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Revista Brasileira de História da Educação

versión impresa ISSN 1519-5902versión On-line ISSN 2238-0094

Rev. Bras. Hist. Educ vol.21  Maringá  2021  Epub 18-Jun-2021

https://doi.org/10.4025/10.4025/rbhe.v21.2021.e176 

Artigo Original

Evangelização e educação pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira no ‘norte de Goiás’: o caso de Beatriz Rodrigues da Silva (1935-1939)

Evangelization and education by International Mission Board from Brazilian Baptist Convention in the ‘northern Goiás’: Beatriz Rodrigues da Silva case (1935-1939)

Evangelización y educación por la Junta de Misiones Nacionales de la Convención Bautista Brasileña en el ‘norte del Goiás’: el caso de Beatriz Rodrigues da Silva (1935-1939)

Paulo Julião da Silva1  * 
http://orcid.org/0000-0001-8494-0726

Julia Rany Campos Uzun2 
http://orcid.org/0000-0002-8073-296X

1Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.

2Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.


Resumo:

O artigo objetiva discutir as estratégias da Junta das Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, voltadas especialmente para a educação e conversão dos indígenas e sertanejos na década de 1930, na região então delimitada como o norte de Goiás, situada no atual estado do Tocantins. O texto também pretende discutir o papel específico das mulheres missionárias no processo de expansão do protestantismo no Brasil, explorando a trajetória da professora Beatriz Rodrigues da Silva, compreendendo sua atividade educativa e evangelizadora como destaque entre as missões pioneiras na região. Através da História Cultural, o artigo realiza uma revisão sobre o sucesso da empreitada educacional batista do então norte de Goiás, compreendendo como ela se consolidou no contexto analisado.

Palavras-chave: educação protestante; missões batistas; história da educação

Abstract:

This article discusses the strategies of the International Mission Board from Brazilian Baptist Convention directed specially to education and conversion of Indian communities and local people in the 1930s, in the region so called northern Goiás, located on the present-day state of Tocantins. The text brings subsidies to understand the specific role of missionary women in the process of Brazilian Protestantism expansion, exploring the trajectory of the teacher Beatriz Rodrigues da Silva, comprehending how developed her educational and evangelical activity with highlight between the pioneer missions in the region. Through the Cultural History, the article reviews the success of the Baptist educational venture on the region, understanding how it became consolidated in the context analyzed.

Keywords: protestant education; baptist missions; history of education

Resumen:

El artículo discute las estrategias de la Junta de Misiones Nacionales de la Convención Bautista Brasileña, dirigidas a la educación y conversión de los indígenas y pueblos locales en la década de 1930, en la región entonces conocida como el norte de Goiás, situada hoy nel estado de Goiás. El texto desea discutir acerca del papel específico de las mujeres misioneras nel proceso de expansión del protestantismo en Brasil, conociendo la trayectoria de la maestra Beatriz Rodrigues da Silva, concibiendo como se dio su actividad educativa y evangelizadora como destaque a las misiones pioneras en la región. A través de la Historia Cultural, el artículo revisa el suceso de la empresa educativa bautista nel llamado norte de Goiás, comprendiendo cómo ella se ha afianzado nel contexto evaluado.

Palabras clave: educación protestante; misiones bautistas; historia de la educación

Introdução

O presente artigo tem como objetivo discutir as práticas de evangelização e a atividade educativa da Junta de Missões Nacionais ligada à Convenção Batista Brasileira junto às comunidades indígenas e sertanejas durante a década de 1930, no território então conhecido como norte de Goiás, que hoje pertence ao Estado do Tocantins. O texto se aprofundará no caso da missão da professora Beatriz Rodrigues da Silva, que permaneceu na região entre os anos de 1935 e 1939 com o objetivo de realizar a conversão e a educação dos povos locais e dos indígenas xerentes, reforçando a importância das mulheres dentro do protestantismo batista como educadoras e consolidadoras da expansão missionária. Com o aporte teórico-metodológico da História Cultural, serão analisadas, como fontes principais, as publicações de O Jornal Baptista, maior órgão de vinculação dos relatórios e das diretrizes missionárias do período, além de entrevistas dos próprios missionários.

Beatriz Rodrigues da Silva nasceu no dia 15 de novembro de 1909, no Rio de Janeiro. Filha de pais católicos, Antônio Rodrigues da Silva (português) e Feliciana Araújo Lemos (carioca), cresceu em Osvaldo Cruz, subúrbio da cidade, então capital federal. Os vizinhos levavam todos os filhos do casal para a Igreja Congregacional, onde deram os primeiros passos na fé evangélica. Anos mais tarde, seus pais também se converteram ao protestantismo. Ainda na adolescência, Beatriz passou a visitar a Igreja Batista em Ricardo de Albuquerque, onde foi batizada, no dia 27 de fevereiro de 1921, pelo pastor F. F Soren. Nessa época, conheceu L. M. Bratcher1, o líder missionário da Junta de Richmond2, que viu “[...] nela uma futura obreira” (Gonçalves, 2011, p. 10).

Em pouco tempo, Bratcher chamou-a para estudar no Colégio Batista no Rio de Janeiro, onde se formou como professora e missionária depois de sete anos. Beatriz dizia que foi nas aulas de Bratcher que ela descobriu sua vocação para a evangelização. Depois de formada, passou a lecionar na Escola Batista da Igreja de Ricardo de Albuquerque. Segundo Margarida Lemos Gonçalves, sua biógrafa, “[...] foi nessa época que se entregou à causa missionária, oferecendo sua vida para ser usada por Deus pelo tempo que ele a quisesse” (Gonçalves, 2011, p. 11). No dia 18 de setembro de 1935, foi apresentada pela primeira vez como a mais nova missionária da Junta de Missões Nacionais (JMN) da Convenção Batista Brasileira (CBB) na Reunião da Convenção Batista do Distrito Federal. Beatriz deveria seguir para Piabanha a fim de desenvolver um trabalho educacional com foco proselitista entre os índios xerentes. Bratcher fez um discurso ‘emocionado’ ao apresentar Beatriz e sua amiga, Lygia de Castro, enviada para desenvolver um trabalho entre os sertanejos no sul do Maranhão.

A Junta de Missões Nacionaes da Convenção Baptista Brasileira tem a grande honra e prazer de apresentar officialmente á Denominação Baptista no Brasil, as suas duas novas missionarias ao sertão: Lygia Martins de Castro e Beatriz Rodrigues da Silva. Ambas são formadas pelo Collegio Baptista do Rio de Janeiro, onde fizeram um curso brilhante. A primeira irá abrir uma escola em Carolina, Maranhão e a segunda abrirá uma escola em Piabanha, Goyaz. Pelo seu heroismo christão, fazem-se merecedoras de todo o nosso apoio espiritual e material, e dele muito dependem para o sucesso da obra em que vão se empenhar (Bratcher, 1936c, p. 9).

Beatriz também fez um discurso com o objetivo de mostrar que estava preparada para trabalhar entre os índios. Elencou as possíveis dificuldades que enfrentaria, mas mostrou-se confiante que as venceria com a ajuda de Deus “[...] a Quem até o vento e o mar obedecem” (Silva, 1936b, p. 9).

