 1946), impulsionou os professores a organizarem-se de modo mais coordenado, a fim de “[...] melhor defender os interêsses da causa a que se dedicaram” (Baptista, 1947, p. 6). Fundava-se, assim, a Confederação Pan-Americana de Associações de professores de EF, com o objetivo de “Lutar pela melhoria da Educação Física Continental, [...] estreitar as relações continentais do Magistério [...] Pugnar pela melhoria profissional e pela defesa dos interesses fundamentais dos professores” (Baptista, 1947, p. 6-7, tradução nossa)12.

Para que a confederação pudesse cumprir com seus propósitos, seria necessário que os professores de cada país também se organizassem em associações estaduais que, vinculadas a uma Federação Nacional, estariam ligadas à referida confederação: “Nos países onde existam duas ou mais Associações [...], as mesmas se constituirão em Federação Nacional, a qual corresponderá a afiliação à Confederação” (Baptista, 1947, p. 6, tradução nossa)13.

A organização dessas instituições também viabilizaria outras iniciativas que estreitariam os vínculos entre os países, mas sobre tudo possibilitaria a RBEF apresentar-se como porta-voz dessas práticas de colaboração, dentre elas: a participação de delegados e professores latino-americanos em congressos; a oferta de bolsas de estudos para argentinos, uruguaios e peruanos no Brasil; bolsas para bolivianos e paraguaios na Argentina; ida de professores brasileiros vinculados às associações estaduais para a Argentina e Uruguai; convites feitos por associações brasileiras para que os docentes de La Paz, Cochabamba (Bolívia), Buenos Aires, Santiago, Lima e Montevidéu viessem ao Brasil; e conferências realizadas por Marinho no Uruguai, Argentina, Peru, Chile e Bolívia (Marinho, 1947b).

O processo de consolidação das redes de cooperação entre os países também anunciava a RBEF como dispositivo que ofereceria orientações didático-pedagógicas para os professores latino-americanos, com o intuito de efetivar o programa para a EF defendido por aqueles que compunham a Confederação Pan-Americana. Contudo, um primeiro caminho para que isso ocorresse, seria o estabelecimento do vínculo da RBEF com as associações estaduais brasileiras e com a Federação Nacional, conferindo-lhe representatividade no Brasil e nos outros países. Essa estratégia editorial materializaria-se a partir do n. 44, em que Marinho identificou o periódico como órgão oficial das seguintes instituições: Comitê Nacional do Instituto Pan-Americano de EF; Federação Brasileira das Associações de Professores de EF; e Associações de Professores Estaduais.

O segundo caminho para que a RBEF fosse reconhecida como dispositivo de uso didático-pedagógico pelos professores latino-americanos seria reforçar as contribuições recebidas pelos articulistas de outros países, inclusive mantendo algumas seções em ‘língua castelhana’ como afirmou o editor: “A própria [revista], pela farta colaboração recebida de diferentes países, vai, paulatinamente, adquirindo o caráter de uma publicação pan-americana. E isto faz com que nos sintamos orgulhosos” (Marinho, 1947b, p. 1). Ao assumir que a RBEF ampliara a sua “[...] esfera de ação, ultrapassando as nossas fronteiras [...]”, Marinho (1947b, p. 1) anunciava um novo modo de organização do periódico que, por sua vez, potencializaria a difusão das orientações didático-pedagógicas advindas dos países da América Latina.

Ao fundamentar-nos na necessidade de análise do objeto, segundo os seus fins estéticos (Chartier, 2011), debruçamo-nos às normas e aos gestos de cultura incorporados no impresso, pois eles anunciavam os dispositivos de leitura utilizados para colaborar com o programa de cooperação entre os países.Assim, se o propósito inicial dos editores era ampliar a circulação do periódico com o objetivo de que ele fosse lido em diferentes países latino-americanos,acenamos para outras estratégias que serviriam para consolidar um projeto de formação humana por meio da EF, privilegiando os elementos culturais desses povos.

Um olhar mais detalhado às seções da RBEF no período em que Marinho foi o seu editor,14 evidencia essas iniciativas. Em seu n. 42, o periódico identificou as matérias internacionais de acordo com o seu lugar de origem, em um espaço acima do título da publicação e com a escrita em negrito: ‘DO PERU’, ‘DO URUGUAY’. A partir do n. 44, essas matérias receberiam uma nova identidade visual, a fim de remeter os leitores aos países em que aquele conteúdo teria se originado, conforme as Figuras1, 2 e 3:

Fonte: Ferrer (1948, n. 6)

Figura 1 Do Chile.  

Fonte: Montoya-Arce (1948, n. 49)

Figura 2 Do Peru.  

Fonte: Tercera... (1948, n.50)

Figura 3 Da Argentina.  

Nas três matérias, o editor fez uso de dispositivos de leitura que, em seu ponto de vista, identificariam o país de origem da matéria. Para cada um deles, um determinado tipo de desenho lhe foi atribuído: a bandeira nacional para o Chile (Ferrer, 1948); pessoas correndo associadas a um desenho de lhama para o Peru (Montoya-Arce, 1948); e o mapa geográfico para a Argentina (Tercera..., 1948). Esses recursos conferiam uma ideia de unidade nacional e identidade cultural aos países, permitindo que os leitores ‘se vissem’ no periódico, mas também que associassem a linguagem visual das seções com o conteúdo ali abordado. Eles criariam nos professores o interesse pela temática, orientando a sua leitura e proporcionando-lhes as informações das quais precisariam, de modo ágil e esclarecedor.

Identificadas pelo sumário apenas pelo país de origem da matéria, essas estratégias editoriais serviriam para orientar a leitura dos professores, manuseando as suas páginas de acordo com os assuntos que lhes convinha. Em um mesmo número, eles poderiam encontrar matérias referentes à cultura que mais lhes interessasse, como prescrições didático-pedagógicas, programas, teorias educacionais, notícias dos países e relatórios de congressos. Desse modo, o anúncio do vínculo territorial e cultural da matéria reiterava o intenso movimento dos editores em estabelecer diálogo com intelectuais de países da América Latina hispanofalantes, materializando a RBEF como expressão de um projeto formativo educacional que dialogava com as diferentes culturas. O próprio Marinho (1947c, p. 1) afirmaria que a cultura era a forma pela qual “[...] evidentemente mais [estreitava] as relações entre os povos, [criando] entre eles uma compreensão mutua de problemas quase sempre comuns”.

Ao evidenciarem o anseio do articulista sem criar um programa por meio do qual seriam sinalizados caminhos para as problemáticas educacionais comuns aos países, os editores colocavam em circulação matérias caracterizadas por prescrever a prática e orientar a formação de professores - inclusive como resultado das chamadas para permutas. Baseados na necessidade de criação de uma identidade latino-americana para a EF, eles publicavam orientações didático-pedagógicas produzidas por articulistas de diferentes países, conforme Figuras 4, 5 e 6.

Fonte: Blanco (1947).

Figura 4 Do Uruguai: cantos, musica, rondas, danzas gimnasticas.  

Fonte: Stahl (1949).

Figura 5 Da Venezuela.  

Fonte: Soares (1948, n. 58).

Figura 6 Do Brasil: jogos, danças e rondas regionais.  

As matérias abordadas nas Figuras 4-6 possuem como foco principal o ensino de jogos, brincadeiras e danças regionais, com explicações sobre o desenvolvimento de formações coreográficas e as músicas utilizadas. Em todas as matérias, o conhecimento musical era requerido ao professor, pois, com base nele,as coreografias seriam elaboradas. Em Soares (1949), a apresentação da partitura sugere a necessidade de os professores se apropriarem de estudos de outras áreas do conhecimento, como a música, a fim de justificar o seu uso nas aulas de EF.

Escrita em espanhol, a matéria de Blanco (1947)15 enfatizou a importância de publicações que tivessem como finalidade orientar os professores em relação ao ensino dessas práticas, sobretudo pelo seu valor educativo e pelo seu significado folclórico para países como o Peru, Chile, México e Argentina, que “[…] tem lindos cantos e jogos nativos que poderíam ser utilizados por crianças americanas […]” (p. 30, tradução nossa)16.

O articulista rememorou os debates ocorridos no 2º Congresso Pan-Americano de EF sobre os “[...] principais jogos, rodas y danças peculiares e autóctones de cada país, para seu conhecimento e difusão como meio e melhor conhecimento dos países americanos” (Blanco, 1947, p. 30, tradução nossa)17, reiterando a relevância do tema. Além de explicar sobre o ensino dos tempos musicais, o articulista descreveu o desenvolvimento dos jogos ‘Ronda del Trigo’ e ‘El baldecito’ (presente em ‘discos fono-didacticos Odeon nº 20052’ e realizado ao som da música ‘Bandera querida’); além da marcha patriótica ‘!Querida Patria Mia!’.

Embora a matéria de Stahl (1949)18 também seja escrita em espanhol, identificamos o uso de um dispositivo de leitura que visa à apresentação do texto em português. Nele, o editor reconhece o trabalho da articulista em incorporar o folclore “[...] do país amigo à sua educação pública, [com] [...] realizações coreográficas baseadas em temas poéticos e musicais tipicamente venezuelanos. [...][Agimos] dentro dos altos ideais pan-americanistas, prestando uma sincera homenagem à autora e a sua Pátria adotiva” (Stahl, 1949, p. 26).

A matéria, cuja identificação materializa-se no desenho da localização geográfica da Venezuela, descreve os exercícios necessários para interpretar as sílabas musicais fortes e fracas, estudar a dinâmica do movimento, compreender a contagem do tempo, adaptar as coreografias nos espaços e formar frases de movimentos. A articulista debruçou-se ao ensino de manifestações culturais, como: ‘Los diablos danzantes de San Francisco de Ayre’ (originária do teatro litúrgico medieval da Espanha), ‘Arbolito Sabanero’ (Poesia de Arvelo Torrealba), ‘El Sebucán’ (interpretado como demonstrações realizadas por grupos de aproximadamente 90 crianças, no Estado de Sucre) e ‘El Pilón’ (típico do Oriente da Venezuela).