Conhecendo as actuais necessidades do Trabalho no Sertão Brasileiro, apresentei-me á Junta de Missões Nacionais, afim de obter a opportunidade de tomar parte na ceifa dos campos que estão brancos. Hoje, diante dos meus irmãos, dou graças a Deus por sentir a chamada para falar de Christo ás almas sem esperança [...] si não conhecessemos a autoridade da Voz que afirma jamais ousariamos levantar os olhos para o elevado ideal de buscar o Sertão de nossa terra, preciosidades para a coroa do mestre [...] Virão tempestades, mas Aquelle a Quem até o vento e o mar obedecem, segurar-nos-á a mão no meio dos perigos; faltar-nos-á o abrigo do lar paterno, temos, porém, uma casa na Rocha e um lugar na familia de Christo (Silva, 1936b, p. 9).

Antes da sua partida, Bratcher fez questão de informar aos leitores que a professora “Beatriz Rodrigues da Silva. Nomeada no fim do anno de 1935. Seguirá viagem no fim de janeiro de 1936 para Piabanha, estado de Goyaz” (Bratcher, 1936b, p. 6-7). No dia 23 de janeiro de 1936, o então secretário da JMN fez o seguinte convite aos que desejassem se despedir da professora antes de sua partida para iniciar o trabalho entre os xerentes:

No sabbado 25 do corrente, ás 14 hs., embarcarão aqui, no ‘Itapé’, (que estará atracado no armazem 13), com destino aos seus campos de trabalho, as srtas. Beatriz Silva e Lygia de Castro, as novas missionárias da J.M.N. da C.B.B. Os irmãos que quizerem dar-lhes o adeus de despedida, os votos de boa viagem e de pleno sucesso na sua missão, devem estar no cáes em frente ao armazem citado, algum tempo antes da hora supradita (Bratcher, 1936a, p. 14, grifo do autor).

Acreditando ser alguém chamada por Deus para educar os nativos, a professora despediu-se da família no dia 25 de janeiro de 1936. Depois de mais de 30 dias de viagem, na sexta-feira, 28 de fevereiro de 1936, Beatriz chegou ao seu destino (Gonçalves, 2011).

Chegando para salvar as ‘almas sem esperança’

A ida de Beatriz para a região de Piabanha teria sido fruto do ‘suposto desespero’ dos índios xerentes, que estariam clamando pela presença de missionários na região. Em 1930, Bratcher afirmou que chefes da referida etnia teriam andado quilômetros a pé em busca do ‘PÃO DA VIDA’. A citação abaixo ajuda a entender as possíveis razões da abertura de um trabalho missionário entre os nativos daquela localidade.

Numa carta recente do nosso missionario em Carolina temos a informação duma commissão que foi de Piabanha á cidade de Carolina para pedir aos nossos missionarios para mandarem alguem ajudal-os. Esta commissão era composta do chefe e um outro indio, de uma aldeia no logar acima mencionado. São dos cherentes, uma tribu que conhece a lingua portuguêsa e por isso facil de serem attingidos pelos nossos missionarios. Os irmãos devem se lembrar que esse pedido foi voluntario da parte dos indios. Mostram que elles conhecem o nosso trabalho e estão ansiosos de receber as mesmas bençams. Nós devemos attender a este apello. Não devemos virar as costas e dizer a estes indios que não temos nada para elles. Si eles viessem pedir pão, as nossas mãos estariam abertas. Elles vêm pedir uma coisa muito mais necessaria muito mais importante, PÃO DA VIDA. Como é que nós podemos dizer, não? (Bratcher, 1930, p. 10).

Seis anos após esse ‘apelo’ dos xerentes, Beatriz Silva passou a trabalhar na região de Piabanha como missionária/professora da JMN. A disposição dos nativos em ‘aceitar o evangelho’ foi a principal justificativa usada por Bratcher para angariar recursos entre as igrejas batistas no Brasil. Dizia-se feliz, pois Beatriz partira para o campo mostrando convicção de ter atendido ao ‘chamado do mestre’.

Nas palavras proferidas por Beatriz Silva perante a Convenção Batista Federal, percebe-se em suas considerações um discurso de convencimento ao demonstrar preocupação com o alcance das ‘almas sem esperança’. Os índios deveriam conhecer os princípios protestantes para poder sair da ‘situação de miséria’ na qual supostamente se encontravam. Uma escola seria criada para que os nativos da região fossem inseridos na ‘sociedade nacional’ (Bratcher, 1936). Beatriz Silva foi designada como responsável pela organização da escola, que deveria servir como um espaço auxiliar para facilitar o processo de catequização.

Também é possível observar em seus dizeres a ideia de que a missão protestante se tornaria um instrumento de progresso e da civilização, um conceito também presente nos discursos da JMN. Os nativos eram sempre retratados como os atrasados e os protestantes aqueles que, com a ajuda divina, iriam tirá-los da condição de miséria da qual supostamente viviam. Os missionários seriam responsáveis por ensinar e nunca aprender. Eram sempre os doadores, nunca os receptores. Mesmo quando necessitavam estudar os idiomas nativos, não consideravam o aprendizado uma forma de aculturação, mas uma simples estratégia para facilitar a comunicação.

Imbuída destes ideais, a professora aos poucos foi se instalando em Piabanha e iniciando seus trabalhos. No dia de sua chegada, em 02 de março, participou da criação da Escola Batista de Piabanha, que se tornou o principal centro de educação dos índios xerentes a partir daquele momento (Vilela, n.d.). Dois dias após a inauguração, a Escola deu início às atividades com a presença de 22 alunos (índios e sertanejos), acompanhando a proposta de Getúlio Vargas de civilizar os nativos e inseri-los na ‘sociedade nacional’3. Além das matérias comuns (português, matemática, ciências, história, geografia etc.), organizações foram criadas para que os nativos entendessem a importância de uma vida regrada nos ‘princípios básicos de civilidade’. É importante a informação de que Beatriz também participou da fundação da Coligação das Igrejas Batistas do Vale do Tocantins, bem como da Primeira Igreja Batista de Tocantínia4.

Margarida Lemos Gonçalves faz uma descrição dos trabalhos que teriam sido desenvolvidos pela professora. É certo que os relatos abaixo são apologéticos e de uma pessoa ligada à denominação, mas mostram a importância do trabalho da missionária entre os indígenas na região, bem como alguns resultados obtidos com a sua chegada. Além disso, é possível notar a importância que a Beatriz deu à educação, mesmo com alguns líderes da JMN se opondo ao trabalho educacional em conjunto com a evangelização5.

A missionária-professora mantinha na Escola: 1. O Pelotão de Saúde, responsável pela higiene do aluno (do corpo e dos utensílios escolares), bem como da sala de aula e até do ambiente em que o aluno se envolvia no lar. A Escola exigia, por meio de seu Pelotão, que os alunos conservassem limpos os quintais de suas casas e as instalações sanitárias [...] 2. O Grêmio Lítero-Esportivo Rui Barbosa, que cuidava da vida intelectual dos alunos, incentivando a leitura, organizando festas, criando músicas, promovendo competições literárias, tudo com o objetivo de trabalhar a vida dos cidadãos de amanhã. Por muito tempo não houve eleições no Brasil. Mas o Grêmio Rui Barbosa as utilizava anualmente na escolha da nova diretoria [...] 3. O Grêmio de Ex-Alunos, que passou a se chamar Beatriz Silva, cuja diretoria era escolhida pelos que já haviam passado pelo Colégio e que se reuniam uma vez por ano, quando voltavam e participavam de um programa de festividades que acontecia sempre no primeiro sábado de julho [...] 4. A ‘Associação de Alunos Evangélicos’, que surgiu após a implantação do curso Fundamental e Médio, cuja função era não apenas aperfeiçoar a vida cristã dos alunos crentes, mas também evangelizar os que não conheciam Jesus (Gonçalves, 2011, p. 22-24, grifo do autor).

Os dois principais objetivos de Beatriz Silva na região são contemplados na citação acima. Evangelização e educação deveriam caminhar de mãos dadas. Iniciando com a instrução bíblica, passando pelo ensino de princípios democráticos, e indo até a limpeza das instalações sanitárias das residências6, a missão prometia cumprir os ideais da Junta e do Estado, evangelizando ‘os que não conheciam Jesus’ e inserindo os nativos na ‘sociedade nacional’.

Religião e educação protestante: debates sobre a ação de missionárias

É interessante perceber que Beatriz Silva partiu para o campo sem ser casada. Pelo menos até a primeira metade do século XX, não era comum uma mulher deixar a casa dos pais se não fosse para formar uma nova família. Os espaços públicos, bem como os cargos tidos como de responsabilidade, eram exclusivos dos homens. Às mulheres estavam reservados os espaços privados, principalmente os domésticos. Nas missões, os cargos ocupados por mulheres eram em sua maioria os tidos pelas organizações missionárias como secundários. O homem era o pastor, a mulher era professora de escola bíblica; o homem era médico, a mulher era enfermeira; o homem era o líder de uma missão, a mulher era a auxiliar. Mesmo quando as mulheres partiam para o campo de missão solteiras, pelo menos no Brasil, dificilmente ficavam à frente dos trabalhos a serem realizados. Segundo Vasni de Almeida e Maiza Pereira Lôbo (Almeida & Lôbo, 2014), muitas moças iam para os sertões porque os homens não se dispunham para tal. Os homens preferiam cargos nas igrejas das grandes cidades. Contudo, os autores demonstram que a expansão batista para o interior no contexto em questão se deu graças à ação de missionárias.

Uma das mulheres mais importantes na consolidação do protestantismo no Brasil foi a missionária congregacional inglesa Sara Poulton Kalley. Simpatizante do movimento de escolas dominicais destacou-se como uma das principais difusoras dessa prática nas igrejas evangélicas brasileiras. Sara foi responsável pela organização do primeiro, e por muitos anos o único, hinário protestante usado no Brasil. O Salmos e hinos foi publicado no Rio de Janeiro em 1861, quando as igrejas protestantes eram proibidas de fazer prosélitos entre os brasileiros. Sete anos depois, o Salmos e hinos teve a primeira versão publicada com partituras. Até os dias de hoje a maioria das músicas arroladas no hinário organizado por Sara são cantadas nas igrejas protestantes do país. Contudo, apesar de ter participado de todas as ações missionárias ao lado do seu marido durante o período em que esteve no Brasil, apenas Robert R. Kalley é lembrado como o responsável pela organização da primeira igreja evangélica em solo brasileiro (Igreja Evangélica Fluminense). Em muitos casos Sara é tratada por historiadores protestantes apenas como a esposa de Robert e, quando muito, lembrada pela organização do hinário citado. Seu trabalho em relação à evangelização, a abertura de igrejas, às escolas dominicais, à assistência social e às questões educacionais nem sempre têm a atenção devida (Matos, 2008).

Para João Pedro Gonçalves de Araújo, essas representações, nas quais as mulheres são descritas apenas como auxiliadoras, foram trazidas pelos missionários, os quais impuseram práticas de distinção, isolamento e interdição sobre as mulheres. Essas crenças estavam baseadas em pressupostos históricos herdados de sociedades civis e religiosas, principalmente nos Estados Unidos (EUA). Apesar de o cristianismo ter um discurso de libertação das amarras, atitudes misóginas e excludentes fazem parte de sua retórica quando o assunto é o sexo feminino. “Elas já foram proibidas de cantar durante as celebrações, colocadas em salas separadas dos homens na hora dos serviços religiosos [...] e, somente na primeira metade do século XIX a mulher pôde orar em voz alta em uma reunião das igrejas protestantes” (Araújo, 2015, p. 16)7. Essas atitudes, justificadas através do interdiscurso8 bíblico, foram construídas historicamente variando de acordo com o contexto e com a necessidade de se contar com as mulheres nas ações a serem realizadas. Quando as mulheres começaram a orar nas igrejas em voz alta, a indignação tomou conta de várias lideranças protestantes nos EUA. O pastor Charles Finney (1792- 1875) foi acusado de semear discórdias entre as igrejas, pois na sua congregação se permitia mulheres falarem em voz alta. A mulher deveria existir para viver em função dos homens. Eles eram os responsáveis por criar e legislar as leis que as mulheres deveriam obedecer. Segundo Araújo,

A proibição da mulher falar na igreja veio para o Brasil como uma doutrina das igrejas dos Estados Unidos. Naquele país [...] somente permitiram que as mulheres orassem em voz alta no século dezenove. Foi nesse século, provavelmente em virtude das condições sociais impostas pela guerra civil, que se permitiu que as mulheres servissem como enfermeiras, professoras ou missionárias (Araújo, 2015, p. 45).

Sandra Duarte de Souza, ao estudar as relações de gênero nas igrejas cristãs, corrobora com parte da análise acima apresentada. Segundo a autora, identidades de gênero se conformam culturalmente no ocidente através do cristianismo que, ao longo dos séculos, tem atuado como constituidor e produtor de uma cosmovisão que acentua e legitima as diferenças sociais entre os sexos. Souza critica a teologia cristã por ter como base representações de gênero muito hierárquicas, que acabaram por naturalizar as diferenças entre os sexos, reforçando-as e até sacralizando-as. A autora afirma que o texto bíblico retrata as figuras masculinas como os personagens centrais, enquanto as personagens femininas são tratadas como secundárias, inferiores ou até produtoras do mal, de tal forma que o discurso da demonização feminina tenha se transformado em um processo recorrente em toda a história do Cristianismo. A autora aponta, ainda que os reformadores da Idade Moderna, como Lutero e Calvino, não fugiram a essa regra, destacando a mulher em seus discursos como seres que não cumpriam devidamente seus papéis no mundo, sendo portadoras do pecado e induzindo seus companheiros ao erro, justificando sua existência apenas pela reprodução e pela satisfação masculina (Souza, 2010, p. 188).

Muitos dos missionários que vieram para o Brasil, ou mesmo os nacionais que contribuíram com a expansão protestante nos séculos XIX e XX, buscaram representar mulheres e homens através de uma simbologia e um discurso religioso que secundariza a importância do gênero feminino. Souza lembra que as mulheres ainda estão ausentes da produção do saber teológico e dos espaços de destaque. “Ainda prevalece uma mentalidade que nega às mulheres o mesmo acesso ao sagrado conferido aos homens”(Souza, 2010, p. 194). Contudo, mesmo sendo tidas pela maioria das lideranças cristãs brasileiras como auxiliares no processo de expansão evangélica, a autora ressalta que foram as mulheres as principais colaboradoras das igrejas e suas frequentadoras mais assíduas, tornando-se responsáveis por arrumar os templos, pelo auxílio nas liturgias, pelo desenvolvimento de diversas campanhas e por visitar a comunidade, dentre várias outras práticas. Assim, segundo a autora, apesar dos discursos que tentam inferiorizar a participação feminina nas missões, as mulheres são as principais responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento das instituições evangélicas no Brasil (Souza, 2010).