Em Soares (1949)19, as orientações para o ensino da dança no Brasil foram denominadas ‘Na Bahia tem’, com descrições textuais sobre: os deslocamentos a serem feitos pelos alunos, as danças em pares (Polca) e as formações coreográficas (fileiras) - além da partitura. Embora haja o reconhecimento de todos os três articulistas no que tange à dança como manifestação cultural de um determinado país, o contexto no qual Soares (1949) publicou a sua prescrição didático-pedagógica remete-nos aos debates políticos e educacionais que visavam a fortalecer um projeto nacional voltado para a cultura.

Se, entre 1937 e 1945, as políticas educacionais brasileiras corroboravam a ideia de constituição de nação fundamentada em uma identidade nacional alicerçada na uniformização e padronização das tradições, posteriormente foram levantadas críticas a essa ideia. Conforme Filgueiras (2013), novos projetos educacionais foram discutidos, sobretudo em relação à autonomia dos Estados para organizar seus sistemas de ensino, o que trouxe implicações para se (re)pensar a importância da cultura local na constituição do povo brasileiro. Assim, matérias como as de Soares (1949) evidenciavam essa nova conjuntura política e cultural que (res)significou o argumento de unificação das culturas regionais para a noção de valorização dos brasileiros em suas particularidades.

Essas questões também contribuíram para que articulistas como Marinho ampliassem o debate sobre a constituição cultural e identitária brasileira, colocando em circulação na RBEF matérias com naturezas distintas, mas complementares: orientações didáticas relacionadas com o folclore dos países latino-americanos e bases teóricas da antropologia e seus desdobramentos no folclore (Pereira, 1947, 1948). Pretendia-se compreender a EF em seu sentido cultural, implicando considerar “[...] objetos, arte rústica, costumes, vestuários, jogos, ritmos, religião, mitos, canções, danças, etc. [...]” (Pereira, 1947, p. 25) como práticas que abrangeriam e encerrariam em si a vida de um povo.

Essas estratégias editoriais conformavam a RBEF como um dispositivo de uso didático-pedagógico, cuja finalidade era auxiliar a formação de profissionais com referenciais teóricos que sustentariam a sua prática. A análise das fontes acena para a complementaridade entre as teorias e a necessidade de sua materialização em prescrições: a circulação de estudos da antropologia ampliaria a compreensão das finalidades da EF, consolidando uma prática docente que valorizaria a cultura de seu país. De modo mais amplo, a publicação dessas prescrições, como Blanco (1947), Stahl (1949) e Soares (1949), visava a direcionar a prática profissional, com demonstrações do que deve ser ensinado, como e quando deve ser ensinado, auxiliando o professor a estabelecer progressão e aprofundamento para os objetos de ensino da EF.

Ao aproximarmos as bases teóricas da antropologia a essas prescrições, acenamos para as intencionalidades dos articulistas em valorizar a dança como prática profundamente ligada à cultura dos seus países, reconhecendo a potencialidade das sessões de EF como espaços propícios para torná-la conhecida e popular, sobretudo entre as crianças. A análise das fontes demonstra as apropriações de Marinho a esse debate, com o objetivo de conformar a RBEF como periódico que materializaria um programa para a EF na América Latina fundamentado em suas distintas práticas culturais, conforme também anunciara a Declaração do Primeiro Congresso Argentino de EF, realizado em 1944.

Assinado por articulistas do Uruguai, Brasil, Bolívia e Argentina, o documento conclamava os ‘irmãos da América’ a considerar a EF como ‘fôrça vivente e ativa de cultura’, constituindo-se o meio pelo qual as nações alcançariam a paz pela educação. O maior intercâmbio cultural, entre os povos latino-americanos, contribuiria para que “[...] nosso continente [fosse] para sempre, pela bondade de suas terras, de seus filhos e de suas instituições, esperança da Humanidade” (Declaração..., 1944, p. 6).

O editor apropriou-se do referido debate para perspectivar a circulação do método de EF por ele criado, em nível internacional. Isso não significaria que os outros países assumiriam-no como orientador, porém ele poderia servir como uma inspiração para que os articulistas também elaborassem um método próprio, baseado em suas manifestações culturais. Fundamentado na antropologia, o método ginástico ‘propriamente brasileiro’ elaborado por Marinho (1981) apropriava-sedas danças e de suas técnicas como o coco, o frevo, o batuque, o samba e a capoeira para estruturar os movimentos gímnicos.

Para o articulista, a elaboração desse novo método seria pertinente, pois “[...] depois de tantos sistemas e métodos de EF estrangeiros, [...] [criaríamos] a nossa sonhada ginástica brasileira, alicerçada na alma nacional e alimentada pela [nossa] mística” (Marinho, 1981, p. 20)20. Conforme analisam Retz et al. (2019), o método ginástico ‘propriamente brasileiro’ demonstrava o aprofundamento em relação às práticas que seriam assumidas como os objetos de ensino da EF, até então identificadas por suas origens europeias ou norte-americanas, vistas como necessárias por serem expressão da modernidade e do reconhecimento científico.