Catherine B. Allen fez uma crítica a algumas organizações missionárias por não permitirem que mulheres aspirassem a postos considerados mais altos dentro das missões, mesmo quando os trabalhos realizados pelas missionárias eram considerados mais árduos que os dos homens. Em suas análises sobre a formação de organizações missionárias femininas nos EUA, a autora mostra que, no ano de 1800, mulheres batistas e congregacionais, criaram a Boston Female Society for Missionary Purposes, uma das principais agências missionárias femininas daquele país. Essa agência foi responsável pelo envio de muitas missionárias protestantes para diversas partes do mundo, a fim de desenvolver trabalhos interdenominacionais, mesmo que boa parte dos batistas não concordasse com a realização de evangelismos ecumênicos. A instituição cresceu vertiginosamente, a ponto de na segunda metade do século XX, destacar-se como a maior organização feminina dos EUA (Allen, 2002).

É interessante perceber que, apesar de fazer parte da maior organização feminina dos EUA (independente de ser de cunho religioso ou não), essas mulheres, até meados de século XX, eram impedidas de assumir postos considerados como exclusivamente masculinos (pastora de uma igreja, por exemplo). Um fato a se destacar é que a organização se consolidou como uma grande responsável pelo sustento financeiro de diversos projetos missionários, inclusive dando suporte a homens que se dispunham/dispõem a ir para o campo. Mesmo assim, apenas no final do século XX as críticas à consagração de mulheres ao pastorado foi diminuindo, e as mulheres puderam aspirar ao sacerdócio, apesar de continuarem sofrendo com a discriminação. Desde então, o número de pastoras batistas, principalmente no sul dos EUA, vem crescendo, apesar de elas ainda não gozarem do mesmo status das lideranças masculinas (Allen, 2002).

Contudo, algumas missionárias conseguiam driblar esse sistema patriarcal. Para isso foi necessário enfrentar situações desconfortáveis e desafiadoras, principalmente considerando os espaços destinados às mulheres no contexto estudado neste artigo (Hardon, 1973). Eliane Moura da Silva analisa vida de mulheres norte-americanas, algumas delas solteiras, que partiam para o campo missionário desafiando normas de condutas religiosas e sociais do contexto onde estavam inseridas. A historiadora cita como exemplo a missionária metodista Martha Watts que, assim como Beatriz Silva, partiu para o campo para trabalhar como educadora e evangelizadora sem ter contraído o matrimônio. Watts afirmava que não casaria, haja vista que havia casado com a missão. Não desejava ter filhos, pois Deus já os havia dado quando a colocou para cuidar dos alunos. Não precisava de auxílio de um marido para o sustento, uma vez que sua provisão vinha de Jesus Cristo. Watts foi responsável pela fundação de várias escolas e orfanatos durante os mais de 20 anos que trabalhou como missionária no Brasil (Silva, 2010). Ainda segundo Eliane Moura da Silva, essas missionárias que migravam para os mais diversos países como médicas, enfermeiras, professoras, teólogas, etc. desafiavam as

[...] imagens de confinamento, de representações tradicionais que ligavam todas as mulheres à terra e à família, como figuras dos modelos tradicionais que negavam vontade de fuga e de buscar desafios [...] muitas delas, diante das condições em que viveram, reinventaram seus limites, suas inserções religiosas e formas de sobrevivência [...] Viajaram, migraram, mudaram de lugar e de situação, integradas nas grandes mobilidades rurais e urbanas, nacionais e internacionais [...] Viajar e trabalhar como missionárias em países distantes, exóticos, desconhecidos e de difícil acesso, em viagens arriscadas, foi uma aventura. Significou também o alargamento dos horizontes onde puderam se inscrever de outras formas e maneiras (Silva, 2012, p. 102-103).

Em uma entrevista realizada com o historiador Zaqueu Moreira de Oliveira, é possível perceber as estratégias usadas pelas mulheres destacadas nas análises de Eliane Moura da Silva. No momento do depoimento, o referido historiador era professor do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. Há de se levar em consideração que Zaqueu Oliveira era professor de uma instituição educacional da mesma denominação de seus pais. Em trechos de sua fala, é possível notar a importância dada à educação tanto em nível teológico quanto em nível secular. A entrevista foi realizada em forma de um diálogo aberto. Não foram feitas perguntas diretas. Preferiu-se deixar o entrivistado trazer à memória temas e circunstâncias que lhe pareciam pertinentes, oportunos e prazerozos naquele momento.

O pai do historiador, José Joaquim de Oliveira Filho, acompanhou L. M. Bratcher na viagem que o missionário norte-americano realizou em 1935 pelo interior do país para abrir campos missionários e, em 1937, junto com a sua esposa, Zilda Moreira de Oliveira, tornou-se missionário da JMN na cidade de Natividade (então norte de Goiás, hoje Tocantins). As descrições abaixo fazem parte da memória de alguém que falou com saudosismo dos pais e de quem admirava aquilo que eles realizaram como missionários batistas. Tem-se que levar em conta os anos e as intenções do entrevistado ao narrar eventos que lhes vinham à tona. Sabe-se que muitos desses eventos são selecionados na memória, mesmo que indiretamente, por aqueles que se predispõem a conceder entrevistas (Jucá, 2003). Contudo, a fala de Zaqueu Moreira de Oliveira contribuiu para o entendimento da importância do trabalho feminino, mesmo quando os homens são tidos como os principais responsáveis pelo desenvolvimento das missões. Ao falar do trabalho desenvolvido por sua mãe na área da educação, o referido historiador descreveu:

Eu até admiro muito a minha mãe, porque eu sai de casa com dez anos de idade para estudar, porque não havia instituições. A única escola que havia aonde (sic) meus pais moraram era uma escola, era a escola batista fundada por minha mãe (nessa época em que eu sai já morava em Babaçulândia) [...] Eu como criança e adolescente ia de férias, porque morava, estudava fora onde havia colégios, ginásio e colégio e [...] ao chegar meu pai sempre tinha uma viagem programada. Era uma viagem de cerca de um mês. Minha mãe nunca reclamou porque ela tava (sic) morrendo de saudade dos filhos, eu e meu irmão mais velho que na ocasião estudávamos fora. Minha mãe nunca reclamou de eu passar um mês só com meu pai. [...] fundou várias escolas. Fundou escola em Natividade, eu não sei se fundou em Porto Nacional, que estiveram lá apenas um ano, Pedro Afonso e, depois, fundou em Babaçulândia. Então ela fundou várias escolas [...] Era chamada ‘Escola Batista de [...]’, dependendo do local de Natividade, de Pedro Afonso, de Babaçulândia, e depois eu disse que ela fez o curso de enfermagem, e aí ela já estava depois morando em Carolina [...] ela iniciava uma escola, chamava escola batista e... como não havia nenhuma outra escola as pessoas iam e... eu fiz o que se chamava primário com ela [...] era muito importante, porque eles sabiam que éramos batista, o evangelho era anunciado, o testemunho era dado do evangelho, não é? E pessoas iam pra igreja e... não muitos... alguns se convertiam, realmente. Era pela influência da escola também [...] além de alunos, que também se convertiam [...] Ela era uma evangelista pessoal fora do comum, extraordinária [...] (Oliveira, 2015, grifo nosso).

Segundo Zaqueu Moreira de Oliveira, sua mãe também atuou como enfermeira.

Depois ela tinha um dom especial pra trabalhar com doentes e resolveu fazer um curso de enfermagem e [...] foi muito útil pra ela [...] Carolina era uma cidade maior, cidade... na região a única que tinha um médico. As outras não tinham nenhum médico. Doutor Zeca. Então esse médico [...] esse médico [...] ele [...] tinha muita experiência e vinham muitas pessoas do mato [...] pra tratamento com o doutor Zeca. E doutor Zeca mandava pra minha mãe. Tinha toda confiança nela. E ela nunca extrapolou. Quando ela via que não tinha como ajudar ou orientando ou então dando algum medicamento que eu mandava pra ela - no Brasil todo mandavam amostra grátis pra ela, né? - então quando ela sabia que precisava de algo a mais ela mandava pro doutor Zeca: ‘volta lá com ele’. E doutor Zeca, quando ela mandava, ele não cobrava [...] ela já cuidava antes de fazer [...] era quase com se fosse uma médica... E o doutor Zeca tinha toda a confiança nela. Eu me lembro, pouco antes de ela falecer eu estive em Carolina, a casa era cheia. Às vezes a pessoa chegava pra se tratar passava um mês lá em casa, um mês, uns dois meses, às vezes até mais [...] pessoas que não podiam voltar realmente [...] aí ela hospedava [...] bom, ela não podia chamar enfermaria propriamente, né? Ela fazia o atendimento e tinha medicamentos, tinham muitos medicamentos [...] eu mandava muitos remédios pra ela e eu não era o único, várias outras pessoas mandavam amostra grátis. Eu ia ao médico e pedia amostra grátis e dizia: ‘doutor me dê pra eu mandar para o campo missionário’ [...] e eles davam com toda satisfação [...]. Então ela tinha muitos medicamentos (Oliveira, 2015, grifo nosso).

Como foi citado anteriormente, as palavras de Zaqueu M. Oliveira trazem à memória a história de sua família. História que ele procurou narrar mostrando que seus pais desenvolviam um trabalho exemplar que deveria ser seguido. O saudosismo nas palavras de Oliveira mostra alguém que entendia as ações da sua mãe como benéficas para a população local (Ferreira & Amado, 2000). Contudo, é possível ver em seu depoimento a importância que o trabalho feminino tinha nas missões desenvolvidas no Brasil. Segundo Oliveira, em quase todas as cidades em que seu pai abriu uma igreja sua mãe fundou uma escola. As instituições de ensino estimulavam diversas pessoas a irem aos cultos e, segundo seus relatos, alguns se convertiam. Além disso, sua mãe também atuou como enfermeira atendendo pessoas de diversas localidades que buscavam atendimento médico. Em uma região que só possuía um único médico formado, o trabalho da missionária Zilda Moreira de Oliveira parece ter sido fundamental para os que de alguma forma buscavam amparo nas missões que o casal desenvolvia.

Educar é divulgar: a propagação da obra missionária de Beatriz Rodrigues da Silva

Voltando às análises do trabalho de Beatriz Silva, vale ressaltar que a missionária também considerava importante divulgar aquilo que estava desenvolvendo para o grande público e, para tal, O Jornal Batista (OJB) foi um grande aliado nesse processo. Segundo Micheline Reinaux de Vasconcelos, o periódico sempre se mostrou como uma peça fundamental na propaganda dos trabalhos missionários, uma vez que a JMN apostava no poder da palavra impressa para a difusão da doutrina batista no país (Vasconcelos, 2012). Em um país com dimensões continentais, ter um veículo de circulação nacional facilitaria a circulação de debates, sermões, notícias, material didático etc. A difusão d’OJB também se dava entre aqueles que não eram da denominação. Alguns pastores chegavam a comprar espaços em jornais laicos, mas logo percebiam que a denominação possuía um periódico de longo alcance. Para José dos Reis Pereira, OJB servia “[...] para evangelizar os não-crentes, instruir os crentes e defender a Causa batista” (Pereira, 2001, p. 135).

Segundo Anna Lúcia Collyer Adamovicz, OJB serviu na viabilização do crescimento da denominação no país (Adamovicz, 2008). O periódico se consolidou como uma estratégia de evangelização, ao trazer ensinamento bíblico para os conversos, bem como informações de caráter secular, mas com interpretações das lideranças batistas. Tratava-se de um formador de opinião, possuindo boa credibilidade entre os membros da denominação. Nos anos 1920, o periódico chegou a atingir a marca de um exemplar para cada três membros da denominação (Feitosa, 1978)9. Nele se relatavam progressos e dificuldades das missões objetivando sensibilizar leitores a ofertar com os trabalhos desenvolvidos (Souza, 2007)10. Sabendo dessa importância, oito meses após a sua chegada a Piabanha, Beatriz Silva divulgou n’OJB os primeiros ‘frutos colhidos’ entre a população local.

O collegio conta com 29 matriculados, e, desses 20 frequentam regularmente a Escola Dominical. Estou bem animada com o trabalho das senhoras; já fizemos o estudo do Manual da União Geral, conseguindo que seis se apresentassem para o exame; destas, quatro passaram com o gráu superior a 95. Tenho muitas esperanças no trabalho todo, especialmente com os pequenos. Hoje tivemos 29 na E. D. Peço que os rogos sejam levantados a favor desta criançada (Silva, 1936a, p. 9).

As notícias levadas a público não poderiam ser diferentes. Por duas possíveis razões Beatriz informou que estava ‘bem animada’ com o desenvolvimento de sua missão. A primeira era a novidade. Os índios empolgados com a presença da missionária demonstravam interesse naquilo que ela estava trazendo para a região. A construção de uma escola com recursos próprios e a disposição de ir de casa em casa chamando as pessoas para participar dos cultos aumentava o interesse da população local. Nesse sentido, a divulgação do trabalho entre os nativos não poderia ser diferente. Era importante demonstrar o sucesso dos seus esforços na missão. A segunda, mesmo que de ordem diferente, esteve ligada à importância da propaganda missionária em um periódico de grande circulação. Informar o desenvolvimento de trabalhos educacionais em jornais protestantes era de suma importância para dar maior visibilidade à missão, bem como para estimular as ofertas daqueles que se sentiam sensibilizados com as notícias recebidas.

Em 1938, Beatriz Silva mostrou felicidade ao relatar os progressos obtidos nos trabalhos em Tocantínia e em Bela Vista. Afirmou que o número de conversos só crescia, que as escolas dominicais possuíam mais alunos a cada domingo, e que no Colégio a procura por vagas aumentava todos os dias. Pedia para que a Junta enviasse mais missionários para que o trabalho se realizasse de forma tranquila (Silva, 1938).

Em 1940, descreveu com entusiasmo que o trabalho educacional estava em franco progresso. Naquele ano,

[...] Treze alunos do Colegio se decidiram, sendo quatro internos. Agora três alunos deram profissão de fé, razão por que me sinto muito alegre. Nosso Colegio está com a matricula encerrada em cem, por não poder admitir mais alunos. Temos agora dez internos muito ativos em todos os trabalhos da Igreja (Silva, 1940, p .5).