De fato, encontramos esse mesmo cenário na RBEF, em que mapeamos prescrições e programas de ensino fundamentados nos diferentes métodos europeus. É o caso de Abbade (1946), do Departamento de EF do Estado de São Paulo, que publicou uma Lição fundamentada no Regulamento Geral de Educação Física (método francês) (ESTADO MAIOR, 1934),21 caracterizada por oferecer roteiros para o planejamento e a condução das sessões de EF na escola. Nelas, eram organizados os objetivos e os exercícios a serem ensinados e as suas metodologias, assemelhando-se a modelos de planos de aula. Na publicação da RBEF, a brincadeira do soldado foi descrita textualmente e ensinada de forma historiada - recurso didático utilizado para entusiasmar as crianças de quatro a seisanos a participarem da sessão.

Também mapeamos Hardelin (1946), professor argentino, que publicou uma série de seis matérias sobre a ginástica corretiva, todas oriundas do curso ofertado pelo articulista à Associação de Professores de EF da Argentina e traduzidas por Marinho. Os exercícios prescritos por meio de dispositivos textuais eram representativos “[...] do trabalho de Ling e seus sucessores, recebendo a dominação de exercícios formativos” (Hardelin, 1946, p. 18)22, considerados mais vantajosos por sua simplicidade e possibilidade de serem ensinados na escola. Fundamentadas em conhecimentos da anatomia e da fisiologia, as matérias correspondiam às aulas realizadas no curso, abordando exercícios como posições iniciais da ginástica e exercícios corretivos (para o pescoço, a cifose, o dorso, a escápula e a lordose).

Já em Velarde (1947a), membro do Comitê Nacional de Esportes da Bolívia23, encontramos orientações didático-pedagógicas fundamentadas no método elaborado pelo dinamarquês Niels Bukh, cujo propósito era (res)significar “[...] os exercícios Suecos que realizavam demasiadamente monótonos, com verdadeiros exercícios de movimentos que possam encerrar o tédio [...] [de modo] contínuo e alegre” (1947a, p. 38, tradução nossa)24. Ao assumir a Ginástica Danesa25 como uma escola mais moderna de ginástica, o articulista passou a estabelecer críticas aosprofessores bolivianos que ensinavam os exercícios fundamentados no Sistema Sueco de forma “antiquíssima”, desconsiderando as reformas pelas quais ele passara. Para o articulista, seria necessário oferecer um curso de informação no país, para explicar aos docentes os alcances, os acertos eas deficiências que o novo sistema danes lhes proporcionaria: “[...] nosotros precisamos de una inovación del actual sistema de gimnasia em vigência y particularmente desde el punto de vista más amplio de la educación física” (Velarde, 1947b, p. 26).

Ao aproximarmos as matérias que prescreviam a prática pedagógica com base no método francês (Abbade, 1946), na ginástica corretiva orientada pelo método sueco (Hardelin, 1946) e na Ginástica Danesa como uma crítica lançada ao método sueco (Velarde, 1947b), evidenciamos a diversidade com a qual os editores organizaram a RBEF, privilegiando a circulação de matérias sobre comoos diferentes métodos ginásticos europeus eram desenvolvidos pelos países latino-americanos. Nesse caso, as estratégias editoriais visam a garantira expansão da RBEF para a América Latina, sob dois aspectos: era preciso manifestar aproximação com o cotidiano dos professores, garantindo-lhes um conteúdo pertinente às suas problemáticas locais; mas também que fosse abrangente, apresentando-lhes possibilidades didático-pedagógicas que não fossem aquelas com as quais lidavam nas sessões de EF.

Por outro lado, esse conjunto de matérias também permite-nos captar certo tensionamento em relação ao uso de determinados métodos ginásticos europeus na América Latina, como pode ser visto em Marinho (1944) e em Velarde (1947c). As próprias iniciativas de Marinho em elaborar um método que atendesse às características físicas e culturais dos brasileiros impulsionaram Verlarde (1947c, p. 38, tradução nossa)26 a assumir a Ginástica Danesa como aquela que melhor atenderia aos bolivianos: “É a reorganização e recompilação de vários sistemas de ginástica e experimentação destes, para assim elaborarmos um próprio que se adapte ao nosso meio, como hoje está fazendo o Brasil”.

Outra questão que precisa ser problematizada refere-se às mudanças ocorridas no delineamento desse projeto que buscava a constituição de uma EF fundamentada na cultura dos paíseslatino-americanos. Inicialmente, identificamos o interesse da Direção de EF do México em aprofundar os debates sobre a realização de intercâmbios entre os docentes dos países latino-americanos, “[...] como meio de unificação dos sistemas” (O 2º CONGRESSO, 1944, p. 36, grifo nosso, tradução nossa)27.

Diante desta afirmativa, consideramos que, de fato, caberia à RBEF veicular diferentes interpretações sobre o assunto, ainda que o seu editor discordasse de tal opinião. Sob o ponto de vista de Marinho (1948), seria impossível e inadmissível a criação de um sistema único para a EF, em ações que desconsiderariam as especificidades culturais da América Latina e comprometeriam o seu patrimônio cultural. O que competia aos articulistas e professores interessados no Programa de EF seria a criação de uma ‘mentalidade favorável’ que valorizaria as contribuições da EF em cada país, contando com um esforço conjunto para alcançar as finalidades da EF em ser “[...] considerada como assunto de maior relevância, merecendo dos poderes públicos atenção” (Marinho, 1948, p. 32). Buscava-se, dessa maneira, a elaboração de um projeto de formação humana que assumisse as práticas culturais como eixo central de uma EF produzida pelo intercâmbio e cooperação entre os diferentes países latino-americanos.

Considerações finais

O objetivo desta pesquisa foi analisar os dispositivos utilizados pela imprensa periódica de ensino e de técnicas para constituir projetos formativos para a educação física fundamentados nas especificidades culturais latino-americanas. Ao analisarmos as estratégias de circulação mobilizadas pelos editores da RBEF, acenamos para o plano de expansão do impresso aos países da América Latina hispanofalantes, como intuito de garantir-lhe visibilidade em um contexto mais amplo. Esse movimento não ocorreria apenas pela publicação de matérias em língua portuguesa, mas pela divulgação de notícias e orientações didáticas de acordo com a língua dos países de origem dos articulistas, permitindo a fidelização de seu público leitor.

A RBEF buscava, por meio das prescrições didático-pedagógicas, esclarecer os professores em relação aos exercícios a serem ensinados na escola, colocando-se como um manual, um guia facilmente manipulado e um orientador da prática profissional, podendo ser rapidamente lido. O processo de análise dessas matérias acena para a articulação dessas publicações com a constituição de um projeto formativo centralizado na valorização das práticas culturais dos países da América Latina, tema ainda pouco explorado pela área.

Identificamos, ainda, que a RBEF colocava em circulação matérias produzidas no âmbito de congressos, cursos e palestras, porém também anunciava a necessidade de outras iniciativas que pudessem consolidar a cooperação entre os países latino-americanos. Esses achados explicitam que o projeto de formação humana pretendido para a EF era fruto do anseio de articulistas por intercâmbios que produzissem uma identidade compartilhada entre os países latino-americanos.

Esses dados acenam para a inserção da EF brasileira e de outros países em um movimento de produção e troca de ideias, demonstrando a proficuidade encontrada na área em articular os saberes materializados no impresso com aqueles elaborados em eventos de diferentes naturezas, retroalimentando-se mutuamente. Também foi por meio do periódico que houve o tensionamento em relação à oferta de bolsas de estudos para professores brasileiros; ao financiamento público da participação de profissionais em cursos de formação internacionais e à vinda de articulistas de outros países. Com o objetivo de estabelecer as redes de colaboração entre os articulistas dos países latino-americanos, essas ações também anunciam uma perspectiva de EF fundamentada na sua internacionalização. Questão a ser aprofundada em pesquisas posteriores.

Referências

Abbade, I. A. O. (1946). Sessão de educação física infantil: 1º grau do ciclo elementar de 4 a 6 anos. Revista Brasileira de Educação Física, 3(25), 29. [ Links ]

Baptista, C. A. (1947). Organizam-se os professôres de educação física do Brasil e das Américas: fundados a federação brasileira de associações de professôres de educação física e a confederação panamericana de associações de professôres de educação física. Revista Brasileira de Educação Física, 4(36), 6-8. [ Links ]

Blanco, R. V. (1947). Contos, musica, rondas, danzas gimnasticas. Revista Brasileira de Educação Física, 4(42), 30-32. [ Links ]

Cavalcanti, N. (1932). Unidade de doutrina. Revista de Educação Física, 1(2). [ Links ]

Declaração dos princípios do primeiro congresso argentino de educação física. (1944). Revista Brasileira de Educação Física, 1(2), 6. [ Links ]

Doze anos de luta e perseverança. (1944). Educação Física, 12(79/80), 5. [ Links ]

Estado Maior do Exército (1934). Regulamento de educação física (1ª parte). Rio de Janeiro, RJ: Biblioteca de “A Defesa Nacional”. [ Links ]

Ferrer, V. P. (1948). Sobre críticas el programa de educación fisica de los liceos de experimentación. Revista Brasileira de Educação Física, 5(46), 9. [ Links ]

Hardelin, C. (1946). A ginastica corretiva postural (Inezil Penna Marinho, trad.). Revista Brasileira de Educação Física, 3(26), 18-20. [ Links ]

Leite, J. B. (1944). Nosso programa. Revista Brasileira de Educação Física, 1(1), [s. p.]. [ Links ]