Em 1943, Beatriz tornou pública a viagem que realizou por várias cidades na região onde trabalhava, mostrando-se feliz pelo fato de muitas pessoas terem se convertido devido às suas pregações. Um animal que havia ganhado através de uma oferta no ano anterior estava facilitando o seu deslocamento (Bratcher, 1942). Em suas andanças era sempre acompanhada por “Dudú, aquela moça que se converteu em 1936 e passou a ajudar-me no Colegio [...]” (Silva, 1943b, p. 6).

No mesmo ano, relatou que em cidades da região estavam sendo implantadas Escolas Populares Batistas, nas quais índios e sertanejos aprendiam a ler e a escrever. Segundo Beatriz Silva, em todos os locais por onde ela passava as pessoas ‘insistiam’ para que uma escola batista fosse instalada. Em virtude da suposta sede de aprendizagem demonstrada pelo povo da região, solicitou à JMN trabalhadores que lhe auxiliasse no seu campo de atuação (Silva, 1943a).

Pelo menos três vezes por semestre, cartas, avisos, pedidos de ofertas, pedidos de oração e agradecimentos eram noticiados, a fim de que seus interlocutores tomassem conhecimento do desenvolvimento dos trabalhos. Além disso, Beatriz usou OJB para agradecer aos leitores de suas notícias, em sua maioria mulheres, que enviavam diversos tipos de ofertas (dinheiro, roupas, ferramentas, alimentos, remédios, material escolar etc.) para auxiliá-la na educação dos indígenas. Agradecia também aos que escreviam para desejar-lhe sucesso em seu trabalho na missão.

Segundo o redator d’OJB, a propaganda também objetivava mostrar para a população brasileira, bem como para as autoridades constituídas, que entre os índios e os sertanejos,

[...] os batistas mantêm escolas diarias com refeições, livros, roupas gratuitas, para os indios, bem como no centro de Goiaz, sob a direção de pessoas com o curso normal completo; mantem uma enfermeira formada, tirada da chefia do Pronto Socorro de Recife; mantêm um dentista formado na Faculdade de Odontologia da Universidade do Brasil. Poderiamos ainda mencionar o trabalho que o dr, L.M. Bratcher, norte americano que tem dedicado a vida e dinheiro em beneficio dos indios e do sertanejo de nossa terra, fazendo ele como individuo, e alem de tudo estrangeiro, o que missão nenhuma fez por maior subvenções que tivesse (Silveira, 1940, p. 3-4).

Essa construção discursiva baseada no sucesso foi analisada por Dana L. Robert em sua crítica às histórias missionárias narradas como tratados de pessoas que abandonam suas vidas e seus ideais em busca de um objetivo superior e celeste, pondo em risco sua integridade por aquilo que acreditam ser a vontade divina. A historiadora não mostra total descrédito pelos relatos dos missionários, nem por aquilo que eles afirmavam acreditar. Porém, contesta essas visões que mostram apenas perspectivas idealistas acerca das missões. Um dos pontos levantados por Robert é a mudança de visão na forma de inserção missionária, bem como na forma de viver de cada um deles. Os missionários não apenas influenciaram, mas também foram influenciados pelos costumes e crenças dos locais onde se dispuseram a trabalhar. Porém, procuravam mostrar que eles eram os únicos anunciadores do ‘verdadeiro cristianismo’, que transformava os indivíduos alcançados pela evangelização (Robert, 2008).

É importante ressaltar que o contexto histórico influencia tanto a escrita quanto a leitura de quem a faz. A produção de cartas, livros, revistas, jornais e relatórios não estavam dissociados do momento do qual eram produzidos. Os receptores (leitores) também não estavam alheios às informações que recebiam. Qual a razão da produção de tantos textos que mostram os trabalhos missionários sempre em uma crescente, mesmo diante de tantos percalços enfrentados nas frentes missionárias durante o contexto em questão? O historiador Roger Chartier lembra que, em diversos momentos, a escrita (incluindo os discursos e representações que nela estão presentes), bem como a leitura, trilhou diferentes caminhos, todos em conexão com questões culturais, políticas, sociais, religiosas e econômicas. Em todos os casos havia interesses (Chartier, 1991). No caso das missões protestantes no Brasil, o objetivo era mostrar o suposto crescimento das frentes missionárias para justificar as diversas solicitações de recursos às organizações missionárias.

Porém, esses discursos de sucesso, em alguns momentos, vinham acompanhados por lamentações. Uma delas era pelo fato de ‘a seara ser grande, e pouco serem os ceifeiros’. O interdiscurso bíblico era utilizado para encorajar jovens a se desprenderem da vida nas grandes cidades e se dedicarem ao trabalho missionário. Em 1937, Beatriz Silva afirmou que os trabalhos estavam em franco crescimento, mas poderia ruir caso novas pessoas não colocassem suas vidas à disposição “[...] da causa do Senhor” (Silva, 1937, p. 10). Além disso, os investimentos realizados naquela missão não eram suficientes. Era necessário ampliar os recursos. Aqueles ‘pobres aborígenes’ deveriam estar entre as prioridades da JMN. Beatriz reconhecia a crise financeira enfrentada pelas organizações missionárias desde 1929, mas reiterava que todos os esforços eram válidos, uma vez que o objetivo maior era ganhar a Pátria para Cristo (Silva, 1939).

Bratcher, ao endossar as palavras da missionária, afirmou que os trabalhos na região de Tocantínia estavam em constante progresso. Informou que os índios estavam entregando suas vidas a Cristo e felizes com a presença da missionária. A chegada de Beatriz Silva à região teria melhorado a vida das pessoas, uma vez que “Beatriz conquistou um logar invejavel nos corações dos indígenas [...]”. Afirmava ainda que o trabalho seria bem melhor caso ela “[...] tivesse quem acompanhasse nas viagens ás aldeias. A unica solução para o problema seria a ida de uma enfermeira para trabalhar no sertão” (Bratcher, 1937, p. 10).

Os discursos de Bratcher e Beatriz Silva possuem pontos em comum, podendo ser analisados dentro do mesmo contexto. Em ambos os casos é possível ver a preocupação com o crescimento da missão e com a necessidade de se enviar recursos humanos e financeiros para o campo de trabalho. Contudo, Bratcher era o responsável por esse envio. Ao noticiar n’OJB que necessitava de ajuda para a missão, a principal pessoa que Beatriz desejava alcançar era justamente o secretário da JMN. Cabe ressaltar que, devido à crise enfrentada pela JMN desde o ano de 1929, Bratcher quase sempre informava que os recursos eram escassos, e que naquele momento não havia novos interessados na evangelização dos indígenas. Essa teria sido a razão para o apelo feito a algum enfermeiro que desejasse seguir para a região.

A missão batista no norte de Goiás: sucesso ou fracasso?