Marinho, I. P. (1944) O conceito bio-sócio-psico-filosófico da educação física em oposição ao conceito anátomo-fisiológico. Boletim de Educação Física, 4(10), 7-29. [ Links ]

Marinho, I. P. (1945). Conceito e métodos de educação física dominantes no Brasil durante o século XX, até adoção do método francês. Revista Brasileira de Educação Física, 2(23), 2-10. [ Links ]

Marinho, I. P. (1946) Nova direção. Revista Brasileira de Educação Física, 3(28), 3-4. [ Links ]

Marinho, I. P. (1947a). Um ano de nova direção. Revista Brasileira de Educação Física, 4(38), 5. [ Links ]

Marinho, I. P. (1947b). Educação física e panamericanismo. Revista Brasileira de Educação Física, 4(43), 5. [ Links ]

Marinho, I. P. (1947c). A união faz a força. Revista Brasileira de Educação Física, 4(42), 5. [ Links ]

Marinho, I. P. (1948). Considerações sobre um plano panamericano de educação física. Revista Brasileira de Educação Física, 5(47), 32-33. [ Links ]

Marinho, I. P. (1981). A ginástica brasileira: resumo do projeto geral. Brasília, DF: [s.n.]. [ Links ]

Moção de panamericanismo votada no primeiro congresso panamericano de educação física. (1944). Revista Brasileira de Educação Física, 1(2). [ Links ]

Montoya-Arce, E. (1948). Los II juegos bolivianos realizados em Lima. Revista Brasileira de Educação Física, 5(48), 42-45. [ Links ]

O 2º Congresso Panamericano de Educação Física. (1944). Revista Brasileira de Educação Física, 1(9), 36. [ Links ]

O que foi o I congresso panamericano de educação física. (1944). Revista Brasileira de Educação Física, 1(1),18-32. [ Links ]

Pereira, E. M. O. (1947). Descrição do folclore. Revista Brasileira de Educação Física, 4(45), 25. [ Links ]

Pereira, E. M. O. (1948). O folklore na classificação das ciências. Revista Brasileira de Educação Física, 5(46), 14. [ Links ]

Santana, E. R. (1947). De volta! Revista de Educação Física, 15(56), 1. [ Links ]

Stahl, S. (1949). Da Venezuela: plan de trabajo por Steffy Stahl.Revista Brasileira de Educação Física, 6 (58), 26-27. [ Links ]

Soares, M. M. (1949). Jogos, rodas e danças regionais. Revista Brasileira de Educação Física, 6(58), 37. [ Links ]

Tercera conferência de professores de educación física. (1948). Revista Brasileira de Educação Física, 5(53), 6. [ Links ]

Velarde, J. A. (1947a). Gimnasia básica danesa, la escuela moderna.Revista Brasileira de Educação Física, 4(42), 37-36. [ Links ]

Velarde, J. A. (1947b). Gimnasia básica danesa, la escuela mas moderna. Revista Brasileira de Educação Física, 4(43), 25-27. [ Links ]

Velarde, J. A. (1947c). Gimnasia básica, danesa, la escuela mas moderna. Revista Brasileira de Educação Física, 4(44), 38-39. [ Links ]

Bruschi, J. M. (2019). Entre a França e o Brasil: criação, circulação e apropriações do Método Francês de Educação Física (1931-1960) (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. [ Links ]

Ferreira Neto, A. (2020). Os métodos sueco e alemão na imprensa periódica de ensino e de técnicas (1932-1960) (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. [ Links ]

Carvalho, M. M. C. (2001). A caixa de utensílios e a biblioteca: pedagogia e práticas de leitura. In D. G. Vidal & M. L. S. Hilsdorf (Eds.), Brasil 500 anos: tópicas em história da educação (p. 137-167). São Paulo, SP: Editora USP. [ Links ]

Cassani, J. M., Ferreira Neto, A., Carvalho, L. O. R., & Santos, W. (2019). “We judge the present by the past”: the crowning of physical education by sports. Cadernos de Pesquisa, 49(173), 266-298 . doi: 10.1590/198053146372 [ Links ]

Cassani, J. M. (2018). Da imprensa periódica de ensino e de técnicas aos livros didáticos da educação física: trajetórias de prescrições pedagógicas (1932-1960) (Tese de Doutorado). Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. [ Links ]

Catani, D. B. (1994). Perspectivas de investigação e fontes para a história da educação brasileira: a imprensa periódica educacional. In D. B. Catani (Ed.), Ensaios sobre a produção e circulação dos saberes pedagógicos (p. 58-76). São Paulo, SP: Dedalus. [ Links ]

Chartier, R. (2011). Uma trajetória intelectual: livros, leituras, literaturas. In J. C. C. Rocha, (Ed.), A força das representações: história e ficção (p. 21-54). Chapecó, SC: Argos. [ Links ]

Chartier, R. (2002a). À beira da falésia: a história cultural entre certezas e inquietudes. Porto Alegre, RS: Ed. Universidade da UFRGS. [ Links ]

Chartier, A-M. (2002b). Um dispositivo sem autor: cadernos e fichários na escola primária. Revista Brasileira de História da Educação, 2(1), 9-26. [ Links ]