As notícias divulgadas por Bratcher e Beatriz Silva procuravam relacionar as missões realizadas entre os índios e os sertanejos. Na maioria dos casos, os trabalhos eram descritos como uma bênção, em desenvolvimento, dando frutos etc. Porém, nem sempre esses frutos eram discriminados. Em alguns momentos, devido às críticas recebidas de leitores e financiadores do evangelismo batista no Brasil, os missionários precisaram justificar-se. Nesse sentido, demonstravam que estavam trabalhando arduamente para

[...] evangelizar os indios, por esta razão promovemos tudo que venha influenciar para o levantamento espiritual e moral destas infelizes creaturas tão dignas de melhor sorte. Temos, portanto, sobre os nossos ombros uma dupla missão entre os indios: - civilizá-los e evangelizá-los (Collares, 1931, p. 7).

Apesar das afirmações acima, o número de convertidos era considerado pequeno se comparado ao investimento realizado. Quando precisou apresentar “[...] algumas ligeiras noticias sobre a marcha do trabalho do Senhor entre os indios Kraôs, residentes em Indianopolis, Norte de Goiaz” (Collares, 1931, p. 7), Francisco Collares, um dos missionários que trabalhavam na região com Beatriz Silva, afirmou que estava sendo muito difícil obter sucesso na evangelização dos indígenas, “[...] isto por causa delles serem inveterados no peccado e vícios; assim como receberam e recebem dos seus vizinhos civilizados os maus exemplos e conselhos, com raras excepções” (Collares, 1931, p. 7). Mesmo reiterando que promovia “[...] tudo que venha influenciar para o levantamento espiritual e moral destas infelizes creaturas [...]”, nenhum índio havia se convertido na região desde a sua chegada, no ano de 1930.

Os líderes da JMN passaram a afirmar que seria mais interessante concentrar os esforços do missionarismo entre os sertanejos. A. R. Crabtree, um dos missionários e historiadores denominacionais que estava no Brasil naquele momento mostrou que os trabalhos indígenas não estavam dando os frutos que a JMN desejava. Segundo o autor,

O trabalho missionário batista entre os índios incivilizados não tem sido um sucesso notável [...]. As relações tensas entre os índios errantes e os brasileiros nas fronteiras têm criado desconfiança em ambos os lados. Embora um pequeno progresso tenha sido feito na evangelização, algo foi realizado para abrir o caminho (Crabtree, 1953, p. 133, tradução nossa)11.

Nesse sentido, em 1939, as lideranças da organização apresentaram aquilo que deveria ser os

Novos rumos na evangelização patria. Novos rumos sem desprestigiar os antigos. E é esse o caminho por que se envereda, em nossos dias, a Junta de Missões Nacionais. O trabalho de evangelização aos selvagens continúa de pé. Ele tem revelado até que ponto chega o heroismo cristão. Os anais de sua historia estão repletos de feitos herioicos, de exemplos vívidos de consagração e amor a Cristo. Sim, continua de pé e deve continuar. Mas a Junta voltou as suas vistas para os semi-civilizados, empreendendo uma fortissima campanha evangelistica no sertão brasileiro. A experiencia veio provar que este era um rumo certo. Zacarias estava tão convicto disto que, segundo nos informou, no Recife, nem esperou pela determinação da Junta para armar sua tenda entre os sertanejos. E Deus provou que isto era Sua vontade, coroando de grande êxito o trabalho do seu servo (Falcão, 1939, p. 11).

Zacharias Campello foi o primeiro missionário da JMN a desenvolver um trabalho entre os índios no Brasil. Apesar de seus relatórios entre os nativos apresentarem diversos ‘feitos heroicos’, os financiadores das missões indígenas acreditavam que os resultados não estavam justificando a canalização de recursos para esse fim. Campello teria percebido a insatisfação com os resultados e, por conta própria, resolveu mudar a estratégia de expansão batista pelo interior do Brasil, intensificando o proselitismo entre os sertanejos.

Considerações finais

As lideranças missionárias perceberam ao longo dos anos que os nativos continuavam com suas crenças, ritos e mitos, mesmo afirmando ter se convertido ao cristianismo. As festas, em alguns casos, eram adorações a divindades cultuadas antes da chegada dos missionários. Em outros, os nativos mostravam que estavam prestando cultos ao Deus cristão, provavelmente tentando obter a aprovação dos missionários, ou mesmo tentando, de alguma forma, cultuar ao novo Deus sem perder suas tradições. Isso não era bem visto aos olhos dos missionários que faziam de tudo para acabar com tais práticas, na maioria das vezes sem sucesso (Ferguson, 2010)12.

Analisando o missionarismo batista no então norte de Goiás, principalmente entre os índios xerentes, Patrícia C. Grigório afirma que a distância para um grande centro urbano, a dificuldade com a língua, a falta de recursos humanos e financeiros e a presença católica que realizava atividades religiosas e culturais entre os índios, teriam dificultado o trabalho de evangelização por parte dos batistas nos anos 1930 (Grigório, 2014).

Foi apenas em meados da década de 1950, com a chegada da missionária Anna Muller, enviada pela Missão Novas Tribos do Brasil (fundada em 1953), que o trabalho entre os nativos da região se consolidou, como desejavam os batistas. É interessante observar que, mesmo com missionários batistas naquele momento se opondo ao trabalho realizado em conjunto com outras igrejas, a Missão Novas Tribos do Brasil possuía um caráter interdenominacional. Nos dias atuais, a referida organização é vinculada à JMN da CBB. No ano de 1982, a Convenção formalizou sua atuação entre os xerentes junto à Fundação Nacional do Índio. Atualmente, os xerentes contam com duas igrejas batistas lideradas por índios, realizando cultos à sua maneira, bem como com instituições de ensino. Grigório destaca que a presença católica na comunidade sempre foi de grande expressão, porém, os batistas foram mais ativos e conseguiram maior êxito em seu projeto missionário e civilizatório. Segundo a historiadora, raramente um índio xerente se declara católico dada a forte presença batista no local (Grigório, 2014).

Outro ponto a ser destacado é que a Missão Novas Tribos do Brasil esteve ligada ao Instituto Linguístico de Verão (SIL - sigla em inglês), organização norte-americana que visava estudar línguas nativas, principalmente na América Latina, com o objetivo de facilitar o trabalho missionário entre os indígenas. A partir dessa parceria foi possível constatar um maior número de conversos entre os nativos, uma vez que eles tinham acesso a pregações, literaturas e músicas em seu próprio idioma. Muito dessa empreitada esteve ligada à expansão capitalista do empresário Nelson Rockfeller no Brasil. Sua família realizou, a partir dos anos 1920, no mesmo contexto em que os missionários norte-americanos decidiram expandir as missões para o interior, um levantamento das condições de vida de povos da Amazônia e do Brasil Central. Contudo, foi justamente após os anos 1950 que o investimento em diversas regiões do país começou com mais afinco. Rockfeller doou milhões de dólares para missões abertas em locais de seu interesse econômico. Estudar as línguas nativas foi uma estratégia que ele utilizou para ganhar a confiança dos indígenas e explorar as riquezas que possivelmente haviam em determinada região. A partir de então, as missões entre os nativos cresceram no Brasil. Nas regiões em que o SIL esteve presente, o número de indígenas que se declaram protestantes supera, em alguns casos, o número daqueles que se declaram praticantes de religiosidades nativas (Colby & Dennett, 1998).

Como afirmou o missionário Silas Falcão13, o trabalho entre os sertanejos deveria ser a prioridade dos batistas a partir de 1939 (Falcão, 1939). Nesse sentido, era com esse público que Beatriz Silva deveria mostrar maior interesse. Não se pode afirmar que a evangelização sertaneja só ocorreu a partir daquele ano. Contudo, os investimentos em recursos humanos e financeiros foram ampliados com esse objetivo e a evangelização dos indígenas foi sendo colocada em segundo plano pela JMN. O próprio Silas Falcão foi responsável pela abertura de algumas igrejas no interior do Brasil, principalmente a partir dos anos 1950 (Patrimônio histórico..., 2014).

Com isso, é possível concluir que a experiência missionária da professora Beatriz Rodrigues da Silva junto às populações indígenas e sertanejas da região conhecida no período como norte de Goiás marcou o início da efetivação de um trabalho missionário feminino da Junta das Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, que se tornaria ainda mais intenso nas décadas seguintes. A análise de suas práticas de conversão e de suas estratégias educacionais puderam indicar a importância das mulheres - mesmo solteiras - como agentes de expansão missionária batista no Brasil, ainda durante a década de 1930, conseguindo adaptar as diretrizes de sua denominação para territórios com diversos obstáculos, como a dificuldade de comunicação, de acesso e de recursos.

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1 L. M. Bratcher fez uma série de viagens pelo interior do Brasil com o objetivo de identificar locais para abertura de missões batistas. Sua primeira viagem, realizada em 1925, resultou na abertura de um trabalho na região de Piabanha, hoje Tocantínia, no então norte de Goiás, hoje Tocantins. Em 1926, Zacharias Campello foi enviado para Piabanha, o qual foi o primeiro missionário batista a trabalhar entre os indígenas de forma oficial. Campello tinha o objetivo de trabalhar entre os índios xerentes, mas se destacou pelo seu trabalho entre os craôs. Em 1930, Francisco Collares também passou a trabalhar entre os índios craôs. A missionária Beatriz Silva se juntou aos dois missionários em 1936, com o objetivo de trabalhar com as duas etnias citadas acima (Silva, 2016).

2Organização norte-americana que se constituiu na principal financiadora do missionarismo batista no Brasil da última década do século XIX à última década do século XX (Teixeira, 1975).

3Sobre o interesse de Getúlio Vargas em inserir os indígenas na ‘cultura nacional’, Seth Garfield afirma que o então presidente passou a entender que trazer os indígenas para a ‘civilização’ seria ter mais mão de obra disponível em seu processo de ocupação do sertão brasileiro no contexto em questão. (Garfield, 2000).

4Vale ressaltar que, desde 1889, lideranças femininas batistas se organizavam para tentar realizar ações de mulheres e para mulheres. Naquele ano, foi fundada por Anne B. Bagby, pioneira no trabalho da denominação no Brasil, a Sociedade de Senhoras na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro e, em 1907, Emma Ginsburg apresentou à CBB um projeto de uma união nacional, no qual reunia várias associações femininas espalhadas pelo país. Nesse sentido, nascia a União Missionária Feminina Batista Brasileira. Essas sociedades objetivavam formar o perfil da mulher batista para atuar nos diversos campos missionários da denominação. A mulher batista deveria zelar pela pureza que conciliasse com a imagem de mãe, professora e missionária (Almeida & Lôbo, 2014).

5Muitos líderes da denominação afirmavam que era mais prudente o investimento em templos (Silva, 2016).

6Nesse caso, nas residências dos sertanejos ou de índios que não viviam como nômades.

7Nas análises sobre o trabalho de Beatriz Silva será tratado o papel das missionárias norte-americanas que vieram para o Brasil e como, apesar das questões apresentadas por Araújo, muitas se destacarem como missionárias em diversas funções, mesmo antes da Guerra Civil norte-americana.

8O interdiscurso é a possibilidade de usar algo já dito na formação de um novo discurso. Para Eni P. Orlandi, “[...] todo discurso remete a um outro discurso, presente nele por sua ausência necessária. Há o primado do interdiscurso (a memória do dizer) de tal modo que os sentidos são sempre referidos a outros sentidos e é daí que eles tiram sua identidade” (Orlandi, 1998. p. 30, 31).

9Segundo Feitosa (1978), em 1930, as igrejas batistas filiadas à CBB alcançaram a marca de 40.500 membros. Nesse sentido, calcula-se que a tiragem d’OJB chegava a 13.500 exemplares semanais.

10Era comum os missionários tornarem públicas suas ações, principalmente mostrando o suposto sucesso naquilo que estavam desenvolvendo. Todas as denominações que desenvolviam trabalhos de evangelização nesse período usavam dessa estratégia.

11“Baptist missionary work among the uncivilized Indians has not been notable successful [...] The strained relations between the roving Indians and Brazilians on the borderland have created distrust on both sides. While little progress has been made in evangelization, something has been accomplished in opening the way”.

12Segundo Niall Ferguson, esse descontentamento foi uma constante entre o missionarismo protestante ao redor do mundo até pelo menos a primeira metade do século XX. Segundo o historiador, missionários que trabalhavam na África ficavam insatisfeitos com o resultado dos trabalhos que ali eram desenvolvidos. Muitos se diziam convertidos, mas continuavam a andar sem roupas, participando das festas em suas comunidades e possuindo configurações familiares abominadas pelas lideranças protestantes.

13A partir de 1939, com o incentivo de Vargas para que sertanejos nordestinos migrassem para a Amazônia para trabalhar na extração do látex, a JMN dizia que o momento era oportuno para abrir missões entre tais migrantes. O trabalho realizado em Piabanha continuaria, mas não com a mesma disposição.

17Como citar este artigo: Silva, P. J., & Uzun, J. R. C. Evangelização e educação pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira no ‘norte de Goiás’: o caso de Beatriz Rodrigues da Silva (1935-1939). (2021). Revista Brasileira de História da Educação, 21. DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhe.v21.2021.e176

Recebido: 25 de Setembro de 2020; Aceito: 14 de Abril de 2021; Publicado: 18 de Junho de 2021

*Autor para correspondência. E-mail:paulo.juliao@ufpe.br

Paulo Julião da Silva é licenciado em História (FUNESO-2004), Especialista em História das Artes e das Religiões (UFRPE-2006), Mestre em História (UFRPE-2010) e Doutor em História (UNICAMP-2016). É Professor Adjunto do Centro de Educação da UFPE, do ProfHistória (UFPE), bem como do Programa de Pós-graduação em História (PPGH/UFPE). Participa do Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinar em Formação Humana, Representações e Identidades, e do Grupo de Pesquisa “História das Religiões e Práticas Culturais”. E-mail: paulo.juliao@ufpe.br https://orcid.org/0000-0001-8494-0726

Julia Rany Campos Uzun possui licenciatura e bacharelado em História pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (2006-2007). É mestra (2013) e doutora (2020) em História Cultural pela mesma Universidade. Cursou especialização em Gestão Escolar pela Universidade Cruzeiro do Sul (2017). No mestrado, realizou intercâmbio no Colegio Mexiquense de Toluca. É coordenadora do Centro de Estudos em História Cultural das Religiões - CEHIR e pesquisadora no Laboratório de Estudos em História das Religiões (LEHR - UPE). E-mail: professorajuliahistoria@yahoo.com.br https://orcid.org/0000-0002-8073-296X

Editor-associado responsável: Cláudia Engler Cury (UFPB) E-mail: claudiaenglercury73@gmail.com https://orcid.org/0000-0003-0021-2911

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