Faria, M. I., & Pericão, M. G. (2008). Dicionário do livro: da escrita ao livro eletrônico. São Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo. [ Links ]

Ferreira Neto, A. (2005). Publicações periódicas de ensino, de técnicas e de magazines em educação física e esporte. In L. P. Dacosta (Ed.), Atlas do esporte no Brasil (p. 776-777). Rio de Janeiro, RJ: Shape. [ Links ]

Filgueiras, J. M. (2013). A produção de materiais didáticos pelo MEC: da campanha nacional de material de ensino à fundação nacional de material escolar. Revista Brasileira de História, 33(65), 313-335. [ Links ]

Ginzburg, C. (1989). Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história. São Paulo, SP: Companhia das Letras. [ Links ]

Gondra, J., & Suasnabar, J. (2016). Revistas pedagógicas y gobierno (intenso, sutil y prolongado) del profesorado: Estados Unidos, Argentina y Brasil (1855-1881). Historia de la Educación/Anuario SAHE, 17(1), 3-22. Recuperado de: http://ppct.caicyt.gov.ar/index.php/anuario/article/view/6675/pdfLinks ]

Moreno, A., & Baia, A. C. (2019). Do instituto central de ginástica (gci) de estocolmo para o Brasil: cultivo e divulgação de uma educação do corpo. Educação em Revista, 35, 1-31. doi: 10.1590/0102-4698217636 [ Links ]

Oliveira, A.S. F., Santos, W., Schneider, O., & Ferreira Neto, A. (2015). Inezil Penna Marinho: lugares e práticas em periódicos da educação física. Movimento, 21(3), 575-590. doi: 10.22456/1982-8918.48020 [ Links ]

Oliveira, M. A. T., & Beltran, C. X. H. (2013). Uma educação para a sensibilidade: circulação de novos saberes sobre a educação do corpo no começo do século XX na Iberomerica. Revista Brasileira de História da Educação, 13(2), doi: 10.4322/rbhe.2013.024 [ Links ]

Piovani, V. G. S., Rinaldi, I. P. B., & Herold Junior, C. (2019). Esporte e modernidade no Uruguai no início do século XX: um estudo a partir da Revista Sportman (1908). Journal of Physical Education, 30, 2-12. doi: 10.4025/jphyseduc.v30i1.3048 [ Links ]

Retz, R. P. C., Ferreira Neto, A., Cassani, J. M., & Santos, W. (2019). O ensino por imagens na imprensa periódica da educação física (1932-1960). Revista Brasileira de História da Educação, 19, 1-31.doi: 10.4025/rbhe.v19.2019.e058 [ Links ]

Scharagrodsky, P. (2004). O pai da educação física na Argentina: fabricando uma política corporal. Perspectiva, 22(3), 83-119. Recuperado de: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/10338Links ]

Soares, M. P. (1948). Jogos, rondas e danças regionais. Revista Brasileira de Educação Física, 5(57), 36. [ Links ]

Vidal, D. G. (2018). Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-...) (Projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Recuperado em: https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/103918/saberes-e-praticas-em-fronteiras-por-uma-historia-transnacional-da-educacao-1810-/?q=2018/26699-4Links ]

Warde, M. J. (2000). Americanismo e educação: um ensaio no espelho. São Paulo em Perspectiva, 14(2), 37-43. doi: 10.1590/S0102-88392000000200006 [ Links ]

1Financiamento obtido pelo Edital Universal 28/2018 do CNPq, sob o nº do processo 435195/2018-2.

2Os desdobramentos da pesquisa mais ampla constituem projetos coordenados pelas professoras Dra. Diana Gonçalves Vidal e Dra. Carlota Boto.

3A elaboração do conceito assumiu como referência os estudos de Catani (1994), Carvalho (2001) e Faria e Pericão (2008).

4Para Faria e Pericão (2008, p. 657), a seção significa “[...] cada uma das divisões temáticas de uma publicação em série. [...] parte de uma publicação periódica na qual se aborda um assunto”.

5Refere-se à paralisação da revista chancelada pelo Exército (REF) em 1943, por ocasião da participação da tropa na Segunda Guerra Mundial (Santana, 1947), mas também aos problemas financeiros enfrentados pela REPHy anunciados em 1944 (Doze anos, 1944). Pelas dificuldades encontradas em manter-se no mercado editorial, o impresso encerrou o seu ciclo de vida em 1945.

6Leite foi o diretor da RBEF entre os anos de 1944 e 1946, dos números 1 ao 27.

7“[...] colaboración de los distinguidos y cultos colegas panamericanos, para poder así [...] conocerem mutuamente los valores técnicos y científicos”.

8O documento foi votado em 1943, durante o Congresso realizado no Brasil. Ele foi publicado no ano de 1944.

9Conforme conceito de Faria e Pericão (2008).

10Conforme Faria e Pericão (2008, p. 322), um expediente é “[...] uma seção de publicação periódica onde são apresentados os nomes do diretor, editor, colaboradores, endereço e sede, preço e outros elementos com ela relacionados”.

11Não apresentamos os dados referentes à América do Norte, tendo em vista a especificidade do objeto.

12“Luchar por el mejoramiento de la Educación Física Continental, [...] estrechar las relaciones continentales del Magisterio [...] Pugnar por el mejoramiento profesional y por la defensa de los interesses fundamentales de los professores”.

13“En los países donde existan dos o más Asociaciones [...], las mismas se constituirán em Federación Nacional, a la cual corresponderá la afiliación a la Confederación”.

14Sob a edição de Leite, a RBEF organizou as seções de acordo com os concursos promovidos pela DEF/MES: a seção técnico-pedagógica, a técnico-desportiva e a técnico-biológica.

15Técnico da Comissão Nacional de EF do Uruguai e indicado como um dos representantes da RBEF no país.

16“[...] tienen lindos cantos y juegos nativos que podrían ser útilizado por los niños americanos”.

17“[...] principales juegos, rondas y danzas peculiares y autóctonos de cada país, para su conocimiento y difusión como médio el mejor conocimiento de los países americanos”.

18Professora de Ginástica Rítmica e Danças escolares na Venezuela, apresentada como representante da RBEF no país entre os números 49 e 82.

19Em Blanco (1947) e Stahl (1949) há uma diversidade de prescrições para a dança em uma única matéria. No caso de Soares (1949), encontramos um total de quatro publicações, das quais três estão em números sucessivos.

20Marinho (1944a) estabeleceu críticas ao método considerado oficial no país, por ele não atender às características dos brasileiros. Na busca por sistematizar um método nacional de EF, o articulista não negou os conceitos anatomofisiológicos até então privilegiados, mas enfatizou a importância do diálogo com abiologia, sociologia, psicologia filosofia e história.

21Obra criada pela Escola Normal de Ginástica e de Esgrima de Joinville-Le-Pont (França), na década de 1920. Foi orientadora da EF na Escola de EF do Exército no Brasil (Cavalcanti, 1932). Uma análise do método francês pode ser vista em Bruschi (2019).

22Uma análise específica sobre o processo de elaboração do método sueco por Pehr Henrik Ling, pode ser lida em Moreno e Baía (2019). Sobre a circulação do método na imprensa periódica de ensino e de técnicas, ler Ferreira Neto (2020).

23Indicado como representante da RBEF em La Paz do número 28 ao 82. O periódico poderia ser adquirido no Gabinete Médico da Comissão a qual o articulista se vinculava.

24“[...] los ejercicios Suecos que haciam demasiado monótonos, com verdaderos ejercicios de movimiento que destierran el tedio [...] [de modo] contínuo y alegre”.

25Conforme visto em Hardelin (1946) e em toda a série de seis matérias sucessivas, sob sua autoria.

26“Es la reorganización y reconpilación de vários sistemas de gimnasia y experimentación de estos, para así sacar en límpio uno propio que se adapte a nuestro medio, como hoy está haciendo el Brasil”.

27“[...] como medio de ‘unificación’ de los sistemas”.

Como citar este artigo: Cassani, J. M., Carvalho, L. O. R., & Ferreira Neto, A. F. A constituição de projetos formativos latino-americanos para a Educação Física (1944-1952). (2021). Revista Brasileira de História da Educação, 21. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v21.2021.e163

Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 (CC-BY 4).

Recebido: 16 de Junho de 2020; Aceito: 17 de Julho de 2020; Publicado: 28 de Janeiro de 2021

* Autora para correspondência. E-mail:julianacassani@gmail.com

Juliana Martins Cassani é doutora e mestre em Educação Física/Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Professora do Mestrado Profissional em Ciência, Tecnologia e Educação da FVC/São Mateus. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (Proteoria/Ufes). Atua principalmente com os seguintes temas, nas áreas da Educação e Educação Física: livros didáticos, imprensa periódica, práticas pedagógicas, currículo e avaliação. E-mail: julianacassani@gmail.com https://orcid.org/0000-0001-6332-7930

Lucas Oliveira Rodrigues de Carvalho é mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Membro do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (Proteoria/Ufes). Suas pesquisas estão relacionadas com as áreas da Educação e Educação Física, com ênfase em livros didáticos, imprensa periódica, manuais, compêndios escolares e práticas pedagógicas. E-mail: doserro@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-7652-1959

Amarílio Ferreira Neto é doutor em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep). Professor titular da Ufes, com atuação na Graduação (Licenciatura e Bacharelado) e na Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado), ambas na área da Educação Física. Líder do Proteoria/Ufes. Atua principalmente com os seguintes temas: teorias e historiografia da Educação e da Educação Física, imprensa periódica, comunicação científica e currículo. E-mail: amariliovix@gmail.com https://orcid.org/0000-0002-3624-4352

Editor-associado responsável: Cláudia Engler Cury (UFPB) E-mail: claudiaenglercury73@gmail.com http://orcid.org/0000-0003-2540-2949

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